UNIDADE 2  As primeiras civilizações

Sumário da unidade

Capítulo 3

Os primeiros habitantes da América, 52

Capítulo 4

Civilizações fluviais na África e na Ásia, 67

Capítulo 5

Sociedade, economia e cultura dos povos nativos americanos, 87

Fotografia. Pessoas visitando ruínas de pirâmides. Elas andam sobre as bases, formadas por grandes blocos sobrepostos, de tamanhos variados. À frente de cada base, uma grande escadaria. Ao fundo, uma enorme pirâmide, composta por grandes blocos sobrepostos. Uma escadaria se estende até o topo.
Sítio arqueológico da cidade de Teotihuacán, construída pelos astecas há cêrca de 2 mil anos. A imagem mostra pirâmides, como a do Sol e a da Lua, que faziam parte de um centro cerimonial religioso. Foto de 2020.

Fotografia. Diversos homens reunidos em ambiente aberto. Eles vestem túnicas longas em tons de amarelo e vermelho e usam chapéus compridos e arredondados na ponta com detalhes em verde, vermelho e amarelo. Alguns homens carregam nos ombros um andor. Sobre ele, um homem em pé, segurando um cetro com a ponta dourada. Ele usa uma capa vermelha e uma espécie de coroa. Atrás dele, um trono dourado.
A festa do Sol, ou ínti ráimi, é uma celebração em homenagem ao deus Sol da religiosidade inca realizada há milhares de anos. A festa acontece ainda hoje no dia 24 de junho e representa o fim de um ciclo de colheitas e o início do ciclo seguinte. Cusco, Peru. Foto de 2018.
Fotografia. Pessoas aglomeradas em uma ampla área interna, escolhem legumes e verduras que estão expostos em grandes bancas ou agrupados em caixas plásticas.
O mercado de xixicastenãngo, na Guatemala, é considerado o maior mercado indígena da América Central e reúne descendentes dos maias, que comercializam artesanatos, alimentos e tecidos típicos de sua cultura. xixicastenãngo, Guatemala. Foto de 2021.

O que estudaremos na unidade

Quando e onde se desenvolveram as primeiras civilizações? O que elas criaram que até hoje nos fascina tanto? Ao final desta unidade você verá que esses povos, temporalmente tão distantes de nós, deixaram inúmeros conhecimentos que ainda estão presentes em nosso cotidiano. Além disso, conhecerá o grande desenvolvimento científico, artístico e cultural dos primeiros habitantes do continente americano e entenderá por que sua cultura, tão marcante quanto diversa, sobrevive atualmente.


CAPÍTULO 3  Os primeiros habitantes da América

Fotografia. Pintura rupestre de um animal de corpo ovalado com as patas esticadas e rabo curto. Ao lado, escritos em branco feitos recentemente na pedra, sobre pequenos desenhos rupestres.
Vandalismo em pinturas rupestres do sítio arqueológico Toca do Salitre, no Parque Nacional Serra da Capivara. São Raimundo Nonato, Piauí. Foto de 2021.

Um dos enigmas mais intrigantes que os estudiosos da história da América tentam esclarecer é o da chegada do ser humano ao nosso continente. Para tentar compreender quem foram, de onde vieram e como viviam os primeiros habitantes da América, pesquisadores analisam os vestígios do passado encontrados em sítios arqueológicos. No entanto, as respostas a essas questões não são definitivas. A cada descoberta arqueológica, teorias consagradas são rebatidas e outras hipóteses são elaboradas para explicar o povoamento do continente.

Os registros da presença humana na América são numerosos e bem antigos. Em países como o Brasil, o Chile e o Canadá, há sítios arqueológicos datados de mais de 20 mil anos. Pesquisadores afirmam ter encontrado, no Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, restos de fogueira e fragmentos de pedra lascada com mais de 30 mil anos. No entanto, parte da comunidade científica questiona essa datação e defende a ideia de que esses vestígios são resultado de incêndios e desmoronamentos naturais, ocorridos sem interferência humana.

  • Você já visitou um sítio arqueológico? Se sim, o que havia nele?
  • O que você pensa sobre danificar documentos históricos como esse?

As teorias sobre a ocupação da América

Ainda não se sabe ao certo como os seres humanos ocuparam o continente americano. Historiadores e arqueólogos analisam vestígios do passado para compreender as origens e os modos de vida dos primeiros habitantes da América.

Como você verá ao longo deste capítulo, as conclusões de várias pesquisas sobre a chegada dos seres humanos à América são motivo de polêmica entre os pesquisadores, e os estudos de algumas descobertas arqueológicas resultaram na contestação de teorias e na reelaboração de hipóteses. Apesar das discordâncias, um consenso une os cientistas: eles admitem que os seres humanos americanos não são autóctones, ou seja, eles vieram de outros lugares. Os pesquisadores chegaram a essa conclusão porque até o momento nenhum vestígio de hominídeo anterior à espécie Omo sápiens foi encontrado no continente.

Os caminhos para a América

Segundo a teoria científica mais aceita, os primeiros habitantes do continente partiram das regiões das atuais Mongólia e Sibéria, na Ásia, no final da última glaciação. Naquela época, o nível da água do mar era mais baixo do que é hoje e grande parte da superfície terrestre estava coberta de gelo. Além disso, extensas planícies litorâneas, hoje submersas, davam aos continentes um contorno muito diferente do atual.

Essas condições climáticas teriam permitido a formação de uma passagem natural de terra e gelo entre a Ásia e a América, chamada Ponte Terrestre de Béring. Manadas de animais de grande porte e seus predadores, incluindo grupos humanos, teriam atravessado a passagem de Béring e entrado no continente americano.

Fotografia. Duas crianças sentadas sobre um suporte de madeira na neve. Elas vestem roupas peludas e compridas, estão apenas com o rosto à mostra. Suas bochechas estão avermelhadas por causa do frio.
Crianças do povo Nenets, que vive na região do Estreito de Béring. Okrug, Rússia. Foto de 2019.

As possíveis rotas do ser humano para a América

Mapa. As possíveis rotas do ser humano para a América. Planisfério com a representação dos continentes.  As possíveis rotas humanas são representadas por setas vermelhas e  pela silhueta de uma pessoa caminhando. A rota se inicia na África, indo em direção ao Deserto do Saara. De lá, duas rotas, uma para a esquerda em direção ao litoral e norte da Europa, outra para a direita, em passagem pelo Oriente Médio, entrando na Ásia. De lá, segue uma rota para o sul, de barco, em direção à Oceania. Outra rota segue para o norte, através da Sibéria, passando pelo Estreito de Bering, até o Alasca e a América do Norte, seguindo pela América Central até a América do Sul. Da costa leste da Ásia há, também, indicação de uma rota pelo Oceano Pacífico, em embarcações, até a costa oeste das Américas. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 2.740 quilômetros.

Fonte: dubí jórj. Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2010. página 14-15.


Responda em seu caderno.

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  1. De acordo com o mapa, qual é o local de origem do ser humano?
  2. Que possíveis caminhos, de acordo com o mapa, o ser humano usou para chegar à América?
  3. O que teria levado a espécie Omo sápiens a se espalhar por todo o planeta?

A arqueologia e a Pré-história americana

Os pesquisadores que apoiam a ideia de que os primeiros grupos humanos acessaram o continente americano pelo Estreito de Béring chegaram a essa conclusão depois de examinar artefatos de pedra e ossos de animais encontrados no sítio arqueológico de Clóvis, situado no estado do Novo México, no sudoeste dos Estados Unidos.

Com base na datação desses objetos, cientistas estadunidenses elaboraram a teoria chamada Clóvis-Primeiro. Segundo essa teoria, uma leva migratória de grupos humanos com traços asiáticos teria chegado à América por volta de .11500 anos atrás. Assim, ao longo de centenas de anos, os povos descendentes desses grupos teriam ocupado, na direção norte-sul, todo o continente. Descobertas arqueológicas mais recentes, no entanto, têm contestado essa teoria.

Novas questões sobre o povoamento da América

A teoria de Clóvis começou a ser questionada na década de 1970. A análise de fósseis e outros artefatos arqueológicos encontrados na América do Sul, datados de pelo menos .13500 anos, mostrou que o povoamento do continente teria começado muito antes do que essa teoria afirmava, ou seja, os habitantes de Clóvis não teriam sido os primeiros a chegar ao continente americano.

Nos últimos anos, esse questionamento ganhou fôrça com a descoberta de vestígios ainda mais antigos: uma equipe de arqueólogos encontrou milhares de artefatos de pedra provavelmente fabricados por mãos humanas, além de restos de fogueira e ossos de animais, com datação que varia entre 30 mil e 13 mil anos. Outro grupo de pesquisadores fez uma descoberta ainda mais fascinante na região do Novo México. Eles encontraram pegadas humanas datadas entre 23 mil e 21 mil anos atrás.

Fotografia. Marcas de pés na superfície de uma rocha clara. Os pés são finos e algumas marcas não têm os cinco dedos.
Vestígios arqueológicos de pegadas humanas de cêrca de 23 mil anos encontrados no Parque Nacional de White Sands. Novo México, Estados Unidos. Foto de 2021.

Saiba mais

A datação dos achados arqueológicos

Existem diferentes técnicas para definir a idade de um fóssil ou de um artefato arqueológico. Uma delas é a estratigrafia, por meio da qual se analisam as camadas do solo onde os objetos ou os vestígios foram encontrados, considerando que as camadas mais profundas são as mais antigas. Outro método é a datação por radiocarbono, também conhecido como carbono-14, que consiste na análise da quantidade de carbono radioativo encontrado no fóssil. Porém, esse método usando o carbono-14 não é confiável para a análise de objetos com mais de 60 mil anos.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Explique por que os primeiros seres humanos americanos não eram autóctones.
  2. O que é a teoria Clóvis-Primeiro?

Monte Verde, Chile

O sítio arqueológico de Monte Verde foi descoberto, por acaso, em 1976. Os objetos encontrados nesse local estavam bem preservados por causa da existência de turfas, materiais formados de restos de vegetais em decomposição, que preservam tudo que absorvem. Nesse sítio, os pesquisadores encontraram vestígios da presença humana datados de pelo menos .12500 anos. São pinturas rupestres, pontas de lança feitas de pedra, restos de fogueiras, objetos de madeira, plantas medicinais, ossos de mastodonte e até pegadas humanas.

Piedra Museo e Los Toldos, na Argentina

Piedra Museo é o sítio mais antigo da Argentina. Lá foram descobertas pinturas rupestres e instrumentos de caça de 13 mil anos atrás. Com os artefatos, foram encontrados restos de animais extintos há mais de 10 mil anos.

Nas cavernas de Los Toldos, arqueólogos demarcaram camadas do solo que revelam a passagem de diferentes grupos humanos. No interior dessas cavernas foram encontrados utensílios e restos de animais com cêrca de .12500 anos e pinturas rupestres com desenhos de mãos feitos entre .9500 e 13 mil anos atrás.

Fotografia. Pinturas rupestres feitas com marcas de mãos na rocha.
Pinturas rupestres no sítio arqueológico Cueva de las Manos, datadas entre 9.500 e 13 mil anos. Santa Cruz, Argentina. Foto de 2019.

Sítios arqueológicos sul-americanos com mais de .11400 anos

Mapa. Sítios arqueológicos sul-americanos com mais de onze mil e quatrocentos anos. Mapa da América do Sul com destaque para os territórios de Venezuela, Brasil, Chile e Argentina. Do norte ao sul do continente, foram indicados os seguintes sítios arqueológicos:  Taima-Taima, na Venezuela; Pedra Furada, no estado do Piauí, Brasil; Lagoa Santa, no estado de Minas Gerais, Brasil; Monte Verde, Chile. Los Toldos, Argentina; e Piedra Museo, Argentina.  No canto inferior direito, legenda com os nomes dos sítios arqueológicos indicados. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 670 quilômetros.

Fonte: NEVES, Walter; rube márc. Os pioneiros das Américas. Nossa História, São Paulo: Vera Cruz, número 22, página 18, agosto 2005.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

3. Por que, com base nas descobertas feitas nos sítios arqueológicos da América do Sul, os estudiosos contestaram a teoria de que a migração pelo Estreito de Béring teria ocorrido há 11.500 anos?


Um continente, muitos povos

Ao longo de milhares de anos, os grupos humanos que chegaram à América se espalharam pelo continente, adaptando-se, interagindo e modificando diferentes ambientes. Para isso, desenvolveram conhecimentos e costumes adequados a cada realidade. Das terras geladas do Alasca às planícies argentinas, as sociedades americanas encontraram fórmas originais de aproveitar os recursos naturais para garantir sua sobrevivência.

Dessa maneira, formaram-se no continente muitos povos e culturas. Alguns desses povos viviam da caça, da pesca e da coleta; outros passaram a combinar a caça e a coleta com o cultivo de vegetais. Outros, ainda, transformaram a agricultura em sua principal atividade.

Os grupos de caçadores-coletores e alguns dos povos que se tornaram sedentários por causa da atividade agrícola eram sociedades igualitárias. Isso significa que nelas as pessoas dividiam o trabalho e os produtos gerados por ele de maneira relativamente igual.

Outros povos, por sua vez, construíram cidades, nas quais havia trabalhos específicos para cada camada social. Essas sociedades, portanto, eram hierarquizadas. Nelas, grupos de poucas pessoas assumiram a função de governar e passaram a concentrar a maior parte da riqueza e a exercer o poder por meio do estabelecimento das leis, da aplicação da justiça e do contrôle religioso.

Fotografia. Ruínas de uma grande construção de pedra entre a vegetação densa. No centro da construção, uma torre de aproximadamente três andares. Ao redor da construção, grandes muros e escadas externas.
Ruínas de palácio maia localizado no sítio arqueológico de Palenque. Chiapas, México. Foto de 2019. A presença de grandes construções indica que a sociedade que as construiu era hierarquizada.

Refletindo sobre

Você já teve de se mudar do lugar onde vivia? Como foi a adaptação ao novo local? Você encontrou alguma dificuldade? Se sim, qual ou quais?


A vida dos primeiros americanos

Numerosos vestígios dos primeiros americanos foram descobertos em escavações feitas em todo o continente. A análise dos artefatos encontrados indica que os primeiros habitantes do continente se organizavam em pequenos grupos de caçadores-coletores. Provavelmente, eles migravam para outras regiões quando os recursos do local onde estavam se esgotavam; sabiam produzir fogo, com o qual se aqueciam, iluminavam seus acampamentos, cozinhavam e se protegiam de animais; habitavam cavernas e grutas ou construíam abrigos com galhos, folhas e peles de animais; fabricavam instrumentos variados de pedra, ossos e possivelmente madeira, palha e couro.

Em várias partes da América do Norte, como no sítio de Clóvis, foram encontradas ferramentas de pedra bifaciais, ou seja, lascadas dos dois lados, como pontas de flecha, pontas de lança e perfuradores, utilizados na caça de grandes animais.

No Brasil, artefatos parecidos, porém menores, foram achados em vários sítios arqueológicos localizados nas regiões Sul e Sudeste. Já os objetos encontrados nas regiões Nordeste e Centro-Oeste são unifaciais, ou seja, lascados em apenas um dos lados da pedra. Esses objetos são, em sua maioria, raspadores, furadores e cortadores.

Como o conhecimento utilizado para produzir as ferramentas é transmitido ao longo de gerações, foi possível encontrar objetos muito parecidos produzidos em várias épocas diferentes, mesmo que com pequenas alterações.

Fotografia. Seis artefatos de pedra, com tamanhos e formatos variados. 1: objeto de duas faces, pequeno e avermelhado, de formato retangular e arqueado em uma das extremidades. 2: objeto de duas faces, grande, comprido e pontiagudo em tons alaranjados. 3: objeto de duas faces, grande, em formato de seta em tons de marrom. 4: objeto de duas faces, pequeno, em formato de seta em material escuro e brilhante. 5: objeto de uma face, com estrutura clara e achatada de contorno irregular. 6: objeto de uma face, com estrutura comprida e ovalada.
Artefatos encontrados em diversas escavações arqueológicas no continente americano.

Responda em seu caderno.

Explore

Observe os artefatos. Para que esses objetos podem ter sido utilizados pelos primeiros americanos?

Conexão

A arqueologia passo a passo

rafael de Filippo. São Paulo: Claro Enigma, 2011.

Esse livro é um guia ilustrado sobre os diferentes ramos da arqueologia, o trabalho do arqueólogo, o processo de escavação e os métodos utilizados para encontrar e estudar os vestígios deixados pelos povos do passado. O livro também relata algumas descobertas sobre a história da Terra e do ser humano.


Capa de livro. Acima, título e nome do autor. Ao centro e abaixo, ilustração de pessoas trabalhando em uma escavação. Estão sobre tablados que passam entre as áreas descobertas. Uma das pessoas coloca a terra em uma esteira que a descarrega dentro da caçamba de um caminhão.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

4. O início da prática da agricultura na América significou o abandono das atividades de caça e de coleta? Justifique.


As primeiras sociedades hierarquizadas da América

Na região Andinaglossário e na Mesoaméricaglossário desenvolveram-se sociedades hierarquizadas. A organização dessas comunidades baseava-se na divisão entre grupos de pessoas que comandavam e tomavam decisões e os grupos de pessoas que eram comandadas.

Localizado em região desértica do atual Peru, Caral é o mais antigo centro cerimonial descoberto na América. O local começou a ser habitado há cêrca de 5 mil anos, ou seja, na mesma época em que outras sociedades hierárquicas estavam se formando na China, na Mesopotâmia e no Egito.

A arquitetura de Caral é a principal evidência da organização da sociedade que o construiu. cêrca de trinta grandes conjuntos cerimoniais com imensos complexos em fórma de pirâmide impressionam por seu tamanho e pelo sofisticado trabalho humano envolvido na construção de templos, anfiteatros, túmulos e altares. Nas ruínas de Caral foi encontrada, também, uma extensa rede de aquedutos.

A presença dessas construções monumentais em Caral revela a existência de um nível de organização social complexo e de tecnologias agrícolas eficientes que garantiam ampla produção de alimentos para a subsistência de todos. Depois de Caral, outras sociedades hierárquicas formaram-se na região dos Andes.

Fotografia. Imagem de satélite de ruínas de uma cidade em meio a uma grande área coberta de areia. Há construções de formato retangular, piramidal e circular. A maior parte delas está concentrada na parte superior da imagem.
Imagem de satélite que mostra as ruínas da antiga cidade de Caral, no Peru. Foto de 2020. Na imagem, é possível observar as dimensões e a localização das construções: na parte central da cidade, ficava o centro cerimonial religioso.

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Recapitulando

5. Que aspectos da civilização de Caral a presença de construções monumentais revela?


Os povos nativos do atual território brasileiro

Como já vimos, os primeiros habitantes do território que corresponde ao Brasil atual viviam da caça e da coleta. Contudo, à medida que se deslocavam, transformavam o ambiente e se adaptavam aos recursos naturais encontrados, esses povos foram se diferenciando e desenvolvendo novas fórmas de viver e de se organizar.

Os povos dos sambaquis

Por volta de 11 mil anos atrás, a temperatura terrestre começou a se elevar, provocando o gradativo derretimento das geleiras e, consequentemente, o aumento do nível dos oceanos. Com essa mudança climática, muitos grupos instalaram-se no litoral, pois o oceano tornou-se uma fonte de alimentos fundamental. Além de manter as atividades de caça e coleta, esses povos passaram a consumir peixes, moluscos e crustáceos.

As conchas dos mariscos que consumiam eram depositadas em determinados locais, formando montes que receberam o nome de sambaquis – palavra de origem tupi que significa “depósito de conchas” (tamba significa “concha” e qui, “depósito”). Os povos dos sambaquis tornaram-se, portanto, sedentários, mesmo não baseando sua subsistência na prática da agricultura.

Há sambaquis nas regiões Sul, Norte e Sudeste do Brasil, nos Estados Unidos, no Peru e no Chile. Alguns têm mais de 8 mil anos. Neles, os arqueólogos encontraram importantes vestígios da presença humana, como restos de alimentos (ossos de animais) e de fogueiras, artefatos e zoólitos (esculturas em fórma de animais da fauna local) feitos de pedra polida, além de vestígios de moradias e de sepultamentos.

Saiba mais

Sambaquis

Os sambaquis das regiões Sul e Sudeste são os mais conhecidos e estudados do Brasil. Existe, porém, grande quantidade de sambaquis na região da Amazônia, em especial no litoral do Pará. Nesses sítios arqueológicos foram encontradas peças feitas de cerâmica e artefatos de pedra polida.


Fotografia. Vista aérea de uma montanha branca parcialmente coberta por vegetação rasteira. Em segundo plano, faixa de areia com pequenas lagoas. Ao fundo, o mar e céu azul.
Vista aérea do Sambaqui Garopaba do Sul, o maior já encontrado no mundo. Jaguaruna, Santa Catarina. Foto de 2021.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. O que são sambaquis?
  2. Os povos dos sambaquis não praticavam a agricultura, mas desenvolveram um modo de vida sedentário. Qual foi a atividade que lhes possibilitou viver dessa fórma?
Titulo do Infografico

Texto do Infografico

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    São Raimundo Nonato, no Piauí

    Na década de 1970, a arqueóloga niêde Guidon descobriu utensílios de pedra próximos a supostos restos de fogueiras no sítio arqueológico Boqueirão da Pedra Furada, na região de São Raimundo Nonato, no Piauí. Segundo a pesquisadora, os artefatos e restos de fogueiras têm mais de 33 mil anos. Com base na análise dessas peças, niêde Guidon concluiu que seres humanos chegaram à América há pelo menos 50 mil anos, vindos da África, pelo Oceano Atlântico.

    No entanto, ainda não foram encontrados esqueletos humanos com essa idade. Os principais críticos à teoria de Guidon afirmam que os restos de fogueira podem ser consequência de fogo causado por fatores naturais, como raios; por isso, não representam vestígios da ação humana.

    O sítio arqueológico Boqueirão da Pedra Furada localiza-se no Parque Nacional Serra da Capivara, criado em 1979 e inscrito, em 1991, na Lista do Patrimônio Mundial Cultural da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (unêsco). Nesse parque, há um conjunto de chapadas e vales que abriga mais de mil sítios arqueológicos com milhares de pinturas e gravuras rupestres – com representação de cenas de dança, animais, partos, caçadas etcétera –, além de outros vestígios do cotidiano pré-histórico. Com aproximadamente 130 mil hectares, o parque tem em seu entorno uma Área de Preservação Permanente (á pê pê) com 10 quilômetros de raio, que constitui um cinturão de proteção suplementar.

    Fotografia. Destaque para o rosto de uma senhora de cabelos curtos e grisalhos. Usa uma camiseta branca. Está sorrindo.
    A pesquisadora niêde Guidon durante entrevista em sua residência. São Raimundo Nonato, Piauí. Foto de 2016.

    História em construção

    Luzia

    Na década de 1990, um crânio de aproximadamente 12 mil anos foi encontrado na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais. O crânio é de uma mulher jovem, que foi nomeada Luzia e chamada de “a primeira brasileira”. Após a datação e a localização do crânio, os pesquisadores levantaram a hipótese de ter havido mais de uma rota de chegada dos seres humanos ao continente e mais de uma leva migratória, inclusive de populações vindas de fóra da Ásia, ocorridas em datas diferentes.

    Entretanto, estudos genéticos recentes confirmam que o povo de Lagoa Santa descende dos migrantes da cultura Clóvis, da América do Norte. O dê êne á fóssil extraído dos mais antigos restos humanos mostra que o povo de Luzia tem genética totalmente ameríndia, ou seja, descende de populações que cruzaram o Estreito de Béring, da Sibéria para o Alasca, para então povoar a América. O dê êne á fóssil indica que os integrantes daquela corrente migratória tinham afinidade com os povos da Sibéria e do norte da China, ou seja, não apresentavam dê êne á africano ou da Australásia.


    Fotografia. Crânio humano, arredondado, com uma rachadura horizontal. Tem a cavidade dos olhos grande a arredondada. A cavidade do nariz é triangular. Tem alguns dentes.
    Crânio de Luzia exibido no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Foto de 2007. Em 2018, um incêndio destruiu 90% do acervo desse museu, mas o crânio de Luzia foi recuperado com poucos danos.

    Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.


    Transcrição do áudio

    Parque Nacional Serra da Capivara

    [Música instrumental de fundo]

    [Felipe]: Olá, pessoal! Olá, Daniel! No podcast de hoje vamos falar sobre o Parque Nacional Serra da Capivara e sua importância.

    [Daniel]: Olá, Felipe! Este é um assunto muito interessante. Vamos começar fazendo uma pergunta para os ouvintes: vocês já ouviram falar de registros rupestres?

    [Felipe]: Boa pergunta! Os registros rupestres são pinturas ou gravações feitas pelos seres humanos pré-históricos. 

    [Daniel]: Elas eram feitas em paredes e rochas com tintas feitas de carvão, argila, plantas e outros materiais encontrados na natureza.

    [Felipe]: De acordo com os arqueólogos, as pinturas rupestres eram uma forma de comunicação.

    [Daniel]: E qual é a ligação dos registros rupestres com o Parque Nacional Serra da Capivara? Vamos começar falando sobre esse parque.

    [Felipe]: O parque fica no estado do Piauí, e foi criado em 1979. Possui uma área de aproximadamente 130 mil hectares e ocupa parte dos municípios de São Raimundo Nonato, João Costa, Brejo do Piauí e Coronel José Dias.

    [Daniel]: E por que esse parque é tão importante?

    [Felipe]: Porque é um lugar de conservação ambiental e arqueológica. Além de muitas espécies de animais e plantas, nele encontram-se conservados cerca de 400 sítios com vestígios arqueológicos que revelam informações sobre os primeiros habitantes do continente americano.

    [Daniel]: Quais são esses vestígios?

    [Felipe]: Artefatos diversos, como fragmentos de pedras lascadas, restos de fogueiras e, claro, registros rupestres.

    [Daniel]: Felipe, me lembrei de algo que li em uma matéria na internet... O Parque Nacional Serra da Capivara tem uma das maiores concentrações de sítios arqueológicos por quilômetro quadrado do mundo! E que nesses registros são retratados animais e figuras humanas em movimento.

    [Felipe]: Isso mesmo! As pinturas rupestres do parque são muito variadas. Por exemplo, há muitos desenhos que representam capivaras e veados. E as figuras humanas aparecem em várias situações como em danças, em partos e, possivelmente, caçando animais.

    [Daniel]: Puxa, que legal! E esses registros são muito antigos?

    [Felipe]: Sim! Há pesquisadores que afirmam que os registros encontrados no Parque Nacional Serra da Capivara são datados de até 38 mil anos! Mas a maioria data de cerca de 7 mil anos. O estudo desses registros nos ajuda a entender mais sobre o povoamento do continente americano.

    [Daniel]: É mesmo, Felipe?!

    [Felipe]: De acordo com a teoria mais aceita sobre a ocupação da América, os primeiros habitantes do continente teriam vindo para cá da Ásia. Eles teriam atravessado uma faixa de terra chamada Estreito de Bering, que, no passado, ligava o continente asiático ao continente americano. Hoje, o Estreito, que fica no extremo Norte, entre a Ásia e a América, está submerso pelo oceano e não é mais uma passagem terrestre.

    [Daniel]: E quando essa travessia ocorreu?

    [Felipe]: Há aproximadamente 15 mil anos. Mas há outras teorias sobre a ocupação da América.

    [Daniel]: É agora que voltamos a falar do Parque Nacional Serra da Capivara?

    [Felipe]: Sim, Daniel! Uma das versões que contestam a teoria do Estreito de Bering é a da arqueóloga Niède Guidon. Ela descobriu artefatos e restos de fogueiras com mais de 30 mil anos. Essas descobertas foram feitas no sítio arqueológico Boqueirão da Pedra Furada, que faz parte do Parque Nacional Serra da Capivara. Note como as datas não batem. Se havia fogueira, havia pessoas há 30 mil anos nessa região. E a passagem pelo Estreito de Bering aconteceu há cerca de 15 mil anos. Por essa teoria, não poderia haver seres humanos no continente americano 30 mil anos atrás. Ou eles não vieram por lá.

    [Daniel]: Então, de onde eles vieram? 

    [Felipe]: Pois é. Essa é a pergunta levantada a partir das descobertas da Serra da Capivara. Há pesquisadores que discordam das conclusões de Niède. Eles afirmam que as fogueiras encontradas por ela podem ter ocorrido de maneira natural, pela queda de raios, por exemplo, e, por isso, não serem vestígios da presença humana.

    Uma das principais dificuldades para sustentar a teoria de Niède é a ausência de vestígios de ossadas humanas nos sítios da Serra da Capivara.

    Mas, na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, foram encontrados crânios humanos datados de cerca de 10 mil anos. Esses achados arqueológicos têm esclarecido que os primeiros seres humanos podem ter chegado à América em várias ondas de migração, vindos de diferentes partes do mundo, em diferentes períodos, e não somente pelo Estreito de Bering. Além disso, as descobertas de Lagoa Santa têm revelado diversas informações sobre o modo de vida dos primeiros americanos. Por exemplo, a ausência de vestígios de cerâmica no local indica que ali viviam populações de caçadores-coletores nômades, e não de agricultores. Eles caçavam peixes, lagartos, roedores, tatus, porcos selvagens e pequenos cervos. Também se descobriu que realizavam complexos rituais de sepultamento dos mortos.

    Pesquisas em outras regiões da América têm encontrado vestígios humanos como ossadas e pegadas datadas de mais de 20 mil anos; por isso, as teorias sobre o povoamento da América estão sempre sendo revisadas.

    [Daniel]: Nossa! Que interessante!  

    [Felipe]: Sim! Uma das teorias afirma até que os seres humanos teriam vindo diretamente da África até a América, atravessando o Oceano Atlântico em embarcações.

    [Daniel]: Muito interessante, Felipe! Na matéria sobre a qual comentei, também li que o Parque Serra da Capivara é considerado Patrimônio Cultural da Humanidade desde 1991.

    [Felipe]: Sim, Daniel! O local é muito importante.   

    [Daniel]: E sua preservação é essencial. Os artefatos e os registros rupestres encontrados na região nos ajudam a ter uma ideia de como era a vida na pré-história. Além de permitir lançar outras teorias sobre o povoamento do continente americano.

    [Felipe]: Muito bom, Daniel! Adorei o papo! Vamos ficando por aqui! Até a próxima, pessoal!

    [Daniel]: Até mais!


    Culturas ceramistas do atual território brasileiro

    Nas terras que hoje formam o Brasil, a agricultura começou a ser praticada há cêrca de 7 mil anos e parece ter sido quase sempre uma atividade complementar à caça e à coleta.

    Nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, pesquisadores encontraram vestígios de povos que produziram peças de cerâmica escura relativamente pequenas e com paredes finas. Essa tradição ceramista, conhecida como Itararé-Taquara, desenvolveu-se há cêrca de 2 mil anos e tinha características semelhantes às de culturas nativas que existiram na mesma época na Argentina e no Uruguai.

    Os povos dessa tradição alimentavam-se de produtos coletados na região, como o pinhão, e da caça de pequenos animais. Há indícios de que cultivavam amendoim, feijão e abóbora. Suas casas eram subterrâneas e apresentavam túneis, onde eles guardavam alimentos e por onde fugiam ou se abrigavam quando eram atacados por inimigos.

    Habitações dos povos da tradição Itararé-Taquara

    Ilustração. Esquema representando a estrutura de habitações subterrâneas. Em primeiro plano, três túneis se cruzam construindo um trajeto que leva até três estruturas circulares, sustentadas por vigas de madeira com telhado de palha. Acima, três quados destacam detalhes da construção, da esquerda para a direita: telhado circular de palha, buraco circular na terra, túnel com parede externa de pedra.
    Ilustração de Ligia Duque representando o modelo de habitações construídas por povos da tradição Itararé-Taquara. Criação de 2018 com cores-fantasia.

    Fonte: GUARINELLO, Norberto Luiz. Os primeiros habitantes do Brasil. São Paulo: Atual, 1994. página 39.

    Também há cêrca de 2 mil anos, espalharam-se pela região central do Brasil grupos humanos da tradição Una. Esses povos fabricavam instrumentos de pedra polida e objetos de cerâmica e viviam da caça, da coleta de frutos silvestres, da pesca e do cultivo de alguns alimentos, principalmente o milho.

    Na região central do país também foram encontrados vestígios da tradição Aratu-Sapucaí. Ela é associada à construção de grandes aldeias, com cabanas dispostas em círculo, e à fabricação de tecidos e objetos de pedra, além de uma cerâmica bastante simples, constituída de vasilhas e urnas funerárias para sepultar os mortos.


    Responda em seu caderno.

    Recapitulando

    8. Qual é a diferença entre as habitações construídas pelos povos das tradições Itararé-Taquara e as feitas pelos povos da tradição Aratu-Sapucaí?


    Culturas agrícolas da Amazônia

    A ideia que predominou entre arqueólogos durante o século vinte foi a de uma Amazônia despovoada. Todavia, pesquisas feitas no final do século vinte oferecem outro panorama. A região é riquíssima em sítios arqueológicos, que indicam uma ocupação iniciada há mais de 11 mil anos e dão pistas valiosas sobre os hábitos de seus primeiros habitantes, que viviam da caça, da pesca e da coleta.

    Pesquisadores encontraram na Amazôniaá traduzido vestígios de sementes e restos de plantas cultivadas, que são diferentes das plantas encontradas na natureza, datados de 5000 antes de Cristo Isso é um sinal de que ocorreu ali um processo de domesticação de vegetais. Contudo, a agricultura provavelmente só se tornou importante para as populações amazônicas por volta do ano 1000 antes de Cristo

    Nesse período, as sociedades estabelecidas nas várzeas do Rio Amazonas, no norte do Brasil, e do Rio Orinoco, na atual Venezuela, tornaram-se bastante numerosas e passaram a ser comandadas por elites dirigentes, formando os chamados cacicados complexos.

    Os cacicados eram uma fórma de organização social e política em que aldeias populosas estavam submetidas a um chefe poderoso, que cobrava tributos e liderava guerras contra os vizinhos pelo contrôle de recursos naturais. A sociedade era dividida em diferentes estratos, o que tornava algumas pessoas mais importantes que outras. Também havia quem se dedicasse a atividades específicas, como o artesanato, a pesca e a agricultura.

    Os cacicados eram formados por enormes áreas cultivadas com várias espécies de planta. Seus habitantes criavam tartarugas e peixes em viveiros e produziam um artesanato sofisticado, que era comercializado com outros povos. Além disso, eles realizavam obras de terraplenagem e irrigação. Na Ilha de Marajó, por exemplo, foram encontrados extensos morros artificiais construídos para evitar que as vilas, densamente povoadas, fossem atingidas pela cheia dos rios na época das chuvas.

    Saiba mais

    Culturas Marajoara e Santarém

    Na região de Santarém e na Ilha de Marajó, no atual estado do Pará, desenvolveram-se, respectivamente, as culturas Santarém e Marajoara, que eram sociedades hierarquizadas que tinham uma produção de cerâmica bastante sofisticada.

    A cerâmica Santarém apresenta variadas peças modeladas em fórma humana. A cerâmica Marajoara apresenta peças com muitos grafismos usando fórmas geométricas.


    Fotografia. Estatueta de superfície porosa em tons de bege. Tem formato humano: a cabeça grande, olhos e boca representados por um traço, nariz pontiagudo e protuberâncias na lateral da cabeça. Tem dois braços curtos.
    Estatueta da cultura Santarém datada de 1.000 a 1.400 anos. Santarém, Pará. Museu Paraense Emílio Guêldi, Pará.

    Fotografia. Urna cilíndrica de cerâmica, de base mais fina. É toda ornamentada por linhas que formam grafismos e lhe dão um tom avermelhado. Na parte superior, formato que se assemelha a uma cabeça, com dois grandes olhos desenhados.
    Urna funerária Marajoara datada de 400 a 1.400 anos. Ilha de Marajó, Pará. Museu Nacional, Rio de Janeiro.

    Responda em seu caderno.

    Recapitulando

    9. Defina o que eram cacicados.


    Enquanto isso…

    Os primeiros habitantes do saúl

    Você já ouviu falar do saúl e dos primeiros habitantes dessa região? Quando observamos um mapa-múndi, percebemos que a Oceania é formada por diversas ilhas situadas entre o Oceano Índico e o Oceano Pacífico. Porém, aproximadamente 11 mil anos atrás, a configuração geográfica dessa região era bastante diferente.

    Por causa do baixo nível do oceano, algumas das ilhas que hoje compõem a Oceania eram ligadas por pontes terrestres, formando um território unificado ao qual os pesquisadores deram o nome de saúl. Entretanto, com o fim da era glacial, o nível dos oceanos começou a subir, aquelas pontes ficaram submersas e a Tasmânia foi separada da grande massa continental do saúl. Mil anos depois, ocorreu o mesmo com Papua-Nova Guiné.

    Acredita-se que os primeiros habitantes do saúl tenham sido austronésios, povos originários provavelmente da África ou do Sudeste Asiático. Uma das teorias a respeito disso é a de que, entre 60 mil e 40 mil anos atrás, esses povos teriam navegado em pequenas embarcações até as Filipinas e a Indonésia e atingido Papua-Nova Guiné, Vanuatu, Fiji e outras ilhas da Oceania.

    Com o transcorrer dos séculos, os austronésios teriam alcançado a ilha africana de Madagascar e a Ilha de Páscoa, deslocando-se e ocupando novos territórios, como fizeram os primeiros grupos humanos que chegaram ao continente americano. Os motivos que os levaram a realizar esses deslocamentos ainda são desconhecidos.


    Fotografia. Artefato de pedra de contorno irregular e cores claras.
    Artefato de cêrca de 9 mil anos atrás encontrado no abrigo de Loggers, Austrália. Universidade Nacional da Austrália, Camberra.

    Possíveis rotas seguidas pelos austronésios

    Mapa. Possíveis rotas seguidas pelos austronésios. Destaque para a região da Oceania, sul da Ásia e Oceano Pacífico. 
Legenda: 
Seta roxa: possíveis rotas seguidas pelos austronésios.
Laranja: região que fazia parte do Sahul.
A região que fazia parte do Sahul compreende os seguintes países atuais: Malásia, Indonésia, Papua-Nova Guiné e Austrália. 
As possíveis rotas seguidas pelos austronésios vão: de Taiwan em direção à Oceania; do litoral sul da Ásia, passando pela Malásia, Indonésia, Papua-Nova Guiné, se ramificando para o noroeste do Oceano Pacífico, para o Havaí e para Nova Zelândia, passando pelos territórios de Vanuatu e Fiji; do sul da Ásia até a Austrália, atingindo a ilha da Tasmânia. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 1.250 quilômetros.

    Fonte: ôveri ritchard. Atlas de l’histoire du monde: des origines de l’humanité au XXIe siècle. Bagneux: Sélection du Reader’s Digest, 2005. página 33.


    A arte nativa de uma terra distante

    Os austronésios são os ancestrais dos aborígenes australianos, população que habitava a Austrália quando exploradores europeus lá chegaram, no início do século dezessete. Boa parte dessa população vivia da caça e da coleta.

    A cultura aborígene permanece viva e atuante, como você pode perceber no texto.

    Superando um quase extermínio, as etnias que ainda vivem nos rincões do deserto australiano, ou que já habitam centros urbanos, mostram ao mundo a fôrça de sua arte reticências.

    A estética aborígene tem, hoje, lugar garantido reticências no Musée du Quai Branly, em Paris, reticências no Museu de Arte Moderna de Nova iórque, na Bienal de Veneza, [e] em diversos locais da Europa e no Japão reticências. ‘Ter nossa arte em museu de branco é como mostrar ao branco a fôrça de nosso povo’, dizem os anciãos do deserto. reticências

    Dezenas de cooperativas artísticas indígenas foram formadas por toda a Austrália. São geridas pelas próprias lideranças comunitárias, que – contando com funcionários ‘brancos’ contratados – administram atividades como fornecimento de material, revenda dos trabalhos, organização de exposições e repasses de verba que o governo australiano destina aos projetos. reticências

    [Os aborígenes] sabem que aquela arte é para os ‘brancos’. E, mesmo assim, encontraram um equilíbrio entre as demandas do mercado da arte e a prática de rememorar ou recriar seus símbolos, canções e histórias tradicionais.

    KUGLER, Henrique. A arte nativa de uma terra distante. Ciência Hoje, São Paulo, volume 50, número 298, página 42-43, novembro 2012.


    Fotografia. Homem em pé, observando um grande quadro na parede. A pintura é composta por formas não definidas e traçados de contorno irregular. Preenchida em sua maioria por tons de marrom, laranja e amarelo, que se sobrepõem.
    Homem observa a pintura Espírito sonhando através do país cochilando, do artista aborígene australiano clíford possum japaljarrí. Paris, França. Foto de 2012. Museu de Quai Branly.

    Responda em seu caderno.

    Questões

    1. Quais são as semelhanças entre a história dos aborígenes australianos e a dos nativos americanos?
    2. Você considera que a arte aborígene muda de função quando é exposta em museus ou vendida em galerias de arte? Explique.

    Atividades

    Responda em seu caderno.

    Aprofundando

    1. Identifique as afirmações incorretas. Depois, corrija-as em seu caderno.
      1. Com a redução das temperaturas e do nível dos oceanos durante a era glacial, muitos povos da América tiveram de se mudar para o litoral em busca de alimentos.
      2. Os primeiros seres humanos que habitaram a América viviam em pequenos grupos, eram nômades e obtinham alimentos por meio da caça e da coleta.
      3. Os fósseis de hominídeos australupitécus encontrados no continente americano, datados de 200 mil anos, provam que o ser humano americano é autóctone.
      4. A teoria de Clóvis, que afirma que o ser humano chegou à América pelo Estreito de Béring, é a única teoria correta sobre o tema.
    2. Leia a conclusão de um estudo conduzido por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia que compararam espécies vegetais distribuídas por alguns sítios arqueológicos da região amazônica.

    Os Povos Indígenas aprenderam sobre os usos das plantas amazônicas ao longo de mais de 15 mil anos de vivência na região reticências Nas florestas amazônicas, várias espécies podem ter sido domesticadas em algum grau, como a castanha do Brasil (bertolécsia écssélça) ou a piquiá (cariócar vilóssum). É comum que estas espécies domesticadas ocorrem em agregações, formando castanhais e piquiazais, que geralmente comprovam o manejo humano passado.

    INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA (inpa). 84% das plantas arbóreas da Amazônia são úteis para os seres humanos, mostra estudo realizado no Inpa. 13 janeiro 2022. Disponível em: https://oeds.link/ipcR5E. Acesso em: 24 janeiro 2022.

    1. De acordo com o texto, a região amazônica foi ocupada por populações que se dedicavam a que atividade econômica?
    2. O texto reforça ou contradiz a ideia de que a Amazônia é um espaço natural intocado pela ação humana? Por quê?
    1. Sobre as primeiras sociedades hierarquizadas da América, responda às questões.
      1. O que caracteriza uma sociedade hierárquica?
      2. Em que regiões da América desenvolveram-se sociedades hierárquicas?
      3. Qual é o nome atual da cidade e do país que abrigam o mais antigo centro cerimonial da América?
    2. Os objetos apresentados foram produzidos por povos das culturas Santarém, Sambaqui e Itararé-Taquara. Com base nas informações deste capítulo, identifique o povo que produziu cada um deles.

    a)

    Fotografia. Espécie de jarra arredondada de coloração avermelhada com a base e o bocal estreitos. Tem alguns detalhes de grafismos em sua superfície.

    b)

    Fotografia. Vaso cilíndrico feito de cerâmica escura de superfície lisa. A abertura é circular e larga.

    c)

    Fotografia. Escultura em formato de peixe em pedra polida, com uma esfera no meio.

    5. Com base no que você estudou sobre a Pré-história americana até aqui, pesquise em revistas e na internet fotografias de indígenas ou comunidades indígenas que comprovem a afirmação feita pelo autor deste texto.

    A imagem das sociedades indígenas comum ao público em geral é estática: indivíduos vivendo em pequenas aldeias isoladas na floresta, representando um passado remoto, uma etapa evolutiva de nossa espécie. Enfim, populações sem história. Nada mais errado. reticências Ao longo desse período essas populações desenvolveram diferentes modos de uso e manejo dos recursos naturais e diferentes fórmas de organização social reticências.

    NEVES, Eduardo Góes. Os índios antes de Cabral: arqueologia e história indígena no Brasil. In: SILVA, Aracy Lopes da; GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (organizador). A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília: MEC/Mari/ Unesco, 1995. página 171.

    Aluno cidadão

    1. Muitos sambaquis brasileiros foram destruídos e usados para a produção de cal e de calcário e para outros fins, como local de descarte de lixo. Os sítios arqueológicos do Parque Nacional Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, no Piauí, também estão sob risco de destruição. Reúna-se a alguns colegas para pesquisar e debater as questões.
      1. Quais são as ameaças à preservação dos sítios arqueológicos brasileiros?
      2. Que medidas podem promover a preservação do patrimônio arqueológico brasileiro?

    Conversando com geografia

    7. Leia o texto e faça o que se pede.

    reticências Os seres humanos modificaram as ecologias florestais por dezenas de milhares de anos, usando técnicas que incluem a queima controlada, o manejo de espécies de plantas e de animais e o desmatamento seletivo.

    Um detalhe interessante é que essa queima controlada criou ambientes abertos que incentivavam a presença de animais e o crescimento de plantas comestíveis. reticências

    Já o efeito oposto – o desmatamento promoveu a infertilidade do solo – poderia também ter acontecido no passado reticências.

    ‘O exemplo clássico disso [disse o pesquisador pétric róberts] reticências vê os maias causando desmatamento maciço, erosão do solo e construção contínua de edifícios para as elites com a visão de que só os céus poderiam salvá-los reticências’.

    BONALUME NETO, Ricardo. Humanos alteram florestas há 45 mil anos. Folha de São Paulo, São Paulo, 3 setembro 2017, página B8.

    1. Quais técnicas usadas pelos seres humanos modificaram o ambiente natural há milhares de anos?
    2. Cite um efeito positivo e um efeito negativo das modificações feitas pelos seres humanos no ambiente.

    Mão na massa

    8. Reproduza um dos objetos cerâmicos apresentados a seguir usando argila. Depois de moldar sua peça, pinte-a com tinta guache.

    Fotografia 1. Objeto de cerâmica redondo com o centro fundo. Todo decorado por linhas vermelhas formando grafismos de espessuras e caminhos variados.
    Fotografia 2. Estatueta representando uma mulher sentada com uma tigela sobre as pernas esticadas. Tem as orelhas compridas, olhos formados por um risco e boca curvada para baixo. Segura a tigela com os braços esticados.
    1. Alguidar da cultura Marajoara, 400-1350 Depois de Cristo 2. Estatueta antropomorfa da cultura Santarém, 1000-1400 Depois de Cristo Museu Paraense Emílio Guêldi, Belém.

    Versão adaptada acessível

    8. Ouça atentamente a descrição dos objetos cerâmicos. A seguir, reproduza um dos objetos apresentados usando argila. Lembre-se que sua peça deve conter áreas em alto-relevo ou delimitadas por formas geométricas. Depois de moldar sua peça, pinte-a com tinta guache.

    Glossário

    Andina
    : referente à Cordilheira dos Andes, cadeia de montanhas que atravessa a América do Sul desde a Venezuela, ao norte, até o sul do Chile e da Argentina.
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    Mesoamérica
    : região da América que inclui os atuais El Salvador, Guatemala, Belize, o sul do México e parte de Honduras, Nicarágua e Costa Rica.
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