CAPÍTULO 9  Roma imperial

Fotografia. Destaque para uma construção de estrutura grande e circular composta por vários andares de arcos sobrepostos.
Anfiteatro Flaviano, mais conhecido como Coliseu, em Roma, Itália. Foto de 2020. Construído entre os anos 72 e 80, atualmente é um dos principais pontos turísticos da Itália.

Que imagem vem a sua mente quando falamos da cidade de Roma?

O Coliseu (ou, originalmente, Anfiteatro Flaviano) é um dos cartões-postais mais conhecidos do mundo. Construído em Roma entre os anos de 72 e 80 por ordem do imperador Vespasiano, o Coliseu tem 187 metros de comprimento, 155 metros de largura e 48 metros de altura (o equivalente a um prédio de 15 andares). Ele acomodava cêrca de 50 mil pessoas, que se distribuíam em lugares definidos segundo a classe social e o prestígio de cada um na sociedade romana.

Na arena do Coliseu, ocorriam jogos e espetáculos, como lutas de gladiadores, exibição de animais selvagens, execução de presos, apresentações teatrais e até mesmo a encenação de históricas batalhas navais vencidas pelos romanos. Nessas encenações, havia um mecanismo engenhoso que enchia a arena de água, transformando-a em uma imensa piscina onde embarcações simulavam o combate.

  • Você percebe semelhanças entre o Coliseu e alguma construção da atualidade voltada para o esporte ou entretenimento? Explique.
  • Muitos dos espetáculos ocorridos no Coliseu eram bastante violentos. Na sua opinião, espetáculos assim ainda empolgam as pessoas? Justifique.

Império Romano

No século um, a cidade de Roma era o centro de um vasto império, considerada um modelo a ser seguido. A cidade ligava-se aos territórios controlados por uma extensa rede de estradas, que garantia a comunicação e o deslocamento rápido de tropas para as demais regiões do império.

As áreas conquistadas por Roma fóra da Península Itálica se dividiam em províncias. Havia as províncias senatoriais, governadas por procônsules nomeados pelo Senado sem tropas romanas permanentes, e as províncias imperiais, militarmente ocupadas e comandadas por um governador, muitas vezes um chefe militar, que era indicado pelo imperador e se submetia diretamente a ele.

Desde o início do período imperial, o poder em Roma estava centralizado na figura do imperador, que era cultuado como uma divindade, mas seu poder não era hereditário. A escolha de um novo imperador sempre envolvia disputas e conspiraçõesglossário .

No Império Romano, os órgãos administrativos e as instituições da república continuaram existindo, mas sem a autonomia do passado, pois foram sujeitados ao imperador. O exército, no entanto, permaneceu uma instituição essencial para o contrôle das províncias e da sociedade, consumindo muitos recursos do Estado romano.

Império Romano (século dois)

Mapa. Império Romano, século dois. Mostra terras na Europa, na Ásia e na África ao redor do Mar Mediterrâneo. Legenda: 
Em verde: Império Romano em 117 depois de Cristo.
Linha tracejada vermelha: Fortificações romanas.
Linha rosa: Principais estradas romanas.
Círculo preto: Cidades.
No mapa, o Império Romano em 117 depois de Cristo abrange a Ilha da Bretanha, toda a Europa até a Germânia, o Oriente Médio, o norte da Arábia e todo litoral norte da África. Fortificações romanas estão localizadas na ilha da Bretanha: a Muralha de Antonino e a Muralha de Adriano. Também há fortificações romanas em vários pontos da divisa do Império Romano com a Germânia e entre a África Proconsular e a Mauritânia. As principais estradas romanas interligavam diversas cidades do império, estabelecendo a ligação entre as seguintes regiões: Lusitânia, Bética, Hispânia, Tarraconense, Aquitânia, Narbonense, Gália, Lionense, Bretanha, Bélgica, Germânia, Alpes, Rétia, Itália, Córsega, Sardenha, Sicília, Nórica, Panônia, Dalmácia, Dácia, Mésia, Macedônia, Acaia e Trácia, na Europa; Bitínia e Ponto, Galícia, Panfília, Lícia, Licaônia, Cilícia, Capadócia, Armênia, Assíria, Mesopotâmia, Síria, Judeia e Arábia, na Ásia; e Egito, Cirenaica, Africa Proconsular e Mauritânia, na África.
Na parte superior, rosa dos ventos e escala de 0 a 310 quilômetros.

Fonte: dubí jórj. Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2010. página 52-53.


O governo de Augusto

Como estudamos no capítulo 8, em 27 antes de Cristo, Otávio recebeu do Senado os títulos de Augusto e de príntxéps sênátus. Sua chegada ao poder marcou o fim da república em Roma e o início do Império Romano.

Durante seu governo, Augusto tomou um conjunto de medidas que assegurou prosperidade e estabilidade ao império por mais de um século. Esse período é conhecido como pács rômãna.

Inicialmente, ele adotou medidas para neutralizar qualquer oposição do Senado a seu governo, mantendo os privilégios e a possibilidade de enriquecimento da aristocracia senatorial. Também buscou pacificar a plebe instituindo a distribuição de alimentos e patrocinando espetáculos gratuitos para o povo. Essa política ficou conhecida como pão e circo. Além disso, ele empregou parte da população urbana mais pobre na construção de obras públicas.

Para controlar o exército, o imperador valorizou e recompensou os legionários. Ele distribuiu terras aos veteranos das guerras de conquista, enviou as tropas para as regiões fronteiriças e limitou o tempo de permanência dos generais em uma legião.

Augusto também adotou outras medidas, como a reorganização das finanças – estabelecendo uma fórma de cobrança de impostos nas províncias que variava de acordo com a riqueza de cada uma delas –, a promoção de algumas reformas sociais, o retorno dos festivais religiosos tradicionais e o incentivo ao culto a sua pessoa.

Escultura. Estátua de um homem de cabelos curtos e orelhas grandes. Está em pé com o corpo coberto por uma túnica. Em uma das mãos segura um papiro. A forma e as proporções do corpo são realistas.
Estátua romana do imperador Augusto, esculpida no século um antes de Cristo, encontrada em Velletri, Itália. Museu do Lúvri, Paris, França.

Saiba mais

A construção da figura do imperador

Augusto promoveu uma política de valorização da identidade cultural romana, associando as tradições locais a sua figura. Com esse objetivo, incentivou a realização de cultos religiosos de adoração a divindades conhecidas pelo povo e organizou dezenas de jogos e espetáculos públicos, que contavam com a participação de atores de vários lugares do império.

Contudo, foi a literatura a área mais estimulada por Augusto para engrandecer o povo romano e a figura do imperador. O poeta Virgílio, contemporâneo de Augusto, colaborou para divinizar e eternizar a figura de seu poderoso protetor. Em Eneida, poema épico escrito entre 29 antes de Cristo e 19 antes de Cristo, Virgílio narrou a epopeia de Eneias, herói troiano que fugiu enquanto sua cidade era destruída pelos gregos. Protegido pela deusa Vênus, sua mãe, o herói vagou por diversos lugares, enfrentou a fúria da deusa Juno e sobreviveu a imensos perigos até aportar na Península Itálica. Com essa narrativa, Virgílio divinizou a origem de Roma, o ancestral troiano Eneias e a nação que ele fundou nas terras da Itália. Ao glorificar o povo latino, o poeta também homenageou Augusto, considerado descendente de Eneias.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. De que maneira as áreas conquistadas por Roma fóra da Península Itálica foram divididas?
  2. O que aconteceu com as instituições republicanas após a instauração do império?
  3. Que medidas Otávio Augusto tomou para encerrar os conflitos em Roma?

O processo de integração

Durante o período imperial, o governo romano continuou o processo de romanização das províncias, difundindo a língua e a cultura latinas e implementando a organização administrativa romana nos territórios conquistados no período.

A difusão da cultura latina, no entanto, não foi uniforme em todas as províncias. Em algumas regiões, como a Lusitânia (atual Portugal), foi bem aceita, e o processo de romanização ocorreu sem muitos conflitos. Em outras, como na Britânia (atual Reino Unido), houve resistência, e a cultura latina teve pouco alcance.

Outra estratégia de integração foi a concessão da cidadania romana aos povos dos territórios dominados. Como na Grécia, o exercício da cidadania estava ligado à posse de direitos como o acesso a cargos públicos e às magistraturas e à participação em assembleias populares. O direito à cidadania, que poderia ser pleno ou parcial, estava restrito aos homens livres, sendo vetado a mulheres e escravizados.

A concessão da cidadania romana a um indivíduo ou a um povo transformou-se em instrumento estratégico de contrôle, pois isso dificultava a união de povos dominados contra Roma, reduzindo o risco de rebeliões. Ainda durante o período republicano, os romanos concederam o direito à cidadania aos povos dominados que habitavam a Península Itálica e que aceitaram a submissão a Roma, enquanto escravizaram ou impuseram pesados tributos aos que resistiram. Já no século três, o imperador Caracala promulgou o Édito de Caracala, concedendo a cidadania romana a todos os indivíduos livres do império.

Fotografia. Estrutura de um teatro em ruínas. Os assentos são em degraus no terreno, como uma arquibancada em forma de semicírculo. Na parte baixa pedaços do muro e do palco. Ao redor do teatro, colinas e vegetação.
Ruínas de um teatro romano localizado em djêmila, antiga colônia romana fundada no século um, na atual Argélia, norte da África. Foto de 2019.

Refletindo sobre

Difusão cultural é um processo pelo qual elementos de uma cultura são propagados para outras. Atualmente, discute-se muito o papel das tecnologias digitais de comunicação como fórma de difundir e até mesmo preservar elementos culturais. Qual é a sua opinião sobre esse assunto?


A prosperidade econômica

Durante o governo de Augusto e até o século dois da era cristã, o império foi ampliado, e a economia romana alcançou grande desenvolvimento. Nesse período de estabilidade e riqueza, a conquista de novas terras possibilitou o aumento da produção agrícola e da criação de gado. As terras dominadas transformaram-se em grandes zonas agropastoris, que abasteciam os moradores locais e geravam excedentes para o comércio com outras regiões.

Para garantir esse crescimento, intensificou-se o uso do trabalho escravo, que se tornou a base da economia romana. Um terço da população do império era constituído por escravizados, sendo a maioria prisioneiros de guerra. No entanto, embora existisse em todo o império, a escravidão só predominava na Península Itálica.

O comércio entre Roma e os povos dominados era importante fonte de renda para o império. As províncias romanas forneciam as principais matérias-primas e os produtos consumidos em Roma, como você pode ver no mapa apresentado a seguir. Porém, a concorrência dos produtos das províncias afetou negativamente os pequenos proprietários e os artesãos, que empobreceram e engrossaram a massa de plebeus marginalizados em Roma.

A economia do Império Romano (séculos um-quatro)

Mapa. A economia do Império Romano, séculos um a quatro.  Destaque para terras na Europa, na Ásia e na África ao redor do Mar Mediterrâneo. 
Legenda:
Em verde: Máxima extensão do Império (século dois).
Ilustrações indicam os seguintes elementos: cereais, marfim, escravizados, cavalo, gado, linho, seda, tecidos, ouro, prata, cobre, chumbo, zinco, ferro, mármore e cerâmica.
No mapa, a área ocupada pelo Império Romano abrange a Península Ibérica, a Gália, incluindo as cidades de Lutécia e Colônia, parte da Ilha da Britânia, a Península Itálica, incluindo as cidades de Milão e Roma, as ilhas de Córsega, Sardenha e Sicília, a Ilíria, a Trácia, incluindo a cidade de Bizâncio, a Grécia, incluindo a cidade de Atenas, na Europa; a Ásia Menor, incluindo a cidade de Pérgamo, a Mesopotâmia, a Palestina, na Ásia, o Egito, incluindo a cidade de Alexandria, a Númidia e a Mauritânia, no norte da África. Na Mauritânia há cereais. Na Numídia: escravizados, cavalo, cereais, mármore e cobre. No Egito: cereais, seda e ouro. Na Palestina: linho. Na Mesopotâmia: tecidos, cavalo, zinco, ouro e linho. Na Ásia Menor: cerâmica, mármore, cavalo, gado, cobre, tecidos, prata e cereais. Na Grécia: escravizados e mármore. Na Trácia: escravizados, gado, cereais, cavalo, prata e ouro. Na Ilíria: cerâmica, prata, ouro, gado e ferro. Na Península Itálica: cerâmica. Na Sicília: cavalo e cereais. Na Sardenha: cereais. Na Gália: cerâmica, gado, ferro, prata, chumbo, zinco e cereais. Na Península Ibérica: cereais, cobre, prata, ferro, linho, escravizados, cavalo, zinco, ouro e chumbo. Na Britânia: Zinco, cereais, ouro, cobre e chumbo.
Fora das fronteiras do império, na região ao norte da Britânia, cobre e ouro. Na região da Germânia, ferro, escravizados e cavalos. Na região da Dácia, prata e ouro. 
Ao norte do Mar Negro, cereais, escravizados e gado. Na Síria: cavalo. No norte da África, escravizados e marfim
No canto inferior, rosa dos ventos e escala de 0 a 340 quilômetros.

Fonte: PARKER, Geoffrey (edição). Atlas da história do mundo. São Paulo: Times/Folha de São Paulo, 1995. página 90-91.

Saiba mais

Rotas da seda

A seda é um tecido feito de um fio muito fino e brilhante encontrado no casulo do bicho-da-seda. Os chineses iniciaram a criação do bicho-da-seda para produzir tecidos há mais de 2 mil anos.

No auge do Império Romano, no século um, o uso da seda tornou-se moda. Partindo do leste chinês, o tecido era transportado por desertos, cordilheiras e estepes, percorrendo até Roma vários caminhos que ficaram conhecidos como Rotas da Seda.


Arquitetura e escultura no império

Durante o império, os romanos revelaram-se grandes mestres das construções. Os imensos edifícios públicos, como templos, monumentos comemorativos, anfiteatros e aquedutos, eram a expressão da grandiosidade do império. Por causa da ampla utilização do mármore nessas construções, os cronistas da época afirmaram que Augusto havia edificado uma “cidade de mármore”. As construções do período imperial suplantavam a arquitetura republicana em riqueza e singularidade.

Muitos desses edifícios eram decorados com bustos e estátuas de bronze ou mármore de imperadores e outros personagens da elite política e intelectual do império. A escultura romana seguia os padrões gregos de proporção ideal, serenidade e equilíbrio. Muitas vezes, apenas a cabeça era esculpida de maneira realista, de acordo com a fisionomia dos imperadores. O corpo representado era, geralmente, perfeito e idealizado, segundo os padrões de beleza da época.

Escultura. Busto de um homem de cabelo curto e liso, penteado sobre a testa. Tem nariz grande e lábios finos. Está com a cabeça de lado.
Escultura representando o imperador Trajano, século dois. Museu Arqueológico Nacional, Veneza, Itália.

História em construção

Coluna de Trajano

Os romanos também esculpiam relevos históricos. Os temas de caráter militar e político exaltavam as vitórias das legiões romanas e o poder dos imperadores. Os relevos eram esculpidos em monumentos comemorativos, como os arcos do triunfo, ou em colunas, sendo a mais conhecida a Coluna de Trajano.

Marco Úlpio Trajano foi imperador de Roma entre os anos 98 e 117. Durante seu governo, o Império Romano atingiu sua maior extensão territorial graças às conquistas militares promovidas pelo imperador. Uma das regiões conquistadas nesse período foi a Dácia, em 106, onde atualmente estão a Romênia e a Moldávia.

Para registrar sua vitória, Trajano mandou construir uma coluna de 38 metros de altura composta de 19 blocos de mármore, nos quais foram esculpidas figuras em baixo-relevo que contam a história das duas batalhas promovidas contra os dácios.


Escultura. Grande estrutura cilíndrica toda decorada por desenhos feitos em alto relevo. No topo a estátua de um homem.

Escultura. Destaque para os desenhos esculpidos em alto relevo na Coluna de Trajano. Diversos homens fortes enfileirados saindo de uma porta em arco. Abaixo, à esquerda, um ser de costas com a cabeça virada, olhando para eles. Ele tem cabelos e barba longos e representa o deus Netuno.
Coluna de Trajano, com detalhe do relevo, produzida no século dois. Fórum de Trajano, Roma, Itália. Foto de 2017.

Responda em seu caderno.

Questões

  1. Qual era a função dos relevos históricos? O que está representado nos relevos da Coluna de Trajano?
  2. Netuno, deus do mar, foi retratado na coluna (observe detalhe na imagem). O que isso revela sobre a religiosidade dos romanos nesse período?

Pompeia, a cidade destruída

A cidade de Pompeia situava-se no sul da Península Itálica, aos pés do vulcão Vesúvio. No ano 79 da era cristã, o Vesúvio entrou em erupção. A cidade e grande parte de seus habitantes foram soterradas por uma camada de 6 metros de cinzas e outros materiais vulcânicos.

Pompeia foi redescoberta, por acaso, no século dezesseis, mas apenas em 1748 escavações e pesquisas começaram a ser realizadas na área. Objetos e edifícios em bom estado de conservação fazem de Pompeia um dos sítios arqueológicos mais espetaculares do mundo.

Entre as ruínas descobertas pelos cientistas, há moradias de famílias ricas, casas de banho, anfiteatros e muitos outros vestígios que auxiliam os arqueólogos e os historiadores a conhecer a vida cotidiana dos romanos nas cidades do império.

Nas escavações, os arqueólogos encontraram ainda numerosos mosaicos e afrescos, pinturas feitas sobre paredes umedecidas para que as cores se fixassem bem. Os afrescos, muito populares em todo o império, geralmente representavam cenas domésticas. Os romanos usavam cores vivas e fortes, como o vermelho e o azul-escuro.

Fotografia. Sala com três paredes escuras com detalhes mais claros e em vermelho. No centro de cada uma das paredes,  molduras retangulares e pinturas feitas nas paredes. Os tons das pinturas são claros e não é possível identificar as imagens. No chão, ao centro, um mosaico retangular, com figuras geométricas.
Sala com afrescos romanos, no sítio arqueológico de Pompeia, Itália. Foto de 2020.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Que medidas foram tomadas pelos romanos para integrar os povos conquistados?
  2. Que fatores contribuíram para o enriquecimento de Roma no período imperial?
  3. Que efeito a concorrência dos produtos obtidos nas províncias romanas teve sobre os pequenos proprietários e os artesãos de Roma?

Cristianismo: uma nova crença em terras romanas

A religião cristã começou a ser praticada na província romana da Judeia, no início do período imperial, e com o tempo difundiu-se pela Europa e pela costa mediterrânea da Ásia e da África. Embora houvesse várias outras religiões nas terras do império, nenhuma delas promoveu mudanças tão profundas no mundo romano quanto o cristianismo.

Os valores cristãos rompiam com o passado greco-romano, inspirando em homens e mulheres uma nova atitude diante da vida. Ao incorporar os princípios da bondade e do amor ao próximo, os fiéis tendiam a se tornar mais resignados com as dores do presente e a transferir suas esperanças para a vida após a morte. Essas ideias eram estranhas tanto para a cultura greco-romana quanto para a religiosidade das sociedades orientais da época.

Pregações de Jesus

O fundador do cristianismo foi Jesus. Sua história foi narrada por seus discípulos nos Evangelhos do Novo Testamento, em particular nos livros dos apóstolosglossário Mateus, Marcos, Lucas e João.

Segundo as Escrituras, Jesus nasceu em uma família judia na cidade de Belém, na província romana da Judeia. Aos 30 anos, iniciou suas pregações, seguido por um grupo de apóstolos selecionado por ele. Jesus pregava a existência de um deus único, a igualdade de todos aos olhos de Deus, o perdão, o amor ao próximo e o desapego às riquezas materiais.

De acordo com a tradição religiosa judaica, um messiasglossário viria à Terra para salvar a humanidade de todos os pecados e ensinar o caminho para o reino de Deus. Quando Jesus iniciou suas pregações, muitos judeus acreditaram que ele era o esperado messias e adotaram seus ensinamentos como guia para a vida.

Em seus sermões e parábolasglossário , Jesus criticou autoridades e costumes judaicos e defendeu os segmentos marginalizados da população. Além disso, seu discurso pacifista e a negação do caráter divino do imperador eram uma ameaça à ideologia militarista romana e ao poder imperial. À medida que Jesus ganhava popularidade, alarmava as elites da Judeia e as autoridades romanas, temerosas de que seus ensinamentos pudessem incitar uma grande rebelião popular. Por causa desse posicionamento, Jesus foi, então, julgado pelas autoridades romanas e condenado a morrer na cruz, pena bastante comum no mundo romano.

Fotografia. Vitral colorido. Jesus de blusa de manga longa azul e uma túnica vermelha cobrindo o corpo diagonalmente. Ele está olhando para baixo, na direção das pessoas sentadas aos seus pés, com os braços erguidos para cima.
O Sermão da montanha, discurso atribuído a Jesus, representado no vitral da Igreja de São João Batista, em Zagreb, Croácia. Foto de 2017.

A difusão do cristianismo

Após a morte de Jesus, os apóstolos deram continuidade às pregações de seu mestre. Eles se espalharam pelo Oriente Médio, pela Grécia e pela Península Itálica, onde formaram as primeiras comunidades cristãs. Como as autoridades romanas proibiam os cultos cristãos, os apóstolos conduziam cerimônias em residências ou escondidos em catacumbasglossário .

Com a multiplicação das conversões, os apóstolos recrutaram discípulos para ajudar na propagação da fé cristã. Ao fim do século um, as igrejas cristãs de grande parte da Europa e da Ásia Menor já contavam com uma hierarquia de cargos e funções relativamente bem definida.

Além da obra de evangelização, os apóstolos se encarregaram de reunir os textos que continham a mensagem de Jesus. O resultado foi uma coletânea de 27 livros, escritos por autores diferentes ao longo do século um, que formam os textos canônicosglossário do Novo Testamento.

O cristianismo no século quatro

Mapa. O cristianismo no século quatro. Destaque para terras na Europa, oeste da Ásia e norte da África. 
Legenda:
Círculo preto: Grandes centros de difusão da religião cristã.
Estrela preta: Centros de difusão da religião cristã.
Em roxo: áreas fortemente cristianizadas.
Em rosa: Difusão restrita do cristianismo.
Em laranja: regiões não evangelizadas.
No mapa, os grandes centros de difusão da religião cristã são Roma e Constantinopla, na Europa; Jerusalém, na Ásia; e Alexandria, na África. Centros de difusão da religião cristã estão localizados em Viena, Aries, Milão, Aquileia, Tessalônica e Heracleia, na Europa; Chipre, Antioquia, Nisibis e Éfeso, no Oriente Médio; e Cartago, na África. 
Áreas fortemente cristianizadas abrangem principalmente porções descontínuas da Península Ibérica, o sul da atual França, incluindo as cidades de Aries e Viena, porções descontínuas da Península Itálica, incluindo a cidade de Roma, alguns focos próximos ao Mar Adriático, incluindo a cidade de Aquileia. Também há focos descontínuos na Península Balcânica, incluindo a cidade de Tessalônica; na região da atual Turquia, incluindo as cidades de Heracleia, Constantinopla, Éfeso e Antioquia; no Oriente Médio, incluindo a cidade de Jerusalém; no litoral da África, incluindo as cidades de Alexandria e Cartago. Áreas de difusão restrita do cristianismo estão localizadas ao redor da maioria dos territórios fortemente cristianizados, exceto na África. Destaque para as porções ao norte da atual França, ao norte da Península Itálica, no centro da Sicília, no norte da Península Balcânica, no sul da atual Turquia e à lesta de cidade de Jerusalém. Regiões não evangelizadas ocupam a maior parte do território europeu, a maior parte do litoral norte africano e o oeste da Ásia.
No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 290 quilômetros.

Fonte: duê, Andrea. Atlas histórico do cristianismo. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1999. página 28-29.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Por que as pregações de Jesus perturbavam a ordem na província da Judeia?
  2. De que maneira o cristianismo se difundiu pelo Império Romano?

Perseguição e triunfo do cristianismo

Os cristãos recusavam-se a adorar o imperador e os deuses pagãos; por isso, passaram a ser perseguidos pelas autoridades romanas. As perseguições, porém, não ocorriam o tempo todo. Havia períodos de paz, em que os cristãos podiam percorrer as terras romanas levando a mensagem deixada por Jesus.

A perseguição não impediu o crescimento do novo credo e a consolidação da Igreja cristã, cada vez mais organizada. A partir do século três, quando os imperadores começaram a perder fôrça e a unidade do império passou a ser ameaçada, a Igreja já era uma instituição poderosa, capaz de influenciar grande parte dos habitantes do império. Por esse motivo, tornou-se importante ter seu apoio.

A legislação imperial demonstrou essa mudança: em 313, pelo Édito de Milão, o imperador Constantino, já convertido, concedeu liberdade de culto aos cristãos e adotou um símbolo cristão para sua armada (o crisma); em 380, o imperador Teodósio, pelo Édito de Tessalônica, tornou o cristianismo a religião oficial do Império Romano.

Em menos de quatro séculos, o cristianismo deixou de ser uma religião perseguida para se transformar em religião de Estado. Conheça o que o historiador Pierre Grimal escreveu a respeito do assunto.

[No século três] ainda se verificam perseguições reticências mas também é evidente que reticências a tolerância em relação aos cristãos surge como uma necessidade política e torna-se regra. reticências

A religião cristã adquirira já um grande peso no império. Um dos dois Césares reticências publica reticências um édito de tolerância. O que equivalia a reconhecer o poder do deus dos cristãos. reticências O poder já não persegue os cristãos, favorece-os, ajuda-os. reticências Em vez de aparecer como uma fôrça mortal no império, o cristianismo é um elemento de coesão, um fator de unidade no Ocidente reticências.

grimal, piér. O Império Romano. Lisboa: Edições 70, 1999. página 129-131.


Responda em seu caderno.

Explore

De acordo com o autor, o cristianismo, em vez de ser uma fôrça mortal, atuou como fator de unidade do Império Romano. Explique.

Pintura. À direita, homens de olhos arregalados estão aglomerados atrás de um homem grande de vestes brancas. Ele posiciona uma haste fina para frente, na direção de pessoas ajoelhadas e amontoadas umas sobre as outras.
A travessia do Mar Vermelho, arte cristã primitiva feita em uma catacumba em Roma, século quatro. A partir desse século, os cristãos não precisaram mais se esconder em catacumbas para realizar seus cultos.

Refletindo sobre

Você já foi excluído de algum grupo ou perseguido por causa de alguma crença? Que sentimentos a situação provocou em você? Quando precisa conviver com alguém que pensa diferente de você, que atitudes procura tomar?


Povos “bárbaros”

De origem grega, a palavra bárbaro era usada para nomear os estrangeiros, aqueles cuja fala soava, aos gregos, estranha, balbuciante. No início, o termo designava povos considerados inferiores, selvagens e incivilizados, os que não faziam parte da cultura grega. O termo, portanto, adquiriu uma conotaçãoglossário pejorativaglossário , pois, para os gregos, todos os estrangeiros – inclusive os romanos – eram considerados “bárbaros”.

No século um, porém, a palavra passou a ser empregada pelos romanos. Mantendo a conotação pejorativa, o termo era usado para identificar os povos que viviam fóra das fronteiras do império, ou seja, que não partilhavam dos costumes nem da organização política romana. Entre os povos denominados “bárbaros”, o grupo predominante era formado pelo conjunto de povos germânicos originários do centro-norte e do nordeste da Europa: francos, ostrogodos, visigodos, vândalos, anglos e saxões, entre outros.

Embora todos os estrangeiros fossem igualmente classificados como “bárbaros”, havia diferenças marcantes em sua cultura e em seu modo de vida. Alguns eram nômades e viviam quase exclusivamente da prática da pilhagemglossário ; outros viviam em vilas, dedicando-se a atividades agropastoris.

Até o século quatro, o convívio dos romanos com os povos chamados “bárbaros” foi relativamente pacífico. Muitos líderes “bárbaros” estabeleciam com os imperadores de Roma acordos pelos quais podiam se instalar nas terras fronteiriças do império em troca de auxiliar na segurança da região. Eles também serviam as legiões romanas como mercenários e, quando os escravizados começaram a se tornar escassos, obtiveram permissão para entrar no império a fim de servir como mão de obra.

Mosaico. Homem montado a cavalo. Ele usa uma capa e está com uma das mãos levantadas. À esquerda um castelo.
Mosaico representando um cavaleiro do povo vândalo na cidade de Cartago, na Tunísia, século seis. Museu Britânico, Londres, Reino Unido.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. A quem os romanos chamavam de “bárbaros”?
  2. De que maneira os povos “bárbaros” entraram no Império Romano?

A crise do Império Romano

No século três, o Império Romano viveu uma crise profunda, na qual se modificaram as características da sociedade, da economia, da política e da cultura de Roma. Acompanhe como essa crise se desenvolveu.

Por séculos, os romanos lutaram para dominar outros povos. No início do século dois, com as conquistas de Trajano, que governou entre 98 e 117, o império atingiu sua extensão máxima. No entanto, suas campanhas militares foram muito dispendiosasglossário e algumas delas não obtiveram êxito. Adriano, seu sucessor, renunciou às guerras de conquista e abandonou os territórios da Mesopotâmia, submetidos por Trajano, por considerá-los difíceis de administrar.

Com a diminuição das guerras de conquista, as fronteiras do império mantiveram-se estáveis. As legiões foram deslocadas para controlar os territórios já conquistados e garantir a ordem interna, além de reforçar as fronteiras.

Os gastos para administrar um território tão vasto, no entanto, não diminuíram. O Estado romano precisava garantir suprimentos para o exército e alimento para a população pobre, conservar as estradas para permitir a comunicação com as províncias, remunerar funcionários etcétera

Além disso, com a redução das guerras de conquista, a entrada de dinheiro nos cofres públicos diminuiu. Os saques às cidades inimigas e os tributos pagos pelas províncias eram insuficientes. Assim, para sustentar os gastos do Estado e pagar os legionários, os imperadores aumentaram os impostos, o que provocou revoltas populares.

Simultaneamente, o império foi duramente impactado pela diminuição do número de escravizados por causa da redução das guerras de conquista. A maior parte da mão de obra escravizada do império era composta de prisioneiros de guerra. A falta de escravizados afetou principalmente as propriedades da Península Itálica, que dependiam dessa mão de obra para todo tipo de trabalho.

Charge. Uma pessoa escravizada carrega um tablado nas costas com dois homens gordos em cima. O escravizado é magro e usa roupas velhas. Ele está com os dentes cerrados, a testa franzida e suando. Os dois homens que ele carrega estão sentados, comendo e bebendo. Um diz: EU COSTUMAVA TER QUATRO CARREGADORES! E o outro complementa: NESSES DIAS, TODOS NÓS PRECISAMOS FAZER SACRIFÍCIOS!
Charge de guéri e glin mécói sobre a diminuição de escravizados em Roma, 2011.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

11. Que relação pode ser feita entre a enorme extensão do Império Romano e a crise que o enfraqueceu?


Invasões “bárbaras”

No século três, severas condições climáticas e o ataque de outros povos forçaram muitos grupos germânicos a migrar em direção às terras romanas. No entanto, à medida que as dificuldades econômicas do império se intensificaram, os deslocamentos desses povos, antes pacíficos, tornaram-se violentos.

Nas batalhas, muitas cidades e estradas romanas ficaram destruídas, e a fome agravou-se em razão dos problemas de abastecimento. Com medo, parte da população refugiou-se nos campos, em um processo que ficou conhecido como ruralização do império.

Nos campos, muitos pequenos proprietários empobrecidos procuraram se proteger das guerras e encontrar meios de sobreviver. Assim, em troca de proteção, eles cederam suas terras aos grandes proprietários, passando a trabalhar para eles como colonos e entregando-lhes parte do que produziam. Esse sistema de trabalho, chamado de colonato, foi aos poucos prevalecendo no lugar do sistema escravista nos territórios do Império Romano.

No ano 330, diante da gravidade da crise, o imperador Constantino procurou outro local para sediar a capital do império, longe dos motins, dos golpes e das conspirações que abalavam Roma. A cidade escolhida foi Bizâncio, antiga colônia grega que, ao se transformar em capital romana, passou a se chamar Constantinopla, em homenagem a Constantino.

Escultura. Diversos homens de túnica, aglomerados. Alguns portam escudos e lanças. Outros estão montados a cavalo. Muitos estão caídos no chão ou uns sobre os outros.
Alto-relevo de um sarcófago representando uma batalha entre romanos e germânicos, século três. Museu Nacional Romano, Roma, Itália.

Roma monárquica, republicana e imperial

Linha do tempo vertical. Roma monárquica, republicana e imperial. A linha está dividida em três cores: Azul - MONARQUIA; Roxo - REPÚBLICA; e Verde - IMPÉRIO. De baixo para cima, na parte correspondente à monarquia, os seguintes marcos: 753 antes de Cristo: início da monarquia em Roma. 676 antes de Cristo: construção do Templo de Júpiter, do Fórum e do Circo Máximo, entre outros. Marcando o fim da monarquia e o início da república: 509 antes de Cristo: início da República Romana. A seguir, na parte da linha correspondente à república, os marcos: 494 a 287 antes de Cristo: período de lutas dos plebeus pelos seus direitos. 146 antes de Cristo: final da terceira e última Guerra Púnica (264 a 146 antes de Cristo). Os romanos dominam a maior parte do Mediterrâneo. Marcando o fim da república e o início do império: 27 antes de Cristo: início do Império Romano com Otávio Augusto. A seguir, na parte da linha correspondente ao império: 1: nascimento de Jesus. 117: máxima extensão do Império Romano após conquistas do imperador Trajano. 380: instituição do cristianismo como religião oficial de Roma. 476: deposição do último imperador romano.

Queda do Império Romano

O Império Romano manteve-se unificado até o ano 395, quando foi dividido em Império Romano do Oriente, com capital em Constantinopla, e Império Romano do Ocidente, sediado em Ravena e, mais tarde, em Milão. O Império Romano do Oriente tornou-se conhecido como Império Bizantino. Diferentemente do ocidental, o Império do Oriente conseguiu resistir aos ataques externos até 1453, quando a capital Constantinopla foi tomada pelos turcos.

O Império Romano do Ocidente caiu em 476, quando foi deposto Rômulo Augústulo, o último imperador romano. Vários séculos depois, historiadores europeus elegeram esse acontecimento político como o marco do fim da Antiguidade e o início de um longo período de quase mil anos, que ficou conhecido como Idade Média.

O avanço germânico e a divisão do Império Romano

Mapa. O avanço germânico e a divisão do Império Romano. Destaque para terras na Europa, na Ásia e na África ao redor do Mar Mediterrâneo. 
Legenda:
Linha marrom: Limites do império Romano do Oriente.
Seta vermelha: Anglos e saxões.
Seta verde-claro: Francos.
Seta roxa: Vândalos.
Seta verde escuro: Hunos.
Seta azul: Ostrogodos.
Seta cinza: Visigodos.
No mapa, os limites do Império Romano do Oriente se estendem desde o norte do Egito, incluindo a cidade de Alexandria, o oeste da Ásia, incluindo a cidade de Jerusalém, a maior parte do Mar Negro, o sudeste da Europa, incluindo a cidade de Constantinopla, e toda a porção leste do Mar Mediterrâneo. O Império Romano do Ocidente abrange a maior parte da porção europeia do antigo império, incluindo a Península Itálica, onde estão localizadas as cidades de Roma, Ravena e Milão, a Gália, onde estão as cidades de Lutécia e Toulouse, a Hispânia, onde estão as cidades de Toledo e Cartagena, e a Ilha da Bretanha, onde está a cidade de Londres. Abrange também a porção oeste do norte da África, incluindo as cidades de Trípoli e Cartago e toda a porção oeste do Mar Mediterrâneo. O avanço de anglos e saxões ocorreu do nordeste da Europa em direção a Londres, na Bretanha. Os francos avançaram do nordeste da Europa em direção a Lutécia. Os vândalos partiram do nordeste da Europa, atingindo Toulouse, as proximidades de Toledo, o norte da África e as ilhas de Sardenha e Córsega. Os hunos avançaram da Ásia para o nordeste da Europa e depois para Ravena. Os ostrogodos partiram do sudeste da Europa, inicialmente em direção ao Império Romano do Oriente e depois para as proximidades de Milão. Os visigodos partiram da Ásia inicialmente em direção ao Império Romano do Oriente, na Península Balcânica. De lá, partiram para o Império Romano do Ocidente em direção a Roma.
No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 350 quilômetros.

Fonte: Quínder, Rérmãn; Rért, Mânfred; Ríguelmãn, Vérner. Atlas histórico mundial: de los orígenes a nuestros días. vigésima segunda edição Madri: Akal, 2007. página 116.

Conexão

Laboratório de Arqueologia Romana Provincial

Disponível em: https://oeds.link/2VxPT1. Acesso em: 21 março 2022.

O Laboratório de Arqueologia Romana Provincial (lárp) é um projeto desenvolvido pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (máe uspi). Nele é possível acessar textos, imagens e vídeos sobre a Roma antiga, além de conhecer aplicativos educacionais desenvolvidos pelos pesquisadores.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

12. Que importante medida administrativa foi tomada pelos imperadores para facilitar o governo do Império Romano?


Leitura complementar

Roma: glória ou exclusão

O texto do historiador francês alã xavô trata do início da entrada dos chamados povos “bárbaros” no território romano.

A entrada em território romano podia ocorrer por escravidão, deportação, deslocamento de população, pedido de asilo ou voluntariamente. A primeira era a mais brutal, se aplicava a bárbaros derrotados, capturados ou comprados no Barbaricumglossário . Entretanto, bárbaros ‘deslocados’ podiam conservar sua liberdade. Do início do século um ao início do século cinco, foram recenseados mais de 30 deslocamentos desse tipo. Os números variavam de alguns milhares a algumas dezenas, até centenas, de milhares de pessoas.

reticências Alguns traços caracterizavam o mundo germânico: vida tribal, economia essencialmente agropastoril, existência de grupos diversos e móveis, sociedade militarizada e mesmo violenta, transmissão oral dos costumes. reticências Cultos eram realizados principalmente em sítios naturais e eram praticados sacrifícios humanos. Não havia civilização urbana nem cultura escrita, apesar da presença de uma fórma de escrita, as runas.

A sociedade romana associava a afirmação da sua identidade com uma atitude de abertura. Sem dúvida, a noção de barbárie é negativa (irracionalidade, bestialidade, imoralidade). Mas os romanos, que se definiam de bom grado como um povo que soubera civilizar seu componente bárbaro original, podiam aceitar a presença do ‘outro’ sem reduzi-lo à escravidão, com a condição de manter o contrôle da relação de fôrças e tirar vantagem disso: não era qualquer um, nem de qualquer maneira. Senão a rejeição venceria, mesmo que seja discutível falar em racismo.

Essa política de acolhimento tinha três objetivos: aumentar a produção agrícola com uma eventual diminuição de preços; aumentar as receitas fiscais enquanto o principal item das despesas era o exército; dispor de uma reserva de recrutas. Muitas vezes, no império, preferiam acolher os bárbaros concedendo-lhes liberdade a reduzi-los à escravidão, como se fazia no período republicano. Solução menos arriscada (diminuía possibilidade de revoltas servis) e talvez mais proveitosa. Os bárbaros deslocados que conservaram sua liberdade tinham vocação para a agricultura, podendo ser, a princípio, contribuintes ou mesmo soldados. Os voluntários, especialmente aristocratas, traziam conhecimentos, clientelas e promessas de acordo no Barbaricum.

alã xavô. Roma: glória ou exclusão. História Viva. Grandes temas: bárbaros. São Paulo: Duetto, número 28, página 25-27, 2010.


Responda em seu caderno.

Questões

  1. Com base em seus conhecimentos e nas informações oferecidas pelo texto, compare o mundo romano ao mundo germânico pelo menos em três aspectos.
  2. As diferenças entre romanos e “bárbaros” impossibilitavam a convivência entre eles? Explique.
  3. Por que manter os germânicos em liberdade era vantajoso para os romanos?
  4. Pesquise em jornais, revistas e sites de notícias as políticas nacionais de imigração do Brasil e o tratamento dispensado aos imigrantes pelos brasileiros. Com base nos resultados obtidos, você considera que o Brasil é um país tolerante com os estrangeiros? Justifique sua resposta usando informações pesquisadas.

Atividades

Responda em seu caderno.

Aprofundando

1. Leia o trecho de um texto escrito pelo imperador Otávio em que ele conta como recebeu o título de Augusto. Depois, responda às questões.

Durante o meu sexto e sétimo consulado, reticências transferi o governo da república, passando-o da minha pessoa às mãos do Senado e do povo romano. Em compensação de tudo isso, por decreto do Senado foi-me conferido o título de Augusto e a minha porta ficou enfeitada com louros em nome do estado; uma coroa cívica foi posta na porta e na cúria Júlia foram colocados um escudo de ouro e uma inscrição para certificar que aquele escudo áureo me fôra oferecido pelo Senado e pelo povo romano devido a minha virtude, minha clemência, minha justiça e piedade reticências.

rés gestáe diví augústi. 34.1-2. São Paulo: Nobel, 1957. página 45-46. In: ANTIQUEIRA, Moisés. O escudo da virtude e a ideologia do principado augustano. Revista de História e Estudos Culturais, Uberlândia, ano cinco, volume 5, número 3, página 1-2, julho-setembro 2008.

  1. Que símbolos de poder Otávio menciona nesse texto?
  2. O que esses símbolos representavam?
  3. Identifique, no discurso do imperador Otávio, de que maneira ele busca afirmar a legitimidade de seu poder no Império Romano.

2. Observe esta imagem e faça o que se pede.

Escultura. Imagem esculpida em alto relevo. À esquerda, um homem em pé, sem camisa, utilizando capacete, espada e escudo, luta contra dois leões. À direita, outro homem empurra um dos leões em direção ao homem da esquerda. No chão, outro homem caído. No canto superior esquerdo, duas pessoas observam a luta em um camarote.
Relevo romano representando uma luta entre gladiadores e leões no circo, século um antes de Cristo Museu Nacional Romano, Roma, Itália.
  1. Identifique e descreva os personagens e a cena representados na imagem.
  2. Relacione a imagem com a política adotada pelo Estado romano imperial em relação à plebe romana.

3. O trecho a seguir foi retirado de uma carta enviada por Caio Plínio, governador romano da Bitínia, a Trajano, imperador de Roma, sobre o julgamento de cristãos.

Aqui vos apresento a regra que segui em relação aos cristãos que compareceram perante meu tribunal. Perguntei-lhes se eram cristãos. Aos que confessaram sê-lo, fiz-lhes a pergunta uma segunda e uma terceira vez e ameacei-os com o suplício. Como persistiram na resposta, para lá os mandei. Na verdade, pensei que deveria punir pelo menos a sua teimosia e a sua inflexível obstinação.

Publicou-se um escrito, que não indicava o autor, em que se denunciavam numerosas pessoas que negam estar ou ter estado ligadas ao cristianismo. Na minha presença invocaram os deuses e ofereceram incenso e mirra a vossa imagem e às estátuas das nossas divindades. reticências

Uma grande quantidade de pessoas de todas as idades e de todas as categorias sociais está todos os dias implicada nessa acusação. Esse mal contagioso não infectou só as cidades: atingiu os campos e as aldeias.

CAIO PLÍNIO [século dois]. In: Coletânea de documentos históricos para o 1º grau: 5ª a 8ª séries. São Paulo: ésse ê/sêmp, 1980. página 67.

  1. Por que os réus eram tratados como criminosos?
  2. Que método o governador adotava no julgamento dos réus?
  3. Como o “crime” cometido pelos acusados era visto pelo governador romano?
  4. Transcreva a passagem do texto que trata da propagação desse “crime” nos domínios romanos.

  1. Organize as afirmativas a seguir em seu caderno, de modo que fiquem na ordem cronológica correta.
    1. O Império Romano foi dividido em Império Romano do Oriente e Império Romano do Ocidente.
    2. Muitos grupos germânicos migraram para terras romanas e os deslocamentos em massa se tornaram violentos.
    3. O imperador Constantino transformou a cidade de Bizâncio na nova capital do império, que passou a se chamar Constantinopla.
    4. O império passou por um processo de ruralização, pois parte da população, com medo das guerras, procurou se proteger no campo.

Aluno cidadão

5. Na cidade de Roma, a abertura de uma linha de metrô é uma tarefa desafiadora. Os engenheiros precisam fazer estudos cuidadosos para não ameaçar os sítios históricos, e, se isso acontece, eles refazem o projeto original para evitar danos ou destruição.

No Brasil, existem instituições públicas criadas para preservar o patrimônio histórico e cultural, mas as ações da sociedade civil ainda são fundamentais para alertar e denunciar algum tipo de dano a ele. Você sabe como é possível colaborar como cidadão nesse sentido?

  1. Em grupo, procurem saber se no município em que moram há obras e construções que estão afetando imóveis ou monumentos que têm significados importantes para a memória da população. Escrevam uma lista.
  2. Escolham um dos itens da lista e desenvolvam uma pesquisa histórica sobre a origem do imóvel ou do monumento e descrevam o tipo de risco que sofre.
  3. Conversem sobre a importância da preservação do patrimônio histórico. Depois, debatam a fórma de comunicar a situação do patrimônio pesquisado aos órgãos públicos competentes, como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (ifãn).

Conversando com educação física

6. Alguns historiadores afirmam que, na Roma antiga, os soldados executavam um treinamento militar que consistia em riscar quadrados no chão e correr pisando dentro deles, sem pisar nas linhas, vestidos com suas armaduras e carregando suas armas e mochilas de campanha. Com o tempo, a prática foi adotada pelas crianças que imitavam os treinamentos dos soldados, o que deu origem ao jogo de amarelinha.

O “treinamento/brincadeira” foi difundido por todo o território dominado e acabou assimilado pela população das províncias.

Com a ajuda do professor ou da professora de educação física, desenhem no chão do pátio ou na quadra diferentes diagramas de amarelinha, variando o tamanho e o percurso. Vocês podem desenhar duas iguais e organizar uma competição para descobrir quem consegue passar por todos os quadrados primeiro pisando com apenas um pé.

Após o jogo, procurem responder à seguinte pergunta: que tipo de benefício esse treinamento poderia oferecer aos legionários?

Você é o autor

7. O texto epistolar (texto escrito em fórma de carta) foi muito popular no Império Romano. Esse gênero de escrita, sem destinatário, atinge o leitor de maneira direta, facilitando a disseminação e o compartilhamento de ideias, opiniões, conselhos e pensamentos sobre temas gerais, como o sentido da vida ou as virtudes humanas. Encontramos na Bíblia treze reflexões desse gênero literário, que são as Epístolas de Paulo, discípulo de Jesus.

Sua tarefa é imaginar-se um magistrado do Estado romano e produzir um texto epistolar sobre a crise que se abateu sobre o império a partir do século três e as razões para que tenha ocorrido. Não se esqueça de identificar o lugar que ocupa na administração pública.


Fazendo e aprendendo

Peça teatral

Você já leu um texto teatral? É o texto que serve de base para a encenação de uma peça. Vários textos teatrais produzidos na Grécia antiga sobreviveram até os nossos dias. Os gregos davam tanto valor à arte da representação que estabeleceram eventos no calendário das cidades para apresentações de peças trágicas e cômicas.

Leia a seguir um trecho da comédia As rãs, de Aristófanes, apresentada em 405 antes de Cristo A peça trata da descida do deus Dioniso ao inferno para trazer de volta à vida um autor de tragédias. Na cena destacada, Dioniso deve escolher Eurípides ou Ésquilo para resgatar do inferno.

As rãs

DIONISO – Meus amigos, vou me abster de dar o veredito; não quero atrair o ódio de nenhum dos dois; acho um deles esperto, e o outro me encanta.

HADES – Dirigindo-se a DIONISO. Então você não terá atingido o objetivo de sua viagem.

DIONISO – E se eu der o veredito?

HADES – Você poderá levar consigo de volta à vida aquele entre os dois que for seu preferido.

DIONISO – Muito obrigado! Tudo bem; então ouçam: vim procurar um poeta trágico aqui.

EURÍPIDES – Com que objetivo?

DIONISO – Para que Atenas, salva do perigo, mande representar novamente tragédias. Aquele entre vocês dois que der à cidade um bom conselho, eu levo comigo. E, para começar, que pensam vocês dois de Alcibíades? Agora ele está numa pior.

EURÍPIDES – Que pensam disso os atenienses?

DIONISO – O que eles pensam? Eles querem Alcibíades; ao mesmo tempo odeiam ele, mas não podem passar sem ele. Vocês dois devem dar sua opinião.

EURÍPIDES – Odeio um cidadão moroso na hora de servir à pátria e pronto para prejudicá-la, esperto consigo mesmo e inútil para a cidade.

DIONISO – Ótimo, por Poseidon! E você, Ésquilo, qual é a sua opinião?

ÉSQUILO – Não é prudente criar um filhote de leão numa cidade; quem fizer isso terá de obedecer aos caprichos da ferazinha.

ARISTÓFANES. As vespas; As aves; As rãs. Rio de Janeiro: Jorge zarrár, 2004. página 269-270.


Para analisar um texto teatral, tenha em mente estes aspectos e procedimentos:

  1. Note que o texto teatral não tem um narrador. As informações estão contidas basicamente em diálogos, e cada fala é precedida pelo nome do personagem.
  2. Observe o que um personagem diz e faz. As ações dos personagens são indicadas nas rubricas, que são sempre destacadas em itálico. No trecho apresentado, por exemplo, a rubrica indica com quem o personagem fala: “HADES – Dirigindo-se a DIONISO”.
  3. Preste atenção aos nomes dos personagens, pois eles carregam significados e dão pistas sobre a época em que a peça foi produzida. No trecho da página 180, há referências a figuras da cultura grega, como os deuses da mitologia (Dioniso, deus do vinho e do teatro; Hades, deus do mundo dos mortos; Poseidon, deus do mar), os dramaturgos Eurípides (autor da tragédia Medéia) e Ésquilo (autor de A Orestéia), e o político Alcibíades (general que havia sido aliado dos espartanos e era importante em Atenas na época da representação da peça).
  4. Identifique a época em que o texto teatral foi escrito e a sociedade que ele retrata. Lendo o trecho de As rãs com cuidado, pode-se concluir, por exemplo, a importância que se dava ao posicionamento político dos cidadãos. Em outras palavras: quem deveria voltar à vida não era o autor mais talentoso, mas aquele que compreendesse melhor o momento político pelo qual Atenas passava.

Responda em seu caderno.

Aprendendo na prática

Reúna-se com alguns colegas para montar uma cena curta de teatro com base em um dos assuntos estudados na unidade. Adotem os procedimentos a seguir.

  1. Selecionem o tema da peça: que assunto estudado pode ser representado em uma cena?
  2. Pesquisem informações sobre o tema escolhido: há livros, filmes, obras de arte ou outras peças teatrais produzidas a respeito dele?
  3. Com base nas pesquisas, definam o que desejam contar. Para isso, pensem nas questões: como essa história está estruturada? Como ela começa e como deve terminar? Quantos e como são os personagens? O que acontece com os personagens? Como eles interferem ou são afetados pelo contexto histórico em que se passa a peça?
  4. Definam a divisão das tarefas entre os integrantes do grupo. Para isso, verifiquem quem deseja interpretar os personagens. Quem não desejar encenar, pode realizar outras atividades necessárias à apresentação da peça, como selecionar os figurinos, por exemplo.
  5. Definidas as tarefas de cada um, escrevam uma sinopse do que deve acontecer na cena. Depois disso, pensem nos diálogos. Não se esqueçam de inserir as rubricas, pois elas vão dar indicações das ações dos atores.
  6. Distribuam o texto aos atores e iniciem os ensaios. Dependendo do que ocorrer, pode ser necessário alterar um pouco o texto ou excluir algo.
  7. Após a definição do texto, ensaiem bastante, a fim de adquirir confiança para apresentar a peça para o professor ou a professora e demais colegas dos outros grupos.
  8. No dia da apresentação, pensem em como será a disposição do público e como ele vai entrar em contato com a experiência proposta por vocês. Se desejarem, pesquisem sobre o teatro contemporâneo e observem como são organizados os diferentes espaços em uma encenação – isso pode ajudá-los a pensar sobre os espaços da escola que podem usar. Boa sorte!

Glossário

Conspiração
: trama secreta combinada entre diversos indivíduos contra uma autoridade.
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Apóstolo
: pessoa que se dedica a propagar um ideal; discípulo de Jesus Cristo.
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Messias
: salvador; redentor; líder prometido por Deus.
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Parábola
: narrativa alegórica que transmite uma mensagem de fórma indireta por meio de comparações.
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Catacumba
: conjunto de galerias subterrâneas utilizadas para sepultamento e celebração de ritos.
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Canônico
: de acordo com as regras e a doutrina da Igreja.
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Conotação
: algo que uma palavra ou coisa sugere por associações de diversos tipos; sentido figurado.
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Pejorativo
: em que há desvalorização da qualidade ou da importância de alguém ou algo.
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Pilhagem
: roubo, saque, praticado principalmente por tropas conquistadoras.
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Dispendioso
: que dá muita despesa; caro.
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: nome pelo qual se identificava o território localizado ao norte do Império Romano, onde habitavam os povos chamados “bárbaros”.
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