UNIDADE 4  Mudanças na economia do mundo ocidental

Fotografia. À frente, grande navio carregado com contêineres. Ao fundo, um porto com grande estrutura de contêineres empilhados. Entre eles alguns guindastes.
Porto de Roterdã, Holanda. Foto de 2022. Desde a sua inauguração no século dezesseis, esse porto teve grande importância na comercialização de mercadorias. Atualmente é o maior porto marítimo da Europa.

O que estudaremos na unidade

Quais foram os efeitos da descoberta de ouro e diamantes na América portuguesa? Como se davam as relações econômicas entre as nações europeias? Ao final desta unidade, você compreenderá o período da mineração no Brasil, suas consequências sociais, econômicas e políticas. Entenderá também como o desenvolvimento das práticas mercantilistas contribuiu para o surgimento de novas relações de trabalho, produção e consumo de mercadorias, ainda existentes atualmente.


Respostas e comentários

Abertura da unidade

Esta unidade trata de questões que envolvem a temática da mineração na América portuguesa no século dezoito e do mercantilismo, termo pelo qual ficou conhecido o conjunto de princípios e práticas econômicas das nações europeias no período moderno.

O texto de abertura da unidade tem como objetivo despertar o interesse dos alunos a respeito do descobrimento de ouro e diamantes na América portuguesa, principalmente na região do atual estado de Minas Gerais, e seus desdobramentos na história do Brasil; bem como provocar a curiosidade sobre o modo pelo qual as relações mercantis afetaram antigas tradições de uso da terra, de produção, de consumo e de trabalho, ensejando o sistema econômico vigente atualmente.

A análise das imagens favorece a compreensão do porto como local de conexão entre pessoas e de troca de mercadorias entre diferentes regiões do mundo. Explique aos alunos que os portos de Roterdã, Londres e Lisboa foram, no período moderno, importantes centros econômicos da Europa. Embarcações que transitavam nesses portos transportavam mercadorias do Oriente e da América para a Europa. Atualmente, esses portos permanecem importantes, interligando-se com outros meios de transporte para possibilitar a circulação de mercadorias.

Fotografia. À direita, navio carregado com muitos contêineres. À esquerda, grande estrutura metálica com guindastes na ponta.
Navio com contêineres próximo ao porto de Londres, Reino Unido. Foto de 2021. Entre os séculos dezessete e dezoito, esse porto se tornou um importante centro comercial na Europa.
Fotografia. Muitos contêineres empilhados em um porto. Próximos a eles, pequenos barcos atracados. Ao fundo, colina com vegetação.
Contêineres no porto de Lisboa, Portugal. Foto de 2020. Esse porto foi um importante centro de comércio de mercadorias, inclusive ouro, durante a colonização da América portuguesa.

Sumário da unidade

Capítulo 10

A mineração na América portuguesa, 168

Capítulo 11

Mercantilismo: uma economia de transição, 186


Respostas e comentários

Unidade 4: justificativas

Na primeira página de cada capítulo desta unidade, estão listados os objetivos previstos para serem trabalhados com os alunos.

Os objetivos do capítulo 10 se justificam pela importância da mineração no Brasil desde os tempos coloniais até hoje, bem como das relações sociais que emergiram dessa atividade econômica e da nova dinâmica que a mineração imprimiu à vida colonial, como os deslocamentos de pessoas e de mercadorias, a integração mais efetiva de algumas partes do território, a urbanização e suas consequências, sobretudo para a população pobre e escravizada.

Os objetivos do capítulo 11 se justificam por contribuir para a compreensão do mercantilismo, bem como da formação do sistema capitalista vigente hoje. Além disso, os objetivos tangenciam conceitos econômicos fundamentais atualmente, como a concorrência entre nações, a terra como mercadoria imóvel e a remodelação das práticas de consumo concomitante à consolidação das manufaturas.

CAPÍTULO 10  A mineração na América portuguesa

Fotografia. Escombros de casas encobertas e destruídas por grande camada de lama. Ao redor, algumas árvores.
Vista dos danos causados pelo rompimento da barragem de uma empresa mineradora, em Mariana, Minas Gerais. Foto de 2015. A população local permanece lutando para que a empresa responsável pelo desastre indenize adequadamente os prejudicados.

O período colonial da mineração brasileira, que você estudará neste capítulo, corresponde à descoberta de ouro e diamantes nas terras do Brasil, com a consequente ocupação da região das Minas Gerais e da porção centro-oeste do território. A atividade mineradora foi extremamente lucrativa para a coroa portuguesa, mas teve um alto custo ambiental.

Atualmente, a mineração continua sendo uma atividade econômica importante para o Brasil. No primeiro semestre de 2021, o setor arrecadou cento e quarenta e nove bilhões de reais. Contudo, problemas ambientais decorrentes dessa atividade persistem.

A fotografia desta abertura mostra a situação do distrito de Bento Rodrigues, no município de Mariana, em Minas Gerais, após um dos piores desastres ambientais da história brasileira. Em novembro de 2015, o rompimento de uma barragem de contenção de rejeitosglossário , operada por uma empresa mineradora, provocou a destruição do local, o desaparecimento de pessoas, o desalojamento de famílias, a contaminação de rios, paralisando a principal fonte de renda dos pescadores e colocando várias espécies de peixes em ameaça de extinção, entre outras consequências.

  • Você sabe quais são as principais áreas de exploração de minério no Brasil atualmente?
  • Com base em seus conhecimentos, comente quais são os principais danos ambientais causados pela exploração de minérios.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Este capítulo contempla a habilidade ê éfe zero sete agá ih um um (ao oferecer oportunidades de analisar a formação histórico-geográfica do território da América portuguesa por meio de mapas históricos), além de abranger parcialmente as habilidades ê éfe zero sete agá ih um dois (ao tratar da distribuição territorial da população brasileira no período da mineração, considerando sua diversidade étnica, racial e cultural) e ê éfe zero sete agá ih um seis (ao identificar os agentes responsáveis pelo tráfico humano e as regiões e zonas de procedência dos escravizados). O trabalho para o desenvolvimento dessas habilidades se completa ao longo de outros capítulos, conforme indicações no quadro de habilidades do ano.

Objetivos do capítulo

  • Compreender a situação econômica de Portugal no final do século dezessete e situar a importância da descoberta de ouro e diamantes no Brasil nesse contexto.
  • Analisar a dinâmica de funcionamento das regiões mineradoras no período colonial.
  • Conhecer a formação e a composição da sociedade das Minas Gerais, sobretudo no século dezoito.

Abertura do capítulo

A abertura deste capítulo evidencia os problemas sociais e ambientais decorrentes da atividade mineradora ao longo da história, apesar da sua importância econômica.

Comente com os alunos que as principais reservas minerais no país encontram-se nos estados do Pará, Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia e Amazonas.

Aproveite para investigar os conhecimentos prévios dos alunos sobre os impactos ambientais da atividade mineradora. Destaque que essa atividade pode resultar em problemas como desmatamento, contaminação do solo, de rios e dos lençóis freáticos por produtos químicos e mortandade de plantas e animais. Além dos impactos ambientais, existem os impactos sociais, como o trabalho informal e prejuízos às comunidades indígenas e quilombolas que vivem nas áreas de mineração.

Os dados sobre a arrecadação da atividade mineradora em 2021, citados nesta abertura, podem ser consultados em: https://oeds.link/Au9Jb0. Acesso em: 24 junho 2022.

Bê êne cê cê

A abertura da unidade contribui para o desenvolvimento da Competência específica de Ciências Humanas nº 3, pois envolve a identificação e a explicação da intervenção humana na natureza na atualidade. Além disso, favorece o trabalho com o tema contemporâneo transversal Educação ambiental.

A crise em Portugal

Na segunda metade do século dezessete, os portugueses acabavam de sair vitoriosos de duas grandes guerras: uma contra a Espanha, iniciada em 1641, um ano após o fim da União Ibérica; outra contra a Holanda, encerrada em 1654, com a expulsão dos holandeses do Brasil.

As vitórias, entretanto, tiveram custos altos para o Império Português. Além dos gastos com equipamento e manutenção das tropas nos conflitos, Portugal perdeu importantes colônias na África e na Ásia, o que contribuiu para agravar a crise de sua economia. Além disso, o açúcar produzido no Nordeste do Brasil, principal colônia portuguesa, sofria com a queda dos preços do artigo na Europa.

Assim, no fim do século dezessete, Portugal já não era a potência marítimo-comercial da época das grandes navegações.

O Brasil, reforço principal desta coroa, pede socorros reticências. O Maranhão mal se sustenta no que é e receia a cobiça dos estrangeiros que o ameaçam reticências. Portugal, enfim, se acha sem fôrças, sem ânimo para se sustentar reticências; não só falta para grandes despesas e para pagar o que deve de justiça, mas ainda para as despesas miúdas.

RELATÓRIO do Conselho da Fazenda de Portugal [1657]. In: SARAIVA, Hermano José. História concisa de Portugal. vigésima terceira edição Lisboa: Publicações Europa-América, 1996. página 231-232.

Gravura em preto e branco. À direita, pessoas negras escravizadas com enxadas levantadas. Uma dessas pessoas carrega uma criança pela mão. À esquerda pessoas negras escravizadas dançando e próximas a uma construção com telhado de palha. Ao fundo uma mulher e um homem negros dentro de uma casa simples. Entre eles uma pequena fogueira. Ao fundo, casas em colinas, árvores e um moinho.
Escravos em Barbados, gravura de rálfi istêneti, cêrca de 1800. Barbados é uma ilha das Antilhas. O açúcar antilhano ofereceu forte concorrência à produção açucareira da América portuguesa.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

1. Qual era a situação econômica do Império Português na segunda metade do século dezessete?


Respostas e comentários

Recapitulando

1. Embora tivesse saído vitorioso das guerras de que participou durante o século dezessete, o Império Português estava enfraquecido economicamente pelos altos custos desses conflitos bélicos, pela queda dos preços do açúcar na Europa e pela perda de colônias importantes para o comércio internacional na África e na Ásia.

Atividade complementar

Para mostrar aos alunos as semelhanças e as diferenças entre um engenho de açúcar na América portuguesa e em Barbados, faça uma atividade oral, analisando a gravura Escravos em Barbados, de rálfi istêneti, reproduzida nesta página. Retome a descrição do engenho de açúcar da América portuguesa do capítulo 7 (páginas 123 e 124) e, com base nela, peça aos alunos que identifiquem as unidades do engenho de Barbados representadas na imagem. Assim como nos engenhos da América portuguesa, é possível reconhecer na gravura, em primeiro plano, o canavial e a senzala, área destinada aos escravizados com construções mais simples (teto coberto por folhas de palmeira). Ao fundo da imagem, cercada por palmeiras, em local bem afastado do alojamento dos escravizados, encontra-se a casa-grande. Do lado direito da gravura estão algumas das instalações destinadas à produção de açúcar que poderiam ser a casa do engenho e a casa de purgar. Entretanto, nas colônias americanas era comum o uso de moendas movidas por fôrça animal ou pela fôrça da água, enquanto em Barbados existiam moendas movidas à energia eólica, como representado na gravura. Não é possível identificar a presença da capela.

A descoberta do ouro

O desejo de encontrar metais preciosos moveu os exploradores ibéricos desde o início da colonização. Em 1545, foram descobertas em Potosí, na atual Bolívia, grandes jazidas de prata que enriqueceram a coroa espanhola. Essa notícia aumentou a expectativa dos portugueses de encontrar metais preciosos no Brasil.

A descoberta de metais preciosos era vista pela coroa portuguesa como a principal solução para as dificuldades econômicas do reino.

Grandes jazidas de ouro foram descobertas por bandeirantes paulistas somente em fins do século dezessete, na região do atual estado de Minas Gerais. É difícil determinar a data exata desse acontecimento, mas sabe-se que ocorreu na década de 1690.

A notícia da descoberta se espalhou, atraindo aventureiros. Os caminhos para a região de Minas Gerais foram abertos rapidamente, e vários povoados formaram-se nas áreas mineradoras. No comêço do século dezoito, a mineração concentrava-se nas regiões de São João del-Rei, Vila Rica (atual Ouro Preto), Nossa Senhora do Carmo (atual Mariana) e Nossa Senhora da Conceição do Sabará (atual Sabará).

Áreas mineradoras (século dezoito)

Mapa. Áreas mineradoras, século dezoito. Destaque para o atual território brasileiro.

Legenda: 
Vermelho: áreas de mineração.
Linha cinza: limites atuais do Brasil.

Áreas de mineração: grande área entre os atuais estados de Mato Grosso e Goiás, incluindo Vila Real de Cuiabá, São Pedro del-Rei e Vila Boa de Goiás. Grande área no atual estado de Minas Gerais, incluindo Araçuí, Arraial do Tejuco (Diamantina) e Caeté. Pequena área no atual estado da Bahia, incluindo Jacobina. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de zero a 360 quilômetros.

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M.; REIS, Arthur C. F.; CARVALHO, Carlos D. de C. Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: fei , 1991. página 58.


Responda em seu caderno.

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Compare este mapa com um mapa atual do Brasil e identifique as regiões correspondentes às áreas com maior concentração de atividade mineradora no século dezoito.


Respostas e comentários

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As atuais regiões Sudeste e Centro-Oeste correspondem às áreas de maior concentração de atividade mineradora no século dezoito.

Bê êne cê cê

A análise de um mapa histórico em comparação com um mapa atual para identificar as áreas de ocupação da atividade mineradora nas terras do Brasil favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih um um.

Estímulo à busca de novas minas

Na época das primeiras descobertas de ouro no Brasil, a coroa portuguesa permitia que a mineração fosse feita apenas por quem havia encontrado a jazida. Essa medida era uma fórma de estimular a busca por novas minas.

Ampliando: “É ouro!”

“As descobertas nas Minas ocorreram na mesma década, quase simultaneamente, em diferentes lugares, mas sempre ao longo da linha que se estende entre as atuais cidades de Ouro Preto, Diamantina, entre a bacia do rio Doce e a do São Francisco. Aí, no centro atual do estado de Minas Gerais – o ouro estava esparramado em quantidade espantosa no leito dos rios e riachos que corriam no fundo dos vales ou nos pequenos planaltos elevados – as chapadas – que se alastravam pelas encostas vertiginosas do maciço do Espinhaço. Era um ouro miúdo que surgia na fórma de pedrinhas faiscantes, grãos ou pó, de coloração amarelada, cinza-amarelada, preta, esbranquiçada, ou com aspecto opaco e muito sujo – este último chamado de ‘ouro podre’.”

Chuárquis, Lilia M.; istárlin, Heloisa M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. página 111.

O povoamento da região das minas

No final do século dezessete, as terras que atualmente fazem parte do estado de Minas Gerais eram habitadas principalmente por povos indígenas. A descoberta de ouro provocou o deslocamento em massa de colonos em direção à região. Desse modo, em 1711, vários povoados já haviam se formado ao longo do curso dos rios e nas encostas das montanhas.

Pessoas de origens muito diferentes chegaram à região das chamadas Minas Gerais interessadas em encontrar ouro: bandeirantes paulistas e alguns poucos baianos, funcionários da coroa, comerciantes, padres, trabalhadores livres, libertos e escravizados, cristãos-novos (judeus ou descendentes de judeus convertidos ao cristianismo) e pequenos proprietários de terra, principalmente do Nordeste, que sofriam com a crise do mercado açucareiro.

Além de moradores da colônia, milhares de pessoas deixaram Portugal para se dedicar à mineração na região. Estima-se que, entre 1700 e 1760, mais de 600 mil portugueses tenham migrado para as terras do Brasil com esse objetivo. Essa repentina aglomeração de pessoas na região das minas e o alto rendimento obtido com a exploração de minérios provocaram o deslocamento do centro econômico da colônia das áreas açucareiras do Nordeste para o centro-sul da América portuguesa.

Saiba mais

Trocas culturais

No período da mineração, houve uma enorme confluência de pessoas da metrópole e de diversas partes da colônia para a região das Minas Gerais. Lá ocorriam trocas comerciais e culturais.

A população colonial era composta de indígenas, europeus (principalmente portugueses), africanos e seus descendentes. Apesar dos preconceitos e das fortes tensões sociais, a convivência proporcionou intensa troca cultural entre esses povos. As misturas revelavam-se na miscigenação, nas crenças populares, nas brincadeiras das crianças, na linguagem e na culinária. Na preparação de alimentos, tornou-se comum o uso de produtos de origem asiática, como a cana-de-açúcar, o gengibre, o cravo e a canela, por causa das conexões dos portugueses com o Oriente desde as Cruzadas.


Gravura em preto e branco. Pessoas próximas a um rancho com telhado de palha. A maioria delas é negra. As crianças estão sem roupas. Um adulto carrega uma cesta grande na cabeça. À esquerda, um homem branco montado a cavalo carregando uma sombrinha. Ao fundo, pessoas perto de um caldeirão pendurado em cima de uma fogueira. Em segundo plano, colinas e vegetação.
Rancho na Serra do Caraça, gravura de Carr Friedrich Filip von Martius e iôrrân bapitísti fôn ispíquis, cêrca de 1820. Biblioteca Pública e Universitária de nê chatél, Suíça. Os ranchos serviam de abrigo ou de local para refeições e se formavam no caminho das minas pela grande quantidade de viajantes que por lá passavam.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar da distribuição territorial da população brasileira no período da mineração, considerando a diversidade étnica, racial e cultural, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero sete agá ih um dois e, ao analisar o movimento de populações e de mercadorias no território do Brasil colonial setecentista, favorece o desenvolvimento da Competência específica de História nº 5.

A criação da capitania de Minas Gerais

A chegada de tantas pessoas à região das minas foi percebida como ameaça pelos paulistas. Como eles haviam descoberto muitas lavras auríferasglossário , exigiam da coroa a exclusividade na concessão do direito de exploração do ouro e o contrôle administrativo da região.

Os conflitos entre paulistas e recém-chegados, chamados pejorativamente de emboabas (palavra de origem Tupi utilizada pelos paulistas para designar os forasteiros), provocaram o episódio conhecido como Guerra dos Emboabas, ocorrida entre 1707 e 1709. Após algumas vitórias militares, o líder dos emboabas assumiu o govêrno da região das minas, e os paulistas ficaram impedidos de entrar no território.

Além de acentuar o desentendimento entre os colonos, a Guerra dos Emboabas expôs o conflito entre a coroa portuguesa e os habitantes da região mineradora, que procuravam assegurar o abastecimento de seus arraiais sem interferências externas. Muitos colonos eram ligados ao contrabando de produtos e temiam que a coroa aumentasse a fiscalização da região.

Em 1709, foi criada a capitania de São Paulo e Minas do Ouro, que abrangia terras correspondentes às dos atuais estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Em 1711, alguns arraiais foram elevados à categoria de vilas, como a Vila do Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo (atual Mariana). Tais vilas passaram a contar com instituições governamentais, como o Senado da Câmara. Em 1720, foi criada a capitania das Minas Gerais, desmembrada da capitania de São Paulo. A criação desses núcleos locais e a fundação das vilas facilitaram a fiscalização e a cobrança de taxas e impostos.

Fotografia. Duas igrejas, lado a lado. Ambas têm o contorno da estrutura e das janelas em amarelo. As paredes estão escurecidas. Uma tem duas torres com linhas retas e a outra tem torres cilíndricas. No centro, entre as duas, um pelourinho, estrutura comprida com uma balança pendurada no alto, de um lado, e uma espada do outro. No céu azul, algumas nuvens.
Igrejas no centro histórico de Mariana, Minas Gerais. Foto de 2017. Ao centro, observa-se o pelourinho, construção que servia de marco para a fundação das vilas e na qual eram castigados os condenados por algum crime e os escravizados.

Refletindo sobre

No século dezoito, os colonos provenientes de Portugal ou mesmo de diferentes partes da colônia não compartilhavam uma identidade comum. Por isso, os paulistas viam os demais colonos como forasteiros, intrusos. Atualmente, os brasileiros aceitam sem resistência migrantes de outras partes do país ou ainda existe preconceito entre os habitantes de diferentes estados? Debata a questão com os colegas e argumente para defender o seu ponto de vista.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Qual foi a consequência da descoberta de ouro nas Minas Gerais?
  2. O que foi a Guerra dos Emboabas?

Respostas e comentários

Refletindo sobre

Espera-se que os alunos reflitam sobre a diversidade da população brasileira e a existência de preconceito contra os migrantes na atualidade. Pergunte a eles se já presenciaram ou acessaram notícias de atitudes preconceituosas contra migrantes, destacando os malefícios desse tipo de comportamento. Destaque que a diversidade de vivências e saberes torna a cultura brasileira mais versátil, plural e rica.

Bê êne cê cê

Ao valorizar a diversidade da população brasileira, a atividade relaciona-se ao tema contemporâneo transversal Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras, e contribui para o desenvolvimento da Competência geral da Educação Básica nº 6 e da Competência específica de Ciências Humanas nº 1.

Recapitulando

  1. Com a descoberta do ouro, o território das Minas Gerais, que antes era habitado majoritariamente por indígenas, passou a receber colonos, funcionários da coroa, comerciantes, trabalhadores livres e escravizados, que vinham de outras partes da América portuguesa e da Europa. Como a extração de minérios preciosos era muito lucrativa, houve deslocamento de pessoas do nordeste, antigo centro econômico da colônia, para o centro-sul.
  2. Os paulistas, que inicialmente haviam descoberto muitas minas de ouro na região, se incomodaram com a presença dos exploradores vindos de outras regiões, os quais foram apelidados pejorativamente de emboabas. A tensão entre os dois grupos foi causada pelo desejo dos paulistas de manterem o contrôle sobre as minas que haviam descoberto, o que provocou a Guerra dos Emboabas, entre 1707 e 1709.

O regulamento de 1693

A criação de vilas era privilégio da coroa portuguesa. No entanto, excepcionalmente, um regulamento de 1693 permitia a criação de vilas pelo governador de uma capitania para garantir a ordem e evitar conflitos. Antônio de Albuquerque Coelho foi o primeiro governador da capitania de São Paulo e Minas do Ouro, entre 1709 e 1713.

A mineração em Mato Grosso, Bahia e Goiás

A busca pelo ouro continuou pelo interior da colônia. Outras jazidas foram encontradas em locais onde hoje se situam os estados da Bahia, Mato Grosso e Goiás.

Em 1702, exploradores encontraram ouro na região de Jacobina, na Bahia. Entre 1718 e 1734, bandeirantes paulistas exploraram jazidas de ouro às margens dos rios Coxipó-Mirim e Guaporé e na Chapada de São Francisco Xavier, no Mato Grosso. A mineração no leito do Rio Cuiabá deu origem à cidade, fundada em 1719. A descoberta do precioso metal favoreceu a colonização portuguesa nessas regiões, porém a intensa exploração causou o rápido esgotamento das jazidas.

Fotografia. Vista aérea de um longo e sinuoso rio, atravessado por uma ponte. Na margem direita vegetação e na margem esquerda, cidade com prédios e muitas casas.
Vista do Rio Cuiabá, em Cuiabá, Mato Grosso. Foto de 2021.

O contrôle sobre a mineração

Em razão da descoberta de ouro, Portugal aumentou o contrôle sobre o Brasil, sua principal colônia. Para isso, em 1702 fundou a Intendência das Minas, encarregada de fiscalizar a atividade mineradora, distribuir as datasglossário e cobrar os impostos.

O principal imposto era o quinto, que correspondia a 20% do ouro extraído. Entre 1717 e 1719, a coroa instituiu as Casas de Fundição, para onde todo o ouro encontrado deveria ser levado, transformado em barras e marcado com o selo real, depois de recolhido o imposto. Dessa fórma, a circulação de ouro em pó ou em pepitas foi proibida.

No final da década de 1740, a arrecadação caiu e a coroa instituiu a capitação, que consistia no pagamento de 17 gramas de ouro por escravizado maior de 14 anos empregado na mineração. Em 1751, a capitação foi substituída pela cobrança da quantia anual de 100 arrobasglossário de ouro. Caso essa quantia não fosse paga, toda a população ficaria sujeita à derrama, ou seja, à cobrança forçada dos impostos em atraso.

Fotografia. Duas barras de ouro. São retangulares com símbolos e inscrições gravados em sua superfície.
Barras de ouro quintadas (marcadas com o selo real), século dezoito. Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro. A fundição do ouro em barras era uma fórma de o govêrno metropolitano controlar a taxação do minério.

Respostas e comentários

Ampliando: revolta antifiscal na Vila de Nossa Senhora da Piedade do Pitangui

“Além de opor-se ao estabelecimento de emboabas reticências, os paulistas, residentes em Pitangui, entraram em confronto com as autoridades régias, quando estas desejaram aumentar seu grau de contrôle sobre a atividade aurífera; não aceitavam a intromissão da coroa no referente à distribuição das datas e negavam-se a pagar os quintos reais. [...]

O vulto alcançado pelo conflito fez com que, por volta de 1718, muitos dos moradores preferissem deixar Pitangui a submeter-se às autoridades. reticências os representantes da coroa, esgotadas as possibilidades de acôrdo, decidiram fazer uso da violência; enviaram, em 1720, uma expedição militar à Vila, só assim a coroa conseguiu impor seu efetivo contrôle sobre a localidade.”

LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. Análise da estrutura populacional e econômica de alguns núcleos mineratórios (1718-1804). 1980. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Economia e Administração, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1980. página 16.

Ampliando: regras para a exploração de novas jazidas

“O descobrimento de jazidas era obrigatoriamente e sob penas severas comunicado à Intendência da capitania em que se fizera. Os funcionários competentes reticências se transportavam então ao local, faziam a demarcação dos terrenos auríferos, e em dia e hora marcados e previamente anunciados, realizava-se a distribuição entre os mineradores presentes. Qualquer pessoa podia comparecer e participar da distribuição, mas não se aceitava representação de terceiros. A distribuição se fazia por sorte e proporcionalmente ao número de escravos com que cada pretendente se apresentava; mas antes dessa distribuição geral, o descobridor da jazida tinha direito de escolher livremente sua data (era o nome dado às propriedades mineradoras); e depois dele, a Fazenda Real também reservava para si. reticências

Entregues as datas aos contemplados, deviam eles dar início à exploração no prazo de quarenta dias, sob pena de devolução. Transações com datas não eram permitidas, e somente se autorizava a venda na hipótese devidamente comprovada da perda de todos os escravos. reticências

PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2008. página 57-58.

A revolta de Filipe dos Santos

A excessiva cobrança de impostos revoltou a população das Minas Gerais. Em 1720, o comerciante português Filipe dos Santos, acompanhado de aproximadamente 2 mil mineiros, invadiu a casa do ouvidor-mor de Vila Rica para protestar contra a instalação das Casas de Fundição e o alto preço cobrado pelas mercadorias vendidas na região.

O conde de Assumar, governador da capitania entre 1717 e 1721, combateu os revoltosos. Os responsáveis pela rebelião foram presos, e Filipe dos Santos foi enforcado. Somente em 1725 a coroa instalou as Casas de Fundição.

reticências como se mostra concludentemente pelas testemunhas do sumário, ser o réu Filipe dos Santos Freire notório amotinador do povo reticências o que também se mostra das perguntas que foram feitas ao réu que foi também achado em reticências flagrante delito convocando o povo depois deste estar sossegado e se lhe ser concedido todos os propósitos e reticências perdão geral a todos os agressores no que mais se mostra a intenção do réu de expulsar ao mesmo governador e justiça [incorrendo] de horroroso delito, necessidade de castigo para exemplo dos mais que se acham em armas, condenam ao réu, que com baraço e pregão vá pelas ruas públicas desta vila e morra morte natural para sempre reticências.

CERTIDÃO em cópia do Acórdão em Junta com a sentença condenando à morte Filipe dos Santos. Vila Rica, 18 de julho de 1720. In: IMPRESSÕES rebeldes. Niterói: ú éfe éfe, 2019. Disponível em: https://oeds.link/zQtlvb. Acesso em: 21 fevereiro 2022.


Responda em seu caderno.

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  1. Qual foi o motivo alegado para a condenação de Filipe dos Santos?
  2. Qual era o objetivo desse tipo de condenação?
Pintura.  No centro, dois homens brancos com roupas rasgadas. Um deles, em destaque, tem um ferimento no ombro. À frente dele, um homem negro sem camisa e descalço sentado no chão com os braços esticados. À direita, um chapéu caído no chão. À esquerda, dois cavalos vistos parcialmente. Os cavalos parecem agitados. Ao fundo, uma multidão observando.
Detalhe de O julgamento de Filipe dos Santos, pintura de Antônio Parreiras, 1923. Museu Antônio Parreiras, Niterói, Rio de Janeiro.

A descoberta de diamantes

O ouro não foi a única riqueza extraída nas Minas Gerais. Por volta de 1715, exploradores encontraram diamantes na região do Serro Frio, onde se formaria o Arraial do Tejuco, atual Diamantina. Com a descoberta, Portugal aumentou o contrôle sobre essa área. Em 1734, foram criadas a Demarcação Diamantina e a Intendência dos Diamantes.

Ao criar a Demarcação Diamantina, a coroa praticamente isolou a área do restante da colônia. Dentro dela, o intendente dos diamantes administrava todos os aspectos da vida cotidiana de seus habitantes.

Inicialmente, a extração dos diamantes seguiu as mesmas regras estabelecidas para as minas de ouro, ou seja, a cobrança do quinto e a divisão das jazidas em datas. A partir de 1740, foi instituído o regime de concessão e contrato, no qual um único contratador explorava a mina e entregava à coroa uma parte das pedras extraídas. Em 1771, Portugal criou a Real Extração, que tornava a exploração de diamantes monopólio da Real Fazenda.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Onde foi encontrado ouro na colônia além de Minas Gerais?
  2. Sintetize as medidas tomadas pela coroa para controlar a exploração do ouro e garantir a máxima arrecadação nas minas.
  3. Que mecanismos foram usados pela coroa para controlar a exploração de diamantes?

Respostas e comentários

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A análise de um documento do século dezoito com grafia atualizada, mas linguagem da época, pode ser difícil para os alunos, por isso, recomenda-se realizar a atividade coletivamente.

  1. Filipe dos Santos foi condenado por liderar a população contra as autoridades que representavam a coroa portuguesa na colônia.
  2. O objetivo da condenação era dar exemplo do que acontecia com quem enfrentava o poder da metrópole. Discuta com a turma a postura da coroa de realizar condenações exemplares de rebeldes como fórma de manter o contrôle sobre os colonos. Explique que esse contrôle era fundamental para assegurar a administração metropolitana da exploração dos recursos da colônia.

Recapitulando

  1. Além de Minas Gerais, a exploração de ouro ocorreu em regiões que hoje pertencem aos estados de Goiás, Mato Grosso e Bahia.
  2. A coroa adotou para a região das minas a cobrança do quinto. Em 1702, criou a Intendência das Minas. Entre 1717 e 1719, a coroa instituiu as Casas de Fundição a fim de combater o contrabando. Além disso, proibiu a circulação de ouro em pó ou em pepitas. Na década de 1740, a coroa instituiu a capitação e, em 1751, a cobrança mínima de 100 arrobas anuais; posteriormente, criou a derrama.
  3. Na exploração dos diamantes, em vez de conceder datas, a coroa estabeleceu o contrôle por meio de um contratador e, depois, por um intendente. A partir de 1771, a extração de diamantes passou a ser monopólio da Real Fazenda.

O trabalho de mineração

A maior parte do ouro explorado na colônia foi encontrada próximo à superfície, principalmente nas margens e nos leitos dos rios, nos denominados depósitos aluvionaresglossário . O ouro extraído desses locais, por essa razão, era chamado de ouro de aluvião. Com a ajuda da bateia, o mineiro separava o ouro do cascalho e da areia que o acompanhavam.

A exploração do ouro de aluvião mais superficial podia ser feita por indivíduos com poucos recursos, chamados faiscadores. Homens livres pobres, negros libertos e até escravizados participavam desse tipo de garimpo.

Nas grandes áreas da mineração, chamadas lavras, a lavagem do terreno era feita usando ferramentas especializadas e o emprego do trabalho de grande número de escravizados. Esse tipo de mineração exigia maior organização e financiamento e, por isso, era controlado por colonos com mais recursos financeiros.

O auge da exploração de minérios na colônia ocorreu entre 1700 e 1760. Calcula-se que cêrca de quinhentas e sessenta toneladas de ouro extraído das terras do Brasil foram destinadas a Lisboa nesse período.

Por volta de 1770, houve uma queda significativa na produção aurífera, mas o garimpo de pequenas pepitas e de ouro em pó continuou envolvendo muitas pessoas. Na atividade mineradora também existiam os escravos de ganho, que eram escravizados com alguma autonomia para trabalhar, mas que deviam entregar uma quantidade de ouro predefinida ao seu proprietário no final de determinado período de trabalho.

Fotografia. Homem de chapéu de palha e camisa xadrez azul, abaixado no rio de água límpida. Está com as mangas da camisa e as barras da calça dobradas. Ele tem nas mãos uma bateia, a qual usa para revirar o cascalho do rio.
Garimpeiro usando bateia para minerar em Amajari, Roraima. Foto de 2021. A bateia ainda é usada atualmente na mineração.
A prática do contrabando

A principal preocupação da coroa nas regiões de mineração era a de impedir o contrabando. Apesar da intensa fiscalização dos funcionários do govêrno, muito minério circulava na ilegalidade, isto é, sem pagar as altas taxas impostas sobre a atividade mineradora. Além disso, à medida que os minérios disponíveis nas lavras se esgotavam, aumentava a quantidade contrabandeada.

Mineradores, comerciantes e até clérigos escondiam o ouro para evitar a taxação da coroa. Uma das principais fórmas de contrabando era por meio da fundição ilegal, que falsificava as barras de ouro imprimindo nelas o selo da coroa portuguesa. Outras fórmas de evitar a taxação eram a adição de outros metais, como o estanho, às moedas portuguesas e a prática de esconder ouro ou diamantes dentro de imagens religiosas ocas, os chamados “santos do pau oco”.

Escultura. Imagem de Nossa Senhora do Rosário, mulher de rosto redondo, usa um lenço na cabeça e túnica comprida. Segura em um de seus braços um bebê, a representação do Menino Jesus. Usa uma coroa prateada. Aos pés da imagem, cabeças de anjo. Ao lado, fotografia da parte de trás da imagem, com um buraco retangular nas costas.
Escultura de Nossa Senhora do Rosário, século dezoito. Museu da Inconfidência, Ouro Preto, Minas Gerais. Note a abertura na parte de trás dessa “santa do pau oco”.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Explique o que é ouro de aluvião e qual é a função da bateia.
  2. Você já ouviu alguém ser chamado de “santo do pau oco”? O que essa expressão quer dizer atualmente e de que fórma se relaciona com o período colonial?

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar as técnicas de mineração do ouro, o conteúdo permite identificar a atividade mineradora como fórma de intervenção do ser humano na natureza por meio do trabalho, contribuindo para o desenvolvimento da Competência específica de Ciências Humanas nº 3.

Recapitulando

  1. O ouro de aluvião é o ouro encontrado próximo à superfície, principalmente nas margens e no leito dos rios. Para extraí-lo, é necessário separar o metal de outros sedimentos. A bateia é o instrumento até hoje utilizado pelos trabalhadores para separar o ouro, e outros minérios, do cascalho e da areia que o acompanham.
  2. Atualmente, chamar alguém de “santo do pau oco” significa dizer que a pessoa aparenta ser boa, mas em essência não é. A expressão está relacionada às imagens de santo ocas usadas para contrabandear minérios no período colonial, isto é, objetos que enganavam pela aparência.

Bateia: uma tecnologia africana

Ao analisar documentos sobre a mineração nas regiões africanas da Costa da Mina, do Sudão Ocidental e da Etiópia, desde o século dezesseis, pesquisadores encontraram muitas semelhanças entre o modo como se extraía o ouro nesses locais e o modo como esse minério era garimpado na América portuguesa do século dezoito. Assim, concluiu-se que os africanos escravizados que trabalhavam nas minas foram os responsáveis pela introdução do uso da bateia no Brasil.

Paracatu e as práticas de mineração

O Museu da Pessoa é um museu virtual cujo acervo é formado por depoimentos orais. Em 2017, o museu realizou um projeto para contar a história da cidade mineira de Paracatu, localizada a noroeste do estado de Minas Gerais. Paracatu foi uma região muito rica em ouro, especialmente ouro de aluvião. Como a descoberta de suas jazidas foi tardia, foi possível recolher os depoimentos das pessoas que exploraram ouro às margens do rio. As histórias estão disponíveis em: https://oeds.link/3YVrzL. Acesso em: 27 maio 2022.

O abastecimento das áreas de mineração

A extração de metais e pedras preciosas contribuiu para formar um mercado interno na colônia, articulando as capitanias mais próximas das áreas mineradoras, como São Paulo e Rio de Janeiro, e as mais distantes, como as do norte e as do sul.

Durante as primeiras décadas de exploração das minas, faltavam para a população produtos básicos, como alimentos e roupas. Não havia lavouras, e o transporte dos produtos para a área mineradora, feito principalmente por tropas de burros, era demorado e dispendioso. A procura por itens de primeira necessidade era maior que a oferta, e os preços eram bem mais elevados do que os praticados em outras partes da colônia (consulte o quadro).

VALOR DE ALGUMAS MERCADORIAS EM MEADOS DO SÉCULO XVIII (EM RÉIS)

Mercadoria

São Paulo

Minas Gerais

1 libra de açúcar

120

1.200

1 galinha

160

4.000

1 queijo da terra

120

3.600

1 queijo flamengo

640

19.200

1 boi de corte

2.000

120.000

1 cavalo

10.000

120.000

Fonte: SIMONSEN, Roberto. História econômica do Brasil: 1500-1820. São Paulo: Nacional, 1978. página 298.

As mercadorias provenientes do nordeste, do sul e do exterior passavam pela cidade do Rio de Janeiro antes de seguir para a capitania das Minas Gerais. Por causa do aumento do fluxo comercial entre a região das minas e o Rio de Janeiro, outros arraiais e vilas foram se formando ao longo dos caminhos, contribuindo para a expansão urbana da América portuguesa.

A importância estratégica e econômica do Rio de Janeiro e a proximidade da cidade com a região de mineração ajudam a explicar a ordem dada pela coroa portuguesa de transferir, em 1763, a séde do vice-reino do Brasil de Salvador, na Bahia, para o Rio de Janeiro. A cidade tornou-se o principal centro urbano da colônia e assumiu o papel de principal articuladora nas relações entre as capitanias.

Gravura. Diversos homens, cavalos e mulas em uma área gramada em frente a um pequeno porto. Alguns animais carregam mercadorias no lombo. Outros são utilizados como montaria. Em segundo plano, alguns homens escravizados carregam sacas brancas na cabeça, em direção a pequenas embarcações. Ao fundo, algumas construções, o mar e as montanhas.
Porto Estrella, gravura de iôrrán morits Rugendas, século dezenove. Fundação Dom João sexto, Nova Friburgo, Rio de Janeiro. Por esse porto, localizado na capitania do Rio de Janeiro, na atual cidade de Magé, se escoava o ouro proveniente das Minas Gerais para a Europa.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

9. Por que o Rio de Janeiro se tornou séde do vice-reino do Brasil em 1763?


Respostas e comentários

Recapitulando

9. O Rio de Janeiro tornou-se séde do vice-reino pela proximidade da cidade com a região mineradora. Assim, as mercadorias que se destinavam à região das Minas Gerais, vindas do exterior, do nordeste e do sul, passavam primeiramente pela cidade, conferindo a ela importância estratégica e econômica.

Tropas e monções

Diante das crises de fome nas áreas da mineração no início do século dezoito, instalaram-se fazendas nas proximidades a fim de diminuir o problema do abastecimento de alimentos. Porém, muitos produtos, como tecidos, animais, utensílios domésticos, ferramentas e alguns gêneros alimentícios, como o charque, ainda provinham de regiões distantes.

Havia duas fórmas de realizar esse comércio de longa distância: pelas caravanas de tropeiros ou pelas monções, que estudamos no capítulo 9. Os tropeiros transportavam mercadorias nos lombos de mulas conduzidas por longos caminhos que ligavam as regiões de mineração ao nordeste e ao sul. Nesses caminhos, foram estabelecidos vários locais de descanso dos tropeiros, que, com o passar do tempo, deram origem a povoados e cidades. Esse é o caso de Vacaria, no Rio Grande do Sul, Lages, em Santa Catarina, e Itapetininga, em São Paulo.

Pintura. À esquerda grupos de diversos homens. Alguns estão sentados, outros estão em pé. À direita, uma mulher cozinha em uma panela sobre uma fogueira. Ao fundo, pequenos barcos atracados.
Encontro de monções no sertão, pintura de Oscar Pereira da Silva, 1920. Museu Paulista da Universidade de São Paulo, São Paulo.

As mercadorias levadas por esses caminhos eram comercializadas nas feiras de São Paulo, principalmente em Sorocaba.

As rotas do comércio interno (século dezoito)

Mapa. As rotas do comércio interno, século dezoito. Destaque para o atual território brasileiro.
Legenda:
Seta verde: gado.
Seta roxa: tropas de mulas.
Seta vermelha: monções.
Rosa: regiões auríferas.
Linha cinza: limites atuais do Brasil.

Gado: Uma das rotas parte do Sul do país em direção à Sorocaba, no atual estado de São Paulo; outra sai do Nordeste em direção ao atual estado de Minas Gerais, margeando o Rio São Francisco. 
Tropas de mulas: Uma rota parte de área próxima a Salvador, no atual estado da Bahia e segue margeando o Rio São Francisco até chegar em Vila Rica, no atual estado de Minas Gerais. Outra rota sai do Rio de Janeiro também em direção à Vila Rica. 
Monções: Rota que parte do interior do atual estado de São Paulo, utilizando o Rio Tietê, até chegar ao Rio Pardo, no atual estado de Mato Grasso do Sul. 
Regiões auríferas: grande área entre os atuais estados de Mato Grosso e Goiás, incluindo Vila Real de Cuiabá. Grande área no atual estado de Minas Gerais, incluindo Vila Rica. Área menor no atual estado da Bahia, à noroeste da cidade de Salvador, próxima ao Rio São Francisco. 
No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de zero a 400 quilômetros.

Fonte: SIMONSEN, Roberto. História econômica do Brasil: 1500-1820. São Paulo: Nacional, 1978. página 255.


Responda em seu caderno.

Explore

Explique a relação entre a direção das rótas comerciais apresentadas no mapa e a atividade mineradora.


Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar das rótas comerciais e da identificação de áreas de ocupação da exploração mineira por meio de um mapa histórico, o conteúdo contempla a habilidade ê éfe zero sete agá ih um um e favorece o desenvolvimento das Competências específicas de História nº 2 e nº 5 e da Competência específica de Ciências Humanas nº 7.

Explore

As áreas economicamente dinâmicas da mineração estavam no interior da colônia e dependiam dos produtos de outras regiões para a sobrevivência dos que habitavam próximo às minas e nelas trabalhavam. Assim, as rótas das monções eram direcionadas para áreas que atualmente formam parte dos estados da Região Centro-Oeste, enquanto as tropas de mulas e os gados confluíam para as Minas Gerais. Essa dinâmica favoreceu a interligação entre regiões distantes, garantindo o abastecimento das áreas de mineração e a continuidade dessa atividade econômica.

A sociedade mineira

Os povoados formaram-se e cresceram em uma velocidade espantosa nas áreas de mineração. A sociedade que se formou desse crescimento acelerado era muito diferente da que existia antes no Brasil e em Portugal.

Nos núcleos urbanos, havia grande número de artesãos, profissionais liberais e funcionários da coroa, escravizados e ex-escravizados, o que os tornava socialmente mais diversificados que os do Nordeste açucareiro. Alguns historiadores destacam, porém, os grandes contrastes sociais nas vilas e arraiais mineiros, onde havia numerosos desocupados, como os ladrões que atacavam caravanas de tropeiros.

Esses núcleos concentravam residências, negócios, atividades literárias e celebrações. Foi nesse ambiente de vida social agitada que ocorreram as manifestações culturais do Barroco mineiro e movimentos que contestavam os impostos metropolitanos.

Habitantes de Minas Gerais (1776)

Gráfico circular. Habitantes de Minas Gerais, 1776. 
Legenda:
Azul: brancos.
Laranja: pardos.
Verde: negros.

Brancos: 22 por cento; Pardos: 26 por cento; Negros: 52 por cento.

Fonte: PAIVA, Eduardo França. Escravos e libertos nas Minas Gerais do século dezoito: estratégias de resistência através dos testamentos. São Paulo: Annablume, 1995. página 67.

A elite mineradora

Os proprietários de grandes lavras constituíam um grupo social privilegiado na região. Esse pequeno segmento detinha muito poder econômico, influência política e numerosos escravizados, que eram usados como referência na hora de arrematar as lavras.

Os altos funcionários da coroa também integravam essa elite. Eles eram, em geral, portugueses enviados para ocupar cargos importantes, como o de superintendente e o de governador. Outros portugueses vinham ao Brasil para atuar principalmente como contratadores, que eram homens de negócio que obtinham da coroa, por meio de leilão, o direito de cobrar as taxas reais.

Os grandes comerciantes, por sua vez, beneficiavam-se do monopólio comercial de alguns artigos nas regiões mineradoras. Em muitos casos, o comércio era muito mais lucrativo que a exploração mineral.

Gravura. Pessoas descendo uma montanha em uma trilha de pedras e terra montadas a cavalo. Nos cavalos da frente, dois homens brancos de chapéu. Um deles tem uma arma pendurada nos ombros. Em outro cavalo, atrás, uma mulher branca sentada de lado. Um homem negro está em pé ao lado do cavalo dela. À direita, à frente dos cavalos, uma mulher e uma criança à pé.
Habitantes de Minas, gravura de iôrrán morits Rugendas, 1835. Biblioteca Municipal Mário de Andrade, São Paulo.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Como era realizado o comércio de longa distância nas Minas Gerais?
  2. Quais eram as principais características da sociedade mineira?
  3. Quais eram as ocupações profissionais dos membros da elite mineradora?

Respostas e comentários

A intelectualidade mineira

A maioria dos filhos da elite mineira cursava seus estudos universitários na Europa, geralmente em Portugal – já que ainda não havia universidades no Brasil. Esses intelectuais retornavam à colônia bastante influenciados pelos movimentos europeus artísticos, literários e filosóficos. No século dezoito, predominavam as ideias iluministas, as quais foram a principal influência ideológica da Conjuração Mineira.

Recapitulando

  1. O comércio de longa distância era realizado por integrantes das caravanas de tropeiros ou das monções. Os tropeiros abasteciam diferentes regiões da colônia, transportando mercadorias no lombo de mulas. Já os monçoeiros faziam expedições fluviais, normalmente em direção às regiões mineradoras de Goiás e Cuiabá, comercializando alimentos, roupas e artigos de primeira necessidade em geral.
  2. As principais características da sociedade mineira eram: diversificação de grupos sociais e profissões, grandes contrastes sociais, vida social e cultural dinâmica.
  3. Os membros da elite mineradora eram proprietários de lavras, altos funcionários da coroa e grandes comerciantes.
Os negros escravizados e a resistência

Ao longo do século dezoito foram trazidos para o Brasil cêrca de 1,7 milhão de africanos submetidos à escravidão, principalmente da região da Costa da Mina (sudaneses) e de Moçambique (bantos), e muitos deles foram destinados à região das Minas Gerais. Em 1742, eles representavam 70% da população da região das minas, estimada em duzentas e sessenta e seis mil pessoas.

Os negros escravizados eram sujeitados ao árduo trabalho nas grandes lavras ou trabalhavam para um faiscador no leito dos rios. A morte dessas pessoas era frequente em razão das doenças causadas pelas condições de trabalho, além dos castigos físicos e outras fórmas de punição. A expectativa de vida de um escravizado nas minas variava entre sete e doze anos.

Muitos negros que fugiam da mineração de ouro e diamante organizavam quilombos (comunidades de escravizados fugidos que você estudou no capítulo 8). Os quilombos mineiros ficavam próximos às vilas e arraiais e mantinham ativo comércio com a vizinhança. As autoridades tinham dificuldade para destruir essas comunidades porque os comerciantes locais, muitas vezes, mantinham relações comerciais com elas. Calcula-se que, entre 1710 e 1798, tenham existido cêrca de 120 quilombos em Minas Gerais. Hoje há na região comunidades remanescentes desses antigos quilombos.

Fotografia. Meninos e meninas em uma sala de aula, sentados em carteiras escolares. As mochilas estão penduradas nas cadeiras. Ao fundo, parede decorada com vários cartazes coloridos.
Crianças da comunidade remanescente do Quilombo do Baú durante aula, Araçuaí, Minas Gerais. Foto de 2018.
As camadas intermediárias e a população pobre livre

Os negros escravizados formavam a base da sociedade mineira, mas o número de negros libertos em Minas Gerais era maior que em outros lugares da colônia. Além disso, um escravizado podia acumular posses e pagar para recuperar a liberdade.

Os forrosglossário que acumulavam bens e seus descendentes compunham, ao lado de brancos remediadosglossário , uma camada urbana intermediária. Essa parcela da população era constituída por pequenos comerciantes, artistas, faiscadores, médicos e profissionais chamados de “oficiais” (sapateiros, ferreiros, carpinteiros etcétera), entre outros.


Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao identificar as regiões e zonas africanas de procedência dos escravizados, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero sete agá ih um seis e contribui para o desenvolvimento da Competência específica de História nº 5.

Ampliando: quilombolas da região das minas

“As comunidades de fugitivos proliferaram no Brasil como em nenhum outro lugar, exatamente por conta da capacidade deles de se articularem com as lógicas econômicas das regiões vizinhas. reticências Na capitania de Minas Gerais, em 1795, já se falava abertamente das alianças que quilombolas estabeleciam com os escravos nas senzalas, os quais eram acusados de roubar e repartir os mantimentos dos paióis dos seus senhores. Há indicações de quilombolas garimpeiros em redutos de muito ouro e diamantes. Outros trocavam produtos de suas lavouras e caçadas com taberneiros e também com os escravos nas senzalas.”

GOMES, Flávio dos Santos. Quilombos/remanescentes de quilombos. In: Chuárquis, Lilia M.; GOMES, Flávio dos Santos (organizador). Dicionário da escravidão e liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. página 368.

Escravidão no século dezoito

Os dados sobre o tráfico de escravos foram extraídos de ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. página 69. Os dados sobre a escravidão em 1742 foram extraídos de SOUZA, Laura de Mello e. Opulência e miséria das Minas Gerais. São Paulo: Brasiliense, 1997. página 69. (Coleção Tudo é história).

Famílias e mulheres nas cidades mineradoras

Como você estudou neste capítulo, graças à atividade mineradora, a região das Minas Gerais atraiu pessoas de diversas regiões: tanto migrantes em busca de oportunidades quanto comerciantes que por lá transitavam, levando itens de outras partes da colônia. Do mesmo modo, a formação social e urbana da região possibilitou a muitos negros escravizados conquistar a alforria. Nessa conjuntura, a condição das mulheres e suas famílias era diferente da que tinham em outras partes da colônia, como explica o texto do historiador Luciano Figueiredo.

A região das Minas Gerais [no século dezoito] testemunhou ainda outro fenômeno: ali grande número de domicílios eram chefiados por mulheres negras ou mulatas, solteiras, casadas, mas com o marido ausente ou viúvas, mantendo sozinhas o sustento dos filhos, quase sempre por meio de atividades comerciais ou do cultivo de roças. A elevada circulação dos homens, a pressão eclesiástica contra a coabitação de casais sem a oficialização matrimonial e, de maneira decisiva, a autonomia alcançada pela mulher no mercado de trabalho urbano e na economia, contribuíram para a disseminação desses núcleos domésticos chefiados por mulheres: no início do século dezenove, quase 50% dos lares se encontravam nessa situação reticências.

FIGUEIREDO, Luciano. Mulher e família na América portuguesa. São Paulo: Atual, 2004. página 65. (Coleção Discutindo a história do Brasil).

História em construção

Sociedade mineira em debate

Há muito debate entre os pesquisadores a respeito da sociedade mineira do período. Historiadores como Eduardo França Paiva abordaram tal sociedade do ponto de vista de seu dinamismo, ressaltando, por exemplo, a existência nela de maior mobilidade social do que em outras partes da colônia. Em seus estudos, França explicou as vantagens mútuas do sistema de trabalho dos escravos de ganho, os quais passavam o dia na cidade, vendendo quitutes ou prestando outros serviços, sem que o senhor tivesse de pagar por sua alimentação ou roupas. Ao retornar no fim do dia, entregavam uma parte da quantia recebida e guardavam outra para si. Desse modo, podiam acumular dinheiro e comprar a alforria.

Já a historiadora Laura de Mello e Souza analisou a enorme desigualdade nessa sociedade, na qual os homens ricos e poderosos representavam um pequeno grupo, os integrantes da camada intermediária (boa parte eram homens livres pobres) viviam de fórma modesta e a enorme camada de escravizados, diante da penúria, fugia ou recorria ao roubo e à violência.

Como se pode perceber, esses historiadores abordaram o perfil da sociedade que se formou nas Minas Gerais de perspectivas distintas. Concordaram, porém, no fato de que o grande fluxo de pessoas e mercadorias possibilitou uma sociabilidade incomum na colônia até então.


Responda em seu caderno.

Questão

Explique a diferença de pontos de vista desses historiadores sobre a sociedade mineira.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Identifique uma das fórmas mais comuns de resistência dos escravizados nas Minas Gerais.
  2. Que diferença existia entre a condição das mulheres negras das Minas Gerais e a condição das que viviam em outras regiões, como a do Nordeste açucareiro? Como se explica essa diferença?

Respostas e comentários

História em construção

A diferença de pontos de vista dos historiadores está no fato de que Eduardo França Paiva aborda o dinamismo da sociedade mineira e a maior possibilidade de ascensão social dos escravizados nas Minas Gerais (em relação ao restante da colônia), enquanto Laura de Mello e Souza destaca que, apesar desses mecanismos de mobilidade social, a desigualdade social era enorme e os escravizados, em sua maioria, permaneciam na condição de cativos, motivo pelo qual recorriam a fugas, à violência e a roubos. A seção apresenta diferentes perspectivas historiográficas sobre a sociedade mineira do século dezoito, o que contribui para que os alunos desenvolvam a capacidade de produzir análises críticas acerca do tema.

Recapitulando

  1. Uma das fórmas mais comuns de resistência dos escravizados nas Minas Gerais era a fuga e a subsequente organização de quilombos.
  2. As mulheres negras que viviam nas Minas Gerais tinham mais autonomia do que as mulheres de outras partes da colônia, como as do Nordeste açucareiro – que geralmente ficavam limitadas ao latifúndio de determinado senhor de engenho. Tal autonomia pode ser explicada pela formação urbana e social complexa das Minas Gerais, caracterizada pela circulação monetária e pela diversificação das atividades econômicas. Nas sociedades mineiras, os negros escravizados tinham mais chance de conquistar a alforria.
Irmandades e ordens terceiras

Em 1705, as ordens religiosas foram proibidas de entrar na região das Minas Gerais. A metrópole as acusava de causar tumultos, de estimular os habitantes a não pagar impostos e de contrabandear ouro e diamantes.

A proibição imposta pelas autoridades portuguesas esbarrava na forte religiosidade dos habitantes da colônia, cuja alternativa foi a criação de irmandades, confrarias e ordens terceiras. Mediante a autorização da coroa e da Igreja, essas agremiações de leigosglossário desempenhavam, ao lado do papel religioso, função assistencial. Assim, elas eram responsáveis pela arrecadação de fundos para construir suas capelas e igrejas, organizar procissões e amparar seus membros.

As irmandades tinham regras próprias, que diferiam de uma para outra. Cada uma cultuava um santo e congregava determinada camada da sociedade mineira. Por exemplo, nas ordens terceiras, frequentadas por brancos, não eram admitidos negros, pardos e cristãos-novos e seus descendentes. Negros forros e escravizados participavam de ordens como a de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos ou a de Nossa Senhora das Mercês, igrejas em que também eram venerados santos negros, como Santo Elesbão, Santa Ifigênia e São Benedito. As irmandades competiam entre si por filiados e prestígio, por isso investiam grandes somas no embelezamento de suas igrejas.

Fotografia. Pessoas vestidas de branco em uma escadaria em frente a uma igreja. À frente, quatro mulheres negras. Três delas carregam painéis com imagens de santos.
Festa Reinado de Nossa Senhora do Rosário, Santa Ifigênia e São Benedito, em Ouro Preto, Minas Gerais. Foto de 2020. São Benedito e Santa Ifigênia, ambos negros de origem africana, eram cultuados pelos escravizados no Brasil colonial.

Conexão

Os tropeiros

País: Brasil

Direção: Odair Redondo

Ano: 2006

Duração: 180 minutos

A série em três episódios refaz os caminhos percorridos pelos tropeiros no século dezoito do Rio Grande do Sul até Sorocaba, em São Paulo, onde havia as feiras de mulas que eram vendidas para comerciantes de várias partes da colônia. Ela apresenta informações sobre o período em que os tropeiros circulavam para abastecer as regiões coloniais do Brasil.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

15. Qual foi o contexto da formação das irmandades, confrarias e ordens terceiras no século dezoito?


Respostas e comentários

A relação da Igreja com as irmandades e ordens terceiras

Nos locais em que havia irmandades e ordens terceiras, a Igreja deixou de arcar com as despesas de manutenção e construção de igrejas, funerais e assistência aos enfermos, idosos e pobres, que antes eram de sua responsabilidade, mas continuou a administrar e a cobrar o dízimo.

Recapitulando

15. Acusadas pela metrópole de incentivar os habitantes das Minas Gerais a não pagar impostos e a contrabandear ouro e diamantes, as ordens religiosas foram banidas. Com isso, a fórma de contornar essa proibição foi a criação de irmandades, confrarias e ordens terceiras.

Ampliando: irmandades e sociabilidade

“Nas Minas Gerais no século dezoito, religiosidade, sociabilidade e irmandade se (co)fundem e se interpenetram. Coube aos leigos cuidar da implementação da vida religiosa. reticências Nesse contexto, os sacerdotes eram contratados pelas irmandades para celebração de ofícios e práticas religiosas. Com isso, relativizava-se a autoridade eclesial dos celebrantes. Em contrapartida, avultavam-se as vontades e as decisões dos irmãos e dos mesários na definição e na implementação dos atos religiosos.

reticências. Essas igrejinhas se tornaram não apenas cenário para ofícios religiosos como também centro de vida social e local para trocas e para prática do comércio. Ou seja, a sociedade que se foi organizando na área fê-lo em tôrno da religiosidade, as urbes foram nascendo sob o impulso da vida religiosa.”

BOSCHI, Caio César. Irmandades, religiosidade e sociabilidade. In: RESENDE, Maria Efigênia Lage de; VILLALTA, Luiz Carlos (organizador). As Minas setecentistas. Belo Horizonte: Autêntica: Companhia do Tempo, 2007. volume 2, página 59-61. (História de Minas Gerais).

Conexão

O uso de filmes ou séries em sala de aula contribui para materializar conceitos ainda abstratos para os alunos. Os deslocamentos de pessoas e de mercadorias nos tempos coloniais apresentavam características próprias e impunham condições que dificilmente os alunos são capazes de imaginar. As cenas apresentadas nesse série podem auxiliá-los nesse sentido.

Leitura complementar

Aleijadinho, arte barroca e ordens terceiras

O Barroco foi um movimento cultural e artístico europeu do século dezesseis. A arte barroca caracteriza-se por fórmas exuberantes, em que os detalhes e a representação das emoções ganham destaque.

Associado à religiosidade católica da colônia, o Barroco mineiro adquiriu características próprias. Nas obras de arte feitas para ornamentar as igrejas mineiras, os artistas utilizaram materiais típicos da região, como a pedra-sabão e o cedro, criando ambientes exuberantes, onde anjos, nuvens e composições florais coloridas combinavam-se com altares, colunas e imagens revestidos de ouro.

Antônio Francisco Lisboa, também conhecido como Aleijadinho, foi o artista de maior destaque do Barroco mineiro. Leia um trecho da biografia dele.

O mais famoso artífice mineiro do período colonial, batizado como Antônio Francisco Lisboa, mas conhecido por essa alcunha [Aleijadinho], nasceu em 1738, em Vila Rica, atual Ouro Preto, do relacionamento do renomado arquiteto português Manuel Francisco Lisboa com uma escrava, e foi provavelmente na oficina paterna que o escultor e entalhador mulato aprendeu as lições de desenho arquitetônico.

O contato com as técnicas europeias trazidas para Minas Gerais por João Gomes Batista, encarregado da cunhagem na Fundição de Ouro de Vila Rica, deve ter contribuído igualmente para sua formação.


Fotografia. Vista parcial do interior de uma igreja. Nas paredes há grandes pinturas com molduras e ornamentos dourados. O teto é coberto por detalhes dourados. Ao fundo, altar ricamente decorado e grandes pilastras ornamentadas douradas.
Interior da Igreja Matriz de Santo Antônio, em Tiradentes, Minas Gerais. Foto de 2019. Note a exuberância do Barroco mineiro.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao promover a valorização de manifestações artísticas e culturais, considerando obras de arte e artistas brasileiros no período do Barroco mineiro, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da Competência geral da Educação Básica nº 3. Por incentivar o respeito à diferença e a compreensão de si e do outro em uma sociedade plural ao abordar as condições físicas do artista Aleijadinho, contribui para o trabalho com a Competência específica de Ciências Humanas nº 1.

reticências A originalidade de suas composições e a habilidade com que as executava tornaram-no muito requisitado pelas mais opulentas irmandades leigas da capitania, aplicando-se a esculturas em pedra-sabão e a obras de talha, em diversas reticências igrejas. A partir de 1796, consagrou dez anos à obra de composição monumental dos Passos e dos profetas do adro do santuário do Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas do Campo, inspirado na disposição daquele de mesmo nome situado em Braga, Portugal.

A obra de Aleijadinho não pode ser dissociada do patrocínio das irmandades leigas das Minas reticências. Entre tais associações, ocupavam um lugar à parte as ordens terceiras que, gozando de inúmeros privilégios pela Santa Sé e de rigorosos estatutos de pureza de sangue, aglutinavam os segmentos brancos da população. Nas Minas, reticências elas gozavam de considerável autonomia, o que lhes permitiu desvencilharem-se das influências barrocas da arte conventual dos carmelitas e franciscanos a que estavam subordinadas, viabilizando a introdução de experiências inovadoras reticências. Um dos principais atores dessa febril atividade espiritual e artística, o Aleijadinho, devido a rígidas barreiras raciais erguidas para a escolha de componentes das ordens terceiras, jamais ingressou nelas. Apesar disso, essa intensa rivalidade entre as confrarias de Minas Gerais teria propiciado ao seu gênio reticências passar da condição de artesão para a de artista reticências, convertendo-se no representante mais destacado do primeiro movimento cultural significativo que a América portuguesa conheceu. Faleceu em 1814.

NEVES, Guilherme Paulo Castagnoli Pereira das. Aleijadinho. In: VAINFAS, Ronaldo direção Dicionário do Brasil colonial: 1500-1808. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. página 24.


Escultura. Homem com barba grande e marcas de expressão ao lado da boca. Ele usa um manto com capuz. Tem as mãos grandes. Segura um papiro aberto com inscrições.
Escultura representando o profeta Isaías, de Aleijadinho, 1805. Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas, Minas Gerais. Foto de 2018.

Responda em seu caderno.

Questões

  1. Que relação existe entre as obras de Aleijadinho e a atuação das ordens terceiras?
  2. Aleijadinho era assim chamado em razão de sequelas de uma doença que prejudicou sua mobilidade progressivamente a partir de 1777. Pesquise trabalhos do artista após essa data e avalie se essa condição física interferiu na qualidade de suas obras.

Respostas e comentários

Leitura complementar

  1. As ordens terceiras reuniam a elite branca da região de Minas e, por gozar de privilégios, puderam se desvencilhar da arte de convento dos carmelitas e franciscanos, engajando-se em experiências inovadoras, patrocinando obras como as de Aleijadinho, bastante associadas a essa maior liberdade estética.
  2. Grande parte das obras conhecidas de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, foram feitas depois da manifestação da doença, portanto, espera-se que os alunos concluam que a condição física não o impediu de trabalhar até pouco antes de sua morte, ainda que tenham exigido adaptações, como ser carregado por outras pessoas até as obras em andamento e ter as ferramentas de trabalho amarradas às mãos para permitir o manejo. Várias figuras esculpidas por Aleijadinho foram representadas com deformações físicas como as dele, o que lhes conferiu um caráter único. A atividade favorece a reflexão sobre capacitismo e reforça a importância de oferecer oportunidades de trabalho para pessoas com variadas condições físicas e garantir a inclusão social de todos.

Atividades

Responda em seu caderno.

Aprofundando

1. Leia o texto sobre o início do período da mineração para responder às questões.

Os que assim se moviam atraídos pela visão tentadora do Eldorado encontravam uma realidade bastante diferente da que lhes coloria os sonhos. Os aglomerados mineradores formaram-se rapidamente, devido ao afluxo repentino de grandes levas humanas. Sendo assim, não havia roças de alimentos para atender à subsistência daquela quantidade de gente reticências.

SOUZA, Laura de Mello e. Opulência e miséria das Minas Gerais. São Paulo: Brasiliense, 1997. página 18.

  1. De acôrdo com o texto, os colonos que se deslocavam para a região das Minas tinham suas expectativas satisfeitas? Por quê?
  2. Na região das Minas Gerais, os preços dos alimentos eram muito superiores aos de outras partes da colônia. Por que isso ocorria?

2. Consulte o quadro e faça o que se pede.

PRODUÇÃO DE OURO NO BRASIL (SÉCULO XVIII)

Período

Produção (kg)

1700-1720

18.880

1721-1739

39.237

1740-1759

57.335

1760-1779

37.155

1780-1799

18.504

Fonte: PINTO, Virgílio Noya. O ouro brasileiro e o comércio anglo-português. segunda edição São Paulo: Nacional, 1979. página 114.

  1. Qual foi o período de maior produção de ouro no século dezoito?
  2. Com base no quadro, elabore um gráfico de barras indicando a variação da produção de ouro no Brasil no século dezoito.

3. Leia o texto sobre a condição social dos mestiços, descendentes de negros escravizados, e dos libertos na região das Minas Gerais no século dezoito. Depois, responda à questão.

Muitos dos mulatos e forros são donos de escravos, participam ativamente da vida artística local, na construção e ornamentação das igrejas, na música, na feitura de santos e em tudo o mais. Do ponto de vista econômico, possuem vendas e lojas, cultivam cana e fabricam cachaça, são ferreiros, alfaiates, padeiros etcétera

SCARANO, Julita. Negro nas terras do ouro: cotidiano e solidariedade (século dezoito). São Paulo: Brasiliense, 2002. página 29.

Mobilidade social pode ser definida como a possibilidade de um indivíduo migrar de uma condição social para outra. De acôrdo com o texto, na sociedade que se formou na região das Minas Gerais havia mobilidade social? Explique.

Aluno cidadão

  1. Uma das principais preocupações da coroa portuguesa estava relacionada com as práticas de corrupção, como a sonegação de impostos e o contrabando de ouro e diamantes. Atualmente, a corrupção ainda ocorre nas atividades políticas e no cotidiano da população. Reúna-se em grupo e façam o que se pede.
    1. Pesquisem duas notícias sobre casos de corrupção ocorridos recentemente e relacionados às escolas públicas brasileiras.
    2. Reúnam as notícias pesquisadas com as selecionadas pelos demais grupos da turma.
    3. Comparem as notícias coletivamente e identifiquem os possíveis padrões entre os casos.
    4. Com base nos padrões identificados, proponham soluções para combater a corrupção nas escolas públicas brasileiras.

Respostas e comentários

Atividades

    1. Não. Os primeiros colonos sonhavam em encontrar um local repleto de riquezas e oportunidades para prosperar; contudo, encontraram uma região sem roçados, onde não havia alimentos a todos.
    2. Nas Minas Gerais, as atividades de trabalho eram voltadas para a extração de minérios e não para a produção de alimentos. A inexistência de roças na região levava os mineiros a depender de alimentos vindos de outras partes da colônia, muitas vezes longínquas, o que encarecia os produtos. Somada à distância, a baixa oferta de alimentos e a alta demanda por eles elevavam os preços nas áreas mineradoras.
    1. De acôrdo com o quadro, o período de maior produção de ouro foi entre 1740 e 1759, quando se produziram 57.335 quilogramas.
    2. Possível solução:

Produção de ouro no Brasil (século dezoito)

Gráfico de barras. Produção de ouro no Brasil, século dezoito.
Eixo vertical: produção em mil quilogramas.
Eixo horizontal: períodos de produção divididos em cores, conforme a legenda:
Azul escuro: 1700-1720;
Laranja: 1721-1739;
Cinza: 1740-1759;
Amarelo: 1760-1779;
Azul-claro: 1780-1799.

No gráfico a indicação de 1700-1720: cerca de 20 mil quilogramas; 1721-1739: cerca de 40 mil quilogramas; 1740-1759: cerca de 60 mil quilogramas; 1760-1779: cerca de 40 mil quilogramas; 1780-1799: cerca de 20 mil quilogramas.
Fonte: elaborado com base nos dados de PINTO, Virgílio Noya. O ouro brasileiro e o comércio anglo-português. segunda edição São Paulo: Nacional, 1979. página 114.

Interdisciplinaridade

Por envolver a interpretação do quadro que apresenta dados sobre produção de ouro no Brasil no século dezoito, a atividade desenvolve a habilidade ê éfe zero seis ême ah três dois do componente curricular matemática.

  1. Sim, pois o texto relata que os descendentes de escravizados africanos (mulatos) e os ex-escravizados (forros) possuíam escravizados, financiavam a construção e ornamentação de igrejas, outras produções artísticas e trabalhavam em vendas, lojas e outros locais, o que indica que havia alguma mobilidade social na região das Minas Gerais. Mas, segundo a historiadora Laura de Mello e Souza, poucos escravizados conseguiram a liberdade e puderam melhorar de vida no Brasil colonial.
  2. Pretende-se promover a reflexão dos alunos a respeito da corrupção não só como problema da esfera política, mas como prática generalizada na sociedade brasileira. É importante que os alunos percebam que a corrupção está ligada a certas características do sistema político e social brasileiro, como a pequena diversidade étnica dos representantes dos órgãos legislativos, a fórma como são financiadas as campanhas políticas, a confusão entre o domínio do público e do privado para alguns agentes de govêrno, entre outros problemas. Ao propor o fracionamento do problema da corrupção brasileira em partes menores, em um contexto definido, o da escola pública, a fim de permitir a comparação, a análise e a identificação de padrões entre os casos selecionados, além da proposição de soluções, a atividade favorece o desenvolvimento do pensamento computacional.

Bê êne cê cê

Ao envolver problemas e soluções relacionados à questão da corrupção na sociedade brasileira, a atividade contribui para o desenvolvimento da Competência geral da Educação Básica nº 2.

Produção de ouro no Brasil (século dezoito)

Conversando com arte

5. Os ex-votos são objetos colocados pelos fiéis em igrejas ou capelas com a intenção de agradecer as bênçãos concedidas por entidades religiosas, como os anjos e santos. Observe o ex-voto que representa a jornada de um português saindo de sua terra natal em direção à região das Minas Gerais até se tornar padre. Depois, responda às questões.

Pintura. Ex-voto que mostra várias cenas da vida de um homem. Na parte superior da imagem, da esquerda para a direita: Algumas casas; um homem de roupa azul e chapéu preto, montado em um cavalo branco; o mesmo homem, sem o chapéu, ajoelhado na porta de uma igreja; e, no canto superior direito, a imagem da Virgem Maria, envolta em uma nuvem, carregando o menino Jesus. Na sequência, o mesmo homem é representado em outras cenas distribuídas na faixa central da pintura: enfrentando duas grandes cobras pretas que tentam atacá-lo; fugindo de dois homens armados. Esses homens vestem chapéus pretos, semelhantes aos dos bandeirantes paulistas; na porta de outra igreja, localizada na lateral esquerda da pintura, onde há sacerdotes reunidos; junto a outros homens, próximo a uma árvore; e ao lado de um homem de roupa amarela, logo abaixo da imagem da Virgem Maria.
Na parte inferior da pintura, um sacerdote em duas cenas: à esquerda, utilizando uma muleta; e à direita ajoelhado com as mãos em posição de oração. Entre as duas cenas, um texto no interior de uma moldura dourada.
Prodigiosas mercês e milagres que tem feito a Virgem Nossa Senhora dos Remédios a seu devoto Agostinho Pereira da Silva, ex-voto de 1749. Mosteiro de São Bento, Salvador.
  1. Que elementos da imagem indicam que o documento está relacionado à expressão da fé católica?
  2. Nos textos desse ex-voto é possível ler: “Saindo de sua pátria”, “Cometido de duas medonhas cobras” e “Já sacerdote enfermo encostado em uma muleta desenganado por causa de uma grande ferida”. Identifique a representação desses episódios na imagem.
  3. Localize a representação da seguinte frase do ex-voto: “Quiseram-no matar os paulistas”.
  4. Qual foi o provável motivo pelo qual os paulistas tentaram matar o protagonista da narrativa do ex-voto?

Você é o autor

6. Reúna-se em grupo e escolham uma cidade histórica mineira para produzir um folheto turístico: Ouro Preto, Mariana, São João del-Rei, Tiradentes ou Diamantina. Pesquisem informações sobre a cidade escolhida e selecionem pontos turísticos históricos, atividades culturais, fotos e um mapa local para compor o folheto. Criem uma legenda numerada para o mapa da cidade, indicando as atrações com fotos e breves descrições. Componham o folheto com outros textos e imagens usando uma folha de papel sulfite dobrada ao meio. Ao final, apresentem o folheto para os demais colegas da turma.


Respostas e comentários
    1. Os elementos que indicam que o documento está relacionado à religião católica são a representação da Virgem Maria no canto superior direito, de uma igreja e de sacerdotes, na lateral esquerda e no canto inferior direito (ajoelhado com as mãos em posição de oração).
    2. “Saindo de sua pátria”: ao centro e mais ao alto o português está montado em seu cavalo branco. “Cometido de duas medonhas cobras”: as duas cobras pretas atacam o homem, logo abaixo e à esquerda do cavalo. “Já sacerdote enfermo encostado em uma muleta desenganado por causa de uma grande ferida”: no canto inferior esquerdo, um homem vestido com um manto de padre caminha segurando uma muleta.
    3. Ao centro da imagem, o protagonista foge de dois homens armados que usam chapéus semelhantes aos dos bandeirantes paulistas.
    4. Os paulistas, por terem descoberto grande parte das jazidas de ouro, queriam expulsar os outros colonos e os estrangeiros da região das Minas Gerais. Esse foi o provável motivo pelo qual os paulistas agrediram o protagonista português representado no ex-voto.

Bê êne cê cê

Ao propor a análise de um documento histórico iconográfico, a atividade favorece o trabalho com os procedimentos metodológicos da ciência histórica e, por isso, contribui para o desenvolvimento da Competência específica de História nº 3.

Interdisciplinaridade

Ao envolver a análise de uma fórma de expressão artística (uma pintura), a atividade contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe seis nove á érre zero cinco do componente curricular arte.

6. A atividade incentiva o estudo sobre as cidades mineiras, por meio de uma proposta de produção de folhetos turísticos. Oriente os alunos a pesquisar em fontes de informação confiáveis e a compará-las antes de concluir o levantamento, prática que favorece o exercício do método científico de pesquisa.

Glossário

Rejeito
: sobra do processo de beneficiamento do minério de ferro (composta de água, areia e minério de ferro).
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Lavra aurífera
: local onde se encontrou ouro para extração.
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Data
: cada um dos lotes em que se dividia a área de extração do ouro.
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Arroba
: antiga unidade de medida equivalente a 14,5 quilogramas.
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Depósito aluvionar
: também chamado de aluvião, consiste em uma área na qual ocorreu a deposição de sedimentos, como cascalhos, areia e lama, originados da erosão de rochas em um sistema fluvial.
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Forro
: nesse caso, escravizado que havia conquistado a alforria (liberdade).
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Remediado
: indivíduo cuja situação financeira é modesta, mas suficiente para sobreviver.
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Leigo
: nesse caso, religioso que não era formado oficialmente pela Igreja Católica como membro de uma ordem religiosa.
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