CAPÍTULO 12  Transformações na Europa medieval

Fotografia. Pessoas com armaduras e capacetes de metal empunham espadas e escudos. Elas estão em confronto. Ao fundo pessoas observam e fotografam.
Representação de combate entre cavaleiros armados semelhante aos dos torneios medievais, na região de Madri, Espanha. Foto de 2021.

Você já ouviu falar dos torneios medievais? No começo do século doze, esses espetáculos eram realizados em muitas regiões da Europa. Caracterizados como eventos da nobreza, duravam vários dias e reuniam dois grupos de cavaleiros fortemente armados que disputavam um espaço por meio de ataques, emboscadas e simulações de fuga. Os combates eram realizados geralmente em campos e bosques abertos.

Os torneios eram um momento para os cavaleiros demonstrarem ter qualidades, como coragem, inteligência, fôrça e honra, valorizadas na época. Entretanto, por serem muito violentos, os torneios foram proibidos pela Igreja, que considerava que eles incentivavam sentimentos como o ódio, a violência, a soberba e a inveja.

Com o passar do tempo, foram criadas algumas regras para evitar as mortes e os acidentes nos torneios, como a substituição da ponta das lanças por uma coroa e a inserção de uma barra de madeira entre os combatentes. Além disso, a maior parte dos torneios passou a ser disputada por apenas dois cavaleiros: as chamadas justas. Essas mudanças transformaram os eventos em jogos e espetáculos de entretenimento, apreciados por toda a população.

Atualmente, esses torneios ainda ocorrem em diversos lugares da Europa, como campeonatos de lutas medievais, e atraem pessoas interessadas na história medieval.

  • Por que podemos afirmar que os torneios medievais eram reflexos de uma sociedade marcada pelas atividades militares?
  • Na sua opinião, os torneios medievais podem ser considerados um esporte? Justifique.

As inovações agrícolas

A partir do século onze, a Europa medieval passou por profundas transformações, iniciadas principalmente com o desenvolvimento de técnicas agrícolas que aumentaram a produção de alimentos. Uma dessas inovações foi a charrua, espécie de arado feito de ferro. Ela penetrava profundamente na terra, aumentando a oxigenação e a fertilidade do solo.

Outra inovação importante ocorreu na fórma de atrelamento dos animais utilizados nos campos. Os arreios não eram mais presos ao pescoço dos animais, mas a seus ombros e dorso. Essa mudança possibilitou a melhor distribuição do peso dos arados no corpo dos animais e acabou com o risco de sufocar cavalos e bois.

Iluminura. Homem de vestes largas está arando a terra com o auxílio de bois. Eles puxam um instrumento curvo que passa pelo solo. No morro um menino sentado observando.
Um agricultor ensina o seu filho a arar a terra, iluminura, século treze. Biblioteca do Mosteiro de San Lorenzo do Escorial, Madri, Espanha. Observe que o arado de ferro não é preso ao pescoço dos bois.

Nesse período também foi introduzida a rotação trienal de culturas. A técnica consistia em dividir o solo em três partes para o cultivo de cereais e leguminosas com o objetivo de evitar o esgotamento do solo (observe a ilustração).

Rotação trienal de culturas

Esquema. Rotação trienal de culturas. O esquema ilustra o plantio realizada em três lotes diferentes ao longo de três anos. 
Primeiro Lote: Primeiro ano: Trigo; Segundo ano: Aveia; Terceiro ano: Descanso (mato).
Segundo Lote: Primeiro ano: Aveia; Segundo ano: Descanso (mato); Terceiro ano: Trigo.
Terceiro Lote: Primeiro ano: Descanso (mato); Segundo ano: Trigo; Terceiro ano: Aveia.

Fonte: FRANCO JÚNIOR, Hilário. O feudalismo. sexta edição São Paulo: Brasiliense, 1987. página 62-78.

Com essas inovações técnicas, somadas às mudanças do clima, que se tornou mais quente e seco em algumas regiões da Europa, foi possível aumentar a produção de leguminosas, como ervilha, lentilha, feijão e grão-de-bico. A dieta da população tornou-se mais variada e, portanto, mais nutritiva. Bois, cabras e carneiros também passaram a alimentar-se melhor, o que fez crescer os rebanhos e a produção de carne, leite e lã. Dessa fórma, o problema da fome diminuiu e as pessoas ficaram mais resistentes às doenças, reduzindo os índices de mortalidade. O aumento da produção de alimentos e o crescimento populacional favoreceram a expansão do comércio e das cidades.


O revigoramento comercial e urbano

Como estudamos no capítulo 11, na Europa feudal os senhorios tendiam a produzir quase todos os artigos necessários à sobrevivência dos moradores. Assim, a princípio, o comércio era uma atividade secundária.

A maior parte das trocas comerciais era feita nas proximidades dos castelos, com uso restrito de dinheiro. Prevalecia o escambo, ou seja, a troca direta de produtos. O excedente de artigos como cereais, hortaliças e queijos, produzidos pelos camponeses, era trocado por calçados, tecidos, utensílios domésticos e outros produtos. Havia também um tímido comércio a longa distância, principalmente de artigos de luxo provenientes do Oriente. Esses produtos eram consumidos pelo alto clero e pelos aristocratas.

Com o crescimento populacional decorrente das inovações agrícolas, houve um aumento da mão de obra para o trabalho nos campos. Assim, parte da população buscou novas áreas agrícolas para cultivar ou migrou para as cidades. Localizadas nas proximidades de rios ou de estradas frequentadas por comerciantes, várias cidades logo começaram a crescer. O grande aumento da produtividade nos campos gerou um excedente que também abastecia a população urbana.

A produção de tecidos e o artesanato tiveram grande desenvolvimento nos centros urbanos, especialmente em Flandres (parte da atual Bélgica), na Península Itálica e na Inglaterra, graças ao aumento da produção de lã. Outro setor que ganhou impulso foi o da construção civil. Aproveitando a oferta de mão de obra originária dos campos, muitas catedrais, muralhas e casas foram construídas, assim como palácios e hospitais.

As moedas tornaram-se o principal meio de pagamento, tanto na compra e venda de produtos quanto na remuneração dos trabalhadores. Como resultado desse dinamismo comercial, muitas cidades cresceram e prosperaram. Porém, embora tenham sido formadas cêrca de 140 cidades no Ocidente entre 1100 e 1300, o mundo feudal era essencialmente agrário: apenas 15% da população europeia vivia nas cidades.

Iluminura. Rua estreita de casas de muro cinza com detalhes em madeira ao redor das janelas. À frente das casas, pessoas em bancas, vendendo alimentos, objetos e roupas. À esquerda, duas pessoas em uma banca manuseiam tecidos. Duas pessoas e um cachorro estão parados ao lado da banca. Ao fundo, em outra banca, uma mulher em pé está com as mãos no cabelo de uma mulher sentada.
Iluminura representando artesãos e comerciantes, retirada do manuscrito Livre du gouvernement des princes, de gíle dê rôme, século quinze. Biblioteca do Arsenal, Paris, França.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Cite e descreva duas inovações técnicas ocorridas na agricultura europeia ao longo da Baixa Idade Média.
  2. De que modo as inovações agrícolas contribuíram para o desenvolvimento do comércio e das cidades?

A expansão do comércio terrestre e marítimo

O comércio europeu teve grande crescimento a partir do século onze. As trocas comerciais terrestres passaram a se concentrar nas feiras – mercados temporários organizados anualmente em locais preestabelecidos –, que atraíam comerciantes de várias regiões da Europa e do Oriente. Nessas feiras, circulavam mercadorias produzidas localmente e produtos de outras regiões.

Os mercadores que se dedicavam ao comércio marítimo comercializavam produtos raros na Europa cristã, como especiarias, seda e marfim. Os dois principais eixos comerciais marítimos do século onze situavam-se no Mar Mediterrâneo, comandado por genoveses e venezianos, e no Mar do Norte, sob contrôle germânico. O comércio no Mediterrâneo ligava as cidades italianas de Veneza, Gênova e Nápoles às cidades no norte da África, como Túnis, Trípoli, Alexandria e Cairo, e às cidades da Ásia, como Constantinopla (observe o mapa).

Rotas comerciais (século treze)

Mapa. Rotas comerciais, século treze. Destaque para terras na Europa, na Ásia e na África ao redor do Mar Mediterrâneo.
Legenda:
Linha vermelha: Rota comercial terrestre.
Linha verde: Rota comercial marítima.
Linha tracejada vermelha: Caravanas.
Linha tracejada azul: Navegação de cabotagem.
Triângulo laranja: Feiras comerciais. 
No mapa, as rotas terrestres interligam as cidades de Lisboa, Porto, Cádiz, Barcelona, Toulouse, Bordeaux, Orleans, Paris, Tryes, Lyon, Marselha, Gênova, Turim, Milão, Veneza, Florença, Pisa, Roma, Nápoles, Viena, Praga, Leipzig, Bruges, Londres, York, Cracóvia, Riga, Kiev, Budapeste, Belgrado e Constantinopla, na Europa; a cidade de Bagdá, na Ásia; e as cidades de Alexandria e do Cairo, na África. As rotas marítimas desenvolvem-se: no Mar do Norte, ligando as cidades de Estocolmo, Riga, Londres e Bruges; na costa do Oceano Atlântico, ligando Londres, Porto e Lisboa, na Europa, e Ceuta, na África; no Mar Mediterrâneo, ligando Ceuta, Túnis, Trípoli e Alexandria, na África, Barcelona, Gênova, Nápoles e Constantinopla, na Europa; no Mar Negro, ligando Constantinopla ao leste europeu e à Ásia. Rotas de caravanas ligam Bagdá a Damasco, seguindo pela Península Arábica;  também partem de Trípoli e de Ceuta para o interior da África. A navegação de cabotagem ocorre no litoral do Mar Mediterrâneo, ligando Barcelona, Marselha e Gênova; e no Mar do Norte, na costa leste de Londres. No território europeu, estão localizadas as seguintes feiras comerciais: Medina do Campo, Flanders, Bar-Sur-Aube, Provins, Laggny, Frankfurt e Ausburgo.
No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 340 quilômetros.

Fonte: dubí jórj. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. página 64-65.

O crescimento do comércio tornou mais frequente o uso de moedas. Como até então cada senhorio cunhava as próprias moedas, elas geralmente tinham formato e peso diferentes. Nesse contexto, surgiram os negociantes especializados em avaliar e trocar as moedas: os cambistas.

A atividade desses negociantes foi se aprimorando cada vez mais para atender às necessidades do comércio de longa distância. Por ser arriscado transportar muitas moedas em longas viagens, os cambistas passaram a fornecer cheques e letras de câmbioglossário e a emprestar dinheiro aos mercadores, mediante a cobrança de juros. Surgia, assim, a figura do banqueiro.

Pintura. Casal sentado lado a lado olhando moedas sobre a mesa. O homem tem vestes escuras e um lenço preto no cabelo. Ele manuseia moedas. A mulher ao lado dele, de vestido avermelhado e lenço claro nos cabelos, está com as mãos sobre um livro, mas olha para as moedas. Ao fundo, estante com objetos.
O banqueiro e sua mulher, pintura de Cuêntin Méticis, 1514. Museu do Louvre, Paris, França.

A formação da burguesia

Aos poucos, as feiras de mercadores tornaram-se permanentes. Várias dessas feiras deram origem a novos núcleos urbanos ou contribuíram para revitalizar os que já existiam, mas eram pouco frequentados. Esses núcleos, ou cidades, recebiam o nome de burgos e seus moradores eram chamados de burgueses. Alguns burgos se desenvolveram dentro de domínios senhoriais; por isso, seus moradores deviam obrigações aos senhores, como o pagamento de taxas pelo uso de pontes e estradas.

Para escapar das obrigações senhoriais, os burgueses passaram a reivindicar autonomia. Muitos se revoltaram contra os senhores, organizando os chamados movimentos comunais. Depois de longos embates, senhores e comunas entraram em um acordo por meio das Cartas de Franquia ou Cartas Comunais. Esses documentos garantiam a liberdade das cidades mediante o pagamento de indenização aos senhores.

Em alguns casos, os moradores das cidades não pegaram em armas, firmando apenas cartas de compromisso com os senhores. Por meio delas, comprometiam-se a pagar impostos ao senhor para poder desenvolver livremente suas atividades econômicas, bem como ter o direito de administrar a cidade.

Muitos servos, sem trabalho no campo e descontentes com a cobrança de numerosas taxas nos senhorios, viram nas cidades a oportunidade de desenvolver novas atividades e escapar dos encargos feudais. O número de habitantes nas cidades cresceu rapidamente sem a infraestrutura necessária, o que gerou diversos problemas urbanos, como a falta de saneamento e de limpeza das ruas.

Pintura. Muitas pessoas aglomeradas na entrada de uma cidade. O chão é de terra. Algumas pessoas estão a cavalo. As mulheres usam longos vestidos. As casas têm o primeiro andar mais alto e aberto em arcos. A parte superior das casas têm muitas janelas.
Detalhe de Efeitos do bom governo na cidade, pintura de ãmbródjio lorenzéti, 1338-1339. Palácio de Siena, Itália.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Que relação havia entre a atividade dos banqueiros e as transformações econômicas ocorridas na Baixa Idade Média?
  2. Explique de que modo os contatos no Ocidente, no Oriente e no norte da África se estreitaram na Idade Média.

As corporações de ofício

No campo existiam basicamente dois grupos sociais: o dos senhores feudais e o dos camponeses. Nas cidades, porém, havia maior diversidade social. Para atender às necessidades da população urbana em crescimento, passaram a ser realizadas novas atividades econômicas.

Os grandes mercadores e banqueiros eram os burgueses mais ricos e poderosos das cidades. A maior parte da população urbana, contudo, era formada por artesãos e pequenos comerciantes.

Os artesãos de uma cidade ou de determinado ramo de trabalho, como os ferreiros, padeiros, sapateiros ou alfaiates, uniam-se em associações chamadas corporações de ofício. Essas corporações controlavam a produção, os preços e a distribuição dos produtos das oficinas.

Os donos das oficinas eram os mestres de ofício, que detinham a propriedade das ferramentas e das matérias-primas, além de ser responsáveis pela contratação de trabalhadores e pela determinação dos salários. Os oficiais trabalhavam para eles e recebiam as melhores remunerações, pois tinham experiência profissional.

Os trabalhadores contratados para executar atividades por jornada, ou seja, por dia, eram chamados de jornaleiros. Eles formavam a maior parte dos trabalhadores das oficinas. Havia também os aprendizes, jovens com idade entre 10 e 12 anos que ingressavam nas oficinas para aprender o ofício de mestre. Eles recebiam moradia, comida e aprendizado em troca do trabalho.

Iluminura. Ao centro, um homem de túnica azul sentado. Ele está com uma das mãos levantadas, com a palma para frente. À sua frente, dois homens trabalhando. Um deles entalha um pedaço de madeira. O outro manuseia pedaços de tábuas.
Mestre, carpinteiro e pedreiro, iluminura da obra Da propriedade das coisas, de Bartolomeus Anglicus, 1482. Biblioteca Britânica, Londres, Reino Unido. Essa imagem representa um mestre de ofício julgando o trabalho de dois aprendizes.

Refletindo sobre

A ideia de infância como uma fase que requer cuidados e proteção não existia na Idade Média. A sociedade medieval considerava as crianças “pequenos adultos”. Desde cedo, elas trabalhavam nas lavouras, cuidavam das tarefas domésticas, eram treinadas para as artes militares ou aprendiam um ofício urbano nas corporações.

Hoje, o trabalho infantil é proibido no mundo todo e existem leis que protegem as crianças e os adolescentes, garantindo seus direitos. Você sabe qual é a lei brasileira que protege as crianças e os adolescentes? Em sua opinião, qual é a importância de leis como essa?


O ensino na Baixa Idade Média

Com o crescimento populacional ocorrido na Europa a partir do século onze, foram fundadas as primeiras escolas urbanas. Isso ocorreu porque se tornou necessário um número maior de pessoas que soubessem ler e escrever para administrar ou participar das atividades que cresciam nas cidades. Por exemplo, havia a necessidade de pessoas capacitadas para escrever cartas, cuidar da contabilidade dos negócios e administrar os lucros.

O clero católico ainda dirigia a maior parte das escolas. Algumas delas deram origem a universidades, como a de Bolonha, na Península Itálica, a primeira a ser criada em 1088.

Os alunos ingressavam nas universidades por volta dos 14 anos. Após seis anos de estudo básico em gramática, retórica e lógica, os estudantes optavam pelo aprofundamento em uma de três carreiras – direito, medicina ou teologia –, o que podia demorar mais quinze anos.

Ao longo do século treze, as universidades europeias sofreram muita influência de pensadores muçulmanos, como Averróis e Avicena, que tinham como base de seus estudos a filosofia e a tradição gregas.

A Escolástica, corrente de pensamento surgida no século nove, também ganhou fôrça na Baixa Idade Média. Os escolásticos procuravam conciliar fé e razão, ou seja, buscavam explicar Deus e as obras divinas de maneira racional, colocando a filosofia e a ciência a serviço da fé. Um dos principais representantes desse pensamento filosófico foi São Tomás de Aquino.

Iluminura. À esquerda, homem de vestes largas, está sentado em uma cadeira à frente de um grande livro aberto. Próximo a ele, sentadas à direita, crianças com livros nas mãos. Ao fundo, estantes com livros.
Iluminura representando uma cena escolar, retirada da Bíblia dos Grandes Agostinianos, 1494. Biblioteca Mazarine, Paris, França.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Quem eram os burgueses na Baixa Idade Média?
  2. Explique como funcionavam as corporações de ofício formadas na Baixa Idade Média.
  3. Quais eram os papéis dos mestres de ofício e dos aprendizes?
  4. A educação na Europa medieval estava intimamente atrelada à religião. Comente o significado dessa afirmação.

As Cruzadas

Lembra-se de que, no capítulo 10, você estudou a expansão do islã? Nesse processo de ampliação territorial, a cidade de Jerusalém, sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos, foi conquistada pelos árabes muçulmanos no século sete. Eles construíram na cidade o Domo da Rocha, no mesmo local do antigo Templo de Salomão, e a Mesquita de al áquissa. Durante a dominação árabe, Jerusalém continuou a ser visitada por peregrinos cristãos e judeus.

No ano 1076, porém, Jerusalém foi conquistada pelos turcos. Originários da Ásia Central, eles entraram em contato com os árabes e se converteram gradualmente ao islã. Além de conquistar Jerusalém e de proibir a entrada de cristãos na cidade, os turcos tomaram territórios do Império Bizantino. Para combatê-los, o então imperador bizantino Aleixo primeiro solicitou, em 1095, ajuda militar ao papa Urbano segundo.

No mesmo ano, o papa convocou os cristãos para retomar Jerusalém e conquistar uma parte da Síria, com o objetivo de estender o poder do catolicismo romano até o Oriente e restaurar a unidade cristã, rompida em 1054 com a separação da Igreja Bizantina, que se tornou independente da Igreja de Roma (acontecimento conhecido como Cisma do Oriente).

A retomada da Terra Santa só seria possível com a organização de um grande exército. Para formá-lo, o papa Urbano segundo garantiu que os participantes da expedição seriam absolvidos de seus pecados. Essa promessa motivou muitas pessoas a abandonar suas terras para lutar no Oriente.

Iluminura. À esquerda, homens de túnica e capacete escuro na cabeça apontam arcos e flechas na direção de homens de lenço branco na cabeça que estão à direita, atrás das muralhas de um castelo. Os homens à direita também apontam arcos e flechas na direção dos homens à esquerda. Na torre central do castelo, um homem de coroa dourada.
Os cruzados assaltam Jerusalém em 1099, iluminura francesa do século catorze. Biblioteca Nacional da França, Paris. A imagem representa um conflito entre cristãos e muçulmanos durante a Primeira Cruzada.

Saiba mais

Os muçulmanos na Península Ibérica

No século oito, a expansão islâmica atingiu a Península Ibérica. Os árabes muçulmanos permitiram aos cristãos e judeus que lá viviam praticar sua religião mediante o pagamento de impostos. Os que se convertessem ao islã, porém, poderiam ter os mesmos privilégios que os dominadores. Essas medidas proporcionaram a construção de uma sociedade marcada por relativa tolerância religiosa e pelo intercâmbio cultural. O domínio árabe na Península Ibérica começaria a se desfazer com o início das Cruzadas.


Os interesses envolvidos

Juntos, Urbano segundo e o imperador bizantino conseguiram arrecadar recursos suficientes e mobilizar grande quantidade de cavaleiros para compor o exército cristão. Para se identificar como cristãos, esses homens usavam cruzes bordadas nas roupas. Por isso, as expedições ficaram conhecidas como Cruzadas.

Membros de vários grupos sociais participaram das Cruzadas por razões diferentes. Os nobres, principalmente os que não eram primogênitos e, portanto, não tinham direito a heranças, viam as Cruzadas como meio de conquistar terras e riquezas. Havia também os camponeses, que buscavam terras, e os comerciantes de cidades italianas, como Gênova e Veneza, interessados em conquistar mercados e em controlar rotas marítimas do Mediterrâneo.

Os resultados das Cruzadas

A Primeira Cruzada partiu com destino a Jerusalém em 1096 e levou três anos para chegar à cidade. Apesar do grande número de mortes durante o percurso, os cruzados que chegaram à cidade venceram os muçulmanos.

A união de esforços entre a Igreja e os nobres europeus rumo às terras do Oriente continuou por mais de um século. Oficialmente, oito Cruzadas partiram da Europa entre 1096 e 1270, mobilizando milhares de combatentes. Suas conquistas territoriais, entretanto, não foram mantidas. Em meados do século treze, os muçulmanos já tinham retomado o contrôle de diversas regiões, incluindo a cidade de Jerusalém.

As Primeiras Cruzadas (séculos onze-treze)

Mapa. As primeiras Cruzadas, séculos onze a treze. Destaque para terras na Europa, na Ásia e na África ao redor do Mar Mediterrâneo. 
Legenda:
Círculo lilás: Principais áreas de encontro da Primeira Cruzada.
Linha vermelha: Primeira Cruzada, 1096 a 1099.
Linha verde: Segunda Cruzada, 1147 a 1149.
Linha roxa: Terceira Cruzada, 1189 a 1192.
Em amarelo: Cristãos latinos.
Em verde: Cristãos do Oriente.
Em rosa: Mundo muçulmano.
Em marrom: Território disputado entre os turcos seljúcidas e os bizantinos em 1094.
Em laranja: Reconquista cristã no século doze.
Hachurado roxo: Latinos no Oriente.
No mapa, as principais áreas de encontro da Primeira Cruzada localizam-se em Clermont e Paris, na França, e em Brindisi, na Península Itálica. A Primeira Cruzada tem como pontos de partida as cidades de Paris, Clermont, Roma, Brindisi e Worms. Essas rotas passam pelas cidades de Vézelay, Lyon, Milão, Pisa, Veneza, Spalato, Ragusa. Durazzo, Ohrid, Ratisbona, Viena e Nis e se encontram na cidade de Constantinopla. De lá os cruzados partem para Niceia, Antioquia, Trípoli, São João d’Acre e Jerusalém. A Segunda Cruzada parte de Vézelay, na França, e passa por Nis, Constantinopla, Niceia, Atalaia em direção a Antioquia, e de Constantinopla em direção a São João d’Acre. A Terceira Cruzada parte de Londres, avança pelo litoral norte e sul da Europa, passando por Marselha, Lyon, Vézelay, Messina, Candia (na ilha de Creta) em direção a São João d’Acre. Outra rota parte de Vézelay, passando por Gênova, Pisa, Roma, Messina e Candia em direção a São João d’Acre. Uma terceira rota parte de Ratisbona, no interior da Europa, para Viena, Gran e Nis, terminando no Mar Mediterrâneo. A Quarta Cruzada parte de Veneza, passando por Spalato, Durazzo, sul do Império Romano do Oriente até chegar a Constantinopla. Os cristãos latinos ocupam a maior parte do território europeu, incluindo os reinos de Leão, Castela e Navarra, a França, onde estão as cidades de Paris, Clermont, Lyon e Marselha, a Península Itálica, onde estão os Estados pontifícios e as cidades de Roma, Gênova, Milão, Veneza, Pisa, Brindisi e Messina, o Reino da Sicília, a Inglaterra, onde está a cidade de Londres, o Reino da Hungria e as cidades de Worms, Ratisbona, Viena e Gran. Os cristãos do Oriente localizam-se no nordeste e no sudeste da Europa, incluindo as cidades de Spalato e Ragusa e no Império Romano do Oriente, incluindo as cidades de Durazzo, Ohrid, Constantinopla, Niceia, Atalaia, Antioquia e a Ilha de Creta, onde está a cidade de Candia. O mundo muçulmano abrange todo o litoral norte da África, a porção oeste da Ásia, incluindo as cidades de Jerusalém, Damasco e Trípoli, e o sul da Península Ibérica, na Europa. O território disputado entre os turcos seljúcidas e os bizantinos em 1094 abrange uma faixa vertical de terra entre o Mar Negro até as proximidades do Mar Mediterrâneo. A Reconquista cristã no século doze ocorreu na Península Ibérica, em uma faixa de terra que abrange Portugal, incluindo a cidade de Lisboa, e o Reino da Catalunha. A área ocupada pelos latinos no Oriente abrange uma faixa de terra no litoral oeste da Ásia, incluindo as cidades de Jerusalém, Damasco, Trípoli e Antioquia.
Na lateral direita, rosa dos ventos e escala de 0 a 320 quilômetros.

Fonte: dubí jórj. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. página 66.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. O que foram as Cruzadas?
  2. Explique as motivações não religiosas de nobres, comerciantes e camponeses para participar das Cruzadas.

Intercâmbio comercial e cultural

Durante a Idade Média, as rotas marítimas que permitiam o comércio de longa distância entre o Ocidente e o Oriente foram, em grande medida, controladas pelos bizantinos e pelos árabes muçulmanos. Com as Cruzadas, os europeus se apossaram de portos e territórios estratégicos da costa mediterrânica, e passaram a percorrer com regularidade aquelas rotas, expandindo sua atividade comercial.

A intensificação das relações comerciais entre povos diferentes favoreceu as trocas culturais e, por consequência, o desenvolvimento de novos saberes. O contato do Ocidente com o Oriente permitiu acessar o conhecimento produzido pelos árabes em áreas como medicina, astronomia e matemática. E também garantiu aos europeus conhecer importantes obras da Antiguidade Clássica, que haviam sido preservadas e traduzidas pelos bizantinos e pelos árabes muçulmanos.

Ilustração. Cinco pessoas em um quarto. Ao centro, um homem de túnica preta e turbante branco na cabeça está sobre uma cama examinando o braço de um homem sentado. À esquerda, atrás do homem de túnica preta, três mulheres observam.
Ilustração islâmica representando uma consulta médica, retirada de O livro de Kalila e Dimna, século catorze. Biblioteca Nacional do Egito, Cairo.

História em construção

As Cruzadas vistas pelos árabes

Há muitos estudos historiográficos sobre a visão dos cristãos a respeito dos muçulmanos na época das Cruzadas. Porém, são escassas as pesquisas que tratam da visão dos muçulmanos sobre os cristãos. Uma delas é o livro As Cruzadas vistas pelos árabes, do escritor libanês Amín Malúf, que se baseou em fontes e relatos de historiadores e cronistas árabes da época para analisar as Cruzadas pela perspectiva dos árabes muçulmanos. De acordo com a obra, essas expedições significavam invasão de seus territórios e violência contra os seguidores do islã.

Conheça, a seguir, um trecho do livro no qual o irmão do sultão ál ádel responde a Ricardo Coração de Leão, rei da Inglaterra, que lhe propôs um acordo depois de obter algumas vitórias.

A Cidade Santa é tão importante para nós quanto para vós; ela é até mais importante para nós, pois foi em sua direção que nosso profeta realizou sua viagem noturna, e é ali que nossa comunidade irá reunir-se no dia do julgamento final. Está portanto excluída a possibilidade de a abandonarmos. reticências No que diz respeito ao território, ele sempre foi nosso, e vossa ocupação é apenas passageira. reticências Quanto à cruz, ela representa um grande trunfo em nossas mãos, e não nos separaremos dela senão quando obtivermos em contrapartida uma concessão importante em favor do islã.

malúf amín . As Cruzadas vistas pelos árabes. São Paulo: Brasiliense, 2007. página 198-199.


Responda em seu caderno.

Questões

  1. Segundo o texto, por que Jerusalém, a Cidade Santa, é importante para os muçulmanos?
  2. A cruz é um símbolo cristão. Com base nos seus conhecimentos, explique por que os muçulmanos a teriam nas mãos.
  3. Levante uma hipótese sobre qual poderia ser a “concessão importante” citada no trecho.

A crise do século catorze

Após uma fase de expansão comercial e de crescimento econômico e demográfico, no século catorze praticamente toda a Europa enfrentou uma grave crise econômica e social, que iniciou o declínio do feudalismo. Esse período foi marcado por catástrofes climáticas, queda da atividade econômica, guerras prolongadas, tensões sociais e grandes epidemias.

A grande fome

No século onze, a produção de alimentos aumentou graças à introdução de novos equipamentos, ao aprimoramento de técnicas agrícolas e à expansão da área cultivável.

Pântanos foram drenados e áreas de pastagem foram ocupadas para incrementar a produção agrícola. Além disso, florestas foram derrubadas para dar lugar às plantações de cereais e para a obtenção de madeira usada na expansão das cidades.

É possível que esse desmatamento tenha contribuído para alterar as condições climáticas e o regime de chuvas do continente europeu. Chuvas muito fortes causaram inundações, que prejudicaram as colheitas. Entre 1314-1315, houve um grande aumento no preço do trigo, principal cereal consumido pela população, afetando os gastos das famílias com alimentação. Comerciantes que tinham trigo estocado vendiam a mercadoria a preços muito altos, o que levou a população à subnutrição e à fome, provocando milhares de mortes.

Ilustração. Em primeiro plano, à esquerda, corpos de pessoas sobre o chão em uma estrada. Em segundo plano, pessoas passando em outras estradas de terra observam os corpos. Ao fundo, colinas verdes, muralhas de pedra, embarcações e o mar.
Mortes por fome, ilustração publicada nas Crônicas da Inglaterra, de Jean de Wavrin, cêrca de 1470-1480. Biblioteca Britânica, Londres, Reino Unido.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

11. Cite duas importantes consequências das Cruzadas.


A peste negra

A peste negra ou peste bubônica é uma doença altamente contagiosa causada pela bactéria iérsínia péstis, presente no organismo de roedores, como ratos e esquilos. Ela pode ser transmitida ao ser humano por pulgas contaminadas. Acredita-se que a doença foi transmitida entre comerciantes da Ásia e da Europa nas rotas comerciais marítimas e que a falta de higiene contribuiu para a rápida proliferação da enfermidade. Os sintomas da doença incluíam febre alta, delírios, manchas escuras e inchaços pelo corpo.

O cenário de subnutrição vivido na Europa também colaborou para o avanço da doença, pois a falta de nutrientes afeta o sistema imunológico, o que acelerava a morte dos doentes. As principais vítimas da epidemia foram os habitantes das cidades e dos mosteiros, locais com maior aglomeração de pessoas.

A fome e a peste negra causaram significativa redução da população europeia (consulte a tabela). Estima-se que, entre os meses de junho e setembro de 1348, um terço da população da Europa tenha sido dizimada pela fome e pela peste.

POPULAÇÃO EUROPEIA (SÉCULOS XIII-XVII)

Ano

Milhões de habitantes

1300

50

1400

35

1500

48

1600

55

1700

72

Fonte: FRANCO JÚNIOR, Hilário. Feudalismo: uma sociedade religiosa, guerreira e camponesa. São Paulo: Moderna, 1999. página 61.

Ilustração. Duas pessoas deitadas em uma cama com parte do corpo coberto por um tecido. Elas têm protuberâncias avermelhadas em toda a pele. Em pé, ao lado delas, um homem de túnica larga e cabelos longos, com os braços erguidos para o alto.
Ilustração representando pessoas infectadas pela peste negra, retirada da Bíblia tódenburg, 1411. Museu de Gravuras e Desenhos, Berlim, Alemanha.

Saiba mais

A medicina na Idade Média

Na Alta Idade Média, o conceito de doente não se referia apenas às pessoas que tinham algum problema de saúde, mas também às que viviam na pobreza. Com o tempo, a distinção entre as duas situações ficou mais clara e as pessoas passaram a se preocupar cada vez mais com o bem-estar físico.

A Igreja, a princípio, administrava os hospitais, onde moribundos e pessoas desvalidas recebiam cuidados. Na época, as doenças muitas vezes eram atribuídas a práticas mágicas e a castigos divinos, mas com o tempo cresceu o entendimento de que podiam ter causas naturais.

A partir do século treze, com a fundação das universidades e do ensino de medicina, os estudos sobre o corpo humano na Europa foram ampliados. O contato dos cristãos com os tratados médicos legados pelos médicos judeus e muçulmanos foi essencial para o desenvolvimento da medicina ocidental.


Revoltas no campo e nas cidades

No campo, a crise econômica e a redução da população tiveram duas consequências opostas. Em algumas regiões, camponeses ocuparam terras despovoadas e, assim, escaparam da servidão. Em outros lugares, muitos senhores buscaram reforçar os laços de dependência camponesa para tentar recuperar seus ganhos, retomando a cobrança de antigas taxas e impostos senhoriais. Essa situação de exploração provocou a reação dos camponeses, que promoveram diversas revoltas na segunda metade do século catorze.

Na França, destacou-se a jacquerieglossário , em 1358, que expressou o desespero dos camponeses daquele reino. Os rebeldes saquearam e queimaram castelos, além de assassinar famílias nobres. A repressão ao movimento foi igualmente violenta. Estima-se que cêrca de 20 mil camponeses tenham morrido durante os conflitos.

Iluminura. Em primeiro plano, pessoas com machados nas mãos atacando um cavaleiro de armadura que está em cima de um cavalo. O cavalo está machucado. Ao fundo, à esquerda, as muralhas de um castelo e, à direita, outros cavaleiros em meio a árvores e tendas.
Iluminura das Crônicas de jiã frosár, século catorze. Biblioteca Nacional da França, Paris. A imagem representa camponeses atacando um cavaleiro nas proximidades de um castelo durante a jacquerie de 1358, na França.

A cobrança de taxas e impostos também provocou a reação de camponeses ingleses, que, em 1381, revoltaram-se em várias cidades. Em Londres, houve saques e destruição de palácios e prédios públicos. O rei Ricardo segundo negociou a paz com os rebeldes, mas, quando o movimento se dispersou, ele anulou todos os termos negociados e puniu com violência os camponeses.

Na área urbana, a crise provocou o fechamento de muitas corporações de ofício e reforçou o poder dos proprietários, que reduziram drasticamente os salários dos trabalhadores. Os baixos salários e a alta de preços e impostos causaram várias rebeliões. Entre 1366 e 1384, em Auvergne e no Languedoc, no sul da França, artesãos empobrecidos e trabalhadores descontentes uniram-se aos camponeses, formando grupos armados que ficaram conhecidos como Tuchins.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Identifique as principais causas da crise do século catorze na Europa.
  2. O que é a peste negra? Como ela foi introduzida na Europa medieval?
  3. Explique o que foram as jacqueries, apresentando as motivações e as consequências desses movimentos.

A desestruturação do feudalismo

A crise econômica afetou a produção de tecidos de luxo, mas a de tecidos mais simples, feitos de algodão, ganhou importância crescente. As áreas destinadas à agricultura diminuíram, cedendo lugar à criação de animais, principalmente ovelhas, de manejoglossário mais simples e mais barato.

Muitos camponeses puderam ocupar campos desabitados ou comprar pequenos lotes de terra e dedicar-se à criação de animais. Aos poucos, eles também passaram a integrar o clero, constituído anteriormente apenas por membros da aristocracia.

O feudalismo desestruturava-se. Muitos senhores feudais, que conservavam sua posição social e seus privilégios, contraíam empréstimos de burgueses e acabavam endividados. Interessados em unificar pesos, medidas e moedas e em eliminar as taxas feudais, os burgueses apoiaram os reis no processo de centralização do poder político.

Pintura. No centro, um esqueleto envolto em um tecido branco segura dois homens pelas mãos. O homem da esquerda veste uma túnica branca, um manto vermelho e um chapéu pontiagudo. O homem da direita veste roupa longa vermelha, um manto claro e uma grande coroa e segura uma espada e uma orbe. Ao redor deles, diversos esqueletos de pessoas carregando objetos e em posição de dança. No canto esquerdo, um dos esqueletos toca um instrumento musical semelhante a uma gaita de fole e um homem de chapéu preto observa a cena de uma tribuna.
Detalhe de Dança macabra, pintura de ber notquê, cêrca de 1475. Igreja de São Nicolau, Museu de Arte da Estônia, Tallinn.

Responda em seu caderno.

Explore

  1. Relacione a pintura de Bernt Notke com a crise do século catorze na Europa. Que elementos do cenário representam os problemas e os medos do período?
  2. Que grupos sociais podem ser identificados na pintura?
  3. Qual teria sido a intenção do artista ao representar os esqueletos tocando e acompanhando as pessoas?

Conexão

Marco Polo e sua maravilhosa viagem à China: para crianças e jovens

Janis Herbert. Rio de Janeiro: Jorge zarrár, 2003.

Nesse livro, são narradas as aventuras do mercador veneziano Marco Polo durante sua viagem pela Ásia Central e pelo Extremo Oriente, no século treze. O autor trata ainda de diversos aspectos e curiosidades sobre os costumes de cada lugar pelo qual Marco Polo passou, como a preparação de papel e máscaras e exercícios de ioga.


Capa de livro. Na parte superior, o título sobre o fundo vermelho. Ao centro, ilustração de embarcações perto de uma cidade. Na parte inferior, ilustração de um homem em pé com um grande chapéu e roupas largas.

Enquanto isso…

A era dos samurais: o Japão feudal

Milhares de quilômetros a leste da Europa, o Japão iniciou uma experiência histórica muito semelhante à do feudalismo europeu. As constantes disputas entre os senhores de terras levaram ao fortalecimento dos samurais, que formavam a elite guerreira do Japão. Conheça alguns aspectos do chamado feudalismo japonês.

A origem dos samurais reticências remonta aos séculos quatro antes de Cristo e três antes de Cristo, quando começaram a surgir elites armadas nos grupos tribais que formaram pequenas entidades sociais. reticências Os membros dessas elites guerreiras eram conhecidos como buxí, termo que significa ‘aquele que serve’ e que com o tempo acabou se tornando sinônimo de guerreiro.

A ascensão dos samurais como uma classe social começou no período Heian (nome da então capital do país, a atual Kyoto), com a derrota do governo aristocrático Taira, na Guerra Genpei, no fim do século doze, quando o clã de Minamoto no Yoritomo vence o conflito e recebe o título de xogum: um título de distinção militar concedido pelo imperador, equivalente a comandante do exército.

A partir daí, e ao longo de mais de 400 anos, o imperador era o legítimo governante, mas era o xogum quem governava de fato o Japão. Quem era agraciado pelo imperador com esse título tinha autoridade civil, militar, diplomática e judiciária. reticências

Na sociedade japonesa do século dezesseis, os samurais formavam uma casta a serviço da alta nobreza, os daymiô, que exerciam o poder por meio de uma rede de ligações pessoais e familiares. Ao lado de sua família mais direta, os daymiô ocupavam o topo da hierarquia feudal. Abaixo deles, vinham os fudai (aquelas famílias que sempre estiveram a serviço daquela família principal) e, finalmente, os vassalos, que muitas vezes haviam sido antigos senhores que, derrotados, haviam jurado fidelidade, a fim de manter sua propriedade. reticências

Paralelamente a essa organização política, havia outra que inicialmente era estritamente militar e representava os samurais. reticências os samurais, com o tempo, foram se tornando tão poderosos que ultrapassaram os limites dos feudos e acumularam influência política e militar.

MUSARRA, Fabíola. Samurais: os guerreiros da honra. Planeta, edição 450, março 2010. Disponível em: https://oeds.link/u35R3S. Acesso em: 12 abril 2022.


Ilustração. À esquerda, dois samurais montados a cavalo segurando espadas. À frente deles, homens representando os soldados mongóis. Um deles está caído no chão.
Ilustração japonesa representando a luta de samurais contra os mongóis, século treze.

Responda em seu caderno.

Questões

  1. Identifique o personagem do Japão feudal que desempenhava cada um dos papéis.
    1. Membro da nobreza feudal.
    2. Guerreiro disciplinado a serviço de um senhor feudal.
    3. Supremo comandante militar e autoridade política.
  2. Que semelhanças você percebeu entre o feudalismo europeu e o feudalismo japonês?

Atividades

Responda em seu caderno.

Aprofundando

1. Leia o texto e faça o que se pede.

Apoiado nas cidades, este grande comércio nascente beneficiava dois outros fenômenos de primeira grandeza. Pelo estabelecimento de filiais distantes, ele completava a expansão da cristandade medieval. No Mediterrâneo, a expansão genovesa e veneziana chegou mesmo a ultrapassar o quadro de uma colonização comercial. reticências e, após a quarta Cruzada de 1204, fundaram um verdadeiro império colonial às margens do Adriático, em Creta, nas ilhas jônicas e egeias reticências. Os genoveses transformaram seus estabelecimentos na costa da Ásia Menor e do norte do Mar Negro em pontos sólidos de escoamento de mercadorias e homens (escravos domésticos de ambos os sexos).

LE GÓFI, Jaques. A civilização do Ocidente medieval. São Paulo: êdúsqui, 2005. página 68.

  1. Explique o significado do seguinte trecho do texto: “[O desenvolvimento comercial] completava a expansão da cristandade medieval”.
  2. Segundo o texto, que tipo de relação os venezianos e os genoveses estabeleceram por meio do comércio?

2. Leia o texto que trata das cidades medievais. Depois, faça o que se pede.

A cidade da Idade Média é um espaço fechado. A muralha a define. Penetra-se nela por portas e nela se caminha por ruas infernais que, felizmente, desembocam em praças paradisíacas. reticências Lugar de cobiça, a cidade aspira à segurança.

Seus habitantes fecham suas casas a chave, cuidadosamente, e o roubo é severamente reprimido. A cidade, bela e rica, é também fonte de idealização: a de uma convivência harmoniosa entre as classes. A misericórdia e a caridade se impõem como deveres que se exercem nos asilos, essas casas de pobres. reticências.

LE GÓFI, Jaques. Por amor às cidades. São Paulo: Editora Unésp, 1998. página 71.

  1. Identifique três características das cidades medievais descritas no texto.
  2. Que preocupação relacionada à vida na cidade foi exposta no texto? Essa preocupação ainda existe nas cidades atuais?
  3. Quais são as semelhanças e as diferenças entre as cidades atuais e as cidades medievais descritas no texto?

3. Observe a charge. Depois, responda às questões.

Charge. À esquerda, um soldado com uma cruz estampada na roupa e uma espada na mão. Na ponta dela, sangue. À direita, homem de lenço na cabeça segurando um facão sujo de sangue. Ao redor de ambos, a cidade destruída e pedaços de corpos espalhados.
“Sejamos honestos”, diz o personagem da esquerda para o da direita, “nossa primeira reunião consultiva inter-religiosa não foi lá um sucesso absoluto”. Charge de Richard Jolley, 2008.
  1. Por que os soldados dizem que a reunião sobre assuntos religiosos não foi um sucesso absoluto?
  2. Em sua opinião, as diferenças religiosas entre povos deveriam dar origem a guerras? Converse com os colegas sobre isso.
  1. Observe novamente os mapas das páginas 222 e 227, sobre as rotas comerciais e os caminhos das Cruzadas, respectivamente.
    1. Identifique as religiões e as regiões com as quais os europeus entraram em contato no período.
    2. Que relação existe entre os dois mapas?

Aluno cidadão

  1. Construir muralhas altas e resistentes foi uma estratégia de defesa importante durante a Idade Média. Atualmente, existem diversos tipos de muro no mundo delimitando espaços. Para refletir sobre o tema, junte-se a alguns colegas e sigam o roteiro para prepararem-se para um debate.
    • Pesquisem imagens e informações sobre os seguintes locais: Muro da Cisjordânia; cercas, muros ou barreiras na fronteira entre os Estados Unidos e o México, construídos a partir dos anos 1990; e condomínio murado em uma grande cidade brasileira.
    • Durante a pesquisa, procurem responder às questões: Para que esses muros servem? Quem defende a construção deles e quem a condena?
    • Escrevam um pequeno texto expressando as conclusões do grupo sobre o tema.
    • Debatam o tema com o restante da turma defendendo o ponto de vista do grupo sobre o assunto.

Conversando com ciências

6. Leia o texto sobre a peste negra. Depois, faça o que se pede.

Quando um terço ou metade da população desaparece subitamente, as consequências sociais e psicológicas são gigantescas. Os que permanecem são muito menos numerosos para repartir o bolo, as heranças, as fortunas. A epidemia determinou uma elevação geral do nível de vida. Ela livrou a Europa de um aumento da população. Durante meio século, a peste permaneceu no estado endêmicoglossário , com retornos em quatro ou cinco anos, até por volta de 1400, quando o organismo humano finalmente desenvolveu anticorpos que lhe permitiram resistir. reticências

dubí jórj. Ano 1000, ano 2000: na pista de nossos medos. São Paulo: Editora Unésp/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999. página 86.

  1. Quais são os sintomas da peste negra?
  2. De acordo com o texto, quais foram os impactos negativos e os positivos da disseminação dessa doença?
  3. Explique o que foi o “estado endêmico” da peste negra, quando ele se encerrou e por quê.

Mão na massa

  1. As guerras religiosas ainda são recorrentes na África, no Oriente Médio e em outras partes da Ásia. Além dos conflitos, permanece o preconceito religioso, principalmente contra os muçulmanos, que muitas vezes são equivocadamente associados ao terrorismo. Sabendo disso, reúna-se com alguns colegas e façam o que se pede.
    • Criem um cartaz com imagens e textos, enfatizando a necessidade do respeito a todas as religiões e a importância da diversidade religiosa.
    • Com o auxílio do professor ou da professora, montem uma exposição para apresentar o resultado do trabalho.

Fazendo e aprendendo

Mapa de história

As fronteiras geográficas mudam ao longo do tempo, como aconteceu, por exemplo, durante a Idade Média. O estudo da história envolve a pesquisa sobre essas mudanças.

Os mapas históricos são importantes fontes de pesquisa para compreender as mudanças espaciais ao longo do tempo, pois representam os locais como eram em determinado momento do passado. Para analisar um desses mapas, siga estes procedimentos:

  1. Leia o título do mapa e verifique o principal assunto tratado e o período histórico (datas) a que se refere. Essas informações são fundamentais para a análise do mapa: por exemplo, em um mapa político, é possível identificar os limites entre os países ou estados no período em questão; em um mapa sobre comércio, podem-se localizar as principais rotas comerciais do período; e em um mapa sobre religião, é possível verificar a quantidade de adeptos das religiões em determinado espaço e tempo.
  2. Observe a legenda e procure relacionar as informações textuais com os elementos visuais do mapa. A leitura da legenda também é fundamental para a análise de um mapa.
  3. Compare o mapa histórico com um mapa atual do mesmo local e com o mesmo tema. Assim, é possível identificar as mudanças e as permanências ao longo do tempo.
  4. Verifique a orientação geográfica e a escala. Nos mapas, a orientação geográfica é indicada pela rosa dos ventos. E a escala informa sobre a proporção entre as dimensões da representação cartográfica e as do espaço real.
  5. Anote resumidamente, em uma lista de itens, as conclusões obtidas por meio da análise do mapa.

Com base nesses procedimentos para a análise de mapas históricos, responda: Qual é a importância desse tipo de representação?


Responda em seu caderno.

Aprendendo na prática

O mapa da página seguinte representa algumas rotas comerciais medievais, porém outras estão faltando. Com base nas informações da legenda, complete o mapa seguindo este roteiro:

1. Copie o mapa em uma folha de papel vegetal: coloque a folha sobre o mapa e transponha nela os elementos da representação. Para isso, use canetas ou lápis coloridos.


Principais rotas comerciais no século treze

Mapa. Principais rotas comerciais no século treze. Destaque para terras na Europa, na Ásia e no norte da África. Legenda:
Quadrado verde: Centros econômicos italianos.
Quadrado amarelo: Centros econômicos hanseáticos. 
Triângulo verde: Principais feitorias italianas.
Triângulo amarelo: Principais feitorias hanseáticas.
Linha verde: Rotas comerciais genovesas.
Linha vermelha: Rotas comerciais venezianas.
Linha amarela: Rotas comerciais hanseáticas.
Estrela preta: Feiras.
Linha pontilhada preta: Itinerários das feiras.
Linha tracejada preta: Caravanas.
No mapa os centros econômicos italianos estão localizados em Milão, Veneza, Piacenza, Luca, Florença, Siena e Gênova. Os centros econômicos hanseáticos estão localizados em Guimarães, Colônia, Bremen, Hamburgo, Lubeck, Minden, Magdeburgo, Sttalsund, Stettin,  Visoy, Riga, Dantzig, Thorn, Breslau, Cracóvia, Estocolmo e Reval. As principais feitorias italianas localizam-se em Bari, Palermo, Nápoles, Roma, Bruges, Southampton, Londres, Montecastro e Caffa, na Europa;   Túnis, Bougie e Alexandria, na África; São João d’Acre, Antioquia e Famagusta, na Ásia. As principais feitorias hanseáticas localizam-se em Novgorod, Bruges e Londres, na Europa. As feiras localizam-se em Novgorod, Malmoe, Boston, Northampton, Winchester, Messines, Freiberg, Leipzig, Frankfurt, Lendit, Lagny, Provins, Bar, Troyes, Beaucaire e Barletta, na Europa. Os itinerários das feiras ligam Messines, Lendit, Lagny, Provins, Troyes, Dijon, Lyon, Beaucaire, Turim, Milão, Piacenza e Luca, na Europa. As caravanas ocorrem na África: de Meknes, Fez e Tlemcen, para Sidjilmasa e Taghasa, avançando para o interior do continente; e de Trípoli para o interior do continente. No litoral do Oceano Atlântico também estão identificadas as cidades de La Rochelle, na Europa, e Sale, na Africa. No litoral do Mar Mediterrâneo, estão identificadas as cidades de Argel, na África; Valência, Barcelona, Montpellier, Marselha, Pisa, Zara, Ragusa, Cortu, Modon, Negroponto e Cândia, na Europa; e Foceia, na Ásia. No litoral do Mar Negro, estão identificadas as cidades de Constantinopla, na Europa; e Trebizonda, na Ásia.
Na parte inferior direita, rosa dos ventos e escala de 0 a 350 quilômetros.

Fonte: FRANCO JÚNIOR, Hilário. Atlas de história geral. quinta edição São Paulo: Scipione, 2000. página 27.

  1. Cole a folha de papel vegetal sobre uma folha de papel sulfite para melhorar a visualização das informações.
  2. Com base na legenda, pesquise neste livro ou na internet o traçado das rotas comerciais faltantes no mapa para completá-lo.
  3. Com base em sua pesquisa, represente as rotas comerciais faltantes no mapa e, se desejar, inclua outras. Verifique se todas as cidades por onde passavam as rotas estão inseridas no mapa e confira a cor indicada na legenda para cada rota.
  4. Finalizada a confecção das linhas referentes às principais rotas comerciais, utilize lápis de cor e/ou caneta hidrográfica para colorir o restante do mapa. Lembre-se: a cor azul é utilizada para colorir corpos de água (rios, mares, lagos e oceanos).
  5. Não se esqueça de incluir o título do mapa.

Ao final, responda às questões a seguir.

  • Quais eram as principais cidades pelas quais passava cada uma dessas rotas comerciais?
  • Quais eram as principais cidades comerciais da região do Mediterrâneo? E do Mar do Norte?
  • Essas cidades ainda existem?

Versão adaptada acessível

Os procedimentos listados para realização da atividade de elaboração do mapa podem ser adaptados para a construção de uma versão tátil. Ouça atentamente a descrição do mapa, com destaque para a legenda e a orientação sobre as rotas comerciais indicadas. Em seguida, com base no uso de materiais como papéis, tecidos, linhas de diferentes espessuras, botões, entre outros, crie contornos e preencha formas para representar as regiões apresentadas no mapa da página. A utilização de texturas lisas e ásperas favorece a diferenciação das áreas que formarão a sua representação.

Glossário

Letra de câmbio
: documento que podia ser trocado por dinheiro em certas casas bancárias. Ele evitava que os mercadores transportassem grandes quantias em dinheiro durante suas viagens.
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: o termo tem origem no nome jác bonôme, usado pelos franceses para designar genericamente os camponeses, mas passou a ter o significado pejorativo de “joão-ninguém”.
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Manejo
: nesse caso, cuidados com os animais.
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Endêmico
: deriva da palavra “endemia”, que descreve uma situação em que uma doença infecciosa ocorre apenas dentro dos limites de determinada localidade.
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