CAPÍTULO 7 Intervenções no mundo

Fotografia. Em primeiro plano, à direita, uma mulher caminha pelo centro de uma cidade, usando um vestido vermelho com uma cauda muito longa. A cauda, saindo do vestido, estende-se como uma trilha longa vermelha, sobre a calçada. Adultos e crianças seguram o tecido vermelho. Ao fundo, mesas com cadeiras e prédios.
RED Weight [Peso vermelho, em tradução livre]. Concepção e execução: Áine pílips. Cracóvia, Polônia, 2013.
Orientações e sugestões didáticas

Sobre o capítulo

Este capítulo, “Intervenções no mundo”, relaciona-se às Unidades temáticas da Bê êne cê cê: Artes visuais; Teatro; Artes integradas.

Objetivos

De acordo com as Competências específicas do Componente Curricular Arte, os conteúdos trabalhados neste capítulo buscam levar os estudantes a:

  1. Explorar, conhecer, fruir e analisar criticamente práticas e produções artísticas e culturais do seu entorno social, dos povos indígenas, das comunidades tradicionais brasileiras e de diversas sociedades, em distintos tempos e espaços, para reconhecer a arte como um fenômeno cultural, histórico, social e sensível a diferentes contextos e dialogar com as diversidades.
  2. Compreender as relações entre as linguagens da Arte e suas práticas integradas, inclusive aquelas possibilitadas pelo uso das novas tecnologias de informação e comunicação, pelo cinema e pelo audiovisual, nas condições particulares de produção, na prática de cada linguagem e nas suas articulações.
  3. Pesquisar e conhecer distintas matrizes estéticas e culturais – especialmente aquelas manifestas na arte e nas culturas que constituem a identidade brasileira –, sua tradição e manifestações contemporâneas, reelaborando-as nas criações em Arte.
  4. Experienciar a ludicidade, a percepção, a expressividade e a imaginação, ressignificando espaços da escola e de fora dela no âmbito da Arte.
  5. Mobilizar recursos tecnológicos como formas de registro, pesquisa e criação artística.
  1. Desenvolver a autonomia, a crítica, a autoria e o trabalho coletivo e colaborativo nas artes.
  2. Analisar e valorizar o patrimônio artístico nacional e internacional, material e imaterial, com suas histórias e diferentes visões de mundo.

1. Você já experimentou vivenciar alguma situação cotidiana de uma maneira diferente?

Para isso, é preciso fazer o esforço de dar um primeiro passo e quebrar a rotina. Alguns artistas que você vai conhecer neste capítulo fizeram de atos simples, como vestir uma roupa diferente, um meio de transformação da realidade.

Em sua performance chamada Red Weight [Peso vermelho], a artista irlandesa Áine pílips (1965-) caminhou pela região central da Cracóvia, uma cidade da Polônia, vestindo uma saia composta de 600 peças de roupas vermelhas já usadas por outras pessoas. Imagine o peso dessa saia! Observe na imagem da abertura do capítulo que algumas pessoas que passavam por lá entraram na brincadeira e ajudaram Áine a carregar a imensa cauda.

  1. Se estivesse presente nessa performance, você participaria de algum modo ou só observaria?
  2. O que a cor vermelha representa para você?
  3. Na sua opinião, por que a artista atribuiu esse nome à sua performance?

Neste capítulo, você também vai ler e refletir sobre performances, e inclusive realizar algumas. Essa modalidade artística explora experiências de convívio, de como nos mostramos aos outros e de como os outros nos veem.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Você pretende manifestar algo com seu modo de se vestir? O que, exatamente?
  2. Observe ao seu redor. Como as pessoas estão vestidas e como se comportam? O que isso pode revelar a respeito delas?
Orientações e sugestões didáticas

Justificativa

Neste capítulo, propomos um diálogo entre Artes visuais e Teatro, com foco na performance e na reflexão sobre como o estudante vê os outros e como os outros o veem no dia a dia.

O título do capítulo, assim como a imagem de Áine pílips, indica a relação direta entre essa modalidade artística e o mundo ao redor. Investigue os conhecimentos prévios da turma sobre intervenções urbanas e ações artísticas realizadas em espaços públicos perguntando: “Como a ação de um artista em relação à própria roupa e às experiências de seu passado transforma a maneira como pensamos o espaço da rua?”. O capítulo como um todo contempla o tê cê tê Multiculturalismo – Diversidade cultural, ao abordar ações que colaboram para a reflexão e ação em prol da diversidade cultural.

Para todas as questões propostas no capítulo serão dadas “Respostas pessoais.”.

Sobre as atividades

  1. Estimule o estudante a refletir sobre suas ações e situações cotidianas que possam inspirar algo fora da rotina.
  2. Incentive o estudante a se colocar na situação do público da performance Red Weight. Aproveite para comentar com a turma de que modo as pessoas podem participar desse tipo de ação; seja carregando a saia e abrindo caminho para a artista, seja fotografando a performance, entre outros procedimentos.

4. O peso se refere aos tecidos vermelhos que a artista carrega. Entretanto, é importante que você incentive os estudantes a pensar nas questões simbólicas embutidas no título. Comente com eles que essa performance pode nos lembrar que estamos sempre carregando as experiências pelas quais passamos em nossas vidas, os objetos que adquirimos ou os sonhos que temos. Converse também sobre a simbologia da cor vermelha (na cultura ocidental, o vermelho é associado a sangue, vida, fúria, calor etcétera), recuperando elementos que podem ter aparecido na atividade 3 desta página. Por ser uma mulher à frente da perfórmance, o “peso” pode remeter às dificuldades que as mulheres enfrentam socialmente. A forma como a artista enrola o tecido pode ainda recordar um cordão umbilical, que a une às outras mulheres, todas trabalhando na difícil tarefa de carregar um peso simbólico, cotidianamente.

Sugestão para o estudante

É possível ver mais imagens da performance Red Weight no site da artista. Disponível em: https://oeds.link/4wUDIo. Acesso em: 11 abril 2022.

SOBREVOO

Intervenções no cotidiano

Fotografia em preto e branco. No centro da imagem, um homem grisalho e de óculos usa uma blusa bufante, saia e sandálias. Ao redor, diversos homens usando terno. Eles estão caminhando em uma rua. Nas laterais, prédios.
O artista Flávio de Carvalho caminhando pelas ruas de São Paulo São Paulo. Fotografia de 1956.

Faça no caderno.

1. Observe a pessoa que está no centro da imagem. Repare na expressão dos que estão ao seu redor. O que parecem achar da situação?

A fotografia foi feita em 1956, quando Flávio de Carvalho (1899-1973) tinha 57 anos, e reproduz uma de suas criações artísticas, que ele chamou de Experiência nº 3.

O artista quis propor um jeito de pensar diferente do vigente na sociedade e realizou uma experiência: criou e vestiu um traje masculino que considerava adequado ao clima tropical brasileiro e foi passear no centro da cidade de São Paulo São Paulo. Flávio misturou elementos do teatro e das artes visuais para refletir sobre a relação com o público e com o espaço da cidade.

Orientações e sugestões didáticas

Nesta seção, apresentamos artistas nacionais e internacionais que, de diferentes maneiras, propuseram intervenções no cotidiano.

Unidades temáticas da Bê êne cê cê

Artes visuais; Teatro; Artes integradas.

Objetos de conhecimento

Contextos e práticas; Materialidades; Elementos da linguagem; Processos de criação; Matrizes estéticas e culturais; Patrimônio cultural.

Habilidades em foco nesta seção

(ê éfe seis nove á érre zero um) Pesquisar, apreciar e analisar formas distintas das artes visuais tradicionais e contemporâneas, em obras de artistas brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas e em diferentes matrizes estéticas e culturais, de modo a ampliar a experiência com diferentes contextos e práticas artístico-visuais e cultivar a percepção, o imaginário, a capacidade de simbolizar e o repertório imagético.

(ê éfe seis nove á érre zero cinco) Experimentar e analisar diferentes formas de expressão artística (desenho, pintura, colagem, quadrinhos, dobradura, escultura, modelagem, instalação, vídeo, fotografia, performance etcétera.).

(ê éfe seis nove á érre dois seis) Explorar diferentes elementos envolvidos na composição dos acontecimentos cênicos (figurinos, adereços, cenário, iluminação e sonoplastia) e reconhecer seus vocabulários.

(ê éfe seis nove á érre três um) Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política, histórica, econômica, estética e ética.

(ê éfe seis nove á érre três dois) Analisar e explorar, em projetos temáticos, as relações processuais entre diversas linguagens artísticas.

(ê éfe seis nove á érre três três) Analisar aspectos históricos, sociais e políticos da produção artística, problematizando as narrativas eurocêntricas e as diversas categorizações da arte (arte, artesanato, folclore, dizáin etcétera).

(ê éfe seis nove á érre três quatro) Analisar e valorizar o patrimônio cultural, material e imaterial, de culturas diversas, em especial a brasileira, incluindo suas matrizes indígenas, africanas e europeias, de diferentes épocas, e favorecendo a construção de vocabulário e repertório relativos às diferentes linguagens artísticas.

Orientações

A partir do exemplo de Flávio de Carvalho, problematize com a turma os padrões sociais de vestimenta de hoje em dia, focando especialmente na questão de gênero. Caso existam regras para a forma como os estudantes devem se vestir na escola, incentive-os a refletir sobre como essas regras foram convencionadas e se houve mudanças ao longo do tempo.

Para ele, o traje ideal para o homem brasileiro seria uma saia curta de pregas, blusa de mangas bufantes, meia-calça e sandália de couro. Essa roupa foi chamada de New look [Novo visual], traje tropical ou traje de verão.

  1. Como seria caminhar na rua vestido dessa fórma hoje em dia?
  2. O traje criado pelo artista para a obra Experiência nº 3 seria adequado para o clima da sua região? O que você acrescentaria ou suprimiria? Quais roupas você sugeriria de acordo com as necessidades do lugar onde você mora?

Em 1931, ao realizar a obra Experiência nº 2, o artista foi andar no meio de uma procissão de Corpus Christi usando um chapéu (o que, para os padrões morais da época, era considerado desrespeitoso), e ainda caminhou no sentido contrário ao da multidão. Pessoas que testemunharam o evento consideraram provocadora a maneira de o artista se vestir e se portar e o perseguiram, gritando ameaças. Depois de resolvido o conflito em uma delegacia, Flávio reconheceu para os jornais da cidade que seu objetivo com essa performance (que, naquele tempo, não foi chamada assim) era justamente provocar um efeito teatral e dramático, buscando dialogar com as propostas radicais das ­glossário vanguardas históricas europeiasglossário , nas quais ele se inspirava.

Foco na História

Téspis: o primeiro ator de teatro

Você sabia que a arte do teatro nasceu porque alguém, assim como Flávio de Carvalho, que rompeu com as convenções em suas Experiências, começou a pensar diferente do restante da sociedade?

Na Grécia antiga, havia muitas celebrações coletivas em homenagem aos deuses. As dionisíacas, rituais de culto ao deus Dionísio (responsável pela fertilidade da terra e da vida), reuniam pessoas que cantavam, bebiam, rezavam e festejavam em procissões que duravam dias. Entretanto, aproximadamente no ano 534 antes de Cristo, um homem chamado Téspis resolveu se diferenciar dos demais.

Téspis recolheu esterco de animais e espalhou em seu rosto e corpo, escandalizando o grupo que cantava junto. Ele parou de recitar o poema que todos entoavam e começou a declamar um texto novo, fazendo oposição ao coro. Por esse motivo, Téspis é considerado o primeiro ator da história do teatro ocidental.

Orientações e sugestões didáticas

Orientações

Pergunte aos estudantes em que momentos da vida eles já se sentiram deslocados ou como se estivessem andando na contramão da multidão. Você também pode perguntar se já vivenciaram alguma situação semelhante à de Flávio de Carvalho; se já quiseram chamar a atenção em alguma ocasião ou se opor a um espaço de convívio social. Ampliando o diálogo, você pode estimulá-los a refletir sobre o inverso, questionando se já presenciaram alguma situação em que outra pessoa parecia desconfortável e deslocada e como se posicionaram diante dessa constatação. Essa proposta de reflexão contempla a habilidade (ê éfe seis nove á érre três um) da Bê êne cê cê.

Sobre Flávio de Carvalho

A relação entre moda e ação artística mobilizou o trabalho de Flávio de Carvalho durante alguns anos, gerando uma série de textos publicados pelo autor entre março e novembro de 1956 no jornal Diário de São Paulo. De acordo com o artista, se a moda pode normatizar os comportamentos sociais, ela também pode tirar as formas cotidianas dos eixos, caso seja elaborada a partir de uma reviravolta estética.

Sobre as atividades (página 116-117)

  1. Incentive o estudante a observar os diferentes modos de se vestir que aparecem na imagem. Enquanto os demais homens usam camisas, gravatas, ternos e calças compridas, Flávio de Carvalho veste saia, blusa com mangas bufantes e sandálias. Pergunte também se haveria alguma diferença caso a ação tivesse sido realizada em um museu.
  2. Pode-se perguntar ao estudante sobre suas referências de moda: “O traje de Flávio de Carvalho ainda causaria espanto hoje em dia em sua cidade?”. Caso a resposta seja negativa, incentive o estudante a imaginar um tipo de traje que poderia causar impacto.
  3. Pode-se conversar sobre a relação entre moda/vestimenta e necessidades climáticas e sociais. Como uma das justificativas da experiência de Flávio de Carvalho se relaciona à aproximação do traje masculino às necessidades do país, incentive os estudantes a investigar e problematizar esse tema e pergunte quais seriam as suas propostas de moda a partir disso. Essa abordagem da questão contempla a habilidade (ê éfe seis nove á érre três três) da Bê êne cê cê.

Parangolés

Fotografia. Imagem colorida, formato paisagem. Um grupo de pessoas realiza uma performance artística de dança em um espaço fechado. Todas usam Parangolés coloridos, espécie de capa de pano presa ao corpo. Em primeiro plano, à frente do grupo, um homem usa Parangolés nas cores verde e azul. Ele está com o braço direito levantado e segurando o tecido azul, que se prende em volta do pescoço. Presa ao corpo, a capa verde. Do lado direito da imagem, uma mulher de roupas pretas está usando um Parangolé  vermelho em volta da cintura e ao redor do pescoço. Ela está com os braços estendidos para trás, segurando, com a mão esquerda, parte do tecido. Do lado esquerdo da imagem, duas pessoas caminham lado a lado. A da esquerda usa Parangolé vermelho  esticado no braço direito. A da direita usa capa verde presa ao corpo e um pedaço de tecido vermelho na cabeça e no pescoço. Atrás delas, outras pessoas usam Parangolés coloridos. Em segundo plano, do lado direito da imagem, pessoas assistem à performance.
PARANGOLÉS. Concepção: Hélio Oiticica, 1965. Performance realizada no evento The Long Weekend, Tate Modern, Londres, Inglaterra, 2007.

4. Você já assistiu a um desfile de Carnaval ou participou de algum? Qual foi a sensação que experimentou?

A experiência do artista carioca Hélio Oiticica (1937-1980) em uma escola de samba foi tão impactante que toda sua produção artística a partir de então foi influenciada por ela. Os Parangolés são criações desenvolvidas por ele na década de 1960, em meio à comunidade da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro. As peças, feitas de tecidos e outros materiais com diferentes texturas, tamanhos e cores, podem ser capas, estandartes ou bandeiras e convidam o público a carregá-las ou vesti-las, tornando-se, assim, a própria obra de arte.

Orientações e sugestões didáticas

Atividade complementar

Por que a experiência de Oiticica com a escola de samba foi tão impactante? Como isso se relaciona com arte?

Você pode contextualizar essa manifestação popular e depois sugerir aos estudantes que desenvolvam uma pesquisa sobre o assunto.

Oriente os estudantes a pesquisar imagens e vídeos do Carnaval brasileiro. Procure incluir indumentária, alegorias, bateria e outros elementos que possam se relacionar com as linguagens artísticas.

Divida a turma em quatro grupos para que cada um deles pesquise a relação dessa festa com uma linguagem artística distinta (Artes visuais, Dança, Música e Teatro).

A investigação deverá contemplar:

  • Quais elementos da festa se relacionam com essa linguagem artística?
  • Quais artistas dessa linguagem foram influenciados por essa manifestação?
  • Como são suas obras?

Caso necessário, você pode auxiliá-los nessa pesquisa. Apontamos aqui alguns nomes de artistas que podem exemplificar essa relação: Arthur Omar (Artes visuais), Luiz Ferron (Dança), osváld de Andrade (Teatro e Literatura) e Chico Buarque (Música e Literatura, com a canção “Sonho de um carnaval”).

Após as pesquisas em grupo, organize o compartilhamento das informações. Nesse momento, é interessante analisar como as linguagens se integram no evento. Embora a pesquisa seja focada em uma linguagem específica para cada grupo, muitas vezes não é possível compartimentar as referências.

Sobre a atividade

4. Questione os estudantes que já vivenciaram um tipo de festa como o Carnaval: “Você consegue perceber a mesma sensação na postura corporal e no semblante das pessoas que estão na fotografia?”. Quem não vivenciou pode se pautar em fotografias e vídeos do Carnaval.

Usamos o Carnaval como referência porque é a manifestação que influenciou o trabalho de Oiticica, mas você pode partir de uma festa popular de sua região que tenha como preceito a celebração e a liberdade, a expressão corporal e a música, a coletividade e a fantasia, de modo a relacionar a prática artística às diferentes dimensões da vida cultural e a valorizar o patrimônio cultural brasileiro, contemplando as habilidades (ê éfe seis nove á érre três um) e (ê éfe seis nove á érre três quatro) da Bê êne cê cê.

O movimento, a cor, o ritmo e a liberdade, próprios da festa do Carnaval, estão presentes na obra, mas o Parangolé não é uma fantasia que o público usa para fingir ser outra pessoa; pelo contrário: para o artista, público e Parangolé, juntos, são a obra.

5. Observe as imagens desta página e da anterior. Em sua opinião, o que muda quando o público deixa de ser apenas espectador e passa a fazer parte integral da obra?

Fotografia. Imagem colorida, formato retrato. Um homem está usando um Parangolé amarelo e laranja preso ao corpo. Ele está com os braços abertos e com um sorriso largo no rosto. Ao fundo, uma parede na cor laranja desbotada.
PARANGOLÉ pê quatro capa 1. Concepção: Hélio Oiticica, 1964. Objeto performático de plástico e tecido, dimensões variadas. Intérprete: Nildo, da escola de samba Mangueira. Projeto Hélio Oiticica. Rio de Janeiro Rio de Janeiro.
Fotografia. Imagem colorida, formato paisagem. Cabideiro com Parangolés de diversas cores pendurados. Ao fundo, parede com fotografias de pessoas com Parangolés.
OITICICA, Hélio. Parangolés. [entre 1965-1979]. Museu de Arte Moderna, Frankfurt, Alemanha, 2013.

6. Agora observe a imagem da obra Parangolés exposta em um museu. Sem a presença do público, os trajes continuam sendo Parangolés?

Orientações e sugestões didáticas

Sobre as atividades

  1. Converse com os estudantes sobre as características que se evidenciam quando a peça está em uso. Chame a atenção deles para os detalhes da costura, para as diferentes camadas de tecido, para suas texturas e para a forma como as cores se modificam com a incidência da luz em função do movimento. Ao observar a expressão corporal da pessoa que veste o Parangolé, incentive-os a refletir sobre como o ato de vestir a peça permite que ela seja explorada e percebida em sua totalidade. Solicite a eles que imaginem os movimentos que o “corte” da peça estimula e que reparem como o ambiente também influencia nos movimentos e na forma como a obra se projeta no espaço quando está sendo utilizada.
  2. Retome com os estudantes o fato de que as peças foram produzidas para serem utilizadas e exploradas em movimento. Ao serem expostas em cabides, elas continuam sendo Parangolés, mas a potência da obra é diminuída, como pode ser observado ao comparar essa imagem com a primeira desta página ou a da página anterior, com a obra em uso. A “ação”, foco da pesquisa e do trabalho de Oiticica, é um elemento constituinte dos Parangolés. Aqui você também tem a oportunidade de conversar com os estudantes sobre a ideia de conservação das obras de arte e a valorização do patrimônio cultural, contemplando a habilidade (ê éfe seis nove á érre três quatro) da Bê êne cê cê. Em geral, as instituições têm a incumbência de preservar as peças, por isso proíbem que se toque nelas (até mesmo as equipes de montagem costumam usar luvas para manipular obras de arte). No caso de obras como os Parangolés, que preveem a interação em sua essência, outros cuidados devem ser tomados, incluindo a sua higienização. Essa conversa pode ajudar a preparar o estudante para visitar exposições de arte.

Em silêncio

Fotografia. Imagem colorida, formato retrato. Uma mulher está sentada na varanda de um imóvel no segundo andar. Ela usa roupa branca e está cortando uma folha branca de papel com uma tesoura. Abaixo dela, descem fios brancos, que caem até o chão.
CUT Papers. Concepção e execução: sátchico Abe. A Foundation Liverpool, Inglaterra, 2017.

7. Observe a fotografia. Olhan­do-a rapidamente, qual é a sua primeira impressão? Agora, reparando com atenção em todos os detalhes, o que parece estar acontecendo nessa cena?

A artista japonesa sátchico Abe (1975-) passa horas cortando tiras finas de papel durante as suas performances, e o que marca a passagem do tempo é o som amplificado das lâminas da tesoura em ação. Observe o cenário: tudo faz parte da obra, sobretudo o papel que vai se acumulando ao longo do desenvolvimento das performances.

8. Você já passou tempo em silêncio realizando uma atividade manual repetitiva? Como se sentiu? Existe algum tipo de atividade que você faz quando deseja se concentrar ou se acalmar?

Orientações e sugestões didáticas

Sobre a imagem

sátchico Abe descobriu os efeitos terapêuticos do ato de cortar papel quando esteve em um hospital psiquiátrico. A artista percebeu que a atividade a ajudava a organizar seus pensamentos. Nesta performance, ela cortou papel por cerca de sete horas por dia, seis dias por semana no período em que a Bienal de Liverpool esteve em cartaz.

Sobre a atividade

7. À primeira vista, a imagem pode remeter a uma noiva; ou pode parecer que a mulher está costurando um tecido, já que a malha que desce se assemelha a algodão. Conversem sobre a exigência de concentração e imersão (necessárias para o corte preciso), a repetição e o cansaço que isso gera, além da introspecção (da artista e do público) etcétera Proponha também interpretações metafóricas sobre a obra, de modo a cultivar a percepção, o imaginário, a capacidade de simbolizar e o repertório imagético dos estudantes, contemplando a habilidade (ê éfe seis nove á érre zero um) da Bê êne cê cê.

Atividade complementar

Você pode estabelecer uma conexão entre a obra de sátchico Abe e a da artista brasileira Lygia Clark (1920-1988) – que, juntamente com Oiticica, integrou o Neoconcretismo, movimento artístico do final da década de 1950. As criações de Lygia Clark estimulam experiências corporais e sensoriais no público. Em uma de suas obras, intitulada Caminhando, de 1964, ela convida o público a criar uma fita de Moebius, utilizando uma fita de papel, torcendo uma das pontas e colando na outra. Depois, o participante vai recortando essa fita ao meio, de modo que a atividade parece não ter fim, assim como a fita, que parece não ter um lado certo e outro avesso.

Sugerimos que você pesquise mais sobre essa obra e, se possível, faça uma vivência em sala de aula, recriando-a, de modo a contemplar a habilidade (ê éfe seis nove á érre zero cinco) da Bê êne cê cê.

A partir dessa experiência, os estudantes poderão compreender, na prática, um dos aspectos na obra de sátchico Abe, relativo à concentração em uma atividade manual.

Sugestão para o estudante

Vídeo que apresenta a obra Caminhando sendo vivenciada por um participante. Disponível em: https://oeds.link/gcbpHG. Acesso em: 11 abril2022.

Conversa nas ruas

Fotografia. Imagem colorida, formato paisagem. Uma mulher com cabelos curtos está usando camiseta laranja de manga curta sobreposta à uma camiseta branca de manga longa e calça jeans. Ela está ao ar livre, sentada em uma cadeira e segurando um cartaz branco com o texto: CONVERSO SOBRE QUALQUER ASSUNTO. À sua frente, uma cadeira vazia, voltada para a ela. Ao redor, pessoas andando. Ao fundo, um prédio e árvores.
CONVERSO sobre qualquer assunto. Série “Ações cariocas”. Concepção e execução: Eleonora Fabião, Rio de Janeiro Rio de Janeiro, 2008.

9. De onde pode nascer uma performance? Observe a fotografia. Você já assistiu a uma cena semelhante nas ruas de sua cidade?

A atriz e performer Eleonora Fabião (1968-) responderia que uma performance nasce do nosso incômodo em relação a algo. Em 2008, ela estava tão incomodada por ver as pessoas de sua cidade fechadas em suas casas e espaços de trabalho, sem se comunicar entre si e sentindo-se inseguras, que resolveu criar uma maneira de se colocar à disposição para todos aqueles que quisessem conversar com ela.

Imagine a situação: nas ruas do centro da cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, Eleonora colocava duas cadeiras de sua casa uma de frente para a outra, descalçava os sapatos, sentava-se e escrevia em um cartaz a frase: “Converso sobre qualquer assunto”. E, então, pessoas que passavam na rua aproximavam-se e conversavam com ela.

Orientações e sugestões didáticas

Sobre Eleonora Fabião

Algumas das perguntas que norteiam o trabalho dessa artista são: “Em qual cidade queremos viver?”; “O que queremos que a arte seja?”; “O que queremos que a arte mova hoje?”. Como tentativa de responder a essas perguntas, Eleonora realiza ações performáticas, pesquisas, publicação de escritos e coordenação de aulas em instituições de ensino.

Atividade complementar

O tema da arte como elemento de transformação social será abordado no livro do 9º ano desta coleção. Entretanto, a partir do exemplo da performance de Eleonora Fabião, você pode perguntar aos estudantes quais são seus incômodos em relação ao mundo em que vivem. Após listar alguns desses incômodos, pode-se desafiá-los a pensar o que eles fariam para alterar essas situações. Nesse caso, o exemplo concreto da ação de Eleonora pode servir de inspiração.

Sugestões para o professor

Eleonora publicou, em 2015, um livro sobre as ações e poéticas urbanas que ela vem desenvolvendo nas ruas desde 2008. O livro se chama Ações. Os exemplares foram distribuídos gratuitamente e podem ser encontrados em bibliotecas de 22 estados brasileiros e no Distrito Federal.

Assista ao vídeo “Eleonora Fabião e a dramaturgia experimental”, com a entrevista da artista realizada pelo diretor teatral Aderbal Freire-Filho para a tê vê Brasil. Disponível em: https://oeds.link/BO6AG5. Acesso em: 11 abril2022.

10. Você se sentiria convidado a conversar com a artista? Qual seria a sua reação diante de um convite semelhante?

Essa foi uma das primeiras performances que Eleonora realizou na cidade onde vive. A artista diz que pessoas de todo tipo começaram a sentar-se nas cadeiras, e algumas delas permaneciam lá, conversando com ela por mais de uma hora. Segundo a artista, dialogar sobre assuntos diferentes com pessoas desconhecidas possibilitava que ela refletisse sobre as próprias ideias.

Para experimentar

Recriando o convite para conversar

  1. Faça uma lista de assuntos sobre os quais você tem vontade de conversar hoje.
  2. Escreva em uma cartolina ou folha grande de papel: Converso sobre (coloque o assunto).
  3. Com o auxílio do professor, leve cadeiras para o pátio e experimente conversar com colegas, professores ou funcionários da escola.
  4. De volta à sala de aula, compartilhe com os colegas e com o professor as experiências vivenciadas nessa ação.
Ilustração. Quatro cadeiras verdes em meio círculo. Sobre elas, diversos balões de diálogos coloridos.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Como cada um dos artistas apresentados neste capítulo questionou a rotina dos espaços e da sociedade?
  2. Qual dos trabalhos mais lhe interessou e por quê?
Orientações e sugestões didáticas

Orientações: Para experimentar

Combine com a direção da escola e prepare previamente essa ação para que não atrapalhe outras atividades escolares. Você pode sugerir à turma que registre a ação em vídeos, relatos escritos ou desenhos.

Retome a ideia da visão de si mesmo e incentive a turma a refletir sobre como a relação com os outros pode trazer mudanças para nossas vidas e também contribuir para modificar a visão que temos de nós mesmos.

Por ser uma proposta aberta, em que os participantes podem escolher sobre o que conversar, há a possibilidade de que surjam diálogos de teor pessoal. Nesses casos convém orientar os estudantes a ter uma postura ética, a fim de que não haja exposição indevida do participante.

Instigue a turma a também explorar os diferentes elementos materiais que serão mobilizados na ação, dialogando com a habilidade (ê éfe seis nove á érre dois seis) da Bê êne cê cê: “Como pode ser esse cartaz?; “Como são as cadeiras?”; “Como os proponentes da ação estão vestidos?”.

Sobre as atividades: Para refletir

Retome, com os estudantes, os exemplos abordados ao longo deste Sobrevoo. Incentive-os a refletir sobre os questionamentos levantados na obra de cada um dos artistas e sobre as distintas formas com que cada artista abordou esses questionamentos, contemplando a habilidade (ê éfe seis nove á érre zero um) da Bê êne cê cê. O exemplo de Eleonora Fabião, convidando o público para dialogar, pode servir como chave para que os estudantes compreendam as maneiras pelas quais esses artistas convocaram seu público para uma espécie de conversa/debate mediado por suas proposições artísticas.

Foco em...

Hélio Oiticica

Fotografia. Imagem colorida, formato paisagem. Placas de madeira, em formatos retangulares e quadrados, pintadas em tons de laranja, amarelo e marrom, suspensas por fios de náilon, em diversas disposições. Do lado esquerdo da imagem, entre algumas placas, um homem usando blusa azul e calça escura. Ele está  com o rosto parcialmente coberto e com as mãos nos bolsos.
OITICICA, Hélio. Grande núcleo. 1960. Placas de madeira penduradas no teto por fios de náilon. Em exposição em “Brazil Projects, PS1”, no The Institute For Art and Urban Resources, Nova York, Estados Unidos, 1998.

Faça no caderno.

1. Observe a imagem. Quais são os elementos que compõem essa obra? Quantas cores podem ser vistas nela?

Hélio Oiticica foi transformando seu percurso criativo ao longo dos anos. No início de sua carreira, ele fazia pinturas nas quais explorava intensamente as fórmas geométricas e as cores, assim como outros artistas que, como ele, integravam um grupo chamado Frente. Posteriormente, ele sentiu a necessidade de deixar que sua arte saltasse da parede para estar mais próxima do público. Nessa época, ele fazia parte de um importante movimento artístico brasileiro, o Neoconcretismoglossário . Na imagem, pode-se ver um exemplo de um trabalho de Oiticica em que as fórmas geométricas aparecem fóra do quadro, como se estivessem saindo dele e se integrando ao espaço.

Oiticica continuou a explorar diferentes maneiras de provocar sensações corporais para deixar mais viva a experiência do público com suas criações. Lembre-se dos Parangolés. Quando o público veste essa obra e movimenta os tecidos, é como se as cores ganhassem vida.

Faça no caderno.

Orientações e sugestões didáticas

O conteúdo apresentado nesta seção aprofunda a reflexão sobre alguns elementos da linguagem de Artes visuais, por meio da apresentação da obra de Hélio Oiticica.

Unidades temáticas da Bê êne cê cê

Artes visuais; Artes integradas.

Objetos de conhecimento

Contextos e práticas; Elementos da linguagem.

Habilidades em foco nesta seção

(ê éfe seis nove á érre zero um) Pesquisar, apreciar e analisar formas distintas das artes visuais, tradicionais e contemporâneas, em obras de artistas brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas e em diferentes matrizes estéticas e culturais, de modo a ampliar a experiência com diferentes contextos e práticas artístico-visuais e cultivar a percepção, o imaginário, a capacidade de simbolizar e o repertório imagético.

(ê éfe seis nove á érre zero quatro) Analisar os elementos constitutivos das artes visuais (ponto, linha, forma, direção, cor, tom, escala, dimensão, espaço, movimento etcétera) na apreciação de diferentes produções artísticas.

(ê éfe seis nove á érre três um) Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política, histórica, econômica, estética e ética.

Sobre a atividade

1. A obra é composta de uma estrutura de madeira, no alto, que suspende, com linhas de nylon, as placas de madeira pintadas. Há também outra estrutura de madeira, no chão, que contém areia. Avalie com os estudantes quanto o espaço, o ambiente e as pessoas que o adentram também podem ser considerados elementos que compõem a obra. Aponte para a criação, por meio das placas pintadas, de vários planos espaciais, que ativam elementos constitutivos da linguagem visual (forma, cor, tom, escala, dimensão, espaço, movimento) – contemplando a habilidade (ê éfe seis nove á érre zero quatro) da Bê êne cê cê. Como as placas pintadas estão suspensas em diferentes alturas e ângulos, cada uma delas tem uma incidência de luz diferente, que provoca alterações nos tons percebidos pelo público.

Fotografia. Imagem colorida, formato paisagem. Sobre um círculo bege, no centro, uma instalação retangular colorida, com uma porta aberta. Entrando na instalação, uma mulher com cabelos longos e lisos, usando blusa rosa e calça preta. Do lado direito da imagem, outra  instalação retangular, com paredes de tecidos coloridos. Ao fundo, duas mulheres observam um viveiro com galhos e aves. Elas estão de costas. Ao redor do círculo, no chão, alguns vasos de folhagens. Um caminho sinuoso, composto de areia e pedras, passa pelo meio do círculo.
OITICICA, Hélio. Tropicália. 1966-1967. Instalação composta de dois Penetráveis PN2 A pureza é mito e PN3 Imagético. Plantas, areia, araras, poemas-objetos, capas de Parangolé e um aparelho de televisão. Em exposição no Carnegie Museum of Art, Pittsburgh, Estados Unidos, 2016.

2. Observe a imagem. Você reconhece elementos característicos do Brasil nessa obra? O que há de tropical nela? Observe como o ambiente é construído. Você já viu ambientes que se assemelham a essa obra?

Imagine um ambiente inteiramente colorido, onde você só consegue ver as cores, ou um corredor por onde você possa caminhar descalço, sentindo texturas diferentes no chão onde pisa: areia, terra, pedras etcétera Ou, ainda, uma obra de arte em que qualquer um pode mergulhar em uma piscina. Esses são exemplos dos ambientes sensoriais que Oiticica explorou. Ou seja, o público que entra nesses ambientes pode experimentar, sentir a obra e interagir com ela.

Em um de seus trabalhos mais emblemáticos, chamado Tropicália, o artista procurou integrar os sentidos: o público adentra espaços com chão de areia, água e pedras e, ao final, depara-se com um aparelho de TV ligado. Plantas e Penetráveis também compõem o projeto.

Orientações e sugestões didáticas

Sobre Hélio Oiticica

Para entender a importância de Oiticica para a arte brasileira, é também preciso entender o contexto em que ele estava inserido.

No início da década de 1950, artistas paulistas buscavam um novo modo de representação que rompesse com os padrões figurativos e nacionalistas praticados pelos modernistas. Surge o Movimento Concreto, com uma produção artística racionalista, que fazia uso de formas geométricas e cores puras, almejando livrar a obra de arte de qualquer simbolismo.

No Rio de Janeiro, artistas do Grupo Frente seguiam a mesma tendência geométrica, porém buscavam maior liberdade de criação.

Em 1959, alguns integrantes do Grupo Frente – entre eles Oiticica e Lygia Clark – lançaram o Manifesto Neoconcreto, que rompia tanto com o figurativismo do Modernismo quanto com o racionalismo do Concretismo.

Hélio Oiticica foi um artista livre de convenções, que ousou, experimentou e inovou em suas criações. No decorrer de sua trajetória, seu processo criativo incorporou cada vez mais a participação do público, que deixou de ser apenas “espectador”.

Ele também costumava escrever sobre seu próprio trabalho, relacionando-o com obras de outros artistas. Oiticica viveu muitos anos nos Estados Unidos, mas o Brasil sempre esteve presente em sua produção, especialmente após o período em que ele conviveu com amigos sambistas nas comunidades cariocas.

Sobre a imagem

A obra Tropicália integra, em um mesmo ambiente, vários Penetráveis produzidos pelo artista. Ela inspirou um movimento artístico brasileiro que extrapolou as Artes visuais: o Tropicalismo. No livro do 9º ano desta coleção, você pode acessar mais informações sobre esse movimento, pelo viés da linguagem musical.

Sobre a atividade

2. Chame a atenção para as plantas que o artista utiliza para compor o ambiente e também para os materiais dispostos no chão. É possível conectar a obra de Oiticica com construções populares que usam cores e estruturas semelhantes. A discussão proposta contempla a habilidade (EF39AR31) da Bê êne cê cê.

Hélio Oiticica foi um artista fundamental para a arte brasileira. Além do que vimos neste capítulo, ele desenvolveu muitas outras ações e obras que se tornaram referências para artistas do mundo todo. Além de escultor, pintor e artista performático, era escritor e um pensador das artes. Oiticica não tinha medo de experimentar e inovar e não se contentava com uma fórma de arte em que o público fosse apenas um observador passivo.

Para pesquisar

Elementos do meu entorno

Se você fosse construir uma obra como a Tropicália, quais elementos usaria? Faça uma pesquisa atentando-se para o que está presente em sua vida. O roteiro de perguntas a seguir pode auxiliar na sua pesquisa.

Por dois dias, anote em seu diário de bordo as respostas a estas questões.

  1. Há elementos que você encontra em sua casa, na casa de amigos, na escola e nas ruas que você considera símbolos da região onde vive?
  2. Como é a construção das casas em seu bairro?
  3. Em que tipo de piso você caminha diariamente?
  4. Em uma aula posterior, com as anotações em mãos, converse com os colegas e com o professor sobre as seguintes questões.
    1. Há elementos comuns entre as suas anotações e as dos seus colegas?
    2. As informações obtidas pela turma assemelham-se ao que pode ser visto na obra Tropicália? Se sim, quais delas?

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. O que mais chamou a sua atenção nas obras de Hélio Oiticica?
  2. Você se sentiria convidado a vestir os Parangolés e caminhar pelos ambientes propostos pelo artista? Por quê?
Orientações e sugestões didáticas

Orientações: Para pesquisar

A intenção desta pesquisa é que o estudante perceba que Oiticica criou uma obra dentro de um contexto específico. A atividade propõe levar em conta o contexto de cada leitor, considerando nosso tempo e o local onde cada um está inserido. Assim, o contexto do estudante também tem suas particularidades e especificidades, que podem ser desenvolvidas dentro de um trabalho criativo.

Para ampliar a atividade e também integrar estudantes com deficiência, você pode incorporar mais algumas questões à proposta de pesquisa, estimulando a percepção sensorial:

  • Quais sentidos estão mais ou menos despertos em seu cotidiano?
  • De que modo eles são aguçados?
  • Quais sons você costuma ouvir?
  • Quais cheiros costuma sentir?
  • Eles são característicos de sua região?

Observação

Além das obras de Oiticica que já estão no capítulo, destacamos outras igualmente importantes:

  • Relevos espaciais: A pintura ganha o espaço e torna-se tridimensional. São placas de madeira, penduradas por fios, com formatos geométricos que se sobrepõem, ganhando volume.
  • Bólides: as cores apresentam-se em forma de pigmentos (areia, terra ou outros materiais), contidos em recipientes variados, como caixas, bacias, potes etcétera A cor-matéria é manipulada pelo público.
  • Penetráveis: as cores apresentam-se em ambientes, ganhando dimensão arquitetônica. São instalações onde as pessoas entram e imergem em cores e texturas que aguçam os sentidos.

Foco em...

Flávio de Carvalho

Fotografia em preto e branco. No centro, um homem usando uma máscara de alumínio. Ele está com as mãos e a cabeça voltados para cima. Ao redor dele, cinco pessoas, também usando máscaras de alumínio, andam em círculo. Atrás, uma pessoa segura um instrumento na mão direita. Correntes e estruturas metálicas compõem o cenário.
O BAILADO do deus morto. Direção: Flávio de Carvalho. Clube dos Artistas Modernos (CAM), São Paulo São Paulo, 1933.

Como você já viu no Sobrevoo, o artista Flávio de Carvalho causou indignação com sua Experiência nº 3 em 1956, mas, bem antes dela, em 1933, ele havia criado uma nova maneira de pensar e fazer teatro, que ficou conhecida como Teatro da Experiência.

Ele propunha que a plateia participasse da cena durante a peça. Naquela época, essa participação do público não era algo comum.

Faça no caderno.

1. Como você se sentiria nessa situação? Você já assistiu a uma peça de teatro em que o público foi convidado a participar?

Orientações e sugestões didáticas

O conteúdo apresentado nesta seção aprofunda reflexões e questionamentos acerca da obra de Flávio de Carvalho e da integração, na modalidade artística da performance, de várias linguagens artísticas.

Unidade temática da Bê êne cê cê

Teatro.

Objeto de conhecimento

Contextos e práticas.

Habilidade em foco nesta seção

(ê éfe seis nove á érre dois quatro) Reconhecer e apreciar artistas e grupos de teatro brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas, investigando os modos de criação, produção, divulgação, circulação e organização da atuação profissional em teatro.

Sobre Flávio de Carvalho

Formado em Engenharia Civil, é considerado um dos precursores da performance no Brasil. Envolvido em experimentos que aproximavam linguagens artísticas como o Teatro, as Artes visuais, a Arquitetura e a Dança, Flávio de Carvalho abriu espaço para um novo tipo de pensamento que, posteriormente, nas décadas de 1960 e 1970, geraria debates importantes. Desde o começo de sua carreira, na década de 1920, com projetos de arquitetura, investigou possibilidades para um ser humano despido de preconceitos, aproximando-se do movimento antropofágico. Algumas de suas ações enfrentaram forte reação, como foi o caso da Experiência nº 2, na qual quase foi linchado pela multidão, ou as apresentações do Teatro da Experiência em 1933, fechado pela polícia. No campo da pintura, seu trabalho traz elementos vinculados ao Expressionismo e ao Surrealismo. Interessado em retratos, uma de suas séries mais importantes é a Série Trágica, de 1947, na qual retrata o processo de morte de sua mãe.

Orientações

Instigue o estudante a observar a imagem da peça O bailado do deus morto, identificar os elementos presentes na cena e investigar os modos de criação, produção e organização da atuação teatral – contemplando a habilidade (ê éfe seis nove á érre dois quatro) da Bê êne cê cê. Podem ser vistos elementos cênicos, tais como máscaras de alumínio, corrente e estruturas que reluzem, iluminação e um jogo com as sombras dos atores. Pode-se chamar a atenção para o fato de que os elementos utilizados em cena são bastante simples e rústicos. Essa foi uma das formas de o Teatro da Experiência superar a precariedade econômica na qual os artistas se encontravam e criar uma estrutura cênica a partir de elementos de baixo custo.

O Teatro da Experiência era um espaço de experimentação em que os artistas podiam testar livremente suas criações. Flávio de Carvalho desenvolveu uma proposta que dava mais importância ao processo artístico do que ao resultado da obra em si.

Qual seria a diferença entre processo e resultado? Geralmente, espera-se que o resultado seja a apresentação de um produto final acabado e que possa agradar o público a que se destina. O processo de criação, por sua vez, admite erros, falhas, experimentações, tentativas, brincadeiras e uma leveza maior do que a que se espera do resultado.

A peça escrita por Flávio de Carvalho para o Teatro da Experiência foi chamada de O bailado do deus morto. Observe uma cena desse espetáculo na página anterior.

A montagem era cantada, falada, dançada, tinha muitas músicas e todos os ins­trumentos tocados eram da cultura afro-brasileira. Além disso, todos os atores convidados por Flávio eram negros e usavam máscaras de alumínio e camisolas brancas, também criadas pelo autor, em um período em que raras vezes se viam artistas negros no teatro.

Após a terceira apresentação, a peça foi proibida pela polícia por tratar de questões polêmicas para os padrões morais da época. Impedido de fazer teatro, Flávio seguiu criando em outras áreas artísticas. Até hoje seus ideais sobre o teatro continuam inspirando muitos artistas.

Pintura. Retrato de um homem segurando um pincel na mão esquerda. O quadro explora a utilização de muitas cores, sem grande preocupação com as linhas e as formas para a representação da figura. As cores usadas no homem e no fundo da tela se mesclam.
CARVALHO, Flávio de. Autorretrato. 1965. Óleo sobre tela, 90 centímetros por 67 centímetros. Museu de Arte Moderna, São Paulo São Paulo.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Em suas aulas de Arte, o que você considera mais valorizado: o seu processo criativo ou o produto de sua criação? O que você pensa sobre isso?
  2. Lembre-se de algo que você já criou (um desenho, uma roupa, um poema, uma história, uma música etcétera). Como foi o processo de criação? De que modo ele se relacionou com o resultado final?
Orientações e sugestões didáticas

Orientações

Pode-se conectar o trabalho com diferentes linguagens artísticas de Flávio de Carvalho com o tema deste livro: a relação entre arte e vida. O caráter processual demandado pelo artista em sua produção teatral reitera uma posição artística que visa aproximar a arte da vida, de modo a elaborá-la menos como resultado e mais como investigação aberta a movimentos inesperados. Nesse sentido, até hoje essa premissa do artista é capaz de nos provocar, uma vez que vivemos em uma sociedade pautada por um modo de organização e produção cultural fundado na qualidade dos resultados.

Sugestões para o professor

Para saber mais sobre Flávio de Carvalho, você pode acessar um dossiê sobre sua obra. Disponível em: https://oeds.link/1qxfd3. Acesso em: 11 abril2022.

Para saber mais a respeito de sua teoria sobre moda, leia:

CARVALHO, Flávio. A moda e o novo homem: dialética da moda. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2010.

O livro reúne os artigos sobre moda que Flávio de Carvalho escreveu para o Diário de São Paulo em 1956, além de uma palestra realizada por ele no Seminário de Tropicologia de Gilberto Freyre, em 1967, sobre “trópico e vestuário”.

Sobre as atividades: Para refletir

  1. Retome o que já foi visto sobre performance ao longo deste capítulo e converse com os estudantes sobre essa modalidade artística. Destaque que ela não lida com ensaios prévios, que dariam acabamento ao resultado final, sendo a cada vez uma experiência nova e diferente. Assim, a performance apresenta seu próprio processo criativo para o público.
  2. Incentive os estudantes a narrar o passo a passo de seus processos criativos e leve-os a pensar como os processos podem ter conexão direta com os resultados de tudo o que criamos.

Foco no conhecimento

Performance e programa

Como você viu ao longo deste capítulo, as performances podem ser realizadas para manifestar um ponto de vista, para abordar algum incômodo pessoal ou social ou pela possibilidade de transformar o cotidiano e sair da rotina do dia a dia.

Veja a seguir alguns pontos que podem transformar uma ação sobre o mundo em uma performance.

  1. Antes de tudo, é preciso ter uma inquietação e uma vontade de modificar a fórma de ver e de fazer algo.
  2. A performance propõe uma transformação enquanto acontece, seja na atmosfera da cidade, em relação a uma situação, nos espectadores, seja no próprio corpo que performa.
  3. Muitas performances têm o corpo como foco e instigam a pensar na maneira como lidamos com nosso corpo e com o dos outros.
  4. A performance integra arte e vida. Diferentemente do ator, o performer não brinca de ser outra pessoa nem constrói um personagem. Ele cria um campo de jogo para experimentar a partir do próprio corpo e da própria experiência.
  5. Performances podem ser organizadas segundo um programa performativo, que é uma descrição breve de todos os passos que compõem a ação.
  6. Uma performance pode ser realizada pelo próprio performer que a criou ou por outras pessoas, baseada nas instruções do programa performativo.
  7. O público pode ser apenas espectador ou participar ativamente da ação.
  8. Muitos artistas transformam os seus programas performativos de acordo com as experiências que têm com o público. Uma performance pode estar sempre em movimento e em constante recriação.

Observe a imagem do desenho feito por Flávio de Carvalho no planejamento para a Experiência nº 3. Repare em todas as indicações e justificativas para a confecção da roupa. Com esse registro, ainda que a roupa deixasse de existir por algum motivo, a performance poderia ser realizada no futuro. Além do desenho da roupa, Flávio de Carvalho planejou sua performance com antecedência: ele convidou pessoas para o evento e pensou até no efeito que queria causar na mídia, divulgando a ação para jornalistas.

Orientações e sugestões didáticas

Esta seção aprofunda a apresentação dos elementos constituintes da performance.

Unidades temáticas da Bê êne cê cê

Artes visuais; Teatro.

Objetos de conhecimento

Materialidades; Elementos da linguagem.

Habilidades em foco nesta seção

(ê éfe seis nove á érre zero cinco) Experimentar e analisar diferentes formas de expressão artística (desenho, pintura, colagem, quadrinhos, dobradura, escultura, modelagem, instalação, vídeo, fotografia, performance etcétera).

(ê éfe seis nove á érre dois seis) Explorar diferentes elementos envolvidos na composição dos acontecimentos cênicos (figurinos, adereços, cenário, iluminação e sonoplastia) e reconhecer seus vocabulários.

Orientações

Na página 130, como preparativo para a criação de uma performance, será proposto ao estudante que liste as regras de algum jogo conhecido. Lembre o que foi observado no estudo dos jogos teatrais, nos quais a improvisação inclui obrigatoriamente regras e acordos prévios.

Sugestões para o professor

FABIÃO, Eleonora. Performance e teatro: poéticas e políticas da cena contemporânea. Sala preta, volume 8, página 235-246, 2008. Disponível em: https://oeds.link/O6ILvn. Acesso em: 11 abril 2022.

COHEN, Renato. Performance como linguagem. São Paulo: Perspectiva, 2004. O autor, pesquisador e performer investiga a linguagem da perfórmance com base na encenação teatral.

pêivis, Patrice. Dicionário da performance e do teatro contemporâneo. São Paulo: Perspectiva, 2017. Esse dicionário se destina a críticos, diretores, atores, dramaturgos, iluminadores, cenógrafos e outros profissionais de teatro, incluindo estudantes e professores. Os verbetes contêm vasta seleção de informações, com novas linguagens, como a performance.

Sobre o conceito de performance

A arte performática surge nos Estados Unidos na década de 1960 como reação a determinados paradigmas culturais, especialmente os oriundos de um teatro pautado pela imitação e pela representação de ações humanas. No campo das Artes visuais, o movimento da performanceárti passa a romper com uma leitura essencialista da arte e a conferir mais valor ao processo de criação (aos seus movimentos, fisicalidade e ações) do que aos resultados expostos em galerias. A performance privilegia a ação e sua conexão direta com a vida/corpo do performer.

Fotografia. Cartão postal com desenho de um homem usando blusa feminina, saia e meia-calça do tipo arrastão. Ao redor, textos e marcações sobre a roupa: Na parte superior, o texto: NEW LOOK | VERÃO - 2 PEÇAS, DE FLÁVIO DE CARVALHO. Na sequência: Tecido malha aberta, lavagem própria, todas as noites em 3m. Seca em 3h. Há setas nas mangas, na gola da blusa, na parte inferior da blusa e da saia, com a palavra: ar. Na parte da frente da blusa, sobre um risco, o texto: Pregas, conservar formas. Na saia, há uma seta na parte da frente, sobre uma linha, com o texto: Pregas soltas, facilitar movimentos. O que incomoda no calor é a transpiração que não se evapora por falta de velocidade no ar e que se empasta no tecido. Só a necessidade defensiva e a perspicácia podem descongelar a rotina e introduzir um novo modelo-prestígio. Há uma seta sobre a meia-calça, com o texto: Meias de malha, esconder varizes. Abaixo, o texto: Sensação de calor varia com a velocidade do ar. Funciona como uma bomba e válvulas para bombear ar. 3 movimentos... braços... renova ar. Estilo adequado a gordos e magros. Cores vivas substituem desejos, agressão, tendem a evitar guerras. Endereço: FAZ. CAPUAVA VALINHOS E DE SÃO PAULO.
CARVALHO, Flávio de. Cartão-postal de divulgação do New look. 1956. Desenho. Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulalio – Cedae/Unicamp, Campinas São Paulo.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Como a performance poderia estar presente em sua vida?
  2. Você considera que quando entramos em um jogo ou em uma brincadeira corporal também estamos performando? Por quê?
  3. Que semelhanças poderia haver entre performances, brincadeiras e jogos corporais?
Orientações e sugestões didáticas

Orientações

Um bom assunto a ser discutido a partir da performance é como se dá seu registro e arquivamento. Há performances que possuem uma espécie de “partitura” ou programa, ou seja, o artista deixa registrado por escrito como a ação deve acontecer, o que permite que ela seja realizada mais de uma vez.

Por ocorrer em um momento específico, geralmente a performance é registrada para que mais pessoas possam vê-la no futuro. Os registros podem ser fotográficos, escritos ou em vídeo. Muitas vezes, o vídeo é mais que um documento, é também um trabalho artístico.

Sugestões para o professor

Considere assistir a alguns dos vídeos sugeridos a seguir com a turma. Incentive-os a refletir se esses vídeos são documentários ou se podem ser considerados ações artísticas.

METADE da fala no chão – Piano surdo. Concepção e execução: Tatiana blas, São Paulo (São Paulo), 2010. Disponível em: https://oeds.link/5URZ5b. Acesso em: 11 abril 2022.

PALOMO. Concepção e execução: Berna Reale, Belém (Pará), 2012. Disponível em: https://oeds.link/1JqezH. Acesso em: 11 abril 2022.

BOMBRIL. Concepção e execução: Priscila Rezende, São Paulo (São Paulo), 2016. Disponível em: https://oeds.link/3nyxbx. Acesso em: 11 abril2022.

CEGOS. Realização: Desvio coletivo – Laboratório de Práticas performativas da USP, São Paulo (São Paulo), 2015. Disponível em: https://oeds.link/wuUnUV. Acesso em: 30janeiro 2022.

Sobre as atividades: Para refletir

1. Você pode instigar os estudantes a refletir sobre os momentos do cotidiano nos quais eles agem conscientemente no sentido de buscar modificações e transformações em sua própria rotina, como nos exemplos dos artistas e obras apresentados ao longo deste capítulo.

3. Você pode chamar a atenção para a quebra de rotina que um conjunto de regras cria no cotidiano. No futebol, por exemplo, a meta de fazer gols obriga os corpos dos jogadores a correr durante 90 minutos, o que não é comum no dia a dia das pessoas.

Processos de criação

Vamos criar uma performance a partir das regras de um jogo ou brincadeira?

1. Reúna-se com os colegas em um grupo de oito integrantes.

Faça no caderno.

  1. Façam uma lista detalhada das regras de um jogo ou brincadeira corporal que todos conheçam e apresentem aos colegas e ao professor.
  2. Após a apresentação, elaborem as regras de um novo jogo ou brincadeira, que será a performance do grupo.
  3. Reflitam sobre as motivações e inquietações do grupo para a criação dessa performance.
  4. Organizem as etapas: como a performance começa? Como se desenvolve? Qual é o papel de cada membro do grupo? Como a performance termina?
  5. Quando todos tiverem um conjunto de regras, ou seja, um programa performativo, será o momento de performar.
  6. Organizem as experimentações no espaço da escola com o professor.
  7. Descrevam o programa da performance em uma cartolina para fixar no espaço onde a ação será realizada.
  8. Estejam atentos às reações do público.
  9. Registrem as performances dos colegas e compartilhem com a turma posteriormente.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Como foi para você e para o seu grupo experimentar as regras propostas? Algo se transformou na maneira como vocês lidam com as atividades cotidianas?
  2. Como o público reagiu à sua performance?
  3. Passada a primeira experiência, vocês alterariam algo do programa da performance, caso fossem realizá-la novamente?
Orientações e sugestões didáticas

Unidades temáticas da Bê êne cê cê

Artes visuais; Artes integradas.

Objetos de conhecimento

Materialidades; Processos de criação.

Habilidades em foco nesta seção

(ê éfe seis nove á érre zero cinco) Experimentar e analisar diferentes formas de expressão artística (desenho, pintura, colagem, quadrinhos, dobradura, escultura, modelagem, instalação, vídeo, fotografia, performanceetcétera).

(ê éfe seis nove á érre três dois) Analisar e explorar, em projetos temáticos, as relações processuais entre diversas linguagens artísticas.

Orientações

É importante deixar claro que uma ação performática é diferente de uma encenação, contemplando a habilidade (ê éfe seis nove á érre três dois) da Bê êne cê cê. Estimular que a performance seja realizada para um público maior do que a própria sala pode ser muito desafiador, por isso esteja atento para perceber se os estudantes estão se sentindo confortáveis com a proposta. Nunca os force a se expor contra a própria vontade. Embora não haja a necessidade de realizar um ensaio prévio, você pode ajudá-los analisando e pensando com eles o programa da performance. É importante também que você faça a mediação entre as performances dos estudantes e a instituição escolar. Cuide para que eles pensem na relação com o público e tenham responsabilidade com os corpos dos outros, especialmente nos casos em que alguma regra física estiver planejada (exemplos: andar muito rápido, mexer-se muito, andar de braços dados, pular, andar de olhos vendados etcétera).

Sobre as atividades: Para refletir

  1. Aproveite para propor uma reflexão sobre a importância das regras e dos acordos prévios para a realização da ação performativa. Um jogo sem regras claras pode se tornar bastante frouxo e não permitir que as ações previstas aconteçam entre seus participantes. Este é um bom momento para propor a seguinte questão: “Algo da realidade se transformou?”.
  2. Por se tratar de um modo mais processual de ação, a performance pode gerar respostas inusitadas do público. Peça aos estudantes que narrem episódios em que se deram conta dessas reações, assim como comentários do público sobre o trabalho realizado após o seu final.

Organizando as ideias

Quadro com recortes de quatro fotografias. À esquerda, fotografia de uma mulher vestida de  vermelho da cabeça aos pés: gorro, vestido de manga longa, meia-calça, sandálias, brincos e batom. Ao lado, fotografia em preto e branco de um homem usando blusa feminina, saia e sandálias. Na sequência, fotografia de uma mulher usando um Parangolé na cor vermelha ao redor do corpo. À direita, fotografia de uma mulher sentada na varanda de um imóvel no segundo andar. Ela usa roupa branca e está cortando uma folha branca de papel com uma tesoura. Abaixo dela, descem fios brancos, que caem até o chão.

Neste capítulo, você conheceu diversos artistas e obras que dialogam com a modalidade artística da performance. Além disso, experimentou criar e refletiu a respeito das diversas possibilidades de o nosso “eu” ver o mundo ao redor e interagir com ele.

Para concluir, reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

Faça no caderno.

  1. Observando as imagens das performances apresentadas ao longo deste capítulo, que relações você faz entre elas? O que essas performances têm em comum? O que cada uma delas tem de específico? Como você percebe a presença do público?
  2. Que relações você estabelece entre as linguagens das artes visuais, da dança, da música e do teatro e a performance?
  3. Quais descobertas você fez ao longo deste capítulo? O que você gostaria de continuar aprofundando?
Orientações e sugestões didáticas

Unidades temáticas da Bê êne cê cê

Artes visuais; Artes integradas.

Objetos de conhecimento

Contextos e práticas; Processos de criação.

Habilidades em foco nesta seção

(ê éfe seis nove á érre zero um) Pesquisar, apreciar e analisar formas distintas das artes visuais tradicionais e contemporâneas, em obras de artistas brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas e em diferentes matrizes estéticas e culturais, de modo a ampliar a experiência com diferentes contextos e práticas artístico-visuais e cultivar a percepção, o imaginário, a capacidade de simbolizar e o repertório imagético.

(ê éfe seis nove á érre três dois) Analisar e explorar, em projetos temáticos, as relações processuais entre diversas linguagens artísticas.

Sobre as atividades

  1. Este é o momento de realizar com a turma um balanço do que foi estudado. Retome o que foi apresentado no capítulo, as imagens e os vídeos que foram trabalhados, incluindo os exemplos que eles próprios tenham trazido de suas pesquisas, para então fazer essa leitura comparada das referências.
  2. Peça aos estudantes que revisem as principais performances estudadas ao longo deste capítulo, de modo que sejam examinadas nos detalhes e na mistura específica de linguagens que cada performance propõe, conforme a habilidade (ê éfe seis nove á érre três dois) da Bê êne cê cê.

Glossário

Vanguardas históricas europeias
Propostas e/ou tendências artísticas que surgiram em diferentes países europeus com o objetivo principal de pensar a arte segundo a liberdade de expressão e de criação. Os principais movimentos das vanguardas foram: Cubismo, Futurismo, Dadaísmo, Expressionismo, Construtivismo e Surrealismo. Eles apareceram nas três primeiras décadas do século vinte e buscavam romper com as convenções artísticas dominantes.
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Neoconcretismo
Movimento artístico que despontou no Rio de Janeiro e questionava o amplo uso da racionalidade e das tecnologias na construção de obras de arte, prática comum entre os artistas concretos paulistas. Em 1959, foi publicado o manifesto Neoconcreto, que defendia uma produção artística baseada na intuição do artista, na emoção e na subjetividade. Os artistas neoconcretos tinham liberdade de criação e experimentavam diferentes linguagens e técnicas artísticas. Eles aproximaram o público da arte propondo obras interativas. Esse movimento é considerado um marco para a história da arte no Brasil, sendo apontado por alguns pesquisadores como o início da arte contemporânea brasileira.
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