CAPÍTULO 8 Práticas para estar juntos

Fotografia. Uma mulher com cabelos na altura dos ombros, usando blusa azul marinho e calça jeans, está segurando um microfone. À sua frente, há pessoas olhando para ela. Na parede atrás dela, há estandarte com o texto: SARAU DO Binho, e um cartaz com o texto: Matéria Poética.
Paula da Paz se apresentando no evento Matéria Poética no Sarau do Binho, em São Paulo São Paulo. Fotografia de 2018.

Para o encerramento deste ciclo, você terá a oportunidade de se organizar em um coletivo e colocar em prática propostas artísticas com base no que foi estudado nos capítulos anteriores deste livro.

Já que o tema central deste volume foi a potência transformadora da arte no mundo, convidamos você a pensar em diferentes possibilidades de, por meio da arte, criar novas maneiras de estar junto. Assim, a arte pode ser um caminho para imaginar e construir convivências.

1. Observe a imagem da abertura do capítulo. O que leva estas pessoas a estarem juntas?

Versão adaptada acessível

1. Retome a imagem da abertura do capítulo. O que leva estas pessoas a estarem juntas?

O sarau é um tipo de encontro organizado por pessoas que querem compartilhar vivências artísticas. Nessas reuniões, podem acontecer leituras de poemas ou de trechos literários, apresentações, exposições artísticas e também debates de assuntos ligados à vida coletiva.

Essa imagem é do Sarau do Binho. Realizado na zona sul de São Paulo desde 2004, o Sarau do Binho se tornou um espaço de formação e troca de opiniões intermediado pela declamação de poemas. Ele começou em um bar e atualmente faz parte de um movimento de ocupação de espaços públicos para a realização de atividades culturais – movimento que também gerou o Sarau da Cooperifa.

2. Você já foi a algum sarau ou a algum outro evento desse tipo? Se já tiver ido, conte aos colegas e ao professor como foi.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. você considera que práticas artísticas coletivas podem contribuir para gerar união e melhorar as relações entre as pessoas? Por quê?
  2. De que fórma o individual e o coletivo podem interagir nessas situações?
  3. Ao longo de seu percurso por este livro, quais momentos de trabalho coletivo foram mais desafiadores e quais respostas você e sua turma encontraram diante das dificuldades?

SOBREVOO

Problematizando o coletivo do qual somos parte

Retome o projeto 100% City, apresentado no capítulo 1, em que os habitantes de determinado local são convidados a problematizar alguma questão social e política do entorno onde vivem, no espetáculo com o coletivo teatral alemão Rimini protocói, que é encenado em várias partes do mundo.

Você acha possível fazer uma problematização semelhante tendo a letra de uma música como base?

Faça no caderno.

1. Leia a letra da canção “Querelas do Brasil”, composta pelos artistas Aldir blânqui (1946-2020) e Maurício Tapajós (1943-1995), que servirá de referência para a atividade.

Fotografia em preto e branco. Busto de  homem com cabelos pretos encaracolados e barba grisalha, usando camisa branca. Ao lado dele está outro homem parcialmente calvo, com barba, usando camisa estampada.
Os compositores Maurício Tapajós e Aldir blânqui. Fotografia de 1994.

Querelas do Brasil

O Brazil não conhece o Brasil

O Brasil nunca foi ao Brazil


Tapir, jabuti

Liana, alamanda, ali alaúde

Piau, ururau, aqui ataúde

Piá-carioca, porêcrãmecrã

Jobim

Uô, uô, uô


Pererê, camará, tororó, olerê

Piriri, ratatá, karatê, olará


O Brazil não merece o Brasil

O Brazil tá matando o Brasil


Jereba, saci

cá andrades, cunhãs, ariranha, aranha

Sertões, Guimarães, Baquianas, águas

Imarionaíma, Arariboia

Na aura das mãos de Jobim-açu

Uô, uô, uô


Jererê, sarará, cururu, olerê

Blá-blá-blá, bafafá, sururu, olará

Do Brasil, S.O.S ao Brasil


Tinhorão, urutu, sucuri

Ujobim, sabiá, bem-te-vi


Cabuçu, Cordovil, Cachambi, olerê

Madureira, Olaria e Bangu, olará

Cascadura, Água Santa, Acari, olerê

Ipanema e Nova Iguaçu, olará


Do Brasil, S.O.S ao Brasil

QUERELAS do Brasil. Intérprete: Elis Regina. Compositores: Aldir blânqui e Maurício Tapajós. In: TRANSVERSAL do Tempo. Intérprete: Elis Regina. Rio de Janeiro: Philips, 1978. 1 disco sonoro. Lado B, faixa 4.

2. Escute a canção “Querelas do Brasil”, interpretada por Elis Regina (1945-1982), pesquisando-a em um site de busca na internet.

Fotografia em preto e branco. Busto de mulher com cabelos curtos, usando brinco longo. Ela está com a cabeça inclinada para trás, de olhos fechados, e segura um microfone com a mão direita próximo à boca.
A cantora Elis Regina, considerada por muitos críticos uma das melhores cantoras brasileiras, inovou os shows musicais no país na década de 1970, com os espetáculos Falso Brilhante, que ficou em cartaz entre os anos de 1975 e 1977, e Transversal do tempo, em 1978.
  1. Que características dessa letra mais chamam sua atenção? Por quê?
  2. Você conhece todas as palavras? Quais não conhece?
  3. Que características do Brasil você percebe que são destacadas na letra?

Para experimentar

Representar um coletivo recriando a canção

Você e os colegas vão retratar um coletivo de pessoas do qual fazem parte: o país, a cidade, o bairro, a escola ou outro. Mas antes, como referência, vamos entender melhor como o nosso país foi retratado pelos compositores de “Querelas do Brasil”.

Etapa um. Aprofundar o estudo da letra

  1. Reúna-se com os colegas em um grupo.
  2. Pesquisem em um dicionário, impresso ou na internet, as palavras da letra cujo significado vocês desconhecem.
  3. Pesquisem uma análise da letra, feita por críticos de música, para ajudar na compreensão geral da representação que os autores construíram do Brasil e do contexto no qual criaram a canção. A seguir sugerimos alguns apontamentos e perguntas para impulsionar a pesquisa:
    1. “Querelas do Brasil” faz alusão e traz ampliações e problematizações ao conteúdo de uma outra canção, mais antiga, que também retrata o Brasil e é conhecida em várias partes do mundo. Tentem identificar essa canção e comparem o título de ambas e as respectivas letras.
    2. Vocês repararam que na letra o nome do nosso país aparece escrito e pronunciado de duas maneiras diferentes? O que os autores quiseram representar com isso?
    3. Na letra há referências a músicos e escritores brasileiros e suas obras. Pesquisem e vejam quais conseguem identificar.
    4. A letra menciona elementos da fauna e da flora brasileira. Quais são eles?
    5. Vocês consideram que esses animais e plantas devem ser considerados partes do coletivo que compõe o Brasil? Por quê?
    6. O que vocês consideram que os autores querem dizer com o verso “Do Brasil, ésse ô ésse ao Brasil”?
    7. Que outros aspectos vocês identificaram na pesquisa?

Etapa dois Recriar a letra

  1. Tendo como base a letra e a melodia da canção, escolham um coletivo de pessoas do qual vocês fazem parte para fazer uma paródia da letra. O foco é a representação das características desse coletivo.
  2. Sugestões:
    1. Vocês podem recriar a letra inteira ou apenas alterar algumas partes, retratando o coletivo escolhido.
    2. Podem incluir nomes de pessoas, lugares, plantas ou animais comuns na região.
    3. Podem fazer referência a problemas políticos, econômicos, sociais ou ambientais.
    4. Estejam atentos para que as palavras escolhidas por vocês se encaixem na melodia na hora de cantar a canção.
    5. Deem um título para a paródia.

Etapa três Criar um novo arranjo para apresentar a canção

1. Ouçam novamente a canção “Querelas do Brasil” e tentem memorizar a melodia.

  1. Cantem a paródia, mantendo ou fazendo pequenas alterações na melodia, caso seja necessário encaixar a nova letra.
  2. Vocês podem também declamar algumas partes ou cantar em outro ritmo.
  3. Escolham instrumentos ou objetos sonoros disponíveis para acompanhar a apresentação e definam as partes em que cada um será utilizado.
  4. Pensem em sons que sintonizem com o que estiver sendo dito na letra para:
    1. produzir esses sons com objetos sonoros ao vivo;
    2. gravar previamente e usar na apresentação;
    3. fazer uso de algum áudio indicado no livro (como sugerido na seção Processos de criação do capítulo 7);

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  1. utilizar partes de gravações de outras músicas que já existam.
  1. Definam coletivamente os detalhes do arranjo, relembrando os elementos musicais trabalhados ao longo da coleção. As perguntas a seguir poderão trazer mais ideias:
    1. O arranjo terá uma introdução? Como será?
    2. Haverá partes cantadas por uma pessoa e outras em coro?
    3. Haverá partes sem canto, só com instrumentos ou outros sons?
    4. Como será a finalização da música?
  2. Registrem no diário de bordo a letra da paródia e façam um roteiro do arranjo. Vocês podem representar, escrevendo ou desenhando, a sequência dos sons/instrumentos e outros detalhes, fazendo uma espécie de partitura do arranjo, que pode ajudá-los na hora de ensaiar.
  3. Ensaiem a apresentação e compartilhem a criação de vocês com os outros grupos.
  4. Façam uma reflexão coletiva sobre as seguintes questões:
    1. Que parte da atividade foi mais interessante de realizar? Por quê?
    2. Quais foram as dificuldades e como o grupo lidou com elas?
    3. Foi prazeroso realizar uma criação coletiva? Por quê?
    4. Tentar representar um coletivo do qual todos fazem parte estimulou novas percepções e reflexões sobre esse coletivo?

rípi rópi!

No capítulo 3 deste livro, você conheceu um pouco das origens do movimento hip-hop e de como ele se popularizou no Brasil. Você se lembra das principais características desse movimento? Ele integra várias linguagens artísticas, como a música, a literatura, as artes visuais e a dança, representadas, respectivamente, por rap, MC, grafite e break. Essa foi a maneira que jovens da periferia de grandes centros urbanos encontraram para expressar artisticamente seus pensamentos, seus anseios de mudança ou seus protestos. Justamente por isso, o hip-hop é mais que um movimento artístico: é um estilo de vida. Ele representa o modo como uma pessoa se posiciona diante da realidade e como se percebe (ou não) integrada e pertencente a uma comunidade.

3. Além do grafite, quais outros aspectos visuais do hip-hop você conhece?

Para experimentar

Customizar para se expressar

A ideia agora é que você busque um modo de expressar como se sente em relação à sua comunidade ou à sua escola. A inspiração virá da visualidade de grafites encontrados em pesquisas on-line e nas ruas, mas dessa vez a produção será realizada em objetos pessoais.

Etapa um Pesquisa na internet e pesquisa de campo.

  1. Reúna-se com os colegas em grupos de cinco a oito integrantes, de acordo com as afinidades – por exemplo, os que têm opiniões semelhantes sobre determinado assunto ou que almejam uma transformação em comum para a escola.
  2. Façam uma pesquisa sobre o grafite na internet em pelo menos três fontes diferentes, incluindo podcasts de entrevistas com artistas do grafite. Procurem conhecer estilos variados nas produções. Fornecemos alguns nomes que podem ser incluídos na pesquisa: Alexandre Orion (1978-), Eduardo Kobra (1978-), OSGEMEOS [Gustavo Pandolfo e Otávio Pandolfo] (1974-), Panmela Castro (1981-), Binho Ribeiro (1971-), Nina Pandolfo (1977-) e Nila Carneiro (não consta informação sobre ano de nascimento da artista).
Fotografia. Destaque para dois grafites na base de sustentação de uma ponte. No grafite em primeiro plano, há duas mãos em tons de verde, uma sobre a outra, e um rosto azul estilizado na forma de um prisma triangular. As mãos estão segurando diversas formas geométricas coloridas. No grafite em segundo plano, há uma mulher com cabelos esvoaçantes para a esquerda da imagem, usando um vestido azul. Ela está com uma corda em volta do corpo, prendendo os seus braços, e com os punhos amarrados. Abaixo dela há um rio nas cores vermelho e laranja, no qual há uma canoa e, dentro dela, um menino. Próximo aos pés da mulher, há um barco cheio de passageiros. Ao fundo da imagem, há prédios e, sobre eles, um céu amarelo onde flutuam outros três prédios, cujas bases se esfarelam.
  1. Ao longo de uma semana, se possível, façam uma pesquisa de campo com o auxílio do professor e dos responsáveis sobre os grafites que encontram em seu entorno. Procurem identificar, pelo estilo ou pela assinatura, as produções que pertencem ao mesmo artista. Registrem o que encontrarem com uma câmera fotográfica ou façam relatos nos diários de bordo.
  2. Compartilhem com os demais grupos da turma os exemplos de grafites com os quais vocês mais se identificaram, tanto na pesquisa na internet quanto na pesquisa de campo.

Etapadois Customização.

  1. Estimulados pelas reflexões em grupo da etapa anterior, vocês criarão peças que comuniquem suas ideias e, de algum modo, expressem como vocês se sentem ou como se veem. A inspiração poderá vir da estética dos grafites que foram pesquisados ou refletir o próprio estilo de cada um; poderão ser usadas imagens ou palavras. As intervenções serão feitas em objetos pessoais, como capas de caderno, vestimentas, mochilas, carteiras, calçados e acessórios. Vocês podem customizar quantas peças quiserem.
  2. Considerem o conceito de customização, que é modificar uma peça ou objeto que já possuem e personalizá-lo para que represente visualmente o que vocês pensam e quem vocês são.
  3. Para realizar a atividade, pode ser usada a técnica do estêncil, apresentada no capítulo 4 deste livro. Vocês também podem trabalhar com impressão e colagem de imagens, ou usar canetas e tintas próprias para o suporte do objeto com o qual ou dos objetos com os quais tenham escolhido trabalhar (tecido, lona, papel, entre outros).
Fotografia. Destaque para um grafite na base de sustentação de uma ponte. Ele é composto de formas onduladas e sobrepostas, compondo um emaranhado, na cor branca; ao redor dessa figura há círculos concêntricos nas cores preto, rosa e lilás. Na parte inferior, há dois triângulos vistos parcialmente, um azul e o outro rosa.
Museu Aberto de Arte Urbana (máu), São Paulo São Paulo. Fotografia de 2012. Da esquerda para a direita podem-se ver os grafites dos artistas: Tinho (Uálter Nomura, na primeira pilastra; Nove, na segunda pilastra; e ráigráf, na terceira pilastra.
  1. Para concluir, compartilhem com a turma os resultados de seu grupo e, em seguida, conversem sobre as seguintes questões:
    1. Como cada grupo se formou? Quais são as afinidades entre os indivíduos do grupo?
    2. Quais foram os objetos escolhidos para a customização e por quê?
    3. Como foi o processo de criar algo que representa visualmente quem vocês são?

Fanzine teatral

No capítulo 4 deste livro, você e a turma foram convidados a produzir um fanzine: criaram a pauta, planejaram o formato, a produção, a impressão e a encadernação. Além disso, estudaram como o fanzine é um instrumento eficiente e prático para que qualquer indivíduo possa expressar e veicular suas ideias.

No capítulo 5, você conheceu o movimento dos coletivos de teatro, que vem crescendo no Brasil, e estudou algumas de suas obras e modos de organização. Entretanto, como o teatro é uma arte efêmera, ou seja, acontece no espaço e no tempo presentes, o registro, em suas mais variadas fórmas, é uma etapa muito importante para a preservação e a difusão dessa linguagem artística. Como você e a turma vêm registrando os processos criativos que desenvolvem? Qual é a importância do registro para a arte teatral?

Ao longo dos últimos anos, grupos de teatro brasileiros começaram a publicar diversos materiais teatrais, com o objetivo de registrar seus processos criativos. Dessa fórma, peças, textos reflexivos, descrição de procedimentos de criação, fotografias dos espetáculos e dos ensaios, tradução de textos, conversas públicas com convidados etcétera passaram a ser publicados de diversas maneiras.

Fotografia. Diversos livros e CDs da BRAVA COMPANHIA sobre uma mesa.
Cadernos de Erros da Brava Companhia, publicações produzidas para difundir a pesquisa, os estudos e os referenciais teóricos adotados e produzidos por esse grupo.

Para experimentar

Uma publicação teatral

Que tal produzir um fanzine com os registros dos processos criativos teatrais da turma? Trechos do fanzine poderão ser lidos e, se possível, cópias dele, distribuídas no sarau proposto ao final deste capítulo.

  1. Junte-se aos colegas e, com o auxílio do professor, façam um levantamento de todas as criações teatrais realizadas ao longo do ano, trazendo para a sala de aula todos os registros: fotografias, músicas, notas de ensaio, reflexões coletivas, esboços de cenário e figurinos, propostas de iluminação, dramaturgias etcétera
  2. Organizem o material que desejam publicar.
    1. O fanzine terá imagens? Quais? Haverá textos que promovam a reflexão?
    2. Haverá descrição dos processos criativos?
  3. Selecionem dramaturgias elaboradas ao longo do ano para divulgar e ler para o público no sarau proposto na seção Processos de criação deste capítulo. Caso desejem, vocês também podem criar uma dramaturgia original ao longo dessa experimentação.
  4. Retomem as instruções oferecidas na seção Processos de criação do capítulo 4 deste livro para definir o formato do fanzine criado pela turma.
  5. Organizem-se em equipes para a produção.
  6. Ao final da produção do fanzine, converse com os colegas e com o professor sobre as seguintes questões:
    1. Quais foram os critérios de seleção definidos pela turma em relação ao material? Por quê?
    2. Qual etapa da produção da publicação você achou mais interessante? Por quê?
    3. Há algum material que não ganhou espaço no fanzine e que você ainda gostaria de ver publicado? Qual? Por quê?
Capa de revista. Composta de uma fotografia em preto e branco de uma boneca de porcelana de perfil; ao lado dela há um espelho em que se reflete uma parte do seu rosto. Na parte superior da capa está o nome da revista: FOLHETIM. Na parte inferior há o texto: Entrevista com Sobrevento.
Revista Folhetim, do Teatro do Pequeno Gesto, número 8, setembro/dezembro 2000.

Vamos dançar!

No capítulo 6 deste livro, você conheceu músicos, cantores e compositores que criaram suas obras com base em suas histórias e experiências de vida. Suas criações artísticas falam sobretudo a respeito de modos de vida, identidade e questões raciais.

Para experimentar

A letra da canção vira dança

Agora convidamos você a compor uma coreografia inspirando-se nas letras das músicas que conheceu neste livro. Para isso, vamos trabalhar com um processo colaborativo, apresentado no capítulo 5 deste livro.

Essa criação tem como ponto de partida a letra de uma canção: lembre-se das imagens reveladas pelas letras das músicas e das sensações que elas despertaram em você antes de escolher uma delas.

  1. Reúna-se em um grupo com colegas que tenham interesse em participar de um processo colaborativo de dança em uma destas funções: bailarino-criador, coreógrafo, músico, figurinista ou cenógrafo.
  2. Volte ao capítulo 6 deste livro, leia as letras, escute novamente as canções apresentadas e, com o grupo, escolha uma delas. Devem ser levados em conta os interesses do grupo em relação ao tema que a canção aborda e ao ponto de vista do artista sobre esse tema, apresentado na letra da canção.
  3. Converse com os colegas do grupo sobre a canção e respondam oralmente às seguintes questões:
    1. Quais são os interesses de cada integrante do grupo pela canção?
    2. Qual é a ideia principal apresentada na letra da canção?
    3. Você e o grupo concordam ou discordam do ponto de vista sobre o assunto apresentado na letra? Justifiquem suas respostas a fim de entrar em acordo sobre o ponto de vista de todos a respeito do assunto abordado na canção.
    4. Considerando a letra da canção, qual é a ideia principal que o grupo pretende apresentar?
    5. Quais movimentos, imagens e sons podem expressar as ideias que surgiram nas respostas às perguntas anteriores?
  1. Retomem as instruções fornecidas na seção Processos de criação do capítulo 5 deste livro para organizar e desenvolver a composição da coreografia com todos os elementos envolvidos.
  2. O coreógrafo do grupo, a partir da conversa com os demais integrantes, indica os parâmetros para a criação da dança, da música e do figurino. Ensaiem juntos algumas vezes.
  3. Após ensaiar, organizem-se com o auxílio do professor para apresentar a coreografia para a turma e assistir às apresentações da coreografia dos outros grupos.
  4. Ao final da apresentação, converse com os colegas e com o professor sobre as seguintes questões:
    1. De que modo a coreografia apresentou o assunto da letra da música?
    2. Quais novos pontos de vista foram apresentados sobre o assunto?
    3. Para o grupo de trabalho: o que poderia ser modificado para tornar o assunto ou ponto de vista ainda mais evidente?
    4. Quando ouve comentários a respeito do seu trabalho ou dos seus trabalhos, você repensa o que fez?
Fotografia. Em primeiro plano, de costas, há três pessoas assistindo a uma apresentação. Ao fundo, à esquerda, há uma mulher usando regata e short, em pé, de pernas afastadas; ao centro, há um homem, usando blusa amarela e calça azul, que segura um microfone azul e está com um dos braços estendido para o alto; à direita dele há uma mulher de perfil, com cabelos na altura dos ombros, usando roupas pretas e segurando um microfone vermelho; à direita da mulher, há um homem de perfil, usando roupas brancas, que segura um microfone preto. Atrás deles há uma janela comprida, por onde entra luz natural.
Primeiro ensaio aberto do espetáculo Os superficiais, da Companhia. etcétera, em Recife (Pernambuco). Fotografia de 2015.

Estrutura musical e pensamento computacional

No capítulo 6, foram abordadas estruturas musicais nas quais os artistas podem fazer inovações e transformações ao longo do tempo e ser relacionadas com outras experiências e produções culturais da vida coletiva. Veremos agora um tipo de estrutura musical que é pensada para ser cantada coletivamente, ou seja, são necessárias pelo menos duas pessoas para ser realizada, mas pode ser cantada por várias vozes. Nessa estrutura cada voz começa a cantar em um momento diferente, porém fazendo uma imitação da melodia da voz que cantou primeiro, podendo fazer variações de timbre, intensidade e outras. Essa fórma musical é chamada de cânone e sua estruturação pode ser equiparada a uma técnica muito usada em Matemática e Computação. Estamos falando da técnica de recursão, que lida com a repetição controlada de algum padrão. Os padrões estão presentes de diferentes fórmas, tanto na natureza como na vida.

Em matemática esses padrões podem ser encontrados, por exemplo, nas sequências recursivas de números, isto é, em listas nas quais cada número da sequência depende de números anteriores a ele. Uma delas é a chamada Sequência de Fibonacci (0, 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, ...). O esquema a seguir exemplifica como é obtido o quarto elemento da série:


Esquema. Cinco setas verdes apontando para a direita dispostas em três linhas. Na primeira linha, seta verde com o seguinte texto, centralizado: Fibonacci (3). Na linha de baixo, uma seta o texto: Fibonacci (2), o símbolo matemático de MAIS e outra seta com o texto Fibonacci (1). Na terceira linha, seta com o texto: Fibonacci (1), o símbolo matemático de MAIS e outra seta com o texto Fibonacci (0)

Você se lembra de já ter estudado esse assunto nas aulas de Matemática? Caso contrário, esse é um tema sobre o qual a turma pode pesquisar.

Para obter o quarto elemento, Fibonacci (3), é necessário calcular o terceiro elemento, Fibonacci (2), e o segundo, Fibonacci (1), e assim por diante, seguindo o mesmo padrão. No caso dos cânones musicais, podemos pensar a melodia que se repete nas diferentes vozes como sendo o padrão. Observe a figura:

Ilustração. Padrão. Linha em zigue-zague preta. 
Ilustração. Voz 1. Linha em zigue-zague vermelha, repetindo quatro vezes a sequência do padrão.
Ilustração. Voz 2. Linha em zigue-zague azul, repetindo três vezes a sequência do padrão.
Ilustração. Voz 3. Linha em zigue-zague verde, repetindo duas vezes a sequência do padrão.

A melodia que se repetirá está representada pela linha segmentada que aparece logo no início, em preto, denominada padrão. Repare que a segunda voz inicia logo após a primeira, repetindo essa mesma linha melódica; pouco depois se inicia a terceira voz, seguindo o mesmo processo. A partir daí, todas as vozes seguem repetindo o mesmo padrão, porém de modo defasado. O resultado musical é que diferentes partes da melodia padrão soam simultaneamente e, apesar de estarem cantando a mesma melodia, as vozes nunca se encontram na mesma parte. Isso pode ser observado na figura observando-se a representação das partes nas quais as três vozes soam juntas e uma se encaixa na outra enquanto cada uma está cantando uma parte diferente da melodia padrão.

Para experimentar

Reproduzindo padrões com a voz

Esta atividade será realizada de fórma coletiva.

  1. Pesquisem na internet diferentes exemplos de cânones. Para isso utilizem como ferramenta as palavras cânone+musical em sites de busca que abrigam gravações em vídeo ou áudio. Poderão ser encontrados variados exemplos.
  2. Escutem os cânones e escolham um que considerem possível de ser aprendido e reproduzido coletivamente. Cantar a mesma melodia de modo defasado é um desafio para quem não está habituado, portanto deve-se dar preferência aos cânones mais simples.
  3. Reproduzam o cânone diversas vezes, até aprenderem a melodia e a letra. Se acharem necessário, anotem a letra para ter como referência na hora de cantar.
  4. Cantem todos juntos algumas vezes até memorizarem a melodia.
  5. Escutem novamente a gravação escolhida e observem bem o momento em que cada voz é iniciada, tendo como referência a voz inicial.
  6. Com a melodia memorizada e conscientes da hora de entrada de cada voz, formem grupos para cantar de modo defasado, em uma, duas, três ou mais vozes, conforme a gravação escolhida como referência.
  7. Com base na gravação, definam a quantidade de repetições que cada voz fará e o momento de finalizar.
  8. Ensaiem várias vezes. No começo poderá ser um pouco difícil, mas certamente será divertido e, com persistência, aos poucos, a turma conseguirá cantar em cânone.
  9. Para concluir, conversem com os colegas e com o professor sobre a experiência, respondendo às seguintes questões:
    1. Quais foram os desafios ao cantar dessa maneira?
    2. Que semelhanças vocês percebem ou imaginam entre essa maneira de organizar a repetição de um padrão melódico e o modo de funcionamento de um programa de computador?

Processos de criação

Organizando um sarau

Convidamos você a organizar um sarau – evento em que os integrantes da turma poderão expor suas inquietações por meio de seus trabalhos artísticos. Esta será uma oportunidade para que todos se manifestem.

As atividades desenvolvidas ao longo deste livro, especialmente as propostas neste capítulo, podem ser a base para o que será apresentado no sarau.

O ideal é que a turma toda trabalhe para produzir e atuar; por isso será necessário muito engajamento e atenção nas etapas de trabalho, a fim de que as apresentações proporcionem momentos de reflexão e de celebração de todo o processo vivido ao longo do ano.

Etapa um. Produção.

  1. Com o auxílio do professor, decidam a data e o local do sarau. A partir de então, montem uma tabela com o cronograma de trabalho, com datas das etapas e das atividades, e dividam as tarefas.
  2. A turma se dividirá em quatro equipes e cada uma será responsável por uma série de tarefas na organização do evento:
    1. A equipe de organização do espaço será responsável por:
      • Reservar previamente e organizar os espaços para as apresentações.
      • Receber o público e organizá-lo durante as apresentações.
      • Cuidar da desmontagem do espaço, devolvendo-o nas mesmas condições em que estava no momento da reserva.
    1. A equipe de organização da programação será responsável por:
      • Elaborar uma ficha de inscrição com os dados de cada trabalho.
      • Organizar a sequência das apresentações levando em conta as necessidades técnicas de cada grupo, o tempo previsto e os recursos disponíveis.
      • Fazer uma lista dos materiais de som, vídeo e luz que serão necessários e enviar para a equipe responsável.
      • Controlar o tempo das apresentações.
  1. A equipe de comunicação, registro e divulgação será responsável por:
    • Elaborar o material de divulgação do evento.
    • Divulgar o evento com antecedência às demais turmas da escola e à comunidade.
    • Documentar o processo de organização e produção do sarau.
    • Registrar as apresentações por meio de fotografias e gravações de áudio ou vídeo.
  1. A equipe de organização dos materiais audiovisuais será responsável por:
    • Fazer o levantamento de todos os materiais necessários e reservá-los para o dia do sarau.
    • Reservar, montar, desmontar e guardar os materiais de som, vídeo, luz e outros que forem utilizados.
    • Operar os aparelhos eletrônicos necessários para as apresentações no dia do sarau.

Etapa dois. Preparação das apresentações do sarau.

  1. Escolha uma das atividades que tenha sido desenvolvida ao longo do ano para apresentar no sarau. Ao escolher, reflita sobre as seguintes questões: por qual atividade você mais se interessou? Ela foi individual ou em grupo? Se foi em grupo, será que mais pessoas gostariam de repetir a atividade com você? Converse com os colegas.
  2. Nos momentos reservados para os ensaios, trabalhe individualmente ou em grupo para retomar a atividade e estudá-la. Caso seja um trabalho como a criação de um poema, a produção de um texto literário ou de alguma modalidade de arte visual, dedique-se à sua produção em vez de ensaiar.
  3. Para os que optarem pelas atividades deste capítulo, sugerimos alguns caminhos possíveis, que podem ser adaptados:
    1. Para experimentar – “Representar um coletivo recriando a canção”.

Os grupos podem apresentar no sarau os arranjos criados nessa atividade. Outra possibilidade é reviver a experiência de criar um arranjo coletivo a partir da imaginação individual, mas com grupos formados por um integrante da turma junto com o público do sarau.

b. Para experimentar – “Customizar para se expressar”.

Os grupos podem montar uma exposição com as peças confeccionadas ou promover um desfile com as peças customizadas e inspiradas no universo do hip-hop.

c. Para experimentar – “Uma publicação teatral”.

A publicação criada pela turma pode ser distribuída integralmente ou em partes para os participantes do sarau. Um trecho de alguma das dramaturgias publicadas no fanzine pode ser lido para o público.

d. Para experimentar – “A letra da canção vira dança”.

Os grupos que trabalharam essa proposta podem apresentá-la ao público do sarau e, após o término, podem promover uma conversa para escutar as impressões dos espectadores e também falar sobre o processo de criação da coreografia.

e. Para experimentar – “Reproduzindo padrões com a voz”.

Todos os participantes do sarau poderão se unir e apresentar o cânone treinado anteriormente para encerrar o evento.

Etapa três Montagem, apresentações e desmontagem.

  1. No dia do sarau, sigam todo o esquema de organização previamente preparado, considerando que, em alguns momentos, vocês estarão cuidando da organização geral do evento, em outros momentos, estarão atuando em suas apresentações e, em outros, estarão assistindo às apresentações dos colegas.
  2. Fiquem atentos especialmente aos horários combinados; assim, todos terão tempo para apresentar seus trabalhos.
  3. Após o término do sarau, é importante que todos colaborem com a arrumação e a limpeza do espaço e devolvam os materiais aos devidos lugares.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Como você colaborou com o grupo?
  2. Quais foram os principais problemas encontrados no processo e quais foram as alternativas mais interessantes para resolvê-los?
  3. Qual foi a sensação de apresentar seu trabalho?

Organizando as ideias

Mosaico de fotografias. Composto de um recorte vertical de quatro fotografias. Da esquerda para a direita: uma mulher com cabelos na altura dos ombros, usando blusa azul e calça jeans, está segurando um microfone; à sua frente, há pessoas olhando na sua direção e, na parede atrás dela, há um cartaz com o texto: Matéria Poética; fotografia em preto e branco de Elis, mulher com cabelos curtos, usando brinco longo; ela está com a cabeça inclinada para trás, de olhos fechados, e segura um microfone com a mão direita próximo à boca; na base de sustentação de uma ponte, grafite de uma mulher com cabelos esvoaçantes para a esquerda da imagem, usando um vestido azul. Ela está com uma corda em volta do corpo, prendendo os seus braços, e com os punhos amarrados; abaixo dela há um rio nas cores vermelho e laranja, no qual há uma canoa e, dentro dela, um menino; ao fundo da imagem, há prédios e, sobre eles, um céu amarelo onde flutuam outros três prédios, cujas bases se esfarelam; um homem, usando blusa amarela e calça azul, segura um microfone azul e está com um dos braços estendido para o alto; atrás dele há uma janela, por onde entra luz natural.

Após ter realizado tantas práticas coletivas, converse com os colegas e com o professor sobre seus aprendizados e reflita sobre as seguintes questões.

Faça no caderno.

  1. De todas as propostas que experimentou no capítulo, quais foram as que mais possibilitaram trocas entre os membros das equipes de trabalho? Como foram essas trocas?
  2. O que você aprendeu sobre trabalhar em equipe?
  3. O que mais o surpreendeu nas apresentações artísticas às quais assistiu?
  4. Quais descobertas você fez ao longo deste capítulo? O que você gostaria de continuar aprofundando?