CAPÍTULO 7 Tornar-se outro: corpo e transfiguração

Fotografia. Três pessoas enfeitadas usam chapéu com peruca colorida e brilhosa, ponchos coloridos com desenhos da bandeira do Brasil e de Pernambuco e de flores. Atrás, uma pessoa caminha e segura um estandarte vermelho, amarelo e dourado do Condado, composto de flores e do nome na parte de cima, em letras douradas e fundo branco com flores, MARACATU DE BAQUE SOLTO - LEÃO DE OURO; ao centro do estandarte, fotografia de um leão; na parte inferior do estandarte, data de fundação e nome nas cores vermelha e dourada. Ao fundo da imagem, há pessoas em casas simples e carros estacionados em rua de terra. Atrás, há árvores.
Maracatu de Baque Solto na cidade de Moreno (Pernambuco), 2021.
Orientações e sugestões didáticas

Sobre o capítulo

Este capítulo, “Tornar-se outro: corpo e transfiguração”, relaciona-se às Unidades temáticas da Bê êne cê cê: Dança; Teatro; Artes integradas.

Objetivos

De acordo com as Competências específicas do Componente Curricular Arte, os conteúdos trabalhados neste capítulo buscam levar os estudantes a:

  1. Explorar, conhecer, fruir e analisar criticamente práticas e produções artísticas e culturais do seu entorno social, dos povos indígenas, das comunidades tradicionais brasileiras e de diversas sociedades, em distintos tempos e espaços, para reconhecer a arte como um fenômeno cultural, histórico, social e sensível a diferentes contextos e dialogar com as diversidades.
  2. Compreender as relações entre as linguagens da Arte e suas práticas integradas, inclusive aquelas possibilitadas pelo uso das novas tecnologias de informação e comunicação, pelo cinema e pelo audiovisual, nas condições particulares de produção, na prática de cada linguagem e nas suas articulações.
  3. Pesquisar e conhecer distintas matrizes estéticas e culturais – especialmente aquelas manifestas na arte e nas culturas que constituem a identidade brasileira –, sua tradição e manifestações contemporâneas, reelaborando-as nas criações em Arte.
  4. Experienciar a ludicidade, a percepção, a expressividade e a imaginação, ressignificando espaços da escola e de fóra dela no âmbito da Arte.
  1. Desenvolver a autonomia, a crítica, a autoria e o trabalho coletivo e colaborativo nas artes.
  2. Analisar e valorizar o patrimônio artístico nacional e internacional, material e imaterial, com suas histórias e diferentes visões de mundo.

Sobre a imagem

A imagem apresenta um Caboclo de Lança. Os detalhes da vestimenta, conforme descritos no texto, conectam o homem que a veste, no contexto do folguedo, com o sagrado – algo imaterial, que faz o brincante transcender sua humanidade. Essa transfiguração, proporcionada pela vestimenta, o transforma em protetor do folguedo, uma figura com personalidade própria e hábitos diferentes daqueles do homem que a veste.

Há ocasiões em que nos vestimos e agimos de fórma diferente para celebrar ou homenagear nossos ancestrais, tradições culturais, divindades e outras conexões em relação àquilo que não faz parte do mundo material.

  1. Com base em sua experiência de vida, reflita: em quais ocasiões você usa determinados trajes e age de fórma diferente da habitual?
  2. Observe a imagem de abertura do capítulo. Você reconhece essa manifestação cultural?

A imagem mostra os Caboclos de Lança, figuras dos Maracatus Rurais de Pernambuco, responsáveis por proteger a brincadeira e o estandarte, organizar a evolução do cortejo e saudar os donos das casas que os recebem.

Com a indumentária, cada brincante que vive o Caboclo de Lança se transfigura, ou seja, altera suas feições e suas maneiras de proceder de acordo com o que sua tradição prevê para o período em que se apresenta. A cabeça colorida e as flores são a conexão com o divino; a pintura do rosto e as máscaras impedem que se identifique o brincante; a gola é a armadura; o surrão, conjunto de sinos que tocam segundo o movimento do caboclo, o orienta, pois é por meio do som que são dados os comandos e o grupo se mantém unido; e a lança é o instrumento de proteção.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Quais elementos de vestuário são geralmente utilizados em manifestações culturais de sua região?
  2. Quais rituais se celebram com o vestuário apresentado na imagem da abertura deste capítulo? As pessoas dançam? Cantam? Dramatizam?
Orientações e sugestões didáticas

Sugestão para o professor

Para mais informações sobre os Maracatus, sugerimos a pesquisa no site do ifãn https://oeds.link/U1Pz5C – e a visita ao site Maracatu.org.br – https://oeds.link/WCWmO5 –, acessos em: 9 fevereiro 2022, nos quais é possível encontrar informações sobre a história, os tipos e grupos de Maracatu, um mapa interativo dos grupos e Nações, além de imagens, vídeos e textos. Compartilhe com os estudantes o material que julgar relevante.

Justificativa

Este capítulo propõe um diálogo entre as linguagens de Dança, Teatro e Artes visuais. O conceito de imaterialidade será vinculado a manifestações artísticas, festas e rituais nos quais é possível ver corpos que se transfiguram, ou seja, tornam-se outro – muitas vezes por meio da relação com suas dimensões ancestrais. Veremos exemplos de como essa transfiguração acontece e quais dimensões ancestrais são essas. Como aprofundamento nos elementos de cada linguagem, chamamos a atenção dos estudantes para a composição material desses corpos em processo de transfiguração: suas indumentárias, pinturas corporais, composição gestual, máscaras etcétera. Com isso, visamos organizar um capítulo que aborda a temática geral do volume a partir de uma perspectiva das Artes integradas, convidando o estudante a reconhecer elos entre elementos que fazem parte de seu dia a dia e elementos das linguagens artísticas.

Para todas as questões propostas no capítulo serão dadas “Respostas pessoais.”.

Orientações

Após ler o texto, peça aos estudantes que listem diversas situações nas quais as roupas e vestimentas podem nos transformar, ou mudar nossos gestos e comportamentos. Por exemplo: as vestimentas utilizadas em festas tradicionais (como o Carnaval), em casamentos, em ritos religiosos, em funerais (trajes de luto) e até mesmo o uniforme escolar indicam maneiras de adequarmos nosso comportamento a determinada situação.

Sobre a atividade

1. Solicite aos estudantes que investiguem as fórmas como eles se relacionam com o mundo imaterial por meio de seu corpo. Será que sabem cantar uma canção aprendida com alguém de uma geração anterior? Eles se reúnem em determinados espaços de celebração? Participam de algum rito ou tradição cultural? Vestem-se de alguma maneira específica por conta de sua cultura?

SOBREVOO

Mascarados, tradições, ritos e arte

Existe ao redor do mundo uma série de manifestações artísticas, culturais e ritualísticas nas quais seus atuantes vivem experiências de transfiguraçãoglossário , ou seja, de se tornar outro corpo, espírito ou figura. Há muitos exemplos de transfiguração, tanto em linguagens artísticas, como o teatro e a dança, quanto em manifestações, rituais e celebrações coletivas.

Faça no caderno.

1. Você já tinha ouvido falar de transfiguração? Já assistiu a um processo semelhante? Onde? Como?

Versão adaptada acessível

1. Você já sabia o que é transfiguração? Já presenciou um processo semelhante? Onde? Como?

O povo indígena Wauja glossário realiza um intenso ritual de transfiguração para tratar as doenças. De acordo com a cultura Vauia, quando uma pessoa adoece, sua alma é separada em pedaços e pode ser capturada por um ser-espírito chamado apá pá a tái. Pode-se dizer que quem está doente tem uma parte de sua alma passeando com um desses espíritos, que, por sua vez, se alimenta da energia vital da parte da alma roubada.

Fotografia. Máscara indígena de palha com desenho de dois pássaros de cor preta predominante e com detalhes em branco, vermelho e amarelo. Os pássaros têm bicos longos e curvados, e estão um de frente para o outro. A máscara está pendurada em ambiente com teto de palha. Ao fundo, dois homens indígenas estão sentados em um banco de madeira; o da esquerda está com uma caneca na mão esquerda e o da direita com um objeto apoiado no colo, no qual trabalha com ambas as mãos.
Máscara confeccionada por indígenas Vauia da aldeia Piiulága para o ritual apá pá a tái. Gaúcha do Norte (Mato Grosso), 2019.
Orientações e sugestões didáticas

Esta seção oferece uma introdução ao tema geral do capítulo – corpo, arte e transfiguração – por meio de exemplos de tradições culturais brasileiras e mundiais, assim como focaliza o elemento da máscara como fundamental para a realização desse trânsito.

Unidades temáticas da Bê êne cê cê

Dança; Teatro; Artes integradas.

Objetos de conhecimento

Contextos e práticas; Processos de criação; Elementos da linguagem; Matrizes estéticas e culturais; Patrimônio cultural; Arte e tecnologia.

Habilidades em foco nesta seção

(ê éfe seis nove á érre um zero) Explorar elementos constitutivos do movimento cotidiano e do movimento dançado, abordando, criticamente, o desenvolvimento das fórmas da dança em sua história tradicional e contemporânea.

(ê éfe seis nove á érre um três) Investigar brincadeiras, jogos, danças coletivas e outras práticas de dança de diferentes matrizes estéticas e culturais como referência para a criação e a composição de danças autorais, individualmente e em grupo.

(ê éfe seis nove á érre dois seis) Explorar diferentes elementos envolvidos na composição dos acontecimentos cênicos (figurinos, adereços, cenário, iluminação e sonoplastia) e reconhecer seus vocabulários.

(ê éfe seis nove á érre três um) Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política, histórica, econômica, estética e ética.

(ê éfe seis nove á érre três dois) Analisar e explorar, em projetos temáticos, as relações processuais entre diversas linguagens artísticas.

(ê éfe seis nove á érre três três) Analisar aspectos históricos, sociais e políticos da produção artística, problematizando as narrativas eurocêntricas e as diversas categorizações da arte (arte, artesanato, folclore, design etcétera).

(ê éfe seis nove á érre três quatro) Analisar e valorizar o patrimônio cultural, material e imaterial, de culturas diversas, em especial a brasileira, incluindo suas matrizes indígenas, africanas e europeias, de diferentes épocas, e favorecendo a construção de vocabulário e repertório relativos às diferentes linguagens artísticas.

(ê éfe seis nove á érre três cinco) Identificar e manipular diferentes tecnologias e recursos digitais para acessar, apreciar, produzir, registrar e compartilhar práticas e repertórios artísticos, de modo reflexivo, ético e responsável.

Sobre a atividade

1. Explore com a turma exemplos de rituais religiosos e/ou festivos nos quais os praticantes se envolvem em emoções espirituais. Explore também práticas artísticas, como o teatro e a dança, nas quais o movimento de transfiguração está presente de modos diversos.

Para curar quem sofre de uma doença, deve-se trazer o apá pá a tái responsável pelo roubo para perto e fazer um festejo, incorporando esse ser-espírito de volta ao próprio corpo do doente. Para realizar esse movimento, o xamã deve descobrir com quais apá pá a tái estão os pedaços da alma dos doentes e convocá-los para aparecer. Então, são confeccionadas imensas máscaras e aerofonesglossário e alguns Vauia se transfiguram nesses espíritos visitando as pessoas doentes e soprando e esfregando tabaco em seus corpos. Com isso, acredita-se que os fragmentos da alma retornam aos corpos dos doentes, assim como sua saúde.

As máscaras utilizadas pelos Vauia ao longo do ritual não são simples objetos. Elas aproximam os espíritos que se manifestam do corpo dos Vauia. Indo mais além, não são apenas os humanos que se transfiguram em apá pá a tái, mas os próprios espíritos se transformam em seres humanos, estabelecendo uma relação direta entre dois mundos distintos e, ao mesmo tempo, complementares.

Foco na História

Máscara e sociedade

As máscaras vêm sendo usadas em diversas manifestações (ritos, celebrações, religiões, festas, artes etcétera), em diferentes sociedades, há milhares de anos. Seu uso tem diversas funções ou características: proporcionar às pessoas maneiras específicas de se relacionar com o fenômeno da morte; o exercício espiritual; fazer homenagens a divindades e ancestrais; se transfigurar em outros seres, como animais, deuses, criaturas imaginárias etcétera

As máscaras mortuárias, por exemplo, estão presentes em diversas culturas do passado. Você já deve ter ouvido relatos a respeito das múmias do Egito antigo. O faraó tutancâmom, falecido em 1324 antes de Cristo, teve seu corpo mumificado e depositado em um sarcófago construído e decorado com ouro e pedras preciosas. No ritual de seu sepultamento, foi colocada uma máscara esculpida tendo seu rosto de molde. Acreditava-se, com isso, que a máscara guiaria sua alma e a preservaria dos espíritos malignos durante a jornada até o outro mundo.

Assim aconteceu também com os povos mesoamericanos que habitaram a região dos Andes desde alguns séculos antes de Cristo. As máscaras, para esses povos, além de ter conexão com os mortos, tinham também vínculo com animais sagrados e entidades espirituais. Algumas delas, inclusive, apresentavam características de antropozoomorfismo, ou seja, representavam seres cujo corpo é parte humana e parte animal. Uma delas é a da divindade Tlaloc, deus das chuvas, raios e trovões, cuja máscara apresenta a união entre duas serpentes simbolizando fertilidade.

Fotografia. Máscara de um crânio, azul com detalhes em marrom. Os olhos são dois círculos vazados, sem preenchimento, o nariz é proeminente e na boca semiaberta há quatro dentes brancos, intercalados por espaços em marrom.
MÁSCARA de Tlaloc. cêrca de 1500. Madeira, turquesa, resina, ouro, conchas e cera de abelha, 18,2 centímetrospor 16,5 centímetrospor12,5 centímetros. Museu Britânico, Londres, Inglaterra.
Orientações e sugestões didáticas

Atividade complementar

Instigue os estudantes a pesquisar e trazer para a sala de aula imagens de máscaras provenientes de ritos, festividades ou tradições de culturas diferentes. Procure expandir o referencial iconográfico deles sobre os diferentes tipos de máscara existentes. Incentive a turma a reconhecer e apreciar a materialidade presente em cada tipo de máscara, assim como a investigar a qual tradição corresponde a máscara pesquisada: qual seu papel dentro de determinado jogo cultural?

Orientações

O primeiro exemplo apresentado no Sobrevoo consiste em uma prática não inserida dentro do campo da instituição artística. Elegemos o rito dos Vauia por dois motivos: por se tratar de um povo residente no território nacional e por apresentar um movimento de transfiguração que é indissociável de sua própria vida e cultura. Buscamos, assim, relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social e cultural desse povo, valorizando seu patrimônio cultural, ao mesmo tempo que problematizamos as diversas categorizações da arte, de acordo com as habilidades (ê éfe seis nove á érre três um), (ê éfe seis nove á érre três três) e (ê éfe seis nove á érre três quatro) da Bê êne cê cê.

Aproveite para conversar com os estudantes sobre o fato de que os atos de transfiguração e de conexão, por meio do corpo, entre o mundo material e imaterial, não estão restritos apenas ao universo artístico. De modo geral, esses atos fazem parte de diversas culturas e manifestações espirituais.

Ao longo da coleção já foram apresentados alguns exemplos de ritos – como o rito de passagem dos caxinauá, no capítulo 4 deste volume. Estabeleça relações entre os exemplos apresentados e instigue os estudantes a pesquisar outros rituais, de diferentes culturas.

Orientações: Foco na História

Chame a atenção dos estudantes para o corpo de duas serpentes que circundam os olhos da máscara de Tlaloc. Você também pode apresentar imagens de máscaras citadas no texto da seção (como a de tutancâmom) ou fazer um levantamento iconográfico de diversos tipos de máscara diferentes para exibir para a turma.

A máscara animada conta o mito

As máscaras e as indumentárias também são utilizadas para recriar mitos e narrativas originárias. É o caso da tradição indiana do catacáli. Considerado pelo mundo ocidental o teatro indiano, o catacáli consiste em uma cerimônia na qual se misturam elementos dramáticos, dança, ritual, rememoração de mitos e reafirmação de alguns valores espirituais da cultura hindu. No palco, considerado um território sagrado pelos intérpretes, acontece o encontro entre homens e deuses. Nele são apresentados temas relacionados às grandes paixões humanas, à luta entre o bem e o mal, às qualidades da honra e da coragem e à relação entre a terra e tudo aquilo que a ultrapassa.

2. Observe esta imagem de uma cena de catacáli. Quais são os elementos da caracterização dos personagens que mais chamam a sua atenção?

Fotografia. Apresentação teatral. À esquerda, um homem veste fantasia com coroa grande e colorida, rosto pintado de verde, olhos destacados em preto e boca com pintura vermelha. Ele veste um vestido vermelho rodado com lenços sobrepostos à frente e calça azul por baixo. Está com os braços estendidos para a frente, as palmas das mãos voltadas para baixo e tem unhas longas na mão esquerda. À direita, uma mulher com o rosto pintado de cor de laranja, olhos destacados com tinta preta, boca destacada em vermelho. Ela usa lenço vermelho na cabeça, tem cabelos pretos até a cintura, e veste blusa  colorida, predominantemente vermelha, com mangas compridas roxas. A saia é larga e plissada, branca. A mulher usa colar, pulseiras e está de pé e segura com a mão esquerda os dedos da mão direita, à frente do corpo.
Apresentação de catacáli em Kerala, Índia. Fotografia de 2019.
Orientações e sugestões didáticas

Orientações

Um dos objetivos, ao abordar a tradição do catacáli como exemplo neste capítulo, é apresentar aos estudantes uma prática cultural que não diferencia as linguagens da Dança e do Teatro. Assim, não há separação entre as linguagens como estamos acostumados a fazer e pensar, mas, sim, uma composição de dança, mito e narrativa que aproxima a arte do ritual. Essa problematização das categorias tradicionais da arte contempla a habilidade (ê éfe seis nove á érre três três) da Bê êne cê cê.

Convide os estudantes a reconhecer e a apreciar modos de manifestação cultural que se valem dessa indiscernibilidade. Nesse sentido, a própria prática artística de cazúo ônu apresentada neste capítulo pode fazer eco a essa não separação entre os espaços da arte, do mito e do rito. A partir da presença da mitologia indiana no catacáli, experimente fazer conexões diretas com o que foi visto no capítulo 4 deste livro.

Sobre a imagem

Chame a atenção da turma para as diferenças entre as máscaras faciais dos artistas, assim como para as peculiaridades de suas indumentárias. Aponte a exuberância das cores nas maquiagens e vestimentas, assim como a grande quantidade de adereços (coroa na cabeça, pulseiras, joelheiras, brincos etcétera) –, contemplando a habilidade (ê éfe seis nove á érre dois seis) da Bê êne cê cê. Comente com os estudantes o fato de que os intérpretes do catacáli, em geral, sobem ao palco descalços – em sinal de respeito, devoção e conexão com o espaço sagrado da cena.

Na tradição indiana, não há uma distinção formal entre tea­tro e dança. O ator de catacáli, por sua vez, é considerado um sacerdote: sua função consiste em oferecer às divindades a preciosidade de sua atuação em cena. No catacáli não se usam palavras: para se transfigurar nos personagens, os atores passam por um longo processo de formação no qual aprendem a técnica do gestual codificado do catacáli. A maquiagem que constrói a máscara no rosto dos atores lhes permite criar muitas expressões faciais diferentes. A diversidade de cores presentes nas máscaras também tem a função de demarcar o tipo de per­sonagem que cada ator representa.

Faça no caderno.

Para pesquisar

As máscaras nas festas de diversos países

Após ter estudado alguns exemplos de manifestações artísticas nas quais o corpo se transfigura em outros seres, é o momento de ampliar os seus horizontes e organizar uma pesquisa.

  1. Reúna-se com os colegas em um grupo de até cinco integrantes.
  2. Cada grupo será responsável por eleger uma das manifestações culturais.
    1. Gigantes e dragões (Bélgica e França).
    2. Carnaval de Barranquilla (Colômbia).
    3. Carnaval de Oruro (Bolívia).
    4. Festa dos Mortos (México).
    5. Teatro Nô (Japão).
  3. De acordo com a manifestação escolhida pelo grupo, deve ser organizada uma pesquisa (em internet, livros, filmes, documentários etcétera) que recolha dados sobre:
    1. A história dessa manifestação cultural.
    2. Seus elementos materiais: indumentárias, adereços, máscaras, danças, narrativas, fórmas cênicas etcétera
    3. A relação entre os elementos materiais dessa manifestação cultural e o mundo imaterial: como se dá a conexão entre o corpo e a transfiguração?
  4. Após o desenvolvimento da pesquisa, você e seu grupo devem organizar uma fórma de expor os resultados do trabalho para o restante da turma.
  5. Para concluir, reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.
    1. Nessas manifestações, as indumentárias estavam ligadas a algum tipo de transformação nas atitudes, nos gestos e nos movimentos de quem as realiza? De que modo?
    2. Em que medida é importante conhecer folguedos, rituais e outras fórmas de expressão tradicionais tanto da sua comunidade quanto de outras? Justifique sua resposta.
Orientações e sugestões didáticas

Sugestão para o estudante

Acesse o site a seguir para assistir a um vídeo (com legendas em inglês) sobre o processo de aprendizagem das técnicas do catacáli: EYE Dancing and India’s Ancient Art of Kathakali. 2017. 1 vídeo (cêrca de 3 minutos). Publicado pelo canal Great Big History. Disponível em: https://oeds.link/sMMHEc. Acesso em: 16 junho 2022.

Orientações: Para pesquisar

Nesta atividade, propomos que a turma conheça celebrações, festas e folguedos de outros países. Ao realizar essa pesquisa, os estudantes devem perceber que elementos como máscaras, roupas e outros adereços rememoram mitos, situações e histórias. Eles devem perceber também que essa rememoração colabora para a manutenção de hábitos de convivência, filosofias de vida, questões religiosas – entre outros aspectos característicos da sociedade ou população que mantém determinada tradição. Os conteúdos abordados nesta seção contemplam a habilidade (ê éfe seis nove á érre três quatro) da Bê êne cê cê.

Listamos apenas algumas sugestões. Você pode propor outros caminhos e manifestações culturais. É importante conduzir a pesquisa de fórma que os estudantes descubram manifestações culturais que não fazem parte de seu repertório.

Sugerimos algumas fórmas de apresentação da pesquisa. Você pode escolher de acordo com a sua disponibilidade de recursos:

  • Exposição de imagens com apresentação oral de informações.
  • Criação de um documentário curto sobre a manifestação.
  • Apresentação da própria manifestação (quando se tratar de algo familiar e parte da cultura dos próprios estudantes).

Palhaços: protetores e provocadores

3. Observe a imagem. Pela indumentária usada por essas figuras, quem você acha que elas são? Por quê?

Fotografia. Apresentação ao ar livre. Em primeiro plano, à esquerda, uma pessoa com roupa colorida, predominante vermelha com floral amarelo e verde, e máscara branca com detalhes de pintura em azul, com palha pendurada que sai da boca. Ela está agachada, com o joelho esquerdo apoiado no chão e segura nas mãos uma máscara branca com detalhes em vermelho. No centro, ao fundo, uma pessoa em pé, com roupa colorida predominantemente vermelha com floral azul, com camadas de babados verdes, peruca colorida cor de laranja e vermelha, olha para o chão. Ao redor, outras pessoas com figurinos semelhantes. Atrás, pessoas sem fantasia observam a cena. Acima, e bandeirinhas penduradas em fios sob céu azul.
Palhaços de Folia de Reis da Irmandade de Folia de Reis do Novo Horizonte, em São José dos Campos (São Paulo). Fotografia de 2019.

As figuras são palhaços da Folia de Reis, festejo realizado entre 25 de dezembro e 6 de janeiro, principalmente em cidades do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. A festa remete à jornada dos Reis Magos para encontrar o menino Jesus, na tradição cristã. Nela, os mestres, contramestres, instrumentistas e o bandeireiro vestem seus uniformes. Cada qual tem uma função diferente no cortejo: os primeiros são responsáveis pela organização do cortejo do grupo e pelas músicas, enquanto o último carrega a bandeira – objeto considerado sagrado pelos devotos. Ao vestirem seus uniformes, eles se conectam simbolicamente com as figuras dos Santos Reis, materializada na imagem que compõe a bandeira; isso se expressa com atitudes sérias, contidas, respeitosas e de oração durante toda a jornada. Nos cortejos, os grupos visitam casas e seus presépios, fazendo as loas, versos musicados que contam a jornada dos Reis Magos. Os palhaços são figuras importantes da festa; eles se apresentam com troças e contorcionismos no lado de fóra das casas, fazendo a chamada chula. Em troca das apresentações, os grupos da folia recebem comida, bebida e prendas para ajudar na caminhada.

Orientações e sugestões didáticas

Sobre as Folias de Reis

São festas dedicadas a rememorar a jornada dos reis que, segundo a tradição cristã, foram visitar o menino Jesus e sua família logo após o seu nascimento. Os grupos de Folia de Reis se encontram para ensaiar e organizar a jornada, durante a qual uma bandeira, considerada sagrada, visita diversas casas da comunidade. Também são recolhidas prendas para a festa de arremate que conclui a jornada. Durante o período dedicado à organização e realização da folia, os devotos devem cumprir determinados rituais – passados de geração em geração. Os palhaços são figuras muito importantes nesse folguedo. Sua função é a de proteger espiritualmente o cortejo e purgar a comunidade, expondo publicamente maus-tratos e atos corruptos.

Sobre a atividade

3. Como não se consegue ver quase nada do corpo da pessoa que veste a roupa, é possível que se associe a figura a algum tipo de monstro. Sugira aos estudantes que leiam o trecho e observem novamente a imagem. Chame a atenção para a coerência entre as atitudes do palhaço e a roupa que protege o homem que a veste. O palhaço, no seu momento de apresentação durante a jornada, pode maldizer a tudo e a todos e pode fazer denúncias graves em seus discursos, abordando questões sociais e políticas. Como essa é a sua função, a identidade da pessoa que veste o personagem precisa ser preservada.

Sobre a imaterialidade na Folia de Reis

Segundo o pesquisador Gilmar Rocha, em seu artigo “A roupa animada”, nas indumentárias utilizadas na Folia de Reis estão contidas “forças capazes de alterar a natureza das coisas ou de evocar coisas ainda mais poderosas” (ROCHA, 2014 [ver referência completa na página seguinte]).

O palhaço na Folia de Reis se transfigura e, desse modo, assume posturas e tem liberdade para cantar seus versos e fazer suas estripulias dissociado do homem que veste a indumentária. Nesse sentido, essas indumentárias estão diretamente relacionadas ao tema da transfiguração e, portanto, à imaterialidade.

Ao vestir suas indumentárias, os homens que vivem os palhaços se transfiguram em fórmas mundanas, irreverentes, transgressoras. Na chula, eles provocam o riso e reflexões sobre as más atitudes humanas, burlando a ordem sagrada do festejo. Sua indumentária inclui o cajado e uma bolsa de couro que serve para guardar as doações que recebem durante o trajeto. Segundo relatos, aos palhaços é atribuída a capacidade de tornar visíveis as forças do mal e mantê-las sob controle, tornando-se figuras de proteção da folia. Diz-se que, ao final da festa, se despedem das suas vestes pedindo perdão pelos seus pecados. O sagrado, materializado pela bandeira, e o profano, na chula dos palhaços, caminham juntos nas Folias de Reis, reunindo devotos dos Santos Reis que se mantêm em equilíbrio por meio das atitudes das figuras que as compõem.

Fotografia. Grupo de pessoas caminhando. À esquerda, um homem de turbante dourado e túnica predominantemente azul. Ao lado dele, uma pessoa com camiseta branca e saia de chita estampada segura com as mãos, à frente do rosto, um estandarte com a pintura de Maria e Jesus em seu colo. No centro da imagem, um homem de óculos, com coroa e túnica marrom, com echarpe em tons de marrom e mangas douradas, está de boca aberta e segurando um papel na mão esquerda. À direita, uma mulher, de perfil, segura um estandarte voltado para o homem de óculos. Ela também está de boca aberta e usa camiseta branca e saia com fitas coloridas penduradas. Ao fundo, várias pessoas com flores e fitas nos cabelos caminham na rua seguindo as pessoas com os estandartes.
Festa de Folia de Reis nas ruas de Vitória (Espírito Santo). Fotografia de 2020.
Orientações e sugestões didáticas

Sugestões para o professor

Sobre a Folia de Reis, recomendamos a leitura de:

BITTER, Daniel. A Bandeira e a máscara: estudo sobre a circulação de objetos rituais nas Folias de Reis. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2008.

ROCHA, Gilmar. A roupa animada – persona e performance na jornada dos santos reis. Cronos, Natal, volume 15, número 2, página. 8-34, julho.-dezembro. 2014. Disponível em: https://oeds.link/XIGB8v. Acesso em: 16 junho. 2022.

Atividade complementar

Convide os estudantes a pesquisar outras festas, celebrações e encenações que também sejam ligadas a representações teológicas e possuam personagens profanos, como os palhaços da Folia de Reis. Sugerimos as seguintes perguntas norteadoras:

Quem são os personagens dessa festa, celebração, encenação?

Qual é a função dos personagens nessa festa, celebração, encenação?

Qual é a importância dessa festa, celebração, encenação para a tradição na qual ela está inserida?

O resultado dessa pesquisa pode ser apresentado em uma exposição oral, em um texto escrito ou por meio de imagens. Ela pode ser realizada em grupo ou individualmente.

Para experimentar

Criando figuras mascaradas

Ilustração em preto e branco. Uma máscara oval. No topo da máscara, uma coroa. Na testa, cinco círculos pretos lado a lado em curvatura. A sobrancelha direita está voltada para cima e a esquerda, para baixo. Os olhos são ovalados, na horizontal, e preenchidos em preto. O nariz é uma forma preenchida de preto que vem da testa até a altura da boca. Há formas triangulares abaixo dos olhos. A boca é preenchida de preto, e as orelhas são pretas com um círculo branco em cada uma.

Você vai experimentar pesquisar e criar elementos para compor uma figura mascarada.

Para isso, relembre suas pesquisas e experiências vividas ao longo do livro. Você pode retomar as histórias de família, combinando elementos da sua história com a dos colegas, ou recriar histórias da vizinhança, da sua cidade ou região. Use a imaginação para criar sua brincadeira junto com os colegas.

  1. Forme um grupo de cinco integrantes. Cada um de vocês vai retomar a pesquisa individual.
  2. Criem um roteiro de situações para cinco figuras mascaradas (você e seus colegas) no qual a interação entre todos descreva uma narrativa; vocês podem incluir falas ou apenas gestos e movimentos. Figuras mascaradas instrumentistas são bem-vindas, caso você ou algum colega toque algum instrumento.
  3. No roteiro, as figuras devem apresentar o que vai acontecer, desenvolver a situação e, ao terminar, se despedir do público.
  4. Após a escrita do roteiro, cada integrante do grupo deve desenhar sua figura mascarada, prevendo os materiais necessários para a confecção da própria máscara.
  5. Os grupos terão o auxílio do professor para fazer um documento digital ou físico reunindo o roteiro, os desenhos e a lista de materiais para executá-los.
  6. Ao final desta atividade, apresentem para os colegas o roteiro e o desenho das figuras mascaradas criadas por vocês.
  7. Para concluir, reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.
    1. De que modo as figuras mascaradas apresentadas remetem às pesquisas feitas nas famílias, vizinhanças, cidades ou regiões?
    2. Que elementos dos roteiros estão relacionados com as tradições pessoais dos integrantes dos grupos?
Orientações e sugestões didáticas

Orientações: Para experimentar

Nesta atividade convidamos os estudantes a criar figuras mascaradas e roteiros de situações e contextos para elas. Retome com a turma as experiências e pesquisas pessoais realizadas anteriormente para ajudar a criar as figuras e os roteiros. Esta atividade dará suporte para a proposta da seção Processos de criação, apresentada mais adiante neste capítulo. Estimule os estudantes que tocam instrumentos a utilizá-los como elementos de criação e incentive também a composição de canções e versos.

Em relação à confecção das máscaras, instigue os estudantes a pesquisar os mais diversos tipos de material para compor sua figura, em vez de propor um material comum (máscaras de papel machê, por exemplo).

Procure proporcionar o desenvolvimento de um processo integrado entre a escrita do roteiro, os improvisos musicais e corporais e a confecção da máscara, enfatizando as relações processuais entre as diversas linguagens artísticas, de acordo com a habilidade (ê éfe seis nove á érre três dois) da Bê êne cê cê.

A máscara na dança butô de cazúo ônu

Se a máscara e a indumentária podem dar vazão ao caráter profano dos rituais, elas também podem fazer com que o corpo entre em contato com o sagrado e até mesmo com a experiência da morte. O artista japonês cazúo ônu (1906-2010), em seu espetáculo de butôglossário My mother [Minha mãe, em tradução livre], evoca as memórias da relação com sua mãe com base na ideia de que essas figuras – as mães – são a fonte inesgotável de energia de nossa vida.

Para ôno, a mãe remete ao útero, órgão feminino responsável pela nutrição do embrião, o primeiro espaço no qual nos movimentamos. Para o artista, o palco em que dançava nada mais era do que uma metáfora do útero materno.

Fotografia. Um homem com o rosto pintado de branco, com destaque azulado nas pálpebras e nas sobrancelhas, preto nos olhos e vermelho na boca. Ele veste um manto preto, com detalhes em amarelo e vermelho, aberto no peito, com os mamilos cobertos. Ele está com a mão direita para cima, semifechada, a palma para cima, e a mão esquerda próxima do pescoço, os dedos curvados. Ele olha para cima com os olhos marejados, a boca aberta mostra parte dos dentes superiores.
MY MOTHER [Minha mãe, em tradução livre]. Direção: tassúmi rijicáta. Interpretação: cazúo ônu. Nova York, Estados Unidos, 1996.

4. Observe a imagem do artista japonês. Que elementos você destacaria nela?

Em muitos de seus trabalhos, ôno usava roupas e adereços geralmente atribuídos ao universo feminino: vestidos, maquiagem, batom, flores no corpo ou nos cabelos etcétera Segundo o dançarino japonês, sua intenção não era imitar as figuras femininas no palco, mas sim criar uma experiência na qual ele pudesse voltar à sua origem mais distante: o útero materno. Ao mesmo tempo, voltar a essa origem remota possibilitava lidar diretamente com a experiência da morte: segundo ele, temos de lembrar que, para que nós pudéssemos ser concebidos, milhões de outros espermatozoides não puderam fecundar o óvulo. O dançarino acreditava que essa experiência de vida e morte estava impregnada em nossa pele desde a concepção e podia ser expressada por meio da dança e do corpo.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Relembre todos os exemplos apresentados ao longo do Sobrevoo. Em qual dos casos a relação com o mundo imaterial mais impressionou você? Por quê?
  2. Quais foram os elementos materiais que mais chamaram a sua atenção ao longo dos exemplos estudados? Por quê?
Orientações e sugestões didáticas

Sobre a atividade

4. Alguns desses elementos fazem parte da poética desse artista. Ele lida com um ir e vir permanente entre o corpo masculino e o feminino.

Sobre as atividades: Para refletir

  1. No apá pá a tái, a relação com a imaterialidade está dada pelos espíritos que sequestram a alma; no kathakali, a imaterialidade aparece na presentificação e homenagem a divindades e textos sagrados; na Folia de Reis, há a encenação de um mito e, ao mesmo tempo, sua profanação pelos palhaços; e, por fim, o imaterial em My Mother, de Kazuo ôno, está relacionado à origem, ao útero e à relação entre a concepção e a morte.
  2. Os estudantes foram mais mobilizados pelas máscaras, maquiagens, indumentárias, ou pela composição completa? É importante que você esteja atento para o interesse específico que alguns estudantes manifestem em relação aos aspectos materiais do teatro e da dança. Incentive esses estudantes a continuar pesquisando e criando concretamente realizações artísticas com base nesses elementos.

 

Foco em...

Kazuoôno e o butô

Fotografia. Dançarino Kazuo Ohno, homem com com o rosto pintado de branco, os olhos destacados em preto e a boca em vermelho, semiaberta, que mostra parte dos dentes superiores e inferiores. Ele usa um chapéu redondo, achatado, com plumas, e um vestido bege longo, com babado nas mangas e com cauda. Está em pé, com o braço direito flexionado, a mão próxima ao queixo, e o braço esquerdo estendido para a  à direita, à frente do corpo.
quê tchô fu guêtiçu[Flores, pássaros, vento e lua, em tradução livre]. Coreografia e interpretação: Kazuo ôno. Nova iórque, Estados Unidos, 1993.

Faça no caderno.

1. Com base na imagem, como você imagina os gestos dessa dança? Como eles se relacionam com a indumentária e a máscara escolhidas pelo artista?

O butô foi criado no Japão por tassúmi rijicáta (1928-1986) e cazúo ônu. O marco inicial desse movimento foi a apresentação da dança Kinjiki [Cores proibidas, em tradução livre], de ijicatá, em 1959. Os dois dançarinos trabalharam juntos por muito tempo, porém seus trabalhos eram diferentes entre si. E, com suas particularidades, foram esses artistas que definiram os fundamentos do butô como um tipo específico de dança, valendo-se de suas criações, reflexões, oficinas e treinos.

Orientações e sugestões didáticas

Unidades temáticas da Bê êne cê cê

Dança; Teatro.

Objeto de conhecimento

Contextos e práticas.

Habilidades em foco nesta seção

(ê éfe seis nove á érre zero nove) Pesquisar e analisar diferentes fórmas de expressão, representação e encenação da dança, reconhecendo e apreciando composições de dança de artistas e grupos brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas.

(ê éfe seis nove á érre dois quatro) Reconhecer e apreciar artistas e grupos de teatro brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas, investigando os modos de criação, produção, divulgação, circulação e organização da atuação profissional em teatro.

(ê éfe seis nove á érre dois cinco) Identificar e analisar diferentes estilos cênicos, contextualizando-os no tempo e no espaço de modo a aprimorar a capacidade de apreciação da estética teatral.

Orientações

Propomos aqui a apreciação de um artista nascido na Ásia: o japonês cazúo ônu. Sua obra está vinculada à tensão entre as linguagens da Dança, do Teatro e das Artes visuais. Em sala de aula, seu trabalho pode ser explorado a partir do norte temático deste livro: a imaterialidade. O butô, fórma específica de dança criada por ôno e tassúmi rijicáta, nasceu do diálogo entre o mundo corpóreo e o universo imaterial. Converse com os estudantes sobre a indumentária e sobre a forte caracterização de ôno em seus espetáculos (maquiagem, cabelos, transfiguração em figuras femininas etcétera).

Sobre cazúo ônu

As criações de cazúo ônu estão muito ligadas aos hábitos e costumes japoneses – principalmente em relação à vida no Japão após a Segunda Guerra Mundial. Em seus espetáculos, ele cria imagens, movimentos e figuras que procuram revelar características do corpo humano e da humanidade. Isso se dá, porém, de modo intimamente ligado à sua cultura – fundamentada em padrões de pensamento e em modos de organizar a linguagem e a cena muito diferentes dos padrões ocidentais aos quais estamos habituados.

Sugestões para o professor

Gráiner, cristíne. Leituras do corpo no Japão e suas diásporas cognitivas. São Paulo: norte-1, 2015. Christine Greiner é uma das pesquisadoras brasileiras de dança e corporeidade que mais se aprofundam na discussão do corpo nas práticas orientais. Se possível, além do livro indicado, procure alguns de seus artigos publicados na internet.

OHNO, Yoshito. Flower and Bird (Flor e Pássaro). Conectedance, 14 julho 2015. Disponível em: https://oeds.link/RAmZ0N. Acesso em: 16 jun. 2022. Entrevista com Yoshito Ohno, filho de cazúo ônu, sobre seu aprendizado com o mestre ijicatá. Nessa curta entrevista, ele descreve o modo como o mestre o conduzia para criar seus movimentos e transformar o corpo.

PONZIO, Ana Francisca Ponzio. Vida, morte. Magia. Jornal da Tarde, 10 abril 1986. Apud: cazúo ônu morre aos 103 anos. Conectedance, 2junho 2010. Disponível em: https://oeds.link/AlajH2. Acesso em: 16 junho 2022. Texto de Ana Francisca Ponzio que transcreve partes de um workshop ministrado por cazúo ônu no Brasil em 1986.

Na dança butô, o bailarino desenvolve a habilidade de ampliar sua capacidade de percepção. Torna-se capaz de entrar em contato com forças e saberes que lhe possibilitam metamorfosear-se em outro ser humano, animais, plantas e objetos inanimados. O dançarino de butô segue o movimento da vida, segundo a filosofia oriental, dos elementos da natureza e seus fluxos. Essa dança tem seus fundamentos no entendimento de mundo do povo japonês, um conjunto de filosofia, medicina, tradições e religião unidas nas práticas da vida cotidiana. Nessa filosofia, o conhecimento sobre a natureza acontece na relação direta com ela, na vivência dos seus ciclos e fenômenos. A vida e a morte fazem parte desse fluxo e, portanto, são princípios dessa dança.

Para o artista, a fórça criativa e a sabedoria vinham dos mortos e a dança era a busca pela própria vida. O corpo era a conexão entre a alma e o Universo. O movimento nascia quando o dançarino encontrava o silêncio ou o vazio, o ma, termo difícil de traduzir, pois é originariamente um ideogramaglossário , um símbolo, que no zen-budismo tem mais de uma significação.

A dança de cazúo ônu, as suas falas e escritas, assim como os ideogramas, abraçam muitos sentidos sem apontar para um significado determinado. Assim como o exercício da escrita aleatória de palavras, o espetáculo de butô pode provocar diversas sensações e reflexões que nem sempre se conectam entre si do modo como estamos acostumados. As imagens da cena transformam-se, fazendo com que o espectador se envolva com uma percepção de tempo e de fluxo de pensamento diferente da que está acostumado em seu cotidiano.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Como você lida com a experiência do silêncio? Em quais lugares ele acontece?
  2. Como você entende a morte? Segundo sua perspectiva, há alguma relação entre vida e morte? Qual?
Orientações e sugestões didáticas

Atividade complementar

Por meio de um projeto interdisciplinar com o professor de História, você pode instigar a turma a realizar uma pesquisa sobre elementos da cultura japonesa de antes e de depois da Segunda Guerra Mundial. Sabendo que o butô é uma modalidade de dança criada ao término da Segunda Guerra, proponha uma investigação sobre outros elementos que compõem as artes japonesas. O teatro Nô é um exemplo, e foi apresentado no livro do 7º ano desta coleção. De fórma complementar, proponha aos estudantes que pesquisem artistas brasileiros (ou que trabalham no Brasil) que se dedicam ao estudo e à transmissão da arte do butô. Para um exemplo, veja o site da dançarina emilí Sugai: emilí SUGAI. Disponível em: https://oeds.link/rhCYcC. Acesso em: 16 junho 2022.

Sobre as atividades: Para refletir

  1. A experiência do silêncio pode ser bastante incômoda para alguns. Entretanto, experimente instigar cada um dos estudantes a relembrar momentos nos quais a relação de seu corpo com o silêncio do ambiente, ou talvez seu silêncio interno, tenha sido prazerosa ou interessante para ele.
  2. Esta pergunta, assim como a anterior, se vincula à obra de cazúo ônu. Você pode começar a discussão pelo inverso: como você entende a vida? Além disso, o tema da morte está diretamente conectado à ideia de ancestralidade. Você pode incentivar os estudantes a refletir sobre a relação entre vida e morte com base na cultura e nas tradições.

Foco no conhecimento

Máscaras, adereços, indumentárias e transfiguração

Como você viu ao longo do Sobrevoo, indumentárias, máscaras e adereços são elementos recorrentes em diversas manifestações culturais, ritos e tradições, sendo parte fundamental dos processos de transfiguração.

Observe a imagem de cazúo ônu se preparando para entrar em cena.

Fotografia em preto e branco. Destaque do rosto de um homem que segura com a mão esquerda uma esponja de maquiagem, a qual passa sobre a bochecha esquerda. Ele está de olhos fechados, o rosto levemente inclinado para cima e os cabelos presos em bobes.
cazúo ônu em processo de preparação para um espetáculo. São Paulo (São Paulo), Fotografia de 1986.

Agora, você vai se aproximar de algumas particularidades desses elementos materiais – máscaras, indumentárias e adereços – e de seu potencial de transfiguração e diálogo com o mundo imaterial.

  1. Esses elementos possibilitam ao usuário brincar de ser outras figuras. Muitas vezes, esses elementos não são considerados meros objetos, mas sim parte viva de elementos imateriais de uma cultura.
  2. O mascaramento é um processo que pode acontecer tanto por meio da utilização da máscara como pela composição completa de uma figura – trajes, maquiagem, adereços etcétera –, como no caso do catacáli.
Orientações e sugestões didáticas

O objetivo desta seção é explorar os diferentes elementos envolvidos na composição de uma obra cênica.

Unidades temáticas da Bê êne cê cê

Dança; Teatro.

Objeto de conhecimento

Elementos da linguagem.

Habilidades em foco nesta seção

(ê éfe seis nove á érre um um) Experimentar e analisar os fatores de movimento (tempo, peso, fluência e espaço) como elementos que, combinados, geram as ações corporais e o movimento dançado.

(ê éfe seis nove á érre dois seis) Explorar diferentes elementos envolvidos na composição dos acontecimentos cênicos (figurinos, adereços, cenário, iluminação e sonoplastia) e reconhecer seus vocabulários.

Orientações

Apresentamos nesta seção alguns elementos-chave da composição performática: máscaras, indumentárias, maquiagens e adereços. O conteúdo nela abordado propõe que você explore junto com a turma as funções artísticas do maquiador, do figurinista, do aderecista e do artesão de máscaras. Relembre aos estudantes que, como no caso do kathakali, as máscaras são elementos cênicos e também podem ser constituídas por pinturas faciais ou maquiagens.

  1. A máscara possui uma contradição: a princípio, poderíamos pensar que ela cobre o rosto e o corpo de quem a usa. Mas esses elementos materiais, em vez de esconder, exibem cada vez mais o corpo de seu portador. Isso acontece porque, ao se mascarar, uma pessoa pode experimentar estar no lugar de outro ser vivo, espírito, figura mitológica e, assim, acessar vivências e conhecimentos diferentes daqueles do seu cotidiano. Portanto, o mascaramento possibilita uma ampliação de nossos sentidos: quem se transfigura em outro ser passa a poder dizer e fazer coisas que não diria ou faria se estivesse com rosto e corpo expostos.
  2. Esses elementos também proporcionam uma inversão na lógica do dia a dia. Qualquer um pode usar uma máscara, trajes e adereços masculinos ou femininos.
  3. Por ser expressiva e estabelecer pontes com o mundo imaterial, a máscara também obriga o corpo do atuante a se modificar para se ajustar a ela. É importante lembrar que o jogo da máscara envolve um estilo de movimento e expressão mais intenso do que aqueles com os quais lidamos em nosso dia a dia.
  4. Os atuantes mascarados se comunicam, muitas vezes, sem palavras. É por meio de mímica e gestos que o atuante pode criar todo um campo de palavras compreendidas mesmo no silêncio.
  5. Existem máscaras que ocupam o corpo todo dos intérpretes e há máscaras menores e minimalistas.
  6. Alguns tipos de teatro, como o catacáli, utilizam a maquiagem como um elemento do ritual, não apenas por embelezamento. Uma das funções da maquiagem é codificar as expressões do rosto, ou seja, fazer com que a face do atuante se assemelhe a alguma outra coisa. Ela também serve para acentuar algumas de suas expressões.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Como você vê a possibilidade que as máscaras oferecem de ser outra pessoa diferente de você mesmo?
  2. Você já experimentou usar maquiagem? Com qual objetivo? O que ela muda em suas expressões?
  3. Algum tipo de roupa já fez com que você se sentisse diferente e mais livre? Como foi essa experiência?
Orientações e sugestões didáticas

Sobre as atividades: Para refletir

  1. Ao utilizar uma máscara, você pode criar movimentos e gestos completamente diferentes dos habituais. Desse modo, é possível experimentar e ampliar repertórios de gestos e movimentos, além de criar conexões com saberes ancestrais, mitológicos e até mesmo mágicos – a depender do contexto.
  2. Entre outros fins possíveis, o uso de maquiagem pode objetivar: o embelezamento; a expressão artística; a criação de uma conexão ancestral.
  3. Os estudantes podem mencionar experiências com fantasias de Carnaval, com figurinos para o teatro e até mesmo com roupas utilizadas em alguma cerimônia.

Orientações

  1. Retome o exemplo dos Caboclos de Lança na abertura do capítulo. As máscaras de pano (do tipo cirúrgicas) contribuem para seu mascaramento.
  2. Geralmente, temos a ideia de que máscara é o elemento que encobre apenas a face, entretanto os estudantes podem compreender que toda a composição da figura (dos pés à cabeça) compõe o processo de mascaramento.
  3. Um exemplo dessa relação pode ser encontrado em cazúo ônu, que se mascara para entrar em contato com o universo que lhe deu origem.
  4. Esse detalhe é de extrema importância: a máscara permite uma experiência de embaralhamento: entre tempos distintos (passado e presente), entre experiências distintas (vida e morte) e também entre gêneros.
  5. Pode-se exibir para a turma vídeos de encenações de catacáli para que notem o imenso ajuste físico pelo qual passam os atuantes para dar vida e credibilidade às figuras que representam.
  6. Relembre o exemplo dos apá pá a tái e do uso do aerofone como modo de sonorização da máscara.
  7. Relembre o exemplo de acúmulo de elementos dos apá pá a tái ou dos palhaços da Folia e, ao contrário, o exemplo da singela maquiagem de cazúo ônu.

Processos de criação

Vamos colocar em prática o que você planejou na seção Para experimentar, no Sobrevoo deste capítulo.

Será preciso dividir o trabalho em três etapas:

1. Confecção da indumentária da figura

Você vai montar a indumentária da sua figura seguindo o que foi planejado.

  1. Estudo da figura individual e ensaio do roteiro
    1. Experimente individualmente criar movimentos e ações para a sua figura; utilize, na performance de sua figura, os elementos de dança e teatro estudados anteriormente. Lembre-se também de que sua figura pode tocar um instrumento.
    2. Utilize-se das particularidades elencadas na seção Foco no conhecimento para a criação das movimentações.
    3. Criados os elementos individuais, volte para seu grupo e estude o roteiro escrito junto com os colegas.
    4. Com o auxílio do professor, organize o ensaio do roteiro e, caso seja necessário, faça adaptações para que a narrativa possa ser compreendida pelo público.
  2. Apresentação dos roteiros

Seguindo a orientação do professor, organize o momento para apresentar seu roteiro e assistir à apresentação do roteiro dos colegas.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Foi possível entender as narrativas por meio das atuações? Por quê?
  2. Como as figuras interagiam nos diferentes roteiros?
  3. As características das máscaras e indumentárias estavam conectadas com os movimentos e gestos durante as atuações?
Orientações e sugestões didáticas

O objetivo desta seção é levar os estudantes a compor indumentária, máscara e adereços, buscando traduzir artisticamente uma figura inventada por eles para comunicar seus vínculos ancestrais.

Unidades temáticas da Bê êne cê cê

Dança; Teatro.

Objeto de conhecimento

Processos de criação.

Habilidades em foco nesta seção

(ê éfe seis nove á érre um dois) Investigar e experimentar procedimentos de improvisação e criação do movimento como fonte para a construção de vocabulários e repertórios próprios.

(ê éfe seis nove á érre um três) Investigar brincadeiras, jogos, danças coletivas e outras práticas de dança de diferentes matrizes estéticas e culturais como referência para a criação e a composição de danças autorais, individualmente e em grupo.

(ê éfe seis nove á érre um quatro) Analisar e experimentar diferentes elementos (figurino, iluminação, cenário, trilha sonora etcétera) e espaços (convencionais e não convencionais) para composição cênica e apresentação coreográfica.

(ê éfe seis nove á érre um cinco) Discutir as experiências pessoais e coletivas em dança vivenciadas na escola e em outros contextos, problematizando estereótipos e preconceitos.

(ê éfe seis nove á érre dois sete) Pesquisar e criar fórmas de dramaturgias e espaços cênicos para o acontecimento teatral, em diálogo com o teatro contemporâneo.

(ê éfe seis nove á érre dois oito) Investigar e experimentar diferentes funções teatrais e discutir os limites e desafios do trabalho artístico coletivo e colaborativo.

(ê éfe seis nove á érre dois nove) Experimentar a gestualidade e as construções corporais e vocais de maneira imaginativa na improvisação teatral e no jogo cênico.

(ê éfe seis nove á érre três zero) Compor improvisações e acontecimentos cênicos com base em textos dramáticos ou outros estímulos (música, imagens, objetos etcétera), caracterizando personagens (com figurinos e adereços), cenário, iluminação e sonoplastia e considerando a relação com o espectador.

Orientações

Esta seção retoma a atividade proposta em Para experimentar Criando figuras mascaradas. Espera-se que os estudantes sejam capazes de identificar a narrativa por meio de movimentos e gestos em conjunto com os ritmos musicais que possam ter sido criados, sem que seja necessária a presença de um narrador durante a apresentação.

Vários estudantes podem interagir por oposição ou por colaboração; podem estar de acordo entre si ou podem usar um ao outro como vítima de estripulias (como fazem os palhaços da Folia de Reis).

Organizando as ideias

Recorte de quatro imagens, da esquerda para a direita: Imagem 1: detalhe de fotografia. À frente, uma pessoa enfeitada usa chapéu com peruca colorida e brilhosa, poncho colorido com desenhos da bandeira do Brasil e de Pernambuco e de flores. Atrás, uma pessoa caminha  segurando um estandarte vermelho, amarelo e dourado do Condado, composto de flores e do nome na parte de cima, em letras douradas e fundo branco com flores, MARACATU DE BAQUE SOLTO - LEÃO DE OURO; no centro do estandarte, fotografia de um leão; na parte inferior do estandarte, data de fundação e nome nas cores vermelha e dourada. Imagem 2: detalha de fotografia. Máscara de um crânio, azul com detalhes em marrom. Os olhos são dois círculos vazados, sem preenchimento, o nariz é proeminente e na boca semiaberta há quatro dentes brancos, intercalados por espaços em marrom. Imagem 3: detalha de fotografia. Um homem de óculos, com coroa colorida e túnica marrom, com echarpe em tons de marrom e mangas douradas, está de boca aberta e segurando um papel na mão esquerda. Ao lado, uma mulher segura um estandarte  e, atrás, há pessoas com coroas de flores coloridas. Imagem 4: detalhe de fotografia. Um homem com o rosto pintado de branco, os olhos destacados em preto e a boca em vermelho, semiaberta, que mostra parte dos dentes superiores e inferiores. Ele usa um chapéu redondo, achatado, com plumas, e um vestido bege longo, com babado nas mangas e com cauda. Está em pé, com o braço direito flexionado, a mão próxima ao queixo, e o braço esquerdo estendido para a direita, à frente do corpo.

Chegamos ao final deste capítulo, no qual você conheceu, pesquisou e criou figuras mascaradas que, valendo-se de sua indumentária, viabilizam processos de transfiguração.

Para concluir, reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

Faça no caderno.

  1. Quais elementos das suas tradições pessoais foram expressos pelas indumentárias e puderam ser apresentados na criação da sua figura mascarada?
  2. Para você, qual é a relação entre a indumentária que promove a transfiguração e a sua vida cotidiana?
  3. Qual é a importância de vestuários, adereços, máscaras e maquiagens para as manifestações culturais tradicionais?
  4. Quais descobertas você fez ao longo deste capítulo? O que você gostaria de continuar aprofundando?
Orientações e sugestões didáticas

Unidade temática da Bê êne cê cê

Artes integradas.

Objeto de conhecimento

Contextos e práticas.

Habilidade em foco nesta seção

(ê éfe seis nove á érre três um) Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política, histórica, econômica, estética e ética.

Orientações

Estimule os estudantes a relembrar como traduziram e simbolizaram os elementos de sua tradição em materiais concretos. Converse com a turma a respeito das marcas deixadas pela tradição em nosso modo de vestir – tanto em rituais que lidam com um modo específico de se trajar quanto no cotidiano. Estabeleça uma conexão entre a última questão desta seção e os assuntos que vêm sendo trabalhados ao longo de todo o livro. Já foi estudada a importância dos mitos, das narrativas, dos modos de transmissão etcétera Agora é o momento de refletir conjuntamente sobre a importância dos invólucros corporais em sua relação com a ancestralidade e com o mundo imaterial, relembrando exemplos estudados anteriormente.

Glossário

Transfiguração
Ato de se transfigurar, ou seja, mudar radicalmente a aparência, o caráter e a fórma. É um movimento conectado aos sentidos da transformação e da metamorfose.
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Wauja
Os Vauia têm como base de sua cosmologia, ou visão de mundo, uma estreita conexão entre animais, coisas, seres humanos e seres extra-humanos formalizando sua concepção de mundo e tendo na prática do xamanismo sua concretização espiritual.
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Aerofone
Aparelho de ar comprimido que aumenta o volume da voz humana deixando-a audível em grandes distâncias.
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Butô
Dança criada por cazúo ônu e tassúmi rijicáta com fortes influências teatrais. Em japonês, a palavra butô é formada por dois ideogramas: bu [dança] e to [passo]. Entretanto, pode-se também interpretar bu como mão e to como pé, o que expressa bem um aspecto formal do butô, no qual as mãos e os braços se movem com eloquência e os pés ancoram o corpo no chão.
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Ideograma
Símbolo gráfico que representa uma ideia. Nos sistemas de escrita japonês e chinês, por exemplo, os ideogramas são caracteres que, combinados, representam ideias ou objetos.
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