CAPÍTULO 3 Como a música interage com a paisagem?

Fotografia. Obra de arte formada por um tanque redondo de fundo azul cheio de água, com outra estrutura redonda branca ao redor, na qual há diversas pessoas de boné vermelho. Essa estrutura branca apresenta uma borda não muito alta, com três aberturas e uma rampa circular, que termina abruptamente em uma linha reta. Flutuando na água há dezenas de potes brancos. O tanque está colocado em um local amplo, sobre um piso cinza.
Vista de cima da instalação clinamen v2, de Céleste Boursier-Mougenot.
Fotografia. Diversos potes brancos vazios, de tamanhos diferentes, flutuam na superfície da água límpida que preenche um tanque de fundo azul e que reflete a imagem dos potes.
BOURSIER-MOUGENOT, Céleste. clinamen v2. 2017. Instalação com porcelana, bomba-d’água, aquecedor de água e água, dimensões variadas, exposta na Bienal de Arte Contemporânea de Lyon, em Lyon, França.
Orientações e sugestões didáticas

Sobre o capítulo

Este capítulo, “Como a música interage com a paisagem?”, destaca a Unidade temática da Bê êne cê cê: Música.

Objetivos

De acordo com as Competências específicas do Componente Curricular Arte, os conteúdos trabalhados neste capítulo buscam levar os estudantes a:

  1. Explorar, conhecer, fruir e analisar criticamente práticas e produções artísticas e culturais do seu entorno social, dos povos indígenas, das comunidades tradicionais brasileiras e de diversas sociedades, em distintos tempos e espaços, para reconhecer a arte como um fenômeno cultural, histórico, social e sensível a diferentes contextos e dialogar com as diversidades.
  1. Pesquisar e conhecer distintas matrizes estéticas e culturais – especialmente aquelas manifestas na arte e nas culturas que constituem a identidade brasileira –, sua tradição e manifestações contemporâneas, reelaborando-as nas criações em Arte.
  2. Experienciar a ludicidade, a percepção, a expressividade e a imaginação, ressignificando espaços da escola e de fóra dela no âmbito da Arte.

8. Desenvolver a autonomia, a crítica, a autoria e o trabalho coletivo e colaborativo nas artes.

Sobre a imagem

Estabelecendo conexão com o capítulo anterior, iniciamos com a imagem da obra clinamen v2, que põe em diálogo Artes visuais e Música. A imagem mostra um detalhe da obra. Sua apreciação pode ser complementada com imagens em vídeo presentes na entrevista, em inglês, com o criador da obra, Celést Bursiê Mugenô. Disponível em: https://oeds.link/8t1if9. Acesso em: 3 maio 2022.

1. Observe a instalação que aparece nas fotografias de abertura do capítulo e imagine os sons que os objetos podem fazer. Como são esses sons?

Versão adaptada acessível

1. Volte à instalação que aparece nas fotografias de abertura do capítulo e imagine os sons que os objetos podem fazer. Como são esses sons?

No capítulo anterior, você viu como artistas visuais se relacionam com diferentes paisagens. Continuando nosso percurso, começamos aqui olhando para uma obra do músico e artista visual francês Celést Bursiê Mugenô (1961-), com a qual ele interfere sonoramente no espaço.

Nessa instalação, vasilhas de porcelana escolhidas por suas qualidades sonoras boiam em uma piscina circular equipada com uma bomba interna que gera uma leve correnteza e um sistema de aquecimento da água que melhora a repercussão do som das vasilhas. As vasilhas vão se movendo na água e batendo umas nas outras, produzindo diferentes sons, que vão compondo, de modo aleatório e imprevisível, a música que preenche o ambiente.

2. O que determina o ritmo da música produzida na obra? Quais elementos naturais e quais artificiais contribuem para a interação da música com o ambiente nessa instalação?

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Além do que viu nesta abertura de capítulo, quais outras interações entre música e paisagens você consegue imaginar?
  2. Relembre, com seus colegas, como são os sons dos ambientes em que vivem. Vocês são apenas ouvintes ou interagem com esses sons? De que maneira?
Orientações e sugestões didáticas

Justificativa

Neste capítulo, apresentamos possibilidades de interação da música com diferentes paisagens: pela leitura e significação de elementos que as compõem; pela utilização direta ou pela representação desses elementos. Abordamos exemplos de ações e obras musicais diversas entre si: instalação sonora, criação de instrumentos musicais, composição instrumental, canção popular e música indígena. O que justifica que estejam juntas é que todas apresentam alguma possibilidade de interação musical com paisagens.

Considerando a percepção, leitura e significação musicais de elementos sonoros de ambientes e paisagens, veremos conceitos que nomeiam propriedades sonoras: timbre e densidade, contribuindo para o desenvolvimento da habilidade (ê éfe seis nove á érre dois zero) da Bê êne cê cê.

Orientações

Proponha aos estudantes a leitura da imagem, dando espaço para interpretações objetivas e subjetivas. Com o apoio das perguntas, estabeleça relações com o tema do capítulo.

Para todas as questões propostas no capítulo serão dadas “Respostas pessoais.”.

Sobre as atividades

1. e 2. As respostas dependem das referências prévias e das impressões de cada estudante. O mais importante é estimular a imaginação musical de cada um. Destaque os elementos da obra clinamen v2 – citados no texto – que estabelecem relações entre a música e o ambiente. Quanto ao ritmo da música produzida, é possível comentar que, em parte, ele é imprevisível, pois depende do choque das vasilhas se movendo na água e também é induzido pela bomba interna que cria correntes na água.

Orientações: Para refletir

As questões desta seção têm a intenção de levantar os conhecimentos prévios dos estudantes e, ao mesmo tempo, estimular a imaginação e a percepção das interações entre a música e diferentes paisagens. Também pretendem estimular em cada um a visão de si mesmos como seres ativos e determinantes nessas interações.

SOBREVOO

Música e paisagens: interações

Neste Sobrevoo, você conhecerá mais possibilidades de atividades musicais por meio das quais diferentes artistas interagem com o ambiente ao seu redor: produzindo instrumentos musicais e esculturas sonoras mediante o uso criativo de materiais, representando paisagens musicalmente ou interagindo com elementos da natureza. Essas maneiras diversas de interagir com as paisagens podem estar associadas aos mais variados tipos de música, como você poderá constatar nos exemplos desta seção.

Começaremos explorando a possibilidade de utilizar e moldar materiais do ambiente para inventar sonoridades e, assim, interferir na paisagem sonoraglossário . Você já pensou na música como uma possibilidade de manipular e moldar sons?

O instrumento das fotografias desta página foi criado por Anton Walter Ismeták (1913-1984), violoncelista, escultor e compositor suíço que morou no Brasil durante os últimos trinta anos de sua vida, boa parte deles no estado da Bahia. Ele se dedicou a moldar materiais e sons e fabricou mais de cem instrumentos musicais.

Fotografias. A esquerda: Vista frontal de instrumento musical de cordas, composto de três caixas de ressonância abauladas, uma presa em cada extremidade do braço, sobre o qual são esticadas três cordas, e a terceira localizada atrás do braço. A caixa de ressonância da superior é a maior, a que fica na base é menor e a traseira, menor ainda. Todas são feitas de cabaças. Os elementos da peça estão pintados na mesma cor marrom, que apresenta brilho de verniz. O instrumento está apoiado sobre um tripé. Pendurado na parede, ao fundo, há um arco semelhante ao de violino.
A direita: Fotografia. Vista lateral do instrumento de cordas já descrito. A caixa de ressonância superior é aberta na parte de trás e, logo abaixo da caixa de ressonância menor, traseira, há dois pequenos sinos pendurados. A parte posterior do braço é abaulada, assim como a caixa de ressonância da base, que é inteiriça.
Vina, instrumento criado por Walter Smetak, em diferentes ângulos: de frente e de lado. 1969. Altura: 1,40 m. 
Orientações e sugestões didáticas

Nesta seção são apresentados exemplos de atividades e obras musicais que fazem a interação da música com ambientes e paisagens.

Unidade temática da Bê êne cê cê

Música.

Objetos de conhecimento

Contextos e práticas; Elementos da linguagem; Materialidades; Processos de criação.

Habilidades em foco nesta seção

(ê éfe seis nove á érre um seis) Analisar criticamente, por meio da apreciação musical, usos e funções da música em seus contextos de produção e circulação, relacionando as práticas musicais às diferentes dimensões da vida social, cultural, política, histórica, econômica, estética e ética.

(ê éfe seis nove á érre um sete) Explorar e analisar, criticamente, diferentes meios e equipamentos culturais de circulação da música e do conhecimento musical.

(ê éfe seis nove á érre um oito) Reconhecer e apreciar o papel de músicos e grupos de música brasileiros e estrangeiros que contribuíram para o desenvolvimento de fórmas e gêneros musicais.

(ê éfe seis nove á érre um nove) Identificar e analisar diferentes estilos musicais, contextualizando-os no tempo e no espaço, de modo a aprimorar a capacidade de apreciação da estética musical.

(ê éfe seis nove á érre dois zero) Explorar e analisar elementos constitutivos da música (altura, intensidade, timbre, melodia, ritmo etcétera), por meio de recursos tecnológicos (guêimis e plataformas digitais), jogos, canções e práticas diversas de composição/criação, execução e apreciação musicais.

(ê éfe seis nove á érre dois um) Explorar e analisar fontes e materiais sonoros em práticas de composição/criação, execução e apreciação musical, reconhecendo timbres e características de instrumentos musicais diversos.

(ê éfe seis nove á érre dois três) Explorar e criar improvisações, composições, arranjos, djingôus, trilhas sonoras, entre outros, utilizando vozes, sons corporais e/ou instrumentos acústicos ou eletrônicos, convencionais ou não convencionais, expressando ideias musicais de maneira individual, coletiva e colaborativa.

Sobre a atividade

1. É possível que algum estudante reconheça as cabaças, também utilizadas nos berimbaus de capoeira, que são bastante conhecidos e foram vistos quando abordamos a obra de Naná Vasconcelos. Outros elementos que podem chamar a atenção são os botões embutidos na cabaça inferior, que lembram botões de guitarras elétricas, e o arco, que também é utilizado para tocar instrumentos de cordas, como violino, violoncelo e contrabaixo acústico.

Faça no caderno.

  1. Você conhece algum dos materiais que o ar­tista usou para montar esse instrumento? Já tinha visto algum deles em outros instrumentos musicais?
  2. Como você imagina que esse instrumento seja tocado?

Na verdade, ele oferece várias possibilidades sonoras: uma delas é tocar suas cordas com o arco, semelhante ao modo como se toca um violino, ou ainda em pizzicatoglossário . Simultaneamente, pode-se também tocar os dois sininhos localizados na parte de trás com um anel de metal.

O nome do instrumento é vina e se assemelha ao instrumento indiano da imagem a seguir, que, em português, também se chama vina. Essa semelhança não é mera coincidência, uma vez que Ismeták se inspirava em concepções místicas de diferentes culturas, entre elas a indiana, para elaborar suas criações.

A vina indiana é um instrumento antigo e, no passado, era muito popular na Índia. Um dos mitos mais antigos daquela região conta que ela era o instrumento tocado por Sarasvatí, uma deusa associada à aprendizagem, à música e às artes de modo geral. A partir dele, desenvolveram-se outros instrumentos que são mais populares atualmente na Índia, alguns deles bastante conhecidos internacionalmente, como o sitár.

Fotografia. Vina, instrumento de corda, com um uma caixa de ressonância abaulada e superfície lateral ondulada. Tem um braço sobre o qual estão esticadas sete cordas, presas em um cavalete fixado na base do instrumento. Na outra extremidade, as cordas estão presas em sete tarraxas (cravelhas) redondas, usadas para afiná-las. A extremidade do braço é recurvada, com um adorno em forma de cabeça de animal semelhante a um dragão dourado. Na parte inferior do braço do instrumento há uma outra caixa de ressonância menor, em forma de pera achatada, com a superfície decorada com linhas vermelhas e amarelas sobre fundo verde e com imagens, ao redor da parte mais larga, de figuras humanas com auréolas douradas. O instrumento está deitado sobre as duas caixas de ressonância, e apoiado em um piso que parece coberto por um tapete de cor amarelada.
Este instrumento indiano é chamado vina. Comprimento: 1,20 m. Fotografia de 2014.
Orientações e sugestões didáticas

Orientações

Ampliamos aqui o que foi visto no capítulo 2 do 6º ano sobre a diversidade de tipos e qualidades de sons e instrumentos musicais, complementando com os áudios e contemplando a habilidade (ê éfe seis nove á érre dois um) da Bê êne cê cê. De modo geral, diversos áudios – incluindo-se os referentes a conteúdos de outros capítulos – podem ser utilizados a fim de analisar os diferentes sons e instrumentos presentes. Neste capítulo, isso é particularmente enfocado nos áudios que demonstram o som de instrumentos específicos e estão relacionados ao conteúdo da seção Foco no conhecimento.

Sugestão para o professor

Se possível, encontre e mostre à turma gravações do instrumento vina, de Ismeták. É possível encontrar algumas gravações on-line. Procure pela música intitulada “Mantran”, na qual é utilizado esse instrumento.

Sobre o sitár

O instrumento indiano sitár é ocasionalmente chamado de cítara. Porém, a rigor, cítara é o nome de um outro instrumento, de origem europeia, constituído por cordas esticadas sobre uma caixa de ressonância. O sitár tem um braço no qual as cordas, que vão além da caixa de ressonância, podem ser pressionadas para alterar o som. Ele se parece mais com o alaúde (instrumento comum na Europa medieval), porém com mais cordas e afinação bem diferente. Para demonstrar tais diferenças e semelhanças, é possível encontrar imagens dos instrumentos na internet buscando por seus nomes.

Para experimentar

Fabricando um instrumento

Você já fabricou um instrumento musical? Alguns são muito simples, como o chocalho, que pode ser feito apenas colocando-se grãos de feijão, milho ou arroz em um potinho vazio de iogurte e tampando-o ou colando dois desses potinhos cheios de grãos. Nesses casos, não é necessário seguir explicação nenhuma, não é mesmo?

O instrumento que vamos fazer aqui usa água para variar seus sons. Ele pode ser chamado de flauta-d'água.

Você vai precisar dos seguintes materiais:

  • um pedaço de tubo de pê vê cê com aproximadamente 20 centímetros de comprimento
  • um balão inflável
  • fita-crepe
  • água
Ilustração. Um tubo fino marrom com uma bexiga verde vazia nele, fixada em uma das extremidades por uma fita crepe bege que se desprende do rolo.
Ilustração. A mão esquerda de uma pessoa segura um tubo fino com a bexiga fixada em uma das extremidades, com a outra extremidade aberta colocada junto da boca de uma torneira aberta, enchendo a bexiga de água.
Ilustração. Rosto de uma pessoa que sopra a extremidade aberta de um tubo marrom.
Ilustração. Dois adolescentes tocando instrumentos feitos de tubo com uma bexiga fixada na extremidade de baixo. Uma menina de cabelo cacheado castanho usando camiseta e tiara amarelas, e ao lado dela um menino de cabelo liso castanho usando camiseta azul. Eles seguram o tubo com a mão direita, soprando a abertura na parte superior, e puxam a ponta da bexiga para baixo com a mão esquerda, esticando-a.
Orientações e sugestões didáticas

Sobre a seção Para experimentar

Atividades de experimentação sonora e manipulação de materiais para a produção de sons e instrumentos possibilitam a investigação e o conhecimento de timbres – conforme a habilidade (ê éfe seis nove á érre dois zero) da Bê êne cê cê – e de características de instrumentos musicais diversos – contemplando a habilidade (ê éfe seis nove á érre dois um). Essas atividades também trazem referências para quem, em algum momento, queira aprender a tocar ou a construir instrumentos musicais mais complexos. Com o instrumento construído, será possível explorar e analisar outros elementos constitutivos da música (como altura, intensidade e ritmo) e utilizá-lo em atividades de sonoplastia de cenas teatrais ou arranjos musicais.

Orientações: Para experimentar

Planeje previamente esta atividade, a fim de reservar tempo e espaço para que os estudantes possam providenciar os materiais necessários para a etapa de confecção. Como a construção desse instrumento é simples, a atividade pode ser conduzida passo a passo com toda a turma. O ideal é que o tubo utilizado não seja muito grosso, para que seja possível prender nele a boca do balão.

A técnica de sopro mencionada no item c é também usada para tocar outro instrumento: a zamponha, também conhecida como flauta de Pã. Essa embocadura também pode ser usada para fazer sons com garrafas.

Fique atento às diferenças entre os estudantes no que se refere à aptidão ou agilidade para realizar atividades manuais. Oriente-os a lidar com as diferenças, de modo que aqueles que tenham mais facilidade ajudem os que tenham dificuldade. Assim, é estimulado entre eles o espírito de companheirismo e solidariedade, fundamental para o fortalecimento de uma cultura de paz, que pode ser continuamente alimentada em todas as atividades coletivas desenvolvidas ao longo do ano.

Atividade complementar

Outra atividade de exploração sonora simples e interessante de ser feita utiliza garrafas e água. Nela se integra a exploração de variação de alturas com copos, sugerida no capítulo 2 do livro do 6º ano.

  • Providenciem algumas garrafas de plástico ou vidro.
  • Experimentem o som de cada uma soprando em sua boca do mesmo modo que na flauta-d’água.
  • Experimentem variar o som colocando água: quanto mais água, mais agudo.
  • Afinem cada uma em uma altura diferente e experimentem tocá-las juntas.
  • Conversem sobre os resultados sonoros.

Guarde as garrafas/os instrumentos. Você poderá usá-las adiante em outras atividades.

Foco na História

Fabricação de instrumentos e ancestralidade

Desde a Pré-História os seres humanos utilizam materiais provenientes da natureza para criar instrumentos musicais. Pesquisas científicas registram instrumentos fabricados há mais de 10 mil anos. Os mais antigos encontrados são flautas feitas de ossos de animais, como a da imagem a seguir.

Fotografia. Uma flauta com três furos espaçados e alinhados. O instrumento tem cor semelhante às de um galho de árvore seco, com manchas esbranquiçadas e formato irregular, indicando que é feita de um material natural.
Flauta óssea de aproximadamente 42 mil anos encontrada no sítio arqueológico de Geissenklösterle, Alemanha. Comprimento: 12,6 cm. Fotografia de 2009.

Também já foram encontrados tambores de argila, nos quais, pode-se deduzir, se prendiam peles de animais, possivelmente semelhantes aos da fotografia.

Fotografia. Dois instrumentos musicais. Item A: Tambor alto e estreito, em formato cilíndrico. Nas duas extremidades está afixada uma pele esbranquiçada de animal, com cordas estreitas semelhantes a fibras vegetais. Item B: Tambor baixo, largo e arredondado. Em uma das extremidades há uma pele marrom de animal, afixada ao instrumento por diversas cordas estreitas semelhantes a fibras vegetais, que estão entrançadas na outra extremidade aberta.
Tambores de argila feitos em uma oficina de arqueologia experimental, em Portugal, em 2010, a partir de modelos pré-históricos. Alturas: 24 centímetros (A) e 16 centímetros (B) . Diâmetros: 18 centímetros (A) e 26,5 centímetros (B).

Datando de períodos de 3 a 4 mil anos atrás, os primeiros instrumentos feitos de chifres de animais ou de metal foram encontrados em escavações realizadas no norte do continente europeu. Alguns instrumentos antigos aos poucos foram deixando de ser usados; outros, por estarem vinculados a práticas culturais fortemente relacionadas com a ancestralidade, ou por terem sonoridades específicas, dificilmente substituíveis por outros instrumentos ou materiais, são utilizados até hoje.

Entre os instrumentos que continuam sendo amplamente usados estão os tambores construídos a partir da escavação de um tronco de árvore. Eles são originários de regiões da África e da China. Um exemplo é o dúngu, oriundo do território onde hoje fica a República de Angola, na África. Mede pouco mais de 1 metro e é utilizado em diferentes contextos, desde cerimônias religiosas a atividades lúdicas, impulsionando o ritmo das músicas que fazem parte desses eventos. No Brasil, tambores com esse tipo de fabricação também estão presentes em práticas musicais. Podemos citar, por exemplo, o tambor curimbó, que em sua fabricação tradicional tem igualmente como base um tronco escavado, como os da fotografia. Ele é um dos instrumentos usados para tocar o Carimbó, manifestação cultural do estado do Pará que envolve dança e música.

Fotografia. Dois tambores curimbó. Eles estão lado a lado e identificados pelas letras a e b. Item A: Tambor cilíndrico com superfície lateral marrom.  O instrumento está sobre um estrado retangular feito de caules cortados semelhantes a taquara, apoiado sobre um terreno com vegetação rala. Item B: Tambor cilíndrico com superfície lateral azul. O instrumento está sobre um estrado retangular feito de caules cortados semelhantes a taquara, apoiado sobre um terreno com vegetação rala. Os tambores das fotografias a' e 'b' estão lado a lado, dispostos paralelamente.
Tambores curimbó do Carimbó de Maiandeua da vila de Fortalezinha, arquipélago de Maiandeua, Maracanã Pará. Alturas: 90 centímetros (A) e 85 centímetros (B). Diâmetros: 42 centímetros (A) e 40 cm (B). Fotografia de 2015.
Orientações e sugestões didáticas

Sobre a seção Foco na História

Nesta seção, são apresentados modos de construção de instrumentos que remetem à relação entre música e paisagens e a conhecimentos ancestrais. Refletir sobre modos antigos de fabricação de instrumentos, que guardam semelhanças com produções atuais em diferentes locais do mundo, inclusive no Brasil, contempla o tê cê tê Multiculturalismo – Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras. Contemplando a habilidade (ê éfe seis nove á érre um seis) da Bê êne cê cê, com base no conteúdo desta seção, procura-se analisar usos e funções da música associados a diferentes dimensões da vida, evocados a partir de instrumentos relacionados a contextos, técnicas ou paisagens antigas, das quais se podem perceber reflexos em práticas atuais.

Isso remete também a pesquisas arqueológicas com contextos culturais e paisagens em diferentes locais e períodos da história.

Sugestões para o professor

Algumas referências para conhecer mais sobre construção de instrumentos e brinquedos sonoros:

ADELSIN. Barangandão arco-íris: 36 brinquedos inventados por meninos. Belo Horizonte: Adelsin, 1997.

Acôsqui, Judith. Cotidiáfonos: instrumentos sonoros realizados com objetos do cotidiano. Buenos Aires: Ricordi, 1988.

TATIT, Ana; MACHADO, Maria S. Jogos e brinquedos com sucatas e outros materiais. In: TATIT, A.; MACHADO, M. S. 300 propostas de artes visuais. São Paulo: Loyola, 2003. página 226-267.

Atividade complementar

Ao final da seção Foco na História, é citado o gênero de música e dança paraense chamado carimbó. Proponha aos estudantes uma pesquisa, em livros, artigos disponíveis on-line, podcasts, vídeos, sites ou blogs, para que identifiquem, analisem e contextualizem esse gênero, de acordo com a habilidade (ê éfe seis nove á érre um nove) da Bê êne cê cê. Fornecemos algumas perguntas norteadoras para a pesquisa:

  • Como é o ritmo e que instrumentos musicais são utilizados no carimbó?
  • Que outros aspectos musicais é possível descrever?
  • Quais são as características da dança no carimbó?
  • Vocês conhecem outras manifestações semelhantes? Quais?

Se a pesquisa resultar em materiais sonoros ou audiovisuais, você poderá promover a apreciação deles.

Representando elementos da paisagem

Fotografia em preto e branco. Vista lateral de uma orquestra e seu regente. Em primeiro plano, à direita da imagem, homem de óculos, cabelos grisalhos, usando paletó escuro e camisa branca, com a cabeça levemente erguida, segura com a mão direita uma batuta inclinada para baixo, enquanto a outra mão entreaberta está erguida à frente. Em plano mais baixo, diante dele, sentados, estão os músicos da orquestra, cada qual com seu instrumento.
Villa-Lobos regendo uma orquestra em Paris, França. Fotografia da década de 1950.

Outro modo de relacionar-se musicalmente com uma paisagem é produzindo uma música inspirada em algum lugar, algum tipo de ambiente ou fenômeno da natureza. Você conhece alguma música parecida? Vejamos dois exemplos: uma música instrumental e uma canção.

O primeiro exemplo é uma composição instrumental do maestro e compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos (1887-1959). Ele buscou novas sonoridades em suas músicas feitas para orquestra. Nessa busca, fez adaptações em instrumentos musicais já existentes e, também, composições inspiradas em paisagens sonoras brasileiras.

O trenzinho do caipira” é a quarta parte da composição Bachiana brasileira nº 2, que compõe a série de nove composições intitulada Bachianas brasileiras, uma das obras mais conhecidas do artista. Nela, os sons e ritmos da orquestra estão organizados de modo a remeter aos sons de um trem se locomovendo pelo interior do Brasil. Entre esses sons, os instrumentos de percussão representam e enfatizam os ruídos e o movimento de uma locomotiva de trem; outros, de sopro, remetem a seus apitos, enquanto a Melodia e harmoniaglossário , envolventes, nos levam junto nesse passeio musical.

Orientações e sugestões didáticas

Orientações

Nesta página há conteúdos que podem levar a diversas pesquisas de aprofundamento relacionadas à linguagem musical: os conceitos de melodia e harmonia; o compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos; os instrumentos que compõem uma orquestra; entre outros temas. Sugira consultas em sites, blogs, podcasts ou, caso haja uma orquestra na cidade, entrevistas com o maestro e os músicos. Assim, os estudantes poderão ampliar as noções e práticas de pesquisa, incentivadas desde o primeiro livro da coleção.

Observação

A variedade de instrumentos apresentados neste capítulo possibilita apresentar a Organologia, ciência que estuda e classifica os tipos de instrumento. A classificação mais utilizada internacionalmente nomeia cinco categorias principais:

Idiofones: o som é produzido diretamente no corpo do instrumento, pela percussão, fricção, raspagem ou agitamento, sem a mediação de cordas ou membranas.

Aerofones: som produzido pela vibração do ar ou mediante sua passagem por arestas ou palhetas.

Membranofones: som produzido pela vibração de uma membrana ou pele tensionada.

Cordofones: som produzido mediante vibração de cordas tensionadas.

Eletrofones: utilizam corrente elétrica para produção ou ampliação de seus sons.

Explique essas categorias e solicite aos estudantes que analisem e classifiquem os instrumentos apresentados neste capítulo. (Respostas: flauta-d’água, flauta óssea, clarinete e trompete são aerofones; vina indiana é um cordofone; tambores de argila, curimbó, triângulo, zabumba, matraca, cajón e gonguê são idiofones; a vina de Ismeták é um misto de cordofone e idiofone.)

Essa análise contempla o tê cê tê ​​Ciência e Tecnologia, uma vez que apresenta esse campo de estudo científico (Organologia musical) dialogando diretamente com a área de Música; o procedimento de classificação, nesse caso dos instrumentos musicais, é um dos componentes da área científica.

Sobre “O trenzinho do caipira”

Anos após sua composição, o poeta Ferreira Gullar (1930-2016) fez uma letra para “O trenzinho do caipira”, dando-lhe uma versão como canção.

Sugestão para o professor

SOUZA, Marcus . de. Trenzinho do caipira: o musical e o poético se cruzam. Repositório de Trabalhos Públicos nid-ú éfe ésse jota, São João Del-Rei, 2010, página 1-10. Disponível em: https://oeds.link/jRkOF9. Acesso em: 25janeiro2022.

Para experimentar

Passeio de trem

  1. Busque na internet duas versões diferentes da música “O trenzinho do caipira”. Escute-as com atenção.
  2. Após a escuta, converse a respeito do que ouviu com os colegas e com o professor e responda às questões a seguir.
    1. Que descrições você consegue fazer dessa música e dos sons que fazem parte de sua composição?
    2. Que diferenças você identificou entre as gravações que ouviu?
  3. Na sequência, experimente simular com toda a turma um passeio de trem sonoro. Utilizem o que tiverem disponível (sons corporais, objetos, instrumentos musicais etcétera). Que paisagens serão vistas pela janela desse trem? Como podemos representá-las sonoramente?
Versão adaptada acessível

3. Na sequência, experimente simular com toda a turma um passeio de trem sonoro.

Utilizem o que tiverem disponível (sons corporais, objetos, instrumentos musicais etc.).

Que paisagens surgem na janela desse trem? Como podemos representá-las sonoramente?

3. Leia agora a letra da canção “A volta da asa-branca”. Após a leitura, compartilhe suas impressões com os colegas e com o professor.

A volta da asa-branca

Já faz três noites

Que pro norte relampeia

A asa-branca

Ouvindo o ronco do trovão

Já bateu asas

E voltou pro meu sertão

Ai, ai eu vou me embora

Vou cuidar da prantação

A seca fez eu desertar da minha terra

Mas felizmente Deus agora se alembrou

De mandar chuva

Pra esse sertão sofredor

Sertão das muié séria

Dos homes trabaiador

Rios correndo

As cachoeira tão zoando

Terra moiada

Mato verde, que riqueza

E a asa-branca

À tarde canta, que beleza

Ai, ai, o povo alegre

Mais alegre a natureza

Sentindo a chuva

Eu me arrescordo de Rosinha

A linda flor do meu sertão pernambucano

E se a safra não atrapaiá meus pranos

Que que há, ô seu vigário

Vou casar no fim do ano

A volta da asa-branca. Intérprete: Luiz Gonzaga. Compositores: Zé Dantas e Luiz Gonzaga. In: 50 anos de chão. Intérprete: Luiz Gonzaga. [S. l.]: érre cê á/Beemegê, 1996. 3 Cê dês. cedê 1, faixa 13.

Orientações e sugestões didáticas

Sugestão para o estudante

Concerto da Orquestra Sinfônica Juvenil Carioca (Rio de Janeiro) tocando, com a participação de um coral, a música “O trenzinho do caipira”.

Disponível em: https://oeds.link/omtWAk. Acesso em: 25 janeiro2022.

Sobre a seção Para experimentar

A atividade de escuta, apreciação e comparação entre duas versões de uma mesma música trabalha com os elementos constitutivos da música; explora e analisa fontes e materiais sonoros, reconhecendo timbres de instrumentos musicais diversos; e estimula a imaginação sonoro-musical e a expressão de ideias musicais de maneira individual, coletiva e colaborativa, contemplando as habilidades (ê éfe seis nove á érre dois zero), (ê éfe seis nove á érre dois um) e (ê éfe seis nove á érre dois três) da Bê êne cê cê.

Orientações: Para experimentar

  1. Sugestões: Interpretação do instrumentista carioca Egberto Gismonti. Disponível em: https://oeds.link/faDxqE. Acesso em: 3 maio 2022. Versão do grupo Uáquiti na qual os músicos usam instrumentos criados por eles, com timbres diversificados, atribuindo aspectos inovadores para a composição. Disponível em: https://oeds.link/8q4Hws. Acesso em: 3 maio 2022.
    1. Peça aos estudantes que ouçam mais de uma vez cada gravação, chamando a atenção para diferentes aspectos: “Que instrumentos tocam a melodia principal?”; “Quais parecem imitar os barulhos de um trem?”; “A música sugere imagens ou acontecimentos?”.
  2. Reúna instrumentos e objetos sonoros. Além dos sons do trem, incentive-os a imaginar paisagens por onde o trem passará e a criar modos de reproduzi-las sonoramente. Lembre-os de que podem usar também sons corporais. Inspirados nas gravações ouvidas e partindo das ideias dos estudantes, ajude-os a organizar a composição. Você pode sugerir ritmos que conduzam a execução sonora; dinâmicas (partes mais fortes, partes mais fracas); variações de andamento (mais lento, mais rápido); momentos para o surgimento ou encerramento de um som; modos de finalizar.
  1. A que região do Brasil a letra da canção “A volta da asa-branca” se refere?
  2. A letra cita características físicas da paisagem, de fenômenos da natureza, de uma ave comum nessa região na época de chuvas e também do canto desse pássaro. Várias delas fazem referência a aspectos sonoros do ambiente. Você consegue identificar essas citações? Comente com os colegas.

Essa canção nasceu de uma parceria entre Zé Dantas (1921-1962), médico e letrista da cidade de Carnaíba Pernambuco, e Luiz Gonzaga (1912-1989), músico nascido na cidade de Exu, no Sertão pernambucano, e considerado um dos grandes mestres da música popular brasileira.

Em sua trajetória artística, Luiz Gonzaga transitou entre as paisagens do Nordeste e do Sudeste do Brasil e foi um dos pioneiros na disseminação da música nordestina pelas outras regiões do país.

Fotografia em preto e branco. Homem vestindo camisa clara de mangas curtas, usando chapéu com abas levantadas decoradas e com fitas nas extremidades, preso por uma tira estreita em volta da cabeça, na altura da testa, e por outra tira que passa pelo pescoço, na altura do queixo. Ele canta em um microfone, enquanto segura uma sanfona; com a mão direita toca o teclado, que cobre todo o seu peito, e com a esquerda toca diversos botões pretos alinhados paralelamente em muitas filas, que estão em outra extremidade, fixada no braço pelo pulso por uma tira branca.
O músico Luiz Gonzaga, conhecido como Gonzagão, cantando e tocando sanfona em um show na década de 1980.

Faça no caderno.

Para pesquisar

Gênero musical baião

Entre os elementos culturais de origens nordestinas que Luiz Gonzaga popularizou, está o gênero musical glossário conhecido como baião.

Faça uma pesquisa em livros e na internet sobre esse gênero musical e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Onde ele surgiu?
  2. Quais são os instrumentos musicais mais utilizados para tocá-lo?
  3. Como é o ritmo básico do baião?
  4. Que músicas são exemplos desse gênero?

6. Escute demonstrações de padrões rítmicos de baião com triângulo e zabumba.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Orientações e sugestões didáticas

Sobre as atividades

  1. Ela se refere à região Nordeste (Sertão pernambucano). Os compositores utilizaram intencionalmente na letra alguns modos regionais de falar a língua portuguesa. A referência a aspectos ambientais característicos dessa região do Brasil contempla o tê cê tê Meio ambiente – Educação ambiental, e pode ser ampliada com atividades interdisciplinares que dialoguem com a área de Ciências da Natureza e com o componente curricular Geografia, da área de Ciências Humanas, incentivando a pesquisa sobre as características, diferenças e semelhanças entre as diversas regiões do país.
  2. Características físicas: “Rios correndo”, “As cachoeira tão zoando”, “Terra moiada”, “Mato verde”. Fenômenos da natureza: “relampeia”, “trovão”, “seca”, “chuva”. Pássaro e canto: “E a asa-branca / À tarde canta reticências”.

Sobre a asa-branca

A asa-branca é a maior espécie de pombos existente no Brasil. É uma ave migratória que sobrevoa o país desde o Nordeste até a região Sul. Foi citada em letras de canções que mencionam os habitantes do Sertão que também migram na época das secas em busca de locais menos áridos.

Orientações: Para pesquisar

Esta proposta de pesquisa contempla a habilidade (ê éfe seis nove á érre um nove) da Bê êne cê cê.

c. Como fonte de pesquisa referente a essa questão, escute com os estudantes o áudio de padrões rítmicos básicos do baião com os instrumentos zabumba e triângulo. Esses instrumentos, junto com pífanos ou sanfona, compõem a formação instrumental básica de diversos ritmos característicos da região Nordeste do Brasil, como baião, xote e marcha junina.

Pergunte aos estudantes se já viram ou tocaram esses instrumentos. O triângulo, de metal, é tocado com uma baqueta de mesmo material. Geralmente é apoiado no dedo indicador, que, junto com outros dedos da mesma mão, permite variar o timbre, ao segurar e abafar a vibração do metal, ou soltá-lo deixando-o vibrar. Com a baqueta, toca-se geralmente na parte interna do triângulo. Se possível, providencie um triângulo para levar à aula.

A zabumba – que pode ser vista à extrema direita da imagem central da página 17 no capítulo 1 – é um tipo de tambor que possibilita tocar em duas membranas, uma na parte de cima e outra na parte inferior do instrumento. Na superior, que produz som mais grave, toca-se com uma baqueta estofada chamada de maçaneta. Na inferior, com outra mais fina, uma espécie de vareta chamada de bacalhau. Com base no áudio, tentem reproduzir o ritmo com instrumentos ou objetos sonoros que tenham disponíveis, ou com sons corporais.

Cantos indígenas

7. Você já ouviu alguma música indígena? Se não, como imagina que ela seja?

As músicas indígenas também permitem ampliar nossa visão sobre as possibilidades de relação da arte com as paisagens. Os diversos povos indígenas, em geral, desenvolveram um modo de vida integrado com os ambientes das regiões em que habitam, usando o que necessitam para viver e interagindo respeitosamente com a natureza. Tudo isso se reflete também nas músicas que eles produzem.

Você vai conhecer um exemplo de música dos indígenas Tikmu’un, também chamados de Maxacalí. Eles vivem hoje em pequenas terras indígenas localizadas no nordeste do estado de Minas Gerais, próximo da divisa com o estado da Bahia, em uma população de cêrca de 2 076 indivíduos (informação de 2014). Os Maxacalí possuem um vasto repertório de cantos relacionados a muitas das espécies de animais e outros elementos presentes na região, que podemos considerar um importantíssimo registro, uma fonte de conhecimento a partir da qual cada nova geração pode aprender.

8. Observe esta imagem. Que animais, paisagens ou objetos você identifica nela?

Orientação para acessibilidade

Caso haja estudantes cegos na turma, verifique se eles têm em seus dispositivos algum aplicativo de acessibilidade que lhes permita o uso da câmera. Se necessário, oriente-os sobre a instalação de um desses aplicativos, buscando previamente opções gratuitas compatíveis.

Ilustração. Três grupos de figuras em diversas cores; o primeiro e o segundo grupos têm quatro colunas e oito linhas; o terceiro tem três colunas e oito linhas.
Todas as figuras têm palavras escritas acima delas, correspondendo à palavra na língua de um povo indígena, escrita com letras semelhantes às do alfabeto da língua portuguesa, acrescentadas por diversos sinais e símbolos. As 88 figuras representam, na maioria, animais e plantas, alguns fenômenos e elementos da natureza (Sol, Lua, chuva, cachoeira), e até objetos não indígenas (casa de alvenaria e helicóptero). Há somente duas figuras humanas.
Ilustração de Zé Antoninho Maxakali em que são retratadas várias espécies de animais e outros elementos com seu nome na língua maxakali. In: Tuní, Rosângela pê ponto êti áli. Cantos e histórias do gavião-espírito. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2009.
Orientações e sugestões didáticas

Sugestões para o professor

As palavras na tabela estão na língua maxakali. Se possível, ouça com os estudantes alguns dos cantos presentes no dêvedê que acompanha o livro:

Tuní, Rosângela (organizador). Cantos dos povos Morcego e Reméx-espíritos. Belo Horizonte: Fale/ú éfe ême gê: Literaterras, 2013.

A tabela poderá então ser usada para tentar identificar tais palavras nos cantos escutados.

Para aprofundamento sobre os cantos, você pode consultar os seguintes livros:

Tuní, Rosângela pê ponto e outrosCantos e histórias do morcego-espírito e do Reméx. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2009.

TUGNY, Rosângela pê ponto Escuta e poder na estética Tikmũ’ũn-Maxakali. Rio de Janeiro: Museu do Índio, 2011.

TUGNY, Rosângela pê ponto Cantos Tikmũũn: para abrir o mundo. Belo Horizonte: Editora da ú éfe ême gê, 2013.

Sobre as atividades

  1. A intenção é investigar as referências que os estudantes já possuem sobre músicas indígenas e, então, ampliá-las com base no conteúdo apresentado a seguir. Comente que as músicas desses povos geralmente estão relacionadas com seu modo de compreender a vida, o mundo e os seres que nele habitam, contemplando a habilidade (ê éfe seis nove á érre um seis) da Bê êne cê cê. Peça que fiquem atentos a isso nos exemplos apresentados neste capítulo, pois esses detalhes permitem perceber a riqueza e profundidade dessas produções estéticas e o que elas têm de inovador e muitas vezes surpreendente para os não indígenas.
  2. A tabela apresenta elementos presentes no repertório de cantos mencionado. Chame a atenção da turma para os desenhos da casa, do avião e do helicóptero, evidenciando que, diferentemente dos estereótipos construídos a respeito dos indígenas, suas produções culturais não estão relacionadas apenas ao que não indígenas consideram natureza, mas sim a todos os elementos com os quais eles se relacionam, em um mundo em constante transformação.

A tabela anterior foi elaborada por Zé Antoninho Maxakali, durante um trabalho coordenado pela Etnomusicólogo(a)glossário Rosângela Tuní, e mostra elementos do ambiente presentes nos cantos maxakali registrados e traduzidos nesse trabalho.

Veja a tradução de um desses cantos.

Chapéu vermelho

hãi hãi hãi

rabo marrom e chapéu vermelho

rabo marrom e chapéu vermelho


hou ai ou i ai

hou ai ooou


hoí hoí hoí

hoí hoí hoí

hoí hoí hoí


di di di di di di di di di di

di di di di di di di di di

di di di di di di di di di

di di di di di di di di di di


hoí hoí hoí

Ilustração. Paisagem natural; à esquerda, árvore; à direita, uma planta com várias folhas verdes. Ao fundo, montanhas; acima, céu e Sol. Sobrepostas à paisagem, dos lados e à frente, voam borboletas de asas vermelhas.

Tuní, Rosângela pê ponto organização. Cantos dos povos Morcego e Hemex-espíritos. Belo Horizonte: Fale/ú éfe ême gê: Literaterras, 2013. página 83.

9. Ouça o canto “Chapéu vermelho”. Após a escuta, compartilhe as suas impressões com os colegas e com o professor.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Note que há trechos sem tradução: trata-se de sons que fazem parte da música e, em alguns casos, se referem a algum aspecto sonoro relacionado a um animal. Há inclusive músicas compostas inteiramente com sílabas desse tipo; por exemplo, uma que se refere ao mangangá, um tipo de besouro, que é quase inteira entoada com a sílaba guêm, enfaticamente repetida, o que remete ao som produzido por esse inseto.

10. Você consegue identificar a que animal está se referindo a letra desse canto? E a que se refere a parte composta dos sons “di di di di direticências”?

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Das diversas possibilidades de relação entre música e paisagens apresentadas neste Sobrevoo, qual você achou mais interessante? Por quê?
  2. Em que lugar de sua cidade ou região você poderia conhecer mais sobre algum dos tipos de atividade musical apresentados neste Sobrevoo?
Orientações e sugestões didáticas

Orientações para a apreciação musical

Escute com os estudantes o áudio com o canto “Chapéu vermelho”. Comente que esse canto foi gravado durante um ritual em uma aldeia, e não em um estúdio, como as músicas que estamos acostumados a ouvir. Você pode perguntar a eles se perceberam isso ao escutarem o áudio. Os cantos indígenas geralmente são realizados coletivamente e em espaços comunitários, enquanto soam também sons do ambiente. Comente que a transcrição é uma tradução do canto, mas na gravação ouve-se o canto original, na língua dos Tikmu’un-Maxakali. Esse reconhecimento dos materiais sonoros contempla a habilidade (ê éfe seis nove á érre dois um) da Bê êne cê cê.

Sobre as atividades

10. Estimule a liberdade de interpretação e a imaginação dos estudantes. Em seguida, você pode apresentar a explicação presente no livro de TUGNY e outros (2009, página 400), que relaciona esse canto ao mico-leão-dourado, um tipo de primata presente na Mata Atlântica brasileira, e ao som que ele faz pulando de galho em galho.

Orientações: Para refletir

2. Esta atividade oferece uma oportunidade de, junto com a turma, desenvolver reflexões sobre os diferentes meios, espaços e equipamentos culturais de circulação da música e do conhecimento musical presentes no entorno dos estudantes, que são determinantes para a ampliação das possibilidades de relação entre música e paisagens, contemplando, assim, a habilidade (ê éfe seis nove á érre um sete).

Foco emreticências

Cantos indígenas e conhecimento

Fotografia. Homens indígenas com o torso nu, com pinturas corporais em tons de preto, vermelho e bege com formas geométricas. Alguns deles usam adereços na cabeça. Ao fundo há vegetação.
Indígenas da etnia Maxakali na aldeia Jaqueira com pintura corporal, durante a 21ª festa Aragwaksá em Porto Seguro (BA). Fotografia de 2019.

Conhecer um pouco mais sobre os saberes indígenas, seus mitos, rituais e modos de compreender o mundo e os seres que nele habitam permite entender que seus cantos são muito mais do que pode parecer à primeira leitura ou escuta.

A maioria dos cantos tikmu’un faz parte de rituais e, além de constituir uma espécie de registro de aspectos do ambiente no qual esse povo vive há muito tempo, também faz referência a mitos, a animais que vivem nas proximidades de suas aldeias, aos não indígenas, a povos-espíritosglossário e a objetos de ambientes urbanos. Com isso, sua produção musical envolve a contínua elaboração que fazem dos ambientes onde vivem e pelos quais transitam, em uma constante produção de conhecimento.

Os mitos e cantos podem ser considerados um dos meios de preservar e transmitir esses conhecimentos. A tradução mostrada como exemplo no Sobrevoo e a que apresentaremos a seguir fazem parte do repertório de cantos atribuídos a um dos 12 povos-espíritos cantores com os quais os Tikmu’un convivem. Trata-se do povo-espírito chamado de Xunĩm, que pode ser traduzido como “morcego-espírito”. Ou seja, quem fala sobre os outros animais nesses cantos-rituais é o morcego-espírito.

Orientações e sugestões didáticas

Sobre os “povos-espíritos”

O termo “povos-espíritos” é uma tentativa de tradução de conceitos indígenas. Esse tipo de tradução é delicado e pode levar a compreensões limitadas. Chame a atenção para a palavra espírito, que compõe essa tradução, adquirindo um sentido diferente do que tem em português. Nesse caso, ela não se refere apenas a aspectos imateriais, mas pode incluir aspectos de materialidade como cores, sons, imagens – referentes, por exemplo, aos animais relacionados ao termo.

Sugestão para o professor

Leia mais sobre a noção de “espírito” entre os indígenas em: CASTRO, Eduardo Viveiros de. A floresta de cristal: notas sobre a ontologia dos espíritos amazônicos. Cadernos de Campo (São Paulo – 1991), [sem local], volume 15, número 14-15, página 319-338, 2006. página 329.

Esta seção procura aprofundar a abordagem dos cantos Tikmu’un-Maxakali e os conhecimentos indígenas sobre o meio ambiente. Dessa fórma, são contemplados o tê cê tê Meio ambiente – Educação ambiental – e o tê cê tê Multiculturalismo – Diversidade Cultural e Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras.

Unidades temáticas da Bê êne cê cê

Música; Artes integradas.

Objetos de conhecimento

Contextos e práticas; Patrimônio cultural.

Habilidades em foco nesta seção

(ê éfe seis nove á érre um seis) Analisar criticamente, por meio da apreciação musical, usos e funções da música em seus contextos de produção e circulação, relacionando as práticas musicais às diferentes dimensões da vida social, cultural, política, histórica, econômica, estética e ética.

(ê éfe seis nove á érre um sete) Explorar e analisar, criticamente, diferentes meios e equipamentos culturais de circulação da música e do conhecimento musical.

(ê éfe seis nove á érre um nove) Identificar e analisar diferentes estilos musicais, contextualizando-os no tempo e no espaço, de modo a aprimorar a capacidade de apreciação da estética musical.

(ê éfe seis nove á érre três quatro) Analisar e valorizar o patrimônio cultural, material e imaterial, de culturas diversas, em especial a brasileira, incluindo suas matrizes indígenas, africanas e europeias, de diferentes épocas, e favorecendo a construção de vocabulário e repertório relativos às diferentes linguagens artísticas.

Zabelê

diodioi diodioi

ô ô ô ô ô ô

ô ô ô ô

ê ô ê ô ê ô

ô ê ôi ô ê ôi ô ê oi ô ê oi e ôi


vou-me embora, vou-me embora

vou-me embora com saudade

quando chegar, quando chegar

vou deitar com saudade


ô ô ô ê ô

ô ô ô ô ô

ô ô ô ê ô


guê guê guê guê guê

a cauda do peixe pequeno fez

guê guê guê guê


ô a ô ô a ô

ô ô ô ô ô a ô


minha imagem no ôlho

minha imagem no ôlho ouvindo

sobrinhas

olhem apenas ouvindo


zabelê no vale para & canta

zabelê na colina para & canta

zabelê no cume da colina para & canta

zabelê na encosta da colina para & canta

zabelê na outra costa da colina para & canta

zabelê na quebrada para & canta

zabelê na caída da quebrada para & canta

zabelê no outro lado do rio para & canta

zabelê na ilha do meio do rio para & canta

zabelê no cupinzeiro para & canta

zabelê em cima do cipó para & canta

zabelê ao lado da árvore para e canta


zabelê na árvore de fruto perfumado para & canta

zabelê com sêde desce à nascente & canta

zabelê ao mato volta & vai cantar

zabelê metido no mato vai cantar, vai cantar


ô ô ô ê ô ê ô

ê ô ô ô ê ô ê ô

Tuní, Rosângela pê ponto (Organização.). Cantos dos povos Morecegos e Reméx-espíritos. Belo Horizonte: Fale/ú éfe ême gê: Literaterras, 2013. página 65.

Faça no caderno.

  1. No canto Zabelê, Xunĩm (morcego-espírito) fala sobre esse animal, uma ave que habita as matas de Minas Gerais e do Nordeste do Brasil. Lendo a letra, o que você percebe sobre o comportamento dessa ave e sobre o ambiente onde ela vive?
  2. Que sons de animais estão representados nesse canto?

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Que diferenças e semelhanças você nota entre os cantos indígenas aqui apresentados e outras músicas que você conhece?
  2. O conteúdo estudado nesta seção mudou de alguma maneira seu modo de ver as músicas indígenas? Por quê? O que esse tipo de música pode nos ensinar sobre a relação com o ambiente?
Orientações e sugestões didáticas

Orientações

Em diálogo com a turma, aprofunde a compreensão sobre o canto “Zabelê”. A segunda estrofe se refere a diálogos entre os morcegos-espíritos: alguns disseram que iriam embora com saudades, outros ficaram, então também sentiram saudades (Tuní e outros, 2009).

Nem sempre os pesquisadores conseguem compreender os significados do material pesquisado, porém fazem suas interpretações com base em análises científicas.

Os morcegos são cegos, porém têm um sistema auditivo acurado: podem ouvir sons muito agudos que os ouvidos humanos não captam e usam os sons para se localizar e voar sem bater em nada, isto é, constroem imagens pela escuta, “imagem no ôlho ouvindo”, ou olham “apenas ouvindo”. Em TUGNY e outros (2009, página 397), as frases citadas se direcionam às mulheres, que, em tais rituais, são orientadas a não olhar diretamente para os morcegos-espíritos, em respeito a eles. Devem desviar o olhar quando se aproximam, ou seja, “olhar apenas ouvindo”.

Sobre as atividades

  1. Os estudantes deverão responder à questão a partir da leitura da letra do canto. Se necessário, ajude-os a destacar todas as ações do pássaro e os locais da paisagem onde ele transita.
  2. Estão representados: o canto do zabelê, na parte inicial e naquelas com os sons “ô” e “ê”. E também, conforme mencionado na letra, o som feito pela cauda de um peixe: “guê guê guê guê guê”. Esse modo de representar sons do ambiente, com imitações sonoras, ou seja, onomatopeias, está presente também em vários outros cantos indígenas.

Sobre as atividades: Para refletir

  1. Comente que as práticas musicais indígenas geralmente envolvem toda a comunidade ou grande parte dela e muitas vezes estabelecem relações com mitos e rituais. Entre os não indígenas, há aspectos semelhantes, mas, de modo diferente, há músicas ligadas ao entretenimento ou à propaganda. Em ambos os contextos há cantos em momentos de celebração.
  2. Os cantos indígenas geralmente expressam conhecimentos e o modo como esses povos se relacionam com o ambiente e com os seres que nele habitam. As músicas maxakali apresentadas registram aspectos da fauna e da flora da região onde os indígenas habitam e fazem parte de um vasto repertório de cantos, importante fonte oral de conhecimentos sobre tais paisagens. Esse estudo a respeito de cantos indígenas contribui também para minimizar estereótipos construídos a respeito de indivíduos e culturas indígenas, fazendo com que os estudantes estejam atentos para identificar discursos que, equivocadamente, inferiorizam tais pessoas e suas produções culturais e que, portanto, podem ser caracterizados como falácias.

Foco no conhecimento

Timbre e densidade

Na área musical, há conceitos que classificam as qualidades do som e que podem ajudar a descrever diferentes paisagens sonoras. Dois deles são: timbre e densidade.

Você consegue diferenciar o som produzido ao percutir em um objeto de metal do som de um objeto de madeira? E o som de um piano do som de um violão?

A qualidade de cada som que permite fazer essas diferenciações está associada ao material do qual o instrumento é feito e ao modo de tocá-lo. Isso é o que chamamos de timbre. Esse termo não foi usado diretamente em partes anteriores deste capítulo, mas tratamos de timbre em vários momentos, ao falar dos diferentes materiais usados para fabricar um instrumento, ou das inovações de Villa-Lobos nas sonoridades das composições para orquestra, ou ainda ao falar de sons produzidos por diferentes animais que os Maxakali reconhecem e representam em seus cantos. Observe também que um mesmo instrumento pode sofrer variações de timbre, dependendo da técnica que for usada para tocá-lo, como é o caso dos instrumentos de corda, que podem ser tocados com a técnica de pizicátu ou com arco, alterando, assim, o timbre do som que produzem.

O termo densidade, comumente usado para se referir a qualidades de materiais líquidos, sólidos ou gasosos, também pode ser usado no contexto musical, para falar da quantidade de sons que soam ao mesmo tempo. Quanto mais sons simultâneos, maior a densidade sonora.

1. Ouça sons de diferentes instrumentos de madeira e de metal.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

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Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

1. Levando em consideração a explicação anterior, deduza: o que é mais denso sonoramente, o som produzido por um pássaro ou o som de um enxame de abelhas? O som de um instrumentista fazendo um solo ou de uma orquestra inteira tocando em conjunto? Justifique suas respostas.

Orientações e sugestões didáticas

Orientações

É mais produtivo associar as explicações a exemplos práticos: leve objetos ou instrumentos de diferentes materiais e faça exercícios de reconhecimento dos objetos pelos seus sons, para trabalhar a noção de timbre. Para trabalhar a noção de densidade, proponha aos estudantes exercícios de percepção da quantidade de instrumentos tocando ao mesmo tempo.

Sobre a atividade: Para refletir

1. De modo a evitar confusões, destaque que o conceito de densidade se refere à quantidade de sons e não à quantidade de instrumentos. Afinal, pode haver variação de densidade mesmo ao usar apenas um instrumento, se ele puder emitir tanto uma nota sozinha como várias ao mesmo tempo, como é o caso de um violão ou de um piano.

Unidade temática da Bê êne cê cê

Música.

Objetos de conhecimento

Elementos da linguagem; Materialidades.

Habilidades em foco nesta seção

(ê éfe seis nove á érre dois zero) Explorar e analisar elementos constitutivos da música (altura, intensidade, timbre, melodia, ritmo etcétera), por meio de recursos tecnológicos (games e plataformas digitais), jogos, canções e práticas diversas de composição/criação, execução e apreciação musicais.

(ê éfe seis nove á érre dois um) Explorar e analisar fontes e materiais sonoros em práticas de composição/criação, execução e apreciação musical, reconhecendo timbres e características de instrumentos musicais diversos.

Orientações para a escuta dos áudios

Apresente os áudios sem falar sobre os instrumentos. Peça que deduzam com base em seus timbres: “De que material ele é feito?”; “Como é tocado?”. Complemente, informando:

  • matraca: idiofone de madeira.
  • Carrôn: idiofone de madeira.
  • clarinete: aerofone do naipe orquestral denominado de “madeiras” (composto de instrumentos nos quais a produção do som ocorre por meio da vibração de uma palheta por meio de sopro).
  • gonguê: idiofone de metal.
  • trompete: aerofone do naipe orquestral “metais” (instrumentos nos quais o som é produzido por meio de sopro com vibração dos lábios).

Anteriormente, os estudantes ouviram os sons de um membranofone, a zabumba, e de um idiofone de metal, o triângulo.

Processos de criação

Agora, que tal representar uma paisagem sonora?

  1. Reúna-se com seus colegas em um grupo de quatro integrantes.
  2. Escolham um ambiente conhecido ou imaginado por vocês para ser recriado musicalmente e elaborem uma lista de sons que existem nele, atentando-se para os timbres e as densidades sonoras.
  3. Na sequência, cada grupo pesquisará e escolherá os procedimentos, que podem variar, para recriar ou representar os sons e o ambiente. Veja algumas sugestões:
    1. Utilizar instrumentos musicais; percussão corporal; sons de diferentes objetos, presentes na escola ou que vocês levem para a aula.
    2. Construir instrumentos para reproduzir sons imaginados.
    3. Compor uma letra de música descrevendo o ambiente.
    4. Utilizar músicas que já existam e que vocês considerem ter relação com esse ambiente.
    5. Outros procedimentos inventados por vocês.
  4. Feitas as escolhas e invenções, os grupos apresentarão para a turma o seu ambiente, sem dizer qual é, e verão se a turma consegue reconhecê-lo.
  5. Após as apresentações dos grupos, compartilhem suas impressões sobre a atividade com os colegas e com o professor.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. O que levou o grupo a escolher esse ambiente para recriar?
  2. Como foi recriá-lo sonoramente? Ele ficou parecido com o que você imaginava ou houve surpresas?
  3. Algo nessa atividade foi desafiador para você? O que aprendeu com ela?
Orientações e sugestões didáticas

Nesta seção, é proposta uma atividade de criação sonoro-musical coletiva relacionada ao tema do capítulo.

Unidade temática da Bê êne cê cê

Música.

Objetos de conhecimento

Elementos da linguagem; Materialidades; Processos de criação.

Habilidades em foco nesta seção

(ê éfe seis nove á érre dois zero) Explorar e analisar elementos constitutivos da música (altura, intensidade, timbre, melodia, ritmo etcétera), por meio de recursos tecnológicos (games e plataformas digitais), jogos, canções e práticas diversas de composição/criação, execução e apreciação musicais.

(ê éfe seis nove á érre dois um) Explorar e analisar fontes e materiais sonoros em práticas de composição/criação, execução e apreciação musical, reconhecendo timbres e características de instrumentos musicais diversos.

(ê éfe seis nove á érre dois três) Explorar e criar improvisações, composições, arranjos, jingles, trilhas sonoras, entre outros, utilizando vozes, sons corporais e/ou instrumentos acústicos ou eletrônicos, convencionais ou não convencionais, expressando ideias musicais de maneira individual, coletiva e colaborativa.

Orientações

A atividade pode ser realizada em uma única aula, com o que estiver disponível na escola, ou pode envolver um processo de pesquisa extraclasse por meio do qual os estudantes levem novos objetos, materiais ou músicas para a recriação de cada ambiente.

Na etapa 2, você pode apresentar exemplos: uma praia, uma praça, uma feira, o fundo do mar, o interior de uma espaçonave, uma floresta, o pátio da escola na hora do intervalo etcétera

Na etapa 3, ao falar em representar, podem-se citar como exemplos músicas apresentadas no Sobrevoo, como “O trenzinho do caipira” e “A volta da asa-branca”. Nelas, os sons do ambiente não são reproduzidos diretamente, mas os elementos musicais (e da letra, no caso da canção) fazem referência a alguns desses sons ou a um ambiente de modo geral. Assim, são modos de representá-los.

Se algum grupo escolher o caminho da etapa 3b, sugerimos pesquisar mais sobre o trabalho de Walter Ismeták e do grupo Uáquiti.

Organizando as ideias

Fotografias. Painel formado por quatro faixas de imagens, nas quais não aparece a cena completa. Da esquerda para a direita: tanque de fundo azul cheio de água com tigelas brancas flutuando; perte de um instrumento musical com uma caixa de ressonância em forma de pera achatada; homem tocando sanfona e cantando em um microfone; e indígenas dançando em roda ao por do Sol.

Neste capítulo, você pôde perceber que a interação entre a música e os ambientes pode acontecer de muitas maneiras, seja alterando diretamente a paisagem sonora, representando elementos do ambiente musicalmente, seja criando instrumentos musicais. Também viu que isso pode ser feito em diferentes estilos musicais, com canções e músicas ins­trumentais; em diferentes culturas, como as músicas indígenas; ou unindo diferentes linguagens artísticas, como na instalação sonora apresentada na abertura do capítulo. Além disso, conheceu os conceitos de timbre e densidade e experimentou recriar sonoramente um ambiente.

Para concluir, reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

Faça no caderno.

  1. Volte à pergunta-título deste capítulo e responda: Como a música interage com a paisagem?
  2. Reflita com os colegas: com base no que foi apresentado e experimentado neste capítulo, que novas maneiras de interagir musicalmente com as paisagens do local onde vocês vivem é possível imaginar?
  3. Que descobertas você fez ao longo deste capítulo? O que você gostaria de continuar aprofundando?
Orientações e sugestões didáticas

Unidade temática da Bê êne cê cê

Artes integradas.

Objeto de conhecimento

Contextos e práticas.

Habilidade em foco nesta seção

(ê éfe seis nove á érre três um) Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política, histórica, econômica, estética e ética.

Orientações

Estimule a autoavaliação no que se refere ao envolvimento de cada estudante nas propostas sugeridas, compreensão do conteúdo estudado e colaboração para o aprendizado coletivo.

Sobre a atividade

2. Esta é uma oportunidade para avaliar o que os estudantes apreenderam do conteúdo estudado, de que modo o assimilaram e o que foi mais marcante para cada um. É importante incentivá-los a responder de memória e com as próprias palavras, sem recorrer ao livro. Você pode estimular reflexões lembrando a turma dos procedimentos dos artistas apresentados no capítulo (representação musical de elementos do ambiente, criação de instrumentos etcétera) e perguntando a eles quais desses procedimentos acham que podem fazer também.

Glossário

Paisagem sonora
Conjunto de sons de um ambiente. Refere--se aos sons naturais, aos sons artificiais, aos ruídos ou às músicas presentes no ambiente. Esse conceito começou a ser utilizado no contexto musical na década de 1960 por mãrrei xáfer (1933-2021), compositor e teórico musical canadense.
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Pizzicato
Palavra em italiano que significa "beliscado". É uma das técnicas usadas para tocar instrumentos de corda. Em instrumentos como violino, violoncelo e contrabaixo acústico, consiste em tocar diretamente com o dedo em vez de usar o arco, pinçando e movendo a corda. Isso resulta em uma sonoridade de aspecto mais abafado, bem diferente de quando se toca com o arco. No violão, a técnica de pizzicato também inclui um leve abafamento das cordas, usando a parte lateral da palma que está junto ao corpo do violão, ou tocando bem de leve com os dedos que pressionam as cordas no braço do instrumento.
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Melodia e harmonia
A melodia é a parte de uma música que, em geral, fica mais facilmente registrada em nossa memória; é a sequência de notas que se destaca quando cantada ou tocada em um instrumento melódico. Harmonia é a palavra que usamos para nos referir às notas tocadas simultaneamente ao longo de uma música, e que conduzem o discurso realizado pela melodia. Para exemplificar tudo isso, imagine uma música cantada e acompanhada ao violão. Nesse caso, a melodia é o que se canta, e a harmonia inclui o acompanhamento feito ao violão, quando soam várias notas ao mesmo tempo.
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Gênero musical
Categoria de classificação de tipos diferentes de música, considerando aspectos como padrões rítmicos e melódicos; instrumentos musicais utilizados; contexto histórico e geográfico (época e local de produção), entre outros. Alguns exemplos de gêneros musicais diferentes são: baião, bolero, choro, funk, maracatu, moda de viola, rap, rock'n'roll, samba, sertanejo, trance e techno.
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Etnomusicólogo(a)
Pessoa que estuda a música relacionada a outras dimensões da vida, dentro de uma cultura ou de comunidades específicas, como músicas de um povo indígena ou músicas de ciganos de determinada região do mundo.
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Povos-espíritos
Sujeitos não humanos com os quais os indígenas convivem em seus rituais ou sonhos e que geralmente também são citados em seus mitos. O conceito muitas vezes também está relacionado a algum animal e pode referir-se tanto ao animal físico como ao animal “espiritual”.
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