CAPÍTULO 3  Expansão marítima europeia

Cena de filme. Homem dentro de uma estufa de plantas. Ele está agachado, perto das mudas verdes. No centro da estufa uma estrutura comprida e metálica, que vai até o teto.
Cena de Perdido em Marte, dirigido por Ridlei Iscóti, 2015. O filme foi baseado no romance homônimo de éndi uêir.

O tema das viagens a Marte com o fim de colonizar o planeta é popular em filmes de ficção científica. No entanto, o que antes se restringia à ficção está cada vez mais perto de se tornar realidade. Muitas empresas e governos têm desenvolvido tecnologias para enviar missões tripuladas a Marte ainda na década de 2020.

No passado, alguns governos e viajantes enfrentaram desafio semelhante. Entre os séculos quinze e dezesseis, navegadores europeus venceram seus temores e se aventuraram em expedições marítimas pelo Oceano Atlântico, desbravando mares, expandindo fronteiras e chegando a territórios distantes da Europa.

Essas viagens exploratórias, conhecidas como Grandes Navegações, deram início à expansão marítima europeia, inaugurando um período que mudaria a história de muitos povos. Neste capítulo, você vai estudar esse assunto.

  • O que você sabe sobre a expansão marítima europeia?
  • Quais seriam as intenções dos europeus ao desbravar mares desconhecidos por eles até o século quinze?
  • Que desafios eles teriam enfrentado nessas viagens?

Em busca de novas rótas comerciais

Desde o século catorze, a Europa passava por uma grave crise econômica. A Guerra dos Cem Anos, as revoltas populares que abalaram os campos e as cidades e a epidemia de peste negra resultaram na queda das taxas demográficas no continente e prejudicaram as atividades comerciais.

A retomada do crescimento econômico e populacional e o incremento das atividades comerciais tiveram início apenas por volta de 1450. A expansão do comércio, contudo, esbarrava na escassez de metais preciosos, pois as minas europeias não eram suficientes para atender à crescente demanda por metais.

Outra dificuldade que os comerciantes europeus enfrentavam eram as limitações nas rótas comerciais entre a Europa e o Oriente. Em 1453, os turcos otomanos tomaram a cidade de Constantinopla e bloquearam o comércio pelo Mar Mediterrâneo, monopolizadoglossário anteriormente pelos mercadores de Gênova e Veneza.

A participação dos mercadores muçulmanos no comércio da seda chinesa e das especiarias indianas para a Europa remonta ao século doze, quando cruzavam montanhas e desertos da Ásia em grandes caravanas. Essa extensa rede comercial já conectava a Ásia à Europa e ao norte da África e, posteriormente, se ampliaria para os oceanos e para o continente americano. Atraídos pela grande oferta de especiarias, como canela, noz-moscada, gengibre, açafrão e pimenta, além de pedras preciosas e outros artigos de luxo muito valorizados no mercado europeu, os países ibéricos contribuiriam para expandir o comércio entre os povos.

Gravura. Diversas pessoas em um ambiente aberto. À direita, mulher sentada no chão, com um longo tecido revestindo seu corpo. Ela tem pulseiras e enfeites nos tornozelos. Segura uma cesta larga com algumas folhas compridas dentro. À sua frente, no chão, dois cocos e mais alguns ramos de folhas. Perto dela, um animal preto, com chifres, amarrado em uma árvore. Ao lado do animal, duas pessoas. Uma delas carrega um jarro na cabeça. À esquerda pessoas recolhem folhas caídas no gramado.
Produção de especiarias na Índia, gravura de ían rúiguen van linchôten, século dezesseis. Biblioteca Nacional da França, Paris. O artista alemão se inspirou em cartas náuticas portuguesas para ilustrar o livro Discurso sobre as viagens às Índias Orientais, no qual essa gravura foi publicada.

Os interesses da nobreza, da Igreja e da monarquia na expansão marítima

Além da abertura de novas rótas de comércio, a expansão marítima europeia foi impulsionada pelo interesse na conquista de terras em busca de riquezas, no contato com o desconhecido, na garantia de matérias-primas e mercados consumidores e na difusão do cristianismo.

A expansão dos caminhos conhecidos pelos europeus até então não interessava apenas à burguesia mercantil, setor social em evidência na Baixa Idade Média. A Igreja, que havia perdido muitos fiéis nas Cruzadas, nas guerras e com o avanço da peste, passava por uma grave crise interna. Uma fórma de superar essa situação era a ampliação da fé cristã e da influência da Igreja por meio da catequização de povos pagãos. Os nobres, desprovidos de terras e enfraquecidos após o longo período de conflitos, buscavam regenerar sua condição e encontrar meios de enriquecer para não decair socialmente.

Como você estudou no capítulo 1, no século quinze, em algumas regiões da Europa ocorreu um processo de centralização do poder político pelos reis; em outras, esse processo estava em andamento. Ao centralizar o poder e a arrecadação de impostos, fortalecer as instituições estatais e empregar princípios econômicos mercantilistas, os reis criavam as condições necessárias para organizar viagens de exploração de grande envergadura, como as realizadas na expansão marítima europeia.

O interesse dos reis na expansão marítima era evidente. Os caminhos e terras conquistados passariam a pertencer ao Estado que patrocinasse as viagens, multiplicando a extensão dos territórios sob seu domínio e também as possibilidades de exploração de riquezas.

Aos poucos, foram estabelecidos diversos contatos entre os continentes, e alguns Estados passaram a dominar o chamado mundo atlântico. A expansão marítima provocou transformações profundas na economia europeia e a consolidação de princípios econômicos próprios do capitalismo comercial. Essas transformações originaram a chamada Revolução Comercial. Além disso, a expansão marítima inaugurou uma integração continental necessária para compreendermos o mundo atual.

Gravura. À direita, longa plataforma a beira mar. Sobre ela, pessoas, sacas e barris. Pequenas embarcações estão atracadas. Algumas têm pessoas dentro. À frente, homens na parte mais alta, perto de uma escada. À esquerda, grandes caravelas no mar.
Detalhe de gravura de teôdór de brí representando o porto de Lisboa, em Portugal, século dezesseis. Arquivo Histórico da Marinha Francesa, Vincennes, França.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Relacione os eventos ocorridos na Baixa Idade Média às dificuldades enfrentadas pelos comerciantes europeus naquele período.
  2. Que setores da sociedade estavam interessados na expansão marítima? Justifique.
  3. Por que a centralização do poder na Europa foi fundamental para a expansão marítima?

As condições para as grandes viagens marítimas

As práticas mercantilistas garantiram o enriquecimento de vários Estados europeus entre os séculos quinze e dezoito. Além disso, estimularam uma acirrada competição entre os países. Interessadas em conquistar novas terras e explorar suas riquezas, as potências europeias investiram fortunas e aperfeiçoaram tecnologias náuticas para se fortalecer na disputa pelos mares.

Avanços nas ciências

Entre as ciências que contribuíram para o desenvolvimento da navegação, as mais importantes foram a matemática, a astronomia e a cartografia. O conhecimento dos caminhos marítimos dependia do exame atento e do cálculo da posição do Sol e das estrelas. Para isso, foram aperfeiçoados vários instrumentos, como a bússola, inventada provavelmente por chineses, o astrolábio e o quadrante, criados na Antiguidade. Esses instrumentos foram levados para a Península Ibérica pelos navegadores árabes, sobretudo ao longo dos séculos em que os muçulmanos ocuparam os territórios de Portugal e Espanha. Os portugueses também desenvolveram instrumentos como a balhestilha, que ajudava a determinar a latitude em que um navio se encontrava com base na medida da distância angular entre dois astros.

Gravura em preto e branco. Estrutura alta no formato de uma pirâmide. Dentro dela, uma haste comprida pendurada. Um homem está no alto, olhando no topo da estrutura. Ao lado, detalhes da parte plana da estrutura. Círculos com medidas e informações.
Representação do uso de uma balhestilha, gravura do século dezesseis.

Saiba mais

O navio: trabalho e natureza

As grandes viagens marítimas só aconteceram por causa do trabalho de uma elite profissional formada pelos construtores navais, entre os quais se destacavam arquitetos e mestres de navios, carpinteiros e calafatesglossário . Eles construíram navios que, pilotados por experientes navegadores, mudaram a história do mundo. Leia este texto que trata do tema.

Seja pela madeira de que dependia para sua construção, seja pelos caminhos do mar em que navegava – orientado pelo mapa do céu – sujeito aos ventos, correntes e marés, o navio também tirava da natureza suas fórmas estruturais. E foi quem sabe na esperança de vê-los flutuar, como as gaivotas, embalados sobre as ondas de mares revoltos, que os construtores navais acabaram assemelhando a proa dos navios aos peitos das aves oceânicas.

O navio – como os pássaros – devia valer-se dos ventos para enfrentar – como os peixes – a resistência das águas, precisando assumir essa dupla natureza para poder viajar espremido entre o céu e o mar, seu motor e suporte. reticências

E é assim, exatamente por essa sua natureza tão particular, que o navio deixa os estaleiros para se pôr nos caminhos que abriu para a história.

MICELI, Paulo. O ponto onde estamos. quarta edição Campinas: Editora da unicâmpi, 2008. página 82-83.


Os mapas medievais

No período medieval, a produção de mapas era feita pelos monges e supervisionada pela Igreja Católica. Assim, era usual inserir nos mapas personagens bíblicos associados à representação de cidades e regiões.

Predominantemente simbólicos, os mapas expressavam uma visão religiosa do mundo sem base científica. O mapa de Isidoro de Sevilha é um exemplo desse tipo de produção cartográfica. Nele, verificam-se apenas três continentes, com predomínio da Ásia sobre os demais, a composição de círculos circunscritos e a presença de cruzes de malta, símbolos de ordens vinculadas à Igreja Católica.

Ilustração. Mapa redondo com pontinhos na borda. Dentro do círculo maior, pontilhado, um círculo menor, também com borda pontilhada. No interior do círculo menor, duas retas, uma vertical, outra horizontal. A reta horizontal divide o círculo ao meio. Na metade superior a Ásia. A metade inferior é dividida em duas partes pela reta vertical. À esquerda está escrito Europa e, à direita, está escrito África.
Reprodução do mapa “T e O”, de Isidoro de Sevilha, publicado no livro étimolojae, século treze.

Com as viagens marítimas do século dezesseis, essa situação mudou: a representação do espaço geográfico por meio dos mapas se tornou mais precisa e adquiriu lentamente uma aparência mais próxima da atual.

O imaginário dos navegadores

Imagine que você seja um explorador e vá embarcar em uma viagem para um lugar desconhecido. Você tem um mapa como os da Idade Média, que não apresenta informações muito precisas, não sabe quanto tempo ficará fóra, nem que caminho tomar, nem como será o percurso ou o que vai encontrar no local de desembarque. Também não sabe se conseguirá voltar para casa. Certamente ficará inseguro, não é mesmo?

Incertezas como essas atormentavam os navegadores europeus dos séculos quinze e dezesseis. Eles provavelmente sentiam muito medo ao embarcar em viagens pelo Oceano Atlântico, pois o mundo que conheciam não ia muito além da Europa, do norte da África e de algumas partes da Ásia, regiões que se conseguia alcançar por terra ou navegando pelo Mar Mediterrâneo.

Na época, o Oceano Atlântico era conhecido na Europa como Mar Tenebroso. As lendas sobre a existência de monstros marinhos e de um abismo colossal, próximo do “fim do mundo”, assustavam muitas pessoas. No imaginário europeu daquele período, a Terra era plana como um prato e para além de suas bordas havia apenas um grande vazio.

Gravura. Monstro marinho atacando uma embarcação em alto mar. Ele é largo com espinhos vermelhos atrás da cabeça. Os olhos são vermelhos. Tem a boca grande com muitos dentes pontiagudos. A embarcação está virada com muitas pessoas em cima.
Representação do ataque de um monstro marinho a uma embarcação, gravura de cônrádi gésner publicada no livro istóri animále, cêrca de 1560. Biblioteca Nacional Braidense, Milão, Itália.

Refletindo sobre

Coloque-se no lugar de um navegador do século quinze: O que você imagina encontrar em sua viagem? Você teria medo do desconhecido ou ficaria eufórico com a ideia de conhecer outros mundos?


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Que condições econômicas e científicas favoreceram o desenvolvimento da expansão marítima europeia?
  2. Por que os europeus representavam monstros marinhos e outras criaturas mágicas em mapas e ilustrações da época?

O desenvolvimento da cartografia

Nos séculos quinze e dezesseis, a cartografia teve um desenvolvimento notável, favorecido pelas navegações. Com as viagens, os conhecimentos acumularam-se, e os mapas, chamados portulanos, foram aperfeiçoados. A cada viagem, os navegadores levavam relatos para os reis com os planos das rótas seguidas e a descrição dos locais visitados. As informações eram passadas aos cartógrafos, que, com o apôio de astrônomos e matemáticos, elaboravam mapas cada vez mais precisos.

Cada portulano era considerado fonte de informação privilegiada dos Estados que promoviam a navegação marítima. Neles havia indicações importantes para a conquista de territórios e pontos de comércio. Os mapas podiam informar, também, a localização de áreas ricas em pedras e metais preciosos, madeiras e outros recursos. Era vital que os países concorrentes não tivessem as mesmas informações.

Os mapas auxiliavam na resolução de disputas por territórios, legitimando as conquistas e contribuindo para a expansão dos reinos.

O aprimoramento da ciência cartográfica, contudo, não pôs fim à imaginação fabulosa associada aos mares e à navegação. Na segunda metade do século dezesseis, depois que Cristóvão Colombo chegou à América, os portulanos ainda eram ilustrados com figuras como as do mapa da costa de Portugal reproduzido nesta página.

Ilustração. Mapa de uma região litorânea. Ao fundo o continente com rios que desembocam no mar. À frente, o mar, com embarcações e monstros marinhos. No canto superior direito o brasão de armas de Portugal, e no centro, uma rosa dos ventos. No canto inferior esquerdo, um grande compasso.
Mapa da costa de Portugal elaborado pelo cartógrafo holandês Lucas iãnzun uáguenêr, 1583. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa.

Responda em seu caderno.

Explore

  1. Identifique no mapa instrumentos relacionados à produção cartográfica.
  2. Que diferenças existem entre a fórma de apresentar um território em mapas do século dezesseis, como esse, e a maneira de fazê-lo nos mapas atuais?

As navegações entre os séculos catorze e dezesseis

Diversos povos desenvolveram técnicas de navegação e praticaram o comércio marítimo ao longo dos séculos, como os fenícios, na Antiguidade, e os vikings, na Idade Média. No entanto, até o século catorze, o domínio dos europeus era restrito ao Mar Mediterrâneo, chamado pelos antigos romanos de máre nóstrum (Nosso mar), por ser muito importante na integração do império entre os continentes africano, europeu e asiático.

A partir do século quinze, navegadores financiados pela coroa de Portugal passaram à expansão de rótas cada vez mais ao sul da África por meio da navegação de cabotagemglossário e, depois, da navegação em mar aberto. Nesse contexto, expedições organizadas pelos reis da Espanha também se aventuraram na busca por caminhos marítimos para as Índias.

Viajar naquela época era bem diferente de hoje. As viagens, sobretudo as oceânicas, eram demoradas e perigosas. Uma viagem da Europa à Índia, de ida e volta, por exemplo, poderia levar até um ano e meio se os ventos fossem desfavoráveis. Muitas vezes a água e os alimentos eram insuficientes para todo o percurso e a higiene era precária, o que favorecia a proliferação de doenças.

Portugal dos primeiros viajantes

No século catorze, o govêrno de Portugal era suficientemente centralizado para organizar as expedições marítimas e havia uma burguesia rica capaz de financiá-las. Também havia o apôio da Igreja Católica, que pretendia evangelizar os nativos encontrados nas regiões exploradas.

Os portugueses foram os primeiros a lançar-se ao Oceano Atlântico com o objetivo de criar rótas comerciais marítimas e encontrar novas fontes de artigos para o comércio. A intensa troca de conhecimentos entre árabes e cristãos na Península Ibérica, a transferência de tecnologias de navegação e a circulação de relatos de viagens escritos por navegadores muçulmanos, além da posição geográfica privilegiada, possibilitaram que Portugal fosse pioneiro nas navegações oceânicas.

Gravura. Folha com o desenho de várias caravelas. No topo um pequeno texto. Ao longo da página as caravelas e algumas informações. Os cascos das embarcações são marrons. As velas são brancas e exibem grandes cruzes vermelhas.
Caravelas da expedição portuguesa de 1508 para as Índias, gravura publicada no Livro das armadas, século dezesseis. Academia de Ciências de Lisboa, Portugal. As velas dessas embarcações exibiam o símbolo da Ordem de Cristo, organização religiosa e militar de inspiração cruzadista fundada em 1319.

As etapas da expansão portuguesa

A primeira conquista portuguesa foi a cidade de Ceuta, no atual Marrocos, em 1415. A tomada dessa cidade islâmica expressava, do ponto de vista religioso, o espírito cruzadistaglossário que movia muitos europeus na época. Do ponto de vista econômico, permitiria aos portugueses controlar o rico comércio do ouro desenvolvido na região africana do Sael.

Em seguida, os portugueses chegaram às ilhas da Madeira e dos Açores; depois, atingiram o extremo sul do continente africano e, finalmente, em 1498, o explorador Vasco da Gama alcançou Calicute, na Índia, estabelecendo definitivamente a Róta entre Portugal e o Oriente.

Após três meses em Calicute, Vasco da Gama voltou para Portugal com os navios cheios de mercadorias, como especiarias, seda e porcelanas, que foram revendidas na Europa. Além da Índia, a presença portuguesa em terras asiáticas ao longo dos séculos quinze e dezesseis estendeu-se à Indonésia, à China e ao Japão.

Em 1500, Pedro Álvares Cabral seguiu viagem em direção às Índias e chegou às terras que viriam a ser o Brasil. Em suas viagens, os portugueses fundaram importantes entrepostos comerciais, iniciando a formação de uma ampla rede de comércio dos mais variados produtos e estabelecendo um grande império marítimo no Atlântico. Enquanto isso, seus missionários religiosos procuravam converter os povos locais à fé católica.

Viagens marítimas portuguesas (séculos quinze e dezesseis)

Mapa. Viagens marítimas portuguesas, séculos quinze e dezesseis. Planisfério com a representação dos continentes.
Legenda:
Linha roxa: Viagem de Bartolomeu Dias, 1487-1488.
Linha vermelha: Viagem de Vasco da Gama, 1497-1498.
Linha verde: Viagem de Pedro Álvares Cabral, 1500.

Viagem de Bartolomeu Dias: Saída de Lisboa contornando a costa oeste da África até o sul do continente.
Viagem de Vasco da Gama: Saída de Lisboa, passando pelo Oceano Atlântico, distante da costa Africana. Contorna o continente e faz várias paradas na costa leste até chegar em Calicute, na Índia, em 1498. No retorno, contorna o litoral leste e oeste africano, passa pelas Ilha da Madeira e pelo Arquipélago dos Açores e chega a Lisboa.
Viagem de Pedro Álvares Cabral: Sai de Lisboa, cruza o Oceano Atlântico até chegar em Porto Seguro, na América do Sul, em 1500. Continua a viagem passando pelo sul da África, contornando o litoral leste até Calicute.
No canto inferior esquerdo a rosa dos ventos e escala de zero a 2.280 quilômetros.

Fonte: ATLAS histórico. São Paulo: Britannica, 1997. página 88.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Cite três fatores que determinaram o pioneirismo português nas navegações.
  2. Que papel Portugal passou a desempenhar a partir do século quinze no Oceano Atlântico?
  3. Qual era o objetivo inicial da viagem de Pedro Álvares Cabral em 1500?

As navegações promovidas pela Espanha

Em 1492, ano da reconquista da Península Ibérica pelos católicos, o navegador genovês Cristóvão Colombo buscou apôio e financiamento dos reis espanhóis para empreender uma expedição para o Oriente navegando na direção do Ocidente.

Naquela época, a ideia de a Terra ser esférica não era aceita pela Igreja e pela sociedade, embora fosse admitida por vários cientistas. Colombo acreditava na esfericidade do planeta e, após anos de negociação, conseguiu recursos do govêrno espanhol para a realização de seu projeto. Equipada com três caravelas (Pinta, nínha e Santa Maria), sua expedição partiu do porto espanhol de Palos em agosto de 1492.

Depois de dois meses de viagem, Colombo aportou na Ilha de Guanaani, que ele chamou de San Salvador. Em seguida, atingiu as ilhas de Cuba e São Domingos (onde hoje estão situados Haiti e República Dominicana). Por acreditar que tinha chegado às Índias, nomeou os habitantes daquelas ilhas de índios. Colombo retornou à Espanha em 1493 e realizou mais três viagens às ilhas caribenhas, sempre acreditando que havia chegado às Índias.

Gravura. À direita, um rei e uma rainha em terra. Eles acenam para embarcações no mar, à esquerda.
Gravura de 1621, representando os reis espanhóis Fernando e Isabel se despedindo da expedição de Colombo, que partiu da Espanha em direção ao Atlântico. Biblioteca Pública de Nova iórque, Estados Unidos.

Saiba mais

As motivações de Cristóvão Colombo

Na obra História das colonizações, o historiador márc ferrô interpreta trechos do diário de Cristóvão Colombo na época da expansão marítima europeia.

Por certo, ele revela que o ouro, ou melhor, a busca deste, está onipresente em toda sua primeira viagem. A 15 de outubro de 1492, escreve em seu diário: ‘Não quero parar, a fim de ir mais longe visitar muitas ilhas e descobrir ouro’.

Cristóvão Colombo não só espera enriquecer pessoalmente, junto com seus marinheiros, como quer também que seus financiadores, os reis da Espanha, enriqueçam, ‘a fim de que possam compreender a importância da empresa’. Portanto, a riqueza o interessa, acima de tudo, por significar o reconhecimento de seu papel de descobridor. Porém, essa sêde de dinheiro justifica-se mais ainda por uma vocação religiosa que é nada menos do que a expansão do cristianismo. No seu diário, em data de 26 de dezembro de 1492, ele explica que ‘espera encontrar ouro, em tal quantidade que os reis possam antes de três anos preparar e empreender ir conquistar a Santa Casa’.

A reconquista de Jerusalém, foi esse um dos objetivos de Cristóvão Colombo, obcecado pela ideia de Cruzada.

ferrô, márc. História das colonizações: das conquistas às independências, séculos treze a vinte. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. página 23.


Por que o nome América?

Depois das viagens de Vasco da Gama e de Colombo, navegadores de toda a Europa quiseram participar da aventura marítima e explorar as novas regiões. Foi o caso do florentino Américo Vespúcio, que entre 1499 e 1503 realizou três viagens à América. Com base em seus relatos e no mapa de Ptolomeu (geógrafo grego dos séculos um e dois), os estudiosos concluíram que ele havia chegado a outro continente. Em 1507, o cartógrafo alemão MÁRTIN VALDISSÍMILER elaborou um mapa do mundo e incluiu as terras encontradas, dando-lhes o nome de América, em homenagem a Vespúcio.

Viagens pelo Pacífico

Em 1513, o navegador espanhol Vasco núnhes de Balboa chegou ao Oceano Pacífico atravessando a América Central após cêrca de três semanas de caminhada pelo atual território do Panamá. Acredita-se que ele tenha sido o primeiro europeu a avistar tal oceano, tendo-o batizado de Mar do Sul.

As expedições marítimas espanholas prosseguiram até que, em 1519, Fernão de Magalhães, um português a serviço da Espanha, iniciou a primeira viagem de circum-navegação. Ele atravessou o extremo sul da América do Sul até o Oceano Pacífico, chegando às Filipinas em 1521.

Fernão de Magalhães foi morto em um confronto com nativos, e o navegador Sebastião Elcano completou a viagem, retornando à Europa em 1522. Pela primeira vez foi comprovado, empiricamente, o formato esférico da Terra.

Viagens marítimas espanholas (séculos quinze e dezesseis)

Mapa. Viagens marítimas espanholas, séculos quinze e dezesseis. Planisfério mostrando terras na Europa, Ásia, África, América e Oceania.
Legenda:
Rotas seguidas pelos navegadores.
Linha roxa: Cristóvão Colombo.
Linha verde: Fernão de Magalhães.
Linha vermelha: Américo Vespúcio.

Rota de Cristóvão Colombo: Saída de Palos, na Espanha, passa pelas Ilhas Canárias e a rota principal se divide em duas. Uma vai para  Guanaani e Cuba, na América Central. A outra também vai para a América Central, mas passa pelas ilhas de Trinidad, Haiti e Jamaica.
Rota de Fernão de Magalhães: Saída de Palos, atravessando o Oceano Atlântico até a América do Sul. Parando em Recife, Cabo Frio, São Vicente e Buenos Aires, passando pelo Estreito de Magalhães, no extremo sul do continente americano. Segue para o Oceano Pacífico. Passa pelas Filipinas, Molucas, Bornéu, Amboina. Atravessa o Oceano Índico, passando pela Ilha de Amsterdã, contorna o sul e o oeste da África e retorna para Portugal.
Rota de Américo Vespúcio: Sai de Palos, passa pelas Ilhas Canárias e a rota principal se divide em duas. Uma vai para a Jamaica, na América Central, e a outra segue para o sul, até Buenos Aires.
No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de zero a 1.620 quilômetros.

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M.; REIS, Arthur C. F.; CARVALHO, Carlos D. de C. Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: fei , 1991. página 112-113.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Como chegou-se à conclusão de que Américo Vespúcio havia alcançado um continente até então desconhecido?
  2. Qual foi a importância da viagem de Fernão de Magalhães para a coroa espanhola?
  3. Entre os séculos catorze e dezesseis, que expedições viajaram pelo Atlântico e quais chegaram ao Pacífico? Estabeleça diferenças entre elas.

Enquanto isso…

As navegações chinesas

Durante muito tempo, os historiadores ocidentais, que tinham uma visão de mundo eurocêntrica, estudavam e refletiam apenas sobre as navegações europeias da época moderna. Atualmente, boa parte dos historiadores tem voltado a atenção para as viagens oceânicas de outros povos, atribuindo-lhes a devida importância. É o caso das navegações chinesas do século quinze, comandadas pelo almirante djãng rãã.

Ao longo de sua vida, djãng rãã conquistou postos na administração do Estado chinês e chegou a ser conselheiro imperial. Como almirante, ele navegou em nome do imperador entre 1405 e 1433.

Discussões sobre as viagens de djãng rãã

O escritor britânico guêivin mênzis, autor do livro 1421: o ano em que os chineses descobriram o mundo, afirma que djãng rãã chegou ao continente americano e circum-navegou a Terra antes dos europeus.

Para sustentar sua tese, o escritor apresenta como evidência um suposto mapa-múndi chinês de 1763. Segundo ele, esse documento é cópia de um mapa de 1418 feito ou utilizado pelo almirante djãng rãã. O mapa mostra o continente americano.

Entretanto, segundo o historiador djeóf uêidi, o mapa foi produzido séculos mais tarde, na Europa. uêidi argumenta que os dois hemisférios que dividem o mapa fazem parte de uma tradição cartográfica exclusivamente europeia e desconhecida na China, no século quinze. Ele também chama a atenção para o fato de a Califórnia, na América do Norte, ter sido representada como uma ilha, característica de mapas europeus do século dezessete. Além disso, o mapa tem detalhes do interior dos continentes que não poderiam ser conhecidos por navegadores que não adentravam os territórios.

Essa controvérsia mostra que o historiador precisa assumir a postura de cientista, baseando suas afirmações em evidências documentais, e não em suposições. É certo que djãng rãã percorreu o Oceano Índico e o sudoeste da Ásia antes dos europeus e com embarcações muito maiores do que as caravelas, mas não há evidências de que ele tenha chegado à América.


Escultura. Estátua em pedra de um homem com traços orientais. Tem o rosto largo e o queixo quadrado. Usa um chapéu e uma capa. Segura nas mãos uma espada, que fica entre a parte de trás de seu corpo e sua capa.
Estátua em homenagem ao almirante djãng rãã, em Malaca, Malásia. Foto de 2016.

A “descoberta” chinesa

Há quase duas décadas reticências uma história alternativa da ‘descoberta’ das Américas se espalhou: a de que, ao contrário do consenso historiográfico, frotas encabeçadas por dois almirantes chineses, zu mãn e rông báo, haviam navegado da África até a foz do Rio Orenoco, na atual Venezuela, descendo depois por toda a costa do continente até o Estreito de Magalhães, ao sul da América do Sul, ainda no ano de 1421 – portanto, 71 anos antes da viagem de Cristóvão Colombo. Eles tinham sido treinados e eram liderados pelo grande navegador chinês daquela época: o eunuco muçulmano djãng rãã.

Agora, essas figuras históricas estão sendo evocadas pela alta cúpula do govêrno chinês, para reafirmar as pretensões globais da potência asiática.

A tese da ‘descoberta’ chinesa, cujas versões já existiam antes, ficou famosa por meio de dois best-sellers escritos pelo ex-comandante da marinha britânica guêivin mênzis no comêço dos anos 2000: 1421: o ano em que a China descobriu o mundo (Bêrtrãn, 2006) e Who Discovered America? The Untold History of the Peopling of the Americas (Quem descobriu a América? A história oculta da ocupação das Américas, sem tradução). reticências

Tecnologicamente falando, a China tinha condições de chegar às Américas ou outras terras, e até não podemos descartar que isso tenha acontecido. Muitos navegadores podem ter chegado nelas e morrido no regresso ou sequer ter feito registros das descobertas. No entanto, a questão é que a tecnologia sozinha não responde essa pergunta, explica Rita Feodrippe, pesquisadora da Escola Naval de Guerra e estudiosa da marinha chinesa.

‘Os europeus saíram para explorar o Atlântico porque o Mediterrâneo estava fechado e eles precisavam encontrar novos mercados. A China, ao contrário, tinha um comércio terrestre muito bem estabelecido com a África, com o que hoje chamamos o Oriente Médio e mesmo com a Europa. Como já havia um relativo sucesso comercial, econômico, cultural e migratório, não haveria necessidade de buscar novas terras – mesmo com a tecnologia disponível’, completa.

Para Vitor Ido, pesquisador do South Centre, em Genebra, na Suíça, a reação à possibilidade de Colombo não ter sido o primeiro a navegar pelo continente americano também diz muito sobre a hegemonia da narrativa europeia. ‘Quais são as razões que parecem tornar até inconcebível para a maioria de nós o reconhecimento de que a China poderia ter uma superioridade tecnológica em relação aos europeus naquele período? Essa pergunta mostra nossa maneira de pensar a história’, questiona ele.

MENDES, Vinícius. Descoberta das Américas: como a China poderia ter chegado ao continente sete décadas antes de Colombo. bê bê cê News, São Paulo, 2 outubro 2020. Disponível em: https://oeds.link/rXx0dU. Acesso em: 11 fevereiro 2022.


Responda em seu caderno.

Questões

  1. Em que evidência a suposta viagem de djãng rãã à América foi baseada? Por que essa evidência torna a tese de guêivin mênzis falaciosa?
  2. Que argumento da pesquisadora Rita Feodrippe apoia a hipótese de que os chineses teriam navegado até a América no século quinze? E que argumento contradiz essa hipótese?

O Tratado de Tordesilhas

Quando passaram a explorar as terras na América, os espanhóis entraram em disputa com os portugueses pelos territórios do continente. Os reis das duas coroas solicitaram à Igreja que mediasse a contenda, já que as duas nações se consideravam no direito de tomar posse das terras e das riquezas encontradas.

Após várias negociações, os dois reinos assinaram, em 1494, o Tratado de Tordesilhas, que dividia as terras conquistadas ou por conquistar por meio de uma linha imaginária que passava 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde. As terras situadas a leste da linha ficavam com Portugal e as terras a oeste pertenciam à Espanha, o que solucionou as disputas entre as duas nações.

Entretanto, quando a Espanha descobriu ouro e prata na América, outros países europeus contestaram essa divisão. França, Inglaterra e Holanda iniciaram sua expansão marítima mais tarde e, no século dezesseis, chegaram às terras já ocupadas por portugueses e espanhóis.

Domínios coloniais portugueses e espanhóis (século quinze)

Mapa. Domínios coloniais portugueses e espanhóis, século quinze. Mapa com representação de terras na Europa, África e América.
Legenda:
Rosa: possessões espanholas.
Roxo: possessões portuguesas.

Possessões espanholas: sul da América do Norte, toda a América Central, incluindo as ilhas. E toda costa oeste da América do Sul. Ilhas Canárias no litoral noroeste da África e Espanha. 
Possessões portuguesas: Costa leste da América do Sul, Ilhas Açores, Ilha da Madeira e Portugal. Pequeno trecho da costa oeste da África, e grande parte da costa leste africana. Ilhas de Fernando Pó, São Tomé, Príncipe, Ano Bom, Ascensão, Santa Helena e Tristão da Cunha.
Na parte inferior central, rosa dos ventos e escala de zero a 1.290 quilômetros.

Fonte: VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico: geral e Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. página 90.

Ingleses, franceses e holandeses tomaram algumas áreas na América do Norte e na Ásia e realizaram ações de pirataria contra embarcações e domínios portugueses e espanhóis. Muitos piratas e corsáriosglossário ficaram famosos e se tornaram aventureiros e conquistadores. Os governos de Portugal e Espanha protestavam contra o apôio que os monarcas Elizabeth primeira, da Inglaterra, e Francisco primeiro, da França, davam aos corsários. Mas esses protestos foram inúteis.


O mundo após as primeiras viagens marítimas

As noções de espaço e tempo se modificaram profundamente após o século dezesseis. Terras com culturas desconhecidas tinham sido encontradas pelos europeus. Feitorias e fortalezas foram construídas na América, na África e na Ásia, e muitos comerciantes enriqueceram. O Império Português e o Império Espanhol integraram o comércio marítimo em quatro continentes, tornando-se os mais ricos e poderosos daquele século.

Com isso, os genoveses e venezianos, assim como os árabes muçulmanos, perderam o monopólio do comércio entre a Europa e o Oriente. Já a burguesia fortaleceu-se com a renda obtida no retorno do financiamento das viagens e com a participação no comércio de produtos africanos, orientais e americanos.

História em construção

Descobrimento, conquista, invasão ou chegada?

O período da expansão marítima europeia também é conhecido como Era dos Descobrimentos. O uso do termo descobrimento, porém, parte da perspectiva europeia de que os territórios desconhecidos eram desabitados, reforçando a ideia de pioneirismo dos europeus e ignorando os povos nativos.

O termo conquista, frequentemente utilizado para tratar das primeiras interações entre os europeus e os habitantes da América, também contribui para uma visão heroica dos aventureiros. No entanto, invasão é um termo relacionado ao ponto de vista dos nativos, considerando os europeus intrusos e indesejáveis.

Já a palavra chegada, quando utilizada para tratar do mesmo contexto, confere sentido neutro. Observe que a escolha dos termos não é trivial: ao optar por usar um ou outro, o autor expressa sutilmente sua visão sobre os fatos.


Responda em seu caderno.

Questões

  1. O uso de certas palavras pode influenciar o leitor a adotar uma visão parcial sobre a expansão marítima europeia? Explique.
  2. Em sua opinião, qual é a palavra mais adequada para tratar desse tema? Justifique.

Conexão

A primeira viagem ao redor do mundo

Antonio Pigafetta. Porto Alegre: Ele e Pê ême, 1997.

A expedição de Fernão de Magalhães partiu da Espanha em 1519 e, depois de atravessar os oceanos Atlântico, Pacífico e Índico, concluiu sua viagem de retorno em 1522. Ao chegar, estava reduzida a um navio e dezoito homens. Um deles, Antonio Pigafetta, narrou as aventuras da viagem nesse livro, publicado pela primeira vez em Veneza, em 1536.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Por que países como França, Inglaterra e Holanda contestaram o Tratado de Tordesilhas?
  2. Que impérios ficaram mais poderosos logo após o fenômeno das grandes viagens marítimas?

Atividades

Responda em seu caderno.

Aprofundando

  1. Relacione a presença muçulmana na Península Ibérica ao pioneirismo de Portugal e Espanha na expansão marítima europeia.
  2. Junte-se a um colega e leiam o trecho do documento a seguir. Depois, façam o que se pede.

A fim de que numa palavra todas as coisas brevemente narre, saiba que reticências navegamos continuamente reticências com chuvas, trovões e relâmpagos, em tal modo escuros que nem o Sol no dia, nem sereno na noite jamais vimos. Por essa coisa toda em nós entrou um tão grande pavor que quase já toda a esperança de vida tínhamos perdido. reticências O dia exatamente sete de agosto de mil quinhentos e um [1501] nas costas daqueles países surgimos, agradecendo ao nosso senhor Deus com solenes súplicas e celebrando uma missa cantada. Lá aquela terra soubemos não ser uma ilha mas continente, porque em longuíssimas praias estende não circundantes a ela e de infinitos habitantes era repleta. E descobrimos nela muita gente e povos e todo gênero de animais silvestres que nos nossos países não se encontram, e muitos outros por nós nunca vistos, dos quais seria longo um a um referir.

VESPÚCIO, Américo. Novo Mundo: cartas de viagens e descobertas. Porto Alegre: Ele e Pê ême, 1984. página 92.

  1. Que tipo de documento é esse? A que leitor ele se destinava? Em que contexto ele foi produzido?
  2. De acôrdo com o documento, que perigo ameaçava a viagem de Vespúcio?
  3. O que o autor do documento escreve sobre as terras em que chegou?
  4. Que importante característica da mentalidade dos europeus no século dezesseis esse documento revela?

3. Analise a charge e faça o que se pede.

Charge. Homem de pele branca, barba comprida e nariz grande. Usa roupas bufantes e coloridas e uma boina com uma pena. Ele está empurrando outro homem pelas costas. O homem tem a pele branca, veste colete, calça rasgada, lenço no cabelo e está descalço. Ele está aflito imaginando um monstro marinho perto de uma embarcação no mar. O monstro é semelhante a uma cobra gigante, com grandes dentes e uma língua comprida vermelha.
Charge de Rogério Soud sobre o imaginário europeu na época das Grandes Navegações, 2011.
  1. Que personagens foram representados na charge?
  2. Relacione a charge aos interesses envolvidos nas navegações e ao imaginário da época.

Aluno cidadão

  1. Durante a expansão marítima europeia, muitas crianças trabalhavam nas embarcações como grumetes – serviçais que desempenhavam trabalhos braçais. Atualmente, no Brasil, o trabalho realizado por menores de 16 anos (exceto na condição de aprendiz – permitida a partir de 14 anos) é considerado crime.
    1. Você conhece alguma criança que trabalha?
    2. De que fórma a condição social pode ser relacionada à exploração do trabalho infantil?
    3. Que estratégias podem ser usadas para combater esse problema?

Conversando com ciências

5. Você já ouviu falar na Teoria da Deriva Continental? Ela afirma que, há cêrca de 200 milhões de anos, havia em nosso planeta uma porção de terra única. Aos poucos, ela se fragmentou e os pedaços se deslocaram no mar até formar os cinco continentes que existem hoje. Leia mais sobre o assunto neste texto. Depois, faça o que se pede.

A ideia da Deriva Continental foi proposta pela primeira vez por Álfred Véguenar em 1912. Em 1915 publicou o livro A origem dos continentes e dos oceanos, onde propôs a teoria, com base nas fórmas dos continentes de cada lado do Oceano Atlântico, que pareciam se encaixar.

Muito tempo antes de Véguenar, outros cientistas notaram este fato. A ideia da deriva continental surgiu pela primeira vez no final do século dezesseis, com o trabalho do cartógrafo ábrarãn ôrtélius. Na sua obra de 1596, tesáurus geográficus, Ortelius sugeriu que os continentes estivessem unidos no passado. A sua sugestão teve origem apenas na similaridade geométrica das costas atuais da Europa e da África com as costas da América do Norte e do Sul; mesmo para os mapas relativamente imperfeitos da época, ficava evidente que havia um bom encaixe entre os continentes. A ideia evidentemente não passou de uma curiosidade que não produziu consequências.

Outro geógrafo, Antonio isnáider-Pellegrini, utilizou o mesmo método de Ortelius para desenhar o seu mapa com os continentes encaixados em 1858. Como nenhuma prova adicional fosse apresentada, além da consideração geométrica, a ideia foi novamente esquecida.

A similaridade entre os fósseis encontrados em diferentes continentes, bem como entre formações geológicas, levou alguns geólogos do hemisfério Sul a acreditar que todos os continentes já estiveram unidos, na fórma de um supercontinente que recebeu o nome de Pangeia. A hipótese da deriva continental tornou-se parte de uma teoria maior, a Teoria da Tectônica de Placas.

úspi. Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas. Laboratório de Paleomagnetismo. Deriva Continental. São Paulo. Disponível em: https://oeds.link/FdCEpo. Acesso em: 11 fevereiro 2022.

  1. Inicialmente, por que a Teoria da Deriva Continental não foi levada a sério?
  2. Que evidências científicas sugerem que os continentes já estiveram unidos?
  3. Em grupo, pesquisem três artigos científicos sobre a Teoria da Tectônica de Placas. Leiam os textos selecionados comparando as informações apresentadas neles. Depois, selecionem as informações mais consolidadas e criem um resumo ilustrado, descrevendo os princípios dessa teoria.

Você é o autor

6. Agora, vamos retomar o assunto da abertura deste capítulo. Atualmente, grupos de cientistas e financiadores têm trabalhado em um ambicioso plano de expandir os domínios da espécie humana para Marte, assim como, nos séculos quinze e dezesseis, navegadores europeus expandiram as fronteiras do mundo que conheciam. Você acha que isso pode ser possível em um futuro próximo? Que tecnologias serão necessárias para isso? Que dificuldades serão enfrentadas pelos colonizadores? Pesquise informações sobre o assunto. Depois, elabore um texto articulando essas informações a suas opiniões e ao que você aprendeu sobre as expedições marítimas de navegadores europeus no início da Idade Moderna.


Fazendo e aprendendo

Notícia

Como você faz para saber dos fatos da atualidade? Você costuma ler notícias? A notícia é o gênero jornalístico utilizado para relatar um fato atual. Ela pode ser veiculada, de fórma escrita ou oral, em jornais, telejornais, rádios e sites de informação. Leia o trecho de uma notícia a respeito de um fato histórico interessante.


Ilustração. Folhas de papel com reprodução de notícia.
Ricardo terceiro terá enterro digno após corpo ser encontrado em estacionamento
O monarca, [que] morreu aos 32 anos, entre 1483 e 1485, pôs fim à Guerra das Duas Rosas.
‘O rei Ricardo terceiro da Inglaterra, monarca do século quinze, cujos restos mortais foram encontrados debaixo de um estacionamento em 2012, receberá, enfim, um enterro digno de um membro da realeza na quinta-feira na Catedral de Leicester. A cerimônia, que será transmitida pela televisão, será o ponto culminante de cinco dias de celebrações iniciadas neste domingo. [...]
A extraordinária epopeia de como seu esqueleto foi encontrado em um estacionamento cerca de 530 anos após sua morte, em 1485, rodou o mundo.
‘É incrível tê-lo encontrado intacto’, afirma [Matthew] Morris, que liderou as escavações, explicando que uma obra da era vitoriana havia passado a centímetros do crânio de Ricardo terceiro.
Coincidência ou um sinal? O ‘esqueleto número 1’, como foi batizado num primeiro momento, foi encontrado sob a vaga do estacionamento marcado com a letra ‘R’ de ‘reservado’. [...]
Embora católico, o rei medieval será enterrado de acordo com o rito anglicano.
Contudo, rituais católicos acontecerão ao longo da semana, incluindo uma missa de réquiem na segunda-feira, conduzida pelo cardeal Vincent Nichols, o mais alto prelado católico da Inglaterra.
Quinta-feira, o enterro será celebrado na presença do chefe da Igreja Anglicana, o arcebispo de Canterbury Justin Welby, e da condessa de Wessex, Sophie, nora de Elizabeth segunda, e do príncipe Ricardo, duque de Gloucester, patrono da Associação Ricardo terceiro e descendente do rei.
O túmulo será aberto ao público no sábado.’
Fonte da notícia: RICARDO terceiro terá enterro digno após corpo ser encontrado em estacionamento. Correio Braziliense, 22 de março de 2015. Disponível em: https://oeds.link/qEBp8z. Acesso em: 11 fevereiro 2022.

https://oeds.link/qEBp8z


Para analisar uma notícia, pode-se seguir estes procedimentos.

  1. Verifique a data de publicação. A notícia serve para relatar acontecimentos atuais considerados relevantes para uma comunidade.
  2. Identifique os aspectos estruturais, como o título (que deve ser objetivo) e a linha-fina, nome dado à frase que aparece depois do título e que apresenta informações sintéticas sobre o assunto da notícia.
  3. Preste atenção às informações principais da notícia: o que aconteceu, quando, onde e como, além do nome das pessoas envolvidas ou que presenciaram o fato.
  4. Observe a linguagem utilizada na notícia. O texto deve ser bem objetivo e direto, sem a inclusão de adjetivos e marcas subjetivas – já que a notícia é um texto que pode circular sem indicar quem é o autor, pois o foco principal é informar um fato.

Considerando esses procedimentos, troque ideias com seus colegas sobre as seguintes questões: O que determina a relevância de um fato para ser informado? Por que alguns fatos viram notícia e outros não?


Responda em seu caderno.

Aprendendo na prática

Junte-se a alguns colegas e redijam uma notícia sobre algum acontecimento histórico estudado na unidade. Esta será uma oportunidade de vocês fixarem informações importantes sobre os tópicos estudados. Considerem as orientações a seguir.

  1. Escolham um tópico que vocês consideram relevante para transformar em notícia. Vocês poderão informar, por exemplo, o lançamento de uma obra de arte do Renascimento, um acontecimento sobre Martinho Lutéro ou João Calvino, ou a chegada de um explorador português a um continente desconhecido pelos europeus.
  2. Organizem as informações da notícia com base nas seguintes perguntas: O que aconteceu? Quando e onde ocorreu? Como aconteceu? Por que esse fato ocorreu? Quais eram as pessoas ou grupos envolvidos?
  3. Escrevam a primeira versão da notícia. Prestem atenção ao primeiro parágrafo do texto, pois ele deve concentrar as informações básicas. Os jornalistas chamam essa parte da notícia de lide – termo que vem do inglês lídi, verbo que significa “guiar”, “conduzir”. O primeiro parágrafo de uma notícia guia o olhar do leitor para as informações centrais: o quê, quem, quando, onde, por que e como.
  4. Definam o título e a linha-fina da notícia.
  5. Revisem o trabalho antes de entregá-lo ao professor ou à professora. Para isso, releiam o texto e corrijam problemas gramaticais e ortográficos. Verifiquem ainda se é importante inserir outros elementos e subtítulos para organizar melhor o encadeamento das informações. Procurem também acrescentar ilustrações: as imagens destacam aspectos importantes, além de atrair a atenção do leitor. Não se esqueçam de, nesse caso, inserir legendas para as imagens selecionadas.
  6. Quando o professor ou a professora devolver o trabalho a vocês, façam as correções apontadas e combinem a fórma como vão publicar os textos. Vocês poderão criar um mural, organizando as notícias por ordem cronológica, juntá-las em um jornalzinho impresso, que pode ficar disponível na biblioteca da escola, ou produzir um blog com as notícias da turma.

Glossário

Monopolizado
: restrito em relação à compra e à venda de mercadorias ou à prestação de serviços a um grupo de pessoas ou a um govêrno; mantido com exclusividade; explorado sem concorrência.
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Calafate
: trabalhador especializado em impermeabilizar as embarcações.
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Cabotagem
: tipo de navegação feita pela costa em trajetos curtos, sem alcançar o alto-mar.
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Espírito cruzadista
: sentimento difundido pela Igreja e centrado na ideia de que era preciso combater os muçulmanos (como na época das Cruzadas) e expandir o cristianismo nas terras encontradas.
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Corsário
: responsável por navio que atuava a serviço de um monarca ou govêrno abordando e pilhando embarcações de outros reinos.
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