UNIDADE 1  O mundo ocidental em transformação

O que estudaremos na unidade

O mundo contemporâneo apresenta muitas instituições, ideias, técnicas e processos, entre outros aspectos, que foram desenvolvidos a partir dos séculos dezessete e dezoito. As Revoluções Inglesas, por exemplo, consolidaram o Parlamento como um dos pilares da democracia moderna e impulsionaram a Revolução Industrial, que transformou significativamente as relações de produção e consumo. Já o Iluminismo consagrou o uso da razão e do espírito crítico tanto para questionar tiranias como para explicar os fenômenos naturais, sociais, econômicos e políticos. Esses são os assuntos que você vai estudar nesta unidade. Perceberá, assim, a influência que o conjunto dos acontecimentos mencionados exerce em nosso cotidiano, influenciando nossos valores e comportamentos.

Fotografia. Plenário da Câmara dos Deputados visto do fundo. As mesas e cadeiras estão alinhadas horizontalmente. Na parte central do plenário, um espaço aberto entre elas. Diversas pessoas estão em pé, aglomeradas nesse espaço. A maioria é de homens. Ao fundo uma grande mesa centralizada. Alguns homens estão sentados atrás dela. Ao lado da mesa, uma bandeira do Brasil. Nas laterais do plenário grandes telões.
Plenário da Câmara dos Deputados durante sessão solene no Congresso Nacional, Brasília, Distrito Federal. Foto de 2022. O parlamento brasileiro é fundamental para o funcionamento da democracia no Brasil. Ele é composto da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Os deputados federais e os senadores são eleitos por meio do voto direto e secreto e têm a função de propor, analisar, discutir, votar e aprovar as leis brasileiras.

Fotografia. Robôs em uma linha de produção de automóveis. São compostos por braços móveis, compridos e articulados. À frente deles, carros em processo de montagem, passando por uma esteira. À esquerda, uma pessoa de costas, de camiseta vermelha e mãos na cintura, observa a montagem dos veículos.
Robôs operando em linha de montagem de indústria automobilística em Leipzig, Alemanha. Foto de 2022. A Revolução Industrial, fruto do desenvolvimento tecnológico, alterou profundamente a relação dos seres humanos com o trabalho, com as pessoas, com a natureza e com o tempo.
Fotografia. Grafite colorido em um muro de cimento representa uma pessoa de boné, de costas, escrevendo a letra R sobre o D da palavra DESISTO!!
Resisto!, grafite de Paulo Ito, no município de São Paulo, São Paulo. Foto de 2019. O Iluminismo promoveu a ideia de que a liberdade de pensamento e de opinião é direito fundamental do ser humano. Nesse sentido, as artes de rua, como o grafite, são instrumentos populares de comunicação de ideias, críticas ou desejos de integrantes da sociedade e simbolizam a liberdade de expressão.

Sumário da unidade

Capítulo 1

Das Revoluções Inglesas à Revolução Industrial, 12

Capítulo 2

Novas ideias: o Iluminismo e os fundamentos do liberalismo econômico, 35


CAPÍTULO 1  Das Revoluções Inglesas à Revolução Industrial

Fotografia. Três rapazes sentados em um banco vermelho. Estão um ao lado do outro, inclinados para frente, com a cabeça abaixada, cada um olhando um telefone celular. Ao fundo, um gramado.
Jovens utilizando smartphones em Moscou, Rússia. Foto de 2018. Os smartphones facilitam a realização de diversas tarefas do dia a dia, porém o uso excessivo desses aparelhos pode prejudicar as trocas e interações pessoais, diminuindo a qualidade dos encontros presenciais.

Você consegue imaginar a vida sem computadores, televisores, smartphones, ventiladores, aquecedores, carros, navios, aviões e tantos outros aparelhos eletrônicos presentes em nosso cotidiano?

Neste capítulo, você estudará a Revolução Industrial, processo que, por meio do desenvolvimento tecnológico, transformou o mundo do trabalho, as relações entre o campo e a cidade, o cotidiano dos indivíduos e a vida em sociedade. Desde a Primeira Revolução Industrial, no final do século dezoito, até hoje, o desenvolvimento da tecnologia, o aproveitamento dos recursos naturais e as relações entre empregadores e trabalhadores continuam se transformando. Para entender esse processo, começaremos nosso estudo com as Revoluções Inglesas do século dezessete.

  • Como você percebe a presença das máquinas em sua vida?
  • Existem aspectos negativos no uso intenso de tecnologia pela sociedade atualmente? Se sim, quais? Converse sobre o assunto com os colegas.
  • Alguns estudiosos acreditam que, com o desenvolvimento tecnológico, a progressiva substituição do trabalho humano por máquinas causará o fim do emprego e do salário. Você acredita nisso?
  • De que maneira as pessoas seriam atingidas por essa transformação?

Inglaterra, uma realidade singular no cenário europeu

Em meados do século quinze, a Inglaterra era um dos reinos mais pobres da Europa. Sua economia era agrária e voltada principalmente para a subsistência, com um pequeno comércio interno. Entretanto, na segunda metade do século dezoito, o país se consolidou como a principal potência econômica mundial. Mas como foi possível uma mudança tão significativa em cêrca de trezentos anos?

Com a reforma religiosa promulgada em 1534 por Henrique oitavo, da dinastia Tudor, a coroa passou a confiscar as terras da Igreja Católica e a vendê-las aos integrantes da gentryglossário , que ampliaram suas posses e sua influência na política. Essa situação, aliada às necessidades financeiras da coroa, impulsionou o processo de cercamentos das terras comunais.

Elizabeth primeira, filha de Henrique oitavo, seguiu as linhas gerais do governo do pai ao assumir o trono. Ela conservou a política de concessão de monopólios para a burguesia e favoreceu o crescimento do comércio marítimo. Com o desenvolvimento do mercado ultramarino, os tecidos ingleses passaram a ser comercializados na América, na Índia e na Rússia. A rainha governou com habilidade, manteve-se próxima ao Parlamento e controlou as disputas religiosas.

Com o tempo, a condução política e econômica foi cada vez mais influenciada pelo Parlamento. O órgão era dividido em duas câmaras: a dos Lordes, constituída por integrantes da alta nobreza laica e autoridades da Igreja Anglicana nomeados pelo rei, e a dos Comuns, formada por membros eleitos entre a gentryglossário , pequenos e médios comerciantes, donos de manufaturasglossário e artesãos bem-sucedidos das cidades inglesas. O conjunto dessas transformações fez da Inglaterra uma nação de realidade única no cenário europeu.

Pintura. Casal posando para o pintor embaixo de uma árvore. Ele veste calça escura, meias brancas na altura do joelho, casaco claro com muitos botões na frente, lenço branco em volta do pescoço e um chapéu preto em formato triangular. Ela está sentada em um banco. Veste um longo vestido azul e usa um chapéu claro. O homem está em pé, apoiado no banco. Encaixada embaixo de seu braço, uma arma comprida de cano fino. Um cachorro está ao lado do homem. Ao fundo muitas árvores e áreas de cultivo. O céu está nublado.
O senhor e a senhora éndrius, pintura de tômas guéinsburu, 1748-1749. Galeria Nacional, Londres, Reino Unido. A pintura representa um casal da camada social da gentry.

Os cercamentos das terras comunais

Até o século quinze, os campos ingleses eram mal delimitados e serviam basicamente para a produção de alimentos, a pastagem de animais e a obtenção de lenha. Os camponeses eram donos das terras que cultivavam ou arrendatáriosglossário das terras de outros proprietários. Havia, ainda, as terras comunais, que, embora sob o domínio do rei, de um nobre ou de um proprietário comum, eram usadas por todos. No entanto, com o lucro crescente do comércio de lã nos séculos seguintes, os proprietários rurais enriquecidos (a gentry) passaram a solicitar ao rei as chamadas cartas de cercamento. Com essas cartas, eles obtinham autorização para cercar as terras comunais e usá-las para a criação de ovelhas, das quais extraíam lã. Assim, os campos usados para o cultivo de alimentos tornaram-se campos de pastagem para as ovelhas.

Consequentemente, muitos camponeses foram expulsos das terras onde trabalhavam. A partir de meados do século dezessete, a maior parte deles deslocou-se para as cidades ou migrou para as colônias inglesas da América do Norte.

Fotografia. Imagem aérea de grandes áreas de plantação separadas em lotes. No centro da imagem, algumas casas e árvores.
Vista aérea da região de Cotswold Hills, Reino Unido. Foto de 2020. Na imagem é possível ver os limites atuais das propriedades.
O Parlamento e a sociedade

Com as mudanças na agricultura inglesa, o grupo social da gentry cresceu e passou por uma remodelação. Muitos homens ricos das cidades compraram terras e investiram na criação de ovelhas. Esses proprietários, cada vez mais interessados em lucrar, conquistaram assentos no Parlamento ao lado de comerciantes e donos de manufaturas, todos interessados em pressionar as decisões políticas para obter maior liberdade comercial e redução de impostos. Os votos desses deputados, de fato, passaram a influenciar as decisões políticas inglesas, pois a modificação das leis e o aumento de impostos por parte da coroa dependiam da aprovação conjunta da Câmara dos Lordes e da Câmara dos Comuns.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Que acontecimentos contribuíram para a Inglaterra se tornar a principal potência no cenário europeu?
  2. O que eram as terras comunais?
  3. Como as cartas de cercamento afetaram a existência das terras comunais?

A dinastia Istíuart

Durante a dinastia túdor, a monarquia e as duas Câmaras do Parlamento mantiveram muitos interesses comuns, que se manifestavam na luta contra a Espanha e na manutenção da ordem interna do reino. Essa situação mudou com a morte da rainha Elizabeth primeira, em 1603. Como ela não deixou herdeiros diretos, o trono foi assumido por seu primo Jaime Istíuart sexto, da Escócia. Ele foi coroado rei da Inglaterra como Jaime primeiro, dando início a uma nova dinastia no poder.

O governo de Jaime primeiro foi marcado por diversas crises institucionais. Com problemas financeiros e sem o apoio da Câmara dos Comuns para solucioná-los por meio do aumento de impostos, o monarca dissolveu o Parlamento em 1610 e passou a governar de fórma absolutista até 1621. Para aumentar a renda do Estado, Jaime primeiro criou impostos e adotou uma política de venda indiscriminada de cargos e honrarias. Além disso, aproximou-se cada vez mais de países católicos.

Gravura em preto e branco. Centenas de homens de chapéu e capa sobre os ombros, aglomerados ao redor de uma área plana e dispostos em cinco níveis diferentes de altura. No centro da área, dois homens sentados à mesa. Atrás deles, um homem sentado em um trono elevado. Ao fundo, uma grande janela.
Gravura representando reunião na Câmara dos Comuns com a presença do rei Jaime primeiro, em 1624. Museu Britânico, Londres, Reino Unido.

Carlos primeiro, filho e sucessor de Jaime primeiro, assumiu o trono em 1625, mantendo também uma relação hostil com o Parlamento. Em 1628, o Parlamento obrigou o rei a jurar a Petição de Direitos, documento que previa a proibição de prisões injustificadas de cidadãos e a cobrança de tributos ilegais, entre outras medidas. No entanto, no ano seguinte, Carlos primeiro dissolveu o Parlamento e assim governou por onze anos. Durante esse período, o descontentamento da população cresceu: os comerciantes reclamavam que o rei concedia monopólios que atrapalhavam seus negócios e consideravam a côrte real muito cara e luxuosa.

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Composição religiosa

Com Henrique oitavo, o anglicanismo tornou-se a religião oficial da Inglaterra. Entre os anglicanos estava a alta nobreza, mais próxima do rei. Os católicos, porém, continuaram a existir no país, apesar da ruptura do rei com a Igreja de Roma.

Havia, também, os presbiterianos, que eram protestantes calvinistas, e os puritanos, que formavam uma corrente mais radical do presbiterianismo e receberam esse nome por conta da rigidez de seus costumes. Os presbiterianos predominaram na Escócia e os puritanos, na Inglaterra. Esses grupos eram formados especialmente pela pequena nobreza rural, pelos pequenos proprietários de terras, pelos donos de manufaturas, pelos artesãos e pelos pequenos comerciantes das cidades.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Explique a relação entre o Parlamento e o governo da dinastia Istíuart.
  2. O que foi a Petição de Direitos? Qual é o seu significado?

A Revolução Puritana

Em 1640, Carlos primeiro precisou convocar o Parlamento para votar um aumento dos impostos a fim de obter recursos para enfrentar uma rebelião na Escócia. A Câmara dos Comuns usou a situação para impor limites ao poder real, o que fez aumentar a tensão entre o Parlamento e o monarca. Dois anos depois, essa tensão levou à eclosão de uma sangrenta guerra civil na Inglaterra.

A Inglaterra na guerra civil

Mapa. A Inglaterra na guerra civil. Destaque para as Ilhas Britânicas.
Legenda:
Vermelho: Regiões fiéis ao rei até 1643.
Verde: Regiões fiéis ao Parlamento.

No mapa, as regiões fiéis ao rei até 1643 correspondem ao País de Gales e ao sudoeste e nordeste da Inglaterra. As regiões fiéis ao Parlamento estão localizadas no centro e no sudeste da Inglaterra, incluindo a capital, Londres.
Ao norte da Inglaterra, o território neutro da Escócia. A oeste, também em cor neutra, a Ilha da Irlanda. 

Na parte superior do mapa, no centro, rosa dos ventos. Na parte inferior, escala de 0 a 170 quilômetros.

Fonte: dubí jórj. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. página 125.

Durante a guerra, a Inglaterra dividiu-se em dois territórios: o norte, o País de Gales e o sudoeste permaneceram fiéis ao rei, que liderou o exército dos cavaleiros, formado pela aristocracia tradicional, por membros da burocracia estatal e pelo clero anglicano. As regiões do centro, do sul e do sudeste foram controladas pelos chamados cabeças redondas, que reuniam a maioria dos membros da Câmara dos Comuns e os puritanos em geral. Apesar de os cabeças redondas receberem amplo apoio popular, até 1644 as batalhas foram favoráveis ao rei. A situação só mudou quando o Parlamento delegou a chefia do seu exército ao puritano Óliver Crom-uél.

crómuél reorganizou as fôrças militares e as chamou de Exército de Novo Tipo. Ele decidiu que os postos de comando seriam preenchidos por pessoas escolhidas por mérito, e não pelo status social, como acontecia no exército real. Nesse contexto, crómuél acabou recebendo apoio de pequenos burgueses, proprietários rurais e camponeses que perderam terras com as leis de cercamentos.

Entre os setores que compunham o Exército de Novo Tipo havia os niveladores (levellers), que ansiavam pela igualdade perante a lei e por um governo exercido pela Câmara dos Comuns, e os escavadores (diggers), que defendiam a propriedade coletiva da terra e a construção de uma sociedade igualitária. Os soldados do Exército de Novo Tipo passaram a obter sucessivas vitórias sobre as tropas reais. Em 1647, Carlos primeiro foi capturado e, em 1649, foi julgado e condenado pela Câmara dos Comuns por alta traição, recebendo a pena de morte por decapitação. Meses depois, a Câmara dos Lordes e a monarquia foram abolidas e a república foi proclamada.

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Projetos políticos da Revolução Puritana

Os levellers e os diggers lutaram na guerra civil contra o rei Carlos primeiro. De maneira geral, eles contestavam a política de cercamentos e propunham uma reforma agrária que consistia na nacionalização de terras da Inglaterra para arrendá-las aos pobres. O principal ponto que opunha esses grupos era o posicionamento sobre a propriedade. Enquanto os levellers defendiam a existência da propriedade privada, os diggers consideravam-na a causa da miséria social e, por isso, queriam aboli-la. Esses projetos não chegaram a ser implementados, e os dois grupos passaram a ser perseguidos por crómuél.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

6. O que era o Exército de Novo Tipo? Por que sua organização era diferente do exército anterior?


A República de crómuél

crómuél, o líder do Exército de Novo Tipo, era quem de fato comandava a república, apoiado pelo grupo puritano da Câmara dos Comuns. Aqueles que defendiam a monarquia parlamentar foram excluídos do Parlamento.

A principal medida econômica de crómuél foi a publicação dos Atos de Navegação, em 1651. Os documentos tinham o objetivo de ampliar e incentivar o transporte comercial marítimo e determinavam que nenhum bem ou produto, de qualquer origem, seria importado ou trazido para a república em navios estrangeiros. Desse modo, todos os produtos importados pela Inglaterra deveriam ser transportados em navios ingleses ou em navios dos países produtores.

O governo de crómuél foi marcado por constantes tensões. O Exército de Novo Tipo enfrentou e reprimiu revoltas populares na Escócia e na Irlanda, o que acarretou altos custos para o Estado inglês. Essa situação foi seguida por péssimas colheitas e pelo consequente aumento do custo de vida. Para piorar a imagem da república, as manifestações de oposição ao governo foram aniquiladas e crómuél passou a ser visto como um tirano pelos grupos populares.

Em 1653, crómuél dissolveu o Parlamento e assumiu o título de lorde protetor. Na prática, essas medidas o tornaram um ditador e crómuél passou a ser criticado até mesmo pelos puritanos.

Gravura. Diversas embarcações a vela navegando em um rio largo. Nas margens, em cima e embaixo da gravura, muitas casas e algumas grandes construções. No canto superior direito, anjos com aspecto infantil ao redor de uma flâmula com escritos. No canto superior esquerdo, outro anjo, mais velho, segura um clarinete.
Detalhe de Vista de Londres, gravura de cláes iâns vícher, 1616.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

7. Qual foi a importância dos Atos de Navegação para os grupos sociais que comandavam a República Inglesa?


A restauração monárquica

crómuél morreu em 1658, e seu filho, Ríchard crómuél, assumiu o poder, renunciando meses depois. Diante desse vazio de poder, o Parlamento voltou a se reunir em duas Câmaras. O Parlamento restituiu a monarquia e a dinastia Istíuart, e Carlos segundo foi coroado em 1660. Em seu governo, o Parlamento funcionou por dezenove anos seguidos e com muito mais poder que na época anterior à guerra civil. Com a morte de Carlos segundo, em 1685, seu irmão, o católico Jaime segundo, assumiu o trono.

A Revolução Gloriosa

Jaime segundo buscou reforçar seu poder em direção ao absolutismo. Diante dessa tentativa, o Parlamento, apoiado por comerciantes e grandes proprietários de terra, o depôs em 1688.

Os parlamentares firmaram um acordo e entregaram a coroa da Inglaterra a Guilherme de Orange, chefe do governo da Holanda, e a sua esposa Maria Istíuart, filha de Jaime segundo. No entanto, o novo monarca assumia a coroa em uma condição diferente da de seus antecessores: ele foi reconhecido como rei, mas o governo ficou sob responsabilidade do Parlamento. Instituía-se, assim, um novo regime político: a monarquia parlamentar constitucionalglossário . Como o processo não foi violento, o movimento ficou conhecido como Revolução Gloriosa. O novo reinado só teve início após o juramento de obediência à Declaração de Direitos, em 1689, que colocava o Parlamento como o legítimo órgão de governo da Inglaterra.

História em construção

Declaração de Direitos

Os artigos da Declaração de Direitos apresentavam princípios que mais tarde influenciariam toda a Europa. Leia um trecho do documento.

Os ditos lordes espirituais e temporais, e comuns vírgula reticências agora reunidos com plenos poderes e livres representantes desta nação vírgula reticências declaram:

1º Que o suposto poder da autoridade real de suspender as leis ou a execução das leis sem o consentimento do Parlamento é ilegal;

2º Que o suposto poder da autoridade real de dispensar leis ou de executar leis, como foi usurpado e exercido no passado, é ilegal; reticências

4º Que é ilegal toda cobrança de impostos para a coroa sem o concurso do Parlamento, sob pretexto de prerrogativa, ou em época e modo diferentes dos designados por ele próprio;

5º Que os súditos têm direitos de apresentar petições ao rei, sendo ilegais as prisões ou vexações de qualquer espécie que sofram por esta causa; reticências

7º Que os súditos protestantes podem ter para sua defesa armas conformes a sua condição e permitidas pela lei;

8º Que a liberdade de palavra e dos debates ou procedimentos no interior do Parlamento não podem ser obstados ou postos em discussão em nenhum tribunal ou lugar que não seja o próprio Parlamento;

9º Que as eleições dos membros do Parlamento devem ser livres reticências.

BILL of Rights, 13 fevereiro 1689. In: BRANDÃO, Adelino. Os direitos humanos: antologia de textos históricos. São Paulo: léndi, 2001. página 80-81.


Responda em seu caderno.

Questão

A Declaração de Direitos contém princípios de liberalismo político. De que maneira os artigos apresentados confirmam essa afirmação?


A industrialização na Inglaterra

As Revoluções Inglesas do século dezessete transformaram o regime de governo da Inglaterra. Com a monarquia parlamentar constitucional, o poder de governar o reino passou efetivamente das mãos do rei para o Parlamento.

Na segunda metade do século dezoito, houve uma transformação social e econômica com resultados mais profundos e globais que os das Revoluções Inglesas, decorrentes do desenvolvimento de novas tecnologias e da criação das primeiras fábricas: a Revolução Industrial. Ela impactou profundamente a paisagem da Inglaterra, convertendo as cidades, que até então eram apenas centros comerciais, em núcleos fabris com grande população operária.

As condições criadas na Inglaterra nos séculos dezesseis e dezessete explicam o pioneirismo inglês na industrialização: os proprietários rurais, os comerciantes e os donos de manufaturas passaram a participar ativamente da condução dos negócios do reino por meio da atuação no Parlamento. O Banco da Inglaterra, fundado em 1694, financiava o comércio marítimo e as manufaturas do reino. Portos, estradas e canais de navegação foram construídos para facilitar o transporte de matérias-primas e de mercadorias, cuja produção também era parcialmente absorvida pelo mercado interno.

Pintura. Mercado a céu aberto, com grande quantidade de pessoas. Muitas delas transportam produtos em sacas e em pequenas carroças puxadas por animais. Algumas pessoas carregam grandes cestos na cabeça. À esquerda, carroças com cavalos estacionadas. Ao redor do mercado, vários prédios de três ou quatro andares. Em alguns deles há chaminés soltando fumaça.
Mercado de Covent Garden, pintura de tômas ráuléndisson e Ogústus Chárles Piúdjin, 1811. Arquivos Metropolitanos de Londres, Reino Unido. A pintura representa uma região do centro de Londres conhecida ainda hoje por seus mercados e outros estabelecimentos comerciais.

Outro fator importante para o desenvolvimento econômico inglês foi o fortalecimento da marinha, que já vinha crescendo com a ajuda da coroa desde o início do século dezesseis. A venda de produtos manufaturados para territórios distantes, sobretudo para as colônias inglesas na América e na Ásia, tornou-se uma das fontes de riqueza do reino. A dominação inglesa do comércio internacional também incluía sua participação no tráfico negreiro e em ações de pirataria no Caribe e na costa da África e da Ásia.


Os recursos naturais

O aumento da demanda por tecidos no mercado internacional provocou a expansão dos rebanhos de ovelhas e o aumento da produção de lã, principal matéria-prima das manufaturas têxteis inglesas. Igualmente importante foi a importação de algodão, que, aos poucos, substituiu a lã. O algodão era adquirido a preços baixos das Treze Colônias na América e da Índia. Os mercadores britânicos participavam do comércio internacional de algodão e de outros artigos por meio das companhias de comércio, das quais a maior era a Companhia Britânica das Índias Orientais.

A grande quantidade de reservas naturais de carvão mineral e de ferro foi também decisiva para o pioneirismo industrial inglês. O uso do carvão mineral como fonte de energia representou uma vantagem para a economia inglesa, pois os demais países europeus contavam principalmente com o carvão vegetal. O carvão mineral, que apresenta alto poder caloríficoglossário , era utilizado para a produção de ferro, para a movimentação de pequenas indústrias e para a construção de ferramentas, máquinas e estradas de ferro. Essa fonte de energia era particularmente farta na região de Manchester, onde floresceu a indústria têxtil inglesa.

Gravura. Homem de túnica amarela e turbante vermelho em pé, ao lado de uma estrutura vertical sustentada por três troncos. Pendurada no topo da estrutura, uma viga horizontal, de cujas extremidades pendem cordas presas à viga por um gancho. Toda a estrutura forma uma balança. Do lado direito, pesos cilíndricos; e do lado esquerdo, um grande fardo de algodão. Um homem de roupas azuis, com um peso na mão, opera a estrutura. Outro, sentado sobre fardos de algodão e com um guarda-sol aberto, observa a cena. Ao fundo, outros homens.
Pesando algodão em Bombaim para o mercado inglês, gravura publicada no jornal The Illustrated London News representando o comércio de algodão na Índia para a Inglaterra, 1862.
Do campo para a cidade

A oferta de mão de obra nas cidades estava relacionada ao processo de modernização da agricultura inglesa e à formação de grandes propriedades agrícolas voltadas às demandas do mercado. Entre os séculos dezessete e dezoito, muitos camponeses foram expulsos de suas terras. Outros foram obrigados a vendê-las por não suportar a concorrência nem a oscilação dos preços dos gêneros agrícolas.

As leis de cercamento – que autorizavam os proprietários rurais a cercar as terras e a expulsar os camponeses que viviam nelas – foram impulsionadas. Somente entre o século dezoito e o início do dezenove, o Parlamento inglês permitiu, por meio de quase 4 mil atos legislativos, que cêrca de 2,4 milhões de hectares fossem apropriados por indivíduos politicamente influentes. Esse processo provocou o êxodo rural e a concentração de trabalhadores no meio urbano. As cidades ficaram mais populosas, repletas de mão de obra disponível e barata para as nascentes fábricas, o que favoreceu o desenvolvimento industrial.


Antes do sistema de fábrica

Durante boa parte da Idade Média, a produção foi realizada de maneira artesanal, pelo mestre artesão e por alguns auxiliares e aprendizes. O artesão trabalhava com suas ferramentas, em sua própria oficina, que funcionava no mesmo local em que morava. Ele conhecia as técnicas de produção e dominava todo o processo, desde a escolha e a compra das matérias-primas até a venda do produto. O artesão não tinha um tempo predeterminado para trabalhar, sendo livre para definir seus horários. Ele produzia em pequena escala, atendendo apenas a mercados locais.

A implantação das manufaturas

Com a expansão significativa do comércio no final da Idade Média, os burgueses buscaram meios de aumentar a produção e facilitar seu acesso a mercados mais distantes. Por volta do século quinze, desenvolveu-se o sistema doméstico, uma fórma de organização do trabalho e da produção que possibilitou grande aumento da produtividade.

No sistema doméstico, um empresário comprava a matéria-prima, levava-a até a casa do artesão e encomendava a ele a produção das peças. Ao receber a encomenda, o empresário pagava o preço previamente combinado e tinha liberdade para revender o produto pelo preço desejado. Desse modo, passou a controlar a relação do produtor com o mercado.

Ao comprar a matéria-prima e vender o produto acabado, o empresário se beneficiava dos resultados do trabalho sem participar de sua realização.

As manufaturas apareceram no mesmo período e possibilitaram aumentar a produção e o contrôle sobre os trabalhadores. Os artesãos eram reunidos em grandes galpões, onde trabalhavam com matérias-primas e ferramentas que pertenciam ao empregador, dono da manufatura. Em troca de uma jornada diária de trabalho, os trabalhadores recebiam um salário fixo.

Pintura. Homem apoiado sobre uma grande máquina, manuseando um rolo de tecido. À esquerda, uma mulher sentada em um pequeno banco, gira uma roda de fiar. Perto dela, um bebê em um cesto e uma criança sentada no chão, brincando com o cachorro. No canto direito um banquinho virado e objetos entulhados. As paredes da oficina estão rachadas e com grandes buracos. No canto direito, uma janela, por onde entra luz. No canto esquerdo, uma janela pequena.
A oficina de um tecelão, pintura de guíllis rômbautis, 1656. Museu frãns ráus, rárlem, Holanda.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Que recursos naturais foram fundamentais no processo de industrialização da Inglaterra?
  2. Como o desenvolvimento industrial foi favorecido pela política de cercamentos?
  3. Qual é a diferença entre o artesanato e a manufatura?

Moderno sistema industrial

Indústria significa qualquer esforço humano para transformar matérias-primas em produtos. Neste capítulo, porém, o termo é usado para designar a indústria moderna, que teve início com as fábricas inglesas do século dezoito. A produção fabril caracterizou-se pelo uso de máquinas, que possibilitou aumentar de fórma significativa a velocidade e o volume da produção. Esse sistema de trabalho é chamado de maquinofatura.

Nas fábricas, o papel dos trabalhadores passou a ser o de operar as máquinas e garantir sua manutenção. Eles perderam o contrôle sobre o próprio tempo, na medida em que passaram a executar suas tarefas no ritmo imposto pelas máquinas. Dessa fórma, o uso de máquinas na produção implicou maior contrôle e vigilância dos empregadores sobre os operários. Quanto mais rápido as tarefas fossem executadas, menor seria o custo da produção, o que significava maior lucro para o empregador.

Gravura. Mulheres trabalhando em uma tecelagem. Grandes máquinas com tecidos estão alinhadas em duas filas, uma de cada lado da gravura. Em cada máquina, uma mulher. À frente, uma mulher está abaixada ao lado da máquina. Perto dela, um homem em pé.
Tecelagem na Inglaterra, gravura de tômas álon, cêrca de 1830.
Do artesão ao operário

Uma das características da produção industrial foi minimizar a importância do conhecimento técnico do operário. O trabalho do artesão dependia muito do seu conhecimento sobre o processo produtivo, que era adquirido ao longo de anos de exercício da função. Na manufatura, a divisão do trabalho tornava o indivíduo especialista em apenas uma das etapas da produção. Na maquinofatura, o conhecimento que o artesão tinha de uma ou de todas as etapas da produção tornou-se dispensável, pois o trabalhador devia apenas operar a máquina.

Com a produção mecanizada, nascia a crença no poder transformador da tecnologia. Para os proprietários industriais, as máquinas representavam uma conquista definitiva. O aumento da produção e dos lucros parecia não ter limites: bastava que as novas máquinas inventadas superassem as limitações tecnológicas das anteriores.

Saiba mais

De 20 alfinetes a 48 mil alfinetes por dia

O testemunho do economista Adam Smifi mostra como a divisão do trabalho em uma fábrica de alfinetes gerou um intenso aumento da produtividade.

Um operário desenrola o arame, o outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete reticências. Assim, o importante trabalho do fabrico de alfinetes está reticências dividido em cêrca de dezoito operações distintas reticências. Essas dez pessoas conseguiram produzir entre elas mais do que 48 mil alfinetes por dia reticências. Se, porém, tivessem trabalhado independentemente um do outro reticências, certamente cada um deles não teria conseguido fabricar vinte alfinetes por dia reticências.

ISMITI, Adam. Investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações. In: Adam Smifi. São Paulo: Abril Cultural, 1984. página 7-8. (Coleção Os pensadores).


As primeiras máquinas

Ao longo da Revolução Industrial, foram inventadas máquinas que não dependiam do esforço do trabalhador para funcionar. O que as diferenciava de outras ferramentas era a presença de um motor. Esse dispositivo aumentava a velocidade e a fôrça aplicadas a determinada operação. Dessa fórma, o emprego das máquinas na produção de objetos proporcionou lucro e produtividade em proporções desconhecidas até então.

As primeiras máquinas desenvolvidas eram voltadas à produção têxtil, setor em que as manufaturas inglesas eram mais fortes e controlavam um vasto mercado. Em 1735, djôn quêi criou a lançadeira volante. Três décadas depois, em 1764, djêimes rargrêivs inventou a spinning jenny, que possibilitava a um só artesão fiar 80 fios ao mesmo tempo. Cinco anos depois, a waterframe, invenção atribuída a ríchardi arquiráit, movida pela fôrça da água, foi projetada.

Fotografia. Máquina fiadora. Estrutura retangular de madeira. A parte de cima possui roldanas com fios. Eles estão esticados para a parte mais baixa, na frente, onde há bobinas.
Waterframe, máquina fiadora movida a água, projetada e construída por ríchardi arquiráit, 1775. Museu da Ciência, Londres, Reino Unido.

Entretanto, a waterframe precisava ser colocada próximo de um rio e era muito grande e cara para que um artesão a tivesse em casa. Por isso, ela só podia ser instalada em grandes espaços, ou seja, nas fábricas, o que demandava a concentração dos trabalhadores no local. éndriu ur, um dos principais defensores do sistema de fábrica, resumiu, em um livro publicado em 1835, a modificação do ritmo e da fórma de trabalho que o novo sistema exigia. Leia um trecho desse livro.

A dificuldade principal [encontrada por arquiráit] estava, a meu ver, não tanto em inventar um mecanismo automático para torcer e esticar o algodão em fio contínuo, mas sim em ensinar os homens a deixarem de lado seus hábitos de trabalho desordenados e a adotarem a regularidade invariável de um autômatoglossário . Ditar e fazer vigorar um código eficaz de disciplina industrial, adequado às necessidades da produção, tal foi reticências a obra grandiosa de arquiráit.

ur, éndriu. The philosophy of manufactures. In: GORZ, André. Crítica da divisão do trabalho. São Paulo: Martins Fontes, 1980. página 58.


Responda em seu caderno.

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Segundo éndriu ur, qual foi a principal modificação promovida pela mecanização da indústria?

Gravura. Grandes máquinas verticais com tecido esticado. A máquina à esquerda tem duas grandes rodas. Uma delas está ligada por uma tira à roldana da máquina à direta. Na máquina da esquerda, um homem de calça azul, camisa branca e colete vermelho, opera a máquina. Agachado em frente à máquina da direita, um menino de casaco verde.
Gravura representando fábrica têxtil na Inglaterra, 1834.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

11. Qual foi a importância da criação das máquinas spinning jenny e waterframe?


A todo vapor

Os inventos de quêi, rargrêivs e arquiráit foram importantes para o processo de industrialização. O acontecimento decisivo, porém, ocorreu na segunda metade dos anos 1760, quando djêimes uót aperfeiçoou a máquina a vapor, conseguindo controlar a fôrça expansiva do vapor liberado pela água e usá-la para girar rodas.

Essa inovação completou um longo período de esforços científicos para aproveitar o aumento do volume da água em ebulição. A máquina a vapor passou a ser utilizada para movimentar as pesadas máquinas da indústria têxtil e para retirar a água que inundava as minas de carvão e de ferro.

Litografia. Na parte superior esquerda, um homem sentado à frente de uma lareira. Ele veste casaco escuro e calças vermelhas. Mexe em um caldeirão que está sobre o fogo, pendurado por uma corrente, do qual sai fumaça. À direita, ilustração de um barco grande em alto mar. Abaixo dele, ilustração de uma espécie de guindaste erguendo um grande bloco. No canto inferior esquerdo, uma máquina grande e cilíndrica com diversas roldanas e pistões. No canto inferior direito, uma locomotiva a vapor saindo de um túnel.
Litografia francesa representando djêimes uót e os diversos usos do vapor, século vinte.
Revolução nos transportes

A invenção de uót também foi aplicada aos transportes, com a criação, no princípio do século dezenove, do barco a vapor e da locomotiva. Imagine o que essas invenções significaram para os europeus do início do século dezenove, que estavam acostumados a viajar a cavalo, em veículos a tração animal e em navios movidos pela fôrça do vento.

A locomotiva revolucionou o transporte de pessoas, de matérias-primas e de mercadorias, impulsionou a economia e possibilitou a conquista de novos mercados. Inventada por djórge istívenson, a primeira locomotiva a vapor começou a funcionar na Inglaterra em 1825. A primeira linha ferroviária regular, implantada em 1830, ligava Liverpool a Manchester, o eixo industrial da Inglaterra.

Os primeiros trens atingiam de 45 a 50 quilômetros por hora, velocidades surpreendentes para a época. O encurtamento das viagens e a visão da paisagem em movimento modificaram a relação do ser humano com o tempo e com o espaço.

Fotografia. Parte de uma locomotiva amarela e preta. As rodas da frente são maiores que as demais. Na parte frontal da locomotiva, uma grande chaminé. Ao fundo, um vagão azul. Ao lado da locomotiva, carvão amontoado.
Réplica da locomotiva Rocket, de djórge istívenson. Museu chíldon máinin, chíldon, Reino Unido. Foto de 2013.

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Recapitulando

12. De que maneira a máquina a vapor revolucionou a sociedade inglesa de fins do século dezoito e início do século dezenove?


A sociedade industrial

No início da industrialização, ainda havia, na Inglaterra, a divisão tradicional da sociedade entre nobres e comuns. Porém, a diferença entre empregadores e operários aos poucos tornou-se mais importante que a antiga divisão herdada da Idade Média. Duas classes sociais tiveram destaque com a Revolução Industrial: a burguesia e o proletariado.

A burguesia, que já existia e detinha poder econômico, compunha a classe dos proprietários das fábricas, dos bancos, das máquinas, das terras e de outros bens. O proletariado era formado pela classe dos trabalhadores assalariados das fábricas, os operários, que se constituiu no processo da Revolução Industrial. Esse grupo fornecia sua fôrça de trabalho ao empregador, ou burguês, em troca de um salário. O salário recebido pelo proletariado, porém, correspondia a apenas uma parte do que ele produzia nas fábricas, pois o restante era apropriado pela burguesia na fórma de lucro.

O regime de trabalho

Os operários eram submetidos a condições de trabalho degradantes. As fábricas em geral eram quentes, úmidas, sujas e escuras. As jornadas de trabalho chegavam a 14 ou 16 horas diárias, com breves pausas para refeições precárias.

Muitos trabalhadores desenvolviam doenças respiratórias por causa do ar poluído proveniente das máquinas. Os movimentos repetitivos dos braços provocavam lesões e era comum ocorrer acidentes de trabalho devido ao cansaço. Nessas condições, a expectativa de vida dos operários era baixa e muitos acabavam incapacitados de continuar trabalhando em razão de acidentes ou doenças.

Além disso, os trabalhadores eram obrigados a se submeter ao recebimento de salários muito baixos por causa da grande quantidade de trabalhadores desempregados, disponíveis no mercado. A remuneração salarial de mulheres e crianças era ainda menor; por isso, esses grupos eram os mais empregados nas indústrias. Esse cenário de intensa exploração dos trabalhadores garantia ampla margem de lucro aos empregadores, que enriqueciam.

Fotografia. Homens trabalhando em uma metalúrgica. Eles vestem uniforme azul, botas, capacete, máscara, óculos de proteção e luvas. Eles despejam um líquido amarelado e luminoso dentro de moldes retangulares que estão no chão, dispostos em fila.
Operários usando equipamentos de segurança para despejar ferro fundido em moldes em indústria metalúrgica no município de Cambé, Paraná. Foto de 2016. Diferente do que ocorria no início da industrialização, atualmente a legislação trabalhista determina o cumprimento de normas relativas à segurança e à saúde dos trabalhadores.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Quais classes sociais tiveram destaque a partir da Revolução Industrial?
  2. Como era o regime de trabalho imposto aos operários?
  3. Quais grupos eram mais empregados nas fábricas? Por quê?

Leitura complementar

Tempo, disciplina e trabalho nas fábricas

A implantação do sistema fabril alterou a fórma de perceber a passagem do tempo, antes ligada aos ciclos da natureza. Além disso, o contrôle do tempo passou a ser disputado entre empregadores e trabalhadores.

Era exatamente naquelas atividades – as fábricas têxteis e as oficinas – em que se impunha rigorosamente a nova disciplina de tempo que a disputa sobre o tempo se tornava mais intensa. No princípio, os piores mestres tentavam expropriarglossário os trabalhadores de todo conhecimento sobre o tempo. ‘Eu trabalhava na fábrica do Senhor brêid’, declarou uma testemunha:

‘Ali trabalhávamos enquanto ainda podíamos enxergar no verão, e não saberia dizer a que horas parávamos de trabalhar. Ninguém, a não ser o mestre e o filho do mestre, tinha relógio, e nunca sabíamos que horas eram. Havia um homem que tinha relógio reticências. Foi-lhe tirado e entregue à custódia do mestre, porque ele informara aos homens a hora do dia reticências.’

Uma testemunha de dãndí dá um depoimento bastante semelhante:

reticências na realidade não havia horas regulares: os mestres e os gerentes faziam conosco o que desejavam. Os relógios nas fábricas eram frequentemente adiantados de manhã e atrasados à noite; em vez de serem instrumentos para medir o tempo, eram usados como disfarces para encobrir o engano e a opressão. Embora isso fosse do conhecimento dos trabalhadores, todos tinham medo de falar, e o trabalhador tinha medo de usar relógio, pois não era incomum despedirem aqueles que ousavam saber demais sobre a ciência das horas.’

Pequenos truques eram usados para diminuir a hora do almoço e aumentar o dia. ‘Todo industrial quer logo ser um cavalheiro’, disse uma testemunha perante a Comissão de séndler:

‘E eles desejam se apossar de tudo o que for possível, assim o sino toca para a saída dos trabalhadores meio minuto depois da hora, e eles querem que todos entrem na fábrica dois minutos antes do tempo reticências. Se o relógio é como costumava ser, o ponteiro dos minutos é controlado pelo peso, de modo que, ao passar pelo ponto da gravidade, ele cai três minutos de uma só vez, o que lhes concede apenas 27 minutos, em vez de trinta.’

reticências A primeira geração de trabalhadores nas fábricas aprendeu com seus mestres a importância do tempo; a segunda, formou seus comitês em prol de menos tempo de trabalho no movimento pela jornada de dez horas; a terceira geração fez greves pelas horas extras ou pelo pagamento de um percentual adicional (1,5%) pelas horas trabalhadas fóra do expediente. Eles tinham aceito as categorias de seus empregadores e aprendido a revidar os golpes dentro desses preceitos. Haviam aprendido muito bem a sua lição, a de que tempo é dinheiro.

tompsson, éduard pálmer. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. página 293-294.


Responda em seu caderno.

Questões

  1. O contrôle sobre o tempo foi objeto de disputa entre os operários e os industriais. Por que os inspetores impediam os trabalhadores de usar relógios?
  2. O trabalho nas fábricas se generalizou a partir da Revolução Industrial, e os trabalhadores, geração após geração, aprendiam a lidar com essa nova fórma de trabalho. Como os operários passaram a se comportar em relação ao contrôle do tempo? O que eles haviam aprendido?

As crianças nas fábricas

Atualmente, a exploração do trabalho infantil é considerada crime no Brasil. Os empregadores podem até ser presos caso contratem menores de 16 anos (exceto jovens a partir de 14 anos, na condição de aprendizes).

No início da Revolução Industrial, entretanto, o trabalho de crianças a partir de 6 anos era comum nas fábricas inglesas. De todos os trabalhadores das fábricas têxteis da década de 1830, por exemplo, cêrca de 25% eram homens adultos, mais da metade eram mulheres e meninas, e o restante, rapazes com menos de 18 anos. Os patrões empregavam crianças, pois elas recebiam salários mais baixos e tendiam a ser mais obedientes. A jornada de trabalho podia ser tão extensa quanto a dos adultos, e muitas crianças chegavam a morar em instalações ligadas às fábricas.

Nas tecelagens eram as crianças que se espremiam entre as máquinas para limpá-las ou para alcançar algum carretel de linha ou peça que caía no chão. Isso ocorria com frequência e causava constantes acidentes. Os castigos físicos por baixa produtividade, atrasos ou sono eram comuns. Leia um trecho do depoimento de um aprendiz da fábrica têxtil de Cranbrook, na Inglaterra do início do século dezenove.

Íamos para o trabalho às seis da manhã sem nada para comer e sem fogo para nos aquecer. Por cêrca de um ano nós nunca paramos para café da manhã. O café da manhã era trazido para a fábrica em canecas de lata em grandes bandejas. Era leite, mingau e bolo de aveia. Eles traziam isso, e cada um pegava uma lata e tomava seu café como podia, sem parar de trabalhar. Fazíamos uma parada ao meio-dia, e tínhamos uma hora para o almoço, mas tínhamos que fazer a faxina durante aquela hora. Levávamos cêrca de meia hora para limpar e colocar óleo nas máquinas. Então íamos comer o almoço, que cinco dias por semana era apenas torta de batata.

níquisson, náidjel; ríl, djósselin. Mill life at Styal. Cheshire: Quarry Bank Mill Trust/Willow Publishing, 1986. página 21. In: déca, Edgar De; MENEGUELLO, Cristina. Fábricas e homens: a Revolução Industrial e o cotidiano dos trabalhadores. São Paulo: Atual, 1999. página 59. (Coleção História geral em documentos).

Depoimentos como esse começaram a ser publicados na década de 1830, o que pressionou o Parlamento britânico a abrir uma investigação sobre o assunto e a impor regras para o trabalho infantil na Inglaterra.

Ilustração. À esquerda, uma grande máquina de fiação com muitos fios e muitas bobinas, operada por uma mulher de vestido azul e um homem de camisa branca. À frente, dois garotos se abraçam. Um deles veste um macacão marrom e uma camisa branca, ambos muito rasgados. Ele está descalço. O outro veste uma camisa azul e uma calça amarela, e aparenta estar triste. Dois adultos observam a cena. Uma criança está embaixo da máquina.
Crianças trabalhando em fábrica de tecidos de algodão, ilustração de ogúste erviê, 1840. Biblioteca Britânica, Londres, Reino Unido.

Responda em seu caderno.

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  1. Como as crianças foram representadas na ilustração de ogúste erviê?
  2. Com base nas informações do texto que descreve a rotina de um aprendiz na fábrica têxtil de Cranbrook, na Inglaterra, e na ilustração, faça um desenho que represente a rotina das crianças nas fábricas.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.


A organização dos trabalhadores

No início da industrialização, os operários não tinham os direitos trabalhistas nem a organização sindical que existe atualmente. As leis que hoje regulam as relações entre empresas e funcionários ainda não existiam, e os abusos patronais eram frequentes.

A primeira fórma de luta dos trabalhadores contra as péssimas condições de trabalho data do início do século dezoito e reunia tecelões de manufaturas inglesas. Eles tinham como objetivo destruir as máquinas e paralisar a produção para pressionar os patrões a atenderem suas reivindicações. Eram organizados pelos ludistas, termo que deriva de néd lúd, nome de um operário que havia liderado uma revolta contra os teares da fábrica onde trabalhava e que se tornou símbolo do movimento.

Um dos episódios mais conhecidos envolvendo ludistas ocorreu em abril de 1812, quando mais de cinquenta trabalhadores invadiram uma fábrica e destruíram boa parte de seus equipamentos. Treze participantes foram identificados, presos e condenados à morte.

Ainda na primeira metade do século dezenove, outro movimento inglês reuniu os trabalhadores em uma tentativa organizada de conquistar direitos políticos como o sufrágio universal e o voto secreto. Seu marco fundador foi uma petição dirigida ao Parlamento intitulada Carta ao Povo. Os integrantes do movimento conseguiram reunir milhões de assinaturas e mobilizar uma massa imensa de trabalhadores em comícios e manifestações. Por isso, sofreram forte repressão do governo.

Os participantes do movimento cartista, como ficou conhecido, organizaram greves e protestos e apresentaram outras exigências, como redução da jornada de trabalho e aumento salarial.

As reivindicações do movimento cartista só começaram a ser atendidas na segunda metade do século dezenove, com a criação de leis que protegiam a saúde dos trabalhadores e limitavam a jornada de trabalho.

Os movimentos organizados de trabalhadores dos primeiros anos do século dezenove favoreceram o amadurecimento da luta operária e a fundação das trade unions. Organizadas no final do século dezoito, as trade unions eram associações operárias que buscavam unificar a luta e as reivindicações dos trabalhadores de maneira a potencializar seu poder de pressão sobre os patrões. Elas foram as precursoras dos sindicatos.

Fotografia antiga em preto, branco e azul. Muitos homens de roupas escuras aglomerados, de costas. Estão voltados para uma grande fábrica ao fundo.
Manifestação cartista em Kennington Commom, Londres, Reino Unido. Foto de 1848. O movimento cartista recorria a passeatas e outras fórmas de protesto para exigir mais participação dos trabalhadores na política.

Saiba mais

Perder e ganhar tempo

O sistema fabril alterou os significados atribuídos à passagem do tempo.

O tempo, estabelecido pelo patrão, passou a valer dinheiro, e ao trabalhador restava apenas lutar pela regulamentação da jornada de trabalho. Dessa fórma, reticências o tempo torna-se precioso, dando origem a ideias e expressões antes inteiramente inexistentes: ‘perdi tempo’, ‘ganhei tempo’ etcétera reticências Passa-se a associar a perda de tempo à improdutividade e à preguiça.

déca, Edgar De; MENEGUELLO, Cristina. Fábricas e homens: a Revolução Industrial e o cotidiano dos trabalhadores. São Paulo: Atual, 1999. página 34-35. (Coleção História geral em documentos).


Fotografia. Pessoas em uma manifestação. Elas usam máscara facial de proteção. Muitas delas carregam cartazes com dizeres. À frente, uma mulher carrega um cartaz com a frase: NÃO QUERO RECEBER POR BAIXO DA MESA, QUERO TRABALHAR COM DIREITOS. Ao fundo, um cartaz com a frase: CHAMAM-ME TEMPORÁRIO, MAS SOU PRECISO TODOS OS DIAS!
Manifestação de trabalhadores no dia 1º de maio em Lisboa, Portugal. Foto de 2021. Atualmente, no dia 1º de maio é comemorado o Dia do Trabalho (ou Dia do Trabalhador). Nessa data, costumam ocorrer manifestações por melhores condições de trabalho e emprego em todo o mundo.
A legislação trabalhista

Os resultados da organização dos operários não apareceram de imediato. As leis de proteção aos trabalhadores na Inglaterra foram elaboradas aos poucos, ao longo do século dezenove, como resultado da grande pressão exercida tanto pelos sindicatos quanto por movimentos de reivindicações políticas, como o dos cartistas.

Em 1802, a jornada de trabalho das crianças foi limitada ao máximo de 12 horas diárias. Em 1819, proibiu-se o trabalho de menores de 9 anos, ampliando-se para 10 anos em 1833. No mesmo ano, uma lei determinou que duas horas do trabalho das crianças nas fábricas deveriam ser usadas para que elas frequentassem a escola. Em 1842, o trabalho de mulheres e crianças nas minas foi proibido.

Refletindo sobre

Atualmente, no Brasil, o trabalho infantil é proibido. Em 1990, foi criado o Estatuto da Criança e do Adolescente (éca), um documento que prevê que o trabalho é permitido apenas para jovens a partir dos 14 anos, e assim mesmo com limitação de horas trabalhadas e na função de aprendiz (isto é, com o objetivo de aprender uma profissão). Porém, apesar de ser proibido, o trabalho infantil persiste no Brasil em diversas áreas do campo, como a agricultura e a mineração, e nos centros urbanos. Com base nessas informações, discuta com os colegas quais são os possíveis prejuízos à vida das crianças que são obrigadas a trabalhar.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Aponte semelhanças e diferenças entre os movimentos ludista e cartista.
  2. O que eram as trade unions?
  3. A luta dos operários ingleses resultou na aprovação imediata de leis que os protegessem? Explique.

A questão ambiental

As tecnologias desenvolvidas com a Revolução Industrial e aplicadas nas fábricas geraram intenso impacto ambiental na Inglaterra. Além do interesse dos empresários em obter lucros elevados e rápidos, os danos causados à natureza com a industrialização podem ser explicados pela visão, predominante à época, de que o ser humano, com sua inteligência, tem domínio sobre a natureza.

Não havia, como hoje, estudos profundos sobre os impactos irreversíveis que o crescimento econômico desordenado pode causar ao meio ambiente. As elites europeias do século dezenove, em geral, estavam eufóricas com as conquistas da ciência e com as mercadorias produzidas nas indústrias.

Fuligem e fumaça impregnavam o ar, detritos eram despejados nos rios, instalações industriais e abertura de rotas de transporte, como as ferrovias, desmatavam grandes áreas. Essas práticas alteraram a paisagem da Inglaterra e o modo de vida dos moradores. A Revolução Industrial inaugurou um estilo de vida cujos efeitos são hoje muito visíveis e preocupantes em todo o mundo.

Litografia. À frente, pessoas à pé, à cavalo e em charretes passam na frente de um grande muro. Ele tem uma porta que está aberta. Atrás dele, ao fundo, diversas edificações com dois ou três andares, e construções altas, sem janelas. Há muitas chaminés soltando fumaça escura.
Litografia representando uma região industrial na cidade de Sheffield, Reino Unido, cêrca de 1860.

Nos últimos séculos, um modelo de civilização se impôs, alicerçado na industrialização, com sua fórma de produção e organização do trabalho, a mecanização da agricultura, o uso intenso de agrotóxicos e a concentração populacional nas cidades. reticências

Recursos não renováveis, como o petróleo, ameaçam escassear. De onde se retirava uma árvore, agora se retiram centenas. Onde moravam algumas famílias, consumindo escassa quantidade de água e produzindo poucos detritos, agora moram milhões de famílias, reticências gerando milhares de toneladas de lixo por dia.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos – apresentação dos temas transversais. Brasília, Distrito Federal: Méqui/séfi, 1998. página 173-174.


Responda em seu caderno.

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Quais prejuízos ao meio ambiente causados pela industrialização são descritos no texto?

Refletindo sobre

Em sua opinião, comparando com o que ocorreu no período inicial da industrialização, a sociedade atual mudou seu comportamento em relação à natureza? Discuta o tema com os colegas, mencionando exemplos para sustentar seus argumentos.


Grandes e caóticas cidades

Com a industrialização, as cidades inglesas começaram a crescer sem planejamento urbano. Entre 1760 e 1851, a população de Manchester aumentou de cêrca de 17 mil habitantes para 400 mil. A capital inglesa, Londres, alcançou 2 milhões e meio de habitantes na segunda metade do século dezenove.

Nesse período, as cidades industriais inglesas não contavam com transporte público. Os trabalhadores moravam em vilas operárias próximas às fábricas, uma fórma de habitação incentivada pelos patrões para facilitar o acesso dos operários ao local de trabalho.

A divisão que ocorria nas fábricas começou a se reproduzir nas cidades, com a formação de vilas operárias e de bairros burgueses. As áreas ocupadas pela burguesia e pela classe média localizavam-se no centro das cidades, enquanto os bairros operários situavam-se em zonas mais afastadas, próximas às fábricas.

As vilas operárias

Os bairros operários recebiam pouca atenção do poder público. As ruas eram estreitas, sujas e mal iluminadas. O ar era poluído por fumaça, fuligem e odores desagradáveis expelidos pelas fábricas. Não havia saneamento básico; por isso, as fossas, que coletavam o esgoto, ficavam a céu aberto. O abastecimento de água dependia de poços, bicas e fontes públicas. As casas dos operários eram geminadas e apresentavam dois andares. No andar de cima havia um espaço onde homens, mulheres e crianças dormiam juntos.

A concentração de pessoas, somada às péssimas condições de higiene nos bairros operários, facilitava a propagação de diversas doenças.

Gravura. Vila operária. À esquerda, casas semelhantes, de tijolos, uma ao lado da outra. Os telhados são inclinados. Elas têm uma janela na parte de cima, chaminé e um pequeno quintal, nos quais há roupas no varal. À direita, trilhos de uma ferrovia.
Vista de uma vila operária de Londres próxima aos trilhos do trem, gravura de gustáv dorrê, 1872. Biblioteca Nacional da França, Paris.

História em construção

Tempos difíceis, um testemunho histórico?

Leia um trecho de Tempos difíceis, romance de chárles díquens, publicado pela primeira vez em 1854.

[Coketown] Era uma cidade de tijolos vermelhos, ou de tijolos que seriam vermelhos caso as cinzas e a fumaça permitissem reticências. Era uma cidade de máquinas e chaminés altas reticências. Havia um canal negro e um rio que corria púrpura por causa da tintura malcheirosa, e grandes pilhas de edifícios cheios de janelas, onde se ouviam ruídos e tremores o dia inteiro, e onde o pistão das máquinas a vapor trabalhava monótono reticências.

Havia ruas largas, todas muito semelhantes, reticências e ruelas ainda mais semelhantes umas às outras, onde moravam pessoas também semelhantes umas às outras, que saíam e entravam nos mesmos horários, produzindo os mesmos sons nas mesmas calçadas, para fazer o mesmo trabalho, e para quem cada dia era o mesmo de ontem e de amanhã reticências.

díquens, chárles. Tempos difíceis. São Paulo: Boitempo, 2014. página 37. (Coleção Clássicos).


Responda em seu caderno.

Questões

  1. Como chárles díquens descreve a cidade fictícia de Coketown em seu romance?
  2. A industrialização alterou a maneira de viver dos trabalhadores ingleses. O trecho de Tempos difíceis confirma ou nega esse processo? Justifique.
  3. Em sua opinião, a literatura pode ser utilizada como fonte de informação para a escrita da história?

Alimentação

A alimentação dos trabalhadores nas cidades industriais inglesas era muito precária. A dieta comum compunha-se de batatas, alguns cereais, cerveja, chá e, em datas comemorativas, algumas carnes. O consumo de trigo e de aveia declinou substancialmente para a maioria da população inglesa, desde o final do século dezoito até as quatro primeiras décadas do século dezenove, por causa dos preços inflacionados. A dieta do pão foi substituída pela dieta da batata. Leia a descrição de uma cena típica de refeição de uma família operária daquele período.

O pai comia primeiro para manter suas fôrças reticências. Ele comia sozinho ou com a esposa. Os jovens que já ‘ganhavam seu pão’ [salário] eram os próximos a sentar à mesa, enquanto os mais jovens ainda vigiavam ansiosos para que os restos não desaparecessem antes de chegar sua vez reticências. Na divisão da comida, as garotinhas eram as mais prejudicadas: as mães achavam que elas não precisavam tanto, ‘não como os garotos’.

róbertis, róberti. The classic slum. In: déca, Edgar De; MENEGUELLO, Cristina. Fábricas e homens: a Revolução Industrial e o cotidiano dos trabalhadores. São Paulo: Atual, 1999. página 59. (Coleção História geral em documentos).

Entretenimento popular

Apesar da pressão das fábricas e dos patrões pela manutenção da disciplina e utilização do tempo exclusivamente para o trabalho, os operários das cidades industriais procuravam manter as diversões tradicionais da vida rural, como as movimentadas feiras ao ar livre, e participar de outras fórmas de entretenimento, como o teatro. Na Feira de Bartolomeu, o maior de todos os festivais, havia exposições de animais selvagens, equitação, pugilismo, apresentações de arlequins e de cantores ambulantes.

Conexão

Oliver Twist

chárles díquens. Ilustrações de oliviê delói. São Paulo: Salamandra, 2012.

Nessa adaptação em quadrinhos da obra de chárles díquens é contada a história de Oliver Twist, um menino órfão que vivia nas ruas de Londres no século dezenove. Oliver tentava sobreviver em meio à miséria e à crueldade da sociedade do período.

díquens procurou mostrar a vida difícil das crianças pobres na sociedade industrial que surgia. Miseráveis, essas crianças perambulavam pelas ruas das cidades britânicas e eram temidas e desprezadas pela sociedade.


Capa de livro. No alto, o título. No centro ilustração de um menino de casaco e boina verdes. Ao redor dele, diversas pessoas, algumas delas são acinzentadas.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Qual era a relação da sociedade inglesa com o meio ambiente no período da industrialização?
  2. Como era a vida nas vilas operárias inglesas durante a Revolução Industrial?
  3. Como eram a alimentação e o entretenimento dos trabalhadores nas cidades industriais?

Atividades

Responda em seu caderno.

Aprofundando

  1. Sobre a restauração da dinastia Istíuart, responda às questões.
    1. Por que a tensão entre o Parlamento e os Istíuart continuou após a restauração monárquica?
    2. Por que a Revolução Gloriosa recebeu esse nome? Qual foi a novidade política promovida por ela?
  2. Leia o texto e faça o que se pede.

“Embora a inovação tecnológica possa eliminar os empregos de algumas pessoas, outras várias pessoas serão enormemente beneficiadas. 

Se os preços de vários bens e serviços caírem em decorrência da automação, os salários mais baixos passarão a ser suficientes para que várias pessoas vivam confortavelmente. reticências

De resto, como a história repetidamente já demonstrou, a automação sempre representou uma libertação para o ser humano, não só livrando-o da necessidade de realizar trabalhos braçais pesados e desumanos, como ainda permitindo um aumento exponencial da sua renda: a renda média diária mundial, que era de três dólares há dois séculos, hoje é de trinta e três dólares, já descontando a inflação. E, nos países ricos, é de cem dólares por dia.

Essa libertação material nos permitiu viver vidas mais confortáveis, mais humanas e muito mais gratificantes do que outras gerações jamais experimentaram. reticências

uúdis, tômas. A automação irá nos empobrecer? Muito pelo contrário. mízes Brasil, São Paulo, 10 janeiro 2017. Disponível em: https://oeds.link/xLhmAn. Acesso em: 6 abril 2022.

  1. A industrialização e o desenvolvimento tecnológico causaram mudanças profundas nas sociedades contemporâneas. Para o autor do texto, que benefícios e que malefícios esses processos produziram? De acordo com ele, o saldo dessas transformações foi positivo ou negativo?
  2. A posição defendida por tômas uúdis no texto é contestada por outros autores. Pesquise informações e opiniões que contrariam a avaliação desse autor e escreva um texto refutando os argumentos dele.

3. Leia um trecho do romance Oliver Twist, do escritor inglês chárles díquens, publicado pela primeira vez em 1838. Depois, faça o que se pede.

Na ocasião em que uma criança conseguia existir com uma escassíssima porção de alimentos, acontecia, oito vezes em dez casos, que a infame criança tinha a maldade de cair doente de frio e de fome ou deixar-se cair no fogo por descuido; então, partia a desgraçada criaturinha para o outro mundo, onde ia encontrar os pais que não conhecera. reticências

Fosse como fosse, completava ele [Oliver Twist] 9 anos e estava nesse dia no depósito de carvão com dois companheiros, que receberam com ele uma dose de bofetões e foram metidos no dito depósito, por terem tido a audácia de dizer que estavam com fome reticências.

díquens, chárles. Oliver Twist. São Paulo: édra, 2002. página 28.

  1. Qual é a relação entre o trecho citado e o contexto da Revolução Industrial?
  2. Atualmente, no Brasil, as crianças estão submetidas às mesmas condições que Oliver Twist? Justifique sua resposta.

Aluno cidadão

  1. Nas sociedades industriais contemporâneas, há uma supervalorização da produtividade, da eficiência e da inovação. A importância exagerada desses fatores pode causar distorções, como a depreciação dos saberes tradicionais, o preconceito em relação aos idosos e às pessoas com deficiência física ou intelectual. Reflita sobre o tema e discuta com os colegas as seguintes questões:
    1. Quais são as formas de manifestação de preconceito contra os idosos (etarismo) ou às pessoas com deficiência (capacitismo)?
    2. Pesquise para saber o que a legislação brasileira assegura às pessoas desses grupos da população.
    3. Em sua opinião, o que pode ser feito para garantir a cidadania e a autonomia dos idosos e das pessoas com deficiência?

Conversando com geografia

5. Na Inglaterra do início do século dezenove, o crescimento acelerado e desordenado dos centros industriais acarretou graves problemas na ocupação dos espaços, modificando a paisagem urbana e a interação humana com a natureza. A respeito disso, analise a imagem e leia o texto para responder às questões.

Gravura. À frente, homens trabalhando com pás ao lado de grandes montantes de ferro. À esquerda, um carrinho utilizado para o transporte de minério. Ao fundo, chaminés com fumaça preta, algumas construções e grandes cilindros com chamas à mostra.
Trabalhadores em mina de ferro, gravura de djórge tchiáild, 1840. Museu Nacional do País de Gales, Cardiff, Reino Unido.

A natureza, em qualquer outro sentido que não dos aperfeiçoadores [industriais], moveu-se para as margens: para as áreas remotas, inacessíveis e relativamente estéreis. A natureza estava onde a indústria não estava.

reticências À medida que a exploração da natureza continuava em ampla escala, as pessoas que conseguiam maior lucro voltaram-se (e foram bastante engenhosas) para uma natureza ainda virgem, para terras compradas e refúgios naturais.

uíliams, rêimondi. Cultura e materialismo. São Paulo: Editora Unésp, 2011. página 108-109.

  1. Qual é o título da gravura?
  2. Em que contexto histórico a imagem foi produzida?
  3. As pessoas representadas na gravura pertenciam a que classe social?
  4. “A natureza estava onde a indústria não estava”. A paisagem representada na gravura confirma ou nega essa passagem do texto? Justifique.
  5. A análise da imagem e a leitura do texto indicam que, a partir da Revolução Industrial, passou a ocorrer um comportamento contraditório em relação à natureza. Que comportamento foi esse? Justifique.

Enem e vestibulares

6. (enêmMéqui)

Tirinha. Dois homens de nariz grande e olhos pequenos. Vestem camiseta preta e macacão e boné azuis. Estão trabalhando na linha de montagem de uma fábrica, atrás de uma esteira com pequenas peças. Um encaixa um pino nas peças na esteira, e o outro encaixa uma peça redonda no pino. Um deles diz: VOU ME APOSENTAR AMANHÃ E SABE O QUE VOU FAZER? ANDAR ATÉ O FIM DESTA LINHA DE MONTAGEM E DESCOBRIR O QUE ESTOU FAZENDO HÁ TRINTA ANOS!
Frenc end Érnest, tirinha de Bob Teives, 1996.

A fórma de organização interna da indústria gera a seguinte consequência para a mão de obra nela inserida:

  1. ampliação da jornada diária.
  2. melhoria da qualidade do trabalho.
  3. instabilidade nos cargos ocupados.
  4. eficiência na prevenção de acidentes.
  5. desconhecimento das etapas produtivas.

Glossário

Gentry
: pequena nobreza rural, proprietária de terras. Esse grupo social era diferente da nobreza dos lordes (duques, condes, marqueses, viscondes e barões). Os membros da gentry não possuíam títulos de nobreza, porém dispunham de renda suficiente para viver sem precisar trabalhar.
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Manufatura
: nesse caso, estabelecimento onde se fabricam produtos resultantes de trabalho mecânico.
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Arrendatário
: aquele que usa as terras para plantar mediante pagamento; semelhante à locação.
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Monarquia parlamentar constitucional
: fórma de governo caracterizada pela obediência a um regulamento e pela parceria estabelecida entre a coroa e o Parlamento.
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Poder calorífico
: quantidade de calor gerada por uma substância quando em combustão.
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Autômato
: mecanismo que opera de maneira automática, com movimentos maquinais.
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Expropriar
: retirar algo de alguém.
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