UNIDADE 1  A construção da história e a origem da humanidade

O que estudaremos na unidade

Quando e onde surgiu a humanidade? Como a história é construída? Para que estudar história? O que são fontes históricas? Além de poder responder a essas questões, ao final desta unidade, você perceberá que todas as pessoas têm e fazem história! Além disso, iniciará os estudos sobre os primeiros passos da humanidade, o princípio da história de todos nós. Vamos lá!

Sumário da unidade

Capítulo 1

Tempo, memória e história, 12

Capítulo 2

A origem da humanidade, 30

Fotografia. Registro de pintura rupestre feito em parede rochosa em tons de marrom e superfície porosa. Nela estão desenhados alguns animais e silhuetas de pessoas.
Pinturas rupestres feitas de 6 a 12 mil anos atrás, no Parque Nacional Serra da Capivara, em Coronel José Dias, Piauí. Foto de 2018.

Fotografia. Mural com desenho colorido do busto de uma mulher. Ela é negra, tem olhos rosados e amendoados. As bochechas têm um leve afundamento. O cabelo roxo e volumoso. Ela usa grandes brincos brancos de argola e um colar largo e colorido. Preenchendo o restante do muro, desenhos em tons de rosa, laranja, azul e verde. À direita, uma árvore sem folhagem com profundas raízes sob a terra.
Mural Mulheres, raízes da conexão, de Soberana Ziza, em São Paulo, São Paulo. Foto de 2020.
Fotografia. Mulher sentada em calçada com o celular na mão. Ela está fotografando a fachada de um grande prédio retangular, de paredes avermelhadas e janelas em formatos variados. As janelas de baixo são em formato de arco, as do centro são redondas e as da parte mais alta do prédio são em formato de semicírculo. Na parte central, no topo do prédio, uma cúpula decorada de verde com losangos amarelos e, dentro deles, estrelas azuis. À frente do prédio, algumas pessoas sentadas em bancos.
Turista fotografando o Teatro Amazonas no centro histórico de Manaus, Amazonas. Foto de 2019.

CAPÍTULO 1  Tempo, memória e história

Tirinha. História contada em quatro quadros. Quadro 1. Armandinho, menino pequeno e sorridente, tem os cabelos azuis, veste camiseta laranja e bermuda vermelha. Ele segura uma folha de papel e olha para cima, na direção de um passarinho voando. Ao lado dele, no chão, um sapo. No quadro, a inscrição TEM OS QUE FAZEM BIOLOGIA... Quadro 2. Armandinho, vestindo camisa e calça brancas, segurando uma radiografia. No quadro, a inscrição TEM OS QUE FAZEM MEDICINA... Quadro 3. Armandinho vestindo camisa e calça social e gravata, segura um microfone na direção de um adulto, de quem só é possível ver as pernas, que vestem calça social, e os pés, que calçam sapato social. No quadro, a inscrição TEM OS QUE FAZEM JORNALISMO... Quadro 4. Armandinho de camiseta branca e bermuda azul, carrega uma placa com um coração vermelho desenhado. Sobre sua cabeça, um sapo. No quadro, a inscrição ...E TEM OS QUE FAZEM HISTÓRIA!
Armandinho, tirinha de Alexandre béc, 2015.

Armandinho é um personagem muito esperto e questionador, criado pelo ilustrador Alexandre béc. Na tirinha apresentada nesta abertura, Armandinho menciona alguns campos do conhecimento e, no final, cita a história. Repare que, nos três primeiros quadrinhos, a biologia, a medicina e o jornalismo estão associados a profissões. Já no último quadrinho, a história não é mencionada apenas como área do conhecimento: o personagem carrega um cartaz, parecendo participar de uma manifestação. Essa atitude de Armandinho revela que nossas ações são importantes e que podemos promover transformações sociais, atuando como sujeitos históricos.

Nossa vida em sociedade, nossas relações cotidianas, nossas escolhas, nossos gostos, tudo isso é parte da história!

  • Como você imagina que a história é construída?
  • Você sabe quem são os sujeitos históricos?

História

As sociedades humanas sempre procuraram compreender suas origens. Ao estudar o passado, as pessoas do presente podem compreender como a sociedade em que vivem se desenvolveu. Com esse conhecimento, é possível entender melhor os problemas sociais e planejar estratégias que contribuam para fazer do mundo um lugar melhor.

No entanto, as transformações que afetam as sociedades costumam ser muito mais demoradas do que aquelas pelas quais passam os indivíduos. Elas podem se estender por centenas de anos até serem notadas. Portanto, é possível que muitas pessoas, ao longo da vida, não percebam todas as mudanças ocorridas ao seu redor.

Além disso, essas transformações são bastante complexas, porque envolvem vários aspectos da realidade; por isso, para compreendê-las, é preciso considerar um número grande de elementos que se combinam de diversas fórmas.

Para entender como todos os elementos se relacionam no tempo, desenvolveu-se um campo especializado do conhecimento: a história. O historiador é o profissional que busca identificar o que mudou e o que permaneceu ao longo do tempo, entender o passado e esclarecer a relação entre ele e o tempo presente.

Fotografia. Mulher em uma grande biblioteca. Ela é jovem, negra, tem os cabelos crespos e amarrados atrás da cabeça, usa óculos de armação transparente e jaqueta jeans. Ela sorri. Tem um dos braços esticado pegando um livro grande da prateleira. Ao fundo, outros andares do prédio, cada um com diversas estantes de livros.
Jovem pesquisando na Biblioteca Nacional, no município do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Foto de 2013. Em sua pesquisa, o historiador busca identificar mudanças e permanências nas sociedades ao longo do tempo e compreender a relação entre o passado e o presente.

A produção do conhecimento histórico

Se o passado não pode ser visitado, como o historiador pode saber os fatos que aconteceram há anos, décadas e até milênios e ainda procurar compreendê-los? De onde ele extrai as informações necessárias para montar o quebra-cabeça do conhecimento histórico?

O trabalho do historiador se assemelha ao de um detetive. Para reconstituir acontecimentos do passado e chegar a uma conclusão sobre eles, o historiador precisa encontrar, reunir, cruzar e analisar várias “pistas”, ou melhor, vestígios deixados pelas pessoas que viveram em determinado período.

Antes de iniciar sua pesquisa, o historiador deve delimitar os acontecimentos que quer investigar. Em outras palavras, ele precisa ter pelo menos uma questão para responder – por exemplo: como a conquista da medalha de prata pela jovem esqueitista Rayssa Leal nas Olimpíadas de 2021 impactou a relação das mulheres com o esporte? Seu bom desempenho estimulou a construção de pistas de skate pelas cidades brasileiras? Em que regiões? Que tipo de público atraíram?

Definido o problema a ser estudado, o historiador deve decidir onde buscar as “pistas” que vai utilizar em sua pesquisa: Consultará jornais? Quais jornais? Irá atrás de postagens feitas em páginas esportivas nas redes sociais? Entrevistará pessoas que assistiram à competição? Conversará com praticantes da modalidade? Visitará pistas de skate? Consultará sites de algumas prefeituras?

Fotografia. Uma menina realizando manobra sobre um skate. Ela veste camiseta azul com uma bandeira do Brasil desenhada, calça ocre dobrada na altura das canelas e um capacete branco na cabeça. Seus braços estão abertos, levemente flexionados. Os dois pés estão sobre o skate inclinado no ar.
Rayssa Leal em competição de skate nas Olimpíadas de Tóquio, realizadas em 2021. Nessas Olimpíadas, a jovem atleta brasileira conquistou a medalha de prata na categoria strít.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Por que as pessoas sentem necessidade de relembrar seu passado?
  2. Qual é a importância do entendimento do passado para as sociedades humanas?
  3. Quais são os objetos de estudo da história?

Fontes de pesquisa

Para realizar sua investigação, o historiador deve, inicialmente, escolher suas fontes de pesquisa, ou seja, os documentos em que buscará as informações sobre o passado. Assim, ele identificará e selecionará os vestígios do período que pretende estudar, que são suas fontes primárias. Ele também consultará as fontes bibliográficas: os livros e os artigos produzidos por outros especialistas sobre o assunto investigado. Ler essas fontes é um passo importante da pesquisa.

Após analisar as fontes primárias, estudar as fontes bibliográficas e fazer anotações, o historiador precisa estabelecer relações entre as informações que colheu em cada etapa.

Por fim, ele deve descrever e explicar cada passo de sua pesquisa, segundo o método científicoglossário , para convencer seus colegas de profissão de que suas conclusões são confiáveis.

Diferentes tipos de fonte primária

Até o século dezenove, os historiadores reconheciam apenas documentos escritos como fontes de pesquisa histórica. Contudo, desde o início do século vinte, passaram a utilizar, também, outros tipos de fonte, como monumentos, pinturas, fotografias, peças de vestuário, obras literárias e filmes. Com essa diversidade de fontes, os historiadores puderam ampliar as possibilidades de pesquisa.

Textos escritos, monumentos, pinturas, fotografias, peças de vestuário, obras literárias e filmes são fontes primárias materiais. Além delas, existem as fontes imateriais, como relatos orais, mitos, ditados, cantigas, danças tradicionais e saberes transmitidos por gerações, por exemplo, receitas culinárias, uso de ervas medicinais e certas técnicas de produção artesanal. Todas as manifestações humanas podem ser consideradas fontes de informação para a investigação histórica.

Fotografia. Centenas de pessoas assistem a uma apresentação cultural na rua. Os participantes da apresentação vestem roupas coloridas. As mulheres usam vestidos grandes e rodados, e os homens camisas e calças bufantes. Algumas pessoas usam coroas, outras usam adereços nos cabelos.
Desfile do 1º Encontro de Cultura Popular Revivendo o Carnaval, em Buenos Aires, Pernambuco. Foto de 2018. As manifestações culturais são uma rica fonte de pesquisa para o historiador.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Faça uma lista das principais etapas da pesquisa histórica.
  2. O que são fontes primárias?
  3. Qual é a diferença entre fontes primárias e fontes bibliográficas?

A história não nasce em livros

Os historiadores são responsáveis por investigar o passado e tentar entender sua relação com o presente considerando os mais variados aspectos da vida humana. No entanto, os historiadores não "fabricam" a história. Ela é feita pelos sujeitos históricos. Quem são, então, esses “sujeitos”?

É comum as pessoas definirem história como o resultado da ação de importantes personagens, que enfrentaram desafios para realizar feitos que mudaram os rumos da humanidade. Entretanto, homens e mulheres não mudam o mundo sozinhos. A história é resultado do jogo de fôrças de diferentes grupos em disputa no interior das sociedades. Quando estudamos a história, buscamos entender como as ações dessas pessoas se cruzam em determinado tempo e espaço.

Por isso, todos os que fazem parte da sociedade têm participação na história, pois agem de alguma fórma nas suas mais variadas relações cotidianas, mesmo que não tenham consciência disso e não saibam exatamente o que estão construindo. Isso significa que você, seus amigos, sua família, seus vizinhos e todos os desconhecidos que diariamente passam por você na rua são sujeitos históricos.

Fotografia. Jovens em uma área de mata plantando diversas mudas de árvores. Alguns estão em pé observando e outros estão abaixados com as mãos na terra. Alguns carregam pequenas mochilas nas costas.
Estudantes participam de mutirão para o plantio de árvores em Belém, Pará. Foto de 2019. Ao agirem para transformar o ambiente onde vivem, os estudantes assumiram seu papel de sujeitos históricos.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

7. É correto afirmar que só os homens e mulheres que ocupam cargos políticos e posições sociais elevadas podem interferir nos rumos da história? Por quê?


Tempo, memória e história

Um dos contos do livro Velhos amigos, da psicóloga e escritora Ecléa Bosi, começa assim:

O velho [Seu Amadeu] passa horas na varanda, o cachorro nos pés, vendo o movimento das ondas.

Tem um álbum sobre os joelhos. O cachorro ergue as orelhas quando os netos se aproximam para olhar as fotos.

O velho folheia devagar seu álbum relatando lugares, viagens. Todas as fotos têm uma história.

De repente, a surpresa dos jovens:

‘E aqui, vovô? Por que colou nessa página uma estrela de pano, esses papeizinhos rasgados?’

Ele sorriu:

‘Acho que colei e guardei tantos anos só para contar a vocês...

Essa estrela eu usei no peito de um uniforme listrado quando fui prisioneiro no campo de concentração de Buchenwald’.

BOSI, Ecléa. Velhos amigos. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. página 23.

A estrela de pano que Seu Amadeu, personagem da história, guardava no álbum era um símbolo que prisioneiros da Alemanha nazista, durante a Segunda Guerra Mundial, eram obrigados a usar na roupa, na altura do peito. A estrela se tornou uma lembrança do seu sofrimento no campo de concentração de Buchenwald, além de uma prova da veracidade de sua história.

Fotografia em preto e branco. Homens enfileirados em um campo de concentração. Eles usam roupas largas e um gorro na cabeça. A roupa de alguns é listrada. Ao fundo, soldados perfilados e algumas edificações.
Campo de concentração de Buchenwald, Alemanha. Foto de 1943.

Refletindo sobre

Você tem memórias de algum fato muito marcante, como as do Seu Amadeu? Guardou algum objeto relacionado a elas? Como você se sente quando pensa nelas? Em sua opinião, por que Seu Amadeu desejou compartilhar memórias do passado com os netos dele?


Memória

A memória é nossa capacidade de guardar na mente histórias, experiências e impressões de situações que vivemos em diferentes épocas. Ela liga nosso passado ao nosso presente; sem ela, não temos como saber quem somos. No entanto, nossa memória não é uma guardiã segura do passado; ela pode falhar e distorcer acontecimentos. E, por ser muito subjetiva, o que experimentamos no passado pode ser diferente da experiência de outras pessoas no mesmo tempo e espaço.

A memória pode estar registrada em muitas criações e manifestações humanas: em histórias transmitidas de pais para filhos, em monumentos, em gravuras e em fotografias, por exemplo. A estrela de pano do Seu Amadeu é, assim, um pedacinho do passado que está ligado à memória das vítimas da Segunda Guerra Mundial.

História e memória têm a ver com o passado, mas são diferentes. Ao estudar a história, usa-se a memória para resgatar aspectos do passado. Reúnem-se, verificam-se e interpretam-se várias memórias na tentativa de completar suas lacunas, escapar de suas armadilhas e até entender o significado dos esquecimentos e das distorções.

Fotografia em preto e branco. Anne Frank, garota de rosto afinado, pele branca, olhos escuros e arredondados. O cabelo é preto e liso na altura dos ombros. Ela usa uma camisa escura, de mangas compridas, e gola branca. Está sentada com os dois braços sobre a mesa, na qual há algumas folhas de papel. Em uma das mãos ela segura um lápis.
én frênqui, aos 12 anos de idade, em Amsterdã, Holanda. Foto de 1941. Nascida em Frankfurt, na Alemanha, em 1929, Annelies marrí frãnc, adolescente de origem judaica, fugiu para a Holanda, onde viveu até ser presa e levada para um campo de concentração. Sua história não foi esquecida porque ela escreveu um diário que preservou suas memórias.
Pintura. Representação de um ambiente externo, com diversos relógios espalhados. À frente, um relógio curvo sobre a metade de uma face masculina com longos cílios. À esquerda, sobre uma plataforma, um relógio curvo, com metade na parte de cima da plataforma e a outra metade pendurada, como se estivesse derretido. Sobre ele, perto do número doze, uma mosca pousada. Ao lado dele, um relógio virado para baixo, na cor laranja. Sobre esse relógio, diversas formigas pretas. No canto superior esquerdo, um relógio curvo pendurado em um galho de árvore seca, como se estivesse dobrado ao meio. Ao fundo, como ponto mais iluminado da pintura, uma paisagem com um grande volume de água, uma montanha rochosa e céu nas cores amarelo, azul claro e azul escuro.
A persistência da memória, pintura de Salvador Dalí, 1931. Museu de Arte Moderna, Nova iórque, Estados Unidos.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Quando buscamos conhecer a história, podemos confiar somente na memória? Justifique.
  2. Como a memória e a história se relacionam?

Memória e patrimônio

Alguns povos procuram preservar bens naturais ou culturais que compõem sua história e são significativos para sua cultura. Esses bens formam o patrimônio de um povo e podem ser materiais (edifícios, sítios arqueológicos e paisagísticos, acervos de museus ou bibliotecas, obras cinematográficas etcétera) ou imateriais (como celebrações, fórmas de expressão, festas, saberes e modos de fazer tradicionais de algumas comunidades).

Em todo o mundo, existem instituições criadas para preservar o patrimônio humano. A unêsco (sigla em inglês da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) é um organismo internacional que atua para defender a herança natural, histórica e cultural dos povos. No Brasil, a proteção do patrimônio é feita pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (ifãn).

Para garantir a integridade de um bem material, o Iphan pode determinar seu tombamento, ou seja, colocá-lo em uma lista de bens protegidos pelo poder público, impedindo que seja modificado ou destruído. Já um bem imaterial pode ser alvo de registro, isto é, ser inscrito em um dos quatro livros que o reconhecem como parte do patrimônio brasileiro, de acordo com sua categoria: celebrações, lugares, fórmas de expressão ou saberes. O registro não visa impedir que os bens imateriais se transformem ao longo do tempo, mas sim valorizar e apoiar sua continuidade.

Fotografia. Dois músicos em uma apresentação. Estão sobre um palco pequeno, sentados em cadeiras. Usam chapéu preto. Cada um tem um microfone à frente e está tocando um violão. Ao redor pessoas assistindo. Sobre eles uma tenda colorida com adereços pendurados.
Repentistas se apresentam no Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Foto de 2013. Em 2021, o repente foi registrado como patrimônio cultural imaterial brasileiro pelo Iphan, no Livro de Registro das fórmas de Expressão.

Saiba mais

Tombamento

No direito português, a palavra tombo significa “registro, arrolamento de bens, inventário”. Um bem “tombado” era um bem inscrito em livros específicos, guardados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa. No Brasil, a palavra tombo deu origem à expressão tombamento, que significa inscrever um bem de valor histórico ou cultural nos livros tombo e colocá-lo sob a proteção do Estado.

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Transcrição do áudio

Patrimônio histórico e cultural

[Música instrumental de fundo]

[Locutor]: Olá! Tudo bem com você? Nesse podcast, vamos falar sobre patrimônio histórico e cultural.

Você já ouviu a palavra “patrimônio”? Podemos dizer que patrimônio é um conjunto de bens que tem valor histórico ou cultural para determinado grupo ou comunidade.

Por exemplo, ao caminharmos pela cidade onde moramos, é possível que encontremos alguns bens do patrimônio histórico e cultural, como monumentos construídos em homenagem a determinadas personagens históricas, prédios que se destacam por sua arquitetura e a própria paisagem local.

Os bens que constituem o patrimônio histórico e cultural de um povo podem ser oficialmente reconhecidos por instituições como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Reconhecer e registrar oficialmente elementos de valor histórico e cultural como parte do patrimônio é uma forma de preservar a memória das pessoas e valorizar a cultura e a história de um povo.

Por exemplo, uma casa construída há centenas de anos, que foi preservada até hoje com suas características originais, pode informar sobre a maneira como as moradias eram construídas no passado e se havia diferenças entre as classes sociais de determinada sociedade.

Além disso, ao analisar os bens do patrimônio, é possível reconhecer o que diferencia uma comunidade de outra com base no que elas produziram ou produzem. Cada povo consome diferentes tipos de alimentos e os prepara de formas distintas. Cada um tem suas festas, suas formas de expressar alegria ou devoção religiosa.

O patrimônio cultural e histórico é parte da construção da identidade de um povo. Com base nos bens que são preservados, é possível saber que elementos culturais esse povo valoriza.

Agora, vamos conhecer melhor os tipos de bens do patrimônio? O patrimônio cultural pode ser de dois tipos: material e imaterial. Você sabe qual é a diferença entre eles?

Vamos começar pelo patrimônio material. Fazem parte do patrimônio material de uma sociedade: construções, como prédios e edifícios; lugares, como cidades históricas e paisagens; sítios arqueológicos; parques; acervos de museus, bibliotecas e arquivos históricos, por exemplo.

O Centro Histórico da cidade de Salvador, na Bahia, é um bem do patrimônio material que foi oficialmente registrado pelo Iphan. Outros exemplos são: o Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí; o sítio arqueológico de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul; o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, no município de Congonhas, em Minas Gerais; o acervo do Museu Imperial em Petrópolis, no Rio de Janeiro.

E o que é patrimônio cultural imaterial? Os bens do patrimônio imaterial são as festas e celebrações, as tradições culinárias, os modos de fazer objetos, as histórias contadas oralmente, entre outros exemplos.

Foram registrados como bens do patrimônio imaterial pelo Iphan o frevo, que faz parte do Carnaval de Recife; a roda de capoeira; o modo de fazer acarajé na Bahia; o modo artesanal de fazer queijo de Minas Gerais; a literatura de cordel; o modo de tocar os sinos em cidades históricas mineiras, como Ouro Preto; e as pinturas corporais feitas pelos indígenas Wajãpi.

O Iphan registra os bens do patrimônio com o objetivo de preservá-los ao longo do tempo. Eles podem ser reconhecidos por sua importância nacional ou mundial.

Em parceria com o Iphan, a Unesco também reconhece e registra bens brasileiros como parte do patrimônio cultural mundial. Esse é o caso da paisagem da cidade do Rio de Janeiro e de outros 18 bens culturais e naturais brasileiros registrados pela Unesco por sua importância mundial.

O reconhecimento dos bens históricos e culturais como parte do patrimônio nacional e mundial é importante para que se conheça melhor a história e a cultura do país e para que elas sejam valorizadas e preservadas por mais pessoas no Brasil e no mundo.

Agora que você já sabe o que é patrimônio cultural e histórico e conhece alguns bens materiais e imateriais brasileiros oficialmente registrados, que tal pesquisar os bens do patrimônio existentes no local onde você vive e o que é possível aprender com base neles sobre a história e a cultura da sua região?

Até a próxima!


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Defina patrimônio.
  2. No Brasil, qual é o órgão responsável pela preservação do patrimônio?
  3. O frevo é considerado patrimônio da humanidade pela Unesco desde 2012. O frevo é um patrimônio material ou imaterial?
  4. Qual é a diferença entre tombamento e registro de um bem cultural?

Tempo e natureza

A história é a área do conhecimento que estuda as relações humanas ao longo do tempo. Por essa razão, a ideia de tempo é fundamental para essa área. O historiador busca constantemente identificar os fatores que antecedemglossário um acontecimento importante e os que o sucedemglossário . Busca, também, analisar os fatos de curta duração e os de longa duração (que demoram mais tempo para transformar-se).

O tempo não é algo material, concreto, que podemos pegar ou manipular. Temos uma ideia do que é o tempo com base na observação das mudanças na natureza: a alternância entre o dia e a noite e entre as estações do ano, o ciclo de vida das plantas e dos animais etcétera

Também percebemos a passagem do tempo nas coisas que acontecem no decorrer de nossa vida, como o nascimento de um irmão mais novo, nosso primeiro dia na escola e uma festa de aniversário. Esses acontecimentos ficam marcados em nossa memória, em fotografias e em filmes, para ser revistos e relembrados.

Em nossa sociedade, percebemos o tempo como uma linha reta, com presente, passado e futuro. Essa percepção do tempo é linear. No entanto, nem todas as pessoas entendem a passagem do tempo dessa fórma. Em algumas sociedades, o tempo é percebido como algo cíclico, com começo, meio e fim, seguido por um recomeço, como acontece com as estações do ano ou as fases da Lua.

Saiba mais

Tempo dos sonhos

Na cultura ocidental, imaginamos o tempo e o espaço como coisas diferentes. Contudo, há povos que não os separam. Para os aborígenes australianos, por exemplo, existe o “tempo dos sonhos”. Nele estão os criadores do mundo e os espíritos dos que ainda não nasceram e dos que já morreram. Nesse tempo, não existem passado, presente e futuro.

Para os aborígenes australianos, podemos entrar em contato com essa dimensão enquanto dormimos ou por meio de um estado de transe. Por essa razão, quando alguém tem um problema grave, deita-se sobre o túmulo dos antepassados para poder receber conselhos enquanto dorme.


Pintura. Tela vertical, preenchida por formas assimétricas, compostas de pontos em tons de azul, roxo, rosa, branco, amarelo e marrom claro. Cada forma é de uma cor. Elas se encaixam como em um quebra-cabeças. Sobre as formas coloridas, linhas vermelhas, algumas com ondulações, outras com zigue-zague e algumas espirais.
Sonho dos homens, pintura do artista aborígene australiano clíford possum japaljarrí, 1990. Coleção Corbally Stourton de Arte Contemporânea, Austrália.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

14. Como percebemos a passagem do tempo?


Formas de medição do tempo

Acredita-se que os primeiros grupos humanos adotavam os ciclos da natureza como referência para medir a passagem do tempo. Observavam, por exemplo, a posição do Sol, as fases da Lua, os períodos de chuva e de estiagem ou a mudança das estações do ano. Seguindo o tempo da natureza, organizavam o trabalho, as refeições, as festas e outras atividades cotidianas.

Ao longo do tempo, foi possível estabelecer um conhecimento mais sólido sobre os ciclos da natureza, o que contribuiu para o desenvolvimento de atividades complexas, como a agricultura. Para produzir alimentos, era preciso saber ao certo a época de limpar e semear o solo e o melhor momento de colher. Por essa razão, algumas sociedades estabeleceram fórmas de medir o tempo, criando os calendários.

O calendário que usamos hoje, chamado gregorianoglossário , está em vigor há quase quinhentos anos. Ele tem como base o tempo que a Terra leva para dar uma volta completa em torno do Sol, que é de 365 dias, 5 horas e 49 minutos. Como o número de dias não é exato, a cada intervalo de quatro anos é acrescentado um dia ao mês de fevereiro no calendário. Os anos em que isso ocorre são chamados bissextos.

O marco inicial do calendário gregoriano é o nascimento de Jesus Cristo; por isso, ele também é conhecido como calendário cristão. Em outros calendários são utilizados marcos diferentes. No calendário judaico, por exemplo, o evento fundamental é a criação do mundo por Deus, episódio narrado no livro bíblico do Gênesis. Já no calendário islâmico, o tempo é contado a partir da migração do profeta Maomé de Meca para Medina, cidades localizadas na Península Arábica. Esse acontecimento é conhecido como Hégira.

Embora o calendário gregoriano tenha sido adotado como referência em quase todo o mundo, há países que não o utilizam. Outros, como Japão e Israel, usam mais de um calendário ao mesmo tempo. Por isso, se você acessar a versão digital de um jornal de Israel, em que a maioria da população é judaica, encontrará na capa duas datas: a do calendário gregoriano – por exemplo, 24 de julho de 2024 – e a do calendário judaico – 18 Tamuz de 5784.

Calendários judaico, cristão e islâmico

Ilustração. Quadro calendários judaico, cristão e islâmico divido em três quadro dispostos horizontalmente. 
No primeiro quadro, de cima para baixo, na cor amarela, consta o desenho de uma Estrela de Davi, com seis pontas, composta por dois triângulos sobrepostos, na cor dourada e, ao lado da estrela, consta os seguintes textos: ‘Depois da criação do mundo para os hebreus 1, 3761 e 4382’ e ‘Dias atuais 5784’.
No segundo quadro, na cor azul, consta o desenho de uma cruz na cor dourada, e ao lado os seguintes textos: ‘Antes de Cristo 3760”, “Nascimento de Cristo 1’, ‘Depois de Cristo 622’ e ‘Dias atuais 2024’.
No terceiro e último, na cor laranja, há o desenho de uma lua na fase quarto crescente, com uma estrela ao lado, ambas douradas, e ao lado dela, os seguintes textos: ‘Antes da migração de Maomé para Medina 4517 e 640’, ‘Depois da migração de Maomé para Medina 1’, ‘Dias atuais 1445’.
Nesses calendários são consideradas datas importantes para três religiões.

Responda em seu caderno.

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  1. No quadro estão indicados os calendários de três religiões. Quais são elas?
  2. Repare que os anos 1 dos três calendários não coincidem. Qual é o marco inicial de cada um deles?
  3. Dos três calendários, qual apresenta o marco inicial mais recente? Por quê?

Leitura complementar

Os calendários de Júlio e Gregório

O texto trata de um general romano, um astrônomo greco-egípcio e um papa católico que mudaram a maneira como contamos o tempo.

Estamos em 46 antes de Cristo. reticências Desafiando a lei, [Júlio] César entrou em Roma à frente de seu exército e tomou o poder. reticências O imenso império está sob suas ordens. Mas isso não lhe parece suficiente. César quer que tudo esteja em ordem: o tempo, o espaço e a administração. Há muito que os sacerdotes reticências são encarregados de acrescentar quatro meses de 22 ou 23 dias a cada período de oito anos, para que os anos que só têm 355 dias não fiquem defasados em relação às estações. reticências

Para ajudá-lo a reformar o calendário, Cleópatra envia-lhe Sosígenes reticências, um famoso astrônomo grego de Alexandria. Sosígenes é um bom conselheiro. Ele parte daquilo que conhece: o calendário egípcio tem cêrca de 365 dias e um quarto. Esse quarto de dia é útil: alguns anos bastam para defasar o dia do equinócio no ano! Sosígenes propõe uma solução: de quatro em quatro anos, um dia será acrescentado, o que diminuirá a defasagem de quatro quartos de dia. reticências

Sosígenes havia feito um bom trabalho para os romanos, mas a sua estimativa do ano ainda estava errada: para ele, o ano tinha 365,25trezentos e sessenta e cinco reais e vinte e cinco centavos dias. Na realidade, ele só leva 365,24trezentos e sessenta e cinco reais e vinte e quatro centavos dias para ir de um equinócio de primavera ao outro. Portanto, o calendário juliano também se desvia um pouco da realidade. Esse pouquinho, ano após ano, cresce tanto que defasa as datas do calendário em relação às estações. No século dezesseis, o ano tinha dez dias de atraso em relação ao Sol. Desse jeito, mais alguns séculos e a primavera iria acontecer em pleno inverno! Chato, não? Não tanto para o plantio do trigo quanto para as grandes festas cristãs. Os senhores da Igreja estavam preocupados com a Páscoa. A data dessa festa móvel é calculada com base nas lunações: ela sempre acontece depois do dia 21 de março, no primeiro domingo após a Lua cheia. Gregório treze, o papa, toma a frente da situação e resolve que o ano de 1582 será amputado de dez dias: o dia 4 de outubro será seguido diretamente pelo dia 15 de outubro. Alguns países levaram muito tempo para aplicar essa reforma: a Inglaterra em 1752, a Rússia em 1918! Esses países viveram, assim, defasados uns em relação aos outros...

Desde então, o uso do calendário gregoriano estendeu-se ao mundo inteiro, pelo menos no que diz respeito ao ano civil. Outros calendários continuam vigorando, como o islâmico ou o judaico. Porém, quando dois homens de negócio marcam um encontro, mesmo morando em Tel Aviv ou em Buenos Aires, vão fazê-lo segundo a convenção de Gregório.

baussiê sílve. Pequena história do tempo. São Paulo: Edições ésse eme, 2005. página 44-46. (Coleção Pequenas histórias dos homens).


Responda em seu caderno.

Questões

  1. Por que o general Júlio César implementou o calendário juliano? E por que o papa Gregório treze o substituiu?
  2. As mudanças propostas por Gregório treze foram prontamente aceitas em todos os países? Justifique.
  3. Como o calendário interfere em sua vida? Em sua opinião, essa interferência é importante? Por quê?

História e medição do tempo

Você já deve ter notado que medir o tempo é fundamental para organizar a vida de uma pessoa. É a medição do tempo que lhe permite contar sua idade e definir, por exemplo, um feriado, a data de início das aulas e outros eventos importantes. Para os historiadores, também é fundamental saber localizar os acontecimentos no tempo. Afinal, todo fato histórico está relacionado a um lugar e a um tempo determinados.

Por exemplo, para começar a estudar a chegada da expedição de Pedro Álvares Cabral ao território que corresponde ao do Brasil atual, duas informações são básicas: a data de chegada – 22 de abril de 1500 – e o local – que corresponde à atual cidade de Porto Seguro, na Bahia. O ano de 1500 é, portanto, um marco cronológico, ou seja, uma data importante que serve de referência temporal para o historiador.

Há, no entanto, acontecimentos muito antigos, cujos marcos cronológicos são incertos, e acontecimentos que são entendidos como processos, pois se desenvolvem no decorrer do tempo, sem estar associados a uma data específica. Para estudar esses casos, o historiador precisa utilizar medidas de tempo maiores, como a década, que corresponde a um período de dez anos, o século, que equivale a cem anos, e o milênio, que é um período de mil anos.

Fotografia. Painel de pequenos azulejos brancos decorados com diversas pinturas em azul e vermelho, exposto em ambiente aberto. No painel, à esquerda, três grandes navios portugueses. Abaixo deles, um grupo de pessoas indígenas parece observar as embarcações. No centro, uma grande cruz da Ordem de Cristo, de contorno vermelho. À direita, a representação da costa leste do Brasil, três brasões e alguns navios.
Painel de azulejos representando a chegada da expedição de Pedro Álvares Cabral ao atual território brasileiro. Porto Seguro, Bahia. Foto de 2019. A chegada dos portugueses à América é um marco cronológico importante para a história do Brasil.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

15. Em que situações os historiadores utilizam o século como medida de tempo em seus estudos?


Para descobrir o século

Com o estabelecimento do calendário gregoriano, definiu-se o marco que determina o início do calendário, ou seja, o ano 1: o nascimento de Cristo. Assim, o primeiro século vai do ano 1 até o ano 100, o segundo século começa em 101 e vai até 200, e assim sucessivamente. O mesmo raciocínio serve para os fatos acontecidos antes do nascimento de Cristo: o primeiro século antes de Cristo vai do ano 100 antes de Cristo até o ano 1 antes de Cristo, o século 2 antes de Cristo vai do ano 200 até o ano 101 antes de Cristo, e assim por diante.

Para diferenciar os acontecimentos anteriores dos posteriores ao ano 1, são usadas as iniciais a cê (para os anos antes de Cristo) e dê cê (para os anos depois de Cristo). Observe a linha do tempo.

Linha do tempo horizontal. Representada por uma seta azul, composta de alguns segmentos e marcos temporais. No centro, um círculo vermelho indica o ano um. À esquerda do ano um, na parte superior da linha, os anos regridem de cem em cem. Estão indicados: ano cem antes de Cristo, ano duzentos antes de Cristo e ano trezentos antes de Cristo. Na parte inferior da linha, a indicação do século correspondente ao intervalo de anos indicado na parte superior da linha: século um antes de Cristo, século dois antes de Cristo, século três antes de Cristo. Na extremidade a linha vai ficando mais clara até desaparecer, indicando continuidade. Entre o ano um e o ano cem, no intervalo correspondente ao século um, a indicação do ano 44 antes de Cristo. À direita do Ano um, na parte superior da linha, os anos avançam de cem em cem. Estão indicados na linha: ano cem depois de Cristo, ano duzentos depois de Cristo e ano trezentos depois de Cristo. Na parte inferior da linha, a indicação do século correspondente ao intervalo de anos indicado na parte superior da linha: século um depois de Cristo, século dois depois de Cristo, século três depois de Cristo. Na extremidade da linha, uma seta indicando continuidade.
Linha do tempo ilustrativa.

Os séculos são, geralmente, grafados em algarismos romanos. Assim, você encontrará nos livros os séculos identificados como: século um, século cinco, século dez etcétera

Para identificar o século em que um fato ocorreu, você pode adotar uma regrinha simples: córte as casas da unidade e da dezena do ano em que o fato ocorreu e some 1 ao que sobrar. Consulte os exemplos a seguir.

44 antes de cristo: assassinato de Júlio Cesar cortar 44 seta zero mais um igual século um antes de cristo.

Note, na linha do tempo, que o ano 44 está dentro do primeiro bloco de séculos.

476 queda do império romano do ocidente cortar o 6 e o 7 de 476 seta 4 mais 1 é igual século cinco.

As exceções são os anos que terminam em dois zeros. Nesse caso, córte esses dois números e não some nada ao que restar.

1500 chegada da esquadra de Pedro Álvares Cabral ao Brasil cortar os dois zeros de 1500 seta século quinze.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Escreva o século em que aconteceram os fatos identificados a seguir.
    1. Morte da rainha egípcia Cleópatra, no ano 30 antes de Cristo
    2. Disputa da primeira partida de futebol no Brasil, em 1895.
    3. Coroação de Carlos Magno como imperador em 800.
    4. Primeira lei que proibia a escravização de indígenas por colonos no Brasil em 1570.

Divisão tradicional da história

Estudiosos dividiram a história em quatro idades ou períodos: Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. O marco inicial dessa periodização é a invenção da escrita, ocorrida por volta de 6 mil anos atrás. Essa divisão é utilizada por historiadores de todo o mundo e está em praticamente todos os livros de história.

Apesar de sua ampla difusão, essa periodização recebe críticas, pois valoriza apenas as transformações políticas das sociedades europeias, dando pouca atenção a aspectos econômicos, sociais e culturais, além de colocar em segundo plano a história de povos de outros lugares do mundo. Por essa razão, historiadores que questionam essa periodização propõem divisões alternativas ou buscam selecionar outros acontecimentos e marcos cronológicos desprezados até então.

Além disso, nessa divisão é classificada como Pré-história todo o período anterior à invenção da escrita. O termo “pré-histórico” pode ser entendido de maneira pejorativa, pois se baseia na ideia de que os povos que não conheciam a escrita não tinham história, eram “atrasados” ou “não civilizados”. Acontece que nem todas as sociedades sentiram necessidade de desenvolver fórmas de registro escrito. Muitas se desenvolveram ao seu modo, transmitindo conhecimentos por meio da oralidade e de imagens gravadas sobre diferentes suportes.

Existem no presente sociedades cuja cultura não necessita da produção de registros escritos. É o caso de grupos nativos das Américas, da África, da Sibéria ou da Austrália. Alguns deles, por causa de seus contatos com as sociedades que dependem da escrita, adotaram alfabetos de outras línguas, como o latino, para registrar os sons de seus idiomas.

Fotografia. Placa de cor marrom claro. Tem formato quadrado com os cantos arredondados e inscrições em sua superfície. Está dividida em três colunas, e cada coluna está dividida em algumas linhas. Em cada linha um conjunto de símbolos formados por círculos e linhas retas.
Placa de argila com inscrições sumérias, na antiga Mesopotâmia, cêrca de 3100-2900 antes de Cristo Museu do Lúvri, Paris, França. Esse tipo de escrita ficou conhecido como cuneiforme por ser gravado usando um objeto com formato de cunha.

A divisão tradicional da história

Linha do tempo horizontal. Representada por uma seta azul, composta de alguns segmentos e marcos temporais. Primeiro marco temporal: Pré-história. Há dois milhões de anos. Surgimento do gênero Homo. Segundo marco temporal: Idade Antiga. Quatro mil antes de cristo. Invenção da escrita. Terceiro marco temporal: Idade Média. 476. Queda do Império Romano do Ocidente. Quarto marco temporal: Idade Moderna. 1453. Tomada de Constantinopla pelos turcos. Quinto marco temporal: Idade Contemporânea. 1789. Revolução Francesa. Ao lado, seta indicando continuidade.
Os acontecimentos dessa linha do tempo não foram representados em escala temporal.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Quais são os períodos em que a história é tradicionalmente dividida?
  2. Cite três motivos pelos quais há historiadores que criticam essa divisão.

Atualmente, os pesquisadores reconhecem que todos os povos têm história. Mesmo sem dominar a escrita, muitas sociedades produziram ferramentas, aproveitaram os recursos da natureza para garantir sua sobrevivência, criaram diferentes fórmas de arte e de religião e deixaram vestígios dos modos de vida que construíram. Essas sociedades apresentavam noções temporais próprias e fórmas particulares de medir a passagem do tempo.

A respeito desse tema, leia o que escreveu o britânico Gerrár Djeimes uífrou, matemático e historiador da ciência que viveu no século vinte.

A primeira questão [a ser discutida] é a origem da ideia de que o tempo é uma espécie de progressão linear medida pelo relógio e pelo calendário. reticências isso está longe de ser verdade. reticências a maioria das civilizações anteriores à nossa, nos últimos 200 a 300 anos, tendia a considerar o tempo essencialmente cíclico na natureza. reticências

Por exemplo, embora os filhos dos aborígenes australianos tenham capacidade mental semelhante à das crianças brancas, eles têm grande dificuldade de ver a hora no relógio. Podem aprender a posição dos ponteiros como um exercício de memória, mas não conseguem relacioná-los à hora do dia. Há uma lacuna que eles têm dificuldade de preencher entre sua concepção de tempo e a da civilização industrial moderna. reticências [Mas] um fator vital da intuição do homem primitivo era seu senso de ritmo. Esse sentido altamente desenvolvido permitia que a tribo funcionasse reticências como uma unidade na guerra e na caça.

uífrou, Gerrár Djeimes. O que é tempo?: uma visão clássica sobre a natureza do tempo. Rio de Janeiro: Jorge zarrár, 2005. página 15-16, 19.

Fotografia. Silhueta de uma pessoa indígena de costas observando o céu ao entardecer. A pessoa está apoiada em apenas uma das pernas, e segura um cajado apoiado no solo. A parte mais baixa do céu tem nuvens alaranjadas pelo Sol; na parte central, tons de roxo; e mais acima o céu azul escuro estrelado. Uma linha imaginária faz a demarcação de uma constelação. O desenho formado pela linha imaginária lembra o corpo de uma pessoa inclinado para a esquerda. À direita, as pernas; no centro, os braços e a cabeça, e à esquerda, um círculo, de tamanho menor.
Indígena observando o céu, no qual se identifica a constelação do Homem Velho da astrologia Tupi-Guarani. Cascavel, Paraná. Foto de 2021. Os Tupi-Guarani desenvolveram um conhecimento astronômico próprio, definindo constelações diferentes das usadas pela astronomia convencional.

Conexão

Ciência Hoje na Escola: Tempo e Espaço

Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Rio de Janeiro: Global, 1999. volume 7.

O sétimo volume da coleção Ciência Hoje na Escola traz vários artigos sobre o tempo e o espaço, além de uma série de experiências divertidas. Com esse volume, você poderá entender melhor como a nossa ideia de tempo é construída e obter informações sobre a definição dos marcos temporais e sobre os movimentos da Terra que determinam a alternância entre dia e noite e entre as estações do ano. Além disso, encontrará histórias sobre os vários calendários que já existiram e aprenderá a construir relógios de sol, de areia e de água.


Atividades

Responda em seu caderno.

Aprofundando

1. O texto a seguir trata de uma característica importante da memória humana. Leia-o e, depois, responda às questões.

Para compreender um pouco como a lembrança funciona, pense na brincadeira do “telefone sem fio”. reticências

O mesmo pode acontecer com as nossas memórias. Há incontáveis razões pelas quais minúsculos erros ou retoques podem acontecer a cada vez que nós rememoramos eventos passados, variando entre o que nós acreditamos ser verdade ou queríamos que fosse verdade, ou então o que queremos que aquela pessoa pense. E sempre que essas falhas acontecem, pode haver efeitos de longo prazo na fórma com que nós recordaremos aquela memória no futuro.

Néchi, róbert. Desconfie da sua memória; entenda por que ela muda com o tempo. Galileu. Disponível em: https://oeds.link/kpOM2c. Acesso em: 10 dezembro 2021.

  1. A que característica da memória humana o texto se refere?
  2. De acordo com o texto, duas pessoas que viveram a mesma situação se lembrarão dela exatamente da mesma fórma?
  3. As características da memória humana impedem que os historiadores utilizem os relatos orais como fonte de pesquisa sobre o passado? Explique.

2. Observe as imagens a seguir. Elas expressam maneiras diferentes de representar a passagem do tempo.

A evolução da bicicleta

Linha do tempo horizontal. A evolução da bicicleta. Mostra a evolução da bicicleta por meio de marcos temporais e ilustrações, da esquerda para a direita. 1816: Bicicleta com o quadro comprido, com as rodas afastadas, banco largo e a direção semelhante a um volante de carro.
1860: Bicicleta com o quadro curvo e curto, as duas rodas são grandes e estão próximas. A direção é feita por um eixo vertical em uma das rodas. O assento é bem pequeno.
1870: Bicicleta com o tamanho das rodas desproporcionais. A roda traseira é pequena e a roda dianteira muito grande. O banco é largo e a direção é feita por um guidão curvo para baixo.
1950: Bicicleta de rodas finas do mesmo tamanho e com muitos aros, freios e guidão curvo para baixo.
Atualmente: Bicicleta com pneus largos do mesmo tamanho, guidão para cima, freios e marchas.

Fonte: Vida sobre rodas: a evolução da bicicleta. Superinteressante. Bicicletas, o guia definitivo. São Paulo: Abril, edição 317-A, página 8-9, 2013. 

Os acontecimentos não foram representados em escala temporal. Cores-fantasia.

Relógio de sol

Ilustração. Relógio de Sol. Estrutura Circular com doze traços, representando as horas, por todo seu contorno. No centro um triângulo projetando uma sombra, que aponta para o intervalo entre os traços que representam duas e três horas.
Nesse tipo de relógio, a passagem das horas é observada pela sombra projetada pela luz solar.
  1. Qual das imagens representa melhor o tempo da natureza? Por quê?
  2. O estudo da história adota qual das duas maneiras de representação do tempo? Explique.

  1. Identifique as afirmativas incorretas e, depois, corrija-as em seu caderno.
    1. O século vinte e um começou no ano 2000.
    2. O ano 2024 faz parte da primeira década do século vinte e um.
    3. O calendário cristão é mais antigo que o calendário judaico.
    4. Os calendários judaico, cristão e muçulmano têm como base a religião.
    5. Os primeiros calendários foram criados com base na observação da natureza.
    6. No calendário muçulmano, o ano 1 corresponde ao ano 622 do calendário cristão.
  2. O texto a seguir foi extraído dos diários de Carolina Maria de Jesus (1914-1977), catadora de materiais recicláveis que morava numa favela no Canindé, na zona norte de São Paulo. Os relatos de Carolina foram publicados e se tornaram o livro Quarto de despejo, de 1960.

21 DE MAIO [de 1958] Passei uma noite horrível. Sonhei que eu residia numa casa residivel*, tinha banheiro, cozinha, copa e até quarto de criada. Eu ia festejar o aniversario da minha filha Vera Eunice. Eu ia comprar-lhe umas panelinhas que há muito ela vive pedindo. Porque eu estava em condições de comprar. Sentei na mesa pra comer. A toalha era alva ao lirio. Eu comia bife, pão com manteiga, batata frita e salada. Quando fui pegar outro bife despertei. Que realidade amarga! Eu não residia na cidade. Estava na favela. Na lama, às margens do Tietê. E com 9 cruzeirosglossário apenas. Não tenho açúcar porque ontem eu saí e os meninos comeram o pouco que eu tinha.

JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 1993. página 35.

(*) As palavras do texto foram transcritas de acordo com o original.

  1. O relato de Carolina de Jesus diz respeito a fatos acontecidos em que ano e em que cidade brasileira?
  2. Qual é a importância de memórias como as de Carolina Maria de Jesus para a sociedade brasileira?
  3. Por que é importante preservar essas anotações?
  4. Situações como a contada por Carolina em seu diário ainda acontecem atualmente? Por quê?

5. O artista francês Jãn Batiste Dêbret esteve no Brasil no século dezenove e registrou suas impressões sobre várias cenas do cotidiano da cidade do Rio de Janeiro. Na pintura reproduzida a seguir, ele representou o entrudo, uma antiga festa de Carnaval na qual os foliões jogavam água e farinha uns nos outros.

Pintura. Pessoas negras reunidas na porta de uma casa. Vestem roupas coloridas, as mulheres usam lenço envolvendo toda a cabeça, e os homens usam chapéus coloridos. Algumas crianças vestem apenas calças arregaçadas na altura dos joelhos. Todos estão descalços. À esquerda, uma mulher sentada no degrau da porta, tem um grande tabuleiro apoiado nas pernas. Em pé, ao lado dela, um homem de chapéu pega pequenas bolas brancas do tabuleiro. Atrás dela, uma criança sem camisa, de costas, carregando um cesto cheio em um dos ombros. Dentro da casa algumas pessoas. Fora da casa, no centro da imagem uma mulher de vestido longo e avermelhado com um lenço comprido no pescoço. Ela carrega uma grande cesta na cabeça. Dentro dela frutas e objetos. Um homem de camisa azul está atrás da mulher, pintando o rosto dela de branco com a mão. À direita, uma criança joga água neles com uma pistola.
Detalhe de Carnaval, pintura de Jãn Batiste Dêbret, 1823. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro.
  1. Identifique os seguintes dados sobre a pintura:
    • data de produção;
    • local onde a obra se encontra.
  1. Elabore um pequeno texto descrevendo:
    • os personagens representados;
    • as vestimentas que usam;
    • a atividade econômica representada.
  1. A pintura de debrê pode ser considerada uma fonte histórica? Por quê?
  2. No município em que você mora, o Carnaval tem alguma semelhança com o da cena representada? Explique.

Aluno cidadão

6. Em 2020, a transmissão de uma aula de história pelo Centro de Mídias da Secretaria da Educação do estado de São Paulo causou polêmica. Foi anunciado que os materiais didáticos dessa secretaria deixariam de usar as siglas a cê (antes de Cristo) e dê cê (depois de Cristo) para tratar da contagem do tempo histórico e passariam a empregar as siglas ah ê cê (antes da era comum) e ê cê (era comum). O argumento foi o de que a referência cristã seria excludente para alunos seguidores de religiões não cristãs.

Apesar de as siglas ah ê cê e ê cê serem usadas por algumas comunidades não cristãs e em parte dos livros e artigos acadêmicos, sua adoção em materiais escolares foi criticada por parlamentares paulistas e usuários das redes sociais. A substituição anunciada, afinal, não aconteceu.

  1. Cite duas comunidades que não utilizam as siglas a cê e dê cê
  2. Levante uma hipótese para explicar por que, no Brasil, o uso dessas siglas se tornou dominante na contagem do tempo histórico.
  3. Se você pudesse propor o uso de um marco temporal alternativo a antes de Cristo e Depois de Cristo, o que sugeriria? Por quê?
  4. Debata com os colegas as vantagens e desvantagens da substituição proposta.

Conversando com geografia

7. A memória pode ser acessada nas lembranças dos indivíduos, em cartas, em gravuras e em muitos outros produtos culturais. As construções (casas, edifícios públicos etcétera) e logradouros (ruas, praças etcétera), por exemplo, preservam a memória de um município.

Reúna-se com alguns colegas e façam uma pesquisa sobre a memória do município onde vocês moram. Sigam o roteiro.

  1. Selecionem um edifício ou logradouro que seja referência de algum evento do passado ou que tenha marcado a memória dos habitantes do município.
  2. Pesquisem registros antigos do local selecionado: fotografias, descrições, gravuras etcétera
  3. Visitem esse local. Observem-no atentamente e fotografem-no. Por exemplo, se selecionaram uma praça, fotografem os bancos, os postes de iluminação, o calçamento etcétera; se escolheram um edifício, fotografem a fachada, as portas, as janelas, o piso e o que mais chamar a atenção de vocês.
  4. Comparem as imagens pesquisadas com as fotografias feitas por vocês. Prestem atenção nas construções, no entorno e nas atividades das pessoas.
  5. Listem o que mudou e o que permaneceu igual. A seguir, transformem essa lista em legendas para as fotografias e para os registros antigos pesquisados.
  6. Criem um painel digital (por exemplo, usando a rede social da escola) ou físico (usando uma cartolina) com as fotografias, as cópias dos registros antigos e as legendas que vocês produziram. Reservem um espaço no painel para os visitantes escreverem suas memórias pessoais relacionadas ao local selecionado.
  7. Exponham o painel em um lugar da escola acessível a toda a comunidade ou peçam à direção que divulgue o painel digital que vocês construíram. Não se esqueçam de deixar um recado incentivando a participação dos visitantes!

Você é o autor

8. Para fugir da perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, a adolescente én frênqui passou os últimos anos de sua vida escondida com a família em um sótão. Durante esse período, ela escreveu um diário que se tornou famoso após a guerra, quando foi transformado em livro e adaptado ao teatro e ao cinema.

Você já pensou que sua história também pode auxiliar os historiadores do futuro a saber como era a vida das pessoas antes deles? Que informações você acredita que eles deveriam ter sobre a vida dos adolescentes de hoje?

Faça, durante esta semana, um diário. Registre em seu caderno o dia da semana, o dia do mês, o mês e o ano cada vez que escrever nele. Narre os fatos que mais o afetaram no dia, relatando seus pensamentos e sentimentos.


Glossário

Método científico
: conjunto de regras e procedimentos que devem ser respeitados para a produção de conhecimento.
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Anteceder
: vir antes de.
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Suceder
: vir depois de.
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Gregoriano
: referência ao papa Gregório treze (1502-1585). Ele encomendou a especialistas a elaboração de um calendário que se adaptasse ao antigo calendário romano.
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Cruzeiro
: moeda corrente no Brasil nos períodos de 1942 a 1967, de 1970 a 1986 e de 1990 a 1993.
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