CAPÍTULO 6 Espaço cênico: entre o real e o imaginário
Quando pensamos em teatro, é comum imaginar um ambiente composto de um palco, uma plateia, luzes, cortinas, músicas, cenários e figurinos. Entretanto, o espaço teatral existe de diferentes fórmas.
1. Observe a imagem do teatro Odeão de Herodes Ático na abertura do capítulo. Quais elementos você identifica em sua arquitetura? Ele é parecido com a ideia que você tem de um espaço teatral?
Esse teatro foi construído pelo aristocrata Herodes Ático, em homenagem a sua esposa, na Grécia antiga, no ano 161 Depois de Cristo, aos pés da Acrópole, na cidade de Atenas. Ele tem capacidade para receber mais de 5 mil espectadores. Durante as apresentações, tanto os atores quanto o público permanecem ao ar livre. Mesmo com toda a sua imensidão e sem aparente proteção sonora, ele se destaca por sua qualidade acústica: devido ao formato circular, qualquer som emitido no palco pode ser ouvido com precisão até mesmo no lugar mais afastado da plateia.
Muitos teatros gregos construídos na Antiguidade, tanto no passado como hoje, não utilizam muitos cenários, pois as montagens dos espetáculos partem do pressuposto de que muito do espaço e das paisagens cênicas pode acontecer na imaginação dos espectadores.
Neste capítulo, você vai conhecer exemplos de teatros e obras nos quais o espaço é um dos principais elementos da proposta artística. Com base nessa concepção, você verá que, no teatro, o espaço imaginário e o real se entrecruzam e se potencializam um ao outro.
Faça no caderno.
PARA REFLETIR
Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.
- Que elementos espaciais você considera que não podem faltar em um teatro?
- Você já assistiu a alguma peça em que o palco não estivesse de frente para a plateia?
- Quais são os espaços onde o teatro pode acontecer? Por quê?
SOBREVOO
As paisagens no teatro
O teatro aborda uma ampla variedade de histórias: ele pode nos apresentar situações do passado, do presente e do futuro, e pode também nos contar narrativas realistas ou mágicas, com personagens históricos, animais, seres inanimados e também inventados.
Faça no caderno.
- De que fórma o teatro nos convida a imaginar outros mundos ou nos transporta para paisagens, espaços e épocas diferentes? Quais elementos materiais podem ser usados para isso?
- Observe a imagem do espetáculo Salomé e as imagens na página seguinte. O que elas sugerem? Que tipos de história poderiam acontecer nesses espaços?
Uma das artes responsáveis por recriar ambientes e atmosferas dentro do teatro é a cenografiaglossário .
Como vimos no capítulo anterior, um dos espaços mais tradicionais onde a arte teatral acontece é o palco italiano. No decorrer dos últimos dois séculos, a arte da cenografia encontrou nesse tipo de palco, no qual a cena está separada do público, um local privilegiado para a sua criação e desenvolvimento.
Entre os artistas que se destacaram pelo uso do palco italiano, apresentamos dois importantes cenógrafos: o tcheco Josef Svoboda (1920-2002) e o italiano radicado no Brasil Gianni Ratto (1916-2005). Eles inovaram na criação de paisagens cênicas, partindo do princípio de que o espaço teatral não precisava ser decorado ou ilustrado, e sim ser um espaço que provocasse e aguçasse os sentidos e a imaginação dos espectadores.
O teatro na rua
Apesar de o palco italiano ser o espaço mais usado nas peças teatrais clássicas, elas nem sempre são representadas nele: às vezes, são levadas para a rua. Mas, enquanto o palco italiano permite várias trocas de cenário (na frente do público ou detrás da cortina), como transpor as paisagens de uma peça com essas características para um espaço cênico não convencional? O Grupo Galpão encarou esse desafio. Em 1992, a trupe mineira decidiu montar a própria versão da peça Romeu e Julieta, do dramaturgo inglês William Xêiquispíer (1564-1616).
3. Observe as imagens da montagem de Romeu e Julieta nesta página e na seguinte. Quais são os elementos cênicos utilizados pelos atores?
Na tragédiaglossário de Xêiquispíer, a história se desenrola em uma sacada e em diversos outros cômodos de uma casa, nas ruas da cidade de Verona (Itália), em uma igreja e em um imenso salão de festas. O grupo contou com a proposta de encenação de Gabriel Villela (1958-) e resolveu a diversidade espacial proposta no texto original do seguinte modo: em vez de criar inúmeros cenários e mudanças de cena para a peça, adotou elementos utilizados no circo e em números de palhaço, contando para isso com a imaginação do público.
Os artistas do Grupo Galpão, juntamente com Villela, levaram a peça para a rua e usaram como palco e como elementos cênicos um automóvel, escadas, bancos, pernas de pau etcétera
O elenco atuava sobre o carro, em seu interior e ao redor dele. A criatividade e o jogo cênico permitiram ao grupo aproveitar as diversas possibilidades fornecidas por essa estrutura e pelos objetos utilizados.
Nessa montagem de Romeu e Julieta, com a ajuda da imaginação do espectador, uma cartolina pintada, suspensa por uma vara de pescar, tornava-se uma lua que pairava no céu; um violão se transformava em um instrumento de guerra; um guarda-chuva colorido levava os espectadores para o interior de uma igreja; e uma declaração de amor fazia o público rir e chorar ao mesmo tempo. Em uma experiência como essa, basta estar disposto a brincar e deixar voar a imaginação para aterrissar em novas paisagens.
4. Que tipo de diálogo os elementos cênicos estabelecem com a época na qual a peça de Xêiquispíer foi escrita? No seu ponto de vista, por que uma peça escrita há tanto tempo ainda pode gerar diálogo com o contemporâneo?
Foco na História
William Xêiquispíer e o Globe Theatre
Você já ouviu alguém recitar: “Ser ou não ser: eis a questão!”? O autor dessa famosa frase é o dramaturgo, poeta e ator inglês William Xêiquispíer, e essa pergunta figura no texto de uma de suas peças, Hamlet.
Xêiquispíer construiu sua carreira teatral em Londres, no século dezesseis, e escreveu mais de trinta peças de teatro. Muitas delas eram tragédias – como Macbeth e Tito Andrônico –, mas também havia comédias, algumas, inclusive, repletas de criaturas mágicas, como Sonho de uma noite de verão.
Xêiquispíer apresentava suas peças no Globe Theatre [Teatro Globo, em tradução livre]. O teatro tinha paredes, galerias cobertas e uma grande área, abaixo do palco, que ficava a céu aberto. Esse espaço descoberto, ou fosso, em geral era ocupado pelo público que não tinha condições de pagar para ter acesso às galerias. O comportamento dos espectadores que assistiam às peças em pé nesse fosso era muito diferente do que se vê hoje em dia nos teatros. A relação entre os artistas e o público era dinâmica: muitas vezes o público interferia espontaneamente em cena, fosse por meio da aprovação – aplaudindo e assobiando positivamente –, fosse por meio da reprovação – vaiando os artistas e lançando, literalmente, tomates e outros legumes na direção dos atores.
No teatro de Xêiquispíer, as peças normalmente não tinham troca de cenário, e eram o diálogo entre os atores e o jogo teatral que estimulavam o espectador a usar a imaginação para criar o espaço cênico.
Um bom exemplo da importância da imaginação no teatro shakespeariano é que, como a sociedade da época impedia que as mulheres atuassem, eram atores que interpretavam os papéis femininos. Assim, tanto nas tragédias quanto nas comédias, eram homens que se maquiavam e usavam grandes vestidos para interpretar rainhas, fadas e deusas.
Da mesma maneira que um carro estacionado vira espaço cênico para uma peça, um bairro inteiro pode servir de espaço e de tema para um trabalho teatral. Com 25 atores em cena e quatro músicos, o espetáculo Barafonda, da Companhia São Jorge de Variedades, foi uma peça itineranteglossário cujo tema e espaço foram o bairro da Barra Funda, na cidade de São Paulo ( São Paulo). O espetáculo percorria dois quilômetros e contava com 150 figurinos e dois carros alegóricos.
Em 2010, a Companhia São Jorge de Variedades estudou e pesquisou sobre o bairro da Barra Funda, lugar onde estava localizado o seu espaço de trabalho. Compondo uma dramaturgia coletiva, os artistas da companhia criaram cenas, músicas e personagens para contar a história do bairro e refletir sobre ele. Além disso, diversos moradores e trabalhadores da região foram convidados a participar da peça. Ao longo do trajeto, as cenas aconteciam nas calçadas, no meio da rua, na barbearia, na granja, no espaço cênico da Companhia São Jorge de Variedades, em cima de uma ponte e em outros espaços que compõem a paisagem do bairro.
Gire o seu dispositivo para a posição vertical
5. Você conhece a história do bairro onde mora? Você imagina uma peça sendo encenada nas suas ruas? Em que espaços concretos você imagina que essa peça poderia acontecer?
Um espetáculo itinerante
Se o teatro pode ocupar os espaços das ruas, ele também pode acontecer em lugares inusitados, como um ônibus que circula por bairros de uma cidade.
Em meados de 2015, o grupo Cuíra, da cidade de Belém ( Pará), tinha fechado seu espaço de trabalho e, por esse e outros motivos, decidiu realizar um espetáculo de teatro itinerante. O tema da peça Auto do coração (2015) é universal e conhecido por todos: o amor. O espetáculo era composto de depoimentos pessoais de relações amorosas de cada uma de suas atrizes, mesclados com histórias de outras pessoas e inclusive histórias inventadas. No ônibus, são compartilhadas com o público narrativas íntimas que tratam de diversas fórmas de amar, incluindo o próprio amor pelo teatro.
Segundo a diretora do espetáculo, Vlád Lima, é importante que a peça aconteça em um ônibus com aparência antiga, uma vez que as marcas do tempo presentes nos espaços da cidade, nos habitantes e nos automóveis que circulam há anos pelas ruas contribuem com o espetáculo.
Para pesquisar
O teatro e a intervenção no cotidiano
A relação entre o teatro e a cidade vem se expandindo ao longo dos últimos anos, com espetáculos que acontecem no trânsito do dia a dia das cidades, como os trabalhos desenvolvidos pelo grupo Cuíra e pela Companhia São Jorge.
Com base nessa discussão, você e seus colegas realizarão em grupo uma pesquisa a respeito do trânsito existente nas grandes cidades e como o teatro interfere, atua e desloca esse trânsito do cotidiano.
Comecem respondendo à pergunta: que tipo de trânsito existe em uma grande cidade? De que fórma ele está presente?
Em seguida, selecionem uma companhia teatral que atue em ambientes externos e pesquisem:
- o tipo de atuação dessa companhia nas ruas da cidade;
- como esse trabalho interfere no trânsito;
- com base nessa interferência, descubra os objetivos principais desse trabalho.
Compartilhem as pesquisas com os outros grupos e reflitam sobre a maneira como o teatro tem dialogado com o trânsito nas grandes cidades.
Transportando o espectador para o Oriente
Se as artistas paraenses do grupo Cuíra optaram por recriar uma celebração do amor dentro de um ônibus, o que esperar quando artistas que vivem em São Paulo ( São Paulo) decidem retratar as paisagens do Japão antigo?
6. Observe essa imagem e a da página seguinte: quais elementos indicam a construção de um ambiente japonês?
Em 2010, os artistas do Teatro Oficina montaram uma versão do espetáculo Taniko, o rito do vale, estreado em 1997.
O espetáculo é a releitura de uma peça japonesa oriunda da tradição do teatro Nôglossário , escrita no século quinze por Zênticu (1405--1468), discípulo do dramaturgo Zeámi MótoKío (1363-1443). Ela conta a história do jovem Kogata, que parte em uma viagem com seu mestre e alguns companheiros em busca de medicamentos para a sua mãe doente. Os viajantes sabem da existência de uma Grande Lei, que diz que aquele que ficar doente durante o trajeto deverá ser abandonado.
A certa altura da história, Kogata, exausto e doente, confessa ao mestre não suportar mais a dureza da viagem; os companheiros decidem então seguir a lei.
Kogata, com medo de morrer só, pede aos companheiros que o comam, em vez de abandoná-lo. Eles cumprem o pedido, apesar de o mestre tentar impedi-los. Entristecido com a morte do discípulo, o mestre resolve não prosseguir a viagem e se entregar à morte.
A comitiva sente-se desorientada com a decisão e, sem saber o que fazer, implora que a lei seja modificada para que a viagem prossiga. O mestre, então, muda a lei para o lema “Não se mata o que se ama”.
Na montagem do Oficina, ao final do espetáculo, a comitiva era visitada pelo espírito de Zeami, o criador do teatro Nô, que lhes devolvia o jovem Kogata para que pudessem mudar a lei vigente.
A peça é uma homenagem a Luís Antônio Martinez Corrêa, também encenador e irmão de um dos fundadores do Oficina, Zé Celso. Ele foi assassinado em 1987, e Taniko foi sua última peça. Da mesma maneira que, ao final da peça, acontece a ressurreição do personagem Kogata, os artistas do Oficina tinham como objetivo simular a reaparição de Luís Antônio no teatro.
Os artistas do Oficina, conhecidos por sua estética exuberante, inspiraram-se na tradição do Nô e, na montagem de Taniko, utilizaram figurinos simples e um cenário minimalista para traçar paralelos entre as paisagens do Japão e do Brasil e entre a atualidade e as memórias do passado.
Para pesquisar
Coletivos teatrais e sua relação com o espaço
Assim como a Companhia São Jorge de Variedades, diversos grupos de teatro brasileiros desenvolvem uma relação artística direta com o espaço urbano. Que tal pesquisar alguns desses outros grupos?
- Reúna-se com seus colegas em um grupo de até seis participantes.
- Com o auxílio do professor, cada grupo elegerá um coletivo teatral para pesquisar; pode ser um dos sugeridos a seguir ou algum que atue em sua cidade ou região.
- Coletivo Estopô Balaio ( São Paulo)
- Clowns de Xêiquispíer ( Rio Grande do Norte)
- Grupo Cuíra ( Pará)
- Grupo de Teatro De Pernas Pro Ar ( Rio Grande do Sul)
- Grupo Espanca! ( Minas Gerais)
- Madeirite Rosa ( São Paulo)
- Oco Teatro Laboratório ( Bahia)
- Ói Nóis Aqui Traveiz ( Rio Grande do Sul)
- Tá Na Rua ( Rio de Janeiro)
- Trupe Lona Preta ( São Paulo)
- Pesquise na internet por notícias, fotos, descrições dos espetáculos e vídeos a respeito desses coletivos. Registre as informações coletadas em seu diário de bordo.
- Você pode utilizar as questões a seguir para orientar sua pesquisa:
- Como o grupo cria interlocuções com as paisagens da cidade?
- Que tipo de planejamento deve acontecer antes da realização da ação na cidade?
- Que elementos técnicos e materiais (por exemplo, iluminação, caixas de som, figurino, cenário) cada grupo utiliza nas suas intervenções nos espaços da cidade?
- Reúna o material pesquisado e realize, com seu grupo, uma apresentação para a turma com as informações coletadas.
- Após as apresentações de todos os grupos, converse com seus colegas e com o professor a respeito das seguintes questões:
- Quais foram as fórmas encontradas pelos coletivos teatrais para adequar o espaço ao assunto de suas peças?
- Como seria se esses coletivos se apresentassem em um espaço convencional de um edifício teatral?
- Quais elementos utilizados nos trabalhos dos grupos mais chamaram a sua atenção? Por quê?
- Quais coletivos, obras e espetáculos mais lhe interessaram? Por quê?
Faça no caderno.
PARA REFLETIR
Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.
- Qual dos exemplos vistos neste Sobrevoo apresenta uma relação entre artistas e espaço mais estimulante para você? Por quê?
- Com base nos grupos estudados no Sobrevoo e nas pesquisas, relembre alguns exemplos nos quais a relação dos artistas com o espaço e seu entorno foi fundamental para a transformação da própria obra artística.
Foco em...
Teatro Oficina
O Teatro Oficina é um edifício teatral localizado na cidade de São Paulo, ocupado pelo grupo Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona. O grupo sempre se dedicou ao teatro experimental e à busca de fórmas inovadoras de se relacionar com o público.
Em 1993 foi inaugurado o teatro- séde do grupo, cujo projeto arquitetônico é assinado por Lina Bo Bardi (1914-1992) e Edson Elito (1948-). O Teatro Oficina é reconhecido até hoje como um dos mais importantes espaços arquitetônicos teatrais do mundo.
Nesse teatro, os espectadores se sentam ao longo de três andares de andaime, onde ficam os assentos, e de frente para uma parede envidraçada, cuja vista é a própria cidade de São Paulo ( São Paulo). As peças acontecem em qualquer um dos espaços do teatro, especialmente no corredor que divide as galerias de espectadores. O corredor ainda lembra uma rua ou um sambódromo, por onde desfilam personagens e por onde as cenas das histórias se desenrolam.
Faça no caderno.
1. Observe o desenho de Lina Bo Bardi na página anterior e a imagem do interior do Teatro Oficina nesta página: o que mais chama a sua atenção na arquitetura desse espaço? Ele faz você lembrar de algum lugar ou pensar em alguma coisa?
Por ser um teatro não convencional também em termos de espaço, nem sempre os espectadores conseguem ter visibilidade de todos os ângulos do espetáculo. E é por isso que assistir às peças encenadas no Oficina pode ser divertido, pois o público tem de se movimentar para ver algumas partes das peças e assumir uma postura ativa ao longo do espetáculo.
José Celso Martinez Corrêa (1937-), conhecido como Zé Celso, despontou como um dos mais expressivos encenadores brasileiros na década de 1960. Além disso, ele também é dramaturgo e ator em alguns de seus espetáculos. Zé Celso e o grupo Oficina se inspiram no movimento tropicalista e no teatro antropofágicoglossário . Eles apostam na criação de montagens teatrais que envolvem rito, celebração e festa, com uma forte carga de humor e de crítica política e social.
Para experimentar
Reorganizando o espaço
Assim como o Teatro Oficina propõe novos pontos de vista na relação entre cena e público, que tal experimentar novos pontos de vista em nosso cotidiano?
- Com o auxílio do professor, reúna-se com os colegas em grupos de até seis participantes e discuta:
- Como está organizado o espaço em sua sala de aula? Quais são os pontos de vista possíveis para os estudantes? E para o professor?
- Você teria alguma proposta para reorganizar o espaço e experimentar diferentes pontos de vista?
- Em seu diário de bordo, desenhe a proposta espacial criada pelo grupo: decidam como serão posicionadas as cadeiras e os outros móveis que podem ser trocados de lugar.
- Em seguida, os grupos devem apresentar suas propostas.
- Na sequência, elejam as que mais agradam à turma.
- Com os colegas, experimente modificar o espaço de acordo com as propostas escolhidas.
- Ao final da experimentação, reflita sobre as questões a seguir e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.
- Qual dos espaços propostos pareceu mais interessante? Por quê?
- O que você descobriu, ao longo dessa exploração, sobre o modo como você se relaciona com o espaço da sala de aula?
- Qual seria a sua proposta para que o espaço da aula se tornasse diferente ou, em sua opinião, mais interessante?
Faça no caderno.
PARA REFLETIR
Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.
- Que semelhanças e diferenças você identifica entre o Teatro Oficina e o Odeão de Herodes Ático, em Atenas?
- Como você enxerga a diferença entre um teatro que coloca os espectadores acima do palco e um teatro no qual o palco está posicionado acima dos espectadores?
Foco no conhecimento
O espaço entre a ficção e a realidade
Faça no caderno.
1. Observe a imagem. Por que você imagina que esse ator tem um barco sobre a cabeça?
No teatro, como já vimos anteriormente com o Grupo Galpão, existem recursos cênicos que permitem ativar nossa imaginação, de modo que um pedaço de pano pode virar uma fogueira, uma lâmpada pequena pode virar o Sol e a nossa cabeça pode se tornar o oceano. Assim, não é preciso construir grandes cenários que imitem fielmente as paisagens da realidade. Podemos apenas sugerir a presença dessas paisagens por meio de alguns elementos.
Reflita agora a respeito de três tipos de espaço próprios da arte do teatro:
1 Espaço dramático
Espaço retratado no texto teatral, ou seja, nas histórias contadas pelas dramaturgias. Em geral, são diversas as paisagens nas quais as peças de teatro acontecem. Na peça Taniko, do Teatro Oficina, eram apresentados diferentes espaços do Japão antigo ao longo da viagem da comitiva. O espaço dramático consiste em uma paisagem construída mediante elementos cênicos ou pela imaginação do espectador. É o espaço da ficção.
2 Espaço cênico
Espaço real do próprio teatro, ou seja, o seu espaço concreto. Em geral, sua arquitetura é dividida em um espaço específico no qual os atores atuam e um espaço no qual os espectadores assistem aos espetáculos. Há casos em que o espaço cênico é composto de uma série de outros elementos, como iluminação, palco, cadeiras, cenários etcétera Às vezes, o espaço cênico pode ser uma rua ou um bairro inteiro de uma cidade, como no espetáculo Barafonda, da Companhia São Jorge de Variedades.
3 Espaço lúdico
Espaço misto, pois nele acontece a mistura dos elementos da ficção com os elementos da realidade. O teatro tem lugar na relação entre a imaginação do público e a ação teatral, que, por sua vez, é concreta. Assim, é possível que, mesmo em um espaço vazio, possa surgir a paisagem de um deserto, caso o ator convoque a imaginação do público e diga que estão em um deserto. No caso do espetáculo Romeu e Julieta do Grupo Galpão, por exemplo, bastou que os atores subissem em escadas para simular a sacada de uma casa.
Faça no caderno.
PARA REFLETIR
Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.
- Você já brincou de transformar objetos para contar uma história? Como foi essa experiência?
- Que relações você estabelece entre o espaço lúdico e os jogos teatrais ou as brincadeiras das quais você gosta?
Processos de criação
Que tal investigar os espaços de sua escola se utilizando de uma criação?
Para a realização desta atividade, sugerimos que os participantes sigam o trecho de uma peça teatral. Uma característica desse tipo de texto é que ele é escrito na fórma de diálogo entre os personagens.
Em geral, o texto teatral é composto de alguns elementos, como rubricasglossário , diálogos, personagens, um tempo específico e um espaço no qual a peça acontece.
A proposta é que você e seus colegas improvisem algumas cenas em espaços inusitados da escola. Para essa criação, tenha como base os três tipos de espaço vistos na seção Foco no conhecimento:
• dramático
• cênico
• lúdico
- Reúna-se com os colegas em um grupo de quatro a cinco integrantes.
- Para a criação do espaço dramático da cena, sugerimos o trecho apresentado na página seguinte da peça A tempestade (cerca de 1611), de William Xêiquispíer.
- Com base na cena, cada grupo deve elaborar uma improvisação de até 10 minutos, considerando o ponto de vista que deseja propor à assistência do público, de maneira a provocar os olhares, as sensações e os sentidos dos espectadores.
- A cena deve ser apresentada em algum espaço cênico inusitado da própria escola (banheiros, corredores, quadra de esportes, portões, pátio etcétera), considerando a fórma pela qual esses espaços podem ajudar a concretizar a paisagem da tempestade, constituindo-se em espaço lúdico.
A TEMPESTADE
ATO I CENA I
A bordo de um navio no mar: ouve-se ruído de tempestade, trovões e raios.
(Entram um Mestre e um Contramestre)
MESTRE: Contramestre!
CONTRAMESTRE: Olá, Mestre: tudo em ordem?
MESTRE: Tudo; diga aos marinheiros que se não trabalharem rápido, encalhamos: mexam-se, mexam-se!
(Entram os marinheiros)
CONTRAMESTRE: Eia, meus corações! Muito ânimo, meus corações! Depressa, recolham a mezenaglossário . De ouvido no apito do Mestre. Sopra até perder o fôlego, se der pra isso!
(Entram Alonso, Sebastian, Antônio, Ferdinand, Gonzalo e outros)
ALONSO: Cuidado, Contramestre. Onde está o Mestre? Controle os seus homens.
CONTRAMESTRE: Por favor, fiquem lá embaixo.
ANTÔNIO: Onde está seu superior, Contramestre?
CONTRAMESTRE: Não está ouvindo? Estão atrapalhando o serviço: fiquem nos camarotes, estão ajudando a tempestade.
GONZALO: Não, meu amigo; tenha paciência.
CONTRAMESTRE: Quando o mar tiver. Fora! O que é um rei para essas ondas? Pros camarotes! Silêncio! Não nos atrapalhem.
GONZALO: Muito bem; mas lembrem-se de quem têm a bordo.
CONTRAMESTRE: Ninguém de quem eu goste mais do que de mim mesmo. O senhor é conselheiro; se puder calar os elementos e trazer paz ao presente, nós não tocamos mais numa só corda; use a sua autoridade. Mas se não puder, dê graças por ainda estar vivo e vá se preparar no camarote para os riscos do que pode acontecer numa hora dessas. Ânimo, meus corações! Já falei, saiam do caminho. (Sai.)
GONZALO: Esse sujeito me conforta; não me parece trazer marcas de afogamento: seu aspecto é perfeito para a forca. Cumpra à risca, bom Fado, seu caminho de enforcado: faz da corda do destino dele nosso fio de vida. Se ele não nasceu para ser enforcado, nosso caso está perdido… (Saem.)
(Volta o Contramestre.)
CONTRAMESTRE: Recolham a mezena! Depressa! Mais baixo! Recolham tudo menos a grande. (Um grito, fora.) Maldita gritaria! Fazem mais barulho do que o tempo, ou do que nós trabalhando!
reticências
(Entram marinheiros molhados.)
MARINHEIROS: ´Stamos perdidos, rezem, rezem, rezem! Perdidos!
CONTRAMESTRE: Será que temos de ficar de boca fria?
GONZALO: O Rei e o filho oram. Ajudemos. A causa é nossa.
reticências
ANTÔNIO: Vamos afundar com o Rei.
SEBASTIAN: Vamos despedir-nos dele.
(Saem Antônio e Sebastian.)
GONZALO: Daria agora milhares de braças de mar por um pedaço de terra qualquer, estéril, de urzes, espinhos ou giestas. Seja feita a vontade dos céus! Mas preferia morte mais seca.
(Saem todos, o navio afunda.)
SHAKESPEARE, William. A tempestade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011. p. 15-18. (Adaptado.)
Faça no caderno.
PARA REFLETIR
Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.
- O que você sentiu ao assistir às cenas e representá-las em um espaço inusitado?
- Quais espaços deixaram a situação da tempestade mais interessante? Por quê?
Organizando as ideias
Ao longo deste capítulo, vimos diversas obras teatrais que têm como eixo a pesquisa sobre o espaço e suas relações. Vimos também que o teatro trabalha com elementos cenográficos que instigam o espectador a imaginar as paisagens que complementam a obra apresentada e dialogam com ela.
Após ter realizado essa travessia e experimentado compor cenas nos espaços de sua escola, reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.
Faça no caderno.
- Quais elementos do espaço do teatro mais chamaram a sua atenção? Por quê?
- Você já havia pensado que uma peça de teatro pode instigar o espectador a se deslocar de seus lugares habituais? O que você pensa sobre isso?
- Este capítulo mudou sua percepção a respeito do espaço da escola? Como?
- Quais foram suas descobertas em relação às possibilidades espaciais da arte teatral?
- Quais outras descobertas você fez ao longo deste capítulo? O que você gostaria de continuar aprofundando?
Glossário
- Cenografia
- Arte da organização do palco e/ou do espaço teatral. O cenógrafo é, por sua vez, a figura responsável pela criação de seus elementos. A cenografia pode ser compreendida como uma maneira de pensar o espaço e de criar elementos materiais que auxiliem nos objetivos maiores do espetáculo teatral.
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- Tragédia
- Gênero de peça teatral originado na Grécia antiga que apresenta experiências humanas repletas de sofrimento e perda. As tragédias geralmente encontram uma resolução para seus conflitos no final, mas que tende a ser sob a fórma de morte ou de algum bom termo pacífico após um grave erro individual ou coletivo que gerou muita dor e aflição.
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- Peça itinerante
- Tipo de espetáculo em que o público é convidado a caminhar por determinado espaço para assistir às cenas da montagem. Trata-se de uma peça em percurso: somente caminhando e se deslocando pelos espaços é que os espectadores podem acompanhar as cenas.
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- Teatro Nô
- Arte cênica tradicional japonesa. O teatro Nô tem uma estrutura de espetáculo marcada pelo simbolismo e pela simplicidade. Seus atores usam máscaras e se movimentam segundo códigos gestuais para representar mitos e narrativas ancestrais da cultura japonesa. Seu precursor e principal referência foi o dramaturgo e ator Zeámi MótoKío. No teatro Nô, o espectador é o responsável por preencher as indicações poéticas e os elementos que não aparecem fisicamente em cena.
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- Teatro antropofágico
- Vertente teatral inspirada no Manifesto Antropofágico de osváld de Andrade (1890-1954). Envolve brincadeira, deboche, paródia e certa agressividade para provocar os sentidos dos espectadores. Aceita contribuições das artes populares, como o circo e o teatro de revista. Os idealizadores dessa vertente foram Zé Celso e o Teatro Oficina.
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- Rubrica
- Indicação no texto teatral que apresenta uma orientação gestual ou de movimentação para o ator, um acontecimento cênico, um espaço etcétera É uma fórma de instruir acontecimentos e propostas para a realização da peça que não são necessariamente reconhecíveis somente pelo diálogo dos personagens. É também chamada didascália.
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- Mezena
- Em embarcações de quatro mastros, é o mastro que permite que o barco faça a ré.
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