CAPÍTULO 3 Dançar e pensar a sociedade

Fotografia. Em primeiro plano, três jovens dançarinos em uma calçada. Uma mulher com cabelos trançados, presos atrás da cabeça, usando blusa rosa e calça marrom, está de pé, de perfil, com os braços abertos e um dos joelhos flexionado, inclinando-se para trás; um homem com dreadlocks, usando camiseta amarela e calça bege, está de frente, agachado, com uma das mãos apoiada no chão; um homem com cabelos raspados, usando blusa branca com capuz e calça verde, está de costas, inclinado, com uma das mãos apoiada no chão. Ao fundo, há um grande edifício antigo e pessoas olhando na direção deles.
ENCRUZILHADA. Direção: Douglas Iesus. Coreografia e interpretação: Fragmento Urbano. São PauloSão Paulo, 2016.

1. De que fórma você acha que um espetáculo de dança pode promover uma reflexão sobre o convívio em sociedade?

Encruzilhada (2016) é o título de um espetáculo do grupo Fragmento Urbano, do distrito de Guaianases, na cidade de São PauloSão Paulo. Uma encruzilhada é um encontro de caminhos, um lugar de passagens. Esse encontro pode ser uma oportunidade para conhecer alguém e trocar ideias e opiniões.

As inquietações dos artistas dessa companhia em relação ao lugar onde vivem e produzem sua arte foi o que os motivou a se engajar em uma busca para conhecer mais profundamente mestres da cultura popular e da cultura hip-hop.

Os encontros com artistas mais experientes contribuíram para que os dançarinos do grupo se conhecessem melhor e pudessem transformar seu modo de pensar e se expressar por meio da dança, abrindo novas possibilidades de encontro com os espectadores.

2. Se você tivesse de apresentar a si mesmo e o seu contexto por meio da dança, quais seriam os movimentos que executaria, que música e figurinos escolheria e onde dançaria?

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Você tem inquietações a respeito do convívio em sociedade? Quais? De que maneira você as expressa?
  2. Nas danças a que já assistiu ou de que participou, você identifica algum assunto relacionado a questões sociais? Quais são esses assuntos e como eles foram abordados pelos artistas?

SOBREVOO

No encontro também aprendemos sobre nós mesmos

Faça no caderno.

1. Por quais tipos de mudanças você já passou? Como lidou com elas? Quais foram os motivos dessas mudanças?

Ao longo da vida é necessário mudar. Nós crescemos, mudamos de aparência, de ideias, de turma, de casa e passamos por muitas outras transformações. No espetáculo de dança Qualquer coisa a gente muda (2011), a mudança era o fio condutor das ações das bailarinas ângel Vianna (1928-), nascida em Minas Gerais, e da bailarina Maria Alice Poppe (1971-), natural do Rio de Janeiro, que juntas criaram uma dança sobre as experiências de vida que tiveram até seu encontro naquele momento.

Fotografia. Sobre um tablado há uma mulher, usando calça e camiseta de manga longa, sentada sobre uma mesa. Ao redor dela, há dezenas de pessoas de pé e duas sentadas.
QUALQUER coisa a gente muda. Direção: João Saldanha. Intérpretes: ângel Vianna e Maria Alice Poppe. Rio de Janeiro Rio de Janeiro, 2011. Fotografia do início do espetáculo, com o público no palco junto da bailarina Maria Alice Poppe.

2. Observe esta imagem e a anterior. Que elementos se destacam em ambas para você?

Fotografia. Uma mulher com cabelos curtos, usando blusa de mangas compridas vermelha e calça preta, está de pé, gesticulando, com os braços flexionados. Atrás dela, há uma mulher com cabelos ondulados, presos atrás da cabeça, usando blusa de mangas compridas verde e calça preta; ela está de pé, descalça, com um dos braços estendido, próximo à mulher de vermelho.
QUALQUER coisa a gente muda. Direção: João Saldanha. Intérpretes: ângel Vianna e Maria Alice Poppe. Rio de Janeiro Rio de Janeiro, 2011.

3. Com base no título do espetáculo, como você imagina essa dança?

Em Qualquer coisa a gente muda (2011), o público entrava no teatro pelo palco e se deparava com uma jovem bailarina sentada em uma mesa, preparando-se para entrar em cena. Em seguida, as cortinas se abriam, revelando aos espectadores as poltronas vazias da plateia, exceto por uma, ocupada pela bailarina ângel Vianna. Quando esse trabalho foi apresentado, ela estava com 83 anos e sua atuação desafiou o estereótipo de que pessoas idosas não dançam.

4. O que você pensa sobre o fato de a bailarina ângel Vianna ter se apresentado aos 83 anos?

Ícone. Tema contemporâneo transversal: Cidadania e Civismo.

A história de vida de ângel Vianna se confunde com a história da própria dança no Brasil. Ela criou, com o marido cláus Vianna (1928-1992) e com o filho Ríner Vianna (1958-1995), um método de ensinar dança que busca desenvolver a sensibilidade, a imaginação, a criatividade e a comunicação – esse método vem sendo modificado até hoje, segundo suas novas vivências.

O título Qualquer coisa a gente muda nos convida a uma reflexão sobre o quanto os encontros com outras pessoas nos permitem aprender, gerar novas ideias e novas possibilidades de entendermos o mundo e de nos relacionarmos com aqueles que são diferentes de nós.

O que se quer ver?

Fotografia. Sobre um palco, há seis bailarinos usando roupas pretas. Um homem está engatinhando; um homem está abraçado a uma mulher, de pé, caminhando; outro homem está atrás deles, caminhando; e ao fundo há duas mulheres, uma engatinhando e a outra com as mãos apoiadas nas costas a primeira. No cenário, há uma parede de tijolos aparentes e lanças ao fundo.
DANÇA que ninguém quer ver. Direção artística e coreográfica: Alexandre Américo. Intérprete: Companhia Giradança. Natal Rio Grande do Norte, 2020.

A Companhia Giradança, de Natal Rio Grande do Norte, foi criada em 2005 pelo bailarino carioca Anderson Leão e pelo bailarino natalense Roberto Morais. Em seus trabalhos, o elenco dessa companhia – formado por pessoas com e sem deficiência – procura descobrir as possibilidades do corpo de cada integrante. Eles criaram um espaço para explorar os potenciais e as qualidades cênicas da dança de cada indivíduo.

Para os integrantes da Giradança, o nome do espetáculo Dança que ninguém quer ver (2015) é uma provocação. Os profissionais que compõem a companhia se fizeram a pergunta: “O que se quer ver?, e descobriram que queriam ver as próprias danças, a dança da pessoa com deficiência, a dança da pessoa sem deficiência, a dança do encontro entre as pessoas do grupo e a dança do encontro delas com a sociedade.

5. E você? Quais são as danças que quer ver? Por quê?

Segundo os próprios bailarinos, que também criaram as coreografias, a proposta desse espetáculo é descobrir-se, sem negar quem se é nem como se é. Essa descoberta envolve o questionamento dos padrões de beleza, de corpo, de movimento e de dança aceitos durante muito tempo – padrões que negavam às pessoas com deficiência a possibilidade de dançar.

Por se pautar na especificidade de cada corpo e aceitar e acolher suas diferenças, o elenco da Companhia Giradança apresenta uma ampla gama de possibilidades para a pesquisa de movimento. Isso permite que as combinações de movimento provoquem, a cada encontro, uma nova descoberta, um novo acontecimento, uma nova possibilidade de dançar. O que motiva os integrantes do grupo a mover-se são as diferenças entre os indivíduos.

Dança que ninguém quer ver é a dança que dá espaço a pessoas nem sempre valorizadas na sociedade, que são pouco lembradas e pouco contempladas nos espaços públicos e nas discussões coletivas. A cena, nesse caso, pode operar como uma extensão do espaço público: dar visibilidade ao que é relegado a estar à margem pode provocar transformações, mudando inclusive a relação entre o que é considerado central e o que é comumente visto como periférico.

Fotografia. Sobre um palco, há três bailarinos usando roupas pretas. Um homem está agachado, com os joelhos e as mãos apoiados no chão; sobre as costas dele, há outro homem de pé; de frente para esse homem, segurando a cintura dele e olhando para ele, está outro homem. No cenário, ao fundo, há uma cadeira de rodas e lanças.
DANÇA que ninguém quer ver. Direção artística e coreográfica: Alexandre Américo. Intérprete: Companhia Giradança. Natal Rio Grande do Norte, 2020.

6. De que modo o encontro com uma dança fóra dos padrões tradicionais pode trazer novas ideias sobre o convívio em sociedade? Que reflexões esse exemplo despertou em você?

Para experimentar

Um encontro por meio da dança

Que tal fazer uma atividade em que os intérpretes transformarão a execução dos movimentos da sequência coreográfica criada por um coreógrafo?

Antes de iniciar, escute o áudio Desenhando com movimento, que servirá de aquecimento corporal para essa atividade.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

  1. Reúna-se com os colegas em um grupo de três integrantes.
  2. Decidam quem será o coreógrafo e quem serão os intérpretes da sequência coreográfica.
  3. O coreógrafo criará uma sequência inicial de movimentos com 16 tempos para ensinar aos intérpretes.
  4. Em seguida, os intérpretes deverão modificar a sequência coreográfica inicial, variando a altura (nível), a parte do corpo que realiza o movimento, a direção, a velocidade e a amplitude do movimento. Pode-se compor a sequência coreográfica inicial ou modificar os movimentos, buscando apresentar algo de seu modo de dançar.
  5. Todos os integrantes do trio deverão aprender as sequências modificadas.
  6. Após todos terem aprendido, as sequências coreográficas de cada grupo poderão ser apresentadas à turma.
  7. Depois das apresentações, compartilhe com o professor e com os colegas as respostas dadas às questões a seguir:
    1. Quais especificidades suas e dos colegas ficaram evidentes durante a atividade?
    2. Quando você e os colegas dançaram juntos, quais foram suas dificuldades para lidar com as habilidades deles que eram diferentes das suas? Como você resolveu essas dificuldades?
    3. O que você aprendeu sobre convivência com essa atividade?

De passinho em passinho, uma dança que transborda

7. O que você sabe sobre a modalidade de dança conhecida como passinho?

Fotografia. Sobre um palco, um grupo de oito jovens bailarinos faz o mesmo movimento, com as pernas afastadas e flexionadas e os braços flexionados. No teto, há refletores que jogam sobre os bailarinos feixes de luz.
Cena do espetáculo #Passinho. Direção: Lavínia Bizzoto e Rodrigo Vieira. Intérpretes: celí , CL Fabulloso, DG Fabulloso, gê êne Fabulloso, Iguinho Imperador, Djéksôn Fantástico, leôni Fabulloso, michél Quebradeira Pura, Nego e Sheick. Rio de Janeiro Rio de Janeiro, 2011.

O passinho, modalidade de dança nascida na periferia do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, é apresentado no espetáculo rréchitégui (cerquilha, sustenido)Passinho, que levou para o palco dançarinos de comunidades dessa cidade.

O passinho ganhou visibilidade através de vídeos publicados na internet. O acesso às mídias digitais colaborou para a difusão e para a troca de informação entre seus praticantes. Graças a isso, o que era inicialmente uma dança de periferia passou a ter uma visibilidade global.

Os dançarinos de passinho, em geral, são trabalhadores que atuam em diversos setores e, por isso, as horas de ensaio, as batalhas entre dançarinos e as apresentações muitas vezes são intercaladas com a busca por sustento e qualidade de vida. Nas batalhas de passinho, cada um dos participantes, de fato, está lutando para se apresentar e ganhar seu espaço. Com a visibilidade que ganharam com o passinho, alguns dos jovens dançarinos tornaram-se reconhecidos como artistas e foram convidados a dar aulas dessa modalidade de dança e a protagonizar filmes e documentários.

A difusão do passinho trouxe notoriedade e oportunidades a grupos de artistas que tiveram a possibilidade de se relacionar com o mundo tradicional das artes, sem perder o vínculo com a sua realidade, podendo inclusive transformar a fórma como o mundo a vê. Transformações como essa também fazem parte da história de outras danças urbanas, como você verá mais à frente.

Para pesquisar

Métrica das redes sociais

As redes ou mídias sociais tornaram-se, nos últimos anos, um importante canal de geração de conteúdo. Os usuários utilizam as redes sociais para divulgar ideias, trocar informações, vender marcas e serviços, entre outras possibilidades. Pela enorme quantidade de dados gerada nessas mídias, é possível conhecer o perfil de comportamento de seus usuários. Uma de suas principais características é a busca pelo engajamento, que é o nível de interação das pessoas com aquilo que é proposto.

Observe a página oficial do documentário A Batalha do Passinho – O Filme (2013) em uma rede social. Essa página estava ativa até o momento da publicação desta obra (2022), mesmo quase 10 anos depois da estreia do documentário.

Página de internet. Divisão em duas colunas. Na coluna da esquerda há o texto: Sobre. Documentário – 2013 – 75 minutos. De: Emílio Domingos. Produzido por: Osmose Filmes. Contatos: osmosefilmes@gmail.com. Surgido nas favelas cariocas, o passinho, explodiu em 2008 e desde então vem mudando a cara da periferia do Rio de Janeiro. Uma nova forma de dançar o funk, o Passinho é a manifestação cultural carioca mais importante dos últimos 10 anos. O documentário “A Batalha do Passinho”, dirigido por Emilio Domingos, acompanha de perto esse fenômeno e mostra de dentro do movimento a evolução dessa cultura. Na parte inferior, ícone de like, mão com o dedo polegar para cima. Ao lado do ícone, o texto: 60.137 pessoas curtiram isso. Abaixo, ícone de seguidores, composta de uma caixa com um tique dentro. Ao lado do ícone, o texto: 59.918 pessoas estão seguindo isso. Abaixo, ícone de um globo terrestre. Ao lado dele, o texto: https://www.osmosefilmes.com.br/. Abaixo, ícone de um envelope. Ao lado dele, o texto:  contato@osmosefilmes.com.br. Abaixo, ícone de uma pasta. Ao lado dele, o texto: Filme. Abaixo, ícone de uma câmera. Ao lado dele, o texto: https://www.facebook.com/OSmoseFilmes/. 
Na parte superior da coluna da direita, há um círculo com uma imagem dentro e, ao lado dele, o texto: A Batalha do Passinho - O Filme. 20 de agosto de 2021. Mais abaixo, há o texto: Na semana que vem, o filme Batalha do Passinho ficará disponível no CINEBELA, cineclube do Galpão Bela Maré e na sexta haverá um debate sobre protagonismo feminino no Passinho entre Gabrielle Vidal e May IDD. Abaixo, há a imagem de dois cartazes, compostos da fotografia de meninos dançando passinho. Na parte superior do primeiro cartaz, o texto: CINEBELA. SESSÃO SABARÁ. ABERTURA DA SESSÃO. Dia 24 de agosto. Terça-feira. Na parte superior do segundo cartaz, há o texto: CINEBELA. SESSÃO SABARÁ. LIVE DEBATE. Abaixo, dentro de um círculo, há o retrato de uma mulher com cabelos ruivos, acompanhado do texto: Mayra Lima. No canto inferior direito, há o texto: Ao vivo, @galpaobelamare.
A BATALHA do Passinho – O Filme [página em rede social].

Com base nessa observação, responda:

  1. Qual é a finalidade dessa página na rede social?
  2. Quais informações sobre o assunto da página você identifica?
  3. Qual é o número de seguidores? Qual é a importância dessa informação?

Atividade de observação

Seguindo as orientações do professor, vamos fazer uma observação da divulgação de atividades artísticas nas redes sociais e analisar como esses dados nos informam sobre o engajamento das pessoas.

  1. Reúnam-se em grupos de seis integrantes.
  2. Cada grupo irá selecionar eventos relacionados ao Passinho (evento público ou privado) em uma rede social.
  3. Acompanhem por uma semana a movimentação da página nessa rede social.

Coleta de dados

  1. Anotem a variação do número de seguidores, o número de likes e de compartilhamentos.
  2. Observem os assuntos das postagens e o envolvimento dos usuários da plataforma com cada uma delas. Importante! Verifiquem se durante a semana ocorreu alteração no número de seguidores.

Apresentação dos resultados

6. Elaborem um infográfico demonstrando o número de seguidores, quantidade de postagens, quantidade de curtidas e de compartilhamentos. Observem um exemplo:

Infográfico. 90,8% dos internautas brasileiros acessam redes sociais. 4,9 horas mensais gastamos nestes sites. 60% dos internautas brasileiros se inscreveram em alguma rede social nos últimos 3 meses. As redes que mais ganharam novos usuários foram: Facebook: 27,5%. Google Mais: 27%. Twitter: 11,8%. YouTube: 9,4%. Sites com mais usuários: Facebook: 94%. Orkut: 75%. Twitter: 73%. YouTube: 69%. Google Mais: 56%. Frequência de uso: Facebook: 88,9%. Twitter: 41%. MSN: 34,3%. Orkut: 31,7%. YouTube: 21,7%. Mulheres versus Homens: 58,7% da quantidade de acessos das redes sociais é das mulheres. Compras: 41% pesquisam nas redes sociais antes de comprar. Duas a cada três dão feedback para as marcas via redes sociais. 54% seguem empresas no Twitter. 74% “curtem” empresas no Facebook. Acesso: 68,5% usam aplicativos para acessar – o uso dobrou de 2011 para 2012. E-Buddy: 35%. Tweetdeck: 31,9%. Hootsuite: 1,4%. 56% usam celular ou smartphones para acessar o Facebook. 70% usam desktops e 60% notebooks.
Infográfico com o perfil dos usuários brasileiros de redes sociais, em 2012. Fonte: https://oeds.link/xQquCv. Acesso em: 12 julho 2022.
  1. Após a elaboração do infográfico, sugerimos a seguinte reflexão, com base na observação das postagens e dos dados coletados:
    1. Ao observar as postagens, quais informações você identifica sobre a atuação dos dançarinos de Passinho em suas comunidades?
    2. Quais são os assuntos das postagens? Quais desses assuntos têm mais envolvimento dos usuários nessa página?
    3. Qual é o número de seguidores na página escolhida para o acompanhamento? Qual é a importância desse dado nessa página?
  2. Ao final da pesquisa, cada grupo apresenta para a turma seu infográfico e suas reflexões orientadas pelas perguntas anteriores.

A dança que se espalha mundo afora

Fotografia. Sete jovens, cinco deles meninos e duas meninas, estão dançando em um ambiente a céu aberto. Os meninos estão usando camisetas coloridas e calças azuis, com as mãos apoiadas no chão; alguns deles estão com as pernas no ar. Atrás deles, as meninas estão em pé, de braços cruzados, e usam vestidos coloridos. Ao fundo, outros jovens conversam e observam a apresentação. Há também vegetação e um prédio com muitas janelas.
The Rock Steadycrúl, com o cofundador Ríchard creizi léguis côlon (no centro), dançando breaking no pátio da escola Booker T. Washington, em Nova York, Estados Unidos. Fotografia de 1983.

A Rock Steady Crew foi fundada em 1977 no Bronx, distrito da cidade de Nova York. Ela é uma das mais antigas crewsglossário do movimento hip-hop e muitos b-boys que fizeram parte dela no seu início deixaram seu legado na fórma de movimentos de dança, versos, músicas e pensamentos.

Nas décadas de 1970 e 1980, juntando-se a outras equipes, a apareceu em filmes, programas de televisão, jornais e revistas, além de ter suas músicas tocadas em programas de rádio. Essa difusão em diferentes mídias contribuiu para consolidar o hip-hop nos Estados Unidos e em outros países como um movimento cultural cujas manifestações artísticas promoviam a esperança de mudança e de transformação da realidade.

Desde seu surgimento, o movimento hip-hop tinha como um de seus objetivos denunciar a desigualdade social e racial. Nos Estados Unidos, ele se incorporou à luta pelos direitos civis e pelo fim da segregação racial no país. No entanto, ao longo do tempo, o movimento também se transformou e, em cada lugar onde se instalou, ganhou adeptos, características e propósitos nascidos do encontro com as culturas locais.

Foco na História

O início do movimento hip-hop

Imagem meramente ilustrativa

Gire o seu dispositivo para a posição vertical

Fotografia em preto e branco. Um grupo de homens está em uma quadra poliesportiva, diante de uma mesa em que há picapes de som, vitrola e um ventilador. Alguns deles estão com as mãos sobre o aparelho, outro segura um microfone próximo à boca. Ao fundo há diversas pessoas.
Encontro de hip-hop no bairro do Bronx, em Nova York, Estados Unidos. Fotografia de 1980.

Na década de 1960, bairros periféricos da cidade de Nova York, nos quais faltavam escolas, hospitais e outros serviços, além de infraestrutura, abrigavam uma população de baixa renda constituída majoritariamente por afro-americanos e imigrantes latinos. Nessa época, os altos índices de desemprego e a precariedade do sistema de ensino público facilitaram o estabelecimento de comércios ilegais e o aumento da violência. O Bronx era um desses bairros, e foi nele que nasceu um movimento artístico de grande relevância social.

A grande mudança começou em 1971, quando 42 gangues iniciaram um movimento cujo lema era “paz, amor, união e diversão”. O aspecto da diversão envolvia a participação nos bailes blackglossário   e a formação de crews para dançar breaking.

Um dos líderes desse movimento foi quévin dônovan (1957-), que se tornou ativista social após uma viagem para a África, onde conheceu diferentes países e culturas. De volta aos Estados Unidos, dônovan adotou o nome bambáta e fundou a Zulu Nation, uma crew composta de homens e mulheres.

bambáta reuniu, em um só movimento, a música, as danças e os grafites. As festas promovidas pela Zulu Nation contavam com alguns elementos que já existiam nos bailes black, como o microfone aberto ao público que quisesse improvisar acompanhando o ritmo do funk, um costume jamaicano popularizado pelos DJsglossário Cúl Rérqui (1955-), natural da Jamaica, e grêndméster flésh (1958-), nascido em Barbados. Nessas festas, os dançarinos também se reuniam para dançar breaking e pintar com tinta spray – como fazia o jovem Lonny uúd (1958-2019), conhecido como fêisi tíu, que criava grandes painéis com mensagens positivas.

O hip-hop aglutina o rap, representado pelo DJ, que compõe músicas com fragmentos de outras, e pelo êmi ci, responsável pelos versos rimados das canções, além do grafite e do breaking. Esse movimento fundou uma cultura urbana que amplificou a voz de comunidades das periferias de Nova York e logo se espalhou por outros países, ganhando, em cada lugar, novas características, como aconteceu no Brasil.

Fotografia em preto e branco. Em primeiro plano, há um jovem usando óculos de sol, camisa, calça e tênis. Ele está de perfil, com a cabeça e as mãos e apoiadas no chão e um dos pés no ar. Mais ao fundo, há outra pessoa, retratada parcialmente, que usa calças e tênis e está com as pernas para o alto.
Break-dancers na casa noturna The Roxy, em Nova York, Estados Unidos. Fotografia de 1981.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. De que modo conhecer as obras e os artistas apresentados neste Sobrevoo contribuiu para a sua compreensão da linguagem da dança como fórma de reflexão sobre a sociedade?
  2. Algum dos exemplos provocou em você uma reflexão mais profunda ou o desejo de ler mais sobre ele e conhecê-lo melhor? Qual deles? Quais foram as inquietações causadas?

Foco em...

Hip-hop no Brasil

Fotografia em preto e branco. Três dançarinos usando camiseta e calça dançam diante de uma escadaria a céu aberto. À esquerda, um homem está com as costas apoiadas no chão e as pernas afastadas para o alto; ao lado dele, um jovem está com as duas mãos apoiadas no chão e as pernas para o ar; à direita, um jovem está com as costas apoiadas no chão e as pernas afastadas para o alto. Ao fundo há pessoas sentadas na escadaria assistindo à apresentação.
Dançarinos de breaking na estação São Bento do metrô, em São PauloSão Paulo. Fotografia de 1988.

Na década de 1980, a estação São Bento do metrô, na cidade de São PauloSão Paulo, foi um ponto de encontro importante de b-boys e b-girlsMCs, DJs e artistas do grafite de todos os estados do país.

Os encontros, que aconteciam espontaneamente, davam a oportunidade de trocar informações e aprender mais sobre o movimento hip-hop, que, naquele momento, ainda estava começando no Brasil.

Artistas como os b-boys Triunfo (1954-) e Marcelinho Back Spin (1966-), o rapper Thaíde (1967-), o DJ Hum (1966-) e os artistas do grafite Gustavo e Otávio Pandolfo (1974-), atualmente conhecidos como os gêmeos, fizeram parte desse movimento.

Antes de chegar à estação São Bento, as sementes do movimento no Brasil foram plantadas nos bailes blék da década de 1970, nos quais começou a se formar uma consciência sobre a cultura negra, viabilizada por esses encontros e pelas referências que chegavam de outros países por meio de músicas, filmes e revistas.

Dentre os participantes desses bailes, destaca-se nélson Triunfo, natural do município de Triunfo (PE). Ele percorreu um longo caminho em busca do objetivo de ser dançarino profissional, que concretizou em São PauloSão Paulo. Sua história de vida está conectada à história do movimento hip-hop no Brasil. Ele foi um dos primeiros dançarinos de breaking e, em 1977, formou o grupo Funk & Companhia.

No início da década de 1980, Triunfo resolveu ir dançar com seu grupo na rua 24 de Maio, na região central da cidade de São Paulo. Em meados dessa mesma década, o dançarino João Brêiqui chegou à estação São Bento para dançar, concentrando nessa área o movimento de break dance.

As crews que treinavam na estação São Bento tinham como objetivo disputar as batalhas de dança. Esse caráter de competição permanece como um método de aprendizado. A batalha pode ser considerada um modo de valorizar qualidades individuais, dar voz e visibilidade às pessoas para que elas tenham seu lugar de expressão e fala, e possam manifestar suas opiniões e sua arte.

O movimento hip-hop no Brasil mantém seu vínculo com pessoas e comunidades marginalizadas ou, de alguma fórma, excluídas dos circuitos tradicionais da arte (assim como faz, embora com outra proposta, o espetáculo Dança que ninguém quer ver, visto neste capítulo). Muitos artistas do movimento direcionam seu trabalho para a denúncia das desigualdades sociais. Em cada estado do Brasil, MCsDJs b-boys, b-girls e artistas do grafite encontram os próprios modos de falar de si e de sua realidade.

Fotografia em preto e branco. Um homem usando macacão com listras laterais e touca, está com os joelhos flexionados, quase encostando um no outro, um dos braços estendido para a direita da imagem e o outro flexionado à frente do corpo. Atrás dele há quatro jovens e um menino, que faz um movimento semelhante ao dele.
nélson Triunfo dança breaking no centro da cidade de São PauloSão Paulo. Fotografia de 1984.
Fotografia. Um jovem usando um lenço na cabeça, camiseta e calça pretas, está com as duas mãos apoiadas no chão e as pernas para o alto. Ao fundo, há pessoas assistindo à apresentação e um prédio antigo.
Jovens participam do projeto Fica Vivo, que oferece atividades de street dance e grafite, no viaduto Santa Tereza, em Belo Horizonte Minas Gerais. Fotografia de 2009.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. O que você conhece sobre a cultura hip-hop?
  2. Você concorda que a cultura hip-hop pode gerar transformações na sociedade? Por quê?

Foco no conhecimento

Estratégias para dançar em grupo

Você conhecerá nesta seção alguns recursos muito utilizados nas composições coreográficas de diferentes modalidades de dança e que podem ser identificados nas ações de alguns dos artistas apresentados no Sobrevoo: o corpo de baile, o solo, o uníssono e o cânon.

1. Corpo de baile

Termo usado nas companhias de balé tradicionais para denominar todo o grupo de bailarinos. O termo se estende a diferentes modalidades de dança. Nas montagens, o corpo de baile faz os papéis coletivos, executando sequências coreográficas em grupo que emolduram a dança dos bailarinos que são o foco da ação.

Ilustração. Sobre um palco, há silhuetas de três bailarinos à esquerda e três à direita, formando uma meia-lua. Eles fazem um movimento espelhado, com um dos braços estendidos para o alto e o outro flexionado junto ao corpo.

2. Solo

Momento em que um bailarino dança sozinho ou se destaca do corpo de baile com uma sequência coreográfica executada apenas por ele.

Ilustração. Sobre um palco e sob um foco de luz, ao centro ha um bailarino de perfil, com os braços levantados na altura dos ombros, num gestual como quem está dançando. À esquerda dele, há três bailarinos  dançando com o braço esquerdo para o alto e o outro flexionado junto ao corpo .  Á  direita  outros três bailarinos fazem o movimento espelhado, com o braço direito estendido para o alto e o outro flexionado junto ao corpo. Todos eles usam calça e camisa verdes.

3. Uníssono

É um termo da música. Tradicionalmente, é o momento em que dois ou mais bailarinos dançam juntos uma mesma sequência coreográfica. Você conheceu um exemplo de movimento em uníssono na imagem do espetáculo rréchitégui (cerquilha, sustenido)Passinho, apresentado no Sobrevoo.

Ilustração. Sobre um palco, usando maiôs azuis, seis bailarinas fazem movimentos identicos: equilibrando-se na ponta dos pés, elas  levantam uma das pernas e esticam os braços para o alto. Todas estão com os cabelos presos em coque.

4. Cânon ou cânone

Conceito também emprestado da linguagem musical, mas que na dança se relaciona com movimentos. Todos os bailarinos executam a mesma sequência, porém começando em momentos diferentes: um começa e, pouco depois, outro inicia a mesma sequência. A partir daí podem ir entrando outros bailarinos, cada um em um momento diferente. Assim, embora a mesma sequência coreográfica esteja sendo dançada, o encadeamento vai criando uma multiplicidade de fórmas em movimento.

Ilustração. Uma tabela com os números 1, 2, 3 e 4 na horizontal e as letras a, b e c na vertical. A tabela mostra a silhueta de três bailarinas, representadas pelas letras a, b e c, iniciando uma sequência de movimentos em três momentos, representados pelos números 1, 2 e 3. Sobre elas há um refletor que faz incidir um foco de luz sobre as silhuetas das bailarinas.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Quais dos recursos apresentados nesta seção foram usados nas danças a que você já assistiu?
  2. Ainda sobre essas danças assistidas por você, que tipo de efeito visual esses recursos causaram?

Processos de criação

Convidamos você a se juntar aos colegas e montar uma coreografia utilizando os seguintes recursos: corpo de baile, solo, uníssono ou cânon para se relacionarem entre si.

Tenha em mente que o tema do capítulo gira em torno das transformações da arte na vida coletiva. Portanto, procure explorar maneiras de cada integrante do grupo ver e ser visto pelos outros. Pense também na posição do público em relação à cena.

  1. Reúna-se com os colegas em um grupo de três ou mais integrantes, preferencialmente o mesmo que realizou a atividade Um encontro por meio da dança, apresentada na seção Para experimentar deste capítulo. Cada membro do grupo tem a sua sequência coreográfica inicial e uma sequência nova, desenvolvidas naquela atividade.
  2. Escolham juntos uma música.
  3. Determinem as sequências coreográficas que poderão ser dançadas pelo corpo de baile e as que serão dançadas solo, em uníssono (dois ou mais) e como cânon. Não é necessário utilizar todas as sequências e, caso seja preciso, pequenas modificações podem ser feitas segundo as necessidades do grupo.
  4. Organizem as passagens entre os momentos: corpo de baile, solo, uníssono e cânon.
  5. Apresentem a composição para a turma e para o professor e assistam às apresentações dos colegas.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Com relação à dança, quais são as suas reflexões sobre ter participado de um corpo de baile, ter feito um solo, um uníssono e um cânon?
  2. Em seu grupo, como vocês lidaram com a hierarquia? Por quê?
  3. No dia a dia, ao andar pelas ruas ou em algum momento em que teve a oportunidade de observar uma multidão, você se lembra de ter visto algo que poderia chamar de corpo de baile, solo, uníssono ou cânon?

Organizando as ideias

Mosaico de fotografias. Composto de um recorte vertical de quatro fotografias. Da esquerda para a direita: sobre um tablado há uma mulher, usando calça e camiseta de manga longa, sentada sobre uma mesa e, em primeiro plano, pessoas de pé a observam; dois bailarinos, um homem e uma mulher, usando roupas pretas, caminhando sobre um palco; fotografia em preto e branco de uma mesa em que há aparelhos de som e um ventilador e, ao lado dela, um homem negro está segurando um microfone próximo à boca; um jovem usando um lenço na cabeça, camiseta e calça pretas, está com as duas mãos apoiadas no chão e as pernas para o alto, sendo observado por algumas pessoas que estão ao fundo.

Neste capítulo, você conheceu artistas da dança que, por meio de sua arte, expressam suas reflexões e visões de mundo e se posicionam como seres sociais e políticos.

Para concluir, reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

Faça no caderno.

  1. Os trabalhos apresentados ofereceram a você novos pontos de vista sobre os assuntos abordados? Quais?
  2. Quais relações é possível estabelecer entre o movimento hip-hop e o passinho?
  3. Quais relações você estabelece entre as atividades práticas e as obras apresentadas?
  4. Quais descobertas você fez ao longo deste capítulo? O que você gostaria de continuar aprofundando?

Glossário

Crew
Nome dado às equipes de hip-hop formadas por b-boys, b-girls, DJs, rappers e artistas do grafite.
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Baile black
Festa produzida e frequentada majoritariamente por pessoas negras, na qual se veiculavam músicas de artistas negros em sua maioria. Era parte de um movimento de afirmação da comunidade negra.
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DJ
Disc-jockey. Pessoa responsável por manipular os toca-discos nos bailes. No hip-hop, é quem altera as músicas por meio de efeitos como o scratch [riscar] e outros para dar suporte à rima do poeta [rapper] e à dança.
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