UNIDADE 3  A construção do Império Português na América

Fotografia. Vista aérea de uma plantação. São imensos quadrantes verdes, separados por pequenas estradas de terra.
Vista aérea de cultivo de cana-de-açúcar em São José do Rio Claro, Mato Grosso. Foto de 2021. A expansão da monocultura criou os chamados “desertos verdes”, áreas onde há pouca biodiversidade, o que prejudica o equilíbrio da natureza.

O que estudaremos na unidade

Por que os portugueses escolheram a produção de açúcar como atividade econômica durante a colonização das terras do atual Brasil? Além dessa, que outras atividades econômicas foram desenvolvidas? Que tipo de mão de obra era empregada nessas atividades? E por que eles decidiram explorar o interior do continente americano para além da Linha do Tratado de Tordesilhas? Ao final desta unidade você compreenderá que a pecuária, a apreensão de indígenas para escravização e a atuação de ordens religiosas na catequização desses nativos tiveram grande importância para a ocupação e a expansão dos domínios territoriais portugueses na América. Além disso, reconhecerá vários aspectos culturais da atual população brasileira que foram construídos a partir da colonização.


Respostas e comentários

Abertura da unidade

Esta unidade trata da construção do Império Português na América. São abordadas temáticas como a ocupação e a exploração das terras pelos portugueses para a produção de açúcar, a utilização da mão de obra escravizada e a formação de uma sociedade afro-brasileira, a ação das ordens religiosas, os deslocamentos populacionais e a importância do desenvolvimento da atividade pecuária no processo de expansão territorial.

O trabalho com as fotografias da abertura favorece a compreensão do legado desse período. Espera-se que os alunos relacionem a estrutura produtiva do latifúndio monocultor de origem colonial, o patrimônio cultural dos antigos tropeiros e as tradições culturais afro-brasileiras com o período histórico que será estudado na unidade. A partir da observação dessas imagens, pode-se introduzir a discussão a respeito das razões de o Brasil possuir uma estrutura socioeconômica tão vinculada ao seu passado colonial.

Fotografia. Grupo de mulheres negras de camiseta branca e saia florida, dançando. À esquerda, perto delas, homens negros de camiseta branca e chapéu de palha, sentados, tocando instrumentos musicais.
Apresentação do grupo Samba de Roda Filhos da Terra, em Terra Nova, Bahia. Foto de 2019. Muitas manifestações culturais brasileiras têm elementos de origem africana.
Fotografia. Homens conduzindo bois em uma estrada de terra. Eles são vistos de costas, usam camisas de mangas compridas e chapéus. Um deles está montado a cavalo. Os bois são brancos e puxam carros de boi.
Carreiros transportando madeira, em Mossâmedes, Goiás. Foto de 2018. A atividade dos tropeiros foi fundamental para a expansão das fronteiras comerciais e territoriais do Brasil colônia, a partir do século dezessete.

Sumário da unidade

Capítulo 7

Nordeste açucareiro, 120

Capítulo 8

Sociedade escravista e cultura afro-brasileira, 136

Capítulo 9

Expansão das fronteiras da América portuguesa, 149


Respostas e comentários

Unidade 3: justificativas

Na primeira página de cada capítulo desta unidade, estão listados os objetivos previstos para serem trabalhados com os alunos.

Os objetivos do capítulo 7 se justificam pela importância da colonização portuguesa no Brasil e do legado dela na perpetuação do latifúndio exportador e da dependência econômica nacional em relação aos países desenvolvidos. Além disso, se justificam por estimularem a análise das relações sociais que se estabeleceram no Nordeste açucareiro, cujos efeitos ainda podem ser percebidos na atualidade.

A pertinência dos objetivos do capítulo 8 se deve à relevância do estudo do tráfico humano pelo Oceano Atlântico, com destaque para as concepções morais e religiosas que foram usadas para justificá-lo e os seus efeitos sobre a desigualdade racial no Brasil. Além disso, a pertinência se justifica pela valorização da história e da cultura afro-brasileira.

Os objetivos do capítulo 9 se justificam por favorecer a compreensão do processo de formação do território brasileiro atual, considerando as atividades que foram realizadas por africanos, indígenas, europeus e mestiços. O capítulo também destaca os conflitos entre as elites, a coroa e os jesuítas, evidenciando os interesses de diferentes grupos ao longo da colonização lusa na América.

CAPÍTULO 7  Nordeste açucareiro

Fotografia. Mulher cortando cana. Ela usa botas, camisa de manga longa e um boné na cabeça. Uma das mãos está protegida com uma luva. Com a outra mão ela segura um facão. Ao redor dela, cana cortada.
Trabalhadora rural vestida com roupas grossas para se proteger durante a colheita da cana-de-açúcar em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro. Foto de 2019.

A história da cana-de-açúcar confunde-se com a do próprio Brasil. Fundamental para a colonização do nosso território pelos portugueses, ela ainda hoje desempenha um importante papel em nossa economia reticências.

Hoje, o setor sucroalcooleiro atravessa uma nova fase. reticências De cada dez toneladas colhidas, sete são extraídas por máquinas. A diminuição do número de cortadores também foi acompanhada por uma melhora das condições de trabalho daqueles que ainda se dedicam à colheita manual.

Mas isso não quer dizer que a exploração nos canaviais – incluindo casos de trabalho escravo – seja página virada na história do Brasil. Ainda existem milhares de cortadores manuais de cana, muitos submetidos a sérias violações trabalhistas. Há registros de operadores de máquinas colhedoras que trabalharam em turnos de até 27 horas seguidas. reticências

AS CONDIÇÕES de trabalho no setor sucroalcooleiro. São Paulo: Repórter Brasil, 2014. Disponível em: https://oeds.link/yF7N38. Acesso em: 22 fevereiro 2022.

O açúcar foi o principal produto do Brasil colonial. Em tôrno da produção açucareira, organizou-se uma grande rede de relações comerciais entre América, Europa e África, que deixou duradouras marcas na economia, na estrutura fundiária, na cultura e na sociedade brasileiras.

  • Você já ouviu falar sobre o lugar de origem da cana-de-açúcar e sobre o período em que essa planta começou a ser cultivada no Brasil?
  • Com base na leitura do texto, é possível afirmar que as relações de trabalho nos canaviais do passado eram semelhantes às que ocorrem no presente? Explique.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

O capítulo contempla parcialmente as habilidades ê éfe zero sete agá ih zero dois (ao tratar das razões e do processo da montagem do sistema colonial português na América), ê éfe zero sete agá ih um um e ê éfe zero sete agá ih um três (por analisar a formação histórica e geográfica do território da América portuguesa no período em que a produção do açúcar era a principal atividade econômica e ao abordar as ações e lógicas mercantis dos europeus, principalmente portugueses e holandeses, que visavam ao domínio do litoral do mundo atlântico). O trabalho para o desenvolvimento dessas habilidades se completa ao longo de outros capítulos, conforme indicações no quadro de habilidades do ano.

Objetivos do capítulo

  • Compreender as razões que levaram a coroa portuguesa a incentivar a produção açucareira no Nordeste brasileiro.
  • Reconhecer a importância do trabalho dos escravizados africanos para o funcionamento do engenho colonial.
  • Identificar a presença de trabalhadores livres no engenho colonial.
  • Reconhecer a existência de outros produtos, além do açúcar, na economia colonial.
  • Avaliar os efeitos da União Ibérica para Portugal e para a América portuguesa e a singularidade da presença holandesa no Nordeste.

Abertura do capítulo

Esta abertura tem o objetivo de introduzir o tema da colonização portuguesa nas terras do Brasil, especialmente no que se refere ao cultivo de cana-de-açúcar e às heranças culturais e econômicas da monocultura açucareira no Brasil atual.

É interessante aproveitar o momento para destacar os impactos ambientais da expansão marítima europeia, considerando a introdução de espécies nativas de uma região em outra, como é o caso da cana-de-açúcar. Essa planta é originária da Ásia e seu cultivo foi introduzido pelos portugueses nas terras do Brasil.

Com base na leitura do texto, é possível afirmar que, embora as condições de trabalho nos canaviais tenham melhorado muito atualmente comparado ao período colonial, as violações aos direitos trabalhistas e os casos de trabalho análogo à escravidão ainda persistem, revelando que as marcas do passado colonial ainda não foram superadas no Brasil.

Açúcar: o melhor investimento

Na década de 1520, Portugal passava por dificuldades econômicas. Os lucros do comércio de especiarias com o Oriente tinham diminuído consideravelmente em razão da concorrência de outros países. Além disso, os domínios portugueses na América eram constantemente ameaçados por invasões estrangeiras e, até aquele momento, os portugueses ainda não haviam encontrado ouro ou pedras preciosas neles.

O rei de Portugal precisava de uma estratégia para proteger o litoral da colônia e iniciar a exploração de um artigo lucrativo para a coroa. Diante dessa situação, ele optou pelo cultivo de cana-de-açúcar voltado à exportação, uma vez que os portugueses já produziam açúcar nos arquipélagos da Madeira, dos Açores e de Cabo Verde, e o produto era muito valorizado no comércio internacional.

Na América portuguesa, as primeiras mudas de cana foram plantadas na capitania de São Vicente (atual estado de São Paulo), mas a produção açucareira alcançou maior desenvolvimento no litoral do Nordeste, principalmente nas capitanias de Pernambuco e da Bahia.

A região costeira dessas duas capitanias apresentava solo fértil e clima quente e úmido, condições ideais para o cultivo de cana. A coroa não teve dificuldade em encontrar investidores estrangeiros para financiar a construção de engenhos. Italianos e flamengosglossário assumiram os maiores investimentos iniciais, sendo mais tarde superados pelos holandeses. Em alguns casos, colonos portugueses custearam as primeiras despesas com a montagem dos engenhos.

Fotografia. Ao fundo, ruínas de um engenho. Estrutura com grandes pilares de tijolos. O telhado é triangular e sustentado por ripas. Atrás, muitas árvores. À frente, pedras escuras no gramado.
Ruínas do Engenho de São Jorge dos Erasmos, em Santos, São Paulo. Foto de 2019. Construído em 1534, o engenho é a mais antiga evidência física preservada da colonização portuguesa em território brasileiro e, por isso, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (ifãn), em 1974.

Saiba mais

Artigo de luxo

O açúcar não era utilizado apenas como adoçante. Servia de tempero (a pitadinha que ainda hoje se adiciona a vários tipos de comida), de medicamento (indicado pelos árabes e usado na homeopatia atual), de conservante e, ainda, de enfeite da mesa de refeição (os europeus misturavam o açúcar com outras substâncias para formar uma massa, que era moldada e transformada em criativos objetos de arte). O açúcar foi durante muitos anos símbolo de prestígio e riqueza. Adoçar a bebida de um convidado, expor objetos de arte feitos de açúcar ou oferecer bolinhas de açúcar na sobremesa eram demonstrações de requinte.


Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao contextualizar a situação econômica de Portugal e sua relação com a montagem do sistema colonial na América com base na produção de açúcar para exportação e na exploração de mão de obra escravizada, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero dois.

Ampliando: o açúcar como solução

“Coube a Portugal encontrar outra fórmula para a ocupação econômica de suas colônias americanas que não fosse a simples extração de recursos naturais. Fazia-se imperiosa a organização de exploração agrícola rentável que, ao mesmo tempo, interessasse os investidores metropolitanos e propiciasse recursos para a manutenção de defesa desses domínios. reticências.

O açúcar, praticamente uma especiaria, alcançava então altos preços e dispunha de mercado em expansão. De produto medicinal na Idade Média, o açúcar passava lentamente a gênero de primeira necessidade. Durante largo período a Europa fôra abastecida pela produção das plantações do Mediterrâneo. Essa ‘indústria’ começou cêrca de 700 Depois de Cristo, quando os árabes introduziram o plantio de cana na Sicília e na Espanha moura. A produção açucareira florescera até sucumbir durante o século dezesseis em virtude da competição das novas plantações americanas.”

FERLINI, Vera Lúcia Amaral. A civilização do açúcar. São Paulo: Brasiliense, 1998. página 15-16. (Coleção Tudo é história).

Uma nova dinâmica de comércio

Discuta com os alunos duas questões centrais: a ocupação territorial como fórma de defesa e proteção do território e a inserção da colônia na economia atlântica. Explique que uma nova dinâmica do comércio e das relações entre as potências europeias estava se afirmando e o Oceano Atlântico tornava-se o espaço de disputas e de circulação de mercadorias.

O sucesso da produção açucareira

Ao implantar na América o sistema de capitanias hereditárias, em 1534, o govêrno português autorizou os donatários a conceder terras (sesmarias) aos colonos dispostos a investir no cultivo de cana-de-açúcar.

Após a criação do govêrno-geral, em 1548, a concessão de terras ficou a cargo do governador-geral. A produção de açúcar tornou-se a principal atividade econômica da América portuguesa, que, ao final do século dezesseis, era a maior fornecedora desse produto para o Ocidente. A facilidade de crédito e os incentivos da coroa foram essenciais para o sucesso do empreendimento.

Leia o que Ambrósio Fernandes Brandão, proprietário de engenho no Brasil no século dezessete, escreveu sobre a produção açucareira.

O açúcar é a principal coisa com que todo este Brasil se enobrece e faz rico. Os capitães-mores, cada um na capitania de sua jurisdição, repartem as terras com os moradores, dando a cada um deles uma extensão segundo suas fôrças e possibilidades. As pessoas a quem se dão semelhantes terras, tendo cabedalglossário para fabricarem engenhos de fazer açúcares, os fabricam. reticências

No Brasil, em três capitanias que são a de Pernambuco, a de Itamaracá e a de Paraíba reticências, lavram e tiram os portugueses das entranhas delas, à custa de seu trabalho, tanto açúcar que basta para carregar, todos os anos, cento e trinta, cento e quarenta naus. Sua Majestade não gasta de sua Fazendaglossário , para a fabricação e sustentação de tudo isto, um só vintém.

BRANDÃO, Ambrósio Fernandes. Diálogos das grandezas do Brasil [1618]. In: COLETÂNEA de documentos históricos para o 1º grau: 5ª a 8ª séries. São Paulo: ésse ê/sêmp, 1980. página 18.


Responda em seu caderno.

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  1. Segundo o autor do texto, de que modo o cultivo de cana-de-açúcar era incentivado?
  2. Por que o rei de Portugal não gastava “um só vintém” com o empreendimento açucareiro?
Gravura em preto e branco. No centro um rio com lotes de terra e trabalhadores nas suas margens. Ao fundo o rio passa entre as montanhas. Os trabalhadores estão em atividades diversas, alguns carregam grandes jarros, outros enchem os jarros. Alguns movimentam uma grande roda presa em uma estrutura vertical de um engenho. Ao fundo à esquerda, trabalhadores no cultivo da terra. No alto, a gravura traz a inscrição Pernambuco.
Gravura holandesa do Livro de viagem ao reino brasileiro representando o cultivo de cana-de-açúcar e de mandioca em um engenho em Pernambuco, 1624. Biblioteca dión cárter bráun, próvidens, Estados Unidos.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Quais foram as razões pelas quais a coroa portuguesa investiu na produção de açúcar na América?
  2. Identifique as capitanias nas quais o cultivo da cana-de-açúcar prosperou. Por que essas capitanias tiveram sucesso?
  3. De que fórma ocorreu a implantação do empreendimento açucareiro na América portuguesa?

Respostas e comentários

Explore

  1. O cultivo da cana-de-açúcar era incentivado por meio da concessão de terras (sesmarias) aos colonos, com a condição de estes explorarem a terra ou de a arrendarem a indivíduos com recursos para assumir o empreendimento.
  2. Porque os elevados custos de construção e implementação dos engenhos foram transferidos para os colonos.

Recapitulando

  1. As razões pelas quais a coroa investiu na produção do açúcar foram: a crise econômica pela qual passava em razão da diminuição do lucro com o comércio de especiarias; as invasões estrangeiras nas terras americanas; o fato de não terem encontrado nas terras americanas, até aquele momento, metais preciosos; e sua experiência prévia com o cultivo de cana nas ilhas atlânticas.
  2. O cultivo de cana-de-açúcar prosperou em Pernambuco e na Bahia graças ao clima quente e úmido e ao solo fértil dessas capitanias.
  3. A coroa incentivou indivíduos a montar os engenhos de produção de açúcar na América portuguesa. Esses investidores eram responsáveis pelo financiamento e pela organização da economia açucareira.

Ampliando: a difusão do açúcar pelo mundo

“Os alimentos modernos são aqueles que se difundiram pelo mundo por meio da intensificação do comércio e do intercâmbio provocado pelas navegações transoceânicas da ‘primeira globalização’ do século dezesseis, entre os quais o açúcar constituiu talvez o produto mais importante, mas também os álcoois destilados, as especiarias, as bebidas quentes, além de diversos produtos regionais que a época moderna universalizou (batata, tomate, milho, arroz, trigo etcétera).”

CARNEIRO, Henrique S. Comida e sociedade: significados sociais na história da alimentação. História: questões e debates, Curitiba, número 42, página 75, 2005.

A organização do engenho e a produção de açúcar

A palavra engenho (“equipamento utilizado para moer cana”) passou a designar no período colonial “a fazenda produtora de açúcar em seu conjunto, com seus canaviais, lavoura de subsistência, casa do engenho, casa-grande, senzala e outras dependências” (observe a imagem). O engenho tornou-se, assim, sinônimo da grande propriedade açucareira.

A casa do engenho reunia os equipamentos necessários à fabricação do açúcar. Na moenda se extraía o caldo da cana, que depois era levado às caldeiras para ser fervido. Havia dois tipos de engenho: o trapiche, que operava com moendas movidas pela fôrça animal, e o engenho real, em que eram utilizadas moendas movidas pela fôrça da água.

O melaço que saía das caldeiras era colocado em fôrmas de barro na casa de purgar, onde permanecia por vários dias até cristalizar. Após desenformado, ficava ao sol por até vinte dias.

Na caixaria, etapa final da produção, o açúcar era pesado e embalado em caixas para o transporte. A maior parte do produto seguia para o porto em direção à Europa.

Pintura. À frente, algumas pessoas andando no chão de terra. Em frente a elas uma casa de engenho: estrutura horizontal, com aberturas em arco e um telhado triangular. À esquerda, a caldeira e a casa de purgar, onde homens negros escravizados trabalham próximos a uma pilha de cana no chão. À direita, ao lado da casa do engenho, a senzala: casa simples, com uma janela no andar de cima. Na frente da senzala a secagem do açúcar é feita sobre um palanque largo e elevado. Ao fundo, na colina, a casa-grande e a capela.
Engenho, pintura de frãns pôst, 1660. Museu Nacional de Arte da Dinamarca, Copenhague. Os textos não fazem parte da pintura e foram inseridos para fins didáticos.

Respostas e comentários

Ampliando: uma verdadeira fábrica

“A produção de açúcar nas colônias americanas reticências constituiu-se, caracteristicamente, em manufatura moderna. Em seu espaço, o processo produtivo decompôs o ofício manual, especializou ferramentas, formou trabalhadores parciais, agrupando-os e combinando-os num mecanismo único.

reticências O processo de produção [era] dividido em tarefas simples e executado por trabalhadores sem habilidade específica, sob a direção de alguns artesãos especializados. O trabalho sequencial não comportava paradas para mudanças de local ou de ferramentas. A matéria-prima – a cana, o caldo, o mel – percorria diferentes etapas de processamento. Os trabalhadores estavam organizados, espacial e funcionalmente, em equipes. O açúcar resultou da articulação de uma estrutura técnica e social de produção, que realmente se engrenava como um complexo ‘engenho’.”

FERLINI, Vera Lúcia Amaral. A civilização do açúcar. São Paulo: Brasiliense, 1998. página 46. (Coleção Tudo é história).

Fotografia. Mulher, vestindo camiseta azul, bermuda e uma touca nos cabelos. Ela segura uma grande tigela com melaço e despeja em um molde de madeira à sua frente. Ao fundo, um homem vestindo camiseta, calça e boné mexendo melaço com uma longa colher de pau.
Produtora de rapadura despejando o melaço em fôrmas para secagem. Açucena, Minas Gerais. Foto de 2018. Atualmente, em vários lugares do Brasil, ainda se produzem tabletes de açúcar, chamados de rapadura, de modo artesanal, tal como se fazia no período colonial.
Senhores do açúcar

Com a economia açucareira, formou-se no Brasil uma sociedade desigual, violenta e autoritária. No ponto mais alto da hierarquia social, estava o senhor de engenho, proprietário da unidade produtiva de açúcar e dos escravizados que trabalhavam nela.

A residência do senhor de engenho e de sua família era a casa-grande. Ela podia ser térrea ou assobradada, funcionando também como fortaleza, hospedaria para visitantes e centro administrativo do engenho. Próximo à casa-grande ficava a capela, local reservado para orações e cerimônias religiosas, como batizados e casamentos. A parte desse complexo de construções destinada ao alojamento dos escravizados era chamada senzala.

Os senhores de engenho não viviam isolados nas fazendas. Como o açúcar era produzido para atender ao mercado externo, eles estavam sempre em contato com o mundo urbano, negociando com financiadores e comerciantes. Eles também participavam da vida política e administrativa das vilas e cidades, exercendo cargos nos órgãos públicos locais.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Quais eram as principais partes que compunham o engenho?
  2. O que eram a casa-grande, a capela e a senzala?
  3. Quais eram as atividades dos senhores de engenho?

Respostas e comentários

Recapitulando

  1. Compunham o engenho os canaviais, a lavoura de subsistência, as instalações para a produção de açúcar, a casa-grande, a senzala e outras dependências, como a capela.
  2. A residência do senhor de engenho e de sua família era a casa-grande, que funcionava também como fortaleza, hospedaria para visitantes e centro administrativo do engenho. A capela, local reservado para orações e cerimônias religiosas, ficava próximo à casa-grande. A senzala era a parte destinada ao alojamento dos escravizados.
  3. Além de administrar a fazenda, os senhores de engenho negociavam o açúcar, cuja produção era voltada ao mercado externo, com financiadores e comerciantes localizados nos centros urbanos. Eles também participavam da vida política e administrativa das vilas e cidades, exercendo cargos nos órgãos públicos locais.
Agricultores de cana

Nem todo mundo que possuía um canavial era senhor de engenho. Havia os arrendatários, que eram agricultores sem recursos. Para poder moer a cana e fabricar açúcar, eles entregavam parte de sua produção a um senhor de engenho em troca de utilizar as instalações da propriedade.

O arrendamento das instalações do engenho para os agricultores de cana foi muito comum no período colonial. Pelo menos até 1650, o trabalho dos agricultores foi fundamental. Muitos engenhos do Nordeste eram dedicados apenas a moer a cana de terceiros; dessa fórma, os senhores de engenho aproveitavam a capacidade de produção de seus engenhos, evitando as despesas com o cultivo de cana.

O trabalho no engenho

O quadro de trabalhadores do engenho era bastante complexo. Apesar de o trabalho escravo ser predominante, havia diversos trabalhadores livres em funções administrativas, técnicas e artesanais. O artesão mais especializado era o mestre de açúcar, responsável pela qualidade do produto. Outra figura de destaque era o feitor, responsável por vigiar e punir os trabalhadores escravizados. Havia também um contingente de agregados, moradores do engenho que prestavam serviços em troca de proteção e de auxílio econômico dos senhores.

Gravura em branco e preto. Pessoas negras escravizadas, sem camisa, vestindo apenas um saiote e um lenço na cabeça, jogam bagaço de cana em uma fornalha, que está dentro de uma estrutura com abertura em arco. Ao fundo, um homem vestido e usando um chapéu, observa com as mãos para trás.
Escravizados alimentando uma fornalha com o bagaço da cana esmagada, gravura de 1830. Biblioteca do Congresso, uóshinton, Estados Unidos. Expostos ao calor insuportável das fornalhas e caldeiras, os escravizados corriam sério risco de sofrer queimaduras.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Defina o papel destas figuras ligadas ao engenho.
    1. Arrendatário.
    2. Mestre de açúcar.
    3. Feitor.
    4. Agregado.

Respostas e comentários

Agricultores de cana

As informações sobre os agricultores de cana foram baseadas em FERLINI, Vera Lúcia Amaral. A subordinação dos lavradores de cana aos senhores de engenho: tensão e conflito no mundo dos brancos. Revista Brasileira de História, São Paulo, volume 6, número 12, página 152, março a agosto. 1986.

Escravidão: um marco na história moderna mundial

A escravidão na América portuguesa – inicialmente indígena e, na maior parte do período colonial, africana – tinha características que a diferenciavam da escravidão praticada na Antiguidade. O escravizado, na Idade Moderna, era considerado um bem, uma mercadoria que podia gerar lucro àqueles para quem trabalhava e, antes desses, aos traficantes. Os mercadores de escravizados desfrutavam de posição social e política privilegiada. Relembre aos alunos que tal realidade respondia a uma mentalidade pertinente ao período, que se baseava em argumentos morais e religiosos. Hoje a escravização de seres humanos é considerada crime em todo o mundo. Essa reflexão pode ser explorada com os alunos para consolidar a noção de que os pontos de vista e os juízos de valor se definem historicamente, isto é, variam de acôrdo com o período e o conjunto de valores humanos pertinentes a ele.

Recapitulando

    1. Arrendatário: agricultor sem recurso que utiliza as instalações dos senhores de engenho para moer a cana e fabricar açúcar, destinando parte da produção aos proprietários.
    2. Mestre de açúcar: artesão especializado do engenho e responsável pela qualidade do açúcar.
    3. Feitor: vigiava e punia os trabalhadores escravizados.
    4. Agregado: morador do engenho que prestava serviços em troca de proteção e de auxílio econômico do senhor de engenho.

O trabalho escravo

A primeira mão de obra explorada nos engenhos de açúcar foi a dos indígenas escravizados. Na segunda metade do século dezesseis, o trabalho dos indígenas passou a ser substituído pelo dos africanos escravizados, em razão da grande lucratividade do tráfico negreiro e da escassez de mão de obra local, provocada pela mortandade e pelas constantes fugas de indígenas.

Essa substituição ocorreu principalmente nas lavouras do Nordeste, onde os proprietários tinham mais recursos para comprar africanos escravizados. Na capitania de São Vicente, incorporada à capitania de São Paulo em 1681, a mão de obra indígena escravizada predominou até o século dezoito.

Os escravizados exerciam a maior parte das atividades no engenho. O grupo mais numeroso trabalhava nos canaviais, sujeito a uma jornada exaustiva. Os equipamentos da colheita eram muito simples: havia apenas facão e foice para o córte do caule da planta. Além de plantar e colhêr, esses trabalhadores transportavam a cana até a moenda.

Na produção do açúcar trabalhava um número menor de cativos. Eles desempenhavam funções especializadas nas moendas, nas caldeiras e nos tachos, sob a supervisão do mestre de açúcar e do feitor.

Ilustração. Homens negros escravizados trabalhando em um engenho manual. Dois homens estão sentados, um de cada lado de uma estrutura comprida com três cilindros no centro. Eles colocam cana cortada entre os cilindros. Outros dois homens, em pé, sem camisa, empurram uma tábua horizontal, ligada ao eixo vertical dos cilindros. À direita, canas agrupadas em pé. Ao fundo uma vassoura perto da porta. Jarros estão sobre uma prateleira alta na parede.
Engenho manual que faz caldo de cana, ilustração de Jãn Batiste Dêbret, 1822. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro. Os africanos escravizados moviam a economia açucareira colonial.

Refletindo sobre

Milhões de pessoas escravizadas foram trazidas do continente africano para as terras do Brasil entre os séculos dezesseis e dezenove. Durante a travessia do Atlântico e após a chegada, muitos escravizados entravam em um estado de tristeza profunda que levava alguns deles à morte. Na época, essa tristeza foi chamada de banzo. Você imagina qual era a causa de tristeza tão profunda? Você já se sentiu muito triste e desesperançoso? Que tipo de ajuda uma pessoa nessa situação precisa receber? Discuta o problema com os colegas.


Respostas e comentários

Refletindo sobre

Espera-se que os alunos reflitam sobre os diversos fatores que envolviam a escravidão, como a migração forçada, a separação familiar, a violência da submissão ao trabalho compulsório, a adaptação ao clima e à cultura do lugar de chegada, entre outros, e sobre o impacto desses fatores na saúde mental dos escravizados. O banzo pode ser caracterizado como depressão, uma doença bastante comum na sociedade atual e que demanda tratamento de profissionais da saúde. Se considerar pertinente, oriente os alunos a ler este texto que trata de uma pesquisa sobre o tema: ág, Carlos. A saudade que mata. Pesquisa fapésp, São Paulo, junho de 2010. Disponível em: https://oeds.link/Rpoo31. Acesso em: 2 agosto 2022.

Incentive os alunos a expressar as emoções e a solicitar ajuda em caso de necessidade.

Bê êne cê cê

Ao chamar a atenção dos alunos para questões de saúde mental, a atividade se relaciona com o tema contemporâneo transversal Saúde e contribui para o desenvolvimento das Competências gerais da Educação Básica nº 1 e nº 6, da Competência específica de Ciências Humanas nº 1 e da Competência específica de História nº 5.

Depressão

É importante criar oportunidades para discutir em sala de aula a doença mental depressão, que vem se tornando cada vez mais frequente entre pré-adolescentes e adolescentes, manifestando-se na fórma de apatia, prática de cãtin (automutilação), tentativas de suicídio, entre outras. De acôrdo com o relatório The State of the World’s Children 2021, do Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 22% dos adolescentes brasileiros entrevistados admitiram se sentir deprimidos com frequência e sem estímulo para fazer atividades cotidianas (disponível em: https://oeds.link/Psi3Xc; acesso em: 23 maio 2022). Segundo estudo da Organização Pan-Americana da Saúde (ôpas), ligada à Organização Mundial da Saúde (ó ême ésse), o suicídio é atualmente a quarta causa de morte de jovens entre 15 e 29 anos. Durante a pandemia de covíd-19, a depressão teve um crescimento de 25% em todo o mundo, tendo atingido em maior quantidade mulheres e jovens (disponível em: https://oeds.link/2R5m9G; acesso em: 23 maio 2022).

A União Ibérica (1580-1640)

No final do século dezesseis, a produção e a comercialização do açúcar brasileiro foram afetadas por uma crise política em Portugal. Em 1578, o rei português, Dom Sebastião, morreu durante uma batalha no Marrocos. Como não deixou herdeiros diretos, a coroa foi entregue a seu tio-avô, o cardeal Dom Henrique, que faleceu dois anos depois. Assim, a sucessão dinástica portuguesa tornou-se um grave problema político.

Filipe segundo, soberano da Espanha e tio de Dom Sebastião, aproveitou a oportunidade para invadir Portugal e assumir o trono. Desse modo, em 1580, Filipe tornou-se rei da Espanha e de Portugal, iniciando a União Ibérica, que durou até 1640.

Holandeses em Salvador

Região formada pelos atuais territórios da Holanda, Bélgica, Luxemburgo e parte do norte da França, os Países Baixos eram possessões da Espanha. Em 1579, as províncias protestantes do norte declararam-se independentes do Império Espanhol. Uma delas era a Holanda, nome pelo qual ficaria conhecido o novo país.

fóra do contrôle espanhol, os comerciantes holandeses foram proibidos de comercializar com os domínios da Espanha na América. Como as guerras de independência da Holanda coincidiram com a formação da União Ibérica, a proibição se estendeu ao Brasil.

Os comerciantes holandeses, principais distribuidores do açúcar brasileiro na Europa, não queriam perder os lucros desse comércio. Assim, em 1624, mais de 3 mil soldados holandeses, organizados pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, ocuparam a cidade de Salvador. No ano seguinte, foram expulsos por fôrças luso-espanholas.

Desenho. Planta do território da Bahia. À frente embarcações no mar. Ao fundo, caminhos que passam por áreas de plantio e colinas. No centro, um grande rio sinuoso atravessa a paisagem horizontalmente. No canto superior direito um quadro com texto escrito à mão. Na parte inferior direita uma rosa dos ventos.
Planta da restituição da Bahia, desenho de João Teixeira Albernaz, o Velho, 1631. Mapoteca do Itamaraty, Rio de Janeiro. Esse mapa representa a armada luso-espanhola no cerco a Salvador, em 1625. Após esse episódio, os holandeses foram expulsos da Bahia.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

8. Por que a frota que expulsou os holandeses de Salvador era luso-espanhola, e não apenas portuguesa?


Respostas e comentários

Recapitulando

8. Naquela época, Portugal estava sob o domínio da Espanha. O govêrno espanhol tinha interesse em afastar os holandeses da colônia portuguesa na América: as rivalidades entre a Holanda e a Espanha haviam se acentuado com o fim da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), quando a Holanda e outras províncias protestantes do norte dos Países Baixos se libertaram do domínio espanhol. Para a Espanha, expulsar os holandeses da colônia portuguesa significava enfraquecê-los na luta pela hegemonia na Europa e manter as riquezas geradas pela produção de açúcar nas capitanias da Bahia e de Pernambuco no âmbito da União Ibérica.

Ampliando: o domínio holandês no Nordeste

“Com a chegada, em 1624, da ‘armada inimiga [tocando-se] em todas as naus trombetas bastardas ao som de guerra reticências [e divisando-se] as Bandeiras Holandesas, Flâmulas e Estandartes’, ouviram-se vozes na cidade do Salvador, as quais diziam: ‘Já entram, os inimigos já entram’. Estes acontecimentos marcaram o início de um período de investidas constantes e duradouras dos holandeses na América portuguesa, e foram precedidos por momentos de instabilidades políticas na Europa. Estes ocasionaram as restrições espanholas ao comércio estrangeiro nas colônias, e, por consequência, o aumento das investidas dos Países Baixos nessas mesmas localidades.

As modificações políticas, sociais e econômicas, que a dominação batava impôs sobre a região de Pernambuco entre os anos de 1630 e 1654, foram acompanhadas pela afluência de culturas diversas, as quais se encontraram nas fronteiras marcadas pelas vilas de Olinda, do Recife e de seus arredores. Todos esses lugares ‘foram tomados por holandeses, noruegueses, belgas, flamengos, ingleses, alemães, escoceses, dinamarqueses e judeus’, os quais também dividiram o mesmo espaço com ‘mazombos reticências portugueses, espanhóis, italianos, ameríndios e negros escravos’.”

MARANHO, Milena Fernandes. O moinho e o engenho: São Paulo e Pernambuco em diferentes contextos e atribuições no Império Colonial Português (1580-1720). 2006. Tese (Doutorado em História). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. página 125-126.

Holandeses em Pernambuco

Dispostos a permanecer no negócio do açúcar, em 1630 os holandeses organizaram outra expedição, muito mais poderosa que a anterior. Dessa vez, eles invadiram a capitania de Pernambuco, a mais próspera da colônia portuguesa.

Após a derrota dos portugueses, a administração holandesa em Pernambuco foi assumida pelo conde Maurício de Nassau, que governou entre 1637 e 1644. Nassau transferiu a séde do govêrno de Olinda para Recife e assumiu a direção política, militar, financeira e judiciária da capitania. Os colonos portugueses foram convidados a participar do govêrno da capitania e ocuparam nela diversos cargos administrativos.

A tolerância religiosa foi uma das características da administração de Nassau. Interessados no apôio dos colonos católicos e nos capitais dos judeus, os holandeses, que eram calvinistas, procuraram manter boas relações com adeptos de outras crenças. Ao mesmo tempo, missionários calvinistas buscaram se aproximar dos povos nativos inimigos dos portugueses, principalmente os Tapuia, que haviam se embrenhado nas regiões mais afastadas da costa. Essa aproximação rendeu aos holandeses importantes alianças militares com os nativos, estratégicas para Nassau manter o contrôle sobre os territórios coloniais ocupados.

O govêrno de Nassau também favoreceu os senhores de engenho com empréstimos para a compra de escravizados e de equipamentos. A produção e o comércio de açúcar cresceram durante todo o período em que os holandeses estiveram no Brasil.

Pintura. Mulher indígena de cabelos curtos e escuros, vestindo uma tanga de folhas. Carrega em uma das mãos, acima da cintura, galhos com folhas. Na outra mão ela carrega um pedaço do braço de outra pessoa. Pendurado na cabeça, uma cesta com os pés humanos. Atrás dela uma grande árvore e vegetação, ao fundo.
Índia Tapuia, pintura de âubert équirráut, 1641. Museu Nacional de Arte da Dinamarca, Copenhague.

Responda em seu caderno.

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Tapuia era o nome genérico dado pelos indígenas Tupi aos povos não Tupi. Que visão o artista procurou transmitir sobre os Tapuia nessa pintura?

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Imagem meramente ilustrativa

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Urbanismo, ciência e arte no Brasil holandês

Os holandeses promoveram muitas mudanças no Recife. Em poucos anos, o pequeno povoado tornou-se uma cidade com ruas pavimentadas, pontes, canais, mercados e outras construções.

O governador holandês levou para Recife uma comitiva formada por 46 especialistas, entre naturalistas, arquitetos, cronistas, cartógrafos e pintores. Membros dessa comitiva se encarregaram da construção do Palácio de Friburgo, séde do govêrno e residência de Nassau e uma das principais edificações da Cidade Maurícia, como ficou conhecida a capital holandesa no Brasil.

Entre os profissionais levados por Nassau a Recife destacou-se o pintor âubert équirráut, que expressou o olhar europeu sobre os tipos humanos e as paisagens do Nordeste açucareiro, e o naturalista e cartógrafo Gueórgui Márqui gráf, que produziu mapas, classificou plantas e animais e estudou os astros visíveis a olho nu do hemisfério sul.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Como iniciou-se a União Ibérica e quais foram suas consequências para os holandeses no Brasil?
  2. Aponte as características sociais, culturais e econômicas do govêrno de Nassau em Pernambuco.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar as ações dos comerciantes holandeses no Nordeste da América portuguesa com o objetivo de explorar o negócio do açúcar, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero sete agá ih um três.

Explore

âubert équirráut criou um conjunto de pinturas de tipos humanos da colônia. Nessas pinturas, os personagens que mais se assemelham aos padrões europeus (uso de roupas, adornos sofisticados, cabelos alinhados e penteados) são considerados mais próximos da civilização. Na representação da mulher Tapuia, revela-se o que seria sinônimo de “selvageria” para o europeu do século dezessete: a falta de vestimentas e, sobretudo, partes do corpo de uma pessoa no cesto que ela carrega nas costas e em uma de suas mãos. Com isso, o pintor associou os Tapuia ao ritual da antropofagia, costume indígena que mais chocou os europeus.

Recapitulando

  1. Após a morte do rei português, o soberano da Espanha, Filipe segundo, assumiu o trono de Portugal, governando ao mesmo tempo os dois países, fato que deu início à União Ibérica. No período, Espanha e Holanda eram rivais. Em razão disso, os espanhóis proibiram o comércio dos holandeses com suas colônias na América, o que incluía o Brasil.
  2. Nassau investiu na atividade açucareira, promovendo o aumento da produção e do comércio do produto, convidou portugueses para participar de seu govêrno, praticou a tolerância religiosa, atraindo a comunidade judaica, e promoveu as artes e a ciência, contratando especialistas para estudar o território, sua natureza e seu povo. O traçado urbano do Recife também foi modificado no govêrno de Nassau, que promoveu a construção de mobiliário urbano e de edifícios.

Atividade complementar

Proponha uma pesquisa bibliográfica sobre as transformações urbanas promovidas pelos holandeses no Recife. Organize a turma em grupos e oriente-os a pesquisar fontes confiáveis, como livros e artigos científicos sobre o tema, compará-los e produzirem um texto síntese sobre cada produção pesquisada, identificando autor, data de publicação, área e instituição de pesquisa relacionada ao estudo. No final, o grupo deverá produzir um texto único, sintetizando as informações encontradas. Essa atividade favorece o desenvolvimento de noções sobre pesquisa de revisão bibliográfica.

Conflitos entre holandeses e colonos

Em 1640, os portugueses rebelaram-se contra a Espanha e reconquistaram a independência, episódio conhecido como Restauração Portuguesa. Nesse momento, a economia açucareira do Nordeste brasileiro passava por dificuldades. Para contornar a crise, a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais exigiu que o govêrno de Nassau cobrasse os empréstimos concedidos aos senhores de engenho. Insatisfeito com a exigência, em 1644 Maurício de Nassau deixou o govêrno no Nordeste e retornou à Holanda.

A situação econômica de muitos colonos do Nordeste açucareiro tornou-se crítica. A Companhia Holandesa das Índias Ocidentais cobrava juros cada vez mais altos pelos valores emprestados, além de estabelecer outras taxas. Nessas circunstâncias, proprietários de engenho e agricultores de cana rebelaram-se contra o domínio holandês. Em 1645, africanos escravizados e indígenas foram chamados a participar do movimento, que ficaria conhecido como Insurreição Pernambucana. Os principais embates ocorreram nos Montes Guararapes, entre 1648 e 1649. A rendição holandesa foi assinada em 1654.

Uma vez expulsos, os holandeses ampliaram a produção açucareira em suas colônias no Caribe. O produto caribenho conquistou espaço no mercado internacional e provocou a queda nas vendas do açúcar brasileiro.

História em construção

O imaginário popular sobre o Brasil holandês

O curto período de dominação holandesa deixou marcas no imaginário da população pernambucana.

No imaginário de Pernambuco, a restauração [portuguesa] ocupou um lugar central, a função de uma matriz ideológica. A memória estamental apresentou-a como a gesta de determinados grupos sociais; na recordação popular, ela assumiu as cores de um tempo fabuloso e quase mítico. Ao longo de dois séculos decorridos da expulsão dos holandeses, ainda se podiam ver os vestígios físicos dos monumentos civis, religiosos e militares, deixados pela ocupação. As gerações que se sucederam comemoraram regularmente, nos montes Guararapes, na Estância ou em Olinda, os principais feitos bélicos. A iconografia fixou em painéis as batalhas decisivas. reticências Entretanto, o imaginário nativista não se esgotou na glorificação da restauração; do século dezessete ao dezenove, ele iniciou a reabilitação da dominação holandesa reticências. Nessa perspectiva, eram postas sistematicamente em dúvida as vantagens decorrentes do retorno do Nordeste à suserania lusitana.

MELLO NETO, Evaldo Cabral de. Imagens do Brasil holandês 1630-1654. á érre ésse, São Paulo, volume 7, número 13, página 169-170, junho 2009.


Responda em seu caderno.

Questões

  1. Com base em que elementos foi construída uma ideia positiva sobre a restauração do govêrno português em Pernambuco na recordação popular?
  2. Segundo o autor, que reviravolta a construção desse imaginário popular sofreu nos séculos seguintes à expulsão dos holandeses?

Saiba mais

A primeira sinagoga da América

Durante o domínio holandês no Nordeste brasileiro, muitos judeus emigraram para a região atraídos pela política de tolerância religiosa de Nassau. Em 1636, eles fundaram em Recife a carrál zur israél (Congregação Rochedo de Israel), primeira sinagoga da América. Com a expulsão dos holandeses em 1654, a sinagoga foi fechada. Somente em 2001, após a restauração, a sinagoga foi reaberta ao público.


Respostas e comentários

História em construção

  1. Entre os elementos estão os vestígios de monumentos civis, religiosos e militares, a fixação de imagens com criação de painéis sobre as batalhas decisivas e a comemoração dos feitos bélicos.
  2. Apesar da construção duradoura de imaginário favorável aos portugueses, a dominação holandesa foi reabilitada principalmente como crítica à dominação lusitana, que implicava a suposição de que o período holandês tinha sido mais vantajoso à região. Espera-se que os alunos compreendam que, como essa suposição se mantém até os dias de hoje, a visão idealizada do período holandês persiste no imaginário popular.

Bê êne cê cê

Ao tratar da influência da presença holandesa no imaginário pernambucano e propor a análise de um texto historiográfico, a seção contribui para o desenvolvimento das Competências específicas de História nº 1, nº 3 e nº 6.

O reforço do contrôle colonial

A concorrência enfrentada pelo açúcar brasileiro com o açúcar holandês produzido no Caribe agravou a crise econômica do Império Português. Para superá-la, o govêrno português tomou medidas destinadas a controlar os negócios na colônia. A administração colonial passou a ser controlada pelo Conselho Ultramarino, criado em 1642, ao qual o governador-geral da colônia estava subordinado. Ao mesmo tempo, as Câmaras Municipais perderam parte de seu poder.

Em 1649, a coroa portuguesa fundou a Companhia Geral do Comércio do Brasil e, em 1682, a Companhia do Comércio do Estado do Maranhão. Essas duas companhias detinham o monopólio da importação e da exportação de vários produtos da colônia.

No início do século dezoito, o reino português estava muito enfraquecido. Com o objetivo de proteger seu território contra os ataques estrangeiros e preservar seus domínios ultramarinos, Portugal aproximou-se da Inglaterra, assinando com esse país vários acordos comerciais. A consequência foi ampliar a dependência de Portugal da coroa inglesa.

O Tratado de mítuen, assinado pelos governos de Portugal e da Inglaterra em 1703, estabelecia taxas alfandegárias mais baixas para os tecidos ingleses importados por Portugal e para os vinhos portugueses vendidos à Inglaterra. Como o volume das compras de tecidos era maior que o das vendas de vinhos, a balança comercial portuguesa ficava crescentemente deficitária. Tratados como esse aprofundaram a crise econômica de Portugal e sua dependência em relação à Inglaterra.

Gravura em preto e branco. Grande barril colocado horizontalmente na frente de um estabelecimento. Um rapaz está sobre ele com uma ferramenta. À frente, um casal com taças na mão fazendo um brinde.
Tonel de vinho português sendo recebido no porto de Londres, no Reino Unido, gravura de 1848. O Tratado de mítuen estabeleceu um regime especial de entrada de vinhos produzidos em Portugal nos portos ingleses.

A América portuguesa no final do século dezessete

Mapa. A América Portuguesa no final do século dezessete. Destaque para trecho litorâneo do atual Brasil.
Sem legenda.
Em vermelho: Linha do Tratado de Tordesilhas (1494).
À direita da Linha do Tratado de Tordesilhas: o Estado do Maranhão, porção menor, ao norte do território, com destaque para as cidades de Belém e São Luís; e o Estado do Brasil: porção maior, ocupando todo o restante do território, com destaque para as cidades de Olinda, Recife, Salvador (capital até 1763), Porto Seguro, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo e São Vicente.  
À esquerda da Linha do Tratado de Tordesilhas (1494): as Terras da Espanha. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de zero a 450 quilômetros.

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M.; REIS, Arthur C. F.; CARVALHO, Carlos D. de C. Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: fei , 1991. página 30.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Relacione a crise na economia açucareira ao estopim da Insurreição Pernambucana.
  2. Que fatores contribuíram para a criação do reforço do contrôle português no Brasil colônia?
  3. Explique o Tratado de mítuen e suas consequências para a economia portuguesa.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao apresentar o mapa da América portuguesa no final do século dezessete, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero sete agá ih um um.

Recapitulando

  1. No momento em que a produção de açúcar realizada no Nordeste passava por uma crise, o que colocou os colonos em frágil situação econômica, a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais passou a cobrar empréstimos feitos para financiar as atividades açucareiras a juros altos, gerando grande insatisfação. Com isso, os colonos organizaram-se contra o domínio holandês, que já não contava mais com a liderança de Maurício de Nassau.
  2. Os holandeses, após terem sido expulsos do Nordeste, passaram a produzir açúcar no Caribe, estabelecendo uma concorrência que afetou diretamente o comércio açucareiro dominado por Portugal. Diante da situação, a coroa reorganizou a administração colonial, implementando o Conselho Ultramarino e as companhias de comércio, a fim de recuperar a lucratividade da economia açucareira no Brasil colônia.
  3. O Tratado de mítuen foi assinado por Portugal e Inglaterra em 1703 a fim de selar parcerias econômicas e políticas, especificamente quanto à comercialização de tecidos ingleses e vinhos portugueses. No entanto, o volume de importação de tecidos ingleses por Portugal era muito maior que o de exportação de vinhos, o que implicava sucessivos prejuízos à balança comercial lusitana. Explique aos alunos que esse tratado também é chamado de “Panos e vinhos”.
O Brasil não era apenas um grande canavial

O açúcar foi o produto mais importante da economia do Brasil colonial até o século dezoito. Outros produtos importantes, contudo, coexistiam com ele. A produção de alguns abastecia principalmente a população da colônia; a de outros era voltada para o comércio exterior.

O cultivo de milho e de mandioca, nativos da América, era imprescindível para a alimentação dos habitantes da colônia. O rei de Portugal chegou a exigir o plantio de mandioca nos engenhos, obrigação nem sempre cumprida. Além desses produtos, cultivavam-se na colônia arroz e frutas, como banana e laranja, que foram trazidos pelos colonizadores e aclimatados ao Brasil. Nativo da América, o feijão também compunha a dieta alimentar da população colonial.

O tabaco, planta de origem americana, produzido inicialmente na capitania da Bahia, espalhou-se depois por Sergipe e Alagoas. O produto tinha como destino a Europa e principalmente a África, onde era trocado por escravizados.

A produção de algodão atendia inicialmente ao mercado interno da colônia, onde era utilizado como matéria-prima para a confecção de redes e de roupas rústicas, usadas por escravizados e outros integrantes da população mais pobre. A partir do século dezoito, com o crescimento da indústria têxtil na Inglaterra, o algodão começou a ser produzido para exportação.

A pecuária foi introduzida no Brasil pelos europeus. Os animais eram usados nos engenhos como meio de transporte e fôrça motriz para as moendas, além de fornecer carne, leite e couro. Como o gado era criado solto, ocupava uma vasta área que poderia ser destinada ao cultivo de cana. Por isso, com o passar do tempo, a pecuária deslocou-se para o interior.

Outra importante atividade colonial foi a exploração de drogas do sertão, especiarias da região Amazônica, como urucum, anil, cacau, pimenta, castanha-do-brasil, cravo e baunilha. O trabalho de coletar as especiarias era realizado por indígenas escravizados ou semiassalariados, que eram quem conhecia o uso desses produtos da floresta.

A economia da América portuguesa no século dezessete

Mapa. A economia da América portuguesa no século dezessete. Destaque para o atual território brasileiro.
Legenda: 
Laranja: área de ocorrência do pau-brasil.
Verde-escuro: cana-de-açúcar.
Verde-claro: pecuária.
Linha roxa: tabaco.
Vermelho: mineração.
Lilás: drogas do sertão.
Linha cinza: limites atuais do território brasileiro.

Área de ocorrência do pau-brasil: Foco na atual região Sudeste e pequeno trecho da atual região Nordeste, perto de Olinda e Recife.
Cana-de-açúcar: áreas próximas ao litoral das atuais regiões Sudeste e Nordeste, com destaque para as cidades de São Vicente, Itanhaém, Rio de Janeiro, São João da Barra, Vitória, Porto Seguro, Ilhéus, Salvador, Penedo, Recife, Olinda, Natal, São Luís e Alcântara.
Pecuária: Pequenos trechos no extremo sul da atual região Sul, alguns focos próximos às cidades de Curitiba e de Sorocaba, áreas maiores no interior da região Nordeste, principalmente ao redor do Rio São Francisco. 
Tabaco: na atual região Nordeste, em todo o entorno das cidades de Penedo e São Cristóvão e da capital Salvador.
Mineração: na atual região Sudeste, nas proximidades de Taubaté, Itanhaém, Iguape.
Drogas do sertão: Parte central da atual região Norte, ao redor dos Rios Negro, Madeira, Amazonas e Tapajós.
No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de zero a 470 quilômetros.

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M.; REIS, Arthur C. F.; CARVALHO, Carlos D. de C. Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: fei , 1991. página 28.

Conexão

O engenho colonial

Luiz Alexandre Teixeira Júnior São Paulo: Ática, 2006. (Coleção O cotidiano da história).

O livro aborda a desigualdade social em um engenho típico do Brasil colonial. Nele, os proprietários vivem suntuosamente, consumindo produtos europeus, enquanto os escravizados, que fazem todo o trabalho, são submetidos à violência e à miséria.


Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao apresentar um mapa da economia da América portuguesa no século dezessete, ressaltando a relação entre a ocupação geográfica e a produção desenvolvida, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero sete agá ih um um.

Interdisciplinaridade

O mapa histórico da página apresenta informações acerca da economia do Brasil no século dezessete, permitindo aos alunos identificar padrões espaciais, o que contribui para o desenvolvimento de habilidades do componente curricular geografia, especificamente a habilidade ê éfe zero sete gê ê zero nove.

O trabalho indígena no “sertão”

Leia mais sobre o papel fundamental dos indígenas na exploração de drogas do sertão em: RAVENA, Nirvia; MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. A teia de relações entre índios e missionários: a complementaridade vital entre o abastecimento e o extrativismo na dinâmica econômica da Amazônia Colonial. Varia História, Belo Horizonte, volume 29, número 50, página 400, maio/agosto 2013.

Castanha-do-brasil

Embora utilizemos a denominação castanha-do-pará – nome científico bertolécsia écssélça –, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) adota o termo castanha-do-brasil, nomenclatura mais empregada na exportação.

Conexão

Livro paradidático que apresenta uma história romanceada, narrada por um mascate, que leva o leitor a conhecer um engenho em Pernambuco. A narrativa ficcional é permeada por conteúdo histórico, que trata do conceito plantation, do pacto colonial e da sociedade açucareira.

Enquanto isso…

Os holandeses na África

O conflito entre Portugal e Holanda não se restringiu à ocupação do Nordeste brasileiro pelos holandeses. A disputa atingiu também a África, onde os holandeses conquistaram diversas feitorias portuguesas a partir de 1633. Com essas conquistas, a Holanda pôs fim ao predomínio de Portugal no comércio de ouro e de escravizados na Costa do Ouro, região que hoje abrange alguns países da África Ocidental, como Gana, Togo e Benin.

Entre 1482 e a tomada do Castelo da Mina por fôrças holandesas, em 1637, Portugal não só praticamente dominou as trocas comerciais na Costa do Ouro, mas também estabeleceu a estrutura comercial que vigoraria até o reticências século dezenove. Nesta configuração, os europeus controlavam o comércio costeiro a partir de entrepostos comerciais reticências, mas os africanos tinham contrôle absoluto das rótas internas de comércio. reticências

Costa da mina no século dezessete

Mapa. Costa da mina no século dezessete. Destaque para um trecho da costa oeste da África. 
Sem legenda.
Um quadrado roxo indica a região da Costa da Mina com destaque para as cidades de Castelo de São Jorge da Mina, Acra, Mori, Popo e Uidá. 
No canto esquerdo, rosa dos ventos e escala de zero a 470 quilômetros.

Fonte: SILVA Júnior, Carlos da. Ardras, minas e jejes, ou escravos de "primeira reputação": políticas africanas, tráfico negreiro e identidade étnica na Bahia do século dezoito. Almanaque, Guarulhos, número 12, página 10, 2016. Disponível em: https://oeds.link/0vX90I. Acesso em: 25 fevereiro 2022.

As primeiras tentativas de quebrar o quase monopólio do comércio lusitano [na África] começaram em 1612, quando os holandeses fundaram um forte em Mori. reticências Em 1633, os holandeses tomariam Acra, centro do comércio de ouro. O golpe fatal veio com a queda do Castelo da Mina, em 1637. reticências

Até o final do século dezessete, as relações comerciais na Costa do Ouro foram dominadas pelo comércio do ouro, que ligou a região ao norte da África muito antes da chegada dos portugueses. As rótas principais eram controladas por negociantes muçulmanos que chegavam à região através de caravanas do comércio transaariano. reticências

Na segunda metade do século dezessete reticências, o comércio da Costa do Ouro seria substancialmente transformado pela ascensão do tráfico de escravos como elemento central da economia local. Entre 1662 e 1700, as exportações britânicas de escravos reticências chegariam a 55.288 cativos e os holandeses embarcariam 9.263 escravos para as Américas. A razão para a supremacia britânica estava na demanda por mão de obra cativa nas suas colônias caribenhas, assim como no comêço da implantação da produção de tabaco na Virgínia.

Apesar do crescimento do comércio de cativos, o comércio de ouro se manteve como atividade relevante. Enquanto os britânicos dominavam o tráfico de escravizados, os holandeses tinham a supremacia do comércio de ouro. De fato, mesmo antes de tomarem o Castelo da Mina, os holandeses já tinham participação significativa no comércio de ouro.


Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar a presença holandesa na África, a seção contribui para o desenvolvimento da Competência específica de Ciências Humanas nº 5.

A presença holandesa no mundo

A existência de uma influente camada social de banqueiros e comerciantes com interesses mercantis permitiu aos holandeses dominar territórios em várias partes do mundo. Além da ocupação de parte do Nordeste brasileiro, no século dezessete, e de sua presença na África, no mesmo período, eles foram responsáveis pela fundação de Nova Amsterdã, futura Nova iórque, nos Estados Unidos.

Segundo Curtin, navios holandeses teriam carregado aproximadamente uma tonelada do minério para a Europa em 1600. Até 1697, a companhia de comércio holandesa (dáblio i cê) exportou 1.700 marcos de ouro anualmente e, segundo [o historiador Uálter] ródinei, os holandeses continuariam sendo associados com o comércio de ouro mesmo no início do século dezoito. Para efeito de comparação, somente 7% das moedas de ouro cunhadas na Inglaterra foram feitas com ouro africano entre 1677 e 1689. Entre 1695 e 1699, quando as exportações totais de ouro da Costa do Ouro atingiram 1,7 toneladas anualmente, os holandeses exportaram três vezes e meia mais ouro do que os britânicos. reticências

Com a expulsão dos portugueses da Costa do Ouro, se seguiria uma fase de supremacia holandesa no comércio da região. Logo, contudo, a Costa do Ouro seria foco de um processo de internacionalização comercial que levaria à construção de vários fortes e fortalezas europeias na região. No essencial, reticências as nações europeias seguiriam o modêlo de comércio usado pelos portugueses, sem se aventurarem pelo interior e funcionando como intermediários nas trocas comerciais entre a Costa do Ouro e outras regiões da Costa Ocidental da África. reticências

Em meados do século dezessete, o viajante dinamarquês Romer diria que ‘nenhuma nação tem agilidade comercial como os holandeses’, o que advinha do fato de que os holandeses tinham ‘seus fortes providos (com mercadorias) o tempo todo, de fórma que os negros podiam escolher (para a compra) entre muitas centenas de produtos de todo o tipo’. Esta estratégia deu aos britânicos e holandeses vantagem significativa no comércio atlântico. Nos castelos e fortes das duas nações, ‘europeus e nativos (muitos dos quais viajam de regiões remotas do interior) têm certeza de que encontraram um mercado seguro para compra e venda, sem os perigos ou gastos de esperas’.

FERREIRA, Roquinaldo. A primeira partilha da África: decadência e ressurgência do comércio português na Costa do Ouro (cêrca de 1637-cêrca de 1700). vária história, Belo Horizonte, volume 26, número 44, dezembro 2010.


Gravura. À frente, o mar com ondas. Ao fundo, terreno cercado com muros. No centro dele um grande castelo de tijolos. No topo uma bandeira da Holanda no mastro. À direita, atrás dos muros do castelo, uma cidade.
Castelo da Mina, fortaleza e entreposto comercial de escravizados localizado na costa da Guiné, gravura de 1704. Em destaque, a bandeira holandesa sinaliza a posse do local, tomado de Portugal em 1637.

Responda em seu caderno.

Questões

  1. Como se estruturou o comércio na Costa do Ouro entre os séculos quinze e dezenove?
  2. Antes da chegada dos portugueses à África, havia um intenso comércio entre a Costa do Ouro e o norte da África. Quem controlava esse comércio e por que meios eles chegavam à Costa do Ouro? Qual era o principal produto desse comércio?
  3. Que atividade, a partir da segunda metade do século dezessete, assumiu o primeiro lugar em importância na economia da Costa do Ouro? Qual foi a participação dos holandeses nessa modalidade de comércio?

Respostas e comentários

Enquanto isso...

  1. O comércio na Costa do Ouro estruturou-se em feitorias e entrepostos construídos pelos europeus nessa região da África Ocidental, por meio dos quais eles controlavam o comércio costeiro, ao mesmo tempo que as rótas comerciais internas eram dominadas pelos africanos.
  2. Antes da chegada dos portugueses à África Ocidental, o comércio entre a Costa do Ouro e o norte da África era controlado pelos mercadores muçulmanos. Provenientes do norte da África, eles chegavam à região em caravanas do comércio transaariano. O principal produto desse comércio era o ouro.
  3. A atividade que assumiu o primeiro lugar em importância na economia da Costa do Ouro a partir da segunda metade do século dezessete foi o tráfico de escravizados. O ouro, entretanto, continuou a ocupar lugar de destaque na economia da região durante vários séculos. Apesar de ter uma participação menor que a dos britânicos no comércio de escravizados, os holandeses também se envolveram nessa atividade. Segundo o autor do texto, os holandeses enviaram mais de 9 mil cativos para a América.

Atividades

Responda em seu caderno.

Aprofundando

  1. Identifique as afirmações incorretas. Depois, reescreva-as, corrigindo-as.
    1. Na produção de açúcar, os senhores de engenho utilizaram inicialmente a mão de obra indígena. Somente mais tarde foi introduzido o trabalho dos africanos escravizados.
    2. A coroa portuguesa estimulou a produção de açúcar em sua colônia da América porque esse artigo era muito valorizado na Europa.
    3. Muitos agricultores, por não terem os equipamentos para fabricar açú-car em sua propriedade, moíam a cana em engenhos de outras pessoas.
    4. Durante o período colonial, o principal produto de exportação da colônia portuguesa na América foi o pau-brasil.
    5. Além de trabalhadores escravizados, os engenhos de açúcar utilizavam trabalhadores livres.
    6. Os africanos escravizados recebiam salário por seu trabalho nos engenhos.
  2. Sobre a mão de obra nos engenhos do Nordeste colonial, responda às questões.
    1. Por que a mão de obra indígena foi substituída pela africana?
    2. No livro Cultura e opulência do Brasil, publicado em 1711, o padre André João Antonil escreveu que os africanos escravizados eram “as mãos e os pés do senhor de engenho”. Explique o significado dessa afirmação.
  3. Sobre a colonização holandesa no Nordeste açucareiro, responda às questões.
    1. Que relação pode ser estabelecida entre a União Ibérica (1580-1640) e as invasões holandesas no Nordeste do Brasil?
    2. Que áreas do Nordeste do Brasil foram ocupadas pelos holandeses?
    3. Qual foi o principal motivo dos conflitos entre os holandeses e os colonos portugueses na década de 1640?
  4. Observe a ilustração, depois responda às questões.
Gravura em preto e branco. Dois homens de chapéu e capa estão em pé olhando para um homem sentado perto de um arbusto. Ele está sem camisa e não tem uma das pernas. Usa uma perna de pau. Ao fundo, algumas palmeiras e montanhas.
É a esse preço que você come açúcar na Europa, gravura de jãn michém morrô, cêrca de 1800. Biblioteca Nacional da França, Paris.
  1. Qual é a situação física do homem que está encostado na árvore? A que grupo social ele e os outros dois homens pertencem?
  2. Nessa paisagem, podemos ver palmeiras. O que isso sugere sobre a localização possível da cena?
  3. Que relação há entre o consumo de açúcar na Europa e o homem no chão?
  1. Muitos produtos, além do açúcar, foram cultivados na América portuguesa, seja para consumo interno, seja para exportação. Identifique que produto está relacionado a cada afirmação: algodão, tabaco, mandioca, pau-brasil e cacau.
    1. Foi o primeiro produto explorado e exportado no Brasil colonial.
    2. Era a base da alimentação indígena e foi adotada como alimento pelos colonizadores europeus.
    3. Era destinado à Europa e principalmente à África, onde era trocado por escravizados.
    4. A produção desse item se deu na região amazônica usando mão de obra indígena escravizada.
    5. A expansão do cultivo e da exportação desse produto está relacionada ao crescimento da indústria têxtil na Inglaterra.

Respostas e comentários

Atividades

  1. Correções: d) Entre os sécu-los dezessete e dezoito, o principal produto de exportação da colônia portuguesa na América foi o açúcar. f) Os africanos escravizados não recebiam salário por seu trabalho nos engenhos.
    1. A substituição explica-se pela lucratividade do tráfico de escravizados africanos, pela escassez de mão de obra indígena, causada pela grande mortandade da população nativa, e pela dificuldade de recapturar os indígenas fugidos.
    2. Os escravizados faziam todo tipo de tarefa, desde o trabalho na lavoura até as atividades envolvidas no processo de fabricação do açúcar, além dos serviços domésticos. Essa gama de atividades explica a afirmação do padre jesuíta André João Antonil reproduzida no enunciado.
    1. O período da União Ibérica coincidiu com as lutas pela independência dos Países Baixos, os quais, na época, pertenciam à Espanha. Livres do contrôle espanhol, os comerciantes holandeses foram proibidos de comercializar com os domínios da Espanha na América, que, naquela fase, incluíam o Brasil. Para usufruir do lucrativo comércio do açúcar produzido no Brasil, os holandeses invadiram territórios do Nordeste açucareiro.
    2. A primeira invasão holandesa ocorreu em 1624, em Salvador, na Bahia. Em 1630, fôrças holandesas ocuparam Olinda e Recife, em Pernambuco, e expandiram seus domínios para outros pontos do litoral nordestino.
    3. O principal motivo desses conflitos foi a cobrança de juros cada vez mais altos sobre os valores emprestados pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais para os colonos portugueses.
    1. O homem encostado na árvore está ferido. Ele perdeu uma perna e um braço e representa um escravizado; os homens brancos que estão de pé parecem europeus ou seus descendentes na América.
    2. Essa árvore é típica de áreas tropicais, o que sugere a representação de uma cena que se passa no Brasil, especificamente na Região Nordeste do país, ou em outra região tropical do continente americano. A representação de um africano escravizado, mão de obra predominante nas plantações de açúcar do Brasil e das ilhas da América Central naquele período, também sugere que o artista representou uma situação no Brasil ou em outra colônia europeia no Caribe.
    3. Para que os europeus consumissem açúcar, era necessária a produção em larga escala, que explorava a mão de obra escravizada em um território de clima e vegetação adequados para a plantação. A fórma como o ilustrador representou o escravizado mostra que essa lógica ocasionou o sofrimento dos que trabalhavam na produção do açúcar.
    1. Pau-brasil; b) Mandioca; c) Tabaco; d) Cacau; e) Algodão.
  1. Identifique a afirmação incorreta sobre a administração holandesa de Maurício de Nassau. Depois, reescreva-a, corrigindo-a.
    1. Durante seu govêrno, a produção e o comércio de açúcar cresceram.
    2. Em seu govêrno, os colonos portugueses ocuparam diversos cargos administrativos.
    3. Sua administração foi caracterizada pela tolerância religiosa e pela concessão de empréstimos aos colonos.
    4. Após a Insurreição Pernambucana, Maurício de Nassau retornou a Pernambuco e assumiu a direção política, militar e financeira da capitania.
    5. Nassau governou entre 1637 e 1644 e transferiu a séde do govêrno de Olinda para Recife.

Aluno cidadão

  1. Atualmente, o consumo excessivo de açúcar é considerado um dos principais riscos à saúde da população mundial. Junte-se a dois colegas para realizar uma pesquisa sobre esse tema seguindo o roteiro.
    1. Pesquisem:
      • que problemas de saúde podem ser causados pelo consumo excessivo de açúcar;
      • quais são as recomendações da Organização Mundial da Saúde (ó ême ésse) a respeito do consumo diário de açúcar.
    1. Com base nos dados obtidos:
      • avaliem se o consumo diário de açúcar de vocês está de acôrdo com as recomendações da ó ême ésse;
      • compartilhem as informações com o restante da turma e argumentem para defender possíveis ações que governos, empresas e sociedade podem realizar para reduzir o consumo de açúcar pela população brasileira.

Conversando com ciências e geografia

8. Leia o texto para responder às questões.

O etanol (ou álcool etílico) é produzido em usinas a partir de matérias-primas como cana-de-açúcar, milho ou beterraba.

Ele é um biocombustível, ou seja, um combustível renovável, que não precisa de materiais de origem fóssil, como o petróleo. Em todo o mundo, os biocombustíveis sempre ficaram em segundo plano devido à facilidade de extração do petróleo e devido à sua abundância. reticências Porém, nem todo biocombustível é uma alternativa tão limpa assim para o planeta. Por causa da complexidade de sua fabricação, o etanol pode reticências até gerar mais emissão de gases poluentes. Isso sem falar no risco de maiores desmatamentos para ampliar as plantações. Nesse ponto, o etanol brasileiro, feito da cana-de-açúcar, leva vantagem. Ele é mais produtivo que o extraído do milho, por exemplo, e provoca um impacto ambiental menor. reticências

COMO é produzido o etanol? Superinteressante, São Paulo, 4 julho 2018. Disponível em: https://oeds.link/OcdoPJ. Acesso em: 21 fevereiro 2022.

  1. Os usos da cana-de-açúcar no período colonial são os mesmos de hoje? Explique.
  2. Aponte as vantagens e desvantagens do uso do etanol em relação ao uso do petróleo.
  3. Por que o etanol produzido no Brasil é mais lucrativo que o produzido em outros países?

Mão na massa

9. Junte-se a alguns colegas para pesquisar e selecionar duas obras produzidas pelos artistas frãns pôst e/ou âubert équirráut. Em um painel, colem reproduções das imagens selecionadas e elaborem legendas com pequenas descrições para cada uma, desenvolvendo considerações a respeito do olhar do europeu sobre o Brasil. Depois, apresentem o painel para a turma e discutam as informações históricas presentes nas obras.


Respostas e comentários
  1. Correção: d) Quando os holandeses se renderam, em 1654, Maurício de Nassau já não estava no Brasil, de onde saíra em 1644 para não mais retornar.
  2. O objetivo da atividade é promover uma reflexão sobre os efeitos do consumo excessivo de açúcar sobre a saúde humana. Após a pesquisa, os alunos devem avaliar os próprios hábitos de consumo de açúcar e, em seguida, sugerir ações para a redução do consumo desse produto na sociedade. O texto “No tempo em que o açúcar não era vilão”, de Celira Caparica (publicado na revista Ciência e Cultura, São Paulo, volume 62, número 4, outubro 2010, disponível em: https://oeds.link/wKmzHk; acesso em: 3 agosto 2022), pode auxiliar os alunos na pesquisa. Ao oferecer a eles uma situação-problema que os levará a pesquisar dados e a propor uma solução para ela, a atividade favorece a habilidade de argumentar com base em dados científicos. No desenvolvimento da atividade, uma possibilidade é envolver os adultos de convivência dos alunos, favorecendo a integração entre família e comunidade escolar.

Bê êne cê cê

A atividade está relacionada ao tema contemporâneo transversal Educação alimentar e nutricional.

    1. Não, pois, ainda que a cana continue servindo para a produção de açúcar, melado, rapadura e aguardente, atualmente ela é utilizada na produção de biocombustível, o etanol.
    2. O etanol é uma fonte de energia renovável e pode ser produzido por meio da agricultura, enquanto o petróleo, combustível fóssil, é finito. No entanto, o etanol pode gerar mais poluentes que o petróleo e causar desmatamento para a ampliação das plantações.
    3. Porque, segundo o texto, é possível produzir maior volume de etanol proveniente da cana-de-açúcar usando a mesma extensão de terras de uma plantação de milho. Isso assegura menor impacto ambiental.

Interdisciplinaridade

Ao abordar a produção de cana-de-açúcar no passado e no presente, considerando os impactos ambientais do cultivo, a atividade se relaciona com o tema contemporâneo transversal Educação ambiental, e contribui para o desenvolvimento de habilidades dos componentes curriculares ciências e geografia, especificamente as habilidades ê éfe zero sete cê ih zero cinco e ê éfe zero sete gê ê zero seis.

9. Ao propor aos alunos que analisem obras de arte como documentos históricos, a atividade permite a eles exercitar procedimentos e método próprios da ciência histórica. A atividade também favorece a prática da sala de aula invertida, em que o aluno apresenta conteúdos aprendidos por ele aos demais integrantes da turma e ao professor.

Glossário

Flamengo
: pessoa natural de Flandres, região da atual Bélgica e um dos principais centros mercantis europeus no século dezesseis.
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Cabedal
: patrimônio ou capital (recursos financeiros).
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Fazenda
: nesse caso, tesouro do Estado português.
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