CAPÍTULO 11  A Europa feudal

Captura de tela. Castelo medieval construído sobre grandes rochas. O castelo tem várias torres e algumas janelas. Ao fundo, árvores em colinas.
Tela do jogo mediêval êngenirs (Engenheiros Medievais), de 2018, representando um castelo medieval. Nesse jogo, é possível criar castelos e diversas outras construções relacionadas à Idade Média.

Pouca gente se dá conta, mas muitos hábitos, conceitos e objetos tão presentes no nosso dia a dia, inclusive o próprio idioma que falamos, vêm daquela época [Idade Média]. reticências Ao tratarmos da história do Brasil, por exemplo, a tendência é começar no dia 22 de abril de 1500, quando Pedro Álvares Cabral e os tripulantes de sua esquadra ‘descobriram’ nossa terra. Mas aqueles homens não traziam atrás de si, dentro de si, toda uma história? Não trouxeram para cá amplo conjunto de instituições, comportamentos e sentimentos? Aquilo que é até hoje o Brasil não tem boa parte da sua identidade definida pela longa história anterior de seus ‘descobridores’? Dizendo de outro modo, nossas raízes são medievais, percebamos ou não esse fato.

FRANCO JÚNIOR, Hilário. Somos todos da Idade Média. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, ano 3, número 30, página 58, março 2008.

O que vem à sua mente quando você ouve a expressão Idade Média? Provavelmente, castelos, guerras, cavaleiros armados, bruxas, magosreticências

Esse período da história inspira a criação de filmes, séries televisivas, livros e jogos de videogame, que nos fazem imaginar como seria a vida dos homens e das mulheres daquele tempo.

Além disso, muitos aspectos culturais, saberes e técnicas desenvolvidos na Idade Média estão presentes em nosso dia a dia. Os botões, os livros, a calça, o uso da colher e do garfo, os óculos e as universidades, por exemplo, são originários dessa época.

  • Você conhece algum filme, livro, série e/ou jogo de videogame que tenha como tema a Idade Média? Se a resposta for positiva, quais?
  • O que o historiador Hilário Franco Júnior quis dizer com a frase “nossas raízes são medievais”?

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Este capítulo contempla as habilidades ê éfe zero seis agá ih um sete e ê éfe zero seis agá ih um nove (ao tratar do desenvolvimento do feudalismo na Europa) e parcialmente as habilidades ê éfe zero seis agá ih um quatro, ê éfe zero seis agá ih um seis e ê éfe zero seis agá ih um oito, conforme indicações ao longo do texto. O trabalho para o desenvolvimento dessas habilidades se completa ao longo de outros capítulos, conforme indicações na tabela de habilidades do ano.

Objetivos do capítulo

  • Reconhecer os principais costumes dos povos germânicos que se estabeleceram nas terras do antigo Império Romano.
  • Descrever e analisar as principais características da organização social, econômica e política denominada feudalismo.
  • Reconhecer a preocupação com a morte e com a vida além-túmulo como centro do pensamento do indivíduo medieval, analisando o papel da religião no modo de vida dos europeus no período.
  • Desconstruir a ideia de que a Idade Média foi um período caracterizado pelo atraso e pela estagnação.
  • Perceber a presença, nos dias de hoje, de certos aspectos da produção cultural do período medieval.

Abertura do capítulo

Espera-se, com esta abertura, promover uma reflexão sobre as inspirações e as heranças medievais, de modo que os alunos compreendam que diversos utensílios e modos de agir do presente têm raízes em tempos longínquos, identificando mudanças e permanências. O texto do historiador Hilário Franco Júnior auxilia esse entendimento, pois apresenta um exemplo da chegada dos saberes da Idade Média ao Brasil por meio dos portugueses e outros europeus.

O estudo desse período geralmente fascina crianças e adolescentes por causa, principalmente, da indústria cultural, que usa referências medievais em diversos setores do entretenimento, mesclando fantasia e realidade. É provável que os alunos do 6º ano já tenham tido contato com algum filme, livro ou jogo cujo enredo se passava na Idade Média. Ao aproximar o tema do capítulo do cotidiano dos alunos, pretende-se motivar o estudo do assunto, tornando a aprendizagem significativa.

A transição para a Idade Média

Historiadores europeus adotaram a data da queda do Império Romano do Ocidente, em 476, como marco inicial da Idade Média. Entretanto, o processo que levou ao colapso do império começou muito antes.

Como você estudou no capítulo 9, por volta do século três, o Império Romano começou a enfrentar uma grave crise. As despesas para vigiar as fronteiras e impedir as invasões germânicas eram enormes. Para repor o que era gasto, o governo aumentou os impostos. Ao mesmo tempo, deixou de conquistar novos territórios, provocando a redução da mão de obra escravizada, o que levou à queda na produção, ao aumento dos preços dos alimentos e ao surgimento de diversas revoltas.

Com as sucessivas invasões germânicas, as estradas romanas foram arrasadas, e as cidades, saqueadas. O comércio decaiu e a fome agravou-se. Muitas pessoas fugiram para o campo, iniciando um processo de ruralização da sociedade europeia.

Entre os séculos cinco e dez, ocorreu a fixação dos povos germânicos nas antigas terras do império e a formação do feudalismo. Essa época ficou conhecida como Alta Idade Média. Do século onze ao século quinze, o feudalismo consolidou-se, expandiu-se e entrou em crise. Nesse período, conhecido por Baixa Idade Média, teve início a formação dos Estados europeus modernos.

História em construção

O termo Idade Média

O termo Idade Média foi usado pela primeira vez por Petrarca, no século catorze. Ele e outros pensadores dessa época estudavam o latim e buscavam encontrá-lo em sua fórma “pura” na Antiguidade Clássica, a partir de quando teria começado a ser “corrompido” pela influência das línguas bárbaras. A desvalorização do período histórico que se seguiu à queda do Império Romano fez com que ele fosse associado ao fanatismo religioso, à ignorância e à violência. A Idade Média teria sido, para aqueles intelectuais, um “período de trevas”, um intervalo obscuro entre a Antiguidade Clássica e a época em que viviam. Hoje, reconhecemos que a Idade Média europeia foi uma época de importantes realizações artísticas e culturais. Durante esse período, houve diversas inovações técnicas, foram fundadas as primeiras universidades e foi instituído o primeiro Parlamento. Essas e outras realizações lançaram algumas das bases do mundo ocidental moderno.


Tirinha. Cena em quatro quadros. 
Quadro 1. Hamlet, menino com vestimentas e chapéu viking, está sentado em um tronco, com os cotovelos apoiados nos joelhos e o rosto apoiado nas palmas das mãos. Ele diz: NÃO É JUSTO! UM MENINO SENSÍVEL COMO EU NASCIDO NA IDADE DAS TREVAS!
Quadro 2. Agora com o rosto apoiado em apenas uma mão, ele continua: AS PESSOAS SÓ FALAM DE GUERRA, ASSASSINATO, CRIME...
Quadro 3. Com os braços erguidos para o alto ele diz: AS PESSOAS NÃO ESTÃO SEGURAS NEM NAS SUAS PRÓPRIAS CASAS!
Quadro 4. Andando cabisbaixo, com o Sol ao fundo, ele termina dizendo: POR QUE É QUE EU NÃO NASCI DAQUI A MIL ANOS?
Hagar, o Horrível, tirinha de Diqui Bráun, 1973.

Responda em seu caderno.

Questões

  1. Por que o termo Idade Média pode ser considerado inapropriado para identificar o período histórico entre a Idade Antiga e a Idade Moderna?
  2. Que relação pode ser estabelecida entre o questionamento do personagem da tirinha e a origem da expressão Idade Média?

Respostas e comentários

História em construção

  1. O termo foi criado pelos pensadores do século catorze para se referir ao período entre a Antiguidade Clássica e a época em que viviam. Segundo eles, a Idade Média teria sido uma época de obscurantismo, sem inovações técnicas e culturais, marcada pelo fervor religioso e por conflitos. No entanto, ainda que o período tenha sido marcado por forte religiosidade, também registrou realizações artísticas e culturais e muitas invenções técnicas importantes. Destaque para os alunos o fato de que essa classificação criada no século catorze ainda é utilizada, embora o significado dessa periodização seja criticado.
  2. Na tirinha, o menino Rãmlet se pergunta por que não nasceu “daqui a mil anos” (ou seja, após a Idade Média), já que é um menino sensível e inteligente. Ele critica a época em que vive, chamando-a de “Idade das Trevas”, e afirma que se trata de um período marcado pela violência. É interessante, nessa atividade, reforçar aos alunos a informação de que essa tirinha é contemporânea e aborda um tema do passado por meio do conhecimento que hoje existe sobre ele. Por isso, o personagem Rãmlet faz um questionamento relacionado ao futuro (à época do Renascimento). Obviamente, uma pessoa que viveu na Idade Média jamais saberia que aquela época seria chamada de “Idade das Trevas” ou que “daqui a mil anos” existiria o Renascimento. O efeito cômico da tirinha está nesse fator.

Bê êne cê cê

A atividade, ao discutir a historicidade do termo Idade Média e problematizar sua utilização como fórma de organização do tempo, favorece o desenvolvimento da Competência específica de História nº 2.

Os povos germânicos

No início da era cristã, os germanos, ou germânicos, já estavam estabelecidos ao norte das terras romanas, sobretudo onde hoje se situam Alemanha, França, Bélgica e Holanda. Entre esses povos, estavam os visigodos, os anglos, os saxões, os hérulos e os francos. Eles se organizavam em tribos (grupos de famílias ligadas por laços de parentesco e de dependência pessoal), adoravam vários deuses e não conheciam a escrita. As terras que ocupavam pertenciam à comunidade e eram divididas periodicamente entre as famílias para o cultivo.

Os povos germânicos tinham forte tradição guerreira. Durante as guerras, os chefes das famílias, reunidos em assembleias, escolhiam um líder para comandar as batalhas. O líder militar mantinha com seus guerreiros estreitos laços de lealdade e companheirismo com base em um juramento de fidelidade e de obrigações recíprocas. Os vínculos que uniam as duas partes formavam uma instituição conhecida como comitatus.

As guerras desempenhavam um papel muito importante na vida dos povos germânicos. Por meio delas, garantiam-se terras para a agricultura e a criação de animais. Garantiam-se ainda o aumento da riqueza e do poder dos líderes e o fortalecimento dos laços entre os membros das tribos.

Fotografia. Capacete de metal, com o formato de um rosto. Apenas os olhos ficam expostos.
Capacete anglo-saxão, século sete. Museu Britânico, Londres, Reino Unido.

Os povos germânicos (séculos cinco e seis)

Mapa. Os povos germânicos, séculos cinco e seis. Destaque para terras na Europa, na Ásia e na África ao redor do Mar Mediterrâneo. 
Legenda:
Em roxo: Origem das invasões.
Linha marrom: Império Romano do Oriente em 476.
Linha verde: Domínios germânicos.
Seta vermelha: Movimentos das invasões.
No mapa, o Império Romano do Oriente se estende desde o norte do Egito, incluindo a cidade de Alexandria, o oeste da Ásia, incluindo as cidade de Jerusalém e de Antioquia, a maior parte do Mar Negro, o sudeste da Europa, incluindo a cidade de Constantinopla, e toda a porção leste do Mar Mediterrâneo. Já as terras antes pertencentes ao Império Romano do Ocidente estão divididas em diferentes reinos. Uma parte do oeste da Península Ibérica foi dominada pelos suevos. Os visigodos dominaram a maior parte da Península Ibérica e uma porção da Gália, incluindo as cidades de Toulouse e de Barcelona. No noroeste da Gália está localizado o Domínio de Siagro, incluindo a cidade de Soissons. O restante da Gália foi dominado por francos, incluindo a cidade de Colônia, alamanos, burgúndios, incluindo as cidades de Genebra, Lyon e Avignon, e ostrogodos, incluindo a cidade de Milão. O domínio dos ostrogodos também se estendeu por toda a Península Itálica, incluindo as cidades de Mantova, Ravena e Roma, e pela porção oeste da Península Balcânica, até os limites com o Império Romano do Oriente. O domínio dos francos se estendeu também pela pela porção leste da Ilha da Bretanha, incluindo a cidade de Londres. Os vândalos dominaram as ilhas de Córsega, Sardenha e Sicília, incluindo a cidade de Siracusa, e uma porção do território no norte da África, incluindo a cidade de Cartago. A origem das invasões está localizada em duas áreas: ao norte da Península Balcânica e ao norte da Gália. Os ostrogodos partiram da área ao norte da Península Balcânica em direção ao Império Romano do Oriente. Os hunos partiram de uma área um pouco mais ao norte, em direção aos Bálcãs. Jutos, anglos e saxões partiram da área ao norte da Gália em direção à Bretanha.
No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 400 quilômetros.

Fonte: vidal naquet piérre; bertã jac. Atlas histórico: da Pré-história aos nossos dias. Lisboa: Círculo de Leitores, 1990. página 85.


Responda em seu caderno.

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  1. Quais povos germânicos você identifica no mapa?
  2. Em que parte do Império Romano os povos germânicos se estabeleceram?
  3. Após a incursão dos povos germânicos no Império Romano, este manteve a unidade? Explique.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Qual era a fórma de organização das sociedades germânicas?
  2. Qual era a importância da guerra para os povos germânicos?

Respostas e comentários

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1. Os povos germânicos representados no mapa são os francos, os visigodos, os ostrogodos, os vândalos, os suevos, os lombardos, os burgúndios, os alamanos, os jutos, os anglos e os saxões.

Os alunos podem citar “Siagro” como um dos povos germânicos. Explique a eles que Siagro (ou Siágrio) não foi um povo, mas um governante de origem latina. O domínio de Siagro, ou o Reino de Soissons, foi um dos últimos redutos romanos na Europa Ocidental após a queda do Império Romano.

  1. Os povos germânicos se estabeleceram na parte ocidental do Império Romano.
  2. Não. Depois da incursão dos povos germânicos, o território do antigo Império Romano se fragmentou, dando origem a diversos reinos germânicos independentes.

Para responder à questão 3, os alunos deverão observar a diferença de representação entre o território do antigo Império Romano do Ocidente e o território do Império Romano do Oriente e perceber que o primeiro está repartido em reinos, para concluir que sua unidade se desfez. Essa operação cognitiva pode ser difícil para alguns alunos porque depende de um exercício de inferência. Por isso, auxilie-os a interpretar o que estão vendo no mapa.

Recapitulando

  1. As sociedades germânicas estavam organizadas em tribos formadas com base nos laços de sangue de seus membros.
  2. As guerras tinham papel fundamental para a manutenção desses povos. Por meio delas, os chefes guerreiros aumentavam sua riqueza e seu poder, conquistavam terras para a agricultura e a criação de animais, além de fortalecer os laços entre os membros da tribo.

Os hunos

Originários da Ásia Central, os hunos eram povos nômades, guerreiros e criadores de cavalos. A partir do século quatro, provavelmente em busca de novas áreas de pastagem, eles começaram a migrar para a Europa, forçando os povos germânicos a se deslocar em direção aos domínios romanos.

Do Reino Franco ao Império Carolíngio

Após a queda de Roma, os povos germânicos estabeleceram-se nas regiões que hoje correspondem a Portugal, Espanha, França, Reino Unido e Itália, nas quais fundaram importantes reinos. No século cinco, por exemplo, os francos ocuparam a Gália, região que hoje corresponde à França. Por volta de 495, o rei franco Clóvis, pertencente à dinastia Merovíngia, converteu-se ao cristianismo. Com o apoio da Igreja, ele uniu as tribos francas e submeteu-as a seu poder. Formou-se, assim, o Reino Franco.

Com a conversão de tribos e chefes guerreiros germânicos ao cristianismo, a Igreja adquiriu considerável poder espiritual e material. Seus dirigentes a consideravam a legítima herdeira do Império Romano, já que sua séde se localizava na cidade de Roma. Após a conversão do rei Clóvis, a Igreja selou uma forte aliança com os francos. Com isso, ela ajudava o rei franco a administrar seus domínios e legitimava seu poder, enquanto ele se comprometia a defendê-la e a apoiar a cristianização dos francos.

Entretanto, os sucessores de Clóvis envolveram-se em conflitos pelo poder, enfraquecendo a realeza. Dessa fórma, a dinastia Merovíngia transferiu as funções reais mais importantes aos grandes senhores de confiança, conhecidos como “mordomos” ou “prefeitos” do palácio.

Um desses “mordomos” era Carlos Martel. Sob seu comando, em 732, na Batalha de Poitiers, os francos enfrentaram e venceram os muçulmanos, que haviam ocupado a Península Ibérica e avançavam em direção ao Reino Franco. Após a morte de Carlos Martel, seu filho, Pepino, o Breve, foi aclamado rei dos francos, dando início à dinastia Carolíngia.

Carlos Magno, filho e sucessor de Pepino, o Breve, reforçou a aliança com a Igreja e ampliou seus domínios em direção ao leste. Sob seu governo, o Reino Franco passou por uma fase de grande prosperidade. Além de conquistar novos territórios, Carlos Magno combateu os muçulmanos na fronteira com a Península Ibérica. Foi graças a essa política de defesa da cristandade contra o islã que Carlos Magno recebeu do papa a coroa e o título de “Imperador dos Romanos”, na noite de Natal do ano 800.

Fotografia. Vitral colorido com a imagem de um homem de cabelo e barba castanhos, olhos pequenos e lábios finos. Ele usa uma coroa arredondada e ornamentada na cabeça. As costas estão cobertas por um manto vermelho com as bordas brancas. Ele segura uma espada com uma das mãos, e com a outra, segura um globo com uma cruz em cima.
O imperador Carlos Magno representado em vitral da Igreja de Nossa Senhora de Sablon, em Bruxelas, Bélgica. Foto de 2017.

Responda em seu caderno.

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Nas mãos do imperador há dois símbolos de poder. Que símbolos são esses? O que eles representam?

Saiba mais

A Canção de Rolando

A luta da cristandade contra os muçulmanos inspirou A Canção de Rolando, poema épico popular escrito no século doze, em que os personagens são mais lendários que históricos. Rolando, sobrinho de Carlos Magno e valente guerreiro, integrava os Doze Pares de França, grupo que atuava como guarda pessoal de Carlos Magno. A canção ajudou a imortalizar o imperador carolíngio como defensor da cristandade.


Respostas e comentários

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Os símbolos são uma espada e um orbe (globo com a cruz em cima), que representam o poder temporal e o poder espiritual, respectivamente. Com a espada, o imperador defendia a religião cristã, que, por sua vez, legitimava o poder imperial.

A organização do Império Carolíngio

Para fortalecer seu poder, Carlos Magno concedeu benefícios a seus fiéis seguidores, estabelecendo com eles laços de vassalagem. Essa era uma relação de dependência pessoal que unia o suserano, no caso o imperador, ao vassalo. Os vassalos comprometiam-se a prestar serviço militar e outras obrigações ao suserano. Em troca, recebiam proteção e terras, ou benefícios, como o direito de cobrar taxas.

Carlos Magno dividiu o império em condados, marcas e ducados, que deviam ser administrados, respectivamente, por condes, marqueses e duques, escolhidos diretamente por ele. Esses representantes do poder imperial eram responsáveis pelo recolhimento de impostos e pelo comando dos exércitos locais.

Além desses servidores, o imperador carolíngio contava com funcionários especiais, os missi dominiti (“enviados do senhor”), que visitavam os domínios e faziam relatórios sobre eles.

O Império Carolíngio (séculos oito-nove

Mapa. O Império Carolíngio. séculos oito e nove. Destaque para a porção oeste da Europa. 
Legenda:
Em verde: Reino Franco em 771.
Em vermelho: Conquistas de Carlos Magno.
Em laranja: Áreas de influência carolíngia.
No mapa, o Reino Franco em 771 abrange a maior parte do atual território da França, da Bélgica, dos Países Baixos, além de uma parcela dos atuais territórios de Alemanha, Suíça e Itália. Esse reino era formado pelas regiões de Aquitânia, Borgonha, Nêustria, Austrásia e Alemanha. Entre as regiões de Nêustria e Austrásia, nas proximidades do Rio Reno, estão localizadas as cidades de Worms, Reims, Attigny, Trévis, Aquisgrã e Magúncia. As conquistas de Carlos Magno abrangem a Marca Hispânica, localizada a oeste dos limites do Reino Franco em 771; a Marca da Bretanha, ao norte. Ao leste, o Reino da Itália, incluindo as cidades de Aquileia e Veneza e as regiões da Baviera, da Ístria e da Saxônia, incluindo a cidade de Verden. Mais ao sul, na Península Itálica, Carlos Magno conquistou os Estados da Igreja e o Ducado de Espoleto. As áreas de influência carolíngia estão localizadas ao sul e à lesta das conquistas de Carlos Mango. Ao sul, na ilha de Córsega e no Ducado de Benevento, localizado na Península Itálica. À leste, em uma faixa que se estende desde o litoral do Mar Báltico até as proximidades dos Bálcãs, incluindo a região de Ávaros e a Marca da Panônia, próxima ao Rio Danúbio. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 230 quilômetros.

Fonte: dubí jórj. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. página 36.

Renascimento Carolíngio

No século nove, a maioria dos europeus, mesmo os que pertenciam à nobrezaglossário , não sabiam ler nem escrever. O próprio Carlos Magno só foi alfabetizado depois de adulto e, segundo alguns, aprendeu somente a ler. Por julgar importante a conservação de obras da Antiguidade e a difusão da cultura, o imperador tomou medidas que ficaram conhecidas como Renascimento Carolíngio.

Para preparar melhor os servidores imperiais, Carlos Magno fundou em seus palácios as escolas palatinas. Nelas, os filhos dos nobres estudavam com mongesglossário , preparando-se para administrar domínios e servir ao imperador. Entretanto, a maioria da população permanecia analfabeta.

Nos mosteiros, Carlos Magno incentivou o trabalho de monges copistas, especializados em copiar livros inteiros à mão, já que a imprensa ainda não existia. Obras de pensadores latinos, como Cícero, Virgílio e Tácito, só chegaram a nossos dias graças ao trabalho desses monges.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Qual foi a importância política da conversão do rei franco Clóvis ao cristianismo?
  2. Explique a relação entre suserano e vassalos no Império Carolíngio. 
  3. Justifique esta afirmação: “O Renascimento Carolíngio promoveu um grande desenvolvimento cultural”.

Respostas e comentários

Recapitulando

  1. A conversão de Clóvis ao cristianismo significou o estreitamento dos laços entre a Igreja Católica e os povos germânicos, promovendo uma troca de interesses entre eles. A Igreja legitimava o poder monárquico e ajudava o rei a administrar seus territórios, e o monarca apoiava a cristianização de seus súditos e dava proteção aos integrantes e bens da Igreja.
  2. O imperador concedia proteção, terras ou benefícios a seus vassalos, que, em troca, ofereciam ao rei, o suserano, serviços militares e outras obrigações.
  3. O Renascimento Carolíngio resultou de uma série de medidas tomadas por Carlos Magno para conservar as obras da Antiguidade Clássica e difundir a cultura. Essas medidas consistiam em incentivar o trabalho dos monges copistas, fundar escolas para os filhos da nobreza (as escolas palatinas) e preparar intelectualmente o clero cristão.

Ampliando: o trabalho dos monges copistas

“A iluminação é a arte que nos manuscritos alia a ilustração e a ornamentação, por meio de pinturas com cores vivas, ouro, prata, de letras iniciais, flores, folhagens, figuras e cenas, em combinações variadas, ocupando parte do espaço reservado ao texto e estendendo-se pelas margens, em barras ou molduras.

A prática de iluminar os manuscritos era muito comum na reprodução de livros na época medieval e teve grande desenvolvimento no período carolíngio reticências. Nesse período, a produção escrita aumenta muito, jerôme baxê cita uma estimativa de 50 mil manuscritos copiados no século nove, modificações importantes foram executadas, como o acréscimo de pontuação ao texto e o uso de um tipo de letra menor e mais elegante, a ‘minúscula carolina’, que facilitavam a leitura e o manuseio dos manuscritos. Em sua grande maioria, esses textos copiados são Bíblias, textos litúrgicos, livros cristãos, mas também foram muitas as cópias de literatura antiga, que serviam para aprender melhor as regras do bom latim, e que acabaram por chegar até nós por intermédio desses copistas.”

GODOI, Pamela Wanessa; VISALLI, Angelita Marques. Iluminura mariana. In: Anais do segundo Encontro Nacional de Estudos de Imagem. Londrina: uél, 2009. página 373. [cê dê rôm].

A fragmentação do Império Carolíngio

O exercício do poder imperial dependia da fidelidade de muitos senhores. Enquanto Carlos Magno era imperador, os nobres não questionaram seu poder pessoal e permaneceram fiéis. Entretanto, após sua morte, seus herdeiros tiveram dificuldade para exercer o poder, o que era agravado pelas constantes disputas entre eles.

Carlos Magno morreu em 814, e seu filho, Luís primeiro, o Piedoso, assumiu o trono. Mesmo não tendo a fôrça política do pai, Luís conseguiu manter a unidade do império. Após sua morte, contudo, as disputas entre os herdeiros evoluíram para uma guerra civil, que só terminou com a assinatura, em 843, do Tratado de Verdun. O tratado dividiu o Império Carolíngio em três grandes regiões: Carlos, o Calvo, ficou com a França ocidental, Lotário recebeu a Lotaríngia, região central do império, e Luís, o Germânico, ficou com a França oriental.

Para agravar as dificuldades, a partir do século nove os ataques de árabes, húngaros e vikingsglossário aumentaram a insegurança da população. Muitos recorreram à proteção militar dos senhores locais, refugiando-se em seus domínios. O medo desses ataques levou à edificação de muitos castelos e fortalezas, protegidos por muralhas e fossos, nos quais viviam guerreiros bem treinados.

A fragmentação política e territorial, a afirmação da Igreja Católica e a síntese de tradições romanas e germânicas forneceram as condições para a formação de um novo sistema político, econômico e social: o feudalismo.

Fotografia. Castelo construído na parte alta de um terreno montanhoso com uma grande muralha marrom ao redor. Ele é composto por construções altas e muitas janelas.
Castelo medieval de Cardona, na Catalunha, Espanha. Foto de 2018. A construção desse castelo foi iniciada no século nove.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

6. Que fatores contribuíram para o declínio do Império Carolíngio?


Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar da transição do mundo antigo para o medieval, conceituando os povos germânicos, e ao abordar o período da história da Europa Ocidental compreendido entre a emergência do Reino Franco e a fragmentação do Império Carolíngio, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero seis agá ih um quatro.

Recapitulando

6. As disputas pelo poder entre os netos de Carlos Magno, que levaram à fragmentação do Império Carolíngio, e as invasões de árabes, húngaros e vikings.

A expansão viking

Os vikings viviam na Península Escandinava. A base de sua economia era a pecuária, a pesca e a agricultura. Tinham uma religião politeísta e desenvolveram um sistema de registros escritos. A partir do século nove, passaram a fazer incursões em direção ao sul e ao oeste, atacando a Irlanda, a Inglaterra, a França, atingindo o Mediterrâneo, Constantinopla e a Rússia. Nesse processo de expansão, navegaram também em direção ao Ocidente, pelo Atlântico norte, atingindo a Islândia, a Groenlândia e o continente americano. Essas navegações foram possíveis porque os vikings tinham conhecimentos tecnológicos suficientes para construir embarcações e orientar-se no mar.

A formação do feudalismo

O sistema de suserania-vassalagem sobreviveu à desintegração do Império Carolíngio. A aliança firmada entre o suserano e o vassalo, ambos integrantes da nobreza, se estabelecia em uma cerimônia conhecida como homenagem. Nela, o vassalo, que recebia o benefício, jurava fidelidade ao suserano, que fazia a doação. O benefício poderia ser em fórma de cavalos, armas, joias, direito de cobrar taxas e, principalmente, terras. A partir do século onze, o benefício passou a se chamar feudo, que significa “bem doado em troca de algo”; daí a origem do termo feudalismo.

Em troca do feudo, o vassalo aconselhava seu suserano sobre diversos assuntos e lhe prestava auxílio econômico e militar. Os vassalos que recebiam os feudos se tornavam senhores feudais. Com o tempo, nobres que eram vassalos do rei passaram a doar benefícios a outros aristocratas, tornando-se seus suseranos.

Os senhores dos feudos territoriais passaram a exercer funções que até aquele momento cabiam ao rei: em seus domínios, impunham taxas e obrigações aos camponeses, elaboravam leis, julgavam os crimes, cunhavam moedas e mobilizavam exércitos para defender seus territórios. Assim, o poder político, antes centralizado nas mãos do rei, ficou fragmentado em vários feudos.

Em caso de falecimento do suserano ou do vassalo, o juramento de fidelidade era renovado entre os primogênitos do sexo masculino das famílias envolvidas. Caso não houvesse descendentes do sexo masculino, o benefício retornava ao suserano. Se a mulher de um vassalo ficasse viúva, o suserano escolhia um marido para ela e o tornava tutor dos bens da família.

Iluminura. Diversos homens reunidos em um ambiente fechado. À esquerda, sentado em um trono dourado, Felipe quarto, homem de rosto magro, cabelos claros. Usa luvas e um grande manto azul que encobre todo seu corpo. Sobre seu colo, um livro aberto. À sua frente, ajoelhado, o rei Eduardo primeiro. Homem de testa larga e cabelos grandes. Veste uma túnica vermelha. Está com as mãos sobre o livro no colo de Felipe. Ao redor deles, em pé, homens de roupas coloridas e simples usando acessório na cabeça observam.
Iluminura que representa o rei Felipe quarto, da França, recebendo homenagem do rei Eduardo primeiro da Inglaterra, século catorze. Biblioteca Nacional da França, Paris. Segundo as regras das relações vassálicas, um monarca poderia ser suserano ou vassalo de outro.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

7. Explique o que era a cerimônia de homenagem, citando os deveres e os direitos de suseranos e vassalos.


Respostas e comentários

Recapitulando

7. A cerimônia de homenagem era uma solenidade de juramento de fidelidade na qual o suserano doava um feudo a um vassalo, que em troca prestava ao suserano auxílio econômico e militar.

Ampliando: a figura do rei

“O rei medieval foi um personagem novo e específico da história, entre os séculos seis e dezesseis. Esse personagem evoluiu e muda durante aquele longo período no curso do qual se podem distinguir três momentos: a época carolíngia, quando o rei se torna um rei ungido e um rei ministerial; entre 1150 e 1250, quando aparece um rei administrativo em face de três realidades (a coroa, o território e a lei); e ao final do período, quando o rei se encontra diante de um Estado sacralizado que ele se esforça por absorver.”

LE GÓFI, Jaques. Rei. In: LE GÓFI, Jaques; chimit jean clôde (organizador). Dicionário temático do Ocidente medieval. Bauru: êdúsqui; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2002. volume 2, página 395.

A organização do feudo

Na Idade Média, a terra era a riqueza mais importante, e a agricultura, a atividade econômica que garantia o sustento dos aristocratas, dos membros do clero, dos camponeses e dos moradores das cidades. A unidade agrícola senhorial chamava-se senhorio. Nela, viviam o senhor e sua família, nobres protegidos pelo senhor, servos, vilõesglossário e, às vezes, escravizados.

No senhorio, eram produzidos cereais, leguminosas, queijo, manteiga, vinho, utensílios domésticos, tecidos e outros artigos necessários à subsistência dos moradores. Como o comércio reduziu-se muito no período, muitos senhorios eram autossuficientes.

Cada senhorio era dividido em partes (mansos).

  • Manso senhorial. Parte do senhorio reservada à exploração exclusiva do senhor. Nela, camponeses em situação servil trabalhavam gratuitamente no cultivo de alimentos.
  • Manso servil. Terra destinada aos camponeses. Nessa área, os camponeses podiam cultivar alimentos para a própria sobrevivência, mas deviam pagar taxas ao senhor pelo uso da terra e pela proteção.
  • Terras comunais. Pastos, bosques e terrenos baldios utilizados pelos senhores e pelos camponeses. Serviam para pastagem de animais, coleta de mel e frutos e extração de madeira. A caça nas florestas, no entanto, era exclusiva dos senhores.

O castelo era o centro da vida do senhorio. Nele, residiam o senhor, sua família e dependentes, como nobres e cavaleiros. Era uma construção fortificada com muralhas e torres, na qual também viviam guerreiros encarregados de defender o senhorio de invasões.

Representação de um senhorio medieval

Ilustração. Representação de um senhorio medieval. À esquerda, um castelo protegido por grandes muralhas. Ao seu redor, água. Uma ponte faz a ligação do castelo com o resto do senhorio. À frente da ponte, a área do manso senhorial, composta por diversos lotes de terra. Vários desses lotes têm plantações, outros têm gado pastando e alguns lotes de terra estão sem plantação. Um rio passa ao redor do manso senhorial, separando-o do restante do senhorio. Em meio às plantações do manso senhorial, outra ponte que leva à área do manso servil, com pequenas moradias e mais lotes de plantações. Ao fundo, área de bastante vegetação representando as terras comunais,
Ilustração de Roko representando esquematicamente um senhorio medieval. Criação de 2015 com cores-fantasia.

Fonte: luí alã; pomiê môrrice. Les châteaux forts. Paris: Hachette, 2000. página 18-19.


Respostas e comentários

Arrecadações dos senhores

A partir do final do século onze, sobretudo na França, o número de pedágios instalados pelos senhores feudais aumentou. Além da arrecadação de taxas sobre mercadores e servos, os pedágios medievais cumpriam a função de fiscalizar a circulação de pessoas e mercadorias nos domínios senhoriais.

Os lagares eram tanques utilizados para espremer frutos, como uvas e azeitonas, dos quais se produziam vinho e azeite, respectivamente. Seu uso era condicionado ao pagamento de tributos, como as banalidades, ao senhor feudal.

Ampliando: os primeiros castelos

“As antigas estruturas herdadas da Antiguidade reticências terminaram por desmoronar para dar lugar a um novo regime, o feudalismo. Este não é de desordem, apesar das violências e das guerras privadas, mas uma tentativa de instaurar uma nova ordem fundada sobre as relações de homem a homem, sobre as solidariedades coletivas e sobre a adaptação do poder a uma escala territorial reduzida e às vezes muito pequena reticências. Ela se organiza em torno de um castelo, talvez de origem pública, mas tornado privado, que constitui a séde do verdadeiro poder.

Nos séculos dez e onze multiplicaram-se as residências fortificadas dos novos senhores de terras e de homens.”

pezê jiã marrí. Castelo. In: LE GÓFI, Jaques; chimit jean clôde (organizador). Dicionário temático do Ocidente medieval. Bauru: êdúsqui; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2002. volume 1, página 156.

Uma sociedade de ordens

Como era a organização social na Europa feudal? De acordo com um texto do bispo Adalberón de Laon, escrito no século onze, a sociedade estava dividida em três ordens, ou seja, em três grupos sociais com diferentes funções, estabelecidas pela vontade de Deus.

Havia os integrantes do clero, que, por meio de suas orações, seriam responsáveis pela salvação dos homens. Os aristocratas ou senhores, por sua vez, deveriam proteger a população com armas. Já os trabalhadores eram encarregados de garantir o sustento de toda a sociedade.

É importante frisar que essa estrutura não correspondia exatamente à realidade da época, mas a uma representação do que seria ideal para a Igreja. A sociedade feudal era muito mais complexa e estava organizada em várias outras subdivisões.

Os que rezam e os que lutam

O clero era formado por dois grupos: o clero secular e o clero regular. O primeiro vivia em contato com os fiéis, ensinava o Evangelho e cuidava dos bens da Igreja. Na base da hierarquia do clero secular, estava o pároco; no topo, o papa. Já os integrantes do clero regular viviam em mosteiros, isolados do mundo, e seguiam uma vida regrada pela oração e pela penitência. Eles também se dedicavam a copiar e a estudar obras da Antiguidade pagã e cristã.

Iluminura. À direita, homens aglomerados, olhando para a esquerda. Eles vestem túnicas e tem a parte superior da cabeça sem cabelo. À frente deles, um homem com um manto ornamentado segurando um cetro. À esquerda, mais pessoas aglomeradas. À frente delas, o papa. Ele usa um grande chapéu pontiagudo e tem sobre o corpo um manto dourado. Ele está com uma das mãos estendida, na direção dos homens à direita.
Iluminura representando a consagração da Igreja em Cluny, na França, pelo papa Urbano segundo, século doze. Biblioteca Nacional da França, Paris.

Os aristocratas eram os senhores feudais. Entre eles, também havia uma hierarquia: no topo estava o rei; abaixo, vinham os duques, os condes e os marqueses. Esses aristocratas formavam a verdadeira nobreza feudal, que em geral descendia dos antigos servidores de Carlos Magno. Abaixo deles, estavam os viscondes e os barões. Os aristocratas viviam à custa do trabalho dos camponeses. Moravam em castelos fortificados, protegidos por cavaleirosglossário .


Responda em seu caderno.

Recapitulando

8. Como estava dividida a sociedade feudal, segundo a visão da Igreja?


Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao analisar o papel do cristianismo na organização social, política e cultural da Idade Média, o capítulo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero seis agá ih um oito.

Recapitulando

8. De acordo com a visão da Igreja, a sociedade feudal estava dividida em três ordens: a dos que rezavam (clero), a dos que lutavam (nobres) e a dos que trabalhavam (camponeses).

Organização social

A estrutura da sociedade em ordens foi formulada pela Igreja, que se baseou no modelo cristão da Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo). Infringi-la era o mesmo que cometer um pecado; por isso, garantia o cumprimento dos deveres e direitos dos integrantes dos três grupos e assegurava o equilíbrio social.

Cristãos leigos e cristãos clérigos

Atualmente, outra análise possível da composição da sociedade feudal é a distinção entre cristãos leigos e clérigos. Resumidamente, os cristãos leigos podem ser divididos em dois grupos: aqueles que possuíam terras (nobres e cavaleiros) e os que não possuíam (camponeses, servos, vilões e os poucos escravizados). Entre os cristãos clérigos, o papa estava no topo da hierarquia; abaixo dele, o clero secular (dividido entre o alto clero, composto dos bispos – grandes proprietários de terra –, e o baixo clero, formado pelos padres das paróquias) e o clero regular (que correspondia aos monges que viviam isolados nos mosteiros).

Os que trabalham

No campo, onde residia a maior parte da população, havia trabalhadores de três tipos: os servos, os vilões e os escravizados.

Os servos eram camponeses ligados à terra, sujeitos ao trabalho compulsório. Eles não podiam abandonar a propriedade em que viviam nem podiam ser expulsos dela. Se o feudo passasse para outro senhor, os servos deviam permanecer nele. Eles também deviam pagar taxas ao senhor pelo uso da terra e pela proteção recebida. Conheça, a seguir, algumas delas.

  • Corveia. Taxa paga em fórma de trabalho não remunerado no lote exclusivo do senhor.
  • Talha. Parte da produção do manso servil que o servo era obrigado a entregar ao senhor.
  • Banalidades. Taxa paga em fórma de produtos pelo uso dos moinhos, fornos e celeiros instalados nas reservas senhoriais.

Os vilões eram camponeses livres. Eles não estavam presos à terra e, assim, podiam vagar pelos feudos em busca de trabalho. Alguns eram proprietários de pequenos lotes de terra, de onde tiravam seu sustento. Com o tempo, diante das pressões dos grandes senhores e da insegurança causada pelas invasões externas, os vilões foram obrigados a se colocar sob a proteção dos senhores.

Os escravizados, por sua vez, pertenciam ao senhor. A escravidão, herança romana, gradativamente perdeu espaço para a servidão. Os poucos escravizados existentes trabalhavam nos domínios do senhor, executando tarefas domésticas.

Para garantir o domínio sobre suas terras e sobre os camponeses, os senhores utilizavam a fôrça militar. Os camponeses, porém, resistiam de diversas fórmas: fugiam para as cidades, promoviam revoltas ou apelavam à justiça (onde ela existia, como na Inglaterra) contra medidas senhoriais abusivas e serviços exigidos pelo senhor.

Pintura. Na parte inferior da pintura, mulheres andam a cavalo próximas a uma muralha. Elas usam vestidos elegantes. Próximo a elas, na faixa central da pintura, homens andam a cavalo. Eles vestem roupas elegantes. Um deles carrega uma ave pousada no braço. Mais acima, uma pessoa de roupas simples ajoelhada plantando. Na parte superior da pintura, pessoas de vestimentas simples arando a terra manualmente e com carrinhos puxados por animais. Acima delas, o Sol.
O mês de setembro, afresco elaborado por volta de 1400. Castelo de Buonconsiglio, Trento, Itália.

Responda em seu caderno.

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  1. Que grupos sociais da Europa medieval foram representados na pintura? Justifique sua resposta com base nos elementos da imagem.
  2. Considerando a divisão da sociedade feudal difundida pela Igreja, que grupo social não foi representado na pintura?

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar as fórmas de trabalho no período medieval, o texto contempla parcialmente as habilidades ê éfe zero seis agá ih um seis e ê éfe zero seis agá ih um sete.

Explore

  1. A pintura representa, na parte superior, os camponeses plantando e arando a terra. Já na parte inferior da imagem, foram representados membros da aristocracia; bem-vestidos e montados a cavalo, parecem estar em um momento de lazer.
  2. O grupo social que não foi representado na pintura foi o clero.

Ser mulher na Europa medieval

Na Idade Média, a mulher era comumente representada ora como santa e mãe, ora como pecadora. No primeiro caso, o exemplo era a Virgem Maria, mãe de Jesus. No segundo, a referência era Eva, mulher de Adão, que seria a grande responsável pelo pecado original e por todos os males que ele causou para a humanidade.

Em geral, as mulheres eram representadas e vistas como seres inferiores que deviam ser disciplinadas e submetidas à figura masculina do pai, do marido, do filho ou de outro familiar. Mas, apesar de serem marginalizadas e não poderem exercer, por exemplo, cargos públicos, elas tinham muita importância na vida econômica da Europa medieval.

No campo, as mulheres assumiam praticamente as mesmas tarefas que os homens. Além disso, desempenhavam as atividades domésticas e cuidavam das crianças. As nobres também exerciam algumas funções: muitas teciam e bordavam; outras eram especialistas em confeccionar tapetes. Algumas mulheres da nobreza também eram responsáveis pela educação das crianças.

Outras mulheres escolhiam se dedicar à vida religiosa nos mosteiros. Algumas nobres, geralmente viúvas, chegaram a fundar mosteiros femininos, tendo muita autonomia e exercendo um protagonismo de que não podiam desfrutar fóra desses espaços.

Ilustração. À direita, mulher em um longo vestido vermelho, usando uma coroa dourada, está construindo um muro. Ela carrega nas mãos um grande bloco. À sua frente, uma mulher de vestido azul e um adereço branco na cabeça, está ajudando na construção. Ela está com uma espátula na mão, inclinada na direção de um recipiente com a substância que será colocada entre os blocos. À esquerda, mulheres de vestidos longos e coroas douradas seguram objetos de formatos variados. À frente delas, uma mulher, de vestido azul e adereço branco na cabeça, está atrás de uma mesa, olhando para um livro aberto sobre ela.
Detalhe de ilustração feita para a obra A cidade das senhoras, da escritora medieval Cristina de Pisano, 1410-1411. Biblioteca Nacional da França, Paris.

Refletindo sobre

Na Idade Média, as mulheres não tinham direitos iguais aos dos homens nem liberdade de ir e vir. Apesar de, com o tempo, terem conquistado diversos direitos, as mulheres ainda sofrem com o preconceito e a desigualdade. De que fórma o desrespeito pelas mulheres está presente em nossa sociedade? Que atitudes podem ser tomadas para que esse problema seja erradicado? Converse com os colegas sobre essas questões.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Defina os termos:
    1. corveia;
    2. talha;
    3. banalidades;
    4. manso senhorial;
    5. manso servil;
    6. terras comunais.
  2. A afirmação “As mulheres tinham ampla autonomia na Europa medieval”está correta? Justifique.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar o tema das mulheres no período medieval, o texto contempla a habilidade ê éfe zero seis agá ih um nove.

Refletindo sobre

Espera-se, com esta atividade, promover uma reflexão sobre os problemas enfrentados pelas mulheres na atualidade, como a violência física e psicológica. Aproveite a discussão para problematizar a desigualdade de condições de participação de mulheres e homens no mercado de trabalho e em diferentes espaços de poder e de representatividade nos dias de hoje. Ressalte a importância do compromisso de todos para o desenvolvimento de uma sociedade com igualdade efetiva de direitos. A atividade contribui também para promover a empatia, a solidariedade, a análise crítica do tema e a prática da argumentação oral.

Bê êne cê cê

Esta atividade contribui para o desenvolvimento das Competências gerais da Educação Básica nº 1, nº 2, nº 7 e nº 9 e das Competências específicas de Ciências Humanas nº 1, nº 2 e nº 6.

Recapitulando

    1. Corveia: tributo pago pelos servos em fórma de trabalho nas terras do senhor.
    2. Talha: tributo que consistia em entregar ao senhor uma parte do que os servos produziam no manso servil.
    3. Banalidades: taxas pagas pelos servos ao senhor, geralmente em produtos, pelo uso dos moinhos, fornos, celeiros e outras instalações do senhorio.
    4. Manso senhorial: terras pertencentes exclusivamente ao senhor.
    5. Manso servil: terras do senhorio destinadas aos servos, nas quais estes produziam para a própria sobrevivência mediante pagamento de tributos.
    6. Terras comunais: bosques, pastos e terrenos baldios usados tanto pelo senhor quanto pelos servos.
  1. Não. Essa afirmação está incorreta. Na sociedade medieval, as mulheres eram consideradas inferiores e obrigadas a ser submissas aos homens. Relegadas às atividades agrícolas e/ou domésticas, não podiam exercer cargos públicos.

Mentalidade e cultura na Idade Média

Ao longo da Idade Média, o pensamento religioso permeou praticamente todas as esferas da vida: os fenômenos da natureza, por exemplo, como as chuvas e as secas, eram explicados como vontade divina e acreditava-se que doenças podiam ocorrer pelo não cumprimento de deveres religiosos. Nesse sentido, como a religião regrava a vida, as pessoas naturalmente preocupavam-se com o ciclo de nascimento, envelhecimento e morte. Havia duas fórmas de encarar a morte: por um lado, ela era considerada a passagem para a vida eterna, para a qual os cristãos preparavam-se ao longo de sua vida terrena; por outro, era vista como uma espécie de fantasma que rondava e destruía a todos.

Acreditava-se que, após o Juízo Final, a alma dos fiéis iria para o paraíso ou para o inferno, dependendo de suas ações na Terra. No inferno, imaginado como um lugar de sofrimento e de tortura, os condenados iriam se deparar com fogo, demônios, tormentos e dores. No paraíso, ao contrário, um local harmonioso, iluminado e belo, as almas encontrariam paz eterna.

No final do século doze, a ideia da existência de um lugar intermediário entre o céu e o inferno começou a se difundir no Ocidente medieval. O purgatório, como ficou conhecido, seria destinado às almas que deveriam pagar por seus pecados antes de serem salvas. Em uma sociedade em que o essencial era a conquista do paraíso, a condição servil e o sofrimento que ela impunha aos camponeses eram considerados necessários à salvação.

Iluminura. Criatura semelhante a um demônio, tem o corpo alaranjado, orelhas grandes e chifres dourados. Está deitado sobre uma superfície retangular em chamas avermelhadas. Dentro dela, em meio ao fogo, pessoas. A criatura segura algumas pessoas nuas nas mãos. Ele está com a boca aberta, cuspindo chamas. No interior dessas chamas há diversas pessoas. Ao redor da estrutura, outras criaturas com chifres pontiagudos e asas aumentam o fogo com sopradores e jogam mais pessoas no fogo. Algumas pessoas são arrastadas por cordas no pescoço. Ao fundo, pequenas montanhas escuras. Cada uma delas tem uma abertura dourada, com pessoas à mostra. O céu é azul escuro e está parcialmente coberto por fumaça cinza.
Detalhe de iluminura medieval representando o inferno, retirada do livro As muito ricas horas do duque de béri, século quinze.

Responda em seu caderno.

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Como o inferno foi representado pelo artista nesta pintura? Você imagina por que ele o representou dessa fórma?

O teatro

As encenações teatrais mais difundidas na Idade Média estavam centradas em temas religiosos, como o nascimento e a paixão de Cristo, a história da Virgem Maria e a dos santos etcétera As apresentações eram organizadas pelo clero, que considerava o teatro um veículo eficiente de transmissão da fé católica.

Havia também encenações populares, um tipo de teatro que misturava perfórmances acrobáticas, palhaços e representações de histórias. Essas peças eram encenadas pelos saltimbancos, atores que andavam de cidade em cidade fazendo apresentações. Muitos foram perseguidos pela Igreja por criticarem certos hábitos do clero.


Respostas e comentários

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O inferno foi representado como um lugar aterrorizante, em que criaturas demoníacas torturavam as almas que lá estavam. O uso de cores quentes e fórmas pontiagudas reforça a ideia de um ambiente hostil. Ao pintar o inferno dessa maneira, o artista provavelmente quis transmitir a mensagem de que as más ações podem levar as pessoas a sofrer após a morte.

O medo da fome e a criação de uma terra imaginária

Em muitas regiões da Europa medieval, o clima frio, as inundações, os longos períodos de estiagem, os equipamentos precários utilizados na lavoura e a falta de sistemas adequados para armazenar a colheita afetavam a produção de grãos, o principal alimento da população. Por essa razão, muitas pessoas morriam de fome e de doenças ligadas à desnutrição ou eram vítimas de epidemias.

Como fórma de fugir dessa realidade, foram criadas diversas narrativas sobre uma terra imaginária, a Cocanha, na qual não havia privações, mas abundância de alimentos. Essas histórias eram transmitidas oralmente de geração a geração e foram registradas em diferentes épocas e lugares.

Ampliando: contos sobre a Cocanha

“‘Bem-vindo à Cocanha, que nenhuma outra terra é capaz de igualar! reticências Aqui abundam as coisas boas, sem que ninguém precise semear para colhêr. Nunca tem inverno nem geada, nunca tem sêca nem fome. E nenhum senhor vem roubar nossos celeiros nem devastar nossas plantações. Venha, você será meu convidado!’ reticências

Ao saírem de uma montanha de queijo, que eles atacam a colheradas, os dois comilões chegam diante de uma cidade incomparável. Suas muralhas são gigantes fatias de carne assada. reticências As portas – dois pães de fôrma – estão entreabertas. Étienne e Jacques reticências chegam diante de uma casa toda feita de docinhos, vasta o bastante para abrigar um príncipe, sua côrte e seu exército.”

massárdiê gil. Contos e lendas da Europa medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. página 27-35.

A literatura

No século doze, a literatura teve um extraordinário desenvolvimento. Conheça a seguir alguns gêneros literários dessa época.

  • Romances. Histórias inspiradas em lendas da Antiguidade, adaptadas aos valores medievais. Eram escritas em línguas neolatinas ou românicas – daí o nome romance – e circulavam principalmente nas cortes dos importantes senhores.
  • Canções de gesta. Longas narrativas escritas em versos. Tratavam dos feitos dos heróis medievais e eram transmitidas oralmente, cantadas nas cortes dos reis. A obra A Canção de Rolando é um exemplo desse tipo de produção literária.
Iluminura. À direita, o corpo de um homem sobre o chão, sendo amparado por outro homem. Eles usam roupas avermelhadas e capacetes. Atrás deles, vegetação e dois cavalos. À esquerda, um homem montado em um cavalo. Ele usa um chapéu em formato de cone e tem asas. Sua mão aponta na direção dos homens à direita.
Iluminura medieval representando um trecho da obra A Canção de Rolando, século catorze. Biblioteca Nacional Marciana, Veneza, Itália.

Novelas de cavalaria. Expressavam o código de conduta do cavaleiro, destacando sua bravura, sua honra e sua lealdade. Uma das narrativas mais populares, ainda nos dias de hoje, é a dos feitos do rei Artur e dos cavaleiros da Távola Redonda.

Saiba mais

O lendário Artur

As histórias sobre o rei Artur misturam heranças da cultura oral celta e tradições cristãs, como a da busca pelo Graal, cálice que teria sido usado por Cristo na Santa Ceia. O primeiro registro dessas histórias se encontra nas crônicas História dos reis da Bretanha, do clérigo jofré de monmóf, escritas por volta de 1138. Até os dias de hoje, Artur é um dos reis lendários que mais povoam o imaginário popular.

Conexão

O Rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda

Rosalind Quérven. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2020.

Nesse livro, você vai se divertir com as aventuras de personagens conhecidos da literatura, como o Rei Artur, o mago Merlim e a Fada Morgana. Além disso, poderá consultar textos informativos, que relacionam a ficção à realidade e exploram as diferentes versões da lenda, apresentadas na literatura, no teatro e no cinema.


Capa de livro. Na parte superior, o título. Em destaque na página, a ilustração de uma espada presa em uma bigorna. Ela tem o cabo trançado e alaranjado. Ao fundo, uma floresta.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Como a religiosidade estava presente na mentalidade medieval?
  2. De que modo o teatro foi usado pela Igreja durante o período medieval?

Respostas e comentários

Interdisciplinaridade

Ao abordar alguns gêneros literários do período medieval e suas características, os conteúdos desta página relacionam-se com o componente curricular língua portuguesa, especificamente com a habilidade ê éfe seis nove éle pê quatro quatro.

Recapitulando

  1. A religião estava profundamente enraizada na mentalidade medieval e suas prescrições regulavam praticamente todos os aspectos da vida dos europeus. Eles acreditavam, por exemplo, que os fenômenos da natureza, como as chuvas e as secas, eram fruto da vontade divina.
  2. O teatro foi usado pela Igreja como veículo de transmissão da fé católica durante a Idade Média. As encenações teatrais promovidas pela Igreja tinham como temas o nascimento e a paixão de Cristo, a história da Virgem Maria e dos santos, entre outros relacionados à fé católica.

Conexão

As lendas do Rei Artur e dos cavaleiros da Távola Redonda constituem uma das histórias mais difundidas e conhecidas da Idade Média. Trata-se de uma narrativa que sobreviveu por séculos por meio da tradição oral e encantou homens e mulheres, transformando o lendário rei bretão em um herói espetacular. Registradas no século doze pelo monge galês jofré de monmóf em um livro que intitulou Histórias dos reis da Bretanha, essas lendas aproximam os alunos do imaginário medieval, profundamente marcado pelas tradições céltica e cristã, expressas em especial na ética cavaleiresca e no compromisso que os cavaleiros estabelecem com o deus cristão.

Interdisciplinaridade

A leitura das lendas arturianas permite o trabalho com o componente língua portuguesa, desenvolvendo a habilidade ê éfe seis sete éle pê dois oito.

Atividade complementar

Proponha aos alunos que se organizem em pequenos grupos para realizar uma pesquisa sobre mosaicos, vitrais, painéis, relevos, esculturas e outras representações que ornavam as igrejas e as catedrais da Idade Média. Por meio dessa atividade, é possível explorar mais um aspecto da mentalidade medieval, bem como demonstrar o papel didático dessas obras. Elas facilitavam a compreensão das mensagens religiosas em uma sociedade em que poucas pessoas tinham acesso à leitura e à escrita.

Bê êne cê cê

Esta atividade favorece o desenvolvimento da Competência específica de História nº 1.

Enquanto isso…

O Império Bizantino

Enquanto o Império Romano do Ocidente declinou em 476, criando as condições para a formação do feudalismo na Europa, o Império Romano do Oriente ou Império Bizantino continuou a se desenvolver e a se destacar.

O termo bizantino origina-se de Bizâncio, cidade fundada pelos gregos no século sete antes de Cristo Em 330, quando o imperador Constantino a escolheu como séde do Império Romano, a cidade de Bizâncio foi rebatizada de Constantinopla, a “Cidade de Constantino”. Alguns autores adotaram essa data para marcar o início do Império Bizantino.

Outros historiadores, porém, datam essa fundação em 395, quando o imperador Teodósio dividiu os domínios romanos em Império Romano do Ocidente, com capital em Milão e depois em Ravena, e Império Romano do Oriente, com séde em Constantinopla.

No Império Bizantino, o imperador detinha os poderes político e religioso, como destaca o historiador chárlem díel no texto a seguir.

Poucos soberanos no mundo foram mais poderosos que o imperador de Bizâncio. Poucos Estados reticências tiveram concepção mais absoluta da autoridade monárquica. Herdeiro dos césares romanos, reticências o cristianismo fez dele o eleito de Deus, o ungido do Senhor, o representante de Deus sobre a Terra reticências.

díel chárlem. Os grandes problemas da história bizantina. São Paulo: Editora das Américas, 1961. página 82.

A cidade de Constantinopla chegou a abrigar 500 mil habitantes por volta do ano 1000. Entre os séculos nove e doze, a cidade impressionava pela imponência e pela beleza de seus palácios, igrejas e teatros. Por sua localização geográfica, Constantinopla tornou-se um dos maiores entrepostos comerciais daquele período.

Império Bizantino (séculos seis-onze)

Mapa. Império Bizantino, séculos seis a onze.  Destaque para terras na Europa, na Ásia e na África ao redor do Mar Mediterrâneo.
Legenda:
Linha vermelha: Extensão do Império sob Justiniano primeiro, 527 a 565.
Em rosa: O Império em cerca de 1020.
No mapa, a extensão do império sob Justiniano primeiro abrange o norte da África, incluindo a cidade de Túnis, o Egito e a cidade de Alexandria; o oeste da Ásia, incluindo a região da Palestina e a cidade de Jerusalém, as regiões da Síria e da Ásia Menor e as cidades de Antioquia, Trebizonda e Niceia; o Mar Negro, sul da Europa, incluindo Sérvia, Bulgária, Macedônia e a cidade de Constantinopla (Bizâncio), Tessalônica, Grécia e a cidade de Atenas, Itália e as cidades de Veneza, Gênova, Ravena, Roma e Nápoles, o sul da Espanha, as ilhas de Córsega, Sardenha, Sicília, Creta e Chipre e toda a extensão do Mar Mediterrâneo. O império em cerca de 1020 teve suas dimensões reduzidas. No sul da Europa foram mantidas a porção sul da Itália, as áreas de Sérvia, Bulgária, Tessalônica, Macedônia, incluindo a cidade de Constantinopla, Grécia, incluindo a cidade de Atenas, e a ilha de Creta. Os territórios na Ásia Menor foram mantidos, incluindo as cidades de Antioquia, Trebizonda e Niceia. Na Síria, apenas uma pequena faixa litorânea foi mantida. A ilha de Chipre também foi preservada. Houve uma pequena ampliação do território ao leste da Ásia Menor.
No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 330 quilômetros.

Fonte: dubí jórj. Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2010. página 78, 99, 103.


Responda em seu caderno.

Questão

Considerando o que você leu no texto de chárlem díel, esclareça a relação que existia entre o poder político e o poder religioso no Império Bizantino.


Respostas e comentários

Bê êne cê cê

A seção “Enquanto issoreticências” favorece o desenvolvimento da Competência específica de Ciências Humanas nº 5.

Enquanto issoreticências

Espera-se que o aluno compreenda que, segundo o texto de díel, o imperador era, por definição, um homem santo. Como representante de Deus na Terra, ele era, a um só tempo, líder supremo do Estado e da Igreja.

De Constantinopla a Istambul

O primeiro golpe que enfraqueceu o Império Bizantino foi desferido pelos combatentes cristãos da Quarta Cruzada, que, em 1204, assaltaram a cidade de Constantinopla, pilharam riquezas e relíquias cristãs e promoveram o massacre da população local. O golpe final veio em 1453, quando a cidade foi conquistada pelos turcos otomanos. Depois disso, ela foi renomeada como Istambul.

Ampliando: a arte no Império Bizantino

“A arte bizantina se desenvolveu ao longo de mais de mil anos e se caracterizou por misturar o classicismo grego reticências e a arte romana reticências com a tendência oriental à alegoria, e por um predomínio cada vez maior de ritos cristãos.

A estética da arte bizantina evoluiu constantemente durante esse período [em que existiu o Império Bizantino], começando com a primeira era de Ouro do início da arte bizantina, que durou da fundação da nova capital até o século oito. Depois de um tempo de iconoclastia (destruição das imagens religiosas), de 726 a 843, o período médio durou de 843 a 1261, seguido por uma última época de florescimento chamada arte bizantina tardia, que perdurou até a queda de Constantinopla, em 1453. A representação realística do classicismo deu lugar a uma arte mais abstrata e decorativa, na qual as cores vibrantes e o simbolismo ressonante eram usados para criar uma atmosfera mística reticências. Artistas, em geral anônimos, criaram mosaicos, afrescos, pinturas, ícones e esculturas religiosas para decorar igrejas e monastérios com cenas da vida e dos ensinamentos de Cristo.”

fárting, istífen. Tudo sobre arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2011. página 72.

Atividades

Responda em seu caderno.

Aprofundando

1. Hagar, o Horrível, é um guerreiro viking protagonista de uma tira em quadrinhos criada por Diqui Bráun. Ele comanda um exército atrapalhado que realiza campanhas de invasão e saques pela Europa medieval. Porém, em sua casa, quem comanda é sua mulher, Helga. Leia uma de suas tirinhas a seguir e responda às questões.

Quadrinho. Cena em dois quadros. 
Quadro 1: Hagar, homem grande e gordo, de nariz arredondado, barba comprida. Usa um chapéu com dois chifres. Ele segura um escudo redondo ao lado do corpo e olha para Helga, sua esposa. Helga usa chapéu com dois chifres e um escudo pontiagudo. Com uma das mãos ela cozinha em um caldeirão. Hagar diz: ACONTECEU ALGUMA COISA IMPORTANTE ENQUANTO EU ESTIVE FORA? Helga responde: BOM, DEIXA VER... O IMPÉRIO ROMANO CAIU... A IDADE DAS TREVAS COMEÇOU EM JUNHO... O REI CLÓVIS CONVERTEU OS FRANCOS... OS HUNOS SAQUEARAM A NOSSA ALDEIA E O TEU VELHO CACHORRO TEVE FILHOTES.
Quadro 2. Hagar sorridente e animado diz: UAU! FILHOTES!
Hagar, o Horrível, tirinha de Diqui Bráun, 1973.
  1. Que eventos históricos são citados no diálogo da tirinha?
  2. Podemos afirmar que esse diálogo tem mais relação com a época contemporânea do que com a Idade Média? Justifique.
  3. Considerando que Hagar é um guerreiro viking, qual seria sua terra de origem? Quais seriam suas pretensões territoriais?
  4. Por que o uso da expressão Idade das Trevas é atualmente muito criticado pelos historiadores?

2. Leia o texto e responda às questões.

Glorioso Rei da glória, assim como os lavradores restituem a saúde à terra e a maduram para semear nela a semente, da mesma fórma vemos que Vós, Senhor, tendes semelhantes homens pobres diante da presença de homens ricos para que os ricos dividam suas riquezas com os pobres, pois aquelas riquezas dão frutos e se duplicam para os homens ricos.

Portanto, bendito sejais Vós, Senhor Deus, pois assim como haveis dado muitas e diferentes sementes aos lavradores para que semeiem a terra, da mesma fórma haveis dado aos homens ricos muitas e diferentes riquezas para que eles possam dar e dividi-las com os homens pobres que, pelo Vosso amor, desejam ser pobres e adquiri-las dos homens ricos.

lúl rámon. O livro da contemplação em Deus (1232-1316). Extratos de documentos medievais sobre o campesinato (séculos cinco-quinze). Disponível em: https://oeds.link/kXcVbY. Acesso em: 12 abril 2022.

  1. O texto cita duas características importantes sobre a economia e a sociedade na Europa medieval. Identifique-as.
  2. Como o autor do texto justifica as diferenças econômicas entre os homens na sociedade feudal?

Respostas e comentários

Atividades

    1. A queda do Império Romano do Ocidente e o início da Idade Média, o processo de cristianização dos francos, com a conversão do rei Clóvis, e a onda de invasões hunas na Europa.
    2. Sim. Os normandos, ou vikings, que invadiram reinos da Europa nos séculos nove e dez, não podiam imaginar viver em uma “Idade das Trevas”, não viam a conquista de Roma como a queda do império nem conseguiam interpretar o batismo do rei Clóvis como a conversão dos francos ao cristianismo. Essas noções resultam do conhecimento histórico produzido sobre o assunto em épocas posteriores. Dessa fórma, o cartunista transfere para a tira referências historiográficas contemporâneas mescladas com suas experiências e sua visão de mundo.
    3. Sua terra de origem seria a Escandinávia, no norte da Europa. Hagar pretendia conquistar a Rússia, terras do Mediterrâneo e do Mar do Norte e, principalmente, a Inglaterra.
    4. A visão da Idade Média presente na expressão Idade das Trevas foi superada pela historiografia, que destaca a importância das inovações tecnológicas e da afirmação da cultura ocidental ocorridas nesse período. A associação do período medieval a uma era de trevas ou de escuridão foi estabelecida pelos renascentistas com o objetivo de criar uma cisão temporal entre a época em que viviam e a anterior.
    1. A agricultura e a divisão da sociedade em pobres (camponeses) e ricos (nobres).
    2. O autor do texto justifica a desigualdade por meio da religião. Segundo essa visão, Deus criou ricos e pobres para manter o equilíbrio social e as responsabilidades de cada grupo.

3. No texto a seguir, o historiador Gêórge Dubí analisa o papel das mulheres na sociedade medieval.

Aos homens competia a ação exterior e pública; as mulheres se encontravam normalmente acantonadas no interior, nesse quarto que era, no coração da casa, uma espécie de matriz. Nós reconhecemos nessa interioridade o que era a função feminina essencial: a procriação reticências.

A mulher só alcança a existência jurídica, só entra (podemos dizê-lo) na vida, casada reticências.

dubí jórj. Idade Média, idade dos homens: do amor e outros ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. página 95-97.

  1. Segundo o texto, qual era o papel das mulheres na sociedade medieval? Como elas alcançavam a existência jurídica?
  2. Explique o trecho: “Aos homens competia a ação exterior e pública; as mulheres se encontravam normalmente acantonadas no interior”.
  3. Em sua opinião, na sociedade atual ainda existe divisão de papéis entre homens e mulheres? As mulheres da atualidade têm as mesmas funções que as europeias na sociedade medieval? Explique.

Aluno cidadão

  1. Na Idade Média, os camponeses eram muito explorados pelos senhores feudais. Junte-se a alguns colegas para debater a questão da exploração de trabalhadores com base no que se pede a seguir.
    1. Vocês conhecem casos atuais de trabalhadores do meio rural ou urbano submetidos a condições extremas de exploração? Procurem informações nos jornais e na internet e as compartilhem com os demais grupos.
    2. Atualmente, existem leis que garantem direitos aos trabalhadores. Pesquisem informações sobre as últimas mudanças da legislação trabalhista brasileira e discutam a sua importância.

Conversando com língua portuguesa

5. No final do século doze, começaram a ser produzidas em Portugal composições chamadas cantigas. Elas podiam ser de dois tipos: líricas ou satíricas. As cantigas líricas tinham como tema principal o amor. As cantigas satíricas faziam críticas bem-humoradas a pessoas desonestas, covardes, decadentes etcétera Leia, a seguir, um exemplo de cantiga.

A mulher que eu amo e tenho por senhor,

mostrai-a, Deus, se for de vosso agrado.

Senão, dai-me a morte.

A que eu tenho por lume destes olhos meus

e por quem choram sempre, mostrai-a

a mim, Deus.

Senão, dai-me a morte.

Essa que vós fizeste a de melhor aparência

de quantas conheço,

ai, Deus!, fazei-me vê-la.

Senão, dai-me a morte.

Ai, Deus!, me fizeste amá-la mais,

Mostrai-me onde posso falar com ela.

Senão, dai-me a morte.

BONAVAL, Bernal de. Cantigas medievais galego-portuguesas. Disponível em: https://oeds.link/NkqvCk. Acesso em: 12 abril 2022. [Tradução nossa].

  1. Essa cantiga é lírica ou satírica? Por quê?
  2. Cite as passagens da cantiga nas quais o eu lírico refere-se à mulher amada.

Você é o autor

6. Na questão 5, você leu um exemplo de cantiga elaborada no período medieval. Agora é a sua vez! Crie uma cantiga lírica ou satírica com base em algum tema abordado no capítulo. Você pode escrever seu texto com base na medida de estrofes e versos feitos por Bernal de Bonaval. Esse trabalho pode ser feito em grupo para que, juntos, você e seus colegas organizem um acompanhamento musical.


Respostas e comentários
    1. Na sociedade medieval, segundo o autor do texto, as mulheres tinham o papel de procriar e só alcançavam existência jurídica por meio do casamento.
    2. Na sociedade medieval, os homens (nobres) participavam da política, das atividades militares e da caça, ações que o autor chama de exteriores e públicas. Já as mulheres eram consideradas responsáveis por cuidar da casa e dos filhos. Reclusas no espaço doméstico, elas ainda se dedicavam ao trabalho de fiação, bordado e tecelagem. Por isso, conforme o autor, elas se encontravam sempre no interior, dentro da casa.
    3. Espera-se que os alunos identifiquem as mudanças e as permanências relacionadas ao papel social da mulher e apresentem suas ideias com argumentos coerentes.

4. a) Espera-se que os alunos percebam a complexidade das relações de trabalho e a reprodução de práticas de exploração semelhantes em tempos distantes. No Brasil, por exemplo, ainda é possível encontrar pessoas trabalhando em condições análogas às da escravidão.

b) A questão promove uma reflexão sobre a importância das leis trabalhistas para garantir os direitos dos cidadãos e evitar abusos de poder por parte de empregadores. Pode-se abordar a construção dos direitos humanos e a luta dos trabalhadores, por séculos, para obter melhores condições nas relações de trabalho, como o limite de horas trabalhadas e o direito ao descanso semanal. Pode-se, também, abordar a flexibilização de algumas leis trabalhistas brasileiras, por meio da reforma trabalhista de 2017.

Bê êne cê cê

Esta atividade possibilita o trabalho com os temas contemporâneos transversais Trabalho e Educação em direitos humanos e contribui para o desenvolvimento das Competências gerais da Educação Básica nº 1, nº 6 e nº 7 e das Competências específicas de Ciências Humanas nº 2, nº 3, nº 5 e nº 6.

    1. A cantiga é lírica, pois tem como tema o amor (cantiga de amor). Nela, o eu lírico, um sujeito masculino, suplica a Deus que lhe mostre a mulher amada. Caso não consiga realizar seu desejo de ver essa mulher, prefere a morte.
    2. “A mulher que eu amo e tenho por senhor”; “A que eu tenho por lume destes olhos meus”; “Essa que vós fizeste a de melhor aparência”; “me fizeste amá-la mais”. O eu lírico usa a hipérbole, pois descreve exageradamente a amada como a melhor entre as mulheres.
  1. Esse trabalho pode ser feito com a colaboração do professor de língua portuguesa.

Interdisciplinaridade

Ao abordar o gênero textual cantiga de amor e ao propor a criação de uma cantiga lírica ou satírica, as atividades 5 e 6 relacionam-se com o componente língua portuguesa e às habilidades ê éfe seis nove éle pê quatro oito e ê éfe seis sete éle pê três oito, respectivamente.

Glossário

Nobreza
: nesse caso, grupo de aristocratas que descendiam dos servidores diretos de Carlos Magno.
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Monge
: religioso que dedica sua vida à oração e à contemplação em um mosteiro.
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: povo originário do extremo norte da Europa que conquistou terras na Irlanda, na Rússia, no Reino Unido, no norte da França e em áreas dos mares Báltico e Mediterrâneo entre os séculos nove e dez.
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Vilão
: camponês livre.
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Cavaleiro
: guerreiro montado a cavalo, pertencente à camada inferior da aristocracia.
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