CAPÍTULO 3 O imaterial na música

Reprodução de manuscrito. À esquerda, formas geométricas coloridas, abaixo, uma pessoa de perfil sentada segura um tambor. À direita, um animal vermelho e com detalhes coloridos segura um chocalho com as mãos. Ao redor, retângulos com figuras diferentes em uma mesma posição e animais de cores diferentes, sendo: 1. Uma pessoa com braços abertos e uma cabeça verde. 2. Uma pessoa com braços abertos e uma cabeça vermelha. 3. Uma pessoa com braços abertos e uma cabeça branca com a língua de fora. 4. Uma pessoa com braços abertos e um leque. 5. Uma pessoa com braços abertos e uma cabeça de peixe. 6. Uma pessoa com braços abertos e uma cabeça de dois peixes. 7. Uma pessoa com braços abertos, atrás um pássaro marrom. 8. Uma pessoa com braços abertos, atrás, um pássaro verde. 9. Uma pessoa com braços abertos, atrás, um pássaro rosa. 10. Uma pessoa com braços abertos, atrás, um pássaro com chifres. 11. Uma pessoa com braços abertos, atrás, um pássaro com cabeça azul. 12. Uma pessoa com braços abertos, atrás, um pássaro transparente. 13. Uma pessoa com braços abertos, acima, um pássaro verde. 14. Uma pessoa com os braços para cima, acima um pássaro branco. 15. Uma pessoa com braços abertos, acima, pássaro laranja. 16. Uma pessoa com braços abertos, acima, pássaro estampado. 17. Uma pessoa com braços abertos, acima, pássaro cinza. 18. Uma pessoa com braços abertos, acima, pássaro laranja. 19. Uma pessoa com braços abertos, acima, elefante. 19. Uma pessoa com braços abertos e uma coroa, acima uma bolinha. 20. Uma pessoa com braços abertos e cabeça de dragão verde, acima duas bolinhas. 21. Uma pessoa com braços abertos e a cabeça de um dragão vermelho, acima três bolinhas. 22. Uma pessoa com braços abertos e um objeto transparente, acima quatro bolinhas. 23. Uma pessoa com braços abertos e um lagarto, acima cinco bolinhas. 24. Uma pessoa com braços abertos e uma cobra, acima seis bolinhas. 25. Uma pessoa com braços abertos e uma caveira, acima sete bolinhas. Há textos em alguns retângulos.
CODEX borbônicus (detalhe). 1562-1563. Manuscrito asteca. Biblioteca do Palácio de Bourbon, Paris, França.
Orientações e sugestões didáticas

Sobre o capítulo

Este capítulo, “O imaterial na música”, relaciona-se às Unidades temáticas da Bê êne cê cê: Música; Artes integradas.

Objetivos

De acordo com as Competências específicas do Componente Curricular Arte, os conteúdos trabalhados neste capítulo buscam levar os estudantes a:

  1. Explorar, conhecer, fruir e analisar criticamente práticas e produções artísticas e culturais do seu entorno social, dos povos indígenas, das comunidades tradicionais brasileiras e de diversas sociedades, em distintos tempos e espaços, para reconhecer a arte como um fenômeno cultural, histórico, social e sensível a diferentes contextos e dialogar com as diversidades.
  1. Pesquisar e conhecer distintas matrizes estéticas e culturais – especialmente aquelas manifestas na arte e nas culturas que constituem a identidade brasileira –, sua tradição e manifestações contemporâneas, reelaborando-as nas criações em Arte.
  1. Desenvolver a autonomia, a crítica, a autoria e o trabalho coletivo e colaborativo nas artes.
  2. Analisar e valorizar o patrimônio artístico nacional e internacional, material e imaterial, com suas histórias e diferentes visões de mundo.

Sobre a imagem

A imagem que abre este capítulo é página de um códice ou codex, tipo de manuscrito antigo, posterior aos rolos de pergaminho. Trata-se do Codex chiuacoatou – também conhecido como Codex borbônicus –, que é uma espécie de livro-calendário associado aos Astecas.

Ícone. Tema contemporâneo transversal: Multiculturalismo.

1. O que você identifica como material e imaterial nas práticas musicais que conhece?

Entre os elementos materiais, podemos citar os instrumentos musicais, incluindo o corpo humano e diversos outros objetos que podem ser usados para fazer música, como foi mostrado no livro do 6º ano. Também podemos considerar os elementos físicos das paisagens e dos espaços onde se faz música, que podem interferir na experiência musical, como confirmam alguns exemplos no livro do 7º ano.

Os elementos imateriais da linguagem musical (como timbre, ritmo, melodia, harmonia, entre outros) podem ser associados a outros elementos imateriais (como tempo, emoções, significados, fórmas, símbolos, divindades etcétera), dependendo das experiências pessoais ou das tradições e culturas às quais estão vinculados.

Há diversas fórmas de registrar os aspectos imateriais que fazem parte da vida e da música, seja pela memória, seja pelas palavras de diferentes línguas, ou por meio de desenhos e pinturas, como na imagem da abertura do capítulo, que reproduz parte de um antigo manuscrito do povo Asteca.

2. Observe a imagem: que elementos imateriais você associa a esses desenhos? Você identifica algum registro musical neles? Onde?

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Que sons ou músicas você relaciona com espiritualidade, ancestralidade ou outros elementos imateriais?
  2. Juntos, pensem: vocês lembram ou conhecem músicas ou sons que tenham o mesmo sentido ou significado para pessoas de diferentes culturas ou regiões?
Orientações e sugestões didáticas

Sobre as atividades: Para refletir

2. Podem ser lembrados desde sinais sonoros que auxiliam na organização de uma comunidade – como o sinal que demarca o início e o fim do intervalo em escolas, a campainha de um ônibus –, além de músicas relacionadas a eventos religiosos, festejos da cidade ou datas compartilhadas internacionalmente (como o Natal, entre outras).

Justificativa

Neste capítulo, retomaremos alguns elementos imateriais da linguagem musical já abordados nesta coleção. Veremos possíveis relações entre eles e outros elementos imateriais – como tempo, ancestralidade e espiritualidade – e aprofundaremos o que já foi visto sobre melodia e ritmo. Desse modo, amplia-se o conhecimento acerca da linguagem musical relacionando-a diretamente a aspectos da vida individual ou coletiva – de diferentes culturas, que muitas vezes agregam sentidos e relevância a práticas musicais diversas.

Para todas as questões propostas no capítulo serão dadas “Respostas pessoais.”.

Sobre a atividade

2. O principal, inicialmente, é realizar a leitura da imagem estimulando o levantamento de hipóteses acerca da relação desses desenhos com elementos imateriais e musicais, exercitando a curiosidade intelectual e a elaboração de hipóteses. Com base nisso, apresente interpretações já desenvolvidas por pesquisadores a respeito do que está representado nesses desenhos. Uma hipótese corroborada por pesquisas etnomusicológicas (Tuní, 2011) é que estão representadas na imagem entidades cantoras presentes na cosmologia do povo que produziu esses desenhos. De acordo com essa hipótese, a música aparece na fórma de arabescos que saem da boca das entidades ou do tocador de tambor presente no detalhe maior – arabescos que parecem se transformar em outros desenhos, espalhados em volta das duas figuras. Além disso, essas entidades, nos desenhos menores, estariam representadas em sua fórma espiritual e em sua fórma animal – dialogando com o que foi explorado no livro do 7º ano sobre os povos-espíritos com os quais os Tikmũũn-Maxacáli convivem e cantam. Ao abordar fórmas de registro gráfico de elementos imateriais da música, o trabalho com esta abertura de capítulo contempla a habilidade (ê éfe seis nove á érre dois dois) da Bê êne cê cê e o tê cê tê Multiculturalismo Diversidade cultural.

SOBREVOO

Aspectos imateriais em práticas musicais

Fotografia. Destacando uma torre com um sino. Abaixo, um relógio com números romanos.
Sino da Igreja Nossa Senhora do Pilar, em São João del-Rei (Minas Gerais). Fotografia de 2018.

Faça no caderno.

1. Você já ouviu o toque de algum sino como o dessa imagem? E de sinos de outros tipos?

Orientações e sugestões didáticas

Nesta seção são apresentadas possibilidades de associação de aspectos sonoros e musicais com elementos imateriais.

Unidades temáticas da Bê êne cê cê

Música; Artes integradas.

Objetos de conhecimento

Contextos e práticas; Elementos da linguagem; Materialidades; Notação e registro musical; Processos de criação; Patrimônio cultural.

Habilidades em foco nesta seção

(ê éfe seis nove á érre um seis) Analisar criticamente, por meio da apreciação musical, usos e funções da música em seus contextos de produção e circulação, relacionando as práticas musicais às diferentes dimensões da vida social, cultural, política, histórica, econômica, estética e ética.

(ê éfe seis nove á érre um nove) Identificar e analisar diferentes estilos musicais, contextualizando-os no tempo e no espaço, de modo a aprimorar a capacidade de apreciação da estética musical.

(ê éfe seis nove á érre dois zero) Explorar e analisar elementos constitutivos da música (altura, intensidade, timbre, melodia, ritmo etcétera), por meio de recursos tecnológicos (games e plataformas digitais), jogos, canções e práticas diversas de composição/criação, execução e apreciação musicais.

(ê éfe seis nove á érre dois um) Explorar e analisar fontes e materiais sonoros em práticas de composição/criação, execução e apreciação musical, reconhecendo timbres e características de instrumentos musicais diversos.

(ê éfe seis nove á érre dois dois) Explorar e identificar diferentes fórmas de registro musical (notação musical tradicional, partituras criativas e procedimentos da música contemporânea), bem como procedimentos e técnicas de registro em áudio e audiovisual.

(ê éfe seis nove á érre dois três) Explorar e criar improvisações, composições, arranjos, jingles, trilhas sonoras, entre outros, utilizando vozes, sons corporais e/ou instrumentos acústicos ou eletrônicos, convencionais ou não convencionais, expressando ideias musicais de maneira individual, coletiva e colaborativa.

(ê éfe seis nove á érre três quatro) Analisar e valorizar o patrimônio cultural, material e imaterial, de culturas diversas, em especial a brasileira, incluindo suas matrizes indígenas, africanas e europeias, de diferentes épocas, e favorecendo a construção de vocabulário e repertório relativos às diferentes linguagens artísticas.

Esse sino é de uma igreja católica em São João del-Rei (Minas Gerais). Nessa cidade, além dos toques para marcar as horas do dia e o horário das missas, os sinos são parte de uma tradição muito antiga: diferentes toques são utilizados para indicar diversas situações da vida na comunidade, como festejos ou ritos fúnebres. Atentando-se aos nomes de alguns toques, é possível perceber a variedade de cerimônias religiosas ou de eventos do cotidiano aos quais se associam: Toque de Finados, Toque de Treva, Toque de Parto, Ângelus, A Senhora é Morta, Toque de Cinzas, Toque de Incêndio, Toque de Natal, Toque Chamada de Sineiros, Toque de Ano-Novo. Para executar esses toques, são usados conjuntos de até sete sinos de diversos tamanhos com diferentes combinações rítmicas. Além disso, há maneiras distintas de se golpear os sinos: pancadas, badaladas e repiques são realizados com o sino parado; já o dobre é realizado com o sino em movimento. Para momentos festivos, os toques são mais animados, com andamento mais rápido; para momentos relacionados à morte, os toques são mais lentos, mais contemplativos.

Ilustração. Ícone do Para ouvir.

Vários vídeos na internet mostram toques de sinos como os comentados aqui, basta procurar em alguma ferramenta de busca por “toques de sinos” ou pelo nome dos toques citados no texto.

As pessoas que guardam e transmitem os conhecimentos sobre esses toques e suas técnicas de execução são chamadas sineiros. Em São João del-Rei, somando profissionais e aprendizes, há mais de 50 deles. A imagem a seguir mostra dois sineiros atuando em uma igreja da cidade.

Fotografia. À esquerda, um homem de camisa preta e calça azul está de pé de perfil e segura uma corda. Ao lado, outro homem jovem usando  camiseta branca e calça azul está de pé segurando uma corda presa a um sino. À direita, o sino de uma torre.
Sineiros na Igreja de São Francisco de Assis, em São João del-Rei (Minas Gerais). Fotografia de 2012.

Além dos toques diários e dos tradicionais, existem as chamadas batalhas de sineiros, que ocorrem no quarto fim de semana da Quaresma. Nessa batalha, sineiros de diferentes igrejas, do alto das torres dos sinos, executam alternadamente alguns toques. O objetivo de cada sineiro é responder o mais rápido possível aos que tocaram antes e realizar o toque com ainda mais técnica.

2. Escute um toque de sinos de São João del-Rei executado na festa de Nossa Senhora da Boa Morte.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Orientações e sugestões didáticas

Atividade complementar

Desenvolva junto com os estudantes uma pesquisa sobre lugares da cidade ou das proximidades onde a utilização de sinos seja uma prática comum. Se julgar conveniente, com a autorização dos responsáveis e da direção da escola, organize uma visita a esses locais. Sugerimos algumas perguntas para nortear uma conversa e reflexão: “Como são as características do timbre, altura e intensidade dos sons desses sinos?”; “Quais são os sentidos atribuídos a eles nesses locais?”. Os estudantes também podem entrevistar frequentadores do local visitado para responder às perguntas.

Orientações

Escolhemos para este Sobrevoo realizações musicais e criações com sons (criações de sentidos, de significados ou de músicas) originadas, de algum modo, em anseios ou necessidades humanas de ir além da realidade material e de ampliar sentidos e significados a respeito de acontecimentos da vida.

Sobre a imagem

Você pode começar pedindo aos estudantes que observem a imagem e reflitam, com base em suas experiências e repertório cultural, sobre significados associados aos sinos e seus sons.

Orientações para a apreciação musical

Reproduza em sala de aula o áudio com o toque de sinos de São João del-Rei, estimulando a escuta atenta às características ligadas a ritmo, densidade, timbre e altura. Pergunte aos estudantes se conseguem perceber quantos sinos estão tocando simultaneamente.

A atividade de escuta possibilita ao estudante conhecer peculiaridades regionais, como os toques de sinos de São João del-Rei, uma vez que fazem parte da cultura imaterial do país e estão vinculadas à vida social, além de contribuir para contemplar o tê cê tê Cidadania e Civismo Vida familiar e social.

Se for possível assistir aos vídeos sugeridos no boxe lateral, os estudantes poderão ver também imagens dos sinos sendo tocados. Ao explorar fontes e materiais sonoros ligados à análise de elementos constitutivos da música, essa atividade contempla as habilidades (ê éfe seis nove á érre dois zero) e (ê éfe seis nove á érre dois um) da Bê êne cê cê.

Foco na História

Sons com funções semelhantes em épocas e culturas diferentes

No sistema de toques de sinos de São João del-Rei, cuja prática é transmitida oralmente, podemos perceber relações com pelo menos duas culturas e tradições formadoras do Brasil desde a época colonial: a europeia e a africana. Alguns toques mantiveram sonoridades próximas das que eram realizadas em vilas e cidades do Brasil colonial (e também em outras colônias portuguesas), enquanto outros foram agregando também elementos afro-brasileiros.

Muito antes do início da colonização das Américas no século dezesseis, era comum na Europa haver sinos nas igrejas. Há registros da utilização de sinos em igrejas católicas que datam de mais de mil anos. Os mais antigos se referem à região de Campânia, no sul da Itália, de onde vêm também as palavras campanologia (a técnica de fabricação de sinos) e campana, usada muitas vezes como sinônimo de sino. Os sinos eram uma das principais formas de comunicação da igreja com a população. Suas funções mais antigas talvez sejam a de demarcar a passagem do tempo e a de indicar os momentos de ritos religiosos. Havia também, nesse período, toques específicos para diferentes situações do cotidiano, como na tradição que se mantém em São João del-Rei. Além disso, podemos dizer que o alcance do som estabelecia uma espécie de demarcação sonora da comunidade de cada igreja, isto é, da paróquia. Até hoje, os sinos convocam as pessoas para a congregação, para o rito religioso.

Influências de manifestações afro-brasileiras podem ser percebidas sobretudo nos repiques realizados em São João del-Rei com conjuntos de três sinos. Ritmos organizados assim, com três instrumentos do mesmo tipo, porém de tamanho e altura diferentes, são perceptíveis também, por exemplo, nos três instrumentos principais (tambor grande, meião e crivador) do Tambor de Crioula do Maranhão, que podem ser observados na fotografia; no conjunto tradicional de três atabaques do candomblé (rum, lê e rumpi) ou ainda nos três tipos de berimbau da capoeira (gunga, médio e viola). Em geral, um dos instrumentos tem a função de demarcar um padrão rítmico, que então serve de referência para os outros dois; um desses dois instrumentos geralmente tem um toque mais constante, enquanto o outro tem a função de executar diversas variações rítmicas. Nos toques de três sinos de São João del-Rei, é o sino menor que conduz o toque, enquanto os outros dois – que têm nome igual ao dos instrumentos do Tambor de Crioula, meião e grande – compõem entre si uma espécie de pergunta e resposta.

Fotografia. Três tambores de tamanhos diferentes ao redor de uma fogueira, sobre a grama.
Trio de tambores da manifestação cultural maranhense conhecida como Tambor de Crioula, em São Luís (Maranhão). Fotografia de 2006.
Orientações e sugestões didáticas

Sobre a seção Foco na História

Ao apresentar matrizes culturais de épocas diversas e analisar usos e funções de sons em um diálogo interdisciplinar com História, esta seção contempla as habilidades (ê éfe seis nove á érre um seis), (ê éfe seis nove á érre dois zero) e (ê éfe seis nove á érre dois um) da Bê êne cê cê.

Orientações para a apreciação musical

A manifestação cultural maranhense chamada Tambor de Crioula é citada ao final da seção Foco na História. É possível estimular comparações entre o áudio da cantiga “Benção de mamãe”, na qual são tocados os três tipos de tambores mencionados no texto, com o áudio do toque de sinos de São João del-Rei. Você pode perguntar à turma: “Que diferenças e semelhanças vocês percebem no que se refere ao ritmo, à densidade e ao timbre?”; “É possível perceber que, de modo semelhante ao do toque de sinos, alguns dos tambores nessa gravação também mantêm quase constantemente a marcação de um mesmo ritmo?”.

Esses dois áudios serão referência também para a seção Para experimentar da página 48.

3. Escute um trecho da música “Benção de mamãe”, de Gilvan do Vale – uma canção tradicional do Tambor de Crioula.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

A benção minha Mãe, a benção Papai do Céu!

A benção minha Mãe, a benção Papai do Céu!

São Benedito botou guia na copa do meu chapéu

São Benedito botou guia na copa do meu chapéu

São Benedito botou guia na copa do meu chapéu

 

A benção minha Mãe, a benção Papai do Céu!

A benção minha Mãe, a benção Papai do Céu!

São Benedito botou guia na copa do meu chapéu

São Benedito botou guia na copa do meu chapéu

São Benedito botou guia na copa do meu chapéu

Botou guia para me ajudar na copa do meu chapéu

Enfeitando meu chapéu na copa do meu chapéu

E mais força para me dar na copa do meu chapéu

Colega tu me ajuda na copa do meu chapéu

Que eu também vou te ajudar na copa do meu chapéu

 

A benção minha Mãe, a benção Papai do Céu!

A benção minha Mãe, a benção Papai do Céu!

São Benedito botou guia na copa do meu chapéu

São Benedito botou guia na copa do meu chapéu

São Benedito botou guia na copa do meu chapéu

 

A benção minha Mãe, a benção Papai do Céu!

A benção minha Mãe, a benção Papai do Céu!

São Benedito botou guia na copa do meu chapéu

São Benedito botou guia na copa do meu chapéu

 

Colega tu vem comigo na copa do meu chapéu

Tu não vai me deixar na copa do meu chapéu

Morena quero te ver na copa do meu chapéu

Entra na roda para brincar na copa do meu chapéu

Enquanto eu canto toada na copa do meu chapéu

Bota a saia para rodar na copa do meu chapéu

Vem andando me ver na copa do meu chapéu

Quem mandou me acompanhar na copa do meu chapéu

O matraca fala alto na copa do meu chapéu

Deixa o tambor grande ganhar na copa do meu chapéu

 

A benção minha Mãe, a benção Papai do Céu!

A benção minha Mãe, a benção Papai do Céu!

São Benedito botou guia na copa do meu chapéu

São Benedito botou guia na copa do meu chapéu

São Benedito botou guia na copa do meu chapéu

São Benedito botou guia na copa do meu chapéu

 

A benção minha Mãe, a benção Papai do Céu!

A benção minha Mãe, a benção Papai do Céu!

São Benedito botou guia na copa do meu chapéu

São Benedito botou guia na copa do meu chapéu

São Benedito botou guia na copa do meu chapéu

São Benedito botou guia na copa do meu chapéu (2X)

 

Na copa do meu chapéu

Na copa do meu chapéu

Na copa do meu chapéu

Trecho da canção "Bênção de mamãe", de Gilvan do Vale

Sons e espiritualidade em outros contextos

Fotografia. Na parte superior, um grande sino suspenso em um teto de madeira. Abaixo, monges, homens com a cabeça raspada usando túnica marrom e branca. À esquerda, três monges sentados e um de pé. À direita, um monge pendurado na corda do sino. Atrás, vários monges com as mãos juntas. Ao fundo, há árvores.
Monges budistas durante ensaio realizado no templo tchiôn in, em Quioto, Japão, para uma cerimônia de toque de sino na véspera de ano-novo. Fotografia de 27 de dezembro de 2021.

Não é exclusividade das religiões cristãs a presença de sinos mediando a relação com o imaterial.

Os budistas, por exemplo, usam diferentes sinos em momentos de oração: um deles é pequeno e sem badalo, cujo formato lembra uma tigela de metal, e é tocado com um bastonete, geralmente feito de madeira. Há também sinos bem grandes, como pode ser observado na fotografia, para demarcar momentos especiais, como a passagem do ano-novo. Estes últimos geralmente trazem gravadas em sua superfície escrituras ou imagens associadas à doutrina budista.

Em alguns templos de religiões afro-brasileiras, há também um sino de mão, feito de metal com uma haste de madeira ou só de metal, chamado adijá, que pode ser visto nessa imagem. Ele pode ter de duas até sete sinetas e é usado pelo líder espiritual para mediar a conexão do fiel com as divindades.

Fotografia. Destaque para uma mão negra com pulseiras  e anéis dourados  um adjá (instrumento com três sinos de pratas). Atrás, renda branca de um vestido.
Praticante do candomblé tocando adijá no terreiro Ilê Axé Alá Obatalandê, em Lauro de Freitas (Bahia), 2019.
Orientações e sugestões didáticas

Orientações

Nesta página são apresentados mais dois exemplos que ampliam o conteúdo abordado na seção Foco na História e contemplam a habilidade (ê éfe seis nove á érre um nove) da Bê êne cê cê, sobre a identificação de diferentes estilos musicais e sua contextualização no tempo e no espaço.

Sugestões para o professor

Você pode conhecer mais sobre instrumentos musicais usados em práticas de diferentes vertentes budistas, como o kin, o instrumento em formato de tigela citado no texto, ou o damáru (tipo de tambor pequeno), em sites ou blogs voltados às músicas tradicionais orientais ou à filosofia e às práticas budistas.

randãpi, Yatri. Instrumentos musicais. mái bôdi tri, 30 junho 2013. Disponível em: https://oeds.link/ySxguo. Acesso em: 13 fevereiro. 2022. 

Arte do Qin. Disponível em: https://oeds.link/9myaDz. Acesso em: 20 abr. 2023.

Também é possível conhecer mais sobre instrumentos afro-brasileiros no seguinte artigo: SOUZA, Gustavo. Instrumentos africanos na cultura brasileira. Gueledés, 17 agosto. 2010. Disponível em: https://oeds.link/7WMcyn. Acesso em: 13 fevereiro 2022.

Conheça também músicas e instrumentos da República do Benim (África) no livro e cedê:

LACERDA, Marcos Música instrumental no Benim: Repertório Fon e Música Bàtá. São Paulo: êduspi, 2014.

Para experimentar

Criação e improvisação rítmica

Que tal organizar uma improvisação rítmica com três instrumentos, usando como referência os exemplos citados no Foco na História? Para isso, você e seus colegas precisarão de um conjunto de pelo menos três instrumentos de percussão do mesmo tipo: por exemplo, três pandeiros, três timbas ou três agogôs.

  1. Montem um grupo para cada trio de instrumentos disponíveis.
  2. Cada grupo criará um toque bem simples para ser mantido repetidamente com um dos instrumentos.
  3. Em seguida, criem outro toque, também simples, mas que seja diferente do primeiro e que possa ser mantido junto com ele.
  4. Tendo como referência a base rítmica mantida pelos dois primeiros instrumentos, o terceiro fará improvisações alternadas com pausas. É fundamental ficar atento a essas pausas, pois elas evitarão que a improvisação pareça um amontoado aleatório de sons. Elas devem estimular a percepção – tanto por quem ouve quanto por quem toca – de frases musicais, produzidas com intencionalidade.
  5. Conversem todos juntos sobre a atividade e, se ela foi realizada em vários grupos, cada um pode mostrar para a turma os toques que inventou para a base rítmica e uma improvisação.

Contar e cantar histórias tradicionais

Você conhecerá agora um exemplo em que as tradições e histórias de um povo são transmitidas por meio da associação entre palavras, gestos, ritmos e melodias. É o que acontece no canto Pemsori, um tipo de canto narrativo da Coreia do Sul no qual, como em outras manifestações artísticas orientais, o artista que o realiza trabalha a música com a fala e com movimentações corporais, que ajudam a caracterizar personagens e a expressar a dramaticidade das histórias tradicionais apresentadas.

O nome desse canto vem da união de duas palavras coreanas: pan (

) e sori (

). A primeira significa "lugar com muita gente" e a segunda, "som". Tradicionalmente, um único cantor ou cantora, denominado sorícúm, apresenta uma longa história na qual interpreta – cantando, falando e gesticulando – todos os personagens.

A apresentação de uma história inteira pode durar até nove horas. Os sorícúm, em tempos antigos, visitavam os povoados da região apresentando essas narrativas cantadas, que foram sendo passadas de geração em geração sobretudo pela transmissão oral.

Orientações e sugestões didáticas

Sobre a seção Para experimentar

Se os três instrumentos tiverem tamanhos diferentes, haverá maior diversidade sonora e a dinâmica se aproximará mais dos exemplos citados na seção Foco na História. Se não for possível conseguir instrumentos como esses, você pode construir outros com os estudantes. Para isso, há várias referências em vídeos na internet; basta procurar em sites de busca pela expressão “construção de instrumento musical”. É possível também usar objetos que produzam um bom som quando percutidos, como lixeiras ou baldes de plástico grandes. Outra opção é desenvolver a atividade com sons corporais diferentes em cada grupo; por exemplo, um grupo só com palmas, outro só com batidas do pé, outro com algum tipo de som vocal. A atividade explora, por meio de improvisação e criação coletiva, os elementos constitutivos da música, contemplando as habilidades (ê éfe seis nove á érre dois zero) e (ê éfe seis nove á érre dois três) da Bê êne cê cê.

Orientações: Para experimentar

  1. Os grupos podem ser de três ou mais integrantes. O que definirá o número de participantes é a quantidade de instrumentos disponíveis. Os membros dos grupos se revezarão na utilização dos instrumentos. Se tiver apenas três instrumentos, a turma toda pode fazer a atividade junta, alternando os três estudantes que tocam, enquanto os outros ouvem.
  1. Como ocorre nos exemplos citados na seção Foco na História, é desejável que o segundo toque preencha tempos nos quais o primeiro instrumento não toca, ou toque nos mesmos tempos, mas explorando outros sons do instrumento. Ajude os estudantes a explorar essas possibilidades e definir esses dois toques básicos.

5. É possível que sejam percebidas diferenças de aptidão rítmica entre os estudantes. Conduza a atividade de modo que aqueles com mais facilidade auxiliem os que tenham dificuldade. E cuide para que as produções de todos sejam acolhidas de modo respeitoso, estimulando o companheirismo e o espírito de equipe, na intenção de evitar e erradicar possibilidades de bullying ou qualquer outro tipo de constrangimento. Assim, poderá ser constituída uma cultura de paz e convivência saudável no ambiente escolar.

Fotografia. Uma pessoa com espécie de kimono vermelho de punhos prateados, calça larga clara, sapatilhas e máscara pintada de vermelho e verde no rosto. Ele está de pé e segura um leque vermelho aberto na frente do corpo com a mão direita e um leque fechado com a mão esquerda. O braço esquerdo está estendido na lateral do corpo. No fundo, há sombras e luzes vermelhas e amarelas.
Apresentação de pânssori em Seul, Coreia do Sul. Fotografia de 2021.

Há registro de 12 histórias antigas de pânssori, das quais cinco ainda costumam ser cantadas. O sorícúm geralmente explora timbres ásperos e roucos com a voz, além de sons mais agudos ou mais graves, de acordo com os personagens ou acontecimentos da história. Para dar ênfase a alguns gestos, ele também utiliza um leque. Além disso, é acompanhado por um percussionista, o goçú, que, com um tambor, ajuda a dar ritmo à narrativa e ao canto.

As histórias cantadas abordam temas relacionados à vida cotidiana e às relações sociais: valores éticos, dramas amorosos, justiça social, igualdade entre homens e mulheres ou abolição do sistema de classes, entre outros.

Orientações e sugestões didáticas

Sobre o canto pansori

É possível sugerir uma comparação entre o sorícúm, cantor-contador dos pânssori, os trovadores da Idade Média e os cantadores improvisadores do Nordeste brasileiro, citados no capítulo 4 do livro do 6º ano. Tendo como base este conteúdo, é possível também contemplar o tê cê tê Multiculturalismo Diversidade cultural.

O canto pânssori foi reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade. Sendo assim, é possível revisitar aqui também o que foi apresentado no capítulo 1 sobre a patrimonialização de elementos imateriais de diferentes culturas.

Você pode conhecer mais sobre o pânssori no site da Unesco (em espanhol): unêsco. Los cantos épicos pânssori. Disponível em: https://oeds.link/hr5RsA. Acesso em: 13 fevereiro 2022.

Atividade complementar

Nesta proposta de interação com os estudos da linguagem de Teatro, peça aos estudantes que escolham histórias tradicionais já estudadas ou conhecidas por eles e tentem criar narrativas cantadas, inspiradas na descrição dos pânssori. Sugerimos o seguinte roteiro para essa atividade interdisciplinar:

  • Organize a turma em duplas ou grupos pequenos.
  • Cada grupo escolherá uma história. Para auxiliar nessa escolha, faça uma parceria com o professor de Língua Portuguesa – é possível usar trechos de textos de autores da literatura brasileira. O grupo deve escolher partes da narrativa que serão contadas ou cantadas de fórma livre e improvisada e partes nas quais vão definir e ensaiar a maneira de contar e cantar.
  • Nas partes que forem ensaiar, eles podem usar músicas que já conheçam, mesmo que não sejam parte original do texto – o que pode levar também a um exercício interdisciplinar de perceber ou criar intertextualidade entre o texto literário e a letra da música escolhida. Ou podem criar uma melodia para a parte escolhida do texto, fazendo uma narrativa cantada, como no pânssori.
  • Para exercitar e construir a parte teatral, utilize procedimentos ou exercícios já indicados anteriormente em atividades de teatro ou dança.

Cantar para o sagrado

Além de narrar histórias tradicionais, os cantos também podem fazer parte de diferentes ritos sagrados, celebrando e reverenciando a relação entre os fiéis e uma divindade em que creem. Conheça agora exemplos de cantos ligados a matrizes cristãs e africanas, sobre as quais já falamos anteriormente.

Entre os cantos cristãos mais antigos, dos quais há registro escrito, destacam-se os cantos gregorianos. Eles eram cantados em igrejas católicas na Europa medieval e ainda são entoados em algumas igrejas atualmente. Suas letras louvam o deus cristão ou remetem a passagens da Bíblia. O nome desses cantos está relacionado ao papa Gregório máguino (540-604), que coletou e publicou grande parte deles, contribuindo para sua preservação e ensino.

Fotografia. Sete homens de cabelos curtos, alguns escuros outros grisalhos,  usando túnicas brancas. Alguns usam óculos. Eles estão sentados em fileira, lado a lado, e seguram com as mãos um livro aberto. Ao fundo, pilares e paredes de mármore.
Monges do Mosteiro de Oseira, em Ourense, Espanha, se preparando para entoar cantos gregorianos. Fotografia de 2014.

4. Observe a imagem. Você já ouviu algum canto gregoriano? Se sim, descreva-o para seus colegas.

O gênero musical mais antigo considerado um canto gregoriano é o cantochão. Trata-se de cantos com letras em latim, inicialmente compostos de uma única melodia e que não tinham acompanhamento instrumental, só vozes. Veja a seguir a transcrição da letra de um cantochão:

benedícamus dôminu            (Abençoemos o Senhor

deo grátias                               Graças a Deus)

Bênet Rói. Uma breve história da música. Rio de Janeiro: Jorge zarrár, 1986. página 13.

Orientações e sugestões didáticas

Orientações

Nesta página e nas duas seguintes tratamos de aspectos musicais vinculados a diferentes práticas religiosas, em sintonia com as habilidades (ê éfe seis nove á érre um seis) e (ê éfe seis nove á érre um nove) da Bê êne cê cê, no que se refere à relação das práticas musicais com diferentes dimensões da vida (social, cultural, política, histórica, econômica, estética e ética), bem como à identificação e contextualização de diferentes estilos musicais.

Ao tratar de religiosidade, é importante deixar claro que não se está privilegiando nenhum ponto de vista específico de alguma doutrina religiosa; todas são tratadas com igualdade, como manifestações culturais, dando ênfase a elementos artísticos presentes em suas práticas.

Sobre a atividade

4. A intenção é investigar o que os estudantes já sabem ou ouviram falar sobre cantos gregorianos e, tomando por base esse conhecimento, estabelecer diálogos e propor ampliações por meio do conteúdo apresentado no livro.

Sugestão para o estudante

Vídeo do grupo de música medieval e renascentista cântus fírmus, de Florianópolis (Santa Catarina), cantando uma versão de “benedícamus dôminu”:

BENEDICAMUS Domino - Cantus Firmus - Música Medieval e Renascentista. 2009. 1 vídeo (cêrca de 4 minutos). Publicado pelo canal Cantus Firmus. Disponível em: https://oeds.link/ejV6rN. Acesso em: 13 fevereiro 2022.

Como você pôde perceber, a letra em latim é curta e reverencia o deus cristão. Porém, a música não é tão curta quanto pode parecer, pois usam-se notas bem longas para as sílabas de cada palavra. Esse e outros cantos do tipo cantochão serviram de base para o desenvolvimento de outros tipos de músicas cantadas em igrejas e mosteiros. A partir delas, os músicos desenvolveram outras melodias, mais graves ou mais agudas, para serem cantadas simultaneamente àquele canto que serviu de base e, assim, foram criando novas fórmas musicais, inclusive mais parecidas com as músicas feitas para corais atualmente.

5. Você já ouviu alguma música entoada por um coral?

Assim como os cantos cristãos, os cantos religiosos de origem africana também invocam e reverenciam entidades divinas. Esses cantos, em sua maioria transmitidos oralmente, têm sido preservados e ensinados ao longo de séculos e contribuem para manter vivas no Brasil as línguas dos povos africanos, faladas por pessoas que foram trazidas para cá e escravizadas.

Existem os cantos ligados aos cultos afro-brasileiros conhecidos como candomblé. Nesses cultos, há vários deuses, chamados orixás, que são associados a diferentes elementos da natureza e a aspectos materiais e imateriais da vida humana. Veja a seguir dois breves exemplos de letras de cantos para orixás:

araiê odê arê rê oquê

auá níssô odé loquê

ômo ofá ó cú erón

(Senhor da Humanidade nosso bom caçador

Nós o chamamos para aprendermos a caçar

Filho do arco e flecha que mata a caça)

(trecho de canto para o Orixá Oxóssi)

olômi má olômi maa iô.

olômi maiô ô nim aiába odó ô ieiê ô

aláadé ô siún siún mi iêiê ô

(Senhoras das águas doces (sem sal)

Sois a velha mãe do rio. Ó mamãe.

Oxum dona da coroa, Oxum é minha mãe)

(trecho de canto para a Orixá Oxum)

Disponível em: https://oeds.link/nOpT0x. Acesso em: 22 março 2022.

Orientações e sugestões didáticas

Orientações

O trabalho com letras de cantos em diferentes línguas (latim e iorubá), além de trazer à tona a diversidade de matrizes formadoras da cultura brasileira (ê éfe seis nove á érre três quatro), contempla a interação crítica dos estudantes com a complexidade do mundo, o respeito às diferenças, o diálogo intercultural, pluriétnico e, mais especificamente, plurilíngue.

Convém comentar que cantos como esses têm sido preservados principalmente por transmissão oral e podem apresentar variações na letra, ou no modo de cantar, em diferentes templos ou outros espaços religiosos. As versões apresentadas foram transcritas de uma apostila de cantos disponibilizada no site informado após a transcrição no Livro do Estudante.

Vale destacar também que estudar no mesmo conteúdo um canto cristão e cantos de candomblé pode contribuir para demonstrar uma visão antirracista e ajudar a combater a intolerância religiosa, promovendo uma cultura de paz que estimule a convivência harmoniosa entre todos, sabendo que são seguidores de diferentes religiões.

Ambos os cantos estão em iorubá, uma das línguas faladas pelos africanos que chegaram ao Brasil no período colonial. O iorubá continua sendo falado e cantado em nosso país até hoje, e se faz presente em inúmeros termos usados por comunidades afro-brasileiras e em seus cantos. Além de fazer parte da comunicação em momentos cotidianos, essas palavras em iorubá muitas vezes também são usadas para referir-se a conhecimentos específicos relacionados a plantas, artefatos, mitos, alimentos ou ritos.

No continente africano, o iorubá é falado hoje por parte da população de países como Nigéria, Benim e Serra Leoa.

Além dos cantos, outro som também é fundamental na relação com as entidades imateriais desses ritos: o do atabaque. Podemos dizer que ele tem o papel de mediar a relação com a divindade, já que é esse instrumento que, com toques específicos para cada entidade, as convoca para rituais como os da fotografia, na qual também observamos os três diferentes tipos de atabaque (rum, lê e rumpi) citados anteriormente no Foco na História.

Fotografia. À esquerda, um homem com roupas de renda branca e colares no pescoço está sentado. À frente dele, uma mulher de roupas brancas e lenço branco na cabeça está ajoelhada de olhos fechados aos pés dele. Ele toca a cabeça dela. Ao fundo, do lado esquerdo, uma mulher usa turbante branco, vestido listrado branco e rosa e colares, e observa  os dois. Ao fundo, do lado direito, três homens com roupas brancas seguram uma baqueta com a mão direita e dispõem a mão direita sobre atabaques.
Toque de atabaques em um culto de candomblé, em Lauro de Freitas (Bahia). Fotografia de 2014.
Orientações e sugestões didáticas

Sobre o iorubá

A palavra iorubá, além de ser usada para denominar uma língua, é a denominação do povo originalmente falante dessa língua, proveniente do continente africano.

Atividade complementar

Pesquise e leve para a aula gravações de cantos religiosos afro-brasileiros ou de cantos gregorianos. Após a escuta, pergunte à turma: “Que características musicais dos cantos são mais marcantes para vocês?”; “Vocês percebem outras características da estrutura dos cantos, diferentes das que foram citadas no texto?”; “Percebem alguma relação dessas características sonoras com conteúdos imateriais abordados nas letras?”. As perguntas visam estimular a análise de elementos constitutivos da música (melodias, ritmos etcétera), conforme a habilidade (ê éfe seis nove á érre dois zero) da Bê êne cê cê. Elas também visam compartilhar conhecimentos e impressões entre os estudantes.

É importante notar que aspectos de línguas antigas de diferentes povos e a presença delas na atualidade, como nos casos apresentados, podem propiciar também uma oportunidade para serem abordados os tê cê tê Multiculturalismo Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras e Cidadania e Civismo Vida familiar e social.

Sugestão para o professor

CAPUTO, istéla . Aprendendo yorubá nas redes educativas dos terreiros: história, culturas africanas e enfrentamento da intolerância nas escolas. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, volume 20, número 62, páginaponto 773-796, setembro 2015. Disponível em: https://oeds.link/aacKHf. Acesso em: 17 junho 2022.

Artigo sobre o aprendizado da língua iorubá e sua presença na escola.

Para pesquisar

Músicas e imaterialidade em outros sistemas musicais

Fotografia. Um vaso com duas alças laterais em tons de laranja e preto. Na parte frontal do vaso, há pintura em tons de amarelo e  laranja sobre um fundo  preto de quatro homens seminus com tecidos ao redor do corpo. Dois deles estão sentados e seguram harpas. Um deles está em pé e segura uma vara e o outro está em pé segura o tecido. Ao redor dessa imagem há grafismos e arabescos pintados em preto.
VASO grego. Século cinco antes de Cristo Cerâmica. Coleções Estatais de Antiguidades, Museu Glyptothek, Munique, Alemanha. Neste vaso, figuras decorativas representam uma aula de música.

O sistema que você tem conhecido, de nomeação e compreensão das propriedades sonoras e outros elementos musicais, está ligado ao modo ocidental de entendimento musical, que tem origem na Grécia e prevalece até hoje. Porém, há outros modos de compreender e perceber a música. Você já ouviu falar de algum?

Os diferentes sistemas musicais podem estar relacionados com diferentes modos de espiritualidade, tradições e outras buscas humanas para compreender e nomear o mundo imaterial.

A sugestão aqui é que você faça uma pesquisa sobre outros sistemas musicais e suas relações com a imaterialidade. Pesquise, por exemplo, sobre concepções ou sistemas musicais africanos, chineses, indianos, indígenas, egípcios ou outros. Para isso você pode consultar sites, blogs, podcasts, livros ou artigos relacionados a esses assuntos.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Qual dos exemplos apresentados neste Sobrevoo mais despertou a sua curiosidade? Por quê?
  2. Você identifica outras relações entre música, ancestralidade e espiritualidade em práticas musicais da região onde você vive?
Orientações e sugestões didáticas

Sobre as atividades: Para refletir

As perguntas visam estimular os estudantes a expressar suas impressões ou reflexões sobre o conteúdo estudado e relacionar esse conteúdo com manifestações artístico-culturais que possam observar em suas vivências cotidianas.

Orientações: Para pesquisar

Com base na pergunta proposta no primeiro parágrafo da seção, você também pode relembrar o que já foi visto nesta coleção sobre concepções musicais indígenas. Essa pesquisa visa ampliar e aprofundar o que foi visto neste capítulo – por meio da identificação e contextualização de diferentes estilos musicais e da relação entre as práticas musicais e as diferentes dimensões da vida social, ela contempla as habilidades (ê éfe seis nove á érre um seis) e (ê éfe seis nove á érre um nove) da Bê êne cê cê. Ela também pode produzir conhecimentos que permitam dialogar posteriormente com conteúdos do capítulo seguinte, no qual são apresentadas algumas mitologias de diferentes culturas e locais do mundo.

Oriente os estudantes a utilizar ferramentas de busca on-line escolhendo palavras-chave relacionadas aos assuntos da pesquisa. Nesse caso, poderiam ser: sistema musical + africano, ou indiano, indígena, chinês ou outros, dependendo do que for escolhido. Isso pode ser feito tanto em motores de busca na rede como em ferramentas de busca interna de um blog ou site (de bibliotecas, revistas ou outros que abriguem textos científicos).

Foco em...

Cantos medievais e o desenvolvimento da escrita musical ocidental

Os manuscritos antigos são chamados de códices ou codex. A imagem de abertura deste capítulo e a imagem a seguir são reproduções de páginas de códices diferentes. Grande parte do que se conhece hoje sobre cantos medievais foi registrada em manuscritos desse tipo. A partir desses cantos, conforme comentado no Sobrevoo, foram se desenvolvendo outras fórmas musicais. Na Europa, junto a esse desdobramento contínuo de novas estruturas musicais, foram desenvolvidos modos de notação musical, que são fórmas de registrar e possibilitar a reprodução da música.

Fotografia. Desenho de uma cruz. No centro, uma pessoa usa coroa e manto, e segura um pergaminho em cada mão. Ao redor, uma roda com quatro pessoas, sendo, à esquerda, um homem se segurando na roda e com a mão sobre o manto. Acima, uma pessoa usa coroa e está sentada em um trono. À direita, uma pessoa com coroa caindo. Abaixo, uma pessoa segura na roda. Abaixo de tudo há um texto.
A RODA da fortuna, página do códice Carmina Burana.cêrca de 1230. Biblioteca Estadual da Baviera, Munique, Alemanha.

Durante a Idade Média, as igrejas eram grandes centros de cultura. Estava sob seu domínio a ainda pequena produção de livros, que ganhou maior impulso no século doze, com a criação das primeiras universidades. Foi nesse período que começaram a se desenvolver os procedimentos e as técnicas de escrita e fabricação de livros, que depois de muito tempo dariam origem a exemplares mais parecidos com os que temos hoje.

O aprendizado musical da época se baseava sobretudo na memória e na oralidade. Algumas das primeiras fórmas de notação musical realizadas eram traços, pontos e outros sinais feitos logo acima das letras de cantos, como os que podem ser observados na imagem.

Eles serviam para ajudar o cantor a lembrar características da melodia a ser entoada; por exemplo, se em determinada parte ela deveria ter sons mais agudos ou mais graves. Esse desenvolvimento de teoria e escrita de música estava sob responsabilidade dos monges cristãos. Foi nesse contexto que, no final do século onze, um desses monges atribuiu nomes para as notas musicais, que antes eram representadas por letras do alfabeto. Veja a letra em latim da primeira estrofe de um canto medieval para São João Batista:

út queanti lácssis

ressonáre fíbris

míra distôrum

famuli tuorum,

sôlue polúti

labii reatum,

sânquit iorrânes.

(Para que seus servos possam, com a voz,

cantar seus feitos maravilhosos, limpai as

manchas de nossos lábios sujos.

Ó São João!)

COTTA, André Guerra. Notas preliminares sobre o cantochão acompanhado na prática musical luso-brasileira dos séculos dezoito e dezenove: o Hino a São João Batista de José Maurício Nunes Garcia. Per Musi, Belo Horizonte, número 18, 2008, página 28-34. Disponível em: https://oeds.link/dgjKon. Acesso em: 13 fevereiro 2022.

Orientações e sugestões didáticas

Nesta seção, apresentamos o contexto cultural e a produção musical na Europa medieval, quando foram estruturadas as bases da escrita tradicional de partituras utilizada até hoje.

Unidades temáticas da Bê êne cê cê

Música; Artes integradas.

Objetos de conhecimento

Contextos e práticas; Notação e registro musical; Materialidades; Patrimônio cultural.

Habilidades em foco nesta seção

(ê éfe seis nove á érre um sete) Explorar e analisar, criticamente, diferentes meios e equipamentos culturais de circulação da música e do conhecimento musical.

(ê éfe seis nove á érre um nove) Identificar e analisar diferentes estilos musicais, contextualizando-os no tempo e no espaço, de modo a aprimorar a capacidade de apreciação da estética musical.

(ê éfe seis nove á érre dois dois) Explorar e identificar diferentes fórmas de registro musical (notação musical tradicional, partituras criativas e procedimentos da música contemporânea), bem como procedimentos e técnicas de registro em áudio e audiovisual.

(ê éfe seis nove á érre três um) Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política, histórica, econômica, estética e ética.

(ê éfe seis nove á érre três quatro) Analisar e valorizar o patrimônio cultural, material e imaterial, de culturas diversas, em especial a brasileira, incluindo suas matrizes indígenas, africanas e europeias, de diferentes épocas, e favorecendo a construção de vocabulário e repertório relativos às diferentes linguagens artísticas.

Orientações

Assim como na abertura deste capítulo, a imagem apresentada nesta seção é também a página de um códice. Comente com a turma que esses documentos antigos são hoje uma maneira de conhecer um pouco sobre as músicas e outras fórmas de arte realizadas em tempos antigos. Eles podem ser considerados, do ponto de vista histórico, equipamentos culturais de circulação do conhecimento musical, contemplando a habilidade (ê éfe seis nove á érre um sete) da Bê êne cê cê. Nesses documentos, além de imagens e textos que ajudam a compreender o contexto da época, podem ser encontradas diferentes fórmas antigas de notação musical, inclusive algumas que deram origem a modos atuais de notação – contemplando a habilidade (ê éfe seis nove á érre dois dois) da Bê êne cê cê.

Do período medieval são também os monges andarilhos, eruditos, poetas e músicos produtores de textos, desenhos e cantos que, entre muitos assuntos, discutiam aspectos materiais e imateriais da vida e criticavam elites políticas e religiosas da época. Parte disso foi registrada no codex conhecido como Buranus ou Carmina Burana, visto na imagem desta página. O compositor alemão Cárl Órf (1895-1982), baseado em poemas desse códice, compôs entre 1935 e 1936 uma obra para coro e orquestra com o mesmo nome, Carmina Burana.

Ilustração. Ícone do Para ouvir.

Há várias gravações desse hino medieval dedicado a São João Batista disponíveis na internet. Basta procurar, em uma ferramenta de busca, pelo primeiro verso: “út queanti lácssis”.

Faça no caderno.

1. Escute um trecho do “Hino a São João Batista”. Você consegue localizar, nessa letra em latim, os nomes das notas musicais: dó – ré – mi – fá – sol – lá – si?

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

O monge italiano Guido daretzo (992-1050) utilizou as sílabas iniciais desses versos para nomear as notas. Se você reparou, a única que não está no texto é a sílaba . O nome dado a essa nota naquela época foi ut. Somente séculos depois essa denominação foi substituída por , para facilitar a pronúncia em solfejos musicaisglossário . Já a nota si foi composta das iniciais da denominação de São João em latim (Sancte Iohannes), que aparece no sétimo verso.

Foi esse mesmo monge que desenvolveu uma fórma de escrita musical usando quatro linhas para indicar as notas musicais. Uma escrita muito parecida com as partituras utilizadas hoje em dia, nas quais há cinco linhas básicas (pentagrama) e linhas suplementares acrescentadas quando necessário, para registrar sons mais graves ou mais agudos dos que os que cabem nas linhas básicas.

2. Escute uma escala de notas naturais gravada de modo ascendente (do grave para o agudo) e, em seguida, descendente (do agudo para o grave); depois, escute uma escala cromática gravada do mesmo modo. Em seguida, compartilhe suas impressões com um colega.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Não era apenas dentro das igrejas que se cantava na era medieval. Dessa mesma época são os trovadores, que, de cidade em cidade, acompanhados por instrumentos como o alaúde, entoavam cantigas para divulgar diversos assuntos entre a população.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Você considera a escrita uma fórma de registrar elementos imateriais? Ela pode ajudar no aprendizado musical? Por quê?
  2. A partir do momento em que temos os conteúdos escritos, será que isso pode alterar a relação com a memória e com a improvisação? Por quê?
Transcrição do áudio

Ut queant laxis

resonare fibris

famuli tuorum,

Mira gestorum

Solve polluti

labii reatum,

Sancte Iohannes

Transcrição do áudio

• Escala de notas naturais

(Instrumental) dó ré mi fá sol lá si dó 

(Instrumental) dó si lá sol fá mi ré dó

Estúdio: Marcelo Pacheco

Orientações e sugestões didáticas

Sobre as atividades: Para refletir

As questões aprofundam e problematizam os conteúdos contemplados na habilidade (ê éfe seis nove á érre dois dois) da Bê êne cê cê.

2. Estimule reflexões sobre os impactos da escrita nos modos de escuta e aprendizado musicais. Note que a música que seguiu se desenvolvendo atrelada à escrita – a chamada música erudita – foi se afastando gradativamente da prática da improvisação, que hoje é mais associada à música popular. A contribuição do desenvolvimento da escrita musical é gigantesca e incontestável, mas vale destacar também a importância da prática fundamental que é aprender músicas ouvindo-as e memorizando-as.

Sugestão para o estudante

A imagem da seção Foco emreticências é parte de um codex que registra músicas e textos de antigos monges artistas e andarilhos. Essa obra inspirou uma composição do músico alemão Cárl Órf(1895-1982). Sugira uma pesquisa sobre o codex e essa música e, com base na contextualização, promova a apreciação de “O Fortuna”, a parte mais famosa da música Carmina Burana, de Cárl Órf. Uma boa opção é a gravação feita pela Orquestra Filarmônica de Berlim e o coro da Rádio de Berlim:

ORFF: Carmina burana / Rattle. Rundfunkchor Berlin · Berliner Philharmoniker. 2013. 1 vídeo (cêrca de 2 minutos). Publicado pelo canal Berliner Philharmoniker. Disponível em: https://oeds.link/6KsT6c. Acesso em: 13 fevereiro 2022.

Com base na escuta, é possível destacar os contrastes presentes na dinâmica da música, ou seja, partes de grande intensidade sonora (forte) seguidas de outras que exploram intensidades bem leves (piano).

Sobre as notas musicais

As notas , , mi, , sol, e si são chamadas de notas naturais. Ampliando o estudo, apresente também as notas que existem entre elas, ou seja: dórréchitégui (cerquilha, sustenido) (dó sustenido) ou ré

(ré bemol) entre dó e ré; rérréchitégui (cerquilha, sustenido) ou mi

entre ré e mi e assim por diante. Note, entretanto, que entre mi e fá e entre si e dó não há nota intermediária.

A sequência com todas essas doze notas (do - dorréchitégui (cerquilha, sustenido) - re - rerréchitégui (cerquilha, sustenido) - mi - fa - farréchitégui (cerquilha, sustenido) - sol - solrréchitégui (cerquilha, sustenido) - lá - larréchitégui (cerquilha, sustenido) - si) é chamada de escala cromática.

É importante comentar que, ao falar das notas musicais, estamos tomando como referência instrumentos musicais ocidentais, afinados na escala conhecida como escala temperada, da qual fazem parte as notas apresentadas. Há diferenças nessa escala na afinação de instrumentos de outras matrizes culturais, como a vina e o sitar, apresentados no capítulo 3 do livro do 7º ano.

Atividade complementar

Escute o áudio das notas naturais e o da escala cromática e cante-as junto com os estudantes.

Caso você tenha realizado a atividade com copos e água, sugerida no capítulo 2 do livro do 6º ano, ou a atividade com garrafas e água, sugerida no livro do 7º ano, pode retomar esses objetos, tentando afinar cada um, tendo como referência o áudio com as notas naturais, e tocar com eles a escala completa.

Foco no conhecimento

Tempo em música

O ritmo, em música, é o elemento ligado à organização dos sons em um intervalo de tempo. Ele se refere à maneira de lidar com a duração dos sons e com o preenchimento do tempo que transcorre com esses sons. Imagine um pequeno espaço de tempo, ele pode ser preenchido de diferentes maneiras com sons. Por exemplo, podem ser usados poucos sons, mas que tenham duração suficiente para preencher esse intervalo de tempo ou então que sejam intercalados por pausas. Ou muitos sons, porém de curta duração, o que daria a sensação de maior velocidade. Ou ainda um meio-termo entre as duas opções anteriores, alguns sons mais longos, outros mais curtos.

Veremos a seguir dois conceitos importantes dentro da maneira como o sistema musical ocidental lida com o ritmo: pulsação e compasso.

Você certamente já cantou a música "Parabéns pra você". Geralmente, quando várias pessoas cantam juntas essa música, elas também batem palmas. Isso é possível porque estão percebendo a pulsação da música. É essa pulsação que elas estão marcando quando batem palmas.

1. Você pode tentar perceber a pulsação de qualquer outra música batendo palmas para demarcá-la. Experimente!

Isso pode ser referência também para organizar ritmicamente uma música com base em grupos de uma quantidade determinada de pulsações, acentuadas sempre da mesma maneira, por exemplo: de três em três pulsações, acentuando-se sempre a primeira delas mais do que as duas seguintes. Isso é o que chamamos de compasso. As pulsações dentro de cada compasso geralmente são chamadas de tempos. Os compassos mais utilizados são: de dois tempos, chamado binário; de três tempos, ternário; e de quatro tempos, quaternário.

Você já assistiu a uma apresentação de uma orquestra ou coral? Já reparou nos gestos feitos pelo maestro? O compasso de cada música é a base para os gestos que o maestro faz ao reger, que servem, entre outras funções, para que todos toquem ou cantem a partir da mesma referência rítmica.

Para que fique mais claro o que é o compasso musical, sugerimos a seguir um exercício de escuta e percepção desses três tipos citados.

Para pesquisar

Músicas com os compassos estudados

Sugerimos que você escute os exemplos nos áudios indicados a seguir. Incluímos também algumas sugestões de músicas e gêneros musicais relacionados a cada tipo de compasso, que você pode pesquisar na internet. Depois, você também pode escolher músicas que conhece e tentar identificar em que compasso se encaixam.

Orientações e sugestões didáticas

A intenção desta seção é apresentar a noção de compasso musical de modo acessível aos estudantes e dialogar com tipos de música que eles já conheçam. Essa noção será uma das referências para a elaboração de um arranjo na atividade seguinte, ampliando esse exercício musical em relação a outras elaborações de arranjos mais simples já sugeridas nesta coleção.

Unidade temática da Bê êne cê cê

Música.

Objetos de conhecimento

Contextos e práticas; Elementos da linguagem.

Habilidades em foco nesta seção

(ê éfe seis nove á érre um nove) Identificar e analisar diferentes estilos musicais, contextualizando-os no tempo e no espaço, de modo a aprimorar a capacidade de apreciação da estética musical.

(ê éfe seis nove á érre dois zero) Explorar e analisar elementos constitutivos da música (altura, intensidade, timbre, melodia, ritmo etcétera), por meio de recursos tecnológicos (games e plataformas digitais), jogos, canções e práticas diversas de composição/criação, execução e apreciação musicais.

Sobre a atividade

1. Realize essa experimentação com os estudantes usando qualquer cantiga que todos conheçam. Experiências práticas são geralmente mais diretas e eficazes do que explicações teóricas – que então podem vir atreladas a essas experiências – para que sejam compreendidos aspectos musicais imateriais como esses, possibilitando explorar e analisar com mais desenvoltura elementos constitutivos da música, conforme a habilidade (ê éfe seis nove á érre dois zero) da Bê êne cê cê.

Binário

Pode ser percebido em todos os tipos de samba e nos ritmos de baião, xote e marcha. Repare que, no samba, a percussão acentua com mais destaque o segundo tempo de cada compasso, demarcado geralmente por instrumentos mais graves, como o surdo e o bumbo. Vale comentar que, no caso do samba, há também a herança de sistemas musicais africanos. Sendo assim, pode-se dizer que a noção ocidental de compasso binário é apenas uma das possíveis fórmas de “compreender” a rítmica desse gênero musical.

Como exemplo de compasso binário, escute a cantiga popular “Samba Lelê”.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Sugestão para pesquisa: Canção “Argumento”, de Paulinho da Viola.

Ternário

O gênero musical em compasso ternário mais conhecido é a valsa. Nele, a acentuação feita pelos instrumentos musicais geralmente ocorre no primeiro dos três tempos de cada compasso. Outro gênero musical ternário, presente no Brasil e no Paraguai, é a guarânia. Esse tipo de compasso também pode ser observado em várias composições da música popular brasileira, em cantigas folclóricas e em músicas instrumentais brasileiras.

Tente perceber o compasso ternário na cantiga popular “Terezinha de Jesus”.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Sugestão para pesquisa: Canção “Rosa”, de Pixinguinha.

Quaternário

As músicas de rock-and-roll são em compasso quaternário. Nelas, os instrumentos de percussão geralmente acentuam os tempos dois e quatro, enquanto as finalizações de frases da melodia evidenciam o primeiro tempo.

Escute um exemplo de compasso quaternário em uma base rítmico-harmônica de rock-and-roll.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Sugestão para pesquisa: Canção “Rock and Roll”, de léd Zeppelin.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Com base no que foi apresentado nesta seção, comente: como a linguagem musical ocidental lida com o tempo?
  2. Você se identifica com esse modo de pensar o tempo em música?
  3. Você conhece ou tem vontade de conhecer outros sistemas musicais?
Orientações e sugestões didáticas

Sobre as atividades: Para refletir

  1. Estimule os estudantes a expressar, com as próprias palavras, o que compreenderam sobre o assunto.
  2. e 3. É válido lembrar que em culturas diversas há modos variados de sistematizar o pensamento sobre música e que, de modo semelhante, pode haver entre os estudantes diferentes modos de perceber e entender essa sistematização. Sendo assim, convém avaliar a identificação apontada nas questões e estimular a investigação acerca de variados sistemas musicais.

Orientações: Para pesquisar

Ao esclarecer aspectos rítmicos de alguns gêneros musicais, essa atividade contribui também para sua identificação e análise e, consequentemente, para o aprimoramento da capacidade de apreciação da estética musical, conforme a habilidade (ê éfe seis nove á érre um nove) da Bê êne cê cê. Ajude os estudantes a perceberem e demarcarem cada compasso ao escutarem as músicas sugeridas e, se possível, também de outras escolhidas por eles.

Processos de criação

Considerando o que você conheceu na seção Foco no conhecimento, que tal escolher agora uma música e compor um arranjo para tocar e cantar?

  1. Reúna-se com os colegas em um grupo de até seis integrantes.
  2. Para realizar a atividade, vocês precisarão de instrumentos musicais ou outros objetos sonoros. Distribuam entre os grupos todos os itens que a turma conseguir disponibilizar.
  3. Cada grupo pesquisará e escolherá uma música (pode ser em compasso binário, ternário ou quaternário) da qual tenha um arquivo digital de áudio ou um cedê.
  4. Escutem juntos essa música, marcando a pulsação com as mãos e procurando perceber os tempos de cada compasso. Isso será uma referência para a composição do arranjo.
  5. Reparem também na acentuação dos tempos do compasso, lembrando o que foi visto na seção Foco no conhecimento.
  6. Determinem quais instrumentos farão as marcações de acentuação características do gênero da música escolhida.
  7. Escolham outros sons e instrumentos para preencher os tempos em outras partes. Definam os momentos de pausas de alguns instrumentos, as variações de intensidade etcétera Considerem todos os elementos musicais estudados nesta coleção. Assim, esse trabalho musical será ainda mais rico.
  8. Decidam quem tocará o quê e quem cantará. Então ensaiem e, quando ficar do jeito que vocês querem, apresentem para os outros colegas.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. O que você aprendeu sobre música nesta atividade?
  2. De que parte do arranjo do seu grupo você mais gostou? Por quê?
  3. Você considera que algo pode ser melhorado em algum dos arranjos apresentados? Comente.
Orientações e sugestões didáticas

Sugerimos nesta seção a criação coletiva de um arranjo musical.

Unidade temática da Bê êne cê cê

Música.

Objetos de conhecimento

Elementos da linguagem; Processos de criação.

Habilidades em foco nesta seção

(ê éfe seis nove á érre dois zero) Explorar e analisar elementos constitutivos da música (altura, intensidade, timbre, melodia, ritmo etcétera), por meio de recursos tecnológicos (games e plataformas digitais), jogos, canções e práticas diversas de composição/criação, execução e apreciação musicais.

(ê éfe seis nove á érre dois três) Explorar e criar improvisações, composições, arranjos, jingles, trilhas sonoras, entre outros, utilizando vozes, sons corporais e/ou instrumentos acústicos ou eletrônicos, convencionais ou não convencionais, expressando ideias musicais de maneira individual, coletiva e colaborativa.

Orientações

  1. Nessa parte, será muito importante o seu auxílio para que os estudantes percebam o começo de cada compasso e as acentuações de alguns dos tempos.

7. Nos ensaios, é importante que você estimule as ideias musicais de cada um e ajude a organizá-las; incentive também o desenvolvimento de uma boa dinâmica de trabalho e atuação em equipe.

Como em outras atividades, esse processo todo pode ser simplificado para ser feito em apenas um dia, com arranjos bem simples. Nesse caso, o arranjo pode se basear apenas nos tempos acentuados em cada gênero musical. Ou, se possível, utilize mais aulas para ir construindo e ensaiando esse arranjo aos poucos, o que certamente será musicalmente mais rico.

Conforme já apontado em outras atividades, fique atento para que a produção de cada grupo seja acolhida e problematizada de modo respeitoso, estimulando sempre a generosidade e a cultura de paz no ambiente e combatendo qualquer início de bullying ou outra fórma de constrangimento entre os estudantes.

Organizando as ideias

Recorte de quatro imagens, da esquerda para a direita: Imagem 1: fotografia. Destaque de uma torre de igreja com um sino. Abaixo, uma parte de relógio com números romanos. Imagem 2: Fotografia de uma pessoa com kimono vermelho de punho prateado, calça larga clara, máscara pintada de vermelho e verde no rosto. Ela está de pé e segura um leque vermelho aberto na frente do corpo com a mão direita. No fundo, há luzes vermelhas e amarelas. Imagem 3: Fotografia de dois monges usando roupas brancas. Eles estão lado a lado e seguram com as mãos um livro aberto. Imagem 4: fotografia de um homem sentado vestindo roupas de renda branca, touca de renda  e colares no pescoço.  Ao fundo, do lado direito, uma mulher usa turbante branco, vestido listrado branco e rosa e colares.

Neste capítulo, você conheceu um pouco sobre fórmas antigas de registro musical, refletiu sobre o significado que alguns sons podem ter em determinados locais, épocas ou culturas; estudou diversas atividades musicais envolvidas com aspectos imateriais da vida humana e aprendeu um pouco mais sobre o elemento musical ritmo. Relembre os conteúdos estudados, percebendo o que foi mais marcante para você. Então, reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

Faça no caderno.

  1. Reveja sua resposta para a pergunta que foi feita logo no início deste capítulo: o que você identifica como material e imaterial nas práticas musicais que conhece? Algo pode ser acrescentado agora?
  2. O que você aprendeu de novo neste capítulo sobre o elemento imaterial da música que chamamos de ritmo?
  3. Depois desse estudo, e considerando outros cultos religiosos que você conheça, como diria que diferentes fórmas de espiritualidade podem se refletir em sons e músicas?
  4. Quais descobertas você fez ao longo deste capítulo? O que você gostaria de continuar aprofundando?
Orientações e sugestões didáticas

Unidade temática da Bê êne cê cê

Música.

Objeto de conhecimento

Elementos da linguagem.

Habilidade em foco nesta seção

(ê éfe seis nove á érre dois zero) Explorar e analisar elementos constitutivos da música (altura, intensidade, timbre, melodia, ritmo etcétera), por meio de recursos tecnológicos (games e plataformas digitais), jogos, canções e práticas diversas de composição/criação, execução e apreciação musicais.

Sobre as atividades

  1. Além de retomar a relação entre os conteúdos estudados e a observação e leitura do mundo, esta seção final possibilita uma autoavaliação do aprendizado.
  2. Na questão sobre o ritmo, avalie a compreensão da noção de compasso e a necessidade de novos esclarecimentos. Relembre outros elementos que compõem o ritmo: andamento, que pode ser mais lento ou mais rápido e pode variar dentro de uma mesma música; acentuação, ou seja, a organização da intensidade (mais forte ou mais fraca) na execução dos sons, distribuídos nos tempos de cada compasso. Lembre também que isso tudo está integrado a outros elementos de uma composição, como a melodia e a harmonia, explicadas no livro do 7º ano.
  3. Podem ser citados aspectos sonoros ou musicais que caracterizam determinados cultos religiosos, apresentados ou não neste capítulo: o som dos sinos; a fórma de entoar cantos e frases litúrgicas presentes em missas católicas; os atuais cantos realizados em igrejas evangélicas neopentecostais; os sons e ritmos dos atabaques e agogôs em cultos afro-brasileiros; o som dos sinos budistas; os cantos Hare Krishna, entre outros.

Glossário

Solfejo musical
Entoação de notas musicais pronunciando o nome de cada uma. Serve como exercício para o aprendizado da altura de cada nota ou de uma melodia específica.
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