UNIDADE 4  Mudanças na economia do mundo ocidental

Fotografia. À frente, grande navio carregado com contêineres. Ao fundo, um porto com grande estrutura de contêineres empilhados. Entre eles alguns guindastes.
Porto de Roterdã, Holanda. Foto de 2022. Desde a sua inauguração no século dezesseis, esse porto teve grande importância na comercialização de mercadorias. Atualmente é o maior porto marítimo da Europa.

O que estudaremos na unidade

Quais foram os efeitos da descoberta de ouro e diamantes na América portuguesa? Como se davam as relações econômicas entre as nações europeias? Ao final desta unidade, você compreenderá o período da mineração no Brasil, suas consequências sociais, econômicas e políticas. Entenderá também como o desenvolvimento das práticas mercantilistas contribuiu para o surgimento de novas relações de trabalho, produção e consumo de mercadorias, ainda existentes atualmente.


Fotografia. À direita, navio carregado com muitos contêineres. À esquerda, grande estrutura metálica com guindastes na ponta.
Navio com contêineres próximo ao porto de Londres, Reino Unido. Foto de 2021. Entre os séculos dezessete e dezoito, esse porto se tornou um importante centro comercial na Europa.
Fotografia. Muitos contêineres empilhados em um porto. Próximos a eles, pequenos barcos atracados. Ao fundo, colina com vegetação.
Contêineres no porto de Lisboa, Portugal. Foto de 2020. Esse porto foi um importante centro de comércio de mercadorias, inclusive ouro, durante a colonização da América portuguesa.

Sumário da unidade

Capítulo 10

A mineração na América portuguesa, 168

Capítulo 11

Mercantilismo: uma economia de transição, 186


CAPÍTULO 10  A mineração na América portuguesa

Fotografia. Escombros de casas encobertas e destruídas por grande camada de lama. Ao redor, algumas árvores.
Vista dos danos causados pelo rompimento da barragem de uma empresa mineradora, em Mariana, Minas Gerais. Foto de 2015. A população local permanece lutando para que a empresa responsável pelo desastre indenize adequadamente os prejudicados.

O período colonial da mineração brasileira, que você estudará neste capítulo, corresponde à descoberta de ouro e diamantes nas terras do Brasil, com a consequente ocupação da região das Minas Gerais e da porção centro-oeste do território. A atividade mineradora foi extremamente lucrativa para a coroa portuguesa, mas teve um alto custo ambiental.

Atualmente, a mineração continua sendo uma atividade econômica importante para o Brasil. No primeiro semestre de 2021, o setor arrecadou cento e quarenta e nove bilhões de reais. Contudo, problemas ambientais decorrentes dessa atividade persistem.

A fotografia desta abertura mostra a situação do distrito de Bento Rodrigues, no município de Mariana, em Minas Gerais, após um dos piores desastres ambientais da história brasileira. Em novembro de 2015, o rompimento de uma barragem de contenção de rejeitosglossário , operada por uma empresa mineradora, provocou a destruição do local, o desaparecimento de pessoas, o desalojamento de famílias, a contaminação de rios, paralisando a principal fonte de renda dos pescadores e colocando várias espécies de peixes em ameaça de extinção, entre outras consequências.

  • Você sabe quais são as principais áreas de exploração de minério no Brasil atualmente?
  • Com base em seus conhecimentos, comente quais são os principais danos ambientais causados pela exploração de minérios.

A crise em Portugal

Na segunda metade do século dezessete, os portugueses acabavam de sair vitoriosos de duas grandes guerras: uma contra a Espanha, iniciada em 1641, um ano após o fim da União Ibérica; outra contra a Holanda, encerrada em 1654, com a expulsão dos holandeses do Brasil.

As vitórias, entretanto, tiveram custos altos para o Império Português. Além dos gastos com equipamento e manutenção das tropas nos conflitos, Portugal perdeu importantes colônias na África e na Ásia, o que contribuiu para agravar a crise de sua economia. Além disso, o açúcar produzido no Nordeste do Brasil, principal colônia portuguesa, sofria com a queda dos preços do artigo na Europa.

Assim, no fim do século dezessete, Portugal já não era a potência marítimo-comercial da época das grandes navegações.

O Brasil, reforço principal desta coroa, pede socorros reticências. O Maranhão mal se sustenta no que é e receia a cobiça dos estrangeiros que o ameaçam reticências. Portugal, enfim, se acha sem fôrças, sem ânimo para se sustentar reticências; não só falta para grandes despesas e para pagar o que deve de justiça, mas ainda para as despesas miúdas.

RELATÓRIO do Conselho da Fazenda de Portugal [1657]. In: SARAIVA, Hermano José. História concisa de Portugal. vigésima terceira edição Lisboa: Publicações Europa-América, 1996. página 231-232.

Gravura em preto e branco. À direita, pessoas negras escravizadas com enxadas levantadas. Uma dessas pessoas carrega uma criança pela mão. À esquerda pessoas negras escravizadas dançando e próximas a uma construção com telhado de palha. Ao fundo uma mulher e um homem negros dentro de uma casa simples. Entre eles uma pequena fogueira. Ao fundo, casas em colinas, árvores e um moinho.
Escravos em Barbados, gravura de rálfi istêneti, cêrca de 1800. Barbados é uma ilha das Antilhas. O açúcar antilhano ofereceu forte concorrência à produção açucareira da América portuguesa.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

1. Qual era a situação econômica do Império Português na segunda metade do século dezessete?


A descoberta do ouro

O desejo de encontrar metais preciosos moveu os exploradores ibéricos desde o início da colonização. Em 1545, foram descobertas em Potosí, na atual Bolívia, grandes jazidas de prata que enriqueceram a coroa espanhola. Essa notícia aumentou a expectativa dos portugueses de encontrar metais preciosos no Brasil.

A descoberta de metais preciosos era vista pela coroa portuguesa como a principal solução para as dificuldades econômicas do reino.

Grandes jazidas de ouro foram descobertas por bandeirantes paulistas somente em fins do século dezessete, na região do atual estado de Minas Gerais. É difícil determinar a data exata desse acontecimento, mas sabe-se que ocorreu na década de 1690.

A notícia da descoberta se espalhou, atraindo aventureiros. Os caminhos para a região de Minas Gerais foram abertos rapidamente, e vários povoados formaram-se nas áreas mineradoras. No comêço do século dezoito, a mineração concentrava-se nas regiões de São João del-Rei, Vila Rica (atual Ouro Preto), Nossa Senhora do Carmo (atual Mariana) e Nossa Senhora da Conceição do Sabará (atual Sabará).

Áreas mineradoras (século dezoito)

Mapa. Áreas mineradoras, século dezoito. Destaque para o atual território brasileiro.

Legenda: 
Vermelho: áreas de mineração.
Linha cinza: limites atuais do Brasil.

Áreas de mineração: grande área entre os atuais estados de Mato Grosso e Goiás, incluindo Vila Real de Cuiabá, São Pedro del-Rei e Vila Boa de Goiás. Grande área no atual estado de Minas Gerais, incluindo Araçuí, Arraial do Tejuco (Diamantina) e Caeté. Pequena área no atual estado da Bahia, incluindo Jacobina. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de zero a 360 quilômetros.

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M.; REIS, Arthur C. F.; CARVALHO, Carlos D. de C. Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: fei , 1991. página 58.


Responda em seu caderno.

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Compare este mapa com um mapa atual do Brasil e identifique as regiões correspondentes às áreas com maior concentração de atividade mineradora no século dezoito.


O povoamento da região das minas

No final do século dezessete, as terras que atualmente fazem parte do estado de Minas Gerais eram habitadas principalmente por povos indígenas. A descoberta de ouro provocou o deslocamento em massa de colonos em direção à região. Desse modo, em 1711, vários povoados já haviam se formado ao longo do curso dos rios e nas encostas das montanhas.

Pessoas de origens muito diferentes chegaram à região das chamadas Minas Gerais interessadas em encontrar ouro: bandeirantes paulistas e alguns poucos baianos, funcionários da coroa, comerciantes, padres, trabalhadores livres, libertos e escravizados, cristãos-novos (judeus ou descendentes de judeus convertidos ao cristianismo) e pequenos proprietários de terra, principalmente do Nordeste, que sofriam com a crise do mercado açucareiro.

Além de moradores da colônia, milhares de pessoas deixaram Portugal para se dedicar à mineração na região. Estima-se que, entre 1700 e 1760, mais de 600 mil portugueses tenham migrado para as terras do Brasil com esse objetivo. Essa repentina aglomeração de pessoas na região das minas e o alto rendimento obtido com a exploração de minérios provocaram o deslocamento do centro econômico da colônia das áreas açucareiras do Nordeste para o centro-sul da América portuguesa.

Saiba mais

Trocas culturais

No período da mineração, houve uma enorme confluência de pessoas da metrópole e de diversas partes da colônia para a região das Minas Gerais. Lá ocorriam trocas comerciais e culturais.

A população colonial era composta de indígenas, europeus (principalmente portugueses), africanos e seus descendentes. Apesar dos preconceitos e das fortes tensões sociais, a convivência proporcionou intensa troca cultural entre esses povos. As misturas revelavam-se na miscigenação, nas crenças populares, nas brincadeiras das crianças, na linguagem e na culinária. Na preparação de alimentos, tornou-se comum o uso de produtos de origem asiática, como a cana-de-açúcar, o gengibre, o cravo e a canela, por causa das conexões dos portugueses com o Oriente desde as Cruzadas.


Gravura em preto e branco. Pessoas próximas a um rancho com telhado de palha. A maioria delas é negra. As crianças estão sem roupas. Um adulto carrega uma cesta grande na cabeça. À esquerda, um homem branco montado a cavalo carregando uma sombrinha. Ao fundo, pessoas perto de um caldeirão pendurado em cima de uma fogueira. Em segundo plano, colinas e vegetação.
Rancho na Serra do Caraça, gravura de Carr Friedrich Filip von Martius e iôrrân bapitísti fôn ispíquis, cêrca de 1820. Biblioteca Pública e Universitária de nê chatél, Suíça. Os ranchos serviam de abrigo ou de local para refeições e se formavam no caminho das minas pela grande quantidade de viajantes que por lá passavam.

A criação da capitania de Minas Gerais

A chegada de tantas pessoas à região das minas foi percebida como ameaça pelos paulistas. Como eles haviam descoberto muitas lavras auríferasglossário , exigiam da coroa a exclusividade na concessão do direito de exploração do ouro e o contrôle administrativo da região.

Os conflitos entre paulistas e recém-chegados, chamados pejorativamente de emboabas (palavra de origem Tupi utilizada pelos paulistas para designar os forasteiros), provocaram o episódio conhecido como Guerra dos Emboabas, ocorrida entre 1707 e 1709. Após algumas vitórias militares, o líder dos emboabas assumiu o govêrno da região das minas, e os paulistas ficaram impedidos de entrar no território.

Além de acentuar o desentendimento entre os colonos, a Guerra dos Emboabas expôs o conflito entre a coroa portuguesa e os habitantes da região mineradora, que procuravam assegurar o abastecimento de seus arraiais sem interferências externas. Muitos colonos eram ligados ao contrabando de produtos e temiam que a coroa aumentasse a fiscalização da região.

Em 1709, foi criada a capitania de São Paulo e Minas do Ouro, que abrangia terras correspondentes às dos atuais estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Em 1711, alguns arraiais foram elevados à categoria de vilas, como a Vila do Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo (atual Mariana). Tais vilas passaram a contar com instituições governamentais, como o Senado da Câmara. Em 1720, foi criada a capitania das Minas Gerais, desmembrada da capitania de São Paulo. A criação desses núcleos locais e a fundação das vilas facilitaram a fiscalização e a cobrança de taxas e impostos.

Fotografia. Duas igrejas, lado a lado. Ambas têm o contorno da estrutura e das janelas em amarelo. As paredes estão escurecidas. Uma tem duas torres com linhas retas e a outra tem torres cilíndricas. No centro, entre as duas, um pelourinho, estrutura comprida com uma balança pendurada no alto, de um lado, e uma espada do outro. No céu azul, algumas nuvens.
Igrejas no centro histórico de Mariana, Minas Gerais. Foto de 2017. Ao centro, observa-se o pelourinho, construção que servia de marco para a fundação das vilas e na qual eram castigados os condenados por algum crime e os escravizados.

Refletindo sobre

No século dezoito, os colonos provenientes de Portugal ou mesmo de diferentes partes da colônia não compartilhavam uma identidade comum. Por isso, os paulistas viam os demais colonos como forasteiros, intrusos. Atualmente, os brasileiros aceitam sem resistência migrantes de outras partes do país ou ainda existe preconceito entre os habitantes de diferentes estados? Debata a questão com os colegas e argumente para defender o seu ponto de vista.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Qual foi a consequência da descoberta de ouro nas Minas Gerais?
  2. O que foi a Guerra dos Emboabas?

A mineração em Mato Grosso, Bahia e Goiás

A busca pelo ouro continuou pelo interior da colônia. Outras jazidas foram encontradas em locais onde hoje se situam os estados da Bahia, Mato Grosso e Goiás.

Em 1702, exploradores encontraram ouro na região de Jacobina, na Bahia. Entre 1718 e 1734, bandeirantes paulistas exploraram jazidas de ouro às margens dos rios Coxipó-Mirim e Guaporé e na Chapada de São Francisco Xavier, no Mato Grosso. A mineração no leito do Rio Cuiabá deu origem à cidade, fundada em 1719. A descoberta do precioso metal favoreceu a colonização portuguesa nessas regiões, porém a intensa exploração causou o rápido esgotamento das jazidas.

Fotografia. Vista aérea de um longo e sinuoso rio, atravessado por uma ponte. Na margem direita vegetação e na margem esquerda, cidade com prédios e muitas casas.
Vista do Rio Cuiabá, em Cuiabá, Mato Grosso. Foto de 2021.

O contrôle sobre a mineração

Em razão da descoberta de ouro, Portugal aumentou o contrôle sobre o Brasil, sua principal colônia. Para isso, em 1702 fundou a Intendência das Minas, encarregada de fiscalizar a atividade mineradora, distribuir as datasglossário e cobrar os impostos.

O principal imposto era o quinto, que correspondia a 20% do ouro extraído. Entre 1717 e 1719, a coroa instituiu as Casas de Fundição, para onde todo o ouro encontrado deveria ser levado, transformado em barras e marcado com o selo real, depois de recolhido o imposto. Dessa fórma, a circulação de ouro em pó ou em pepitas foi proibida.

No final da década de 1740, a arrecadação caiu e a coroa instituiu a capitação, que consistia no pagamento de 17 gramas de ouro por escravizado maior de 14 anos empregado na mineração. Em 1751, a capitação foi substituída pela cobrança da quantia anual de 100 arrobasglossário de ouro. Caso essa quantia não fosse paga, toda a população ficaria sujeita à derrama, ou seja, à cobrança forçada dos impostos em atraso.

Fotografia. Duas barras de ouro. São retangulares com símbolos e inscrições gravados em sua superfície.
Barras de ouro quintadas (marcadas com o selo real), século dezoito. Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro. A fundição do ouro em barras era uma fórma de o govêrno metropolitano controlar a taxação do minério.

A revolta de Filipe dos Santos

A excessiva cobrança de impostos revoltou a população das Minas Gerais. Em 1720, o comerciante português Filipe dos Santos, acompanhado de aproximadamente 2 mil mineiros, invadiu a casa do ouvidor-mor de Vila Rica para protestar contra a instalação das Casas de Fundição e o alto preço cobrado pelas mercadorias vendidas na região.

O conde de Assumar, governador da capitania entre 1717 e 1721, combateu os revoltosos. Os responsáveis pela rebelião foram presos, e Filipe dos Santos foi enforcado. Somente em 1725 a coroa instalou as Casas de Fundição.

reticências como se mostra concludentemente pelas testemunhas do sumário, ser o réu Filipe dos Santos Freire notório amotinador do povo reticências o que também se mostra das perguntas que foram feitas ao réu que foi também achado em reticências flagrante delito convocando o povo depois deste estar sossegado e se lhe ser concedido todos os propósitos e reticências perdão geral a todos os agressores no que mais se mostra a intenção do réu de expulsar ao mesmo governador e justiça [incorrendo] de horroroso delito, necessidade de castigo para exemplo dos mais que se acham em armas, condenam ao réu, que com baraço e pregão vá pelas ruas públicas desta vila e morra morte natural para sempre reticências.

CERTIDÃO em cópia do Acórdão em Junta com a sentença condenando à morte Filipe dos Santos. Vila Rica, 18 de julho de 1720. In: IMPRESSÕES rebeldes. Niterói: ú éfe éfe, 2019. Disponível em: https://oeds.link/zQtlvb. Acesso em: 21 fevereiro 2022.


Responda em seu caderno.

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  1. Qual foi o motivo alegado para a condenação de Filipe dos Santos?
  2. Qual era o objetivo desse tipo de condenação?
Pintura.  No centro, dois homens brancos com roupas rasgadas. Um deles, em destaque, tem um ferimento no ombro. À frente dele, um homem negro sem camisa e descalço sentado no chão com os braços esticados. À direita, um chapéu caído no chão. À esquerda, dois cavalos vistos parcialmente. Os cavalos parecem agitados. Ao fundo, uma multidão observando.
Detalhe de O julgamento de Filipe dos Santos, pintura de Antônio Parreiras, 1923. Museu Antônio Parreiras, Niterói, Rio de Janeiro.

A descoberta de diamantes

O ouro não foi a única riqueza extraída nas Minas Gerais. Por volta de 1715, exploradores encontraram diamantes na região do Serro Frio, onde se formaria o Arraial do Tejuco, atual Diamantina. Com a descoberta, Portugal aumentou o contrôle sobre essa área. Em 1734, foram criadas a Demarcação Diamantina e a Intendência dos Diamantes.

Ao criar a Demarcação Diamantina, a coroa praticamente isolou a área do restante da colônia. Dentro dela, o intendente dos diamantes administrava todos os aspectos da vida cotidiana de seus habitantes.

Inicialmente, a extração dos diamantes seguiu as mesmas regras estabelecidas para as minas de ouro, ou seja, a cobrança do quinto e a divisão das jazidas em datas. A partir de 1740, foi instituído o regime de concessão e contrato, no qual um único contratador explorava a mina e entregava à coroa uma parte das pedras extraídas. Em 1771, Portugal criou a Real Extração, que tornava a exploração de diamantes monopólio da Real Fazenda.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Onde foi encontrado ouro na colônia além de Minas Gerais?
  2. Sintetize as medidas tomadas pela coroa para controlar a exploração do ouro e garantir a máxima arrecadação nas minas.
  3. Que mecanismos foram usados pela coroa para controlar a exploração de diamantes?

O trabalho de mineração

A maior parte do ouro explorado na colônia foi encontrada próximo à superfície, principalmente nas margens e nos leitos dos rios, nos denominados depósitos aluvionaresglossário . O ouro extraído desses locais, por essa razão, era chamado de ouro de aluvião. Com a ajuda da bateia, o mineiro separava o ouro do cascalho e da areia que o acompanhavam.

A exploração do ouro de aluvião mais superficial podia ser feita por indivíduos com poucos recursos, chamados faiscadores. Homens livres pobres, negros libertos e até escravizados participavam desse tipo de garimpo.

Nas grandes áreas da mineração, chamadas lavras, a lavagem do terreno era feita usando ferramentas especializadas e o emprego do trabalho de grande número de escravizados. Esse tipo de mineração exigia maior organização e financiamento e, por isso, era controlado por colonos com mais recursos financeiros.

O auge da exploração de minérios na colônia ocorreu entre 1700 e 1760. Calcula-se que cêrca de quinhentas e sessenta toneladas de ouro extraído das terras do Brasil foram destinadas a Lisboa nesse período.

Por volta de 1770, houve uma queda significativa na produção aurífera, mas o garimpo de pequenas pepitas e de ouro em pó continuou envolvendo muitas pessoas. Na atividade mineradora também existiam os escravos de ganho, que eram escravizados com alguma autonomia para trabalhar, mas que deviam entregar uma quantidade de ouro predefinida ao seu proprietário no final de determinado período de trabalho.

Fotografia. Homem de chapéu de palha e camisa xadrez azul, abaixado no rio de água límpida. Está com as mangas da camisa e as barras da calça dobradas. Ele tem nas mãos uma bateia, a qual usa para revirar o cascalho do rio.
Garimpeiro usando bateia para minerar em Amajari, Roraima. Foto de 2021. A bateia ainda é usada atualmente na mineração.
A prática do contrabando

A principal preocupação da coroa nas regiões de mineração era a de impedir o contrabando. Apesar da intensa fiscalização dos funcionários do govêrno, muito minério circulava na ilegalidade, isto é, sem pagar as altas taxas impostas sobre a atividade mineradora. Além disso, à medida que os minérios disponíveis nas lavras se esgotavam, aumentava a quantidade contrabandeada.

Mineradores, comerciantes e até clérigos escondiam o ouro para evitar a taxação da coroa. Uma das principais fórmas de contrabando era por meio da fundição ilegal, que falsificava as barras de ouro imprimindo nelas o selo da coroa portuguesa. Outras fórmas de evitar a taxação eram a adição de outros metais, como o estanho, às moedas portuguesas e a prática de esconder ouro ou diamantes dentro de imagens religiosas ocas, os chamados “santos do pau oco”.

Escultura. Imagem de Nossa Senhora do Rosário, mulher de rosto redondo, usa um lenço na cabeça e túnica comprida. Segura em um de seus braços um bebê, a representação do Menino Jesus. Usa uma coroa prateada. Aos pés da imagem, cabeças de anjo. Ao lado, fotografia da parte de trás da imagem, com um buraco retangular nas costas.
Escultura de Nossa Senhora do Rosário, século dezoito. Museu da Inconfidência, Ouro Preto, Minas Gerais. Note a abertura na parte de trás dessa “santa do pau oco”.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Explique o que é ouro de aluvião e qual é a função da bateia.
  2. Você já ouviu alguém ser chamado de “santo do pau oco”? O que essa expressão quer dizer atualmente e de que fórma se relaciona com o período colonial?

O abastecimento das áreas de mineração

A extração de metais e pedras preciosas contribuiu para formar um mercado interno na colônia, articulando as capitanias mais próximas das áreas mineradoras, como São Paulo e Rio de Janeiro, e as mais distantes, como as do norte e as do sul.

Durante as primeiras décadas de exploração das minas, faltavam para a população produtos básicos, como alimentos e roupas. Não havia lavouras, e o transporte dos produtos para a área mineradora, feito principalmente por tropas de burros, era demorado e dispendioso. A procura por itens de primeira necessidade era maior que a oferta, e os preços eram bem mais elevados do que os praticados em outras partes da colônia (consulte o quadro).

VALOR DE ALGUMAS MERCADORIAS EM MEADOS DO SÉCULO XVIII (EM RÉIS)

Mercadoria

São Paulo

Minas Gerais

1 libra de açúcar

120

1.200

1 galinha

160

4.000

1 queijo da terra

120

3.600

1 queijo flamengo

640

19.200

1 boi de corte

2.000

120.000

1 cavalo

10.000

120.000

Fonte: SIMONSEN, Roberto. História econômica do Brasil: 1500-1820. São Paulo: Nacional, 1978. página 298.

As mercadorias provenientes do nordeste, do sul e do exterior passavam pela cidade do Rio de Janeiro antes de seguir para a capitania das Minas Gerais. Por causa do aumento do fluxo comercial entre a região das minas e o Rio de Janeiro, outros arraiais e vilas foram se formando ao longo dos caminhos, contribuindo para a expansão urbana da América portuguesa.

A importância estratégica e econômica do Rio de Janeiro e a proximidade da cidade com a região de mineração ajudam a explicar a ordem dada pela coroa portuguesa de transferir, em 1763, a séde do vice-reino do Brasil de Salvador, na Bahia, para o Rio de Janeiro. A cidade tornou-se o principal centro urbano da colônia e assumiu o papel de principal articuladora nas relações entre as capitanias.

Gravura. Diversos homens, cavalos e mulas em uma área gramada em frente a um pequeno porto. Alguns animais carregam mercadorias no lombo. Outros são utilizados como montaria. Em segundo plano, alguns homens escravizados carregam sacas brancas na cabeça, em direção a pequenas embarcações. Ao fundo, algumas construções, o mar e as montanhas.
Porto Estrella, gravura de iôrrán morits Rugendas, século dezenove. Fundação Dom João sexto, Nova Friburgo, Rio de Janeiro. Por esse porto, localizado na capitania do Rio de Janeiro, na atual cidade de Magé, se escoava o ouro proveniente das Minas Gerais para a Europa.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

9. Por que o Rio de Janeiro se tornou séde do vice-reino do Brasil em 1763?


Tropas e monções

Diante das crises de fome nas áreas da mineração no início do século dezoito, instalaram-se fazendas nas proximidades a fim de diminuir o problema do abastecimento de alimentos. Porém, muitos produtos, como tecidos, animais, utensílios domésticos, ferramentas e alguns gêneros alimentícios, como o charque, ainda provinham de regiões distantes.

Havia duas fórmas de realizar esse comércio de longa distância: pelas caravanas de tropeiros ou pelas monções, que estudamos no capítulo 9. Os tropeiros transportavam mercadorias nos lombos de mulas conduzidas por longos caminhos que ligavam as regiões de mineração ao nordeste e ao sul. Nesses caminhos, foram estabelecidos vários locais de descanso dos tropeiros, que, com o passar do tempo, deram origem a povoados e cidades. Esse é o caso de Vacaria, no Rio Grande do Sul, Lages, em Santa Catarina, e Itapetininga, em São Paulo.

Pintura. À esquerda grupos de diversos homens. Alguns estão sentados, outros estão em pé. À direita, uma mulher cozinha em uma panela sobre uma fogueira. Ao fundo, pequenos barcos atracados.
Encontro de monções no sertão, pintura de Oscar Pereira da Silva, 1920. Museu Paulista da Universidade de São Paulo, São Paulo.

As mercadorias levadas por esses caminhos eram comercializadas nas feiras de São Paulo, principalmente em Sorocaba.

As rotas do comércio interno (século dezoito)

Mapa. As rotas do comércio interno, século dezoito. Destaque para o atual território brasileiro.
Legenda:
Seta verde: gado.
Seta roxa: tropas de mulas.
Seta vermelha: monções.
Rosa: regiões auríferas.
Linha cinza: limites atuais do Brasil.

Gado: Uma das rotas parte do Sul do país em direção à Sorocaba, no atual estado de São Paulo; outra sai do Nordeste em direção ao atual estado de Minas Gerais, margeando o Rio São Francisco. 
Tropas de mulas: Uma rota parte de área próxima a Salvador, no atual estado da Bahia e segue margeando o Rio São Francisco até chegar em Vila Rica, no atual estado de Minas Gerais. Outra rota sai do Rio de Janeiro também em direção à Vila Rica. 
Monções: Rota que parte do interior do atual estado de São Paulo, utilizando o Rio Tietê, até chegar ao Rio Pardo, no atual estado de Mato Grasso do Sul. 
Regiões auríferas: grande área entre os atuais estados de Mato Grosso e Goiás, incluindo Vila Real de Cuiabá. Grande área no atual estado de Minas Gerais, incluindo Vila Rica. Área menor no atual estado da Bahia, à noroeste da cidade de Salvador, próxima ao Rio São Francisco. 
No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de zero a 400 quilômetros.

Fonte: SIMONSEN, Roberto. História econômica do Brasil: 1500-1820. São Paulo: Nacional, 1978. página 255.


Responda em seu caderno.

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Explique a relação entre a direção das rótas comerciais apresentadas no mapa e a atividade mineradora.


A sociedade mineira

Os povoados formaram-se e cresceram em uma velocidade espantosa nas áreas de mineração. A sociedade que se formou desse crescimento acelerado era muito diferente da que existia antes no Brasil e em Portugal.

Nos núcleos urbanos, havia grande número de artesãos, profissionais liberais e funcionários da coroa, escravizados e ex-escravizados, o que os tornava socialmente mais diversificados que os do Nordeste açucareiro. Alguns historiadores destacam, porém, os grandes contrastes sociais nas vilas e arraiais mineiros, onde havia numerosos desocupados, como os ladrões que atacavam caravanas de tropeiros.

Esses núcleos concentravam residências, negócios, atividades literárias e celebrações. Foi nesse ambiente de vida social agitada que ocorreram as manifestações culturais do Barroco mineiro e movimentos que contestavam os impostos metropolitanos.

Habitantes de Minas Gerais (1776)

Gráfico circular. Habitantes de Minas Gerais, 1776. 
Legenda:
Azul: brancos.
Laranja: pardos.
Verde: negros.

Brancos: 22 por cento; Pardos: 26 por cento; Negros: 52 por cento.

Fonte: PAIVA, Eduardo França. Escravos e libertos nas Minas Gerais do século dezoito: estratégias de resistência através dos testamentos. São Paulo: Annablume, 1995. página 67.

A elite mineradora

Os proprietários de grandes lavras constituíam um grupo social privilegiado na região. Esse pequeno segmento detinha muito poder econômico, influência política e numerosos escravizados, que eram usados como referência na hora de arrematar as lavras.

Os altos funcionários da coroa também integravam essa elite. Eles eram, em geral, portugueses enviados para ocupar cargos importantes, como o de superintendente e o de governador. Outros portugueses vinham ao Brasil para atuar principalmente como contratadores, que eram homens de negócio que obtinham da coroa, por meio de leilão, o direito de cobrar as taxas reais.

Os grandes comerciantes, por sua vez, beneficiavam-se do monopólio comercial de alguns artigos nas regiões mineradoras. Em muitos casos, o comércio era muito mais lucrativo que a exploração mineral.

Gravura. Pessoas descendo uma montanha em uma trilha de pedras e terra montadas a cavalo. Nos cavalos da frente, dois homens brancos de chapéu. Um deles tem uma arma pendurada nos ombros. Em outro cavalo, atrás, uma mulher branca sentada de lado. Um homem negro está em pé ao lado do cavalo dela. À direita, à frente dos cavalos, uma mulher e uma criança à pé.
Habitantes de Minas, gravura de iôrrán morits Rugendas, 1835. Biblioteca Municipal Mário de Andrade, São Paulo.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Como era realizado o comércio de longa distância nas Minas Gerais?
  2. Quais eram as principais características da sociedade mineira?
  3. Quais eram as ocupações profissionais dos membros da elite mineradora?

Os negros escravizados e a resistência

Ao longo do século dezoito foram trazidos para o Brasil cêrca de 1,7 milhão de africanos submetidos à escravidão, principalmente da região da Costa da Mina (sudaneses) e de Moçambique (bantos), e muitos deles foram destinados à região das Minas Gerais. Em 1742, eles representavam 70% da população da região das minas, estimada em duzentas e sessenta e seis mil pessoas.

Os negros escravizados eram sujeitados ao árduo trabalho nas grandes lavras ou trabalhavam para um faiscador no leito dos rios. A morte dessas pessoas era frequente em razão das doenças causadas pelas condições de trabalho, além dos castigos físicos e outras fórmas de punição. A expectativa de vida de um escravizado nas minas variava entre sete e doze anos.

Muitos negros que fugiam da mineração de ouro e diamante organizavam quilombos (comunidades de escravizados fugidos que você estudou no capítulo 8). Os quilombos mineiros ficavam próximos às vilas e arraiais e mantinham ativo comércio com a vizinhança. As autoridades tinham dificuldade para destruir essas comunidades porque os comerciantes locais, muitas vezes, mantinham relações comerciais com elas. Calcula-se que, entre 1710 e 1798, tenham existido cêrca de 120 quilombos em Minas Gerais. Hoje há na região comunidades remanescentes desses antigos quilombos.

Fotografia. Meninos e meninas em uma sala de aula, sentados em carteiras escolares. As mochilas estão penduradas nas cadeiras. Ao fundo, parede decorada com vários cartazes coloridos.
Crianças da comunidade remanescente do Quilombo do Baú durante aula, Araçuaí, Minas Gerais. Foto de 2018.
As camadas intermediárias e a população pobre livre

Os negros escravizados formavam a base da sociedade mineira, mas o número de negros libertos em Minas Gerais era maior que em outros lugares da colônia. Além disso, um escravizado podia acumular posses e pagar para recuperar a liberdade.

Os forrosglossário que acumulavam bens e seus descendentes compunham, ao lado de brancos remediadosglossário , uma camada urbana intermediária. Essa parcela da população era constituída por pequenos comerciantes, artistas, faiscadores, médicos e profissionais chamados de “oficiais” (sapateiros, ferreiros, carpinteiros etcétera), entre outros.


Famílias e mulheres nas cidades mineradoras

Como você estudou neste capítulo, graças à atividade mineradora, a região das Minas Gerais atraiu pessoas de diversas regiões: tanto migrantes em busca de oportunidades quanto comerciantes que por lá transitavam, levando itens de outras partes da colônia. Do mesmo modo, a formação social e urbana da região possibilitou a muitos negros escravizados conquistar a alforria. Nessa conjuntura, a condição das mulheres e suas famílias era diferente da que tinham em outras partes da colônia, como explica o texto do historiador Luciano Figueiredo.

A região das Minas Gerais [no século dezoito] testemunhou ainda outro fenômeno: ali grande número de domicílios eram chefiados por mulheres negras ou mulatas, solteiras, casadas, mas com o marido ausente ou viúvas, mantendo sozinhas o sustento dos filhos, quase sempre por meio de atividades comerciais ou do cultivo de roças. A elevada circulação dos homens, a pressão eclesiástica contra a coabitação de casais sem a oficialização matrimonial e, de maneira decisiva, a autonomia alcançada pela mulher no mercado de trabalho urbano e na economia, contribuíram para a disseminação desses núcleos domésticos chefiados por mulheres: no início do século dezenove, quase 50% dos lares se encontravam nessa situação reticências.

FIGUEIREDO, Luciano. Mulher e família na América portuguesa. São Paulo: Atual, 2004. página 65. (Coleção Discutindo a história do Brasil).

História em construção

Sociedade mineira em debate

Há muito debate entre os pesquisadores a respeito da sociedade mineira do período. Historiadores como Eduardo França Paiva abordaram tal sociedade do ponto de vista de seu dinamismo, ressaltando, por exemplo, a existência nela de maior mobilidade social do que em outras partes da colônia. Em seus estudos, França explicou as vantagens mútuas do sistema de trabalho dos escravos de ganho, os quais passavam o dia na cidade, vendendo quitutes ou prestando outros serviços, sem que o senhor tivesse de pagar por sua alimentação ou roupas. Ao retornar no fim do dia, entregavam uma parte da quantia recebida e guardavam outra para si. Desse modo, podiam acumular dinheiro e comprar a alforria.

Já a historiadora Laura de Mello e Souza analisou a enorme desigualdade nessa sociedade, na qual os homens ricos e poderosos representavam um pequeno grupo, os integrantes da camada intermediária (boa parte eram homens livres pobres) viviam de fórma modesta e a enorme camada de escravizados, diante da penúria, fugia ou recorria ao roubo e à violência.

Como se pode perceber, esses historiadores abordaram o perfil da sociedade que se formou nas Minas Gerais de perspectivas distintas. Concordaram, porém, no fato de que o grande fluxo de pessoas e mercadorias possibilitou uma sociabilidade incomum na colônia até então.


Responda em seu caderno.

Questão

Explique a diferença de pontos de vista desses historiadores sobre a sociedade mineira.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Identifique uma das fórmas mais comuns de resistência dos escravizados nas Minas Gerais.
  2. Que diferença existia entre a condição das mulheres negras das Minas Gerais e a condição das que viviam em outras regiões, como a do Nordeste açucareiro? Como se explica essa diferença?

Irmandades e ordens terceiras

Em 1705, as ordens religiosas foram proibidas de entrar na região das Minas Gerais. A metrópole as acusava de causar tumultos, de estimular os habitantes a não pagar impostos e de contrabandear ouro e diamantes.

A proibição imposta pelas autoridades portuguesas esbarrava na forte religiosidade dos habitantes da colônia, cuja alternativa foi a criação de irmandades, confrarias e ordens terceiras. Mediante a autorização da coroa e da Igreja, essas agremiações de leigosglossário desempenhavam, ao lado do papel religioso, função assistencial. Assim, elas eram responsáveis pela arrecadação de fundos para construir suas capelas e igrejas, organizar procissões e amparar seus membros.

As irmandades tinham regras próprias, que diferiam de uma para outra. Cada uma cultuava um santo e congregava determinada camada da sociedade mineira. Por exemplo, nas ordens terceiras, frequentadas por brancos, não eram admitidos negros, pardos e cristãos-novos e seus descendentes. Negros forros e escravizados participavam de ordens como a de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos ou a de Nossa Senhora das Mercês, igrejas em que também eram venerados santos negros, como Santo Elesbão, Santa Ifigênia e São Benedito. As irmandades competiam entre si por filiados e prestígio, por isso investiam grandes somas no embelezamento de suas igrejas.

Fotografia. Pessoas vestidas de branco em uma escadaria em frente a uma igreja. À frente, quatro mulheres negras. Três delas carregam painéis com imagens de santos.
Festa Reinado de Nossa Senhora do Rosário, Santa Ifigênia e São Benedito, em Ouro Preto, Minas Gerais. Foto de 2020. São Benedito e Santa Ifigênia, ambos negros de origem africana, eram cultuados pelos escravizados no Brasil colonial.

Conexão

Os tropeiros

País: Brasil

Direção: Odair Redondo

Ano: 2006

Duração: 180 minutos

A série em três episódios refaz os caminhos percorridos pelos tropeiros no século dezoito do Rio Grande do Sul até Sorocaba, em São Paulo, onde havia as feiras de mulas que eram vendidas para comerciantes de várias partes da colônia. Ela apresenta informações sobre o período em que os tropeiros circulavam para abastecer as regiões coloniais do Brasil.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

15. Qual foi o contexto da formação das irmandades, confrarias e ordens terceiras no século dezoito?


Leitura complementar

Aleijadinho, arte barroca e ordens terceiras

O Barroco foi um movimento cultural e artístico europeu do século dezesseis. A arte barroca caracteriza-se por fórmas exuberantes, em que os detalhes e a representação das emoções ganham destaque.

Associado à religiosidade católica da colônia, o Barroco mineiro adquiriu características próprias. Nas obras de arte feitas para ornamentar as igrejas mineiras, os artistas utilizaram materiais típicos da região, como a pedra-sabão e o cedro, criando ambientes exuberantes, onde anjos, nuvens e composições florais coloridas combinavam-se com altares, colunas e imagens revestidos de ouro.

Antônio Francisco Lisboa, também conhecido como Aleijadinho, foi o artista de maior destaque do Barroco mineiro. Leia um trecho da biografia dele.

O mais famoso artífice mineiro do período colonial, batizado como Antônio Francisco Lisboa, mas conhecido por essa alcunha [Aleijadinho], nasceu em 1738, em Vila Rica, atual Ouro Preto, do relacionamento do renomado arquiteto português Manuel Francisco Lisboa com uma escrava, e foi provavelmente na oficina paterna que o escultor e entalhador mulato aprendeu as lições de desenho arquitetônico.

O contato com as técnicas europeias trazidas para Minas Gerais por João Gomes Batista, encarregado da cunhagem na Fundição de Ouro de Vila Rica, deve ter contribuído igualmente para sua formação.


Fotografia. Vista parcial do interior de uma igreja. Nas paredes há grandes pinturas com molduras e ornamentos dourados. O teto é coberto por detalhes dourados. Ao fundo, altar ricamente decorado e grandes pilastras ornamentadas douradas.
Interior da Igreja Matriz de Santo Antônio, em Tiradentes, Minas Gerais. Foto de 2019. Note a exuberância do Barroco mineiro.

reticências A originalidade de suas composições e a habilidade com que as executava tornaram-no muito requisitado pelas mais opulentas irmandades leigas da capitania, aplicando-se a esculturas em pedra-sabão e a obras de talha, em diversas reticências igrejas. A partir de 1796, consagrou dez anos à obra de composição monumental dos Passos e dos profetas do adro do santuário do Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas do Campo, inspirado na disposição daquele de mesmo nome situado em Braga, Portugal.

A obra de Aleijadinho não pode ser dissociada do patrocínio das irmandades leigas das Minas reticências. Entre tais associações, ocupavam um lugar à parte as ordens terceiras que, gozando de inúmeros privilégios pela Santa Sé e de rigorosos estatutos de pureza de sangue, aglutinavam os segmentos brancos da população. Nas Minas, reticências elas gozavam de considerável autonomia, o que lhes permitiu desvencilharem-se das influências barrocas da arte conventual dos carmelitas e franciscanos a que estavam subordinadas, viabilizando a introdução de experiências inovadoras reticências. Um dos principais atores dessa febril atividade espiritual e artística, o Aleijadinho, devido a rígidas barreiras raciais erguidas para a escolha de componentes das ordens terceiras, jamais ingressou nelas. Apesar disso, essa intensa rivalidade entre as confrarias de Minas Gerais teria propiciado ao seu gênio reticências passar da condição de artesão para a de artista reticências, convertendo-se no representante mais destacado do primeiro movimento cultural significativo que a América portuguesa conheceu. Faleceu em 1814.

NEVES, Guilherme Paulo Castagnoli Pereira das. Aleijadinho. In: VAINFAS, Ronaldo direção Dicionário do Brasil colonial: 1500-1808. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. página 24.


Escultura. Homem com barba grande e marcas de expressão ao lado da boca. Ele usa um manto com capuz. Tem as mãos grandes. Segura um papiro aberto com inscrições.
Escultura representando o profeta Isaías, de Aleijadinho, 1805. Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas, Minas Gerais. Foto de 2018.

Responda em seu caderno.

Questões

  1. Que relação existe entre as obras de Aleijadinho e a atuação das ordens terceiras?
  2. Aleijadinho era assim chamado em razão de sequelas de uma doença que prejudicou sua mobilidade progressivamente a partir de 1777. Pesquise trabalhos do artista após essa data e avalie se essa condição física interferiu na qualidade de suas obras.

Atividades

Responda em seu caderno.

Aprofundando

1. Leia o texto sobre o início do período da mineração para responder às questões.

Os que assim se moviam atraídos pela visão tentadora do Eldorado encontravam uma realidade bastante diferente da que lhes coloria os sonhos. Os aglomerados mineradores formaram-se rapidamente, devido ao afluxo repentino de grandes levas humanas. Sendo assim, não havia roças de alimentos para atender à subsistência daquela quantidade de gente reticências.

SOUZA, Laura de Mello e. Opulência e miséria das Minas Gerais. São Paulo: Brasiliense, 1997. página 18.

  1. De acôrdo com o texto, os colonos que se deslocavam para a região das Minas tinham suas expectativas satisfeitas? Por quê?
  2. Na região das Minas Gerais, os preços dos alimentos eram muito superiores aos de outras partes da colônia. Por que isso ocorria?

2. Consulte o quadro e faça o que se pede.

PRODUÇÃO DE OURO NO BRASIL (SÉCULO XVIII)

Período

Produção (kg)

1700-1720

18.880

1721-1739

39.237

1740-1759

57.335

1760-1779

37.155

1780-1799

18.504

Fonte: PINTO, Virgílio Noya. O ouro brasileiro e o comércio anglo-português. segunda edição São Paulo: Nacional, 1979. página 114.

  1. Qual foi o período de maior produção de ouro no século dezoito?
  2. Com base no quadro, elabore um gráfico de barras indicando a variação da produção de ouro no Brasil no século dezoito.

3. Leia o texto sobre a condição social dos mestiços, descendentes de negros escravizados, e dos libertos na região das Minas Gerais no século dezoito. Depois, responda à questão.

Muitos dos mulatos e forros são donos de escravos, participam ativamente da vida artística local, na construção e ornamentação das igrejas, na música, na feitura de santos e em tudo o mais. Do ponto de vista econômico, possuem vendas e lojas, cultivam cana e fabricam cachaça, são ferreiros, alfaiates, padeiros etcétera

SCARANO, Julita. Negro nas terras do ouro: cotidiano e solidariedade (século dezoito). São Paulo: Brasiliense, 2002. página 29.

Mobilidade social pode ser definida como a possibilidade de um indivíduo migrar de uma condição social para outra. De acôrdo com o texto, na sociedade que se formou na região das Minas Gerais havia mobilidade social? Explique.

Aluno cidadão

  1. Uma das principais preocupações da coroa portuguesa estava relacionada com as práticas de corrupção, como a sonegação de impostos e o contrabando de ouro e diamantes. Atualmente, a corrupção ainda ocorre nas atividades políticas e no cotidiano da população. Reúna-se em grupo e façam o que se pede.
    1. Pesquisem duas notícias sobre casos de corrupção ocorridos recentemente e relacionados às escolas públicas brasileiras.
    2. Reúnam as notícias pesquisadas com as selecionadas pelos demais grupos da turma.
    3. Comparem as notícias coletivamente e identifiquem os possíveis padrões entre os casos.
    4. Com base nos padrões identificados, proponham soluções para combater a corrupção nas escolas públicas brasileiras.

Conversando com arte

5. Os ex-votos são objetos colocados pelos fiéis em igrejas ou capelas com a intenção de agradecer as bênçãos concedidas por entidades religiosas, como os anjos e santos. Observe o ex-voto que representa a jornada de um português saindo de sua terra natal em direção à região das Minas Gerais até se tornar padre. Depois, responda às questões.

Pintura. Ex-voto que mostra várias cenas da vida de um homem. Na parte superior da imagem, da esquerda para a direita: Algumas casas; um homem de roupa azul e chapéu preto, montado em um cavalo branco; o mesmo homem, sem o chapéu, ajoelhado na porta de uma igreja; e, no canto superior direito, a imagem da Virgem Maria, envolta em uma nuvem, carregando o menino Jesus. Na sequência, o mesmo homem é representado em outras cenas distribuídas na faixa central da pintura: enfrentando duas grandes cobras pretas que tentam atacá-lo; fugindo de dois homens armados. Esses homens vestem chapéus pretos, semelhantes aos dos bandeirantes paulistas; na porta de outra igreja, localizada na lateral esquerda da pintura, onde há sacerdotes reunidos; junto a outros homens, próximo a uma árvore; e ao lado de um homem de roupa amarela, logo abaixo da imagem da Virgem Maria.
Na parte inferior da pintura, um sacerdote em duas cenas: à esquerda, utilizando uma muleta; e à direita ajoelhado com as mãos em posição de oração. Entre as duas cenas, um texto no interior de uma moldura dourada.
Prodigiosas mercês e milagres que tem feito a Virgem Nossa Senhora dos Remédios a seu devoto Agostinho Pereira da Silva, ex-voto de 1749. Mosteiro de São Bento, Salvador.
  1. Que elementos da imagem indicam que o documento está relacionado à expressão da fé católica?
  2. Nos textos desse ex-voto é possível ler: “Saindo de sua pátria”, “Cometido de duas medonhas cobras” e “Já sacerdote enfermo encostado em uma muleta desenganado por causa de uma grande ferida”. Identifique a representação desses episódios na imagem.
  3. Localize a representação da seguinte frase do ex-voto: “Quiseram-no matar os paulistas”.
  4. Qual foi o provável motivo pelo qual os paulistas tentaram matar o protagonista da narrativa do ex-voto?

Você é o autor

6. Reúna-se em grupo e escolham uma cidade histórica mineira para produzir um folheto turístico: Ouro Preto, Mariana, São João del-Rei, Tiradentes ou Diamantina. Pesquisem informações sobre a cidade escolhida e selecionem pontos turísticos históricos, atividades culturais, fotos e um mapa local para compor o folheto. Criem uma legenda numerada para o mapa da cidade, indicando as atrações com fotos e breves descrições. Componham o folheto com outros textos e imagens usando uma folha de papel sulfite dobrada ao meio. Ao final, apresentem o folheto para os demais colegas da turma.


Glossário

Rejeito
: sobra do processo de beneficiamento do minério de ferro (composta de água, areia e minério de ferro).
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Lavra aurífera
: local onde se encontrou ouro para extração.
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Data
: cada um dos lotes em que se dividia a área de extração do ouro.
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Arroba
: antiga unidade de medida equivalente a 14,5 quilogramas.
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Depósito aluvionar
: também chamado de aluvião, consiste em uma área na qual ocorreu a deposição de sedimentos, como cascalhos, areia e lama, originados da erosão de rochas em um sistema fluvial.
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Forro
: nesse caso, escravizado que havia conquistado a alforria (liberdade).
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Remediado
: indivíduo cuja situação financeira é modesta, mas suficiente para sobreviver.
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Leigo
: nesse caso, religioso que não era formado oficialmente pela Igreja Católica como membro de uma ordem religiosa.
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