CAPÍTULO 8 Festas e celebrações

Fotografia. Em primeiro plano, alegoria de um boi com manto bordado colorido com temas florais e destaque de imagem de uma mulher ao centro. Abaixo, a sequência do manto em azul brilhante. Nos chifres do boi, colares unidos pelas pontas dos chifres e na base, adornos rendados. Ele está voltado para a direita. À direita, uma pessoa de costas usa um chapéu pontudo colorido e brilhoso e camisa vermelha com bordados coloridos.
Festa de Bumba meu boi em São Luís (Maranhão). Fotografia de 2016.

São inúmeros os tipos de festas e celebrações, no Brasil e no mundo, relacionados a tradições e crenças que passam de geração em geração.

1. Você conhece alguma delas? Qual?

Neste capítulo, você conhecerá festas e celebrações de diversas culturas e locais. Elas marcam a passagem do tempo, renovam a devoção a determinadas divindades ou concepções espirituais e rememoram histórias tradicionais.

2. Observe a imagem da abertura do capítulo. Que elementos artísticos chamam sua atenção?

A imagem retrata um momento de uma festa de Bumba meu boi do Maranhão, que ocorre três vezes por ano. Cada uma delas representa um evento: o nascimento, o batizado e a morte do boi. O enredo, apresentado por músicas e uma dramatização, conta a história de um boi que era muito querido por seu dono. Um dia, esse boi é roubado por um personagem chamado Pai Francisco, pois sua esposa, Catirina, estava grávida e com desejo de comer a língua do animal. Quando o boi é encontrado pelos vaqueiros, ele parece estar morto. Curandeiros são convocados para cuidar dele, até que conseguem reanimá-lo.

  1. Você já participou de alguma festa de Bumba meu boi? Conte aos colegas e ao professor o que você sabe sobre esse festejo tradicional.
  2. Escute a toada de Bumba meu boi “Até a Lua”, de Ana Maria Carvalho.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

Eu já falei com os olhos

Que te amo e você não ouviu

Eu já falei com as mãos

Que te quero e você não sentiu

Eu já fui até a lua pra tentar te convencer

E acabei conquistando a lua

Só não conquistei você

Eu já fui até a lua pra tentar te convencer

E acabei namorando a lua

Só não namorei você.

Eu já falei com os olhos

Que te amo e você não ouviu

Eu já falei com as mãos

Que te quero e você não sentiu

Eu já fui até a lua pra tentar te convencer

E acabei conquistando a lua

Só não conquistei você

Eu já fui até a lua pra tentar te convencer

E acabei namorando a lua

Só não namorei você.

Canção "Até a Lua”, de Ana Maria Carvalho


Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

[Locutor] Olá, hoje a nossa entrevista é com a cantora e atriz Ana Maria Carvalho. Seu trabalho autoral tem grande influência do estado onde nasceu, o Maranhão. Um dos destaques é a festa do Bumba Meu Boi.

[Ana Maria Carvalho] Bom dia, eu sou a Ana Maria Carvalho, eu nasci em Cururupu, norte do Maranhão. Eu comecei minha vida profissional na infância, porque, enquanto os adultos trabalhavam, nós brincávamos. Brincávamos de Bumba Boi, de Tambor de Criola, de bordar as pequenas indumentárias dos nossos bois, das brincadeiras de infância do quintal.

[Locutor]  O festejo do Bumba Meu Boi é uma tradição da sua família?

[Ana Maria Carvalho]  O meu pai era amo de boi. E toda família brincava junto, os vizinhos, a família, e meu pai agregava pessoas e, com isso, nós fomos crescendo nesse universo. Nessa cultura familiar, né? Toda vez que a gente vai ao Maranhão, a gente leva algo de novo, que contribui para a cultura lá. Por isso que ele nasce, morre, ressuscita e morre novamente. Porque o ritual da morte do boi é você matar tudo que já foi, que está sobrando e, quando o boi renasce, ele renasce com muita força, com muita luz, com prosperidade. Esse é o renascer do boi. É o renascer para novo momento, para novo ciclo. Para contemplar, para nos alimentar.

[Locutor] As festas são feitas com qual intenção?

[Ana Maria Carvalho]  As festas do boi são feitas, primeiro, em homenagem a São João, né? A partir daí, São João gosta de alegria, de cores, de gente... então essa festa é uma celebração e ao mesmo tempo uma agregação, porque agrega pessoas, grupos diferentes de tambor de criola, de cacuriá, de coco, dança do coco, dança do baralho, dança do nenê, então essa festa é um abraçar, digamos assim.

[Locutor] E como são essas festas?

[Ana Maria Carvalho]  Logo no início do mês de junho, as pessoas se reúnem para fazer os ensaios, para organizar a indumentária, para preparar o alimento para essas pessoas que vão para a festa. E, quando vem mais ou menos, lá pelo dia 15 de junho, as pessoas já se preparam para ir para a área urbana, onde tem os grandes festejos, né? E aí todos os bois da ilha de São Luís vão para a área urbana, para os arraiais, os encontros na igreja de São Pedro. No dia 29 de junho tem um grande encontro da igreja de São Pedro, com ladainhas marítimas. Esse ritual permanece por umas duas semanas direto dentro da cidade de São Luís. Muitos arraiais, muitas festas, muitos grupos diferentes fazem parte desse festejar, né? Então são grupos convidados que vão festejar esse momento. Existem vários ritmos que são chamados de sotaques, não é? Então todos esses grupos têm suas particularidades. Por exemplo, o Boi de Zabumba, o Boi de Costa de Mão, o Boi de Matraca, que é chamado também de Boi de Ilha, o Boi de Orquestra. Cada Boi tem a sua história, o seu ritmo, a sua indumentária diferente, a sua poesia.

Estúdio: Núcleo de Criação

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Quais são as celebrações das quais você participa durante o ano? O que você celebra nessas festas?
  2. Quais são o significado e a importância dessas celebrações para você? O que faz com que você se sinta próximo ou distante delas?

SOBREVOO

Encontro entre o mundo material e o imaterial

Neste Sobrevoo, serão apresentadas celebrações relacionadas a diferentes culturas em diversos locais do mundo. Em todas elas, as pessoas se reúnem, por motivos diversos, para comemorar uma tradição comum e se identificar com um coletivo ou comunidade. Em muitos casos, associadas a essas celebrações, há histórias tradicionais ou atividades vinculadas a algum tipo de crença religiosa.

Fotografia. Vista de multidão caminhando em uma rua em procissão. No meio da multidão, um andor dourado e vermelho com a escultura de uma santa dentro é carregado pela multidão.
Círio de Nazaré em Belém (Pará). Fotografia de 2019.

Fé, música e comunhão

Faça no caderno.

1. Observe a imagem. Você consegue identificar o que está retratado nela? Você já participou de alguma celebração semelhante a essa?

Titulo do carrossel
Imagem meramente ilustrativa

Gire o seu dispositivo para a posição vertical

Conta-se que na cidade de Belém (Pará), por volta de 1700, um homem chamado Plácido José de Souza encontrou, em um igarapéglossário denominado Murucutu, a imagem de uma santa. Ele a levou para casa, mas ela desapareceu e, no outro dia, foi encontrada novamente no mesmo local. Isso aconteceu repetidas vezes. A imagem era de Nossa Senhora de Nazaré, já cultuada então na Vila de Nazaré, em Portugal. Conta-se que ela foi levada ao Palácio do Governo, de onde também desapareceu, reaparecendo na capela que Plácido José havia construído às margens do igarapé Murucutu. O culto à santa foi crescendo entre a população, até ser oficializado pelos jesuítas da época.

Até hoje, a santa é a padroeira da cidade. Em sua homenagem, é celebrado um dos maiores eventos religiosos do mundo em termos de concentração de pessoas, o Círio de Nazaré. O evento se concentra no segundo fim de semana de outubro e é composto por várias procissões dedicadas à santa. Um destaque é a enorme corda de sisal, de 50 milímetros de diâmetro e 800 metros de comprimento, dividida em duas partes de 400 metros cada uma. É carregada pelos fiéis e disposta em formato linear, segmentada em cinco estações confeccionadas em duralumínio que ajudam a dar tração à corda e ritmo às romarias.  As atividades envolvem procissões nas quais as pessoas transportam objetos que representam promessas e também uma romaria fluvial, que geralmente acontece no sábado e reúne muitos barcos nas águas da Baía do Guajará, que banha as cidades de Belém e Barcarena (Pará). O domingo é o dia principal, quando os fiéis fazem, a pé, o percurso de aproximadamente 4 quilômetros transportando a berlinda com a imagem de Nossa Senhora. Depois da procissão, a imagem fica em exposição por 15 dias, na Praça Santuário de Nazaré, para visitação dos devotos.

Um elemento importante para a comunhão dos fiéis é o hino, especialmente dedicado à Nossa Senhora de Nazaré, “Vós sois o lírio mimoso”.

2. Leia um trecho da letra do hino. Você percebe alguma semelhança com alguma outra música religiosa? E alguma diferença?

Vós sois o lírio mimoso

Vós sois o lírio mimoso

Do mais suave perfume

Que ao lado do santo esposo

A castidade resume


Ó Virgem mãe amorosa

Fonte de amor e de fé

Dai-nos a bênção bondosa

Senhora de Nazaré!

reticências


Vós sois a ridente aurora

De divinais esplendores

Que a luz da fé avigora

Nas almas dos pecadores

FARIA, Euclides. Vós sois o lírio mimoso, 1909.

O hino foi composto pelo poeta Euclides Faria (1846-1911) em 1909 e até hoje é cantado nas procissões e também em carros de som ou palcos montados nas ruas.

Existem hinos nas religiões cristãs desde suas origens. Já existiam, inclusive, hinos religiosos judeus, dos quais alguns dos primeiros hinos cristãos descendem. Um exemplo de antigo hino cristão é aquele dedicado a São João Batista, que serviu de base para a denominação das notas musicais (do, ré, mi, fá, sol, lá e si). Você se lembra disso?

Festa de encenação de uma guerra

Em algumas cidades das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, acontece outra importante festividade religiosa do país: as Cavalhadas. Entre as mais famosas, estão as Cavalhadas da cidade de Pirenópolis (Goiás), uma festa que dura três dias seguidos, realizada após a Festa do Divino Espírito Santoglossário , que, por sua vez, acontece 50 dias após a Páscoa.

  1. Observe a imagem. Quais elementos dela você destacaria?
  2. Com qual período histórico você relaciona esses elementos?
Fotografia. Cinco homens uniformizados com roupas de manga longa vermelhas e azuis e chapéus pretos montados em cavalos adornados com mantos vermelhos cavalgam para a direita em um espaço aberto, com chão de terra. O primeiro deles cavalga sozinho, e atrás dividem-se duas duplas de cavaleiros. Eles seguram cada um na mão direita uma haste com uma pequena bandeira. Ao fundo, quatro galpões e uma árvore com flores roxas.
Cavalhada em Poconé (Mato Grosso). Fotografia de 2018.

Nas Cavalhadas, são encenados os torneios medievais europeus e as históricas batalhas entre os exércitos cristão e mouro. Originalmente, as Cavalhadas foram criadas com o objetivo de expandir o cristianismo: por meio da reencenação dos conflitos, a festa exaltava as batalhas cristãs contra os mouros lideradas pelo imperador romano e cristão Carlos máguino (742-814).

Atualmente, as Cavalhadas encenam a guerra entre cavaleiros de religiões diferentes e, ao mesmo tempo, propõem um espaço festivo, de diversão, celebração, jogo e encontro.

A encenação acontece em um campo de batalha ao ar livre, onde se posicionam 12 cavaleiros, representando os cristãos, paramentados de azul e, do outro lado, outros 12 cavaleiros, representando os mouros, paramentados de vermelho. Há uma hierarquia em cada exército: no mais alto posto, figura o rei; abaixo dele, está o embaixador; e, logo abaixo, os dez cavaleiros restantes. Os cavaleiros de ambos os lados, assim como seus cavalos, são ornamentados: as indumentárias e os adereços usados nas Cavalhadas são preparados por artesãos meses antes de a festividade ter início – e vêm se tornando cada vez mais luxuosos.

Ao longo de três dias, turistas e pessoas da cidade se reúnem para assistir às Cavalhadas ou participar delas. A encenação do conflito medieval tem três etapas – a batalha, a rendição e, por fim, o torneio – e constitui um exemplo de teatro ao ar livre. No último dia, os cavaleiros desfilam pelas ruas da cidade em direção à igreja, onde oram e celebram o sucesso das Cavalhadas.

Da mesma maneira que os palhaços são figuras profanas na Folia de Reis, nas Cavalhadas participam figuras mascaradas que têm uma função específica. Esses mascarados vestem roupas coloridas, luvas, botas e se adornam com flores, fitas, plantas etcétera A função das máscaras é cobrir o rosto dos atuantes para não serem reconhecidos; em geral, representam figuras de animais, tais como o boi, a onça e o macaco. Eles são também conhecidos como Curucucus e se comunicam com os outros participantes da festa por meio de um tom de voz fanhoso. Enquanto os cavaleiros encenam uma luta em nome da fé, os mascarados causam algazarra pelas ruas: pedem comida e outros presentes aos passantes e os divertem com acrobacias e brincadeiras. Diz-se que, no meio da encenação da guerra entre cristãos e mouros, os mascarados representam o papel do povo – em oposição ao pertencimento da figura dos cavaleiros à nobreza. Assim, os mascarados, agindo com deboche, podem ser considerados figuras críticas da festa e da própria batalha.

5. Observe a imagem a seguir. Quais diferenças você observa entre essas figuras e os cavaleiros das Cavalhadas? As figuras mascaradas fazem você se lembrar de algo? Quais detalhes podem ser observados em sua indumentária?

Fotografia. Duas pessoas fantasiadas com roupas quadriculadas vermelha e branca. Elas usam máscaras de bois brancas com destaque em vermelho para olhos, nariz e boca. Nos chifres da máscara, um cordão liga uma ponta à outra e no meio há fitas vermelhas penduradas. Usam botas de montaria e luvas pretas. Cada pessoa está montada em um cavalo, e cada cavalo está vestido com um manto quadriculado vermelho e branco que vai do lombo até a cabeça e com um colar de flores no pescoço.
Mascarados nas Cavalhadas de Pirenópolis (Goiás). Fotografia de 2020.

6. Quais elementos mais chamam sua atenção nesse caso? Por quê?

Os antepassados vivos na memória e nos costumes

No México, a celebração coletiva que envolve pessoas de todas as classes sociais e de todas as regiões do país está ligada à festa de Todos os Santos e dos Fiéis Mortos. Ela é mundialmente conhecida como Dia dos Mortos e acontece de 31 de outubro a 2 de novembro na maioria das cidades mexicanas. No Brasil, é dedicado à memória dos mortos o dia 2 de novembro, Dia de Finados.

7. Observe a imagem do altar preparado para receber os mortos de uma família no México. Quais elementos você identifica? Em que difere das tradições brasileiras do Dia de Finados? Em que se assemelha a elas?

Fotografia. Um altar, que inicia com uma fotografia na parede e se estende até o chão, em degraus, com esculturas de caveiras e crânios e porta-retratos com fotografias de pessoas colocadas próximas. Há flores e velas acesas à frente do altar, além de pétalas espalhadas no piso.
Altar para a celebração do Dia dos Mortos na Cidade do México, México, 2019.

8. Como são os rituais relacionados à morte em sua comunidade? Como você e sua família preservam a memória dos antepassados mortos?

Nessas datas, as famílias mexicanas se reúnem para lembrar seus mortos e recebê-los em uma visita ao mundo dos vivos. Trata-se de uma tradição milenar, com origens na era pré-colombiana, na cultura das civilizações maia e asteca, entre outras, que foram dominadas e extintas a partir do século dezesseis, com a colonização espanhola.

Esses povos ocupavam grande parte da América Central antes da colonização e acreditavam que a morte era apenas mais uma etapa da existência humana. Para eles, existiam diferentes lugares para onde alguém pode ir após a morte; o principal deles é mitlán, governado por mitlán téquili e mítecáci uát, o senhor e a senhora do Reino dos Mortos. Segundo essa crença, o destino após a morte depende mais do modo como se morre do que da conduta, boa ou má, durante a vida. E a vida não acaba com a morte: ambas estão contidas uma na outra e são forças de criação e regeneração.

Os elementos materiais e ritos dessa festa são a prova de que a cultura dessas civilizações pré-colombianas permanece nas tradições e costumes do povo mexicano, apesar das tradições católicas implantadas pelos colonizadores. As flores cor de laranja, chamadas ­cempachútil, presentes em todos os altares, simbolizam a brevidade da vida; as velas acesas e o cheiro de incenso guiam o caminho dos mortos; as comidas e bebidas os alimentam após a longa jornada desde a saída do mitlán para o mundo dos vivos. O motivo da visita dos mortos é comemorar a prosperidade que eles garantem aos vivos e a proteção que oferecem. A visita também relembra os valores aprendidos com as gerações anteriores e com as tradições dos antepassados. Essa festa é o momento de aprender e transmitir conhecimentos e fortalecer as tradições locais que fazem parte da cultura mexicana.

los vierrítos

Em lugares como o estado de Oaxaca, encontramos a figura de Los Viejitos, ou uêuêntônes: homens vestidos com roupas velhas, mas limpas, que usam máscaras com aberturas nos olhos e grandes chapéus chamados sombreros. Eles visitam as casas de pessoas da comunidade, junto com um grupo de músicos, para dançar e cantar. Representam as almas que chegam para festejar com os vivos e lhes trazer ensinamentos com as músicas e os versos que cantam e declamam.

As celebrações dedicadas aos mortos no México procuram lembrar aos participantes a brevidade da existência no mundo dos vivos. Por trás dessas celebrações, está a reflexão de que o tempo constitui o ser humano e que as histórias podem manter vivos os seres que passaram para o outro mundo. Manter a conexão com os mortos, preservando seus ensinamentos e sua obra material, é um modo de mantê-los vivos.

Fotografia. À esquerda,  pessoa usando roupas brancas, uma máscara de idosa, com cabelos loiros feitos de palha e chapéu de palha com fitas coloridas que saem do topo do chapéu, e manto colorido. Ela está apoiada em uma bengala de madeira com as duas mãos. Ao fundo, uma mulher de vestido colorido segura um violão. Ao lado dela, um homem de chapéu de palha e poncho segura um violino.
Los Viejitos, ou uêuêntônes, e músicos ao fundo, em uma festividade do Dia dos Mortos em Michoacán, México. Fotografia de 2018.

Foco na História

O fenômeno da morte: suas festas e rituais

Como você viu na festa dos mortos mexicana, há muitas maneiras de as pessoas se relacionarem com o fenômeno da morte. Em algumas delas, alguns elementos estéticos, tais como vestimentas, músicas e ações realizadas coletivamente, estão presentes e, assim como no México, algumas culturas celebram essa passagem por meio de festas e rituais.

No filme Sonhos, dirigido pelo cineasta japonês aquira curossáua (1910-1998), especificamente no episódio “O vilarejo dos moinhos”, pode-se identificar um exemplo de um ritual que celebra a morte. Nas cenas, vê-se um viajante que chega a um pequeno povoado. Nesse local, ele presencia o funeral de uma mulher idosa realizado de maneira alegre e considerado pelos que seguem vivos como indício de boa sorte.

Diversas religiões existentes no mundo também optam pela celebração como maneira de se relacionar com a experiência da morte. Enquanto a prática espiritual do budismo tem ritos que celebram a morte e a memória do falecido, organizando, muitas vezes, festas coletivas, o cristianismo propõe uma fórma de luto que lida com recolhimento, o uso de vestes de tons escuros e constantes orações por parte dos familiares que perderam seus parentes.

Fotografia. Em primeiro plano, algumas velas acesas em pedras, ao ar livre. À esquerda, um homem passa um objeto para uma criança vestida de branco. Ao lado, uma mulher com as mãos em oração olha para uma menina pequena que está ao lado dela. Ao lado da menina, um menino agachado diante das pedras. À direita, uma mulher vestida de azul, de costas, as mãos em oração, olha para as crianças. Ao fundo, aparecem túmulos.
Cerimônia fúnebre budista para confortar as almas de mortos desconhecidos, em Quioto, Japão. Fotografia de 2017.

Para os cristãos, o Dia de Finados é muito importante, já que é nele que se celebram todos os mortos sepultados fazendo uma visita aos seus túmulos e uma oferenda de flores.

Os hindus, por sua vez, quando perdem algum ente próximo, lavam-se logo ao chegar em casa após o funeral, pois consideram que seu corpo está contaminado pelas impurezas da morte. Também é uma prática hindu a reclusão em casa por um período de uma a cinco semanas após o sepultamento, fruindo de uma dieta composta apenas de alimentos leves.

Em algumas regiões islâmicas, quando alguém morre, são contratados profissionais que declamam o texto do Alcorão ao lado da sepultura. As palavras do livro sagrado teriam o poder de iluminar o caminho da alma em direção à sua existência eterna.

Alguns judeus também têm o costume de, após comparecer ao funeral e antes de chegar em casa, parar em algum estabelecimento comercial e pedir algo doce para comer. Eles acreditam que, dessa fórma, despistam a morte e disfarçam na boca o gosto amargo do luto.

Tradição e renovação

Você vai conhecer agora uma celebração à vida: a chegada do Ano-Novo. Essa comemoração é universal, ainda que em cada lugar do mundo seja festejada de modo particular. Celebrar a passagem de ano é uma maneira simbólica de encerrar um ciclo, assim como de renovar expectativas para viver mais uma fase da vida.

9. Você reconhece o que está acontecendo nesta imagem? O que chama a sua atenção nas vestimentas dos personagens? E no cenário?

Fotografia. No centro, alegoria de leão chinês nas cores laranja e vermelha. Ele está voltado para a direita e apoiado sobre uma das patas traseiras em cima de um pilar, que é parte de um conjunto de  pilares coloridos e estão dispostos sobre uma base vermelha. À esquerda da imagem, em destaque, ornamento colorido com plumas azuis. À direita, no chão, alegoria de animal em vermelho, voltado para o leão. Ao fundo, atrás de um cercado de contenção, muitas pessoas olham a cena.
Dança do Leão em comemoração do Ano-Novo chinês em Pequim, China. Fotografia de 2021.

O Ano-Novo é o evento mais comemorado entre os chineses e, geralmente, é celebrado em família ou entre amigos. Não se trata apenas de um dia de festa, mas de um período de aproximadamente 15 dias que dá as boas-vindas ao novo ciclo. Assim como aqui no Brasil, as comemorações têm início no último dia do ano e terminam com o Festival de Lanternas. Durante esses 15 dias, são realizados festivais com muita comida e apresentações de dança e música. Atualmente, as festividades se estendem por comunidades ligadas à cultura oriental em diversos países, incluindo o Brasil, onde ocorrem especialmente em São Paulo (São Paulo), no bairro da Liberdade.

Nos dias que antecedem o Ano-Novo, pela tradição, as famílias devem limpar todos os cantos de suas casas para deixar para trás tudo “de ruim” que aconteceu naquele ano, ficando abertas e purificadas para receber o que o novo ano trará. Com tudo limpo, a véspera do Ano-Novo é o momento para decorar as casas com lanternas e cartazes com boas-vindas em tons de vermelho, a cor que os chineses associam à boa sorte e à prosperidade. Há quem diga que o uso do vermelho vem de uma antiga lenda: no primeiro dia do ano, o monstro Nian (que em chinês significa ano) surgia nas vilas, procurando por comida. Um dia, alguém notou que Nian tinha medo de vermelho e de barulho e, a partir de então, as pessoas passaram a usar essa cor e a soltar fogos de artifício no Ano-Novo para espantá-lo.

A China é um dos países mais populosos do mundo e possui um dos maiores territórios habitáveis; por esses motivos, há variações na fórma como os chineses celebram o Ano-Novo nas diferentes partes do país. De todo modo, eles fazem uso de práticas tradicionais para atrair sorte e fortuna e espantar o mal.

10. Quais são as tradições de passagem de ano em sua família? Você conhece a origem ou a razão de tais costumes? Se não sabe, pergunte aos seus pais e avós. Depois, troque com a turma as informações e identifique quais tradições são comuns entre todos.

Duas práticas tradicionais nos festivais que marcam a chegada do Ano-Novo chinês são as danças do Dragão e do Leão.

11. Observe a imagem da Dança do Dragão em uma comemoração do Ano-Novo chinês. Como parece ser o movimento do dragão? Quais são as características do animal fantástico e do grupo de dançarinos? Como eles estão integrados?

Fotografia. Um homem com roupa vermelha e máscara de proteção respiratória segura uma haste presa abaixo da cabeça de um boneco que representa um dragão chinês, que está elevado acima da cabeça dele. Atrás, outro homem com roupa vermelha e máscara de proteção respiratória segura uma haste de sustentação do corpo do dragão. Atrás dele, veem-se pernas de outras pessoas na sequência do corpo do dragão. À direita, dragões dispostos em fileira. Ao fundo, atrás de grades de contenção, diversas pessoas olham a cena.
Dança do Dragão em comemoração do Ano-Novo chinês em Pequim, China. Fotografia de 2021.

A Dança do Dragão é realizada por um grupo de pessoas que levam sobre si uma armação em formato de dragão, com estrutura feita de madeira, alumínio ou plástico. Com cabeça de dragão e corpo de serpente, a estrutura é manipulada por meio de hastes, que possibilitam que os dançarinos sincronizem os movimentos, como em um grande boneco. O tamanho do dragão depende do local onde será realizada a dança e da importância da cerimônia, podendo ir de 20 a mais de 50 metros de comprimento. Acredita-se que, quanto mais longa, mais sorte a figura trará.

A presença do dragão na cultura chinesa é muito antiga e não se limita apenas a esse evento – para os chineses, os dragões fazem parte do seu mito de criação do mundo, simbolizam fórça, poder e sabedoria. É comum o uso de imagens de dragões junto às casas das pessoas, para que tragam boa sorte.

A tradição da Dança do Leão também é muito antiga: conta a lenda que, em sonho, um estranho ser salvou a vida de um imperador. Ao acordar, o imperador descreveu o sonho às pessoas que o serviam e mandou que procurassem o animal. Um imperador de outras terras enviou à China um leão e, ao vê-lo, o imperador o identificou como a criatura de seu sonho, tornando-o um animal especial na cultura chinesa. Assim, a figura do leão passou a ser associada à ideia de proteção contra o mal, sendo usada em diversos contextos.

12. Utilizar objetos que tenham ou não a fórma de seres fantásticos como uma proteção simbólica não é uma tradição exclusiva da China. Você conhece alguma tradição, brasileira ou estrangeira, na qual um objeto é visto como símbolo de proteção contra “coisas ruins”?

Ícone. Tema contemporâneo transversal: Multiculturalismo.

Faça no caderno.

Para pesquisar

Celebrações ao redor do mundo

Que tal continuar conhecendo celebrações pelo mundo? Além de descobrir modos diferentes de festejar, você pode saber mais sobre a cultura de outros países.

  1. Reúna-se com os colegas em um grupo de cinco integrantes.
  2. Cada grupo escolhe uma entre as sugestões a seguir:
    1. Lovolo ou Lobolo (Moçambique).
    2. nourruz (Irã).
    3. pêssa (Israel).
    4. som crãm (Tailândia).
  3. De acordo com a escolha do grupo, deve ser organizada uma pesquisa (na internet, em livros, em filmes etcétera) que recolha dados sobre:
    1. O contexto da festa (lugar onde acontece, momento do ano etcétera).
    2. As filosofias, os costumes e hábitos da sociedade do país onde a festa ou celebração acontece.
    3. O modo como a filosofia e os costumes sociais se relacionam com a celebração.
  4. Após o desenvolvimento da pesquisa, apresentem aos colegas e ao professor as descobertas de seu grupo. Isso pode ser feito em uma roda de conversa, se possível, com o apoio de um projetor para que possam mostrar à turma as imagens e os vídeos encontrados.
  5. Para concluir, reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.
    1. O que você conheceu sobre a cultura dos países pesquisados? E o que mais lhe interessou? Por quê?
    2. Quais são as principais diferenças entre essas festas?
    3. Quais características dos modos de viver de cada povo são expressas durante essas festas?

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Você percebeu algum aspecto em comum entre as celebrações apresentadas?
  2. De que modo as festas promovem o encontro entre os mundos material e imaterial?
  3. De acordo com seu ponto de vista, quais elementos artísticos se destacam em cada uma das manifestações?

Processos de criação

Este ano, você e seus colegas conheceram uma série de obras, artistas, rituais e outras manifestações culturais ligadas ao mundo imaterial. Certamente você também realizou diversas criações ao longo desse trajeto. Agora, com o auxílio do professor, você e seus colegas organizarão uma celebração de encerramento das aulas de Arte, em que cada um partilhará algo que viveu ou criou ao longo do ano. A proposta é que cada membro da turma escolha algo que simbolize o que foi vivido para partilhar nesse encontro.

Para isso, você pode:

  1. Revisitar o seu diário de bordo do começo do ano até o momento, retomando todos os seus escritos e as suas reflexões.
  2. Listar tudo o que você criou ao longo do ano: músicas, cenas, movimentações corporais, coreografias, obras visuais, filmes etcétera
  3. Rememorar as pesquisas realizadas ao longo do ano – assim como os artistas, obras ou outras manifestações culturais que mais chamaram a sua atenção.

Terminada essa revisita aos seus materiais, escolha algo para apresentar para o restante da turma nessa celebração coletiva. Você pode tanto criar algo novo como reapresentar uma criação que você tenha realizado. A fórma da sua ação pode ser uma música, uma cena, uma dança ou algo de expressão visual.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Como foi o seu processo de escolha e criação ou recriação da ação que você partilhou?
  2. Quais momentos mais chamaram a sua atenção no encontro de celebração?
  3. Como foi a atmosfera desse encontro final de celebração?

Organizando as ideias

Recorte de quatro imagens, da esquerda para a direita: Imagem 1: detalhe de fotografia. Parte da alegoria de um boi, coberto com manto colorido no pescoço e com chifres adornados com colar, de ponta a ponta dos chifres, e enfeites de renda na base dos chifres; de costas, pessoa com roupa e chapéu pontudo coloridos e brilhantes. Imagem 2: detalhe de fotografia. Homem uniformizado com roupas vermelhas e azuis e chapéu preto, montado em um cavalo com manto vermelho em um campo de terra; o homem carrega uma haste com pequena bandeira azul na mão direita. Imagem 3: detalhe de fotografia. Uma pessoa usa roupa branca, uma máscara de idosa, com cabelos loiros feitos de palha e chapéu de palha com fitas coloridas que saem do topo do chapéu, e manto colorido. Ela está apoiada em uma bengala de madeira. Imagem 4: detalhe de fotografia. Alegoria de leão chinês nas cores laranja e vermelha. Ele está apoiado sobre um pilar vermelho com a pata traseira direita. Ao fundo, atrás de grades de contenção, pessoas observam a cena.

Neste encerramento do livro do 8º ano, você conheceu diferentes tipos de celebrações e pôde refletir sobre alguns de seus elementos estéticos e a representação de aspectos imateriais em cada uma delas. Faça agora uma reflexão final, buscando também na memória conhecimentos adquiridos ao longo dos estudos deste ano.

Compartilhe suas respostas às seguintes perguntas com os colegas e com o professor.

Faça no caderno.

  1. O que você conheceu neste capítulo mudou seu modo de compreender as celebrações que você conhece e das quais participa durante cada ano? Em quê? Por quê?
  2. Com base no que foi apresentado aqui, que relações foi possível estabelecer com conteúdos de outros capítulos?
  3. Que conteúdos técnicos de artes visuais, dança, música e teatro você aprendeu neste ano?
  4. Quais descobertas você fez ao longo deste capítulo? O que você gostaria de continuar aprofundando no próximo ano?

Glossário

Igarapé
Pequeno trecho de rio, geralmente em região cercada de mata.
Voltar para o texto
Festa do Divino Espírito Santo
Celebração tradicional católica cujo objetivo é homenagear a terceira pessoa da santíssima trindade, ou seja, o espírito santo.
Voltar para o texto