CAPÍTULO 5 Brincar de ser

Fotografia. Pintura a óleo sobre madeira. Cena com diversas pessoas realizando jogos infantis: à esquerda, pessoas brincando em um cercado. Ao lado, duas pessoas de mãos dadas e uma pessoa sentada sobre as mãos delas, como em um balanço. Em primeiro plano, um homem e uma mulher girando grandes arcos no chão com o auxílio de um graveto. No plano intermediário da pintura, dois homens brincando de gangorra em um barril. Ao lado, um grupo de pessoas segurando os braços e as pernas de um homem. Mais ao fundo, dois homens montados nas costas de pessoas inclinadas para frente; dois homens pulando as costas de pessoas abaixadas. No plano de fundo, uma casa com pessoas na janela, dois homens pendurados em um suporte de madeira fixo ao chão. Um homem andando em uma perna de pau. Um grupo de pessoas jogando bolinhas. Um grupo de pessoas em roda, em uma rua de terra. Mais ao fundo, à direita, pessoas andando em fila, segurando nas costas de quem está na frente.
brúguel, Pieter. Kinderspiele [Jogos infantis] (detalhe). 1560. Óleo sobre madeira, 118 centímetros por 161 centímetros. Museu de História da Arte, Viena, Áustria.
  1. Que brincadeiras e jogos você conhece?
  2. Observe com atenção a imagem da abertura do capítulo. Nessa pintura, o artista retratou diversos personagens envolvidos em brincadeiras diferentes. Quantas dessas brincadeiras você consegue identificar?

As brincadeiras e os jogos nos ajudam a expandir a nossa capacidade de imaginação. Usando a imaginação, podemos transformar um pedaço de lençol em uma capa de super-herói, um cabo de vassoura pode ser uma espada ou varinha mágica e uma caixa de papelão pode virar uma astronave que nos levará ao espaço sideral.

O teatro é uma arte que possibilita explorar os sentidos das mais diversas fórmas, pois dialoga com a percepção e as sensações. Ele lida também com o brincar de ver: nele, pessoas se reúnem para assistir a outras pessoas que contam histórias e propõem pensamentos e ideias sobre a vida e o mundo ao redor. Dessa maneira, no teatro, também é possível brincar de ser: ele abre a possibilidade de nos transformarmos em outras pessoas, animais, ideias, e, com isso, podemos agir e pensar de maneiras diferentes daquelas às quais estamos acostumados.

A partir de agora, você vai estudar alguns elementos da linguagem teatral, bem como as obras e os artistas que as criaram se utilizando dessa linguagem. Além disso, você e seus colegas serão convidados a jogar e a usar juntos a imaginação.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Você já brincou de faz de conta ou de ser o que não é? Como foi essa experiência para você?
  2. Pensando na ideia de brincar de ver, ao que você assiste? Em que momentos de seu cotidiano isso acontece?
  3. Você já foi ao teatro? Caso a resposta seja afirmativa, conte aos colegas e ao professor o que viu e o que achou do que viu.

SOBREVOO

Teatro: espaço de jogo e de imaginação

Você consegue imaginar por que as pessoas fazem teatro?

Alguns dizem que o motivo é a busca por autoconhecimento; outros, que é a necessidade de expressar emoções e pensamentos. Há pessoas que gostam de vivenciar experiências diferentes ou que adoram se apresentar diante de um público. Muitas buscam o teatro como um meio de criticar a sociedade e há, ainda, as que são apaixonadas pelas possibilidades de jogo e de brincadeira que o teatro apresenta.

Faça no caderno.

1. Você conhece este jogo apresentado na imagem? Em quais espaços brincadeiras como esta podem acontecer? Quais são os espaços em que você gosta de brincar?

Gravura. Cena de crianças brincando, nos tons rosa, verde, preto e bege. À esquerda, uma menina com cabelos presos em duas tranças, usando um vestido bege e preto. Ela está de costas com as mãos para cima. No meio, um grupo de crianças formado por quatro crianças de cada lado, em filas, com as mãos na cintura de quem está à frente, puxando em posições opostas, como em um cabo de guerra. Ao lado, três meninas observam a cena.
SPOWERS, Ethel. Tug of War [Cabo de guerra, em tradução livre]. 1933. Linoleogravura, 20,2 centímetros por 28,4 centímetros. Galeria Nacional da Austrália, Camberra, Austrália.

No teatro, assim como em muitos dos espaços que podem ter sido pensados por você, também se brinca. Na língua inglesa, por exemplo, a palavra play é usada para dar nome ao que, no Brasil, chamamos de peça de teatro. Além disso, play também significa “jogar” e “brincar”.

Em geral, ao pensar em teatro, imaginamos um palco iluminado com uma cortina vermelha, uma plateia que permanece em silêncio, luzes, músicas etcétera Entretanto, como teatro também é jogo e brincadeira, há muitos outros espaços além do palco onde se pode fazer uma peça.

Teatro no quintal

Fotografia. À esquerda, cinco palhaços de costas com uniforme de futebol azul. À direita, cinco palhaços de costas com uniforme amarelo. Eles estão em um palco, sobre um tecido verde, olhando na direção de muitas pessoas que estão sentadas na plateia.
JOGANDO no quintal – jogo de improvisação de palhaços. Concepção: Márcio Ballas e César Gouvêa. Direção Geral: César Gouvêa. Intérpretes: Companhia do Quintal. São Paulo (São Paulo), 2001.

2. Observe a imagem. Quais elementos você reconhece na cena? O que chama a sua atenção?

No ano de 2001, dois amigos, César Gouvêa (1972-) e Márcio Ballas (1971-), decidiram usar o quintal da casa de César para treinar duas de suas paixões: a arte do palhaço e os jogos teatrais. Eles perceberam que poderiam realizar os exercícios de improvisação adaptando o espaço para usá-lo como um campo de futebol.

O quintal da casa de César era montado com elementos de uma partida de futebol: placar, arquibancada para torcidas, bandeiras, juiz e jogadores. Os palhaços/atletas/jogadores eram divididos em dois times rivais no início do espetáculo, e competiam entre si. Havia um juiz, também palhaço, e uma banda composta de músicos-palhaços que criava os sons e a ambientação musical ao vivo durante as apresentações.

Todas as cenas do espetáculo eram improvisadas, e é por isso que cada apresentação do Jogando no quintal – jogo de improvisação de palhaços era única. A participação da torcida na arquibancada também era muito importante, já que era ela quem escolhia os temas para os jogadores improvisarem as cenas e também quem decidia qual time ganhava no placar.

Quando tudo começou no quintal de César, só havia espaço para 20 pessoas participarem como torcida/espectadores. Aos poucos, mais pessoas se interessaram em participar e assistir aos espetáculos; com isso, a Companhia do Quintal começou a se apresentar em outros espaços.

Para experimentar

Jogo da careta

A careta é uma fórma de expressão facial que pode ter várias finalidades, assim como a arte do teatro: fazer rir, assustar, zombar, imitar, contar uma história etcétera

Tente se lembrar de momentos em que você imitou alguém ou algo, experimentou falar com outra voz ou brincou de fazer careta. Você já deve ter brincado de se transformar em outros “eus” várias vezes.

Que tal brincar de fazer careta com a sua turma?

  1. Faça uma careta e experimente falar sem mudar a expressão do rosto. Que tipo de som e de voz nasce dessa careta?
  2. Após experimentar algumas caretas, uma dupla de estudantes inicia o jogo diante da turma.
    1. Sentados um de frente para o outro, façam as caretas.
    2. O estudante que rir primeiro dará seu lugar para outro colega brincar, e assim sucessivamente.
  3. Em seguida, crie um coro de caretas.
    1. Reúna-se com os colegas e elejam um tipo de expressão facial para imitar.
    2. Agrupem-se para que o restante da turma possa assistir a vários colegas brincando com as caretas ao mesmo tempo.
  4. Para concluir, reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.
    1. Que emoções as caretas podem expressar?
    2. É fácil manter a careta enquanto você fala ou se movimenta? Por quê?
    3. Como o restante do corpo pode interferir nas suas caretas?
Ilustração. À esquerda, uma menina de perfil, com roupas coloridas, sentada em uma cadeira. Ela está gesticulando, com as sobrancelhas franzidas e a boca aberta. À direita, de perfil, sentado de frente para a menina, um menino com roupas coloridas. Ele está sentado em uma cadeira, com os olhos fechados e a boca aberta. Ao fundo, outras crianças com roupas coloridas assistem aos dois.

Objetos e histórias com vida

Fotografia. Cena de espetáculo com diversos atores fantasiados. À esquerda, uma pessoa com fantasia de pássaro colorido. Ao lado, uma pessoa com fantasia de gavião. Atrás, uma pessoa com fantasia de coruja. Seguindo para direita, uma mulher com roupas pretas segurando com as mãos uma boneca de marionete com fantasia de Alice. Ao lado, uma pessoa fantasiada de rato, ajoelhado no chão e uma pessoa fantasiada de papagaio. À direita, um homem de terno com a cabeça coberta com um tecido preto com as mãos em uma máquina fotográfica antiga, feita de madeira sobre um tripé de madeira.
ALICE no País das Maravilhas. Direção geral e adaptação: Marcos Malafaia. Dramaturgia: líuis quéról. Interpretação: Grupo Giramundo. 2013.

3. Observe a imagem. O que você identifica nessa cena?

Se no teatro muitas vezes nos reunimos para ouvir histórias e ver pessoas brincando de ser outras coisas, uma das possibilidades da linguagem teatral é dar vida a objetos que, a princípio, são inanimados. glossário

4. No capítulo 2, você viu como objetos do cotidiano podem ser usados para produzir sons ou músicas. Alguma vez você já usou, por exemplo, almofadas, panelas, baldes, garrafas vazias ou pedaços de madeira para inventar uma história? Como seria contar histórias com brinquedos e objetos?

No teatro, o trabalho artístico desenvolvido com objetos e bonecos operados por atores é chamado de teatro de animação.

No Brasil, um dos mais importantes grupos de teatro de animação é o Giramundo, de Belo Horizonte Minas Gerais. O grupo foi criado na década de 1970 pelos artistas plásticos Álvaro Apocalypse (1937-2003), Tereza Veloso (1936-2003) e Maria do Carmo Vivacqua Martins (1945-).

Ao longo de sua trajetória, o Giramundo já apresentou mais de 30 espetáculos teatrais e possui um acervo de 1 500 bonecos e objetos de cena.

Desde a sua criação, o Giramundo é influenciado pelas artes plásticas e visuais. Assim, a criação dos elementos de cena – bonecos e objetos – é guiada pelos princípios da escultura e da pintura. Além disso, o trabalho envolve a artesania, como a que se pode reconhecer no ofício de marionetistaglossário .

Para experimentar

Contando uma história com objetos

  1. Com o auxílio do professor, reúna-se com os colegas em grupos de três a quatro integrantes.
  2. Em seu grupo, compartilhem algumas histórias que todos os integrantes conheçam.
  3. Escolham uma dessas narrativas para apresentar para a turma.
  4. O grupo deve eleger uma fórma de representação cênica para contar a história selecionada.
  5. O grupo deverá trabalhar com dois elementos diferentes: alguns dos personagens da história serão representados pelos próprios estudantes, e os demais personagens devem ser objetos manipulados pelos participantes.
  6. Anote em seu diário de bordo as suas impressões sobre a apresentação de seu grupo e as dos demais e, ao final, compartilhe-as com os colegas e com o professor.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Foco na História

O teatro de sombras

Considerado uma das fórmas teatrais mais antigas do mundo, o teatro de sombras apareceu primeiro no Oriente, sendo praticado em países como China, Tailândia e Síri Lanca. Por isso, durante muitos anos, no Ocidente, essa fórma teatral foi chamada de sombras chinesas.

Como o próprio nome diz, nessa encenação teatral os espectadores assistem ao movimento de sombras projetadas em algum anteparo, animadas por artistas que ficam atrás de uma tela, manipulando silhuetas.

Desse modo, podemos dizer que são três os principais elementos do teatro de sombras:

1. a tela onde se projetam as imagens;

2. o foco de luz (lanterna, vela, lâmpada etcétera);

3. as silhuetas (confeccionadas de cartão, tecido, diversos tipos de papel e transparências) que são manipuladas pelos artistas para serem projetadas na encenação que será vista pelo público.

Atualmente, o teatro de sombras é considerado uma das fórmas do teatro de animação. No Brasil, diversos coletivos, como a Companhia Lumiato, criam seus espetáculos usando essa linguagem.

Fotografia. Em um ambiente escuro, dois artistas (um homem e uma mulher) manipulam silhuetas que estão sobre uma mesa entre eles. Um foco de luz incide nas silhuetas. Ao fundo, projetada em uma tela, sombra de uma mulher segurando uma lança. De frente para ela, um homem segurando uma de suas mãos.
Apresentação de uma cena do espetáculo Iara: o encanto das águas, da Companhia Lumiato.

Teatro na janela

Fotografia. Em primeiro plano, pessoas sentadas em uma mureta, de costas, assistem a um espetáculo. Ao fundo, prédios com janelas. Em uma das janelas abertas, um homem e uma mulher com fantasias se comunicam com os espectadores.
ESPARRAMA pela janela. Direção: Iarlei Rangel. Interpretação: Grupo Esparrama. São Paulo São Paulo, 2013.

5. Observe a imagem de uma cena do espetáculo Esparrama pela janela. Como seria encenar uma peça de teatro dentro da própria casa, assim como fazem os artistas desse grupo?

Da mesma maneira que o palco é um espaço onde bonecos e objetos ganham vida pelas mãos e pela imaginação dos atores e do público, alguns espaços inusitados podem servir como lugares de apresentação teatral. É assim que os artistas do Grupo Esparrama pensam e fazem seu teatro: nas janelas de um apartamento.

As pessoas que assistem ao espetáculo estão sobre um viaduto na cidade de São Paulo São Paulo, o Elevado Presidente João gulár, popularmente conhecido como Minhocão. Esse espaço é fechado para os carros e aberto a passeio aos fins de semana. Como o apartamento dos artistas fica na altura do viaduto, eles decidiram abrir as suas janelas, da mesma maneira como se abrem as cortinas de alguns teatros, e apresentar a sua peça para o público passante.

No enredo, o morador de um apartamento localizado próximo ao Minhocão, cansado da poluição sonora, dá asas à sua imaginação e transforma em música o caos do ambiente em que vive. Personagens mágicos aparecem em seu apartamento, como um casal de monstros, uma princesa, um anão dançarino ou vizinhos fofoqueiros, entre outros.

Para criar esse universo imaginário, os atores ora se fantasiam e representam os personagens, ora manipulam bonecos gigantes que aparecem na janela.

Foco na História

Mamulengo: Um teatro de bonecos brasileiro e popular

Uma importante manifestação cultural brasileira é o teatro popular de bonecos da região Nordeste. Conhecido como Mamulengo em Pernambuco, Cassimiro Coco no Ceará e no Maranhão, João Redondo no Rio Grande do Norte e Babau na Paraíba, esse tipo de teatro apresenta em cena brincantes que manipulam bonecos feitos de madeira que representam elementos marcantes da cultura de sua região.

Embora sua origem histórica não seja totalmente documentada, algumas pesquisas indicam que esse teatro de bonecos surgiu no período da colonização do país. Segundo esses estudos, o teatro de bonecos era extremamente popular na Europa no século dezenove e os colonizadores instalados no Brasil teriam trazido essa manifestação cultural consigo, a princípio vinculada a temas religiosos. Há relatos de que no estado de Pernambuco, em 1816, já se podia assistir a espetáculos de bonecos nas ruas de Recife.

Entretanto, alguns bonequeiros, manipuladores e brincantes atribuem outra origem a esse teatro: o período da escravidão. Segundo alguns desses artistas, o Mamulengo teria surgido como resposta aos abusos impostos aos negros escravizados pelos senhores, uma vez que esse teatro, em geral, utiliza o humor para fazer críticas sociais. Outros ainda afirmam que o teatro de bonecos se desenvolveu nas noites que sucediam períodos de intenso trabalho dos escravizados, tornando-se uma fórma de diversão para eles.

Atualmente, o teatro popular de bonecos constitui uma tradição cultural passada de geração em geração. Permeada por personagens cativantes, bom humor e músicas tocadas ao vivo, o Mamulengo desperta a alegria dos espectadores, apresentando temas como o amor, a relação entre o humano e o divino e críticas à sociedade.

Fotografia. Apresentação de um teatro de bonecos. À esquerda, um boneco com cabeça de madeira, chapéu de vaqueiro, sorrindo, e corpo de tecido vermelho; ao lado, outro boneco com cabeça de madeira, cabelos brancos e corpo com tecido branco e bolinhas vermelhas. Ao fundo, cenário com desenho de casas.
Apresentação do grupo Mamulengo Risada no Festival de Inverno de Garanhuns Pernambuco. Fotografia de 2013.

Vimos que há muitos motivos que podem instigar as pessoas a fazer teatro: a vontade de divertir a si mesmo e aos outros, de inventar histórias, de dar vida a objetos e também de realizar intervenções em espaços públicos. O teatro é, portanto, uma arte em que o “eu” pode se expandir em muitos outros “eus” e oferecer criações e reflexões sobre a nossa vida e a nossa condição no mundo.

Faça no caderno.

Para pesquisar

Entrevista com grupos teatrais e artistas ao redor

  1. Reúna-se com seus colegas em um grupo.
  2. Ao longo de alguns dias, cada grupo deverá entrevistar artistas pertencentes a coletivos de teatro que estão em atividade na sua cidade ou perto dela.
  3. Cada grupo elegerá um coletivo teatral ou um artista para aprofundar sua pesquisa e realizará uma entrevista com o coletivo ou artista pessoalmente, por telefone ou por e-mail.
  4. Algumas perguntas que podem orientar a entrevista são:
    1. Qual é a história/trajetória do coletivo ou artista?
    2. Por quais motivos esse coletivo ou artista começou a fazer teatro?
    3. Qual é o objetivo desse coletivo ou artista ao fazer teatro?
  5. Após a realização da entrevista, o grupo deve se organizar para transcrever integralmente o material coletado.
  6. Após a transcrição, monte uma apresentação para compartilhar o material coletado com o restante da turma e, com o auxílio do professor, disponibilize a íntegra da transcrição em algum suporte virtual.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Quais espaços e fórmas de contar histórias escolhidos pelos grupos e artistas apresentados neste Sobrevoo mais despertaram o seu interesse? Por quê?
  2. De acordo com seu ponto de vista, qual é a importância do teatro para a vida das pessoas?
  3. De que fórma você identifica a presença do teatro em sua vida?

Foco em...

Teatro de animação

Fotografia. Uma boneca gigante com cabeça de uma mulher com cabelos longos e uma saia rodada colorida. No corpo, composto por uma estrutura de madeira, há  uma pessoa dentro, que é o bonequeiro - quem manipula a boneca. Em segundo plano, há pessoas caminhando e prédios.
A boneca Amal, que representa uma criança refugiada síria, faz parte do projeto artístico Walk With Amal (Caminhem com Amal, em tradução livre), tendo sido vista em várias cidades pelo mundo. Nesta fotografia, Amal caminha com Alice, em Oxford, Inglaterra, 2021.

O teatro de animação, também conhecido como teatro de fórmas animadas, é uma modalidade que tem como principal característica a possibilidade de dar vida a objetos inanimados.

Essa manifestação artísti­ca permite que diversos materiais sirvam ao jogo teatral, além das máscaras e dos bonecos. O limite depende da imaginação e criatividade dos artistas envolvidos. Assim, o ser humano e seus movimentos são fundamentais para que esse tipo de teatro aconteça: por exemplo, os manipuladores podem usar uma máscara, ou se vestir de preto, ou se esconder debaixo de uma mesa para animar os bonecos ou até mesmo dar vida a pedras, livros, panos e sacolas de plástico.

Nesse teatro, o movimento é a base da animação. Por isso, o ator (manipulador, bonequeiro, brincante etcétera) é o principal responsável pela qualidade da animação dos objetos. Quanto mais os movimentos dele se aproximarem das características do objeto a ser animado, melhor será a ilusão criada. Afinal, um dos objetivos desse teatro é que o manipulador se torne invisível aos olhos do público, o que intensifica a ilusão de que um objeto realmente ganhou vida.

A história desse tipo de teatro é longa. Há, por exemplo, as artes ancestrais do bunrraku, no Japão, e o kânragôz, na Turquia. A animação teatral também pode remeter às práticas artísticas vinculadas a ritos religiosos nas quais se usavam máscaras para que as pessoas entrassem em comunhão com divindades e forças da natureza.

Como vimos ao longo do Sobrevoo, atualmente o teatro de animação está presente em espetáculos destinados principalmente ao público jovem, em peças compostas de jogos de bonecos e também em outros experimentos cênicos que propõem uma intensa exploração de linguagem, aproximando atores, objetos, máscaras e bonecos.

Fotografia. Seis bonecos de tecidos coloridos e cabeça de madeira.
Mamulengos do acervo do Museu do Mamulengo, Olinda (Pernambuco)ponto Fotografia de 2009.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. momentos do seu cotidiano em que você experimenta dar vida aos objetos? Quais?
  2. Como aprimorar os efeitos de ilusão ao longo da animação de uma máscara, boneco ou objeto?
  3. Quais ideias de objetos você tem para experimentar animar?

Foco no conhecimento

Os jogos teatrais

Fotografia em preto e branco. Um grupo de pessoas sentadas uma no colo da outra, formando uma roda.
Um grupo de participantes de uma oficina de teatro coordenada por Augusto Boal em Paris, França. Fotografia de 1975.

Jogo teatral é o nome dado a uma estrutura de jogo de improvisação feito com pessoas dispostas a criar e a se divertir e que pode servir de base para compor uma peça, embora esse não seja o único objetivo dos jogos.

De acordo com a estadunidense Viola Ispólin (1906-1994), uma das principais estudiosas do assunto, no jogo teatral podemos interagir com outras pessoas de maneira mais livre, sem tantos julgamentos. Assim, conseguimos nos envolver mais ao longo do processo criativo.

Observe a fotografia. Trata-se de uma oficina do Teatro do Oprimidoglossário organizada por Augusto Boal (1931-2009), um importante artista do teatro brasileiro. O público, geralmente formado por pessoas não habituadas com a arte teatral, era convidado a experimentar diversos tipos de brincadeiras conduzidas por ele. Boal usava os jogos teatrais para criar seus espetáculos e chegou até a compilar mais de 200 jogos em um livro.

Veja a seguir algumas características do jogo teatral:

  1. Possibilita ao jogador trabalhar tanto a si mesmo como a sua relação com o outro.
  2. Envolve todo o nosso “eu”: corpo, pensamentos e emoções precisam estar disponíveis.
  3. Qualquer pessoa que desejar é capaz de atuar no palco e de improvisar.
  4. O jogo deve ser pensado como um espaço de descoberta e de experimentação, e não como uma prova. É preciso estar atento para não cair na armadilha do que é certo e do que é errado, ou da aprovação e desaprovação por parte do público.
  5. Um relacionamento de grupo saudável pressupõe a participação individual e a contribuição de todos. Se um indivíduo predomina no grupo, os outros têm pouco crescimento e prazer no jogo.
  6. O jogador não deve apenas jogar: assistir aos outros jogarem faz com que ele aprenda. As observações da plateia ao final de cada jogo são muito importantes para o aprendizado do jogador e também do coletivo.

Para pesquisar

Jogos teatrais

  1. Faça uma pesquisa sobre jogos teatrais na internet ou em livros e anote em seu diário de bordo as regras e os objetivos de cada um desses jogos.
  2. Em uma aula posterior, compartilhe as suas anotações com os colegas e com o professor e conversem a respeito das seguintes questões:
    1. Qual é a importância das regras para o jogo teatral?
    2. Dos jogos que você descobriu, quais tem vontade de experimentar?

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Como você lida com a aprovação e a desaprovação nas atividades que realiza?
  2. Você já havia pensado a respeito da ideia de que qualquer pessoa pode fazer teatro? Qual é a sua percepção a respeito disso?

Processos de criação

Vamos contar uma história com animação de objetos e realizar um jogo de improvisação coletiva?

  1. Reúna-se com os colegas em um grupo de seis integrantes.
  2. Cada grupo deve escolher uma história para improvisar diante da turma. Nesse jogo, devem ser alternados momentos em que os atores improvisam a história e outros momentos em que animam objetos.
  3. A história pode ser inventada, pode ser uma história já existente e conhecida por todos, ou então um fato que tenha sido vivenciado por algum dos integrantes do grupo.
  4. Escolhida a história, o grupo deve definir como ela começa, o que acontece enquanto vai sendo contada e como ela termina.
  5. Assim que a sequência estiver definida, o grupo pode iniciar a improvisação.
  6. Após a realização do primeiro improviso, o grupo pode repetir o jogo lidando com todas ou com algumas das seguintes proposições:
    1. Como vocês improvisariam se a plateia fosse composta de pessoas que não podem ouvir o que vocês dizem, seja porque possuem deficiência auditiva, seja porque não compreendem a sua língua?
    2. Como vocês improvisariam se a plateia fosse composta de crianças muito pequenas?
    3. Como vocês improvisariam se a plateia fosse composta de pessoas cujos olhos estão vendados?

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Quais estratégias você usou para superar as dificuldades vividas durante o jogo?
  2. Quando você assiste aos jogos dos colegas, em que momentos esses jogos se tornam interessantes? Por quê?
  3. Em qual momento você sentiu mais prazer em jogar? Por quê?

Organizando as ideias

Quadro com recortes de 4 imagens. À esquerda, recorte de uma pintura em que as pessoas brincam de jogos infantis: dois homens brincando de gangorra em um barril. Ao lado deles, um grupo de pessoas segurando os braços e as pernas de um homem. No plano intermediário da pintura, um homem pulando as costas de uma pessoa abaixada. No plano de fundo, um grupo de pessoas jogando bolinhas. Ao lado desse recorte, fotografia de dois palhaços de costas com uniforme de futebol azul. Eles estão em um palco, sobre um tecido verde, olhando na direção de muitas pessoas que estão sentadas na plateia.  
Seguindo para direita, fotografia de uma boneca gigante com cabeça de uma mulher com cabelos longos e uma saia rodada colorida. No corpo, composto por uma estrutura de madeira, há  uma pessoa dentro, que é o bonequeiro - quem manipula a boneca. À direita, fotografia em preto e branco de um grupo de pessoas em círculo, sentadas uma no colo da outra.

Neste capítulo, você foi convidado a pensar que um “eu” pode brincar de ser muitos outros seres e inclusive de ser outros “eus”. Para que possamos vivenciar a experiência de ser um “eu” diferente de nós mesmos, vimos que duas ferramentas possíveis são: os jogos teatrais e o teatro de animação. Esses jogos e essa modalidade de teatro permitem dar vazão à imaginação e estimulam a interação com outras pessoas.

Para concluir, reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

Faça no caderno.

  1. De todas as obras e artistas vistos ao longo deste capítulo, qual despertou mais o seu interesse?
  2. Quais brincadeiras e jogos de seu cotidiano mais dialogam com os temas expostos neste capítulo?
  3. Que relação você faz entre os assuntos estudados neste e nos capítulos anteriores?
  4. Quais descobertas você fez ao longo deste capítulo? O que você gostaria de continuar aprofundando?

Glossário

Marionetista
Pessoa responsável por dar vida a um tipo específico de boneco, chamado marionete, por meio de sua manipulação. O marionetista dá movimento e voz ao boneco, além de criar possibilidades de jogo com ele.
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Teatro do Oprimido
Metodologia de trabalho desenvolvida por Augusto Boal, na qual são utilizados diversos exercícios e jogos teatrais criados por ele. Com isso, Boal buscava democratizar a produção teatral, ou seja, aproximar o teatro do cotidiano de todos. Uma das propostas desse método é questionar as pessoas a respeito de situações nas quais elas se sentem oprimidas e convidá-las a criar histórias para resolver esses problemas de maneira lúdica e inventiva.
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