CAPÍTULO 5 Coletividades que transformam: o teatro de grupo

Fotografia em preto e branco. Um grupo de bailarinos deitados no chão, usando camisas e calças escuras. Eles estão com os braços estendidos, com as mãos nas costas, nas pernas e na cabeça de uma pessoa, suspendendo-a no alto. Ao lado deles, há uma homem em pé, observando-os. Ao fundo, diversas pessoas sentadas e em pé assistindo à apresentação.
ANTIGONE: Mysteries and smaller pieces [Antígona: Mistérios e miudezas, em tradução livre]. Direção: júdit malína e diúlian béc. Intérpretes: Living Theatre. Maison de la culture de Grenoble, Grenoble, França, 1969.
Orientações e sugestões didáticas

Sobre o capítulo

Este capítulo, “Coletividades que transformam: o teatro de grupo”, relaciona-se às Unidades temáticas da Bê êne cê cê: Teatro; Artes integradas.

Objetivos

De acordo com as Competências específicas do Componente Curricular Arte, os conteúdos trabalhados neste capítulo buscam levar os estudantes a:

  1. Explorar, conhecer, fruir e analisar criticamente práticas e produções artísticas e culturais do seu entorno social, dos povos indígenas, das comunidades tradicionais brasileiras e de diversas sociedades, em distintos tempos e espaços, para reconhecer a arte como um fenômeno cultural, histórico, social e sensível a diferentes contextos e dialogar com as diversidades.
  1. Pesquisar e conhecer distintas matrizes estéticas e culturais – especialmente aquelas manifestas na arte e nas culturas que constituem a identidade brasileira –, sua tradição e manifestações contemporâneas, reelaborando-as nas criações em Arte.
  2. Experienciar a ludicidade, a percepção, a expressividade e a imaginação, ressignificando espaços da escola e de fóra dela no âmbito da Arte.
  1. Desenvolver a autonomia, a crítica, a autoria e o trabalho coletivo e colaborativo nas artes.
  2. Analisar e valorizar o patrimônio artístico nacional e internacional, material e imaterial, com suas histórias e diferentes visões de mundo.

Sobre a imagem

Incentive os estudantes a observar o espaço de experimentação teatral retratado na fotografia. Trata-se de uma oficina organizada pelo Living Theatre. Na imagem, há pessoas experimentando o exercício e outras observando – como vem acontecendo em sala de aula com as propostas elaboradas por esta coleção. Chame a atenção da turma para o fato de a plateia ser fundamental para o aprendizado coletivo.

1. Observe a imagem da abertura do capítulo. Como você relaciona a ideia de coletividade à ação que as pessoas deitadas estão realizando?

Versão adaptada acessível

1. Retome a imagem da abertura do capítulo. Como você relaciona a ideia de coletividade à ação que as pessoas deitadas estão realizando?

A arte do teatro, em geral, acontece coletivamente. Para desenvolver uma obra ou um processo criativo nessa linguagem, é preciso que um grupo de pessoas se disponha a trabalhar em conjunto.

Muitos são os elementos que compõem a linguagem teatral, entre os quais estão atuação, encenação, cenografia, iluminação, dramaturgia, sonoplastia e produção. Em geral, cada processo criativo conta com uma pessoa ou um conjunto de pessoas responsáveis pelas diferentes partes que compõem uma peça. Ao mesmo tempo, no teatro, todos os seus componentes devem dialogar em prol de um objetivo em comum, o que motiva alguns grupos a trabalhar mais intensamente com a ideia de coletividade, como é o caso da companhia teatral estadunidense Living Theatre.

Neste capítulo, você vai conhecer grupos de teatro e algumas obras criadas coletivamente. Por meio de suas criações e organizações, veremos que o trabalho coletivo também acontece com o objetivo de propor mudanças tanto na linguagem teatral quanto na própria sociedade na qual o teatro está inserido.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Em quais momentos você teve a experiência de construir algo em conjunto?
  2. Quais são as facilidades e dificuldades que você teve ao criar uma obra coletivamente?
  3. Algum projeto que você desenvolveu em um coletivo já gerou algum tipo de transformação?
Orientações e sugestões didáticas

Justificativa

Neste capítulo, damos destaque a produções teatrais desenvolvidas coletivamente e exploramos as noções de criação coletiva, processo colaborativo e teatro de grupo. O objetivo é levar os estudantes a discernir como os exemplos apresentados lidam com a ideia de encenação (sempre criada coletivamente) e sua relação com o espectador. Um dos alvos estéticos desse tipo de produção é a sua própria fórma de organização: ela inventa possibilidades de convívio e adota mudanças sociais como perspectiva. O teatro de grupo, produzido coletivamente, busca criar propostas de transformação das estruturas sociais. Ele se organiza, geralmente, em oposição ao teatro mainstream, mais padronizado, hierarquizado e comercial. Nessa direção, a discussão proposta pelo capítulo abre espaço para a abordagem do tê cê tê Economia – Trabalho em diálogo com o componente curricular Arte, uma vez que o capítulo aborda temas relacionados aos modos de produção em teatro.

Para todas as questões propostas no capítulo serão dadas “Respostas pessoais.”.

Sobre o Living Theatre

Importante companhia teatral da cidade de Nova iórque (Estados Unidos), fundada em 1947 pelos atores béc (1925-1985) e júdit malína (1926-2015). Eles experimentavam um tipo de ação cênica baseada em improvisos e acontecimentos cênicos performáticos (os happenings).

Sobre a atividade

1. Observando atentamente a imagem, é possível constatar que, agindo coletivamente, nenhuma das pessoas deitadas no chão precisa fazer muito esforço, uma vez que o peso do corpo da pessoa sustentada é dividido com todas as outras.

Sobre as atividades: Para refletir

  1. Elenque com os estudantes os momentos do cotidiano em que eles estão envolvidos em experiências coletivas: a construção de algo em comum, o cuidado do lar partilhado com a família, as atividades em sala de aula etcétera
  2. Proponha aos estudantes relembrar os trabalhos coletivos realizados ao longo das aulas de Arte. A partir dessas memórias, destaquem os momentos mais fáceis e os mais difíceis na relação com os grupos.
  3. Instigue os estudantes a evocar, com base em suas memórias, os aprendizados (de qualquer ordem) experienciados ao longo de sua atuação em diferentes coletivos.

SOBREVOO

Coletivos em criação e intervenção na sociedade

Criar coletivamente impõe uma série de desafios. Nos trabalhos em grupo, faz-se necessário o respeito mútuo entre todos os envolvidos nas experimentações, o que inclui proporcionar espaço para escutar as ideias e propostas de todos os criadores. Além disso, a confiança entre as pessoas é um requisito fundamental para trabalhar coletivamente.

Para experimentar

Confiar no outro

Volte à abertura deste capítulo e observe novamente a imagem do grupo Living Theatre. A fotografia mostra uma ação que só pôde ser realizada porque havia confiança mútua entre os participantes. Que tal experimentar um exercício de cuidado e confiança com os colegas?

  1. Você vai precisar de uma tira de tecido que possa ser usada como venda para os olhos.
  2. Com o auxílio do professor, escolham um espaço amplo da escola em que seja possível caminhar sem muitos obstáculos.
  3. Em duplas ou trios, um indivíduo de cada grupo deve se vendar e os outros colegas devem cuidar para que ele não tropece nem esbarre em nenhum objeto que houver no trajeto. Toda a atividade deve ser supervisionada pelo professor.
  4. O primeiro exercício consiste em caminhar de mãos dadas com o colega vendado. Após algum tempo de experimentação, troquem de posição: quem guiava e cuidava será vendado e quem estava vendado guiará o colega e zelará por ele.
  5. O segundo exercício consiste em deixar que o colega vendado caminhe livremente pelo espaço. Quem estiver cuidando do colega durante o exercício deverá ficar atento ao que houver no meio do caminho, para impedir que ele se machuque ou esbarre nos objetos ou nas outras pessoas que estiverem caminhando.
  6. Para concluir, converse com os colegas e com o professor sobre as sensações, dificuldades e facilidades sentidas ao longo da experimentação nas duas posições: a de guia e a de pessoa vendada.
Orientações e sugestões didáticas

Nesta seção, apresentamos algumas obras, artistas e grupos teatrais que pensam seu trabalho e seus processos criativos a partir de sua relação com a coletividade.

Unidades temáticas da Bê êne cê cê

Teatro; Artes integradas.

Objetos de conhecimento

Contextos e práticas; Elementos da linguagem; Processos de criação; Matrizes estéticas e culturais.

Habilidades em foco nesta seção

Reconhecer e apreciar artistas e grupos de teatro brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas, investigando os modos de criação, produção, divulgação, circulação e organização da atuação profissional em teatro.

Identificar e analisar diferentes estilos cênicos, contextualizando-os no tempo e no espaço de modo a aprimorar a capacidade de apreciação da estética teatral.

Explorar diferentes elementos envolvidos na composição dos acontecimentos cênicos (figurinos, adereços, cenário, iluminação e sonoplastia) e reconhecer seus vocabulários.

Pesquisar e criar fórmas de dramaturgias e espaços cênicos para o acontecimento teatral, em diálogo com o teatro contemporâneo.

Experimentar a gestualidade e as construções corporais e vocais de maneira imaginativa na improvisação teatral e no jogo cênico.

Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política, histórica, econômica, estética e ética.

Analisar aspectos históricos, sociais e políticos da produção artística, problematizando as narrativas eurocêntricas e as diversas categorizações da arte (arte, artesanato, folclore, design etcétera).

Orientações: Para experimentar

Optamos por abrir o Sobrevoo deste capítulo com um jôgo no qual os estudantes são convidados a experimentar na prática os problemas e potências da relação coletiva, contemplando a habilidade da Bê êne cê cê. A partir dessa proposta, acreditamos que possam ser feitas conexões com o conteúdo abordado no capítulo. Estabeleça um paralelo entre este exercício e a imagem de abertura do capítulo. Nesta atividade, a atenção deve estar focada no gesto de cuidar. Os estudantes que não estiverem vendados devem estar atentos o tempo todo. Você também deve ficar atento ao grupo durante todo o jogo, zelando pela integridade física dos estudantes e orientando a atividade. Em geral, as pessoas, quando vendadas, tensionam muito a musculatura. Proponha aos estudantes vendados que relaxem – respeitando o tempo e a experiência de cada um.

Atividade complementar (página 84)

Há muitos outros exercícios de confiança e cuidado grupal. Você pode propor um exercício no qual os estudantes formam uma espécie de cama. Oito estudantes, quatro de um lado e quatro de outro, seguram um o antebraço do outro. A cada vez, um participante pode relaxar seu corpo e tombar em direção à estrutura, sendo sustentado pelos demais. Em seguida, a ação de se entregar pode ser debatida: “O que é confiança?”; “O que é preciso para confiar?”. Do outro ponto de vista, a relação de cuidado também pode ser realçada: “O que significa cuidar do outro?”. Se houver algum estudante com deficiência visual na turma, pode-se pedir a ele que conte como a confiança está presente em sua vida e qual é a relação entre um limite físico e a convivência com as outras pessoas.

Fotografia. Cena noturna. Cinco pessoas usando colete refletivo estão montadas em bicicletas. Algumas delas estão usando também uma mochila térmica de entrega nas costas. Todas estão dispostas em semicírculo em um campo de areia. Ao redor delas, há carros com faróis acesos, projetando a luz na direção delas, e pessoas usando máscaras faciais de proteção, assistindo à apresentação. Ao fundo, há casas e árvores.
Atores em cena no espetáculo Estilhaços de janela fervem no céu da minha boca, realizado em São Paulo São Paulo, em 2021. Idealização, concepção e realização: A Digna e Eliana Monteiro. Direção: Eliana Monteiro.

Faça no caderno.

1. Observe a imagem com os atores da montagem do grupo teatral A Digna do espetáculo Estilhaços de janela fervem no céu da minha boca. Quais elementos da imagem mais chamam a sua atenção?

Ícone. Tema contemporâneo transversal: Economia.

2. Como você imagina o trabalho no futuro? E a sua cidade no futuro?

Em meio à pandemia causada pela covid, A Digna, coletivo de teatro da cidade de São Paulo, estreou o espetáculo Estilhaços de janela fervem no céu da minha boca. Um dos objetivos dos artistas da companhia, com essa obra, era questionar a desigualdade social existente nas grandes cidades, bem como as fórmas de trabalho precarizadas que se destacaram ao longo da pandemia, como serviços essenciais, especialmente os trabalhos realizados por entregadores e motoristas de aplicativos.

O enredo da peça consistia em um convite para que os espectadores conhecessem um novo empreendimento imobiliário de bairros planejados chamado Ilha dos sonhos. Ao longo da peça, os espectadores experienciavam um trajeto até a festa de lançamento do empreendimento, que incluía a visita a moradores de bairros nobres planejados da mesma empreiteira.

A peça propunha uma experiência inusitada, que começava na própria casa do espectador, onde um motorista de aplicativo ia buscá-lo para conduzi-lo por um percurso pela cidade. Para investigar as precárias condições de trabalho no mundo contemporâneo, o grupo teatral fez uma parceria com 12 profissionais, entre motoristas e entregadores de aplicativos, convidando-os a atuar em cena com os outros atores do grupo.

Orientações e sugestões didáticas

Orientações

Apresentamos como primeiro exemplo do Sobrevoo um espetáculo recente do grupo teatral A Digna. Conhecido por criar encenações que discutem o direito à cidade, ao longo da pandemia da covid o coletivo elaborou um espetáculo itinerante em que os espectadores eram convidados a questionar tanto as transformações dos grandes centros urbanos causadas pelos processos de gentrificação quanto a precarização que toma conta de várias relações de trabalho contemporâneas. O exemplo do espetáculo proporciona um momento de discussão com os estudantes sobre alguns temas relacionados ao tê cê tê Economia – Trabalho. Explore a experiência vivenciada pela turma durante a pandemia, bem como suas perspectivas, sonhos e intuições voltados para o que está por vir, investigando coletivamente imaginários de futuro e perspectivas relacionadas à cidade e ao trabalho.

O espetáculo Estilhaços de janela fervem no céu da minha boca está integralmente disponível no link: https://oeds.link/uuCKzG. Acesso em: 16 abril 2022.

A classificação indicativa da peça é 12 anos. Por ser longo e apresentar passagens que possam ser desconfortáveis para os estudantes, é recomendável que sejam selecionados os trechos do espetáculo que serão assistidos com a turma. Após a apreciação, peça a eles que reflitam sobre o título da obra, perguntando: “De quem é a boca em que fervem os estilhaços das janelas?”; “Que janelas são essas?”. Encaminhe de modo que possam observar a contradição entre as experiências nas grandes cidades pautadas pela desigualdade: moradores de bairros de luxo versus trabalhadores vivendo em áreas periféricas, por exemplo.

Sobre as atividades

  1. Chame a atenção dos estudantes para o grande número de pessoas na fotografia, o que evidencia a quantidade de atores envolvidos em uma produção teatral complexa como essa. Além disso, ressalte que todas essas pessoas se apresentam em trajes de trabalho, como motoristas e entregadores de aplicativo.
  2. Essa questão pode ser trabalhada de fórma interdisciplinar com os professores de História e Geografia, explorando os tê cê tê Economia – Trabalho, Meio Ambiente – Educação para o consumo e Cidadania e Civismo – Educação para o trânsito. Provavelmente, os estudantes compreenderão as diversas mudanças relacionadas com a cidade e o mundo do trabalho com base em sua experiência em casa e no entorno durante a pandemia de covid. A distinção entre serviços essenciais e não essenciais, por exemplo, pode propiciar uma reflexão sobre como será o trabalho no futuro.

A peça evidenciava uma contradição: cada vez que os espectadores se aproximavam do empreendimento lançado pela empreiteira nos bairros luxuosos, chegava pelo rádio do carro a notícia de que um entregador de aplicativo havia sido vítima de atropelamento.

A diretora do espetáculo, Eliana Monteiro, conta que uma das dificuldades do espetáculo foi justamente sincronizar tantos trajetos diferentes do público para que as cenas pudessem acontecer de modo simultâneo. Como a obra aconteceu em meio à pandemia, havia ainda o desafio de zelar por todos os protocolos sanitários ao longo de todo o percurso da encenação.

Em sua proposta de trabalho, A Digna apresenta algumas possibilidades com as quais as coletividades no teatro podem pensar criticamente nossa sociedade do presente e também a do futuro. Expandindo seu círculo de artistas e convidando trabalhadores da cidade a refletirem sobre suas relações de trabalho em cena, A Digna mostra que o diálogo entre teatro e sociedade se evidencia como atual.

Fotografia. Cena noturna. Um jardim com diversas cruzes brancas de madeira fincadas no chão, velas acesas, uma bicicleta pintada de branco com uma coroa de flores brancas penduradas, um banner com a fotografia de um homem e fotografias de outras pessoas dispostas entre os objetos. Atrás dos objetos, há uma pessoa usando colete refletivo, capacete e mochila, usando máscara facial de proteção. Ao fundo, há árvores e uma rua com carros.
Cena do espetáculo Estilhaços de janela fervem no céu da minha boca, do coletivo A Digna. São Paulo São Paulo, 2021.
Orientações e sugestões didáticas

Sugestão para o professor

O movimento de teatro de grupo teve um intenso crescimento no Brasil dos anos 2000-2015, impulsionado por políticas públicas. O livro Teatro de grupo na cidade de São Paulo e na grande São Paulo: criações coletivas, sentido e manifestações em processo de lutas e de travessias, organizado por Alexandre Mate e Marcio Aquiles, apresenta um registro de fotografias e espetáculos de dezenas de grupos paulistas que emergiram ao longo das últimas décadas. Esse material pode ser consultado em: https://oeds.link/MhVpfC. Acesso em: 16 abril 2022.

Xêiquispíer contado coletivamente na rua

Se a companhia A Digna escolheu os cenários contrastantes de uma grande capital para construir sua crítica, os artistas natalenses do grupo Clowns de Xêiquispíer Rio Grande do Norte escolheram uma tragédia clássica para ocupar as ruas da cidade.

3. Em uma peça realizada na rua ou em algum outro espaço externo que não o edifício teatral, como você imagina que se dá a relação entre os artistas e os elementos presentes nesses ambientes?

Em 2010, os Clowns se uniram ao diretor teatral Gabriel Villela (1958-) para encenar a peça Ricardo terceiro, uma das mais importantes obras do dramaturgo inglês Uilian Xêiquispíer (1564-1616). A versão montada pelo grupo se chamou Sua Incelença, Ricardo terceiro.

Fotografia. Um grupo de sete atores, homens e mulheres, usam diferentes fantasias e adereços e têm o rosto pintado de branco. Eles estão em um palco a céu aberto. Ao fundo há três deles, dois em pé e um sentado em uma carroceria; os demais estão em primeiro plano, sentados em banquetas e baús de madeira. Um deles segura uma sanfona, outro segura uma flor. O cenário é composto de luminárias, flores e objetos de madeira e palha. Atrás dos atores, há três estruturas feitas de bambu dando sustentação a longos tecidos na cor bege, semelhantes a tapetes.
SUA INCELENÇA, Ricardo III. Direção: Gabriel Villela. Texto original: William Xêiquispíer. Intérpretes: Clowns de Xêiquispíer. Natal Rio Grande do Norte, 2010.
Orientações e sugestões didáticas

Sobre os Clowns de Xêiquispíer

Grupo formado em 1993 na cidade de Natal Rio Grande do Norte. Seus artistas se dedicam à investigação do trabalho do ator vinculado à musicalidade e ao teatro popular cômico. O grupo adota muitas vezes a linguagem do palhaço para elaborar seus espetáculos. A dramaturgia Chêiquispiariana é utilizada para investigar com maior radicalidade uma estética marcada pela intensa relação com o público. Atuando de modo colaborativo, o grupo tem um espaço-séde – o Barracão Clowns –, em que realiza seus ensaios, treinamentos e uma série de oficinas abertas a interessados nas artes cênicas. A mobilização de conteúdos sobre a companhia nesta e nas próximas páginas contempla as habilidades e da Bê êne cê cê.

Sobre a atividade

3. A imagem mostra como a cidade e sua geografia acabam se tornando parte do cenário da peça. A comparação entre os elementos desta cena e os exemplos anteriores proposta nesta atividade contempla as habilidades , e da Bê êne cê cê. Encaminhe de modo que o estudante observe que um dos elementos que podem causar transformações na exibição do espetáculo é o clima. Diferente de um espetáculo apresentado em espaço fechado, as apresentações em espaços abertos estão condicionadas a um clima ameno para serem realizadas. Além disso, espetáculos em ambientes externos podem ser afetados por sons do ambiente, bem como por animais presentes nesses espaços e pelo tráfego de veículos, entre outros acontecimentos imprevisíveis.

Sugestão para o professor

Em diálogo direto com o espetáculo Sua Incelença, Ricardo terceiro, procure revisitar a peça Romeu e Julieta, apresentada no livro do 7º ano desta coleção. Também dirigida por Gabriel Villela, essa peça foi encenada pelo Grupo Galpão Minas Gerais. Os dois espetáculos tiveram grande repercussão nacional e internacional, ao mesclar elementos da dramaturgia Chêiquispiariana com fórmas e temas da cultura popular brasileira.

4. Observe as duas imagens do espetáculo, a seguinte e a anterior. Quais elementos cênicos utilizados pelo grupo você identifica nelas?

Fotografia. Seis atores em um cenário teatral. Eles têm os rostos pintados de branco e preto. Um ator está em pé usando uma coroa, colares e pulseiras, um tecido de pelúcia branca nos ombros e uma roupa cinza cheia de adornos. Ele está gesticulando, com o rosto voltando para a esquerda, com a boca aberta. À sua frente há três atrizes e, atrás dele, duas. Elas estão ajoelhadas no chão, de boca aberta, usam blusas de manga comprida nas cores verde e vinho, com estampas coloridas de flores e uma cartucheira vermelha na cintura. Elas estão segurando com uma mão um arco e com a outra uma espada, em posição de ataque.
SUA INCELENÇA, Ricardo terceiro. Direção: Gabriel Villela. Texto original: Uilian Xêiquispíer. Intérpretes: Clowns de Xêiquispíer. Natal Rio Grande do Norte, 2010.

A peça do dramaturgo inglês conta a história do homem que dá título a ela. Ricardo é um duque que vai conquistando, ao longo da narrativa, influência e prestígio, até se tornar rei. Entretanto, sua escalada ao poder é pavimentada por diversas tramas, traições e assassinatos de seus familiares e membros da nobreza. A peça é uma reflexão sobre poder e política, que permite também estabelecer um diálogo com assuntos atuais.

Para recontar essa história antiga e conectá-la com o público brasileiro, os Clowns de Xêiquispíer optaram por criar aproximações entre a Inglaterra do período elisabetano e o sertão nordestino.

Orientações e sugestões didáticas

Sobre a atividade

4. Pode-se observar que os figurinos, as máscaras e as maquiagens atribuem uma unidade estética ao conjunto. Na imagem da página anterior, é possível ver ao fundo as carroças que funcionam como pequenos palcos, um pequeno picadeiro no centro do espaço, instrumentos musicais manipulados pelos atores e lâmpadas no chão, organizando o espaço como uma arena. Nesta imagem, vemos como os figurinos e adereços dos atores dialogam com a constituição de um espaço imaginário para a narrativa de Shakespeare. Este exercício de observação contempla as habilidades (EF69AR25) e (EF69AR26) da BNCC.

Sugestão para o professor

Ao longo deste capítulo e do próximo, sugerimos que você proponha uma parceria interdisciplinar com o professor de História. O objetivo é experimentar o estudo de História por meio do jogo teatral. Os Clowns de Xêiquispíer apresentam um modo instigante de se trabalhar a História cenicamente, conectando a realidade popular brasileira com os temas históricos elaborados pelo autor inglês. O grupo iúiatchicâni, apresentado a seguir, também se dedica ao mesmo tema, ou seja, à relação entre História e encenação. No capítulo 7 deste livro os estudantes serão convidados a elaborar um rap sobre um evento histórico de seu país ou do mundo com base no exemplo do espetáculo musical rrémilton.

Fazendo um trocadilho com o sentido de duas palavras – “excelência”, que é um modo de se chamar um rei, e “incelença”, gênero musical típico da cultura nordestina cujos pequenos cânticos são tocados em funerais –, a encenação já explicitava em seu título a mescla de referências usada na montagem, que também contou com elementos característicos do circo, como máscaras de palhaço, números de picadeiro e música ao vivo.

Além disso, o elenco contava e cantava a história criada por Xêiquispíer de maneira coral, criando movimentos coletivos que estimulavam e envolviam a imaginação dos espectadores, de modo a permitir-lhes acompanhar a narrativa mesmo em um espaço tão disperso como a rua, concretizando, assim, o objetivo dos artistas do grupo natalense, que era ocupar os espaços públicos da cidade com uma arte coletiva.

Para experimentar

Movendo-se em coro

Que tal experimentar se mover coletivamente? Essa proposta tem algumas semelhanças e diferenças com uma brincadeira muito conhecida: Siga o mestre. Vamos lá?

  1. Reúna-se com os colegas em um grupo de até seis integrantes.
  2. Em um espaço amplo e sem obstáculos que possam atrapalhar a movimentação, aproximem-se uns dos outros, porém mantendo espaço suficiente para que todos possam se movimentar com liberdade.
  3. Sempre haverá uma pessoa à frente. Ela vai propor um movimento e todos que estão atrás dela devem seguir sua movimentação. Não se trata de imitar exatamente o gesto executado, mas de compor a partir dele, ou seja, os movimentos não precisam ser idênticos na fórma, mas podem partir da mesma velocidade e tônus proposto inicialmente. Por exemplo, eles podem ser lentos no início, para que o grupo vá se acostumando ao exercício, e, quando todos perceberem que estão afinados, podem ir aumentando a velocidade.
  4. A troca da pessoa que está à frente e que propõe os movimentos vai acontecendo naturalmente, guiada pela improvisação. Tentem não impor a condução dos gestos, mas deixar que o jogo e o movimento coletivo conduzam o desenvolvimento do exercício.
  5. Ao concluir, compartilhe suas impressões sobre a atividade com os colegas e com o professor.
Orientações e sugestões didáticas

Orientações: Para experimentar

Aproveite o exemplo do espetáculo Sua Incelença, Ricardo terceiro e procure estabelecer conexões entre a encenação do grupo Clowns de Xêiquispíer e esta atividade, contemplando as habilidades e da Bê êne cê cê. Você pode retomar experiências prévias, como a narração coletiva, realizada no capítulo 6 do livro do 8º ano desta coleção. A atividade pode ser feita com algum estímulo musical.

Há exercícios que podem complementar a proposta enunciada nesta seção Para experimentar. Outra proposta que pode facilitar a movimentação coletiva é uma versão do jogo Siga o mestre. Nele, uma pessoa se coloca à frente do coro e propõe movimentos e percursos que devem ser seguidos por todos os que estão atrás. Lembre-se de que a posição do “mestre” deve ser temporária, de modo a possibilitar que todos os estudantes exercitem este papel.

Atividade complementar

A partir da brincadeira presente no título da peça dos Clowns de Xêiquispíer com a palavra “incelença”, proponha à turma uma pesquisa sobre a expressão musical das incelenças. Organize a sala em grupos e proponha aos estudantes que investiguem a história das incelenças e tragam para a sala de aula exemplos de letras e cantos relacionados às diferentes dimensões da vida cultural, contemplando a habilidade da Bê êne cê cê.

Um coletivo em busca da representatividade da mulher negra

Fotografia. Seis atrizes usando roupas pretas e batom preto sobre um palco. Ao centro, há uma atriz em pé; ela olha para baixo e está com os braços cruzados como se segurasse um bebê no colo. Ao redor dela, há quatro atrizes sentadas em roda e uma ajoelhada e inclinada para a frente, com a cabeça próxima do chão. Ao fundo, há um mural com diversos retratos. 
Fotografia. Três atrizes usando roupas pretas, com a boca aberta e sorrindo, sobre um palco. Uma delas toca um pandeiro, outra toca um atabaque e a outra está com os braços estendidos para o lado, como se dançasse. Ao fundo, há um mural com diversos retratos.
PRETA-À-PORTER. Concepção e interpretação: Coletivo nêga (Rita Roldan, Fernanda raquel, tuâni Paes, Michele Mafra, Franco, Sarah Motta e Alexandra G. Melo). Casa da Cultura Dide Brandão, Itajaí Santa Catarina, 2017.

5. Observe as imagens das artistas do Coletivo nêga. Quais elementos estéticos dão a impressão de que essas artistas compõem um mesmo coletivo?

Ícone TCT Multiculturalismo.

6. Como as experiências de vida das pessoas podem estar relacionadas com seu gênero e cor de pele?

O Coletivo nêga (Negras Experimentações Grupo de Artes) foi criado em 2012, na cidade de Florianópolis Santa Catarina. Formado desde o princípio por afrodescendentes, o grupo tem como objetivos promover reflexões a respeito da situação da mulher negra em nosso país, assim como pesquisar elementos da cultura de matriz africana. O nome, para o grupo, tem dois significados: “nêga” remete tanto à palavra “negra” quanto à ideia de negação.

A proposta inicial do nêga era a de fazer algo concreto em relação à pouca representatividade negra na universidade. Após estudarem as experiências estéticas propostas por Abdias do Nascimentoglossário (1914-2011) no Teatro Experimental do Negro, algumas estudantes de Artes Cênicas e de outros cursos se uniram ao coletivo e criaram a performance Preta-à-porter.

Orientações e sugestões didáticas

Orientações

Apresentamos o exemplo do Coletivo nêga para este capítulo como modo de estimular a discussão em sala de aula sobre as possíveis conexões entre arte e transformação social, contemplando a habilidade da Bê êne cê cê. Especificamente voltado às questões raciais e de gênero, pode-se partir do trabalho do nêga para conversar com os estudantes sobre outros modos e situações de preconceito. Aproveite a oportunidade para orientar a turma a diagnosticar comportamentos preconceituosos – convide-os a investigar as causas desses comportamentos e as medidas que podem ser tomadas contra essas manifestações. Assim, podem ser trabalhados elementos presentes no tê cê tê Multiculturalismo – Diversidade cultural e Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras.

Sobre as atividades

  1. Pode-se atentar para o fato de que todas as integrantes do Coletivo nêga são mulheres e negras, vestem roupas aparentemente cotidianas, de cor preta, e usam maquiagem (batom, sombra) também em tons de preto.
  2. Converse com os estudantes sobre essa questão com base nas ações do Coletivo nêga, que propõe uma reflexão sobre as situações de preconceito vivenciadas por mulheres e, mais especificamente, por mulheres negras. A conversa pode expandir para temas ligados a diversos tipos de preconceito ainda presentes na sociedade atual.

Sugestões para o estudante

Trecho da performance Preta-à-porter do Coletivo nêga. Disponível em: https://oeds.link/A5d38q. Acesso em: 17 março 2022.

Entrevista com algumas integrantes do coletivo. Disponível em: https://oeds.link/XYZjsj. Acesso em: 17 março 2022.

Atividade complementar

Em uma parceria interdisciplinar com o professor de Língua Portuguesa, você pode propor aos estudantes que façam uma pesquisa sobre poetas e escritores afro-brasileiros, relacionando a prática teatral a outras dimensões da vida cultural, conforme a habilidade da Bê êne cê cê. A seguir, sugerimos alguns artistas que podem ser investigados nessa pesquisa: Carolina Maria de Jesus (1914-1977) São Paulo; Conceição Evaristo (1946-) Minas Gerais; Elisa Lucinda (1958-) Rio de Janeiro; Fátima Trinchão (1959-) Bahia ; Lima Barreto (1881-1922) Rio de Janeiro; Machado de Assis (1839-1908) Rio de Janeiro; Maria Firmina dos Reis (1825-1917) Maranhão ; Miriam Alves (1952-) São Paulo; Paloma Franca Amorim (1987-) Pará.

Nessa performance, as integrantes do coletivo apresentam histórias e conflitos que vivenciaram, com o intuito de provocar reflexões, especificamente sobre o fato de serem mulheres e negras.

Reunindo elementos da dança, do canto, da percussão e do rap, as performers narram suas histórias, retratando os problemas derivados de questões raciais. Além disso, por se tratar de uma ação que se relaciona à modalidade artística da performance, as narrativas e os textos utilizados vão se modificando a cada apresentação, sempre abordando episódios recentes de violência envolvendo a população negra. Dessa maneira, o trabalho do Coletivo nêga tem um viés criativo que encara a arte como instrumento de intervenção política, como um modo de refletir e agir em relação a importantes e necessárias transformações sociais.

Um diálogo entre a cena e o museu

Fotografia. Em primeiro plano, um homem usando óculos e roupas brancas está de pé sobre uma caixa de madeira. A caixa tem tem as laterais vazadas. Dentro dela, há um homem de barba deitado de olhos fechados sobre uma manta; ele está seminu, com um tecido branco ao redor da cintura e uma coroa de espinhos na cabeça; as mãos dele estão entrelaçadas na altura da barriga e há uma luz azul incidindo sobre ele. Os dois homens estão em uma grande sala escura com paredes pretas, nas quais há objetos e quadros pendurados, alguns textos escritos em letras brancas, desenhos. Ao redor, há diversas pessoas olhando para eles.
SIN TÍTULO – técnica mixta [Sem título – técnica mista]. Concepção e direção: Miguel Rubio Zapata. Interpretação: Grupo iúiatchicâni. Lima, Peru, 2015.

7. Observe essa imagem do espetáculo Sin título – técnica mixta [Sem título – técnica mista]. O espaço onde a encenação acontece desperta alguma lembrança em você? Qual?

Orientações e sugestões didáticas

Sobre a atividade

7. O espaço da encenação procura dialogar com o espaço de um museu, transformando as obras de arte, em geral estáticas, em cenas que testemunham episódios da história do Peru. Nesse encontro entre cena, história e museu, atores ocupam o espaço de obras e se relacionam com o público. O reconhecimento dos elementos cênicos contempla a habilidade  da Bê êne cê cê.

Sobre o iúiatchicâni

Coletivo formado em 1971 no Peru. Trabalhando de modo coletivo, os artistas do iúiatchicâni se dedicam à exploração da memória coletiva de seu país em conexão com mobilizações e ações políticas. Em 2000, o grupo ganhou o prêmio nacional dos Direitos Humanos em seu país. Os conteúdos apresentados em torno do coletivo iúiatchicâni contemplam as habilidades , , e da Bê êne cê cê.

8. Quais elementos cênicos você distingue na cena retratada?

Criado no ano de 1971, o grupo peruano iúiatchicâni se reuniu com o objetivo de propor um teatro que se alimentasse dos ritos e da cultura andina ancestral e, ao mesmo tempo, criasse espetáculos para repensar a história do Peru, considerando possíveis transformações sociais.

Na primeira montagem do espetáculo Sin título técnica mixta (2004), o grupo optou por abordar acontecimentos históricos peruanos de 1879 até 2000, período em que ocorreram muitos episódios envolvendo conflitos armados e o extermínio de grande parte da população pobre e indígena.

O cenário da peça era disposto no formato de uma exposição de museu, na qual os atores e performers davam vida a obras e a documentos que deveriam permanecer estáticos. A ideia de convidar o espectador a transitar pelo espaço onde a peça acontecia, como se estivesse caminhando por um museu, contribuía para a criação de uma visão de história fragmentada e não linear.

O nome do espetáculo (Sin título – técnica mixta) fazia uma alusão ao título de várias obras de artistas visuais que são normalmente expostas em museus e a peça trazia ainda dados sobre os relatórios da Comissão da Verdade e Reconciliação peruana, criada para resgatar documentos históricos necessários para preservar e honrar a memória de vítimas políticas.

O espetáculo consistia, portanto, em um sobrevoo histórico baseado em documentos reais, com o intuito de repensar o presente e o futuro do país. Deve-se notar que, na língua quíchua, falada pelos incas e por diversos povos andinos, iúiatchicâni significa “estou pensando e relembrando”. Conforme sugerido pelo seu nome, esse grupo de teatro acredita que a memória é um dos mais potentes instrumentos de transformação social.

  1. Quais recursos cênicos você utilizaria para contar a história de seu país?
  2. Que problemas e qualidades você atribui ao seu país?
Orientações e sugestões didáticas

Sobre as atividades

  1. Pode-se notar a presença da iluminação, de atores e performers pelo espaço, um ator que parece representar Jesus Cristo, textos escritos nas paredes, figurinos e o público cruzando o espaço.

10. O exemplo do trabalho do grupo peruano pode servir de disparador para que os estudantes pensem a respeito do próprio Brasil e do fato de serem brasileiros. Atente para as leituras baseadas em lugares-comuns, procurando incentivar uma postura crítica por parte dos estudantes. Experimente fazer uma conexão interdisciplinar com conhecimentos mobilizados nas aulas de História.

Foco na História

O Teatro Experimental do Negro

Uma das experiências históricas teatrais mais importantes do Brasil é o Teatro Experimental do Negro (Tên), criado em 1944 por iniciativa de Abdias do Nascimento. Um dos principais objetivos da criação desse espaço de investigação cênica era valorizar os povos e descendentes afro-brasileiros.

Na época de sua criação, a presença de atores negros era rara e, frequentemente, atores de pele branca atuavam nos papéis de personagens negros pintando o rosto de preto. Tal prática, nomeada atualmente como blackface, é considerada racista.

O Tên recusava esse procedimento e foi além: sua criação viabilizou um trabalho estético com atores negros e um trabalho educacional direcionado à população negra. Além dos ensaios e das apresentações de suas peças, o coletivo oferecia cursos de alfabetização e iniciação na área da cultura para pessoas que não integravam a companhia.

Os espetáculos do Tên eram apresentados por atores que, em geral, não trabalhavam exclusivamente no teatro, e tinham empregos como operários, trabalhadores domésticos, funcionários públicos etcétera

Fotografia em preto e branco. Um homem com bigode, usando camisa branca e calça preta, está com um dos joelhos no chão e com uma das mãos tocando a lateral do rosto de uma mulher, que está sentada diante dele. Ela usa um vestido e olha para a direita.
Abdias do Nascimento e Léa Garcia, atores do Teatro Experimental do Negro, em cena da peça Sortilégio, de Abdias do Nascimento, 1957.

A proposta do diretor Abdias do Nascimento era montar peças com essas pessoas e utilizar o teatro como instrumento pedagógico e de transformação social: por meio dos encontros durante a produção de um espetáculo, os participantes poderiam conversar e investigar as causas dos problemas raciais no Brasil.

Dentre as atividades paralelas do Tên, houve a criação da Convenção Nacional do Negro, em 1945, e do 1º Congresso do Negro Brasileiro, em 1950. Ambos tinham o objetivo de reconhecer e discutir a importância da cultura afro-brasileira no nosso país.

Sabe-se que até hoje a questão racial é muito relevante no Brasil. O Tên abriu portas para as pessoas negras atuarem no teatro profissional, e muitos grupos atuais, como o Coletivo Negro São Paulo, que lutam pela representatividade e voz do negro na arte e na sociedade, inspiraram-se na trajetória do Tên.

Orientações e sugestões didáticas

Orientações: Foco na História

O trabalho do Teatro Experimental do Negro reivindica a presença de negros nos espaços de criação teatral. Buscamos aqui um diálogo com o exemplo do Coletivo nêga, em que pautas como o direito à representatividade da mulher negra são debatidas por meio de ações estéticas.

O movimento negro tem alcançado inúmeras conquistas em sua luta contra a desigualdade social e racial. Apesar da intensa expressividade do movimento, há ainda muito a avançar no debate e nas transformações de comportamento. Aproveite esse exemplo para também discutir em sala de aula sobre a experiência dos estudantes. Ao mobilizar esta série de questões por meio da apresentação do Teatro Experimental do Negro, esta seção contempla as habilidades , e da Bê êne cê cê.

Sugestões para o professor

Para conhecer melhor a trajetória de Abdias Nascimento e da importante experiência do Teatro Experimental do Negro na história do teatro brasileiro, pode-se assistir ao documentário produzido pela tê vê Senado.

Disponível em: https://oeds.link/tDTvg4. Acesso em: 17 março 2022.

Há também o testemunho das atrizes Ruth de Souza e Léa Garcia sobre sua atuação no TEN, em um documentário produzido no contexto de uma exposição realizada pelo instituto Itaú Cultural em 2016. Disponível em: https://oeds.link/DjkmkB. Acesso em: 17 março 2022.

Faça no caderno.

Para pesquisar

Teatro de grupo latino-americano

Faça no caderno.

Assim como o grupo peruano iúiatchicâni, são diversos os coletivos de teatro latino-americanos que experimentam seu fazer artístico em relação direta com a perspectiva de transformação social. Chegou o momento de realizar uma pesquisa a respeito desses outros grupos.

Reúna-se com os colegas em um grupo e, com o auxílio do professor, elejam um dos seguintes coletivos teatrais para pesquisar:

  • En Borrador (Paraguai)
  • Teatro Malayerba (Equador)
  • Teatro de Los Andes (Bolívia)
  • Teatro Timbre 4 (Argentina)
  • Lagartijas Tiradas al Sol (México)
  • Gayumba (República Dominicana)
  • Teatreros Ambulantes de Cayey(Porto Rico)
  • Teatro de la Memoria (Chile)
  1. Pesquisem na internet notícias, fotografias, descrições dos espetáculos e vídeos a respeito desses coletivos teatrais.
  2. Observem algumas questões para orientar a pesquisa:
    1. Como esse grupo se organiza coletivamente?
    2. Como o grupo cria seus espetáculos?
    3. Qual é a perspectiva de transformação social presente no trabalho do grupo?
  3. Reúnam o material pesquisado e apresentem para a turma as informações coletadas.
  4. Após todos terem apresentado as suas pesquisas, conversem com os colegas e com o professor a respeito das seguintes questões:
    1. Como cada um dos grupos pesquisados se relaciona com os espectadores e a comunidade em torno dos lugares onde cria seus espetáculos?
    2. Quais coletivos, obras e espetáculos mais interessaram a você? Por quê?

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Como a perspectiva do trabalho coletivo está presente em cada um dos grupos apresentados no Sobrevoo?
  2. Quais são os pontos de transformação social em comum entre os exemplos apresentados?
  3. Em sua opinião, quais fatores são fundamentais para produzir um teatro que seja considerado um elemento de transformação social?
Orientações e sugestões didáticas

Orientações: Para pesquisar

Conhecer a produção teatral dos países vizinhos é importante para enriquecer o repertório cultural dos estudantes. Assim, propomos que eles investiguem, apreciem e reconheçam trabalhos de grupos latino-americanos, contemplando as habilidades e ( da Bê êne cê cê.

Assim como no Brasil, a expressividade dos grupos de teatro latino-americanos vem crescendo desde a segunda metade do século XX. Em geral, os grupos listados estão abertos à comunicação virtual. Com a sua supervisão, sugira aos estudantes que tentem estabelecer contato com os grupos, propondo a realização de entrevistas por e-mail.

Sugestão para o professor

Documentário que apresenta diversos artistas ibero-americanos contando sobre suas experiências de grupo e sobre a situação das artes cênicas em seus respectivos países. Há falas de artistas do Brasil, Argentina, Paraguai, Chile, Uruguai, Colômbia, Bolívia, Peru (dentre eles Miguel rúbio, do iúiatchicâni), Costa Rica, México, Portugal e Espanha. Você pode utilizar este documentário como disparador para trabalhar com a seção Para pesquisar.

TEATRO Ibero-americano e suas fronteiras. Direção: Alê Primo. Brasil: Sesc São Paulo, 2013. Disponível em: https://oeds.link/oVhUQU. Acesso em: 17 março 2022.

Sobre as atividades: Para refletir

  1. Oriente os estudantes a observarem que os grupos apresentados nesta seção lidam com encenações em coro, nas quais todos os participantes intervêm ao longo da apresentação dos espetáculos, sem uma hierarquia muito rígida entre os criadores.
  2. Há um forte interesse temático em assuntos políticos e sociais, além de um posicionamento crítico por parte de todos os grupos apresentados.

Foco em...

Teatro de grupo e transformação social

Fotografia. À esquerda da imagem, um artista de costas, usando blusa colorida e um adereço de palha na cabeça. Ao centro, um artista usando roupas coloridas está segurando um estandarte com o texto: URUBU COME CARNIÇA E VOA! À direita da imagem, três artistas usando roupas pretas seguram instrumentos musicais de percussão.
URUBU come carniça e voa, peça exibida no Espaço Clariô de Teatro, com o grupo de mesmo nome, em Taboão da Serra São Paulo, 2013.

A partir dos anos 1960, começaram a se formar no Brasil companhias de teatro que tinham como objetivo criar experimentações que fossem contra a lógica de um teatro comercial. Assim, artistas descontentes com a ideia do teatro como mercadoria, feito apenas para quem pudesse pagar pelos ingressos, começaram a repensar as maneiras de se organizar um coletivo de criadores.

Nas décadas de 1990 e 2000, as companhias teatrais, por meio da organização de artistas, reivindicaram a criação de políticas públicas. Assim, uma das exigências dos artistas era a de que o Estado financiasse não somente obras de teatro, mas também os processos e as ações educativas nas comunidades em que os grupos estavam inseridos.

O grupo teatral Pombas Urbanas, por exemplo, criou um projeto de celebração dos dez anos do Centro Cultural Arte em Construção, localizado na Cidade Tiradentes, um bairro periférico da cidade de São Paulo São Paulo. Nesse projeto específico, eram propostas ações como cursos livres de capoeira, teatro, circo e violão, bem como uma programação cultural que envolvia diversas linguagens artísticas.

Orientações e sugestões didáticas

Unidades temáticas da Bê êne cê cê

Teatro; Artes integradas.

Objetos de conhecimento

Contextos e práticas; Matrizes estéticas e culturais.

Habilidades em foco nesta seção

Reconhecer e apreciar artistas e grupos de teatro brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas, investigando os modos de criação, produção, divulgação, circulação e organização da atuação profissional em teatro.

Identificar e analisar diferentes estilos cênicos, contextualizando-os no tempo e no espaço de modo a aprimorar a capacidade de apreciação da estética teatral.

Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política, histórica, econômica, estética e ética.

Analisar aspectos históricos, sociais e políticos da produção artística, problematizando as narrativas eurocêntricas e as diversas categorizações da arte (arte, artesanato, folclore, design etcétera).

Orientações

Apresentaremos aqui um breve panorama a respeito do teatro de grupo brasileiro e sua relação com as políticas públicas. O apoio estatal para projetos teatrais começou a ter relevância a partir da última década do século vinte. Esse apoio permitiu que os grupos teatrais adotassem outras prioridades no campo da produção artística. A ênfase na produção de espetáculos foi substituída por um destaque nos aspectos investigativos da criação e, portanto, no processo de criação. Nesse sentido, a produção coletiva pôde concentrar seus esforços na criação voltada à transformação social e à pesquisa da linguagem teatral. Esse processo gerou uma renovação importante da cena teatral, balizada por uma lógica de produção contrária a imposições do mercado da cultura. Este capítulo propicia ao professor abordar o tê cê tê Economia, apresentando e discutindo fórmas de trabalho contemporâneas em Arte.

Fotografia. Vista de cima de uma quadra coberta, onde há diversas pessoas com roupas coloridas. Na parte superior da quadra, pendendo do teto, há um balão colorido de festa junina e fios repletos de bandeirinhas que descem do centro para as laterais da quadra
Festa junina realizada em São Paulo São Paulo, em 2015, pelo grupo teatral Pombas Urbanas, uma das ações promovidas no projeto Ponto de Cultura Centro Cultural Arte em Construção – 10 anos.

Diversos movimentos de teatro no país vêm crescendo ao longo das últimas décadas. Na cidade de São Paulo, por exemplo, o Movimento Arte Contra a Barbárie, criado em 1999, foi responsável pela aprovação da Lei de Fomento ao Teatro, em 2002, e vem inspirando muitas organizações de artistas de teatro pelo Brasil. Essa organização de artistas escreveu três manifestos, em que afirma que:

  • A cultura é o elemento de união de um povo, fornecendo-lhe dignidade.
  • O teatro é tão fundamental quanto a educação.
  • O teatro é um elemento insubstituível para um país, por registrar, difundir e refletir o imaginário de seu povo.
  • O teatro possui uma essência artesanal e coletiva e, portanto, não é uma mercadoria.
  • O teatro possibilita a formação de cidadãos críticos.

Assim, a fôrça que o teatro de grupo vem ganhando ao longo dos últimos anos pode ser definida como a demanda por tornar a cultura uma prioridade nacional, assim como a educação, a saúde e outros direitos.

Ícone. Tema contemporâneo transversal: Economia.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Qual é a importância de políticas públicas para a área da cultura? E para outras áreas sociais?
  2. Quais políticas públicas você pensa que seriam necessárias na cidade em que você vive?
  3. Qual é a importância da arte para a história de um país? Justifique sua resposta.
Orientações e sugestões didáticas

Sobre os manifestos do Movimento Arte Contra a Barbárie

O Movimento Arte Contra a Barbárie se desenvolveu na cidade de São Paulo São Paulo, reunindo parte importante dos artistas de teatro, particularmente encenadores ligados a grupos e companhias. O movimento exigia um posicionamento por parte do Estado em relação a um projeto cultural autônomo, contrário aos interesses do teatro comercial convencional. Suas propostas foram expressas em três manifestos. A apresentação do Movimento Arte contra a Barbárie e a leitura dos manifestos contemplam as habilidades , e da Bê êne cê cê.

Sobre as atividades: Para refletir

  1. Instigue os estudantes a pensar sobre políticas públicas – inclusive sobre o direito do cidadão de ter acesso a educação de qualidade e gratuita.
  2. A partir do mapeamento da vida cultural da cidade em que vivem os estudantes, pode-se perguntar a eles o que falta ou poderia melhorar em relação a esse tema. Como poderia ser facilitada a acessibilidade para as ofertas culturais da cidade? A qualidade cultural poderia aumentar, caso houvesse investimento em pesquisa artística?
  3. Revisite os itens apresentados sobre o Movimento Arte Contra a Barbárie como modo de debater sobre a relevância da produção artística para o país.

Foco no conhecimento

Criação coletiva e processo colaborativo

Há criações teatrais que privilegiam algumas funções específicas sobre outras, tais como os espetáculos concebidos pela perspectiva do encenador. Por outro lado, há também processos criativos que se dão sem uma hierarquia definida, tendo como dois de seus fundamentos a transformação da linguagem teatral e o interesse de possibilitar mudanças sociais. Abordaremos aqui duas maneiras possíveis de desenvolver esse tipo de trabalho teatral.

1. Criação coletiva

A criação coletiva data da década de 1960 e foi muito difundida até o final dos anos 1970. Algumas de suas características são:

a) Intensa experimentação realizada nas salas de ensaio.

b) Processos de criação longos.

c) Presença de aspectos críticos e políticos nos conteúdos abordados nos espetáculos.

d) Ruptura da relação estática das funções, ou seja, atores podem ser encenadores, dramaturgos podem ser atores etcétera

2. Processo colaborativo

O processo colaborativo aparece em meados da década de 1990 e recupera alguns elementos da criação coletiva, porém com certas diferenças. Algumas de suas características são:

a) Processos de criação longos, nos quais a dramaturgia vai sendo construída aos poucos.

b) É um processo aberto à múltipla interferência de seus criadores, sendo um trabalho que exige, sobretudo, diálogo.

c) Mesmo pressupondo a não hierarquia entre as funções, elas se mantêm ao longo do processo. São elas:

  • Encenação: o encenador é responsável pela coerência entre todos os elementos envolvidos no espetáculo e na relação destes com os espectadores.
  • Atuação: os atores lidam com escolhas sobre como devem se comportar, relacionar-se uns com os outros, jogar, movimentar-se em cena etcétera
  • Dramaturgia: o dramaturgo compõe o texto do espetáculo. Em geral, nos processos colaborativos, essa composição dramatúrgica não é feita previamente, mas ao longo dos ensaios e na companhia dos outros criadores.
Orientações e sugestões didáticas

Unidade temática da Bê êne cê cê

Teatro.

Objetos de conhecimento

Contextos e práticas; Elementos da linguagem.

Habilidades em foco nesta seção

Identificar e analisar diferentes estilos cênicos, contextualizando-os no tempo e no espaço de modo a aprimorar a capacidade de apreciação da estética teatral.

Explorar diferentes elementos envolvidos na composição dos acontecimentos cênicos (figurinos, adereços, cenário, iluminação e sonoplastia) e reconhecer seus vocabulários.

Orientações

Com base nos exemplos abordados ao longo do Sobrevoo e da seção Foco em… deste capítulo, apresentaremos ao estudante duas modalidades distintas de criação em grupo, desenvolvidas a partir da segunda metade do século vinte. É possível que, ao longo dos exercícios teatrais propostos por esta coleção, os estudantes já tenham experimentado essas modalidades de criação. Trata-se agora de descrevê-las e analisá-las. Faça conexões entre as experiências vividas por eles e os exemplos abordados. Ao final, listamos algumas funções e elementos envolvidos na criação teatral – por mais que o estudante já esteja familiarizado com elas, atente para a sedimentação do conhecimento que sua descrição e análise podem concretizar. Esta seção apresenta aos estudantes diversas funções profissionais presentes no trabalho com o teatro, dialogando com o tê cê tê Economia – Trabalho e propiciando uma discussão sobre as possibilidades do trabalho em Arte.

Sugestão para o professor

Diversos autores têm se debruçado sobre as transformações nas modalidades de criação teatral no último século. Para expandir a discussão e as referências, indicamos duas obras fundamentais sobre as distintas perspectivas possíveis envolvendo a criação coletiva por meio da linguagem teatral:

ARAÚJO, Antonio. A gênese da vertigem: o processo de criação de O Paraíso Perdido. São Paulo: Perspectiva, 2011.

fíchêr, Stela. Processo colaborativo e experiências de companhias teatrais brasileiras. São Paulo: Hucitec, 2010.

  • Iluminação: o iluminador participa da criação elaborando uma concepção de luz que colabore com os sentidos do espetáculo, assim como os focos e as perspectivas pelos quais os espectadores podem observar a cena.
  • Sonoplastia: o sonoplasta fica atento à concepção sonora e musical da obra. Pode ser o responsável pela construção de uma trilha sonora ou por orquestrar os sons e silêncios dos quais a peça é composta.
  • Cenografia: o cenógrafo é responsável pela concepção espacial da obra, seus elementos, dimensões, aparatos, conceito etcétera
  • Indumentária e adereços: o figurinista e o aderecista propõem pesquisas e confeccionam roupas e acessórios, bem como elaboram as maquiagens que colaboram com a proposta da encenação.
Ícone. Tema contemporâneo transversal: Economia.

Para pesquisar

Teatro de grupo e processo criativo

Agora que você conheceu algumas das funções de um processo teatral, chegou o momento de realizar uma pesquisa.

  1. Junte-se com até quatro colegas.
  2. Selecionem uma das funções mencionadas anteriormente.
  3. Utilizando internet, jornais ou pesquisa de campo, identifiquem o trabalho de um profissional de cada área e respondam às seguintes questões:
    1. Como e onde se deu a formação desse artista?
    2. Quais são as principais características do seu trabalho?
    3. De que modo ele está inserido no mercado de trabalho teatral?
  4. Após recolher essas respostas, compartilhem o resultado com a turma.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Quais são as transformações na linguagem teatral provocadas pela criação coletiva e pelo processo colaborativo?
  2. O espectador também é um criador do espetáculo teatral? Justifique sua resposta.
  3. Por que os processos de criação coletiva e colaborativa precisam, em geral, de mais tempo de realização?
Orientações e sugestões didáticas

Orientações: Para pesquisar

O objetivo dessa pesquisa é aproximar o estudante da temática arte-trabalho, a partir da análise de como profissionais que exercem diferentes ofícios no teatro se inserem no mercado de trabalho. Instigue a turma a investigar artistas locais, de modo que os estudantes possam entrevistá-los e observar como se dá o trabalho com arte na própria região. É importante que, ao final da atividade, a turma observe diferentes possibilidades de trabalho com arte, bem como diversos tipos de financiamento para o trabalho teatral (arrecadação espontânea, financiamento público, por meio de editais, privado, por meio de patrocínios etcétera). Esta pesquisa contempla a habilidade da Bê êne cê cê, bem como o tê cê tê Economia – Trabalho.

Sobre as atividades: Para refletir

  1. Estabeleça um diálogo com o que foi estudado na seção Foco em... Os exemplos apresentados dizem respeito a trabalhos teatrais que não privilegiam uma hierarquia estrita entre os criadores (ou entre os criadores e o público). Esses processos de criação expõem o próprio ato criador a interferências múltiplas. Trata-se de uma atitude experimental que busca a renovação constante e criativa da linguagem teatral. É justamente por não reproduzirem padrões de criação preexistentes que as criações de grupo – sejam elas coletivas ou colaborativas – podem transformar os elementos da própria linguagem teatral.
  2. Pode-se afirmar que sim, afinal o espetáculo só se concretiza na relação dos artistas e dos elementos cênicos com o espectador. Uma vez que é este último quem irá ou não atribuir sentido à cena, ele também pode ser considerado um criador fundamental.
  3. Constituindo-se como espaço de pesquisa e experimentação, as criações coletivas e colaborativas demandam maior tempo pelo fato de não reproduzirem padrões já conhecidos de antemão. Além disso, como todos os criadores interferem em todas as etapas do processo, esse tipo de criação exige um tempo maior para a afinação de opiniões e elaborações conjuntas.

Processos de criação

Ícone. Tema contemporâneo transversal: Cidadania e Civismo.

Após ter conhecido alguns grupos teatrais que criam coletivamente e haver estudado diferentes tipos de processo criativo, convidamos você a realizar uma experiência de encenação em grupo na sala de aula. Essa encenação terá como tema um importante documento promulgado no ano de 1948: a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

  1. Reúna-se com os colegas em um grupo de até dez integrantes.
  2. Em grupo, dividam-se nas funções teatrais: definam quem serão os atores, os encenadores, os sonoplastas, os iluminadores, os dramaturgos, os figurinistas e os cenógrafos. Lembrem-se de que todos podem interferir nas outras áreas, porém definam quem será responsável por ficar mais atento a determinados elementos.
  3. Este processo criativo exigirá tempo para reuniões entre os integrantes do grupo e para a experimentação concreta do trabalho coletivo na criação de uma cena teatral no modo colaborativo.
  4. Com o auxílio do professor, pesquisem a origem da Declaração Universal dos Direitos Humanos e leiam seus artigos. A partir da leitura, selecionem um dos artigos para definir o tema da cena e preparar a criação da dramaturgia. Se possível, pesquisem imagens, músicas, textos, filmes, fotografias etcétera que remetam a esse tema.
  5. Após o levantamento de referências e a pesquisa temática, iniciem o processo de improvisação, explorando possibilidades cênicas sobre o tema escolhido pelo grupo. Lembrem-se de que, após a apresentação dos improvisos e do debate, o grupo deve encontrar maneiras de registrar esses exercícios para a construção da dramaturgia da cena final.
  6. Nos improvisos, podem ser experimentados elementos de som, luz, figurinos, relação com o espaço etcétera Ao longo do processo, devem ser realizadas as seguintes perguntas:
    1. Encenador: como afinar os elementos em uma mesma cena? Quais exercícios podem ser propostos aos atores para estimular seu trabalho de criação? E para as outras funções?
    2. Atores: como a expressão corporal dialoga com o texto e com o tema eleito pelo grupo? Como se constitui o jogo cênico entre os atores?
    3. Dramaturgo: como criar relações entre as cenas desenvolvidas durante os improvisos? Como selecionar as cenas? Como criar uma trajetória com começo, meio e fim?
Orientações e sugestões didáticas

Orientações: Processos de criação

A proposta deste capítulo consiste na criação de uma peça teatral desenvolvida coletivamente com base na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Para isso, você pode apresentar o documento, bem como o contexto de sua criação para a turma. Se possível, busque fazer uma parceria interdisciplinar com o professor de História. O documento está disponível no link: https://oeds.link/eF4z7A. Acesso em: 1 agosto 2022.

Pelo estudo do documento, os estudantes devem eleger um dos artigos e experimentar processos criativos a partir das funções teatrais estudadas na seção Foco no conhecimento. Acompanhe os processos dos grupos e ajude os estudantes com as dificuldades que encontrarem. Esta proposta envolverá tempo e dedicação intensa por parte dos estudantes. É necessário, portanto, disponibilizar uma sequência de aulas para sua realização. Procure mobilizar os conhecimentos desenvolvidos ao longo de toda a coleção. A partir disso, proponha a elaboração de uma encenação coletiva. Acompanhe e oriente o trabalho de pesquisa, preparação e apresentação. Como um todo, o exercício deve proporcionar um processo reflexivo do estudante em relação aos problemas e às potências da linguagem teatral em seu processo de aprendizagem. É importante lembrá-los de que diversos desses elementos já foram estudados e experimentados ao longo desta coleção. Você pode sugerir a eles que realizem cenas de intervenção nos espaços ou cenas de alta expressividade corporal. Do mesmo modo, incentive-os a elaborar experimentações musicais, de luz e de indumentária, mobilizando as habilidades , , e da Bê êne cê cê.

Unidade temática da Bê êne cê cê

Teatro.

Objeto de conhecimento

Processos de criação.

Habilidades em foco nesta seção

Pesquisar e criar fórmas de dramaturgias e espaços cênicos para o acontecimento teatral, em diálogo com o teatro contemporâneo.

Investigar e experimentar diferentes funções teatrais e discutir os limites e desafios do trabalho artístico coletivo e colaborativo.

Experimentar a gestualidade e as construções corporais e vocais de maneira imaginativa na improvisação teatral e no jogo cênico.

Compor improvisações e acontecimentos cênicos com base em textos dramáticos ou outros estímulos (música, imagens, objetos etcétera), caracterizando personagens (com figurinos e adereços), cenário, iluminação e sonoplastia e considerando a relação com o espectador.

  1. Sonoplasta: como os elementos sonoros podem potencializar os temas debatidos pelo grupo na construção da cena?
  2. Iluminador: como a luz pode contribuir para a criação de atmosferas cênicas? Como é possível utilizar a luz da sala de aula ou de outros espaços da escola de modo criativo?
  3. Figurinista: como os atores podem estar vestidos para contribuir com a cena? Quais materiais (tecidos, adereços, tipo de roupa, maquiagem etcétera) devem ser utilizados?
  4. Cenógrafo: quais são os espaços mais interessantes para a cena acontecer? Quais elementos precisam ser construídos nesse espaço para potencializar seu diálogo com a cena? Quais materiais podem ser escolhidos?
  1. Após a série de improvisações e a criação da dramaturgia, definam um roteiro e comecem a ensaiar a cena a ser apresentada para o restante da turma.
  2. No processo de finalização dos ensaios, conversem para afinar os elementos que serão utilizados na apresentação final e checar se eles se relacionam de modo coerente.
  3. Lembrem-se de pensar em como a obra se relaciona com os espectadores.
  4. Apresentem a cena para a turma e assistam à apresentação dos outros grupos.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Como os elementos teatrais se articularam nos grupos observados por você?
  2. Quais foram as dificuldades encontradas pelo grupo ao longo do processo de criação?
  3. Qual momento da criação foi mais prazeroso para você? Por quê?
  4. Das funções teatrais experimentadas pelo grupo, qual delas mais lhe interessa explorar? Por quê?
  5. Como os temas presentes na Declaração Universal dos Direitos Humanos foram trabalhados? Qual é a importância desse documento para as sociedades do presente?
Orientações e sugestões didáticas

Orientações: Processos de criação

Os improvisos podem ser disparados tanto a partir de narrativas recolhidas ao longo da pesquisa como a partir de perguntas disparadoras. É importante lembrar aos estudantes que diversos desses elementos já foram estudados e experimentados ao longo desta coleção.

Sobre as atividades: Para refletir

  1. Instigue os estudantes a realizar uma crítica a partir da coesão ou não dos elementos teatrais elaborados pelos grupos, bem como da adequação desses elementos em relação à escolha temática de cada cena.
  2. A partir das dificuldades descritas, pode-se investigar possibilidades de resolução com base em acordos coletivos.
  1. Trata-se de propor aos estudantes que reconheçam suas potencialidades e interesses específicos. Convide-os a seguir investigando e criando a partir dessas funções mesmo fóra da sala de aula.
  2. Ao final do processo criativo, observe se os estudantes compreendem melhor a Declaração Universal dos Direitos Humanos, bem como se relacionam sua importância ao contexto atual. É importante verificar também se eles estabelecem relações com o trabalho realizado no capítulo 1 com o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Organizando as ideias

Mosaico de fotografias. Composto de um recorte vertical de quatro fotografias. Da esquerda para a direita: fotografia em preto e branco de pessoas assistindo a uma apresentação; três atores, usando diferentes fantasias e adereços, e com o rosto pintado de branco, estão em um palco a céu aberto, composto de luminárias e outros objetos de madeira e palha; destaque para uma atriz usando roupas pretas e batom preto está em pé sobre um palco, olhando para baixo, e seus braços estão cruzados como se segurasse um bebê no colo; fotografia em preto e branco de um ator com bigode, usando camisa branca e calça preta, com um dos joelhos no chão e com uma das mãos tocando a lateral do rosto de uma atriz, que está sentada diante dele.

Ao longo deste capítulo, exploramos as relações entre transformação social e a linguagem teatral pela perspectiva do teatro realizado coletivamente. Após ter conhecido obras e grupos de teatro atuantes dentro e fóra do Brasil, converse com o professor e com os colegas a respeito das seguintes questões:

Faça no caderno.

  1. Que tipos de transformação o teatro de grupo vem propondo ao longo dos últimos anos?
  2. Qual é a diferença entre a ênfase nos resultados artísticos e a ênfase nos processos?
  3. Quais são suas novas percepções a respeito do trabalho coletivo?
  4. Quais descobertas você fez ao longo deste capítulo? O que você gostaria de continuar aprofundando?
Orientações e sugestões didáticas

Unidades temáticas da Bê êne cê cê

Teatro; Artes integradas.

Objetos de conhecimento

Contextos e práticas; Processos de criação.

Habilidades em foco nesta seção

Identificar e analisar diferentes estilos cênicos, contextualizando-os no tempo e no espaço de modo a aprimorar a capacidade de apreciação da estética teatral.

Investigar e experimentar diferentes funções teatrais e discutir os limites e desafios do trabalho artístico coletivo e colaborativo.

Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política, histórica, econômica, estética e ética.

Sobre as atividades

  1. Como visto, pode-se notar dois tipos de transformação: um contato mais vivo com o público e a sociedade, e também uma transformação na própria linguagem teatral por meio da criação de um espaço de experimentação.
  2. A resposta a essa pergunta tem dupla perspectiva: por um lado, uma criação que dá ênfase ao processo pode colaborar para a transformação da própria linguagem teatral, renovando o seu vocabulário e expressões. Por outro, esse tipo de criação pode convocar os espectadores e outros membros da sociedade a não somente assistir a um resultado, mas também a se aproximar de um processo de criação e de aprendizagem, gerando possíveis transformações sociais.

Glossário

Abdias do Nascimento
Diretor teatral, ator e dramaturgo. Foi um dos mais importantes artistas brasileiros a lutar pela valorização da arte, da história e da cultura negras. Para isso, criou e dirigiu, em 1944, o Teatro Experimental do Negro, que tinha como objetivo incluir temas e corpos negros no ambiente de produção teatral do Rio de Janeiro.
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