UNIDADE 2  A conexão entre mundos

Fotografia. Frutas e legumes coloridos expostos em uma banca. Estão separados por tipo: mangas, pepinos, batatas, cenouras, abacates, peras, laranjas, abacaxis, tomates e bananas, entre outros.
Frutas à venda em banca na cidade de São pétersbúrgo, Rússia. Foto de 2021.

O que estudaremos na unidade

Você sabe qual é a origem dos alimentos que aparecem nas imagens? Sabe de que maneira eles foram transportados para cidades na Europa, Ásia e África? E aqui no Brasil, você já teve contato com produtos originários de outros países? Estamos tão habituados a encontrar objetos e alimentos produzidos em diferentes lugares do mundo que, muitas vezes, não nos damos conta de que a disponibilidade de tais produtos faz parte de uma cadeia de produção e distribuição bastante complexa. Nesta unidade, você vai estudar como a expansão e a colonização europeias nos séculos quinze e dezesseis misturaram povos e conectaram culturas tão diferentes quanto as ocidentais e as orientais, modificaram as paisagens, os valores e os costumes e incrementaram os hábitos alimentares ao redor do mundo.


Respostas e comentários

Abertura da unidade

As imagens da abertura apresentam bancas de frutas em São Petersburgo (Rússia), Ilha de Bali (Indonésia) e imbabâne (éssuótini). A presença das mesmas frutas em lugares tão distantes do mundo atesta o intenso intercâmbio cultural e comercial existente hoje.

O comércio intercontinental foi impulsionado a partir do século quinze com a expansão marítima europeia. Esse contexto proporcionou trocas culturais que alteraram a vida social e a paisagem das regiões exploradas pelos europeus e também as da Europa.

O comércio de especiarias e de pau-brasil e o tráfico de africanos escravizados promoveram maior integração entre o Oriente e o Ocidente. Junto dos navegadores do Atlântico, embarcaram ratos, bois, carneiros, cavalos, porcos, cabras, cana-de-açúcar, coqueiros, ervas daninhas e agentes patológicos com destino ao “novo mundo”. Por outro lado, goiaba, mandioca, milho, caju, pitanga, tabaco, cacau, inhame, feijão, peru, batata, arroz e banana, entre inúmeros outros exemplos, foram levados para a Europa.

Esse intercâmbio foi tão intenso, que hoje temos dificuldade de reconhecer elementos nativos e exóticos em cada país, sejam culturais, sejam biológicos, como plantas e animais.

Nesta unidade, estudaremos a construção do Império Português e a colonização do continente americano com atenção para as lógicas administrativas, comerciais, políticas e culturais decorrentes desse processo.

Fotografia. Frutas organizadas em cestas coloridas. Estão expostas em uma banca. À frente, bananas e laranjas. Ao fundo outras frutas coloridas.
Frutas à venda em banca na ilha de Bali, Indonésia. Foto de 2015.
Fotografia. Diversas bancas, lado a lado, com frutas expostas. Estão agrupadas por tipos. As bancas estão cobertas por guarda-sóis, e há pessoas comprando e vendendo. Em destaque, à direita, mamões e abacaxis.
Frutas à venda em banca na cidade de imbabâne, éssuótini. Foto de 2020.

Sumário da unidade

Capítulo 4

Expansão portuguesa na África e na Ásia, 62

Capítulo 5

Colonizações espanhola e inglesa na América, 82

Capítulo 6

A colonização portuguesa na América, 103


Respostas e comentários

Unidade 2: justificativas

Na primeira página de cada capítulo desta unidade, estão listados os objetivos previstos para serem trabalhados com os alunos.

Os objetivos do capítulo 4 se justificam por possibilitar o conhecimento da diversidade de povos africanos e de suas fórmas de organização antes da expansão portuguesa, bem como por incentivar a reflexão sobre os interesses envolvidos nessa expansão, considerando a presença portuguesa na África e na Ásia, os impactos do tráfico de escravizados e exemplos de manifestações de resistência.

No capítulo 5, a pertinência dos objetivos se deve à análise dos processos de colonização empreendidos por espanhóis e ingleses na América, destacando os interesses econômicos e religiosos envolvidos, os impactos para os povos nativos e as relações que se estabeleceram entre a Europa, a América e a África.

Os objetivos do capítulo 6 se justificam pela abordagem do processo de colonização da América portuguesa e seus legados para o Brasil contemporâneo. A temática indígena aparece com centralidade, e questões como o manejo sustentável e o direito à terra tangenciam a discussão e fomentam o debate entre os alunos. Além disso, o capítulo evidencia permanências históricas em relação à administração colonial, como as Câmaras Municipais, e a divisão territorial das capitanias hereditárias.

CAPÍTULO 4  Expansão portuguesa na África e na Ásia

Fotografia. Avenida larga com pessoas passando a pé e de moto. Em primeiro plano, grande prédio retangular com muitas janelas. Na parte de baixo, várias lojas com fachadas escritas em chinês. Em segundo plano, prédios grandes e espelhados.
Avenida do Infante Dom Henrique, em Macau, China. Foto de 2018.

Macau foi colônia portuguesa por mais de quatrocentos anos e retornou à administração chinesa apenas em 1999. A origem dessa colônia está ligada à expansão marítima dos portugueses pelo mundo no início do século quinze.

Antes de chegar à região, os portugueses tinham uma vaga ideia da paisagem e dos costumes dos povos que viviam no local. Porém, a partir dos primeiros contatos e das trocas comerciais, eles foram conhecendo hábitos alimentares, religiosos, sociais, econômicos e artísticos diferentes dos europeus. Nesse processo, difundiram sua cultura e foram influenciados pelos povos com os quais entraram em contato.

  • Que motivos tinham os portugueses para se estabelecer em lugares tão distantes de Portugal?
  • Além do idioma, que outros elementos culturais os portugueses podem ter difundido pelas terras onde se estabeleceram e que elementos assimilaram dos povos que nelas habitavam?

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

O conteúdo deste capítulo contempla parcialmente as habilidades ê éfe zero sete agá ih zero dois (ao abordar a expansão marítima portuguesa e o estabelecimento de rótas mercantis oceânicas entre a Europa, a África e a Ásia), ê éfe zero sete agá ih zero três, ê éfe zero sete agá ih um três e ê éfe zero sete agá ih um quatro (ao apresentar e analisar o desenvolvimento de sociedades africanas e suas interações anteriores e posteriores à expansão portuguesa, bem como as lógicas mercantis advindas desse contato). O capítulo contempla a habilidade ê éfe zero sete agá ih um cinco e parcialmente a habilidade ê éfe zero sete agá ih um seis (ao apresentar os mecanismos subjacentes à dinâmica do comércio de escravizados, discutindo o conceito moderno de escravidão, bem como a introdução do elemento europeu). O trabalho para o desenvolvimento das habilidades se completa ao longo de outros capítulos, conforme indicações no quadro de habilidades do ano.

Objetivos do capítulo

  • Reconhecer e valorizar a diversidade de povos e culturas existentes no continente africano antes da colonização europeia.
  • Conhecer a expansão portuguesa na África e na Ásia.
  • Contextualizar a presença da escravidão na África e o impacto do tráfico negreiro para as sociedades africanas.
  • Refletir sobre interesses econômicos e religiosos presentes na expansão portuguesa.
  • Reconhecer as manifestações de resistência dos povos africanos e asiáticos.

Abertura do capítulo

A abertura tem o objetivo de demonstrar o alcance do domínio português na época moderna, evidenciar o legado luso nesses domínios e estimular os alunos a criar hipóteses para explicar as razões do processo de exploração colonial. Aproveite as questões propostas para levantar os conhecimentos prévios dos alunos sobre esses temas. Se necessário, retome as navegações portuguesas, estudadas no capítulo 3, para fomentar a discussão sobre a presença portuguesa na África e na Ásia. Os principais motivos que levaram os portugueses a se estabelecer em lugares distantes de Portugal foram as questões econômicas e religiosas: a exploração de novos produtos e mercados para expansão do comércio e a difusão do cristianismo entre os povos encontrados nas áreas de colonização. Além da língua portuguesa, a expansão portuguesa pela África e pela Ásia levou a cultura portuguesa (a arquitetura, por exemplo) e o cristianismo (por meio da ação de missionários católicos) para esses continentes. Os portugueses também assimilaram elementos das culturas com as quais tiveram contato. Por exemplo, na culinária, houve a inclusão na dieta portuguesa de especiarias e espécies vegetais desconhecidas na Europa; e no vocabulário, foram adotadas palavras de outros idiomas, como as palavras cafuné, dengo e moleque, de origem africana.

A África antes dos portugueses

Desde o século sete, povos do norte da África e do Sael mantinham intenso comércio, intermediado por árabes islamizados. As caravanas de cameleiros transportavam sal, ouro, noz-de-colaglossário e africanos escravizados em direção ao norte do continente para de lá seguirem pelo Mar Mediterrâneo até a Europa e a Ásia por rótas terrestres e marítimas.

A intensificação do comércio contribuiu para o desenvolvimento dos reinos da África Subsaariana e para a difusão do islamismo entre os povos africanos. Ao longo das rótas transaarianas, na região que atualmente corresponde aos territórios do Chade, do Níger e da Nigéria, também se desenvolveram cidades do povo hauçá autônomas. Essas cidades formavam o eixo de ligação entre a savana, o deserto e a floresta. Nelas, o islã se misturou às tradições locais.

Ao sul do Sael, a presença dos muçulmanos ficou restrita à costa oriental, favorecida pela Róta comercial que interligava o continente africano com a Ásia.

Na costa atlântica da África, fóra do alcance da influência islâmica, a presença europeia, sobretudo portuguesa, a partir do século quinze, impactou o comércio dos reinos costeiros e centrais, alterando de fórma significativa suas características.

Contornar o continente africano – com quase 30 milhões de quilômetros quadrados, de norte a sul, de oeste a leste – foi uma tarefa desafiadora para os portugueses. Eles encontraram no local grande diversidade de climas, povos e culturas.

Quais eram as características desses povos antes da chegada dos portugueses? Como ocorreu o contato entre essas diferentes culturas?

Fotografia. Homem negro, careca, de barba grisalha, vestindo camisa e calças azuis. Está sentado no chão, cortando uma placa de sal com um facão. A seu lado, outras placas de sal, colocadas em pé.
Vendedor serrando bloco de sal em Mopti, República do Mali. Foto de 2017. O sal é um dos principais produtos comercializados no país.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao caracterizar o comércio caravaneiro e a difusão do islamismo na África antes da chegada dos portugueses, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três.

Atividade complementar

Proponha aos alunos uma pesquisa sobre a diversidade cultural africana. Para isso, organize a turma em grupos e solicite que pesquisem imagens de diferentes povos ou etnias existentes na África. Eles devem identificar as imagens com o nome da etnia ou povo, descrever o que está representado (um ritual, uma dança, vestimentas, pinturas corporais etcétera) e identificar o local e a data da foto, compondo legendas para cada uma delas.

Após a seleção de imagens, providencie um desenho em tamanho grande do contorno do continente africano e a divisão política atual dos países e peça aos grupos que colem as imagens selecionadas nos locais correspondentes, formando um grande mapa cultural do continente. A atividade também pode ser realizada em meio digital, caso seja possível.

O mapa criado pode ser retomado ao final do estudo do capítulo, para que os alunos associem as imagens do mapa aos aspectos culturais dos diferentes povos estudados.

Além de favorecer o processo de construção coletiva do conhecimento, a atividade tem o objetivo de promover a percepção dos alunos sobre a grande diversidade de povos e culturas da África. Desse modo, se relaciona com o tema contemporâneo transversal Diversidade cultural e favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três e das Competências gerais da Educação Básica nº 4, nº 5, nº 9 e nº 10.

Desenvolvimento social, econômico e cultural no norte da África

Para aprofundar o tema do desenvolvimento social, econômico e cultural do norte da África, pode-se retomar o conteúdo do capítulo 10 do 6º ano sobre a formação dos impérios de Gana, do Mali e do Songhai. Além de verticalizar o estudo, a retomada estabelece nexos entre os conhecimentos adquiridos e os novos.

Os povos iorubás

Os iorubás formam um dos maiores grupos étnicos da África Ocidental Subsaariana, reunindo atualmente mais de 30 milhões de pessoas. Eles representam quase um quarto da população da Nigéria e sua presença é significativa no Benin, no Togo e em Serra Leoa. No passado, eles não viviam em um Estado unificado, mas em cidades-Estado, cuja formação se iniciou no século nove.

Ifé e Oió

A cidade iorubá mais antiga é Ifé. Esse seria o local onde Odudúa, uma das várias divindades cultuadas pelos iorubás, criou a humanidade. Por isso, Ifé era considerada uma cidade sagrada e seu governante, o Oni, o ancestral de todos os reis iorubás.

Constituída a partir do século seis, Ifé também era o centro de uma rede de estradas pelas quais se praticava o comércio.

No século doze, Oió se tornou a cidade politicamente mais poderosa para os iorubás. Tratava-se de um grande centro urbano no qual viviam nobres, comerciantes, camponeses e artesãos. Oió expandiu e seu govêrno conquistou cidades vizinhas, formando uma espécie de federação. No século dezoito, a cidade entrou em declínio em razão das guerras com a cidade de Daomé.

Oió se destacou pelo elevado grau de urbanização, pela sofisticada arquitetura e avançada metalurgia.

A cultura iorubá

A cultura iorubá ainda permanece na África e é um dos pilares da cultura brasileira.

Os iorubás tinham uma cultura baseada na oralidade, isto é, suas tradições, mitos e outros conhecimentos eram transmitidos por meio da palavra falada, não escrita.

As divindades da religiosidade iorubá, chamadas orixás, são associadas às fôrças da natureza, como tempestades, cachoeiras, mar e florestas. Na mitologia iorubá, as divindades ocupam o orum, o céu, e atuam sobre os seres humanos, que habitam o ayê, a terra, moldando sua identidade e influenciando seu destino.

Fotografia. Pessoas negras vestidas com túnicas brancas e compridas. Usam longos colares coloridos e gorros. Alguns carregam uma bengala, outros tocam instrumentos. No centro, no chão, um tapete longo. Ao fundo uma multidão aglomerada.
Fiéis participando do Festival Olojo, em Ifé, Nigéria. Foto de 2018. Realizado anualmente em homenagem a Ogum, orixá do ferro e filho mais velho de Odudúa, o festival simboliza a união dos povos iorubás.

Benin

A cidade-Estado do Benin foi fundada no século treze com a junção de diversos vilarejos da região. A maioria da população era formada por povos edos, aparentados dos iorubás, que acreditavam ser descendentes de Odudúa e, por isso, pagavam tributos à cidade vizinha, Ifé.

Na cidade, que era um importante entreposto comercial, praticava-se a agricultura. Com o objetivo de controlar mais rótas comerciais, Benin se expandiu militarmente, até que, no século quinze, cêrca de duzentas cidades e vilarejos estavam subordinados ao seu comando.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Qual é a importância da cidade de Ifé para os iorubás?
  2. Apesar de as cidades-Estado iorubás serem unidades políticas autônomas, elas eram fortemente integradas. Aponte dois fatores que explicam essa integração.
  3. Caracterize a religião dos povos que habitaram a região da atual Nigéria.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao apresentar a formação e a organização comercial dos povos iorubás e bantos, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero sete agá ih um quatro.

Recapitulando

  1. Para os iorubás, a cidade de Ifé é sagrada porque foi lá que Odudúa criou a humanidade. Assim, ela é o lugar associado à ancestralidade, à origem.
  2. As cidades-Estado iorubás ligavam-se por uma rede de rótas de comércio e por uma identidade cultural associada à religiosidade (todas teriam sido fundadas pelos descendentes dos primeiros seres humanos criados em Ifé).
  3. Os iorubás cultuavam várias divindades, chamadas orixás. Cada cidade cultuava alguns orixás em particular, que eram associados às fôrças da natureza e comandavam a identidade e o destino dos seres humanos.

Atividade complementar

Proponha uma atividade para pesquisar elementos da cultura iorubá presentes na cultura brasileira. Para isso, organize a turma em grupos de 4 ou 5 alunos de diferentes perfis e peça a cada grupo que pesquise um elemento da cultura brasileira que tenha influência iorubá, como alimentos, ritmos musicais, danças, religiões e palavras que compõem a língua portuguesa. Cada grupo deve preparar uma apresentação, que pode ser em formato digital, com o resultado da pesquisa para o restante da turma.

Ampliando: os verbetes “iorubá” e “iorubás”

Iorubá. Língua falada, com variantes locais, pelos diversos povos do sudoeste das atuais repúblicas de Nigéria e Benin, agrupados sob denominação iorubás reticências.

Iorubás. Denominação adotada pelos colonizadores ingleses, no século dezenove, para unificar e designar o conjunto de povos aparentados e localizados principalmente no sudoeste do território da atual República da Nigéria e na porção nordeste do atual Benin. Segundo algumas fontes, o nome adviria de um designativo, provavelmente derrogatório, usado pelos fulas e hauçás para se referirem ao povo de Oyó Ilé ou simplesmente Oyó. Têm como vizinhos os povos aja, edo, ibo e nupê reticências.”

LOPES, Nei; MACEDO, José Rivair. Dicionário de história da África: séculos sete a dezesseis. Belo Horizonte: Autêntica, 2017. página 156-157.

Os povos bantos

Os bantos formam um conjunto de povos agrupados por afinidades linguísticas. Muitos grupos africanos são conhecidos como povos de língua bantu ou bantofones (falantes do bantu). Isso não significa que sejam um mesmo povo ou uma única comunidade, mas sim que eles falam uma língua de origem histórica comum. Aproximadamente em 1000 antes de Cristo, os bantos começaram a emigrar da região dos Montes Adamauá, no centro-oeste do atual Camarões, em direção ao sul do continente africano, alcançando áreas que atualmente formam parte dos territórios de Angola, Congo, Camarões, Gabão, Uganda, Namíbia, Zâmbia, Moçambique, Botsuana e Zimbábue.

Congo-angolas

Fundado no final do século treze, o Reino do Congo era formado por povos que falavam línguas do grupo banto. O reino ocupava o sudoeste da África Central, território que hoje corresponde a partes de Angola, Congo, República Democrática do Congo e Gabão.

Os bacongos, integrantes do principal grupo étnico do reino, produziam tecidos de ráfiaglossário , fabricavam objetos de marfim e cobre e coletavam zimbosglossário . Os camponeses cultivavam cereais e usavam instrumentos de ferro, como enxadas e machados, em seu trabalho. Também criavam aves e cabras. De suas cidades partiam muitos comerciantes para vender ferro, sal, objetos de marfim, cerâmica, tecidos e joias de cobre a outros povos da África.

Escultura. Mulher sentada com as pernas cruzadas. Tem a cabeça lisa e olhos ovais. Está com os seios à mostra. Tem um bebê deitado sobre suas pernas cruzadas. Uma das mãos segura a cabeça do bebê e outra repousa sobre as pernas dele.
Escultura bacongo que representa inquízi, cultuada como responsável pela proteção das mães e dos recém-nascidos, século dezenove. Galeria entuísâl, Londres, Reino Unido.

O rei, chamado manicongo, aumentou seus domínios por meio da conquista de terras, de alianças e de casamentos de habitantes do reino com integrantes de outros grupos. Além disso, enriqueceu com a cobrança de impostos em fórma de produtos de todas as cidades e aldeias do reino. Mubanza Congo, a capital do reino, tinha cêrca de 100 mil habitantes no fim do século quinze. Protegida por uma cêrca de estacas, contava com uma praça central onde funcionavam os tribunais, era celebrada a coroação dos reis e os comerciantes negociavam vários produtos.

Nesse período, os portugueses estabeleceram relações diplomáticas com o Reino do Congo, impulsionando o comércio entre os dois povos. Em 1489, o rei do Congo, inzínga a inkúu, converteu-se ao cristianismo e passou a se chamar João. Com a presença portuguesa no Reino do Congo, as regiões de Angola e do Congo se tornaram grandes fornecedoras de produtos e de escravizados para o comércio atlântico. Até o século dezenove, o Brasil recebeu milhões de africanos escravizados vindos dessa parte da África. Eles eram chamados congo-angolas.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.


Transcrição do áudio

Línguas africanas e o português do Brasil

[Locutor]

Você já reparou que a língua que falamos no Brasil é diferente do português falado, por exemplo, em Portugal? O que será que a nossa história tem a ver com isso? Uma das particularidades históricas do lugar que hoje chamamos Brasil é a intensa miscigenação que ocorreu por aqui ao longo de mais de cinco séculos. Essa mistura contribuiu para modificar e enriquecer toda nossa cultura e em particular a nossa língua. Vamos observar a influência das línguas africanas nesse processo.

[Locutor]

[entra trilha sonora]

Estima-se que cerca de 4,8 milhões de africanos tenham sido trazidos para o Brasil entre os séculos XVI e XIX para trabalhar principalmente nas lavouras e na mineração. A origem desses africanos era muito variada, mas a maioria pertencia à família linguística nigero-congolesa. Do grande grupo linguístico nigero-congolês vieram para o Brasil principalmente os falantes dos idiomas quimbundo, quicongo, iorubá (ou nagô), ewe e fon (também chamados de jeje). No Brasil, o intenso contato entre os indivíduos escravizados trazidos da África e os falantes do português e da língua geral - originada do cruzamento entre línguas indígenas e europeias - acabou provocando que chamamos interação linguística. Uma consequência disso foi que nossos modos de falar a língua mudaram e novas palavras foram incorporadas a ela. São de origem africana palavras como caçula, dengo, cafuné, samba e bagunça. Outros exemplos são os verbos cochilar, fungar, xingar e zangar. A palavra nhoka, também originária da África aqui virou minhoca. E kalumba se transformou em calombo. A maneira como falamos no nosso dia a dia também mudou em virtude da influência africana. Por exemplo: os ditongos ei e ou passaram a ser pronunciados como “ê” e “ô” em algumas regiões do país. Assim é comum ouvirmos as pessoas dizerem “bêjo” em vez de beijo, “mantêga” no lugar de manteiga e “lôco” como equivalente de louco.

O regime de escravidão que vigorou no Brasil impedia que a grande maioria dos negros dominasse a forma escrita da língua. Esse pode ter sido um dos motivos pelos quais a influência dos idiomas africanos ficou mais restrita ao campo da oralidade. Mas a rejeição a muitas dessas influências na norma culta do nosso português também pode ser em parte explicada pelo lugar que os negros foram obrigados a ocupar na sociedade brasileira e pelos preconceitos contra o que era associado à sua cultura. É importante reconhecer e valorizar este aspecto tão significativo da herança cultural africana fundamental para a formação da rica e diversa cultura brasileira. A língua que falamos também é resultado de processos sociais que aconteceram no passado. Ao mesmo tempo, ela oferece indícios para que possamos conhecer melhor a nossa história.


Respostas e comentários

Ampliando: ráfia, produto africano

“O tecido de ráfia foi sobretudo importante na África Central, onde se desenvolveram, antes do século dezesseis, as técnicas de seu ornamento em um grau muito elevado, e onde peças de ráfia serviam como moeda. Na zona florestal, mas não se trata mais aqui de tecelagem stricto sensu, se desenvolveu muito a produção do tecido de casca de árvore tratada por percussão. Na savana aberta, o couro permaneceu a matéria dominante para a vestimenta. Esses dados contrariam o argumento afirmando que o avanço muçulmano teria difundido a prática da tecelagem do algodão, como consequência da vontade de combater a nudez. Esse raciocínio tornou-se pouco convincente, já que outras técnicas de fabricação de vestimentas eram conhecidas.”

devíce, jãn; VANSINA, Jan. A África do século sete ao onze: cinco séculos formadores. In: EL FASI, morramédi (edição). História geral da África, três: África do século sete ao onze. Brasília, Distrito Federal: unêsco, 2010. página 909. Disponível em: https://oeds.link/9wwb6g. Acesso em: 22 abril 2022.

inquízi e a religiosidade

O plural da palavra inquízi é minquízi e ambas são utilizadas para se referir às divindades que representam elementos da natureza. Essas divindades detêm personalidade bem definida na mitologia e também são cultuadas nas religiões afro-brasileiras.

Por se tratar de conhecimento de matriz oral, cada grupo do antigo Reino do Congo cultuava essas divindades de maneiras distintas.

Na costa oriental: os suaílis

Entre os séculos três e quatro, povos de etnia e língua bantu se instalaram nas ilhas e na costa oriental da África. Mais tarde, árabes, indianos e persas islamizados, interessados nas relações comerciais entre os mercados asiáticos e o continente africano, também se estabeleceram na região, originando, entre os séculos doze e quinze, sociedades cuja cultura e língua integravam elementos de todos esses povos. Conhecidas como suaílis, essas comunidades étnicas estão hoje espalhadas, principalmente, pela costa índica da África.

Os primeiros Estados suaílis datam do século dez. Suas principais cidades eram Sofala, no atual Moçambique; Zanzibar e Quíloa, na atual Tanzânia; Mombaça e Melinde, no atual Quênia; e Mogadíscio, na atual Somália. Os Estados suaílis nunca chegaram a formar um império. A sua economia era basicamente voltada para exportação: resina, especiarias, marfim, chifres de rinoceronte, madeira, cascos de tartaruga, ouro, ferro e escravizados eram comercializados nos mercados árabes, indianos e chineses. Em troca, os mercadores disponibilizavam tecidos, pérolas e conchas raras, que eram utilizadas como moeda. A agricultura, a pecuária e a pesca eram as principais atividades de subsistência dos grupos não islamizados.

A partir do final do século quinze, a expansão portuguesa pelas rótas comerciais do Oceano Índico alterou as dinâmicas sociais e econômicas da região.

Fotografia. Ruínas de uma construção grande com várias janelas e passagens internas em formato de arco. À direita uma árvore.
Ruínas da Grande Mesquita de Quíloa, Tanzânia. Foto de 2016. O Sultanato de Quíloa atingiu o auge de seu poder no século quinze, dominando várias cidades suaílis.

Saiba mais

Monomotapa

Ao norte do planalto do Zimbábue, povos bantofones, conhecidos como chônas, fundaram o Reino do Zimbábue. Eles tinham conhecimento de agricultura, pastoreio, mineração e metalurgia. O desenvolvimento dessa região está intimamente ligado ao florescimento dos suaílis. Em troca de sal, tecidos e pérolas, esses povos comercializavam marfim e ouro com as cidades do Oceano Índico.

Em 1430, niatssímba mutóta unificou o povo chôna e deu início a um reino chamado Monomotapa. Durante o reinado de seu filho, matôpe nianrêrue (1450-1480), os domínios chônas se expandiram até o litoral do atual Moçambique. Assim, os chônas estabeleceram relações comerciais com os portugueses.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Antes da chegada dos portugueses, que atividades econômicas eram praticadas no Reino do Congo?
  2. Como se formaram os povos conhecidos como suaílis? Quais eram suas influências?

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao apresentar as características comerciais das comunidades étnicas suaílis e discutir a articulação entre elas e árabes, indianos e chineses antes da expansão portuguesa, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero sete agá ih um quatro.

Recapitulando

  1. A base econômica do Reino do Congo se assentava no comércio estabelecido com outros povos do continente. A agricultura, com a produção de ráfia, e o artesanato de objetos de cobre também eram atividades importantes.
  2. Os suaílis se formaram a partir da migração banta para a costa índica do continente africano e de seu encontro com persas, árabes e indianos, constituindo uma civilização com características peculiares.

Reinos e impérios

Se considerar necessário, retome a distinção entre reinos e impérios feita no livro do 6º ano desta coleção: “Os reinos são unidades políticas nas quais um povo é governado por um rei. Se esse rei conquista territórios e domina outros povos, passa a governar um império. Nos impérios vivem povos com línguas, religiões e costumes diferentes entre si, embora estejam todos sob a mesma autoridade política.” (capítulo 4, página 68).

Atividade complementar

Apresente um mapa político atual da África e localize com os alunos alguns dos países estudados. Mostre a região do Reino do Congo (de Angola, Congo, República Democrática do Congo e Gabão) e a região dos povos bantos (nos atuais territórios de Angola, Congo, Camarões, Gabão, Uganda, Namíbia, Zâmbia, Moçambique, Botsuana, Zimbábue, entre outras). Além delas, localize também os países e regiões dos reinos suaílis nos atuais Moçambique, Tanzânia, Quênia e Somália.

A expansão marítima portuguesa

Em 1415, os portugueses tomaram a cidade de Ceuta, no norte do continente africano. O domínio desse importante entreposto comercial inaugurou uma série de viagens europeias para explorar o ouro africano e, mais tarde, as especiarias asiáticas. Nessas expedições marítimas, os portugueses também passaram a explorar o comércio de escravizados, realizando o tráfico de pessoas entre diversas partes do mundo.

Como você estudou no capítulo 3, o espírito cruzadista motivou os portugueses a empreender as viagens marítimas e a investir contra os muçulmanos na África. Assim, motivações econômicas e religiosas se misturaram na expansão portuguesa sobre territórios da África e da Ásia.

Ao longo do século quinze, os portugueses contornaram toda a costa do continente africano. Em 1498, Vasco da Gama chegou a Calicute, na Índia, abrindo a Róta das especiarias asiáticas ao Império Português.

Ao longo dos séculos quinze e dezesseis, os portugueses dominaram e exploraram muitas terras na Ásia: na Índia, na Indonésia, na China e no Japão. Nesses locais, eles tiveram acesso a um intenso e lucrativo comércio de produtos, como especiarias, tecidos de algodão, seda, porcelana e pedras preciosas, revendendo-os na Europa. Ao lado da atividade comercial, os missionários religiosos europeus trabalhavam para converter os povos nativos à fé católica.

As conquistas portuguesas na Ásia e na África (séculos quinze e dezesseis)

Mapa. As conquistas portuguesas na Ásia e na África, séculos quinze e dezesseis. Mapa com representação de terras na Europa, Ásia e África.
Legenda: O processo de ‘roedura’ do continente africano no século quinze e no início do século dezesseis.

O mapa traz as seguintes indicações: 
Na Europa: Lisboa e Lagos, e as ilhas de Açores 1427, Porto Santo 1419, e  Madeira 1420.
Na África: na região costeira do Oceano Atlântico: Ceuta 1415, Cabo Bojador 1434, Cabo Branco 1441, Ilhas de Cabo Verde 1456, Arguim 1443, Rio Senegal 1444, Cabo Verde 1444, Enseada do Varela 1446, Rio Grande (Geba) 1456, Rio Gâmbia 1448, Serra Leoa 1460, Sama 1471, Castelo de São Jorge da Mina 1482, Ilha do Príncipe 1472, Ilha de São Tomé 1471, Cabo Catarina 1474, Rio Zaire 1482, Ascensão 1502, Santa Helena 1503, Cabo da Boa Esperança 1488; na região costeira do Oceano Índico: Rio do Infante 1488, Baía de São Brás 1488, Sofala 1500, Monomotapa 1498, Ilha de São Lourenço (Madagascar) 1500, Mombaça 1498, Melinde 1498, Ilha de Socotorá 1503.
Na Ásia: Áden, Arábia 1503, Ormuz 1507, Diu, Damão, Goa 1510, Calicute 1498, Cochim 1501, Ceilão1506, Rio Ganges 1516, Pegu, China 1513, Macau, Sião 1511, Malaca1509 e Sumatra 1509. 

Na parte inferior direita, rosa dos ventos e escala de zero a 1.020 quilômetros.

Fonte: HERNANDEZ, Leila Leite. A África na sala de aula: visita à história contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005. página 46.


Responda em seu caderno.

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Analise o mapa e explique por que o processo de exploração da África pelos portugueses nos séculos quinze e dezesseis foi chamado “roedura” do continente africano.


Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar a expansão marítima portuguesa e o estabelecimento de rótas mercantis oceânicas entre a Europa, a África e a Ásia, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero dois.

Explore

Nesse período, o processo de exploração da África, conforme o mapa indica, ficou conhecido como “roedura” do continente africano porque os portugueses exploraram apenas a costa africana, como um animal roedor que rói um queijo pelas bordas, sem chegar ao interior. Para chegar a essa conclusão, a leitura do mapa é fundamental, na medida em que evidencia a localização das cidades litorâneas e das ilhas conquistadas pelos portugueses na África.

África: comércio e exploração

Após a conquista de Ceuta, os portugueses começaram a explorar a costa ocidental do continente africano em busca de ouro e de seres humanos para serem vendidos como escravizados em Portugal. Além desse comércio, produtos como sal, pimenta-malagueta, ferro, tecidos e marfim foram incluídos nas transações comerciais com regiões da África.

Para estabelecer sua presença no continente e assegurar a prática regular de transações com os povos locais, os portugueses passaram a construir feitorias.

As feitorias construídas ao longo da costa foram fundamentais para o comércio luso com os povos africanos. Entretanto, os portugueses não conseguiram penetrar no interior do continente, onde estavam as fontes de ouro, marfim, escravizados etcétera, ficando dependentes de comerciantes intermediários africanos. É provável que a resistência dos povos locais tenha impedido seu avanço para o interior.

Até a segunda metade do século dezessete, os portugueses tinham construído uma rede de feitorias ao longo da costa africana e no litoral de diversas regiões da Ásia. Na costa ocidental da África, as principais foram a Fortaleza de Arguim (1443), o Castelo de São Jorge da Mina (1482), Goreia (1536), Luanda (1575), Benguela (1617), Ajudá (1681) e Bissau (1696).

Fotografia. Construção grande com muitas janelas e telhado triangular de tijolos. Ao redor um grande muro branco. Nas laterais alguns coqueiros.
Castelo e Forte São Jorge da Mina, em Elmina, Gana. Foto de 2019.

Na costa oriental africana, banhada pelo Oceano Índico, havia a presença de árabes, indianos e chineses, com os quais as sociedades locais mantinham importantes relações comerciais, culturais e políticas. Porém, com a chegada dos portugueses, a convivência antes pacífica entre os povos africanos e esses mercadores tornou-se violenta.

Em Mombaça, por exemplo, os portugueses saquearam navios mercantes árabes desarmados e foram hostilizados pela população. Em Melinde, a presença portuguesa no comércio local só foi garantida graças a uma aliança com o sultão. Nessa região da África Oriental, as principais feitorias construídas pelos portugueses foram Sofala (1505) e Moçambique (1507).

Saiba mais

As feitorias portuguesas na África

As feitorias eram entrepostos comerciais fortificados e protegidos por guardas para estocar e negociar as mercadorias. Para a construção delas, os portugueses precisavam da autorização dos reis ou de chefes locais.

Os acordos eram obtidos geralmente por meio de alianças com os governantes ou com as elites locais, que aceitavam a presença lusitana nos fortes mediante colaboração no combate aos povos inimigos. Nos locais onde não conseguiam acordos, os portugueses impunham sua presença pela fôrça das armas.


Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao apresentar a expansão portuguesa, o estabelecimento de feitorias, a implantação do sistema de capitanias hereditárias em Cabo Verde e a prática comercial desenvolvida pelos lusos no continente africano, com vistas à consolidação da figura do português como mercador, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero sete agá ih um três.

Portugal e a exportação de especiarias

É interessante mencionar que a exportação das mercadorias estrangeiras que chegavam ao reino lusitano, como especiarias – canela, pimenta, gengibre, cravo, noz-moscada, por exemplo – e tecidos – algodão e seda –, além de pedras e metais preciosos, representava a maior fonte de lucro dos portugueses, que assim podiam permanecer investindo nesse arriscado e aventureiro negócio.

Feitorias

As feitorias portuguesas não ficaram restritas ao continente africano. Elas se estenderam para diversas porções da Ásia, seguindo a expansão marítima da potência europeia no período. Goa, Malaca, Ormuz, Ternate, Maldivas e Cochim são algumas das feitorias portuguesas construídas em regiões asiáticas.

Guiné e Cabo Verde

À medida que avançavam pelo Atlântico africano, os portugueses iniciaram a conquista e a exploração da África Ocidental. Eles alcançaram a Guiné em 1446 e, em 1460, chegaram às ilhas de Cabo Verde. A coroa portuguesa, ao mesmo tempo que manteve as expedições em direção à Índia, tratou de obter lucros com a exploração da África atlântica.

Nas feitorias de Guiné e Cabo Verde, os portugueses adquiriam ouro, marfim, pimenta-malagueta, corantes e, principalmente, escravizados. Em troca, os lusos ofereciam trigo, tecidos, armas e ferramentas, entre outros produtos.

Inicialmente, a coroa não tinha recursos para ocupar esses territórios, que ficavam expostos a ataques estrangeiros. Por essa razão, o rei decidiu adotar nas ilhas de Cabo Verde o sistema de capitanias hereditárias, o mesmo modêlo de administração que mais tarde seria implantado nas terras do Brasil.

Com esse sistema, a coroa dividia o território em grandes lotes de terra, que eram distribuídos aos donatários. Eles arcavam com os custos da colonização e da proteção da colônia contra os invasores. Nas capitanias criadas na África atlântica, os donatários assumiam o exercício da justiça, encarregavam-se da cobrança de impostos e podiam doar sesmarias para estimular a fixação portuguesa no território. Nessas terras, os portugueses iniciaram o cultivo de cana-de-açúcar.

Fotografia. Desenho sobre azulejos quadrados em tons de azul, representando pessoas em um mercado na rua. No centro, uma criança carrega um bebê no colo. À esquerda pessoas sentadas no chão de pedras. À frente delas, peixes expostos e uma mulher em pé, observando os peixes. Ao fundo, cachos de bananas pendurados. À direita, adultos e crianças perto de sacas e tigelas no chão.
Azulejos portugueses em parede na cidade de Mindelo, na Ilha de São Vicente, em Cabo Verde. Foto de 2019.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Qual foi a estratégia dos portugueses para se estabelecer no continente africano?
  2. Descreva o sistema de exploração utilizado pela coroa portuguesa em Cabo Verde.

Respostas e comentários

Recapitulando

  1. Os portugueses utilizaram como estratégia a fundação de feitorias ao longo da costa africana para se estabelecer no continente.
  2. A coroa portuguesa adotou o sistema de capitanias hereditárias para explorar as ilhas de Cabo Verde. O sistema consistia na divisão do território em grandes lotes de terra, que eram distribuídos aos donatários, os quais se responsabilizavam pela defesa, pela administração e pela aplicação da justiça.

Diferentes idiomas

Ainda que o idioma oficial do arquipélago de Cabo Verde seja o português, a língua falada pela maior parte do povo é o crioulo cabo-verdiano. Essa língua resultou do cruzamento do idioma português, introduzido pelo colonizador, com as línguas nativas da costa da Guiné. Além de ser a língua da comunicação oral, o crioulo cabo-verdiano é a língua geral da música de Cabo Verde em seus diferentes gêneros e ritmos: desde as expressões musicais tradicionais, como a morna e a coladeira, até as canções da nova geração de compositores, que inovaram com ritmos que dialogam com o zúqui, o rock, o samba, o hip-hop, entre outros. Apresente aos alunos, por exemplo, a letra de uma morna composta em crioulo cabo-verdiano intitulada sodáde (Saudade), escrita pelo poeta e compositor Armando Zeferino Soares (1920-2007). Essa canção ficou mundialmente conhecida na voz da cantora cabo-verdiana Cesária Évora (1941-2011).

Escravidão

As práticas de escravidão eram comuns em diversas sociedades, notadamente nas civilizações da Antiguidade Clássica.

Na África antiga, embora a atividade não fosse predominante, a escravização tradicional ocorria em razão de dívidas ou da captura de inimigos vencidos nas guerras entre aldeias ou reinos. A partir do século sete, com a expansão muçulmana no continente africano, a prática da escravidão foi se tornando mais sistematizada, embora os muçulmanos não escravizassem quem praticava a fé islâmica.

Os indivíduos escravizados costumavam ser obrigados a trabalhar em atividades degradantes ou que exigiam muito esforço físico. Eles eram considerados integrantes da família proprietária, mas em uma condição inferior. Em diversas culturas da África Subsaariana, os indivíduos escravizados podiam se casar com uma pessoa livre e os filhos desse casamento acabavam, com o passar do tempo, sendo integrados à comunidade.

Uma pesquisa realizada pelo economista e antropólogo Tidiane indáie defende que os árabes muçulmanos foram os responsáveis por implantar o tráfico sistemático de escravizados como atividade comercial na África muito tempo antes da chegada dos europeus ao continente. Essa pesquisa também afirma que os árabes muçulmanos foram os primeiros a apontar a cor da pele como justificativa para a escravização. Porém, o estudo ainda precisa ser confirmado por outras pesquisas. Até o momento, a maior parte dos pesquisadores sustenta que, antes do século quinze, o comércio de escravizados não era o objetivo das guerras internas ao continente e que não existia relação estabelecida entre a pele negra e a escravidão. Esses historiadores afirmam que o racismo e o tráfico transatlântico de africanos escravizados foram consolidados somente com a chegada dos portugueses à África.

Considerar que alguns homens são ‘naturalmente’ inferiores a outros é o mesmo que adotar uma atitude que podemos classificar de racista. [Associar] a ideia de inferioridade ‘natural’ às características físicas, como a cor da pele, reticências atingiu sobretudo as populações da África negra. reticências esse tipo de racismo desenvolveu-se sobretudo a partir do momento em que surgiu um comércio em grande escala de negros, tanto em direção à África do Norte e ao Oriente Médio quanto às ilhas do Atlântico, do Oceano Índico e das Américas.

petrê grenuiiô oliviê. A história da escravidão. São Paulo: Boitempo, 2009. página 33.

Saiba mais

A servidão medieval e a escravidão

Durante a Idade Média, a servidão predominou como fórma de trabalho compulsório. A condição servil variou conforme a época e o lugar, mas, em geral, os servos trabalhavam nas terras do senhor, não tinham condições de sair dali para viver autonomamente e ainda pagavam tributos a seus senhores. Contudo, eles não eram considerados propriedade do senhor e não podiam ser vendidos.

Refletindo sobre

O racismo e o preconceito estiveram na base do sistema escravista moderno. Pessoas de países, regiões, religiões e culturas diferentes dos de um grupo dominante podem ser alvo de discriminação. Tais atitudes promovem segregação e atos de violência. Você já presenciou atitudes preconceituosas ou racistas? Já foi vítima delas? O que é possível fazer para combater o racismo? Debata essas questões com os colegas.


Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao apresentar as diferenças entre o escravismo antigo e a servidão medieval, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero sete agá ih um cinco.

Refletindo sobre

O racismo e o preconceito estão muito presentes na sociedade brasileira atual. Eles se revelam nas falas, nos gestos, nas preferências e nos julgamentos precipitados que segregam e expõem os alvos dessas atitudes à violência verbal, física ou psicológica. É importante que os alunos apresentem suas contribuições ao debate de maneira coerente. A problematização do racismo é uma das ferramentas fundamentais para combatê-lo, porque desnaturaliza determinados comportamentos e permite às vítimas identificar práticas preconceituosas e desenvolver estratégias de defesa, como também possibilita àqueles que o reproduzem a oportunidade de refletir sobre tais atitudes. O debate proposto alerta, também, para a necessidade de se promover a cultura de paz.

Bê êne cê cê

Ao propor um debate sobre o racismo e o preconceito, discutindo fórmas de combatê-los, a atividade contribui para a discussão do tema contemporâneo transversal Educação em direitos humanos e para o desenvolvimento das Competências gerais da Educação Básica nº 8, nº 9 e nº 10.

Escravidão anterior à chegada dos portugueses

É importante esclarecer aos alunos que o trabalho escravo já existia na África antes da chegada dos portugueses, nos séculos quinze e dezesseis. Entretanto, havia diferenças em relação ao regime que seria implementado pelos europeus.

Uma pesquisa realizada pelo economista e antropólogo franco-senegalês Tidiane indáie e publicada em 2008 com o título O genocídio ocultado: investigação histórica sobre o tráfico negreiro árabo-muçulmano defende que antes de os europeus implantarem o tráfico transatlântico na África, os árabes muçulmanos foram responsáveis pela comercialização de mais de 10 milhões de africanos e pela destruição sistemática de povos inteiros do continente. Entretanto, essa tese ainda não foi reconhecida pela comunidade científica, que aponta uma série de problemas metodológicos na seleção e na análise das fontes que sustentam o estudo. Por isso, no capítulo, foi mantida a perspectiva tradicional de que, até a interferência europeia na África, a organização econômica e social dos reinos africanos não estava direcionada ao comércio de escravos em grande escala.

O tráfico de africanos e a escravidão moderna

Com o estabelecimento do tráfico atlântico pelos portugueses a partir do século quinze, a comercialização de seres humanos escravizados aumentou significativamente. Essas pessoas eram compradas em troca de produtos, como armas, pólvora e fumo. A venda de escravizados tornou-se uma atividade bastante lucrativa para os mercadores.

Os escravizados eram obtidos por meio de negociações entre os chefes de aldeias ou soberanos dos grandes reinos e os europeus, que os transportavam e vendiam para outras partes do mundo. Dessa fórma, os traficantes europeus estabeleceram laços comerciais com o rei do Congo, do qual compraram boa parte dos africanos escravizados trazidos para as terras do Brasil. O comércio sistemático de homens e mulheres escravizados estimulou diversas guerras entre reinos e povos africanos, tornando-se o motivo para os conflitos acontecerem.

Gravura. Pessoas embaixo de uma estrutura com telhado. Na parte superior da estrutura, dois homens brancos de barba grande e turbante pesam um produto com uma balança de mão, enquanto um terceiro homem os observa. À frente da estrutura, pessoas negras sentadas no chão com as mãos estendidas na direção de outros homens brancos de turbante que estão em pé próximos a eles.
Representação de um mercado de escravizados no Iêmen, gravura de 1237. Biblioteca Nacional da França, Paris.

História em construção

Violência: base do sistema escravista

Todas as situações de exploração existentes na África tradicional reticências não se constituem sistemas escravistas, porque a exploração não era renovada sistematicamente e não suscitava uma categoria de indivíduos mantida institucionalmente (de fato ou de direito) em uma relação de subordinação. A escravidão como modo de exploração só pode existir se constituir-se uma classe distinta de indivíduos com um mesmo estatuto social. Essa classe distinta, chamada escrava, deve se renovar de fórma contínua e institucional, de tal modo que as funções a ela destinadas possam ser garantidas de maneira permanente e que as relações de exploração e a classe exploradora (dos senhores) que delas se beneficiam possam também se reconstituir regular e continuamente. Nada disso foi reunido na África antes do tráfico externo reticências.

MUNANGA, kabenguelê. Origens africanas do Brasil contemporâneo: histórias, línguas, culturas e civilizações. São Paulo: Global, 2009. página 90.


Responda em seu caderno.

Questões

  1. O autor do texto admite a existência de um sistema escravista africano anterior à chegada dos europeus ao continente? Justifique.
  2. Para o autor, que condições precisam existir para que se considere que existe um sistema escravista em determinado lugar?

Respostas e comentários

História em construção

  1. Não, pois ele não identifica a existência das condições características do sistema escravista na África.
  2. A existência de um sistema escravista depende de duas condições: que exista uma categoria de indivíduos que se diferencie dos demais grupos pela sua subordinação a uma classe de senhores; e que essa categoria exista de maneira permanente e institucionalizada, executando regularmente determinadas funções. Nas sociedades africanas havia indivíduos cativos, mas eles não constituíam uma categoria à parte e não ocorria uma reposição contínua deles. Os senhores de escravizados não constituíam também uma categoria, pois o que existia eram chefes de família que, eventualmente, tinham alguns escravizados para auxiliar no trabalho junto à família.

Bê êne cê cê

Ao propor o debate sobre o conceito de escravidão, a atividade contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero sete agá ih um cinco, além de contribuir para o desenvolvimento da Competência específica de Ciências Humanas nº 6 e das Competências específicas de História nº 5 e nº 6.

Ampliando: a África durante o comércio negreiro

“Antes do tráfico atlântico de escravos, o continente africano já tinha sido afetado por várias migrações forçadas. reticências No entanto, nenhum [fluxo migratório] teve um custo humano tão alto quanto o tráfico atlântico, que vitimou cêrca de 12 milhões de pessoas entre os séculos dezesseis e dezenove, e disseminou violência e escravização no continente africano. reticências

Na África, o tráfico atlântico produziu efeitos múltiplos e deletérios. No curto prazo, gerou centralização política, sobretudo em reinos africanos que dominaram o fornecimento de cativos para os mercadores europeus na costa africana, assim como inevitável fragmentação política.

À medida que poderes locais se fortaleciam, novos grupos se insurgiam contra as lideranças centrais. Ao estimular guerras e a expansão territorial entre reinos rivais, o tráfico gerou um quadro de instabilidade sistêmica nas sociedades africanas. Ao expor os africanos a redes de comércio responsáveis pela introdução de armas, têxteis e álcool, alimentou a escravização por débito. Através de guerras, sequestros ou métodos judiciais, produziu escravização crônica e difusa.”

FERREIRA, Roquinaldo. África durante o comércio negreiro. In: Chuárquis, Lilia M.; GOMES, Flávio (organizador). Dicionário da escravidão e liberdade: 50 textos críticos. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. página 51-53.

O impacto do tráfico negreiro na África

O primeiro efeito do tráfico transatlântico de pessoas foi a queda acentuada no crescimento demográfico no continente africano, o que resultou na redução da atividade econômica das áreas que mais perderam populações. Durante esse período do tráfico, estima-se que dezenas de cidades africanas desapareceram, prejudicando o desenvolvimento de muitas regiões do continente.

Outra consequência foi estimular os reinos e sociedades da África que exportavam escravizados a dedicar-se principalmente ao tráfico. Algumas regiões que antes obtinham escravizados apenas por meio de conflitos retomaram antigas hostilidades, ou provocaram outras, para obter prisioneiros de guerra e vendê-los aos europeus. As guerras foram ainda incrementadas pelas armas de fogo fornecidas pelos portugueses, transformando economias antes voltadas para a agricultura, o artesanato e o comércio em sociedades organizadas para a guerra e para a captura de seres humanos.

Nos reinos e regiões onde imperou o comércio de escravizados com os europeus, formou-se uma elite militar voltada para a guerra. Ao mesmo tempo, o modêlo de escravidão levado à África pelos europeus – desenvolvido em grande escala e voltado para o lucro – afetou a escravidão tradicionalmente praticada no continente, transformando também o escravizado interno em um bem comercializável e com menos possibilidades de integração na sociedade. Tudo isso contribuiu para desorganizar a economia e a vida no continente africano ao longo dos séculos.

Fotografia. Monumento composto por esculturas de pessoas de costas, em fila, nuas e acorrentadas.
Monumento em homenagem aos milhões de pessoas que foram aprisionadas e escravizadas na África. Casa dos Escravos, dacár, Senegal. Foto de 2014.

Saiba mais

Resistência à escravidão

Segundo o historiador Alberto da Costa e Silva, existem poucas, mas significativas notícias de resistência à escravização no continente africano. Por meio de rebeliões, por vezes, os escravizados conseguiam surpreender e executar seus amos e mercadores portugueses. Eles também formavam comunidades de fugitivos. Algumas eram tão numerosas que deram origem a novos vilarejos.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Quais eram as diferenças entre a escravidão praticada no continente africano antes do século quinze e a escravidão moderna estabelecida após a chegada dos portugueses à África?
  2. Quais foram os impactos do tráfico negreiro no continente africano?

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao analisar as especificidades da escravidão moderna (a consolidação do componente racial e o tráfico transatlântico destinado à produção de bens de consumo em larga escala) e suas distinções em relação à servidão medieval e ao escravismo antigo, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero sete agá ih um cinco. Ao discutir o comércio, o papel dos mercadores, a sistematização e o impacto da escravidão no continente africano, contempla-se parcialmente a habilidade ê éfe zero sete agá ih um seis.

Recapitulando

  1. Na África, até o século quinze, eram escravizados prisioneiros de guerra e os que não tinham como saldar suas dívidas. Os escravizados ampliavam a capacidade produtiva de uma unidade familiar e o número de pessoas sujeitas a um chefe de família, aumentando seu prestígio. Com o tráfico atlântico de escravizados, a demanda aumentou significativamente, e um sistema econômico mais complexo foi estabelecido. O comércio de pessoas se tornou um negócio altamente rentável e garantiu a organização, no continente americano, de um sistema de produção dependente da escravidão.
  2. O tráfico negreiro implicou a queda acentuada do crescimento demográfico no continente africano e o desaparecimento de dezenas de cidades e povoados. Além disso, estimulou um estado de violência e guerra entre os diferentes reinos e povos com o objetivo de gerar aprisionados para serem comercializados. O tráfico negreiro acarretou a desorganização da economia africana durante séculos.

Resistência à escravidão

A obra na qual Alberto da Costa e Silva trata da resistência à escravidão africana no período estudado é A manilha e o libambo: a África e a escravidão, de 1500 a 1700. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

Os portugueses na Ásia

Em Calicute, existia um intenso comércio de especiarias e produtos de luxo que percorria rótas pelo Oceano Índico que se estendiam da costa oriental da África até a China. Esse lucrativo comércio passava por dois importantes entrepostos comerciais – Ormuz, no Golfo Pérsico, e Malaca, localizada onde hoje é a Malásia – e era controlado por indianos e árabes muçulmanos.

Ao chegar ao Oriente, os portugueses, com forte poder bélico, não encontraram muita resistência dos povos locais no mar. A presença lusitana na Ásia, assim como na África, estabeleceu-se por meio de alianças com as elites locais, da construção de feitorias e fortes e da ação evangelizadora de missionários católicos. Em 1510, os portugueses dominaram o comércio de Goa; em 1511, o de Malaca; e, em 1515, o de Ormuz.

Gravura. Representação em quatro quadros. Acima, o maior quadro representa diversas embarcações e uma extensa cidade litorânea, à frente, e montanhas, ao fundo. Abaixo, três quadros menores de cidades banhadas pelo mar. Uma delas tem uma pequena ilha. Todas têm embarcações no mar.
Representação de quatro feitorias portuguesas estabelecidas na Róta para o Oriente (Calcutá, Ormuz, Cananor e Elmina), gravuras de gueórgui bráun e Frans Rorreber publicadas na obra civitátis órbis terrárum, 1572. Biblioteca Nacional, Madri, Espanha.

Os fortes construídos em Goa e Ormuz asseguraram aos portugueses o contrôle do comércio de especiarias no Oceano Índico, com exceção da Róta de comércio que passava pelo Mar Vermelho, que continuou sob o domínio dos muçulmanos e abastecia também a Europa. Em seguida, feitorias portuguesas foram construídas ao longo das regiões costeiras, desde Sofala, na África Oriental, até Ternate, nas Ilhas Molucas, na atual Indonésia.

Em 1513, os portugueses chegaram à China e, trinta anos depois, ao Japão. A construção de uma base na cidade chinesa de Macau, em 1557, permitiu-lhes intermediar o comércio entre os dois reinos, que estavam em conflito. Da China saíam sedas e ouro, trocados por barras de prata japonesas.

Tapeçaria. À esquerda, homem de pele branca, cabelo e barba compridos, rosto fino e olhos pequenos. Usa túnica longa e segura uma haste. Ele está com a mão estendida na direção de um envelope que está na mão de um homem à sua frente. Esse homem tem pele branca, cabelos compridos e segura um chapéu com a outra mão. Ao redor deles outros homens. À direita, pessoas em pequenos barcos.
Chegada de Vasco da Gama a Calicute, detalhe de tapeçaria flamenga, século dezesseis. Banco Nacional Ultramarino, Lisboa, Portugal.

Respostas e comentários

Territórios do Império Português

O Império Português abrangeu territórios na América, na África e na Ásia. Inicialmente, a expansão portuguesa esteve relacionada ao interesse pelo ouro e por especiarias. A porção asiática desse império começou a se configurar com a ação de mercadores particulares e seus circuitos comerciais. Posteriormente, a coroa portuguesa tomou a frente desse empreendimento, organizando o Estado da Índia, cujo objetivo era ampliar, sobretudo, o comércio de especiarias.

A imagem da tapeçaria

Trata-se do detalhe de uma peça da série encomendada pelo rei Dom Manuel primeiro chamada À maneira de Portugal e da Índia. Se possível, oriente os alunos a acessar o seguinte endereço eletrônico: https://oeds.link/tImXbr (acesso em: 25 abril 2022). Em seguida, peça a eles que observem a tapeçaria completa e analisem os elementos representados, como o comércio, as embarcações, os fortes e as feitorias. Outros aspectos que podem ser discutidos na leitura dessa peça são a descrição dos produtos que estão sendo carregados nos navios e quais eram as motivações para levá-los à Europa.

O Império Português no Oceano Índico

Com as conquistas na Róta para o Oriente, os portugueses estabeleceram uma complexa rede comercial, formando um império. Em algumas regiões, os governantes asiáticos concediam aos lusitanos poder limitado fóra de suas feitorias. Na maioria dos lugares, porém, os portugueses enfrentaram forte resistência dos povos locais, que não aceitavam as mudanças culturais e religiosas impostas por eles.

Durante a maior parte do século dezesseis, Portugal dominou o comércio marítimo das especiarias orientais. Circulavam, ainda, no império comercial lusitano, o ouro da Guiné e da Indonésia, a seda e a porcelana da China, os tecidos de algodão da Índia e os cavalos da Pérsia, entre outros produtos.

O Império Português nesse período atingiu uma vasta extensão. Por isso, a coroa e os colonos tiveram dificuldade em mantê-lo intacto. Assim, no século dezessete, quando os holandeses, seguidos pelos ingleses e franceses, começaram a atacar as possessões lusitanas na África e na Ásia, obtiveram sucesso em muitas regiões, colocando fim ao monopólio português no comércio dos produtos oriundos desses continentes.

Ilustração. Ao centro, grande navio em alto mar. Ele tem várias velas abertas. Ao seu redor, outros navios menores. De alguns desses navios sai fumaça pelos orifícios na lateral, como se estivessem lançando bombas. Eles carregam bandeiras da Holanda em seus mastros. O mar está com ondas.
Navio mercante português sendo atacado por holandeses e ingleses na região das Índias Orientais em 1603, ilustração do século dezessete.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. É correto afirmar que os portugueses estabeleceram rótas de comércio antes inexistentes no Oriente? Justifique.
  2. Quais foram os meios empregados por Portugal para instalar sua marinha mercante nos mares do Oriente?
  3. Que fatores impediram a permanência da hegemonia lusitana no comércio oriental?

Respostas e comentários

Recapitulando

  1. Não. Quando Vasco da Gama chegou à Índia já havia uma Róta comercial marítima interligando a costa índica do continente africano à Península Arábica e à China.
  2. Portugal estabeleceu sua marinha mercante por meio de acordos com as elites dos reinos e impérios orientais e pela fôrça bélica. Com isso, controlou as rótas comerciais durante quase todo o século dezesseis e intermediou o comércio entre a China e o Japão.
  3. Os portugueses não conseguiram manter a hegemonia lusitana no comércio oriental em razão da grande extensão de suas possessões coloniais e da dificuldade de manter o contrôle sobre elas. Desse modo, no século dezessete, holandeses, franceses e ingleses conseguiram tomar as colônias portuguesas, pondo fim ao monopólio português no comércio oriental.

Nau dos elefantes

No contexto de disputa de fôrças visando ao contrôle das rótas comerciais, Pedro Álvares Cabral capturou, em Cochim, uma nau de propriedade muçulmana que estava a caminho de Meca. Ele havia sido informado de que a nau estaria repleta de especiarias e que sua interceptação demonstraria fôrça e beneficiaria o comércio. Os portugueses estavam mais instrumentalizados e possuíam alta tecnologia naval. Assim, atacaram e capturaram a nau, que não carregava especiarias, mas sim elefantes!

Para outras histórias semelhantes a essa, confira: FONSECA, Luís Adão da. De Vasco a Cabral: oriente e ocidente nas navegações oceânicas. Bauru: êdúsqui; Brasília: Embaixada de Portugal, Instituto Camões, 2001. (Coleção História).

A expansão do cristianismo na África e na Ásia

O sucesso de Portugal e da Espanha nas viagens marítimas e na exploração dos territórios coloniais motivou o papa a atribuir aos reis ibéricos e às autoridades eclesiásticas dos dois países a responsabilidade pela expansão do catolicismo nos novos territórios. Para isso, os reis deveriam construir igrejas e mosteiros e enviar sacerdotes para evangelizar os habitantes dessas regiões.

Na África, o estabelecimento de igrejas com bispos, sacerdotes e missionários religiosos acompanhou a criação de feitorias nas áreas costeiras pelos portugueses. Em certos casos, a chegada dos religiosos ocorreu antes mesmo da ocupação do território. A dioceseglossário de Safim, no norte da África, por exemplo, foi fundada pelo papa em 1487, a pedido do rei de Portugal. As vilas de Azamor, Medina, Tite e Mazagão (no atual Marrocos), que essa diocese abrangia, só foram ocupadas pelas fôrças portuguesas depois de 1508.

Outras dioceses foram criadas depois das feitorias e em locais de ocupação portuguesa, como a de Funchal, a de Angra, a de Cabo Verde, a de São Tomé e a de Angola. As dioceses tinham muita importância para a expansão da fé católica, pois centralizavam as ações de conversão e evangelização dos povos do entorno.

Fotografia. Pessoas reunidas dentro de uma igreja. A maioria é negra. O padre veste uma batina branca e usa óculos. Ao fundo, pintura de Jesus na mesa com os apóstolos.
Celebração católica em quimcháça, República Democrática do Congo. Foto de 2019. O catolicismo ainda está presente em diversas partes da África.
Gravura em preto e branco. À esquerda, um rei usando manto e coroa descendo do trono. Ele é negro e está em pé, com os braços esticados na direção de monges. Os monges estão enfileirados. São brancos e usam túnicas com capuz.
Rei do Congo, Dom Garcia segundo, recebendo uma delegação de monges capuchinhos, gravura de Giovanni Antonio Cavazzi, 1690. Biblioteca Pública de bóston, Estados Unidos. A partir de 1489, os reis do Congo foram batizados como cristãos e adotaram nomes portugueses.

Respostas e comentários

Ampliando: interesses econômicos e religiosos

“Além das justificativas econômicas para a escravização de africanos, os portugueses encontraram respaldo na Igreja Católica, que via esse fenômeno como mais uma fórma de lutar contra os infiéis e ampliar seu rebanho. Em 1454, o Papa Nicolau quinto publicou uma bula papal na qual dizia que:

reticências Guinéus e negros tomados pela fôrça, outros legitimamente adquiridos por contrato de compra foram trazidos ao reino, onde em grande número se converteram à fé católica, o que esperamos progrida até a conversão do povo ou ao menos de muito mais. reticências Por isso nós, tudo pensando com devida ponderação, por outras cartas nossas concedemos ao dito rei Afonso [de Portugal] a plena e livre faculdade, entre outras, de invadir, conquistar, subjugar quaisquer sarracenos e pagãos, inimigos de Cristo, suas terras e bens, a todos reduzir à servidão e tudo aplicar em utilidade própria e dos seus descendentes. reticências

Ainda que os portugueses e os demais europeus não tenham empreendido nenhuma invasão à África, a permissão concedida pela Igreja livrava-os de qualquer comprometimento moral com o fato de comercializarem africanos escravizados. Nesse momento da história, interesses religiosos e econômicos pareciam ter o mesmo fim.”

SANTOS, Ynaê Lopes dos. História da África e do Brasil afrodescendente. Rio de Janeiro: Pallas, 2017. página 129.

Resistência à conversão

Em muitos lugares, os missionários encontravam intensa resistência dos povos africanos e asiáticos a sua tarefa de convertê-los ao catolicismo. Na África, eram mantidas diversas crenças antigas e tradicionais. Muitas delas haviam sofrido influência do islamismo.

Na Ásia, eram praticadas três grandes religiões: o islamismo, o hinduísmo e o budismo. Apesar disso, lá também foram fundadas dioceses, para as quais foram enviados religiosos em missões de evangelização. No século dezesseis, havia dioceses em Goa, Malaca, Cochim e Macau, entre outros locais (consulte o mapa da página 67).

Na catequização dos povos da costa africana e asiática, destacaram-se os jesuítas, mas também tiveram papel importante missionários de outras ordens religiosas, como os franciscanos, os dominicanos e os capuchinhos.

Os métodos de conversão utilizados pelos missionários geraram numerosos conflitos com as populações locais. Inicialmente, a conversão era obtida mais pela fôrça do que pelo convencimento. A ação começou com a destruição dos templos hindus de Goa, seguida por leis que proibiram a prática pública das religiões hindu, budista e islâmica. Ao lado das mesquitas e dos templos destruídos foram construídas igrejas católicas.

A conversão também era obtida prendendo aqueles que praticavam os rituais de outras religiões. Uma vez presos, os hindus eram obrigados a alimentar-se da comida dos cristãos e perdiam sua castaglossário nessa tradição religiosa. Sem alternativa, aceitavam ser batizados e se tornavam católicos. As perseguições religiosas em Goa provocaram um êxodo tão grande de hindus para o interior do continente, que funcionários e religiosos passaram a adotar uma política mais tolerante com as práticas religiosas locais.

Fotografia. Grande prédio horizontal branco com janelas retangulares no térreo e janelas em arco no andar superior. O telhado é triangular. No centro uma estrutura mais alta, triangular. À direita uma torre. Ao redor do prédio, o gramado e uma cerca baixa.
Catedral de Santa Catarina, construída pelos portugueses em Goa, Índia. Foto de 2019.

Respostas e comentários

Ampliando: os discípulos de Xavier

“Havia apenas alguma preocupação em doutrinar os indivíduos que ficavam sob a autoridade da Coroa de Portugal reticências. reticências Até que uma nova instituição, a Companhia de Jesus, provocou uma mudança profunda no modêlo de propagação do cristianismo, do Brasil ao Japão.

Entre os fundadores da Companhia estava Francisco Xavier (1506-1552), que em 1541 partiu para o Oriente. Desde o início ele entendeu que sua tarefa não se limitava ao contato com as gentes sujeitas à autoridade do rei de Portugal, e cedo avançou para o meio dos gentios [pagãos]. reticências

De fato, os jesuítas se destacaram desde o início não só pela sua militância, mas também pelos métodos utilizados em muitas das suas missões reticências. Quando da sua visita ao Japão, Francisco Xavier percebeu que os japoneses, ao contrário dos europeus, não apreciavam que os religiosos exibissem sinais de pobreza. reticências

A adaptação aos costumes locais podia ter aspectos muito variados. Logo na chegada ao Japão, por exemplo, foi necessário adaptar o Evangelho, e na tradução do episódio das Bodas de Canaã era dito que Jesus transformara a água em saquê, em vez de vinho; os missionários começaram a vestir-se de modo semelhante aos bonzos, os monges budistas; as igrejas eram construídas segundo um modêlo arquitetônico local, parecendo-se mais com um templo budista do que com uma igreja tradicional, como se pode ver hoje em pinturas japonesas da época.”

COSTA, João Paulo Azevedo de Oliveira e. Os discípulos de Xavier. Revista de História da Biblioteca Nacional, número 81, página 28-30, junho 2012.

Entre conflitos e adaptações

Os jesuítas chegaram ao Japão em 1543 e, em meio a conflitos com a população, foram expulsos definitivamente da região em 1638. Entretanto, nesse período, conseguiram converter muitas pessoas ao cristianismo. Enquanto isso, os franciscanos organizaram missões religiosas em Malaca e, no final do século dezesseis, iniciaram obras de evangelização na Indochina, em Agra e no Tibete.

Apesar dos conflitos, houve grande número de conversões. Algumas semelhanças entre manifestações do catolicismo e as de diversas religiões africanas, do hinduísmo e do budismo contribuíram para isso. Por causa da utilização de imagens, do incenso e do rosário, das cerimônias e dos templos coloridos e repletos de ícones, as populações locais fizeram uma releitura do catolicismo com base em elementos que lhes eram familiares em suas práticas religiosas. Em vez de um catolicismo tradicional, como o praticado em Portugal, essa combinação de práticas religiosas resultou em um catolicismo popular.

Fotografia. Cinco homens de costas, usando batinas brancas e azuis ajoelhados em frente a uma imagem religiosa. Sob a imagem há flores. Ao lado da imagem alguns homens e mulheres asiáticos. Um dos homens segura uma Bíblia, e outro segura um círio pascal.
Celebração católica em batãmbângui, Camboja. Foto de 2016.

Conexão

injínga imbândi: rainha de indôngo e Matamba

sílvia Serbin e eduárd jubô. São Paulo: Cereja, 2017. (Série Unesco – Grandes mulheres da história africana).

A história em quadrinhos narra as ações da rainha injínga imbândi para defender os reinos de indôngo e Matamba das investidas colonialistas dos portugueses durante o século dezessete. Guerreira, estrategista e diplomata, a rainha injínga conseguiu resistir à invasão portuguesa aos reinos que atualmente correspondem às regiões de Angola e República Democrática do Congo.


Capa de livro. Fundo amarelo com informações e o título na parte central. No canto inferior direito a ilustração de uma mulher negra, usando colares e um chapéu com penas coloridas.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Qual foi a estrutura criada para expandir o cristianismo na Ásia e na África?
  2. Quais eram os métodos dos missionários para converter a população local? Houve resistência à conversão?

Respostas e comentários

Recapitulando

  1. Para incentivar a expansão do cristianismo nos continentes africano e asiático, os portugueses construíram igrejas, mosteiros e dioceses. Essa estrutura, além de ser fundamental para o funcionamento institucional da Igreja, demarcava a presença católica no cotidiano e no imaginário das populações locais.
  2. Os missionários utilizavam o convencimento e a fôrça para a conversão. O convencimento consistia em adaptar os dogmas católicos à cultura local. O uso da fôrça consistia na destruição de templos e na proibição de manifestações religiosas diferentes do catolicismo. Com essas estratégias, os missionários foram bem-sucedidos. Ainda assim, houve resistência à conversão forçada, e a fuga para longe do alcance dos missionários foi uma das estratégias adotadas pelas populações locais.

Religiosidade popular

A adesão dos jesuítas à religiosidade popular pode ser considerada uma fórma de favorecimento do sincretismo para a adaptação dos dogmas e doutrinas à cultura, incorporando elementos da tradição regional para aumentar a adesão de fiéis. Esse movimento não aconteceu apenas com o catolicismo do período estudado. Pode-se perceber, atualmente, a configuração de festas religiosas como o Círio de Nazaré, que ocorre na cidade de Belém, no Pará, durante o mês de outubro em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré. Nessas celebrações, há mistura de cerimônias religiosas e momentos de festa profana.

Conexão

A história em quadrinhos indicada no boxe pode ser acessada no portal da Unesco. A publicação, que faz parte da série Mulheres na história da África, apresenta a cronologia e a biografia da rainha injínga imbândi, bem como um dossiê pedagógico que informa o contexto africano da época e que pode ser utilizado para orientar o trabalho com os alunos. Trata-se de uma iniciativa para dar visibilidade à história de mulheres. Disponível em: https://oeds.link/l0pdx0. Acesso em: 25 abril 2022.

Enquanto isso…

O reino cristão da Etiópia

A Etiópia foi o primeiro e mais antigo reino africano a adotar o cristianismo como religião oficial do Estado. Desde o século quatro, o reino da Abissínia, depois chamado Etiópia, tornou-se cristão ortodoxo coptaglossário .

No século doze, espalhou-se pela Europa a lenda de um reino cristão no Extremo Oriente, governado por um rei conhecido como Preste João. Segundo a lenda, Preste João teria mais de 500 anos de idade, pois em seu reino havia uma fonte da eterna juventude. No século quinze, um reino cristão foi descoberto pelos portugueses na região da Etiópia, na África Oriental.

Ao entrar em contato com esse Estado cristão na África, os lusitanos acreditaram ter encontrado a mítica terra de Preste João, o soberano que os ajudaria a combater os muçulmanos que controlavam as rótas comerciais no Oceano Índico; porém, foram os portugueses que tiveram de enviar tropas para auxiliar o reino africano no combate às investidas turcas na região do Mar Vermelho.

Tanto o papa quanto Alfonso de Aragão enviaram missões à Etiópia. Uma, o primeiro, em 1451. E duas, o segundo, em 1452 e 1453. Não se sabe se todas chegaram ao destino.

De qualquer fórma, ao iniciar-se a segunda metade do século quinze, algumas conexões com a Europa haviam rompido o isolamento dos etíopes, e a Abissínia, como o provam o mapa conhecido como egíptus novêlo (cêrca de 1454) e o do frei Mauro (1460), deixara de ser uma terra desconhecida para os europeus. Embora continuasse a ser o semilendário país do Preste João.

Era cristã, mas copta. Irredutivelmente copta, e copta à sua maneira. Tanto assim que não deve, ao que tudo indica, ter participado oficialmente do Concílio de Florença, que se reuniu de 1439 a 1441, para buscar reduzir as diferenças entre Roma e Constantinopla e assegurar a unidade cristã diante da renascente ameaça maometana. Não se exclui, porém, que algum observador abissínio possa ter assistido aos trabalhos do Concílio.

Em 1452, os turcos tomam Constantinopla. E, no início do século dezesseis, assenhoreiam-se do Egito e das costas da Arábia e ensaiam o avanço sobre o Índico. Ali encontram, porém, a buscar o comando das águas e firmes em vários pontos da costa africana, das ilhas do Índico e do subcontinente indiano, os portugueses, que a eles se haviam antecipado.


Respostas e comentários

Ampliando: expansão portuguesa na Etiópia

“De início, o grande projeto oficial que sustentou a expansão portuguesa foi a conquista de Marrocos e temos boas razões para acreditar que os descobrimentos marítimos foram, no seu comêço, concebidos como uma manobra envolvente e como um meio de entrar em contato com o Prestes João, rei da Etiópia, e estabelecer uma aliança com ele. reticências

A partir deste projeto, desenvolveu-se gradualmente outro semelhante, mas de maior amplitude, durante a segunda metade do século quinze: a conquista de todo o norte da África e do sultanato mameluco, incluindo, é claro, Jerusalém. Para levar a cabo este empreendimento, mais ainda do que para o projeto inicial, era vital uma aliança com a Etiópia. reticências

Dom João segundo reticências estava tão interessado em dominar os caminhos para os mercados da Índia como os florentinos, mas preferia a Róta do Cabo. Podemos inferir isto do fato de em 1486 ter enviado uma embaixada à Etiópia e outra a Calecut, Ormuz e Sofala, o que demonstra claramente que o seu plano era bivalente: por um lado, fazer uma aliança com o Prestes João para a conquista do norte da África; por outro lado, participar no comércio do Oceano Índico.”

THOMAZ, Luís Filipe F. R. De Ceuta a Timor. segunda edição Lisboa: Difel, 1994. página 190-191.

Fotografia. Detalhe de monumento de pedra composto por estátuas de homens aglomerados. Eles têm o cabelo liso na altura das orelhas. Atrás deles uma bandeira com uma cruz da Ordem de Cristo.
Detalhe do monumento Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, Portugal. Foto de 2019. O detalhe mostra, ao centro, a escultura de Pero da Covilhã.

Para os portugueses, que aspiravam ao domínio do Índico, a Etiópia desenhava-se como parceiro ideal. Desde muito, Preste João e seus exércitos frequentavam a imaginação lusitana. Tanto que Dom João segundo, em 1487, mandara Pero da Covilhã em busca das terras do Preste, para alcançar uma aliança.

Pero da Covilhã só chegou à Etiópia após seis anos de longa e intricada viagem. De lá nunca mais sairia, para dizer a seu rei o que fizera e vira. Mas as notícias que deu de Portugal à rainha Eleni influenciaram-na profundamente e a convenceram de que os portugueses eram os aliados naturais da Etiópia, pois, se ocupassem as costas africanas do Mar Vermelho e do Golfo de Áden, cortariam o acesso dos islamitas do Adal a seus correligionários da outra costa e os obrigariam a combater em duas frentes.

Essa convicção ter-se-ia reforçado com o bombardeio de mogadícho [Mogadíscio] por Vasco da Gama em 1499, com a ocupação da ilha de Socotorá em 1507, com a fugaz tomada de Zeila em 1517, e com o saque de Berbera em 1518. Mas a vontade da rainha regente já estava conquistada antes dos dois últimos feitos, pois enviou, em 1509, uma missão a Dom Manuel primeiro de Portugal, chefiada por um certo armênio, de nome Mateus.

SILVA, Alberto da Costa e. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. segunda edição Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. página 601.


Pintura. São Jorge sobre um cavalo. Ele tem olhos escuros e a cabeça arredondada com uma auréola atrás. Está cravando uma lança em um dragão deitado no chão, embaixo do cavalo. Ao fundo, mulher observa.
São Jorge resgatando uma jovem do dragão, pintura em pergaminho copta, século dezessete. Biblioteca Britânica, Londres, Reino Unido.

Responda em seu caderno.

Questões

  1. Como o ideal cruzadista e a crença em Preste João estavam presentes na expansão marítima portuguesa?
  2. Quais eram os interesses dos portugueses e dos etíopes ao fazer uma aliança?
  3. Que relação pode ser estabelecida entre o avanço dos turcos otomanos e a criação de uma aliança entre etíopes e portugueses?

Respostas e comentários

Enquanto isso...

  1. Os portugueses, desejando obter o contrôle das rótas comerciais marítimas entre Europa, África e Ásia, entraram em conflito com os muçulmanos que controlavam o Oceano Índico. A crença em Preste João, que seria, segundo a lenda, um aliado cristão no Oriente, encorajou os portugueses a partir rumo às Índias e a enfrentar os muçulmanos.
  2. Os portugueses desejavam construir alianças para controlar as rótas comerciais rumo ao Oriente; os etíopes pretendiam combater os turcos que se expandiam pela região do Mar Vermelho.
  3. De acôrdo com o texto, os turcos passaram a agir para controlar a região do Índico no início do século dezesseis. A aliança entre portugueses e etíopes era uma fórma de dificultar o avanço turco, pois evitaria a aliança entre fôrças islâmicas nas costas africanas do Mar Vermelho e aquelas localizadas no Golfo de Áden.

Bê êne cê cê

Por comparar eventos ocorridos simultaneamente em espaços diferentes, o conteúdo da seção contribui para o desenvolvimento da Competência específica de Ciências Humanas nº 5.

Atividades

Responda em seu caderno.

Aprofundando

  1. Sobre a expansão portuguesa na África e na Ásia, responda às questões.
    1. Antes da viagem de Vasco da Gama às Índias, quais eram os produtos mais comercializados pelos portugueses na África?
    2. Como os portugueses garantiam a posse do território que eles conquistavam e asseguravam as atividades comerciais realizadas em suas possessões?
    3. Por que os portugueses conseguiam construir feitorias na zona litorânea, mas não conseguiam penetrar no interior da África?
  2. Leia um trecho do diário de viagem do tripulante Álvaro Velho, que fez parte da expedição de Vasco da Gama, o primeiro navegador europeu a chegar a Calicute, na Índia.

Partida: 8.7.1497

Na era de 1497, mandou o rei Dom Manuel reticências a descobrir quatro navios, os quais iam em busca de especiarias, dos quais ia por navio o capitão-mor Vasco da Gama. reticências

21.5.1498

reticências O capitão-mor mandou um degredado a Calicute. E reticências levaram-no onde estavam dois mouros reticências. Perguntaram-lhe o que vínhamos buscar tão longe e ele lhe respondeu: ‘vimos buscar cristãos e especiarias’. reticências

[Os] homens [têm] barbas grandes e reticências bigodes e trazem as orelhas furadas e nos buracos delas trazem muito ouro e andam nus da cinta para cima, e para baixo trazem panos de algodão muito delgados reticências.

VELHO, Álvaro. Roteiro da primeira viagem de Vasco da Gama à Índia. Porto: Faculdade de Letras do Porto, 1999. página 29-119. (Coleção Gâmica dois).

  1. Quais eram os objetivos da expedição a Calicute? As informações do relato confirmam ou contradizem o que foi estudado neste capítulo? Justifique.
  2. Como os indianos foram descritos? Por que o diário apresenta essa informação?

3. Leia o texto sobre a prática da escravidão no continente africano. Depois, responda às questões.

Os africanos não escravizavam africanos, nem se reconheciam então como africanos. Eles se viam como membros de uma aldeia, de um conjunto de aldeias, de um reino e de um grupo que falava a mesma língua, tinha os mesmos costumes e adorava os mesmos deuses. Eram reticências mandingas, fulas, bijagós, axantes, daomeanos, vilis, iacas, caçanjes, lundas, niamuézis, macuas, xonas – e escravizavam os inimigos e os estranhos.

SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2008. página 88-89.

  1. De acôrdo com o texto, os povos que habitavam a África não se reconheciam como africanos. Como eles se reconheciam?
  2. No continente africano, a quem a escravidão podia ser imposta?

4. A imagem a seguir representa um grupo de navegantes portugueses cumprimentando o rei do Congo.

Gravura em preto e branco. À direita, um rei sentado no trono. Ao seu redor, pessoas em pé. Uma delas veste uma batina e segura um crucifixo. Outras, um pouco abaixo, carregam arcos e flechas. Acima do trono dois grandes tecidos presos lateralmente. À esquerda, em frente ao trono, homens enfileirados. Eles usam armaduras, escudos e lanças. Perto deles, homens deitados no chão com os braços esticados na direção do trono. Ao fundo, grupos de pessoas e montanhas.
Rei do Congo recebendo navegantes portugueses, gravura do século dezessete.

Respostas e comentários

Atividades

    1. Os produtos mais comercializados pelos portugueses na África eram ouro, africanos escravizados, sal, pimenta-malagueta, ferro, tecidos e marfim.
    2. Os portugueses construíam as feitorias, pequenas fortalezas com a função de entrepostos comerciais.
    3. Os portugueses não conseguiam penetrar no interior da África porque encontravam forte resistência entre alguns povos nativos. Além disso, eles estabeleceram acordos com chefes de aldeias ou soberanos dos grandes reinos, que se encarregavam de apresar outros africanos para vender como escravizados aos portugueses. Dessa fórma, as incursões pelo interior do continente não eram necessárias.
    1. Segundo o trecho, os objetivos eram comprar especiarias e procurar cristãos. O relato confirma as informações do capítulo sobre os motivos econômicos e religiosos das navegações europeias.
    2. Os indianos foram descritos tendo barbas compridas, bigodes e orelhas furadas, acessórios de ouro e vestidos apenas da cintura para baixo com peças curtas e leves. O relato descreve detalhes da cultura dos povos encontrados e as possíveis riquezas a serem exploradas, como o ouro.
    1. A identidade dos povos que habitavam a África estava mais ligada ao local de nascimento, como a aldeia, a cidade e o reino, e aos traços culturais comuns, como a língua e a religião, do que ao pertencimento ao continente.
    2. A escravidão, no continente africano, podia ser imposta ao estranho e ao inimigo capturado em guerra, à pessoa que não conseguia saldar suas dívidas ou ao apenado, que deixava de ser reconhecido como membro do grupo.
  1. A imagem sugere que os contatos entre congoleses e portugueses já eram frequentes ou estavam acontecendo pela primeira vez? Justifique.
  2. Que impressão sobre as relações entre portugueses e congoleses a gravura transmite? Indique os elementos da imagem que o levaram a essa conclusão.
  3. Com base na gravura, é possível definir o Congo como um Estado? Por quê?

Aluno cidadão

  1. No Brasil, a escravidão foi formalmente abolida no século dezenove. Entretanto, ainda existem regimes ilegais de trabalho classificados como trabalhos análogos à escravidão. Você sabe o que caracteriza esse regime de trabalho? Junte-se a três colegas e pesquisem quatro notícias sobre casos de pessoas mantidas em situação de trabalho análogo à escravidão ocorridos no Brasil. Analisem o conjunto das notícias e respondam às questões.
    1. Qual é o perfil das pessoas submetidas ao trabalho análogo à escravidão?
    2. Em que tipos de trabalho essa situação é mais recorrente?
    3. Quem são os responsáveis pela manutenção desse tipo de exploração do trabalho?
    4. Que fatores dificultam a fuga dos trabalhadores em situação análoga à escravidão?
    5. Em que condições vivem os trabalhadores submetidos ao trabalho análogo à escravidão?
      • Com base na análise, debatam que medidas podem ser tomadas para combater o trabalho análogo à escravidão no Brasil. Ao final, apresentem suas sugestões para o restante da turma.

Conversando com língua portuguesa e geografia

6. Leia um canto do poema épico português Os lusíadas, de Luís de Camões (1524-1580). O canto faz referência às monções, um fenômeno climático que acontece na região do Oceano Índico em certas épocas do ano.

Canto 84

Assim dizendo, os ventos que lutavam

Como touros indómitosglossário bramando,

Mais e mais a tormenta acrescentavam

Pela miúda enxárciaglossário assoviando.

Relâmpadosglossário medonhos não cessavam,

Ferosglossário trovões, que vêm representando

Cair o céu dos eixos sobre a terra,

Consigo os elementos terem guerra.

CAMÕES, Luís de. Os lusíadas. Canto 84. Lisboa, 1572.

  1. De que maneira esse fenômeno natural podia influenciar as viagens marítimas comerciais no Oriente?
  2. Atualmente, fenômenos climáticos extremos têm ocorrido em todo o mundo em consequência de ações antrópicas. Pesquise imagens desses fenômenos no Brasil e crie um poema sobre o tema. Utilize figuras de linguagem para expressar sentimentos e representar os temas abordados.

Versão adaptada acessível

Na pesquisa solicitada no item b, você pode pesquisar recursos de diversos formatos, incluindo entrevistas, textos e notícias sobre esses fenômenos e, com base neles, criar um poema sobre o tema.

Você é o autor

  1. Imagine que você é um tripulante de uma expedição portuguesa a caminho da Índia no século quinze ou dezesseis e produza o relato de sua viagem. Para isso, siga as etapas.
    1. Com base nas informações textuais do capítulo e no mapa da página 67, escolha alguns lugares para sua expedição realizar paradas estratégicas de descanso e reabastecimento.
    2. Descreva cada ponto de parada.
    3. Relate as dificuldades enfrentadas pela tripulação em relação à navegação, à alimentação e a eventuais doenças.
    4. Não se esqueça de compor um cabeçalho, informando dia e local.

Respostas e comentários
    1. A imagem sugere que o contato não era recente porque parece ter sido preparada uma recepção aos europeus, o que indica conhecimento anterior desses.
    2. A gravura transmite a impressão de haver relações cordiais e respeitosas entre europeus e africanos: os portugueses parecem reconhecer a autoridade real congolesa, e esta os recebe com respeito.
    3. Sim, porque a gravura mostra a existência de um poder centralizado na figura do rei. Além disso, a imagem mostra indivíduos com funções diferentes, como monarca, exército (guerreiros) e autoridades religiosas, o que sugere a existência de um poder político institucionalizado e uma sociedade hierarquizada, características do Estado.
  1. O termo análogo indica um regime de trabalho similar ao do trabalho escravo que existia no Brasil até a promulgação da Lei Áurea, em 1888, que tornou essa prática ilegal. O artigo 149 do Código Penal Brasileiro descreve esse regime de trabalho: “Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto”. O Ministério do Trabalho e Previdência divulga semestralmente uma lista das empresas autuadas em razão dessa prática criminosa. De acôrdo com os dados do Cadastro de Empregadores que tenham submetido trabalhadores a condições análogas à de escravo, em 30 de maio de 2022 havia 89 empregadores cadastrados (disponível em: https://oeds.link/Ans3RR; acesso em: 2 agosto 2022). Uma fórma de exercitar a cidadania é consultar essa lista e se informar a respeito das empresas denunciadas, compartilhar informações, denunciar e boicotar as que usam esse tipo de trabalho.

Ao pedir que os alunos dividam o problema em partes, reconheçam padrões e apresentem soluções acerca do trabalho análogo ao escravo, a atividade desenvolve o pensamento computacional.

    1. Os regimes de ventos e correntes impunham limitações às viagens porque as embarcações dependiam do direcionamento do vento para navegar. Além disso, os ventos intensos tornam o mar perigoso e a navegação arriscada. Com isso, o fenômeno podia atrasar ou desviar as rótas dos navegadores.
    2. A atividade visa promover a análise do impacto desses fenômenos naturais sobre os seres humanos e sensibiliza os alunos para a necessidade de enfrentamento das mudanças climáticas associadas às atividades econômicas humanas.

Interdisciplinaridade

A atividade está relacionada ao tema contemporâneo transversal Educação ambiental e contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis gê ê um três e ê éfe zero sete gê ê zero seis de geografia; e ê éfe zero sete éle pê um zero, ê éfe seis sete éle pê três oito e ê éfe seis sete éle pê três um de língua portuguesa.

7. Auxilie os alunos na estruturação do relato para que componham introdução, desenvolvimento e conclusão. Para a escrita, é importante que pesquisem os desafios das navegações e as características (geográficas, culturais, sociais, étnicas etcétera) dos locais que percorrerão no roteiro à época da existência do Império Português. Observe se, na descrição da viagem, os alunos mobilizam as informações estudadas no capítulo.

Glossário

Noz-de-cola
: semente de planta do gênero Cola utilizada como estimulante e revigorante.
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Ráfia
: fibra extraída de uma palmeira nativa da África tropical.
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Zimbo
: concha utilizada como moeda de troca.
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Diocese
: território de administração religiosa de um bispo.
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Casta
: na religião hindu, é um grupo social hereditário que ocupa na sociedade um papel previamente definido, com funções e ofícios próprios.
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Copta
: referente à Igreja Ortodoxa do Egito, que possui um patriarca próprio.
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Indómito ou indômito
: indomado, não amansado.
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Enxárcia
: conjunto de cabos que sustenta o mastro de uma embarcação.
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Relâmpado
: relâmpago.
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Fero
: que tem ferocidade, feroz.
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