CAPÍTULO 2 Novas ideias: o Iluminismo e os fundamentos do liberalismo econômico
“A questão passa a ser esta: o que se perde quando se obtém um progresso, um progresso técnico, um progresso material, um progresso urbanístico? reticências
Tudo isso nos remete à ideia de que precisamos superar o Iluminismo. Temos de buscar um [progresso] para além das Luzes. Quando digo ‘superar’, refiro-me reticências a integrar aquilo que existe de válido no progresso, mas com algo mais. reticências
O progresso depende também, de agora em diante, da consciência humana.”
Morrã, Edgar. Para além do Iluminismo. Revista Famecos, Porto Alegre, número 26, página 25-27, abril 2005. Disponível em: https://oeds.link/iAUX6H. Acesso em: 31 janeiro 2022.
Você já pensou no significado da palavra progresso? Esse termo é geralmente empregado no sentido de “algo que avança”, “ação para a frente”, “crescimento incessante”. Pode significar também a transformação favorável das condições materiais da vida humana. Essa ideia de progresso foi muito difundida no século dezoito, quando intelectuais europeus que criticavam a organização política e social existente elaboraram novas concepções de mundo fundamentadas na razão e no progresso com o objetivo de proporcionar mudanças em benefício da qualidade de vida dos seres humanos.
A reflexão do filósofo francês Edgar Morrã questiona essa ideia de progresso, afirmando que ela apresenta sempre um lado negativo, uma perda, e, por isso, é necessário repensá-la.
- Procure responder à questão apresentada por Edgar Morrã no início de seu texto.
- De que modo a imagem desta abertura se relaciona à reflexão proposta pelo autor?
A luz da razão invade a Europa
O Iluminismo, também conhecido como Ilustração ou Esclarecimento, foi um movimento filosófico que atingiu o auge na Europa do século dezoito. No entanto, os princípios teóricos desse movimento começaram a se desenvolver a partir do século dezessete.
Defensores da liberdade, os pensadores iluministas combatiam a tirania dos reis e pregavam a igualdade de todos perante a lei. Rejeitando a fôrça da tradição e dos dogmas religiosos, pregavam uma sociedade guiada pela razão, que, segundo eles, permitiria aos seres humanos superar o atraso e conquistar o progresso e a plena felicidade.
No entendimento dos iluministas, o pensamento religioso que predominou na Europa medieval impedia os seres humanos de pensar livremente. Era como se eles vivessem na escuridão, incapazes de enxergar a verdade, sendo guiados cegamente pelas superstições e pelos dogmas bíblicos. Por isso, a Idade Média foi associada a uma suposta “Idade das Trevas”, termo cunhado ainda na Renascença.
Contrapondo-se a justificativas baseadas na fé, os iluministas defendiam que se buscassem explicações racionais para os acontecimentos políticos, econômicos e sociais, bem como para os fenômenos naturais. Para eles, a razão funcionaria como uma fonte de luz, capaz de revelar as coisas como elas são. Por isso, o século dezoito também tornou-se conhecido como o “Século das Luzes”.
O Iluminismo ajudou a criar a base intelectual para a independência dos Estados Unidos, as revoluções na França e no Haiti e os movimentos de independência na América Latina, entre outros acontecimentos importantes dos séculos dezoito e dezenove.
Responda em seu caderno.
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• De que fórma a pintura de Josef Urait de dérbi pode ser relacionada aos ideais iluministas?
História em construção
Iluminismo: homogeneidade ou heterogeneidade?
Diferentemente do que se pensa, o Iluminismo não pode ser visto como um sistema coeso de ideias ou como um modelo de pensamento único, pois havia importantes diferenças entre seus representantes. O único ponto sobre o qual todos os iluministas acordavam era o direito de o ser humano expressar livremente suas opiniões por meio da razão.
“A Ilustração, ou Esclarecimento, não é um conjunto de ideias: é a atitude de falar publicamente usando a própria razão e recusando as explicações tradicionais. Os resultados deste método nem sempre formam um conjunto coerente e definitivo de ideais – assim como seria incoerente com o Esclarecimento se acreditássemos que as noções correntes de liberdade e democracia devem estar isentas de crítica.”
ELIAS, Rodrigo. Essa luz. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, número 104, ano 9, página 21, maio 2014.
Responda em seu caderno.
Questão
• Por que a ideia de que o Iluminismo é um conjunto coeso e definitivo de pensamentos contraria o conceito desse mesmo movimento filosófico?
Principais pensadores iluministas
Foi na França que o movimento iluminista mais cresceu e se radicalizou, com a adesão de muitos intelectuais. Alguns deles estiveram na Inglaterra após a Revolução Gloriosa e ficaram muito impressionados com o clima de liberdade que lá existia. Esse contato deu enorme impulso à luta antiabsolutista na França.
Um dos iluministas franceses que mais se destacaram foi françuá marré arruê, que ficou conhecido como voltér. Autor de várias obras, voltér dedicou sua vida à luta pela liberdade de expressão e contra a ignorância e a superstição em que, segundo ele, vivia a população francesa. Criticou com firmeza a Igreja Católica, que, no seu entender, mantinha o povo na ignorância. Convencido de que a tarefa de combater essa situação era também dos governos, voltér aproximou-se de monarcas absolutistas, como Frederico segundo, da Prússia, influenciando muitos atos de sua administração.
Outro intelectual importante do movimento iluminista foi o jurista chárle luí dê secondá, o barão de Montesquiê, que direcionou suas críticas ao poder absoluto dos reis. Na obra O espírito das leis, ele propôs a divisão dos poderes do Estado em três instâncias: o Executivo – responsável pela garantia do cumprimento das leis –, o Legislativo – encarregado de elaborar as leis – e o Judiciário – responsável pela análise da constitucionalidade das leis e pelo julgamento das situações de conflito. Os três poderes deveriam ser independentes entre si e estar em equilíbrio. Dessa fórma, segundo Montesquiê, haveria liberdade no país e todos os cidadãos seriam iguais perante a lei. A teoria da divisão do poder em três categorias influenciou a formação da maioria dos Estados contemporâneos, inclusive o Brasil.
A singularidade do pensamento de Russô
jeãn jác russô nasceu em Genebra, na Suíça, mas ainda na adolescência mudou-se para Paris. A produção intelectual de Russô diferenciou-o dos demais pensadores iluministas. Para ele, o indivíduo é um ser bom por natureza. Com o passar do tempo, porém, a sociedade o desvirtua, corrompendo suas características naturais, e ele se torna egoísta, vaidoso e apegado a seu amor-próprio. Por isso, segundo o filósofo, a sociedade deveria ser reorganizada, para que a natureza do ser humano pudesse ser fortalecida. Nesse processo, a educação das crianças teria papel fundamental. No romance pedagógico Emílio ou Da educação, Russô procurou demonstrar como a educação ajudaria a fortalecer a bondade natural do ser humano, pervertida pela sociedade.
Russô também se afastou dos demais iluministas ao atacar a propriedade privada, considerada por ele a origem da desigualdade social. Ele também afirmava que o poder pertencia ao povo, e não ao Estado, ou seja, o Estado apenas exercia o poder em nome do povo. Assim, um Estado só seria legítimo se as leis emanassem do povo, de acordo com a vontade geral. Segundo Russô, para que as pessoas fossem capazes de se opor à tirania e à opressão dos governos, precisariam ser criadas na liberdade. Somente um povo livre, educado para ter um pensamento autônomo, seria capaz de instituir governos democráticos.
De acordo com Russô, os seres humanos recuperariam a igualdade e a liberdade por meio de um contrato social no qual a vontade geral e a coletividade prevaleceriam. Para isso, o soberano, isto é, a vontade geral expressa pelo povo, deveria atender sempre às necessidades e aos interesses comuns dos cidadãos, enquanto estes obedeceriam às leis em benefício do corpo coletivo.
Os enciclopedistas
Os iluministas utilizaram todos os meios para divulgar o conhecimento: cartas, jornais, livros, livretos, panfletos etcétera Sem isso, pensavam eles, seria muito difícil a população abandonar suas crenças no sobrenatural, suas superstições e seus preconceitos e criar uma sociedade livre e fundada na razão. Em 1745, o editor e livreiro André lê bretôn obteve licença para publicar, em francês, a ciclopédia (Dicionário universal das ciências e das artes), obra que havia feito muito sucesso na Inglaterra e que muitos iluministas viam como modelo de manual do conhecimento.
Inspirado nela, o filósofo francês denî diderrô, com a ajuda do matemático francês jân lerôn dalembér, iniciou a criação da Enciclopédia, com o objetivo de sistematizar todo o conhecimento produzido pela humanidade até então. O primeiro volume desse conjunto de livros seguia os princípios da tolerância religiosa e do racionalismo, elogiando pensadores protestantes e desafiando dogmas religiosos. Em razão disso, foi alvo de forte oposição da sociedade francesa e da Igreja Católica.
Em 1759, a Igreja incluiu a Enciclopédia no Índice dos Livros Proibidos. Mas os enciclopedistas não se intimidaram. Com o apoio de algumas autoridades, o trabalho prosseguiu em sigilo até 1765, quando foi completada a primeira parte da coleção. A obra continuou a ser escrita até 1772, quando os últimos dos seus 28 volumes foram finalizados, e contou com a colaboração de 160 pessoas, entre editores, articulistas, resenhistas, gráficos e ilustradores.
Saiba mais
A Enciclopédia nos tempos da tecnologia digital
A preocupação de produzir uma obra que reúna informações gerais sobre todas as áreas de conhecimento, de fórma organizada para consulta fácil, permanece até os dias de hoje. Até o fim do século vinte, quando ganharam versões digitais em cê dê rôm, as enciclopédias eram impressas em vários volumes, como no tempo de Diderrô e dalãmbér. Atualmente, as enciclopédias estão disponíveis na internet, o que possibilita atualizações regulares e ampliação de conteúdos inimagináveis no século dezoito, até mesmo com a participação de um número muito maior de autores e revisores, como no caso das enciclopédias colaborativas.
Responda em seu caderno.
Recapitulando
- Defina, com suas palavras, o Iluminismo.
- Que críticas os iluministas faziam ao pensamento predominante na Europa medieval?
- Explique a teoria dos três poderes elaborada por Montesquiê.
- Em que aspectos Russô se diferenciava de outros pensadores iluministas?
- Qual era o objetivo principal dos idealizadores da Enciclopédia?
Os princípios liberais
Entre os iluministas também estavam os pensadores liberais, que contestavam o Antigo Regime e apresentavam propostas de mudança na organização social. Na política, defendiam a limitação do poder do governante por uma constituição e um Parlamento com poder efetivo. Na economia, eles combatiam as restrições mercantilistas, como os monopólios e as taxas alfandegárias, e pregavam a liberdade do indivíduo de prosperar por mérito próprio.
O filósofo inglês Djón Lóque foi um dos formuladores dos princípios liberais. lóqui partiu da definição de direitos naturais: aqueles dados pela natureza, como o direito à vida, à liberdade e aos bens necessários para a conservação da vida e da liberdade. Diferentemente de Russô, para lóqui a propriedade privada era um direito natural, pois os frutos do trabalho deviam pertencer ao indivíduo que os conquistou. Essas ideias foram muito bem-aceitas pela burguesia, que considerava a terra e outros bens propriedades que podiam ser adquiridas pela compra.
lóqui acreditava que a função dos governos era garantir esses direitos naturais do ser humano. Caso os governantes não agissem assim, os indivíduos teriam o direito e o dever de se revoltar contra eles. Por causa de suas ideias, lóqui foi obrigado a fugir da Inglaterra.
Hoje, entretanto, os princípios defendidos por lóqui são seguidos pela maioria dos países do Ocidente. Os direitos naturais dos seres humanos, por exemplo, tornaram-se direitos fundamentais protegidos por lei e estão presentes em diversas constituições dos países ocidentais, como os Estados Unidos e o Brasil. O chamado Estado de direito, que pressupõe a limitação dos poderes públicos e sua subordinação às leis, é uma característica comum a muitos países.
Refletindo sobre
O pensamento de Djón Lóque baseia-se na ideia de que os seres humanos são naturalmente individualistas, pois se preocupam primeiro consigo e, depois, com os outros. Você concorda com esse fundamento? Por quê? Em sua opinião, o individualismo é um obstáculo para o desenvolvimento de uma sociedade solidária? Você tem atitudes individualistas? Se tiver, em que situações?
O liberalismo econômico de Adam Smifi
No século dezoito, o principal debate entre os economistas concentrava-se em compreender o que tornava uma nação rica. Na França, os chamados fisiocratas afirmavam que a riqueza de uma nação provinha dos recursos naturais, ou seja, das atividades econômicas ligadas à natureza, principalmente a agricultura. Nesse período, as atividades econômicas ainda estavam ligadas à terra, e a maior parte da população europeia vivia no campo.
Entretanto, essa teoria não atendia às necessidades de muitas nações, em especial daquelas que não tinham condições de desenvolver plenamente sua agricultura. Era o caso da Escócia, em que apenas 10% das terras eram adequadas para a agricultura e menos de 18%, para o pastoreio.
O escocês Adam Smifi, em sua obra A riqueza das nações, discordou dos fisiocratas e estabeleceu outro critério para explicar a produção de riqueza: o trabalho humano. Os indivíduos, livres para agir, sem o Estado intervindo nos negócios, trabalhariam motivados para satisfazer os próprios interesses e atender a suas necessidades. A soma de todos os trabalhos executados pelas pessoas produziria a riqueza da nação. Ele defendia também a divisão do trabalho, em que o trabalhador, ao dominar uma única etapa da produção, tornava-se especialista em uma pequena atividade e, assim, passava a ser mais produtivo.
Responda em seu caderno.
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• Que elementos da imagem estão de acordo com a teoria defendida por Adam Smifi?
Com essas ideias, baseadas no individualismo e na capacidade criativa do ser humano, Ismíf criticava o mercantilismo e o colonialismo, pois acreditava que os países deveriam ser livres para estabelecer suas relações comerciais. A crescente burguesia industrial britânica, que desejava ampliar os mercados para seus produtos, adotou rapidamente essas ideias. Adam Smifi é considerado o pai do liberalismo econômico, e suas obras são ainda muito estudadas.
Responda em seu caderno.
Recapitulando
- Quais são as principais ideias do liberalismo econômico de Adam Smifi?
- De que modo as ideias liberais de Djón Lóque e Adam Smifi estão presentes no mundo contemporâneo?
Leitura complementar
A propriedade privada para Russô e lóqui
jeãn jác russô e Djón Lóque apresentavam argumentos diferentes a respeito da propriedade privada. Leia, a seguir, o que os dois filósofos escreveram sobre a questão.
Texto um
“O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer ‘isto é meu’ e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado aos seus semelhantes: ‘Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e a terra não pertence a ninguém!’. Grande é a possibilidade, porém, de que as coisas já então tivessem chegado ao ponto de não poder mais permanecer como eram, pois essa ideia de propriedade, dependendo muito de ideias anteriores que só puderam nascer sucessivamente, não se formou repentinamente no espírito humano. Foi preciso fazer-se muitos progressos, adquirir-se muita indústria e luzes, transmiti-las e aumentá-las de geração em geração, antes de chegar a esse último termo do estado de natureza. reticências
O primeiro sentimento do homem foi o de sua existência, sua primeira preocupação a de sua conservação. As produções da terra forneciam-lhe todos os socorros necessários; o instinto levou-o a utilizar-se deles. reticências
reticências desde o instante que um homem sentiu necessidade do socorro de outro, desde que se percebeu ser útil a um só contar com provisões para dois, desapareceu a igualdade, introduziu-se a propriedade, o trabalho tornou-se necessário e as vastas florestas se transformaram em campos aprazíveis que se impôs regar com o suor dos homens e nos quais logo se viu a escravidão e a miséria germinarem e crescerem com as colheitas. reticências
reticências os mais fortes realizavam mais trabalho, o mais habilidoso tirava mais partido do seu, o mais engenhoso encontrava meios para abreviar a faina [trabalho], o lavrador sentia mais necessidade de ferro, ou o ferreiro mais necessidade de trigo e, trabalhando igualmente, um ganhava muito, enquanto outro tinha dificuldade de viver. Assim que a desigualdade natural insensivelmente se desenvolve junto com a desigualdade de combinação, e as diferenças dos homens, desenvolvidas pelas das circunstâncias, se tornam mais sensíveis, mais permanentes em seus efeitos e começam a influir na sorte dos particulares.”
Russô, Jãn Jaque . Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens. São Paulo: Abril, 1983. página 259-266. (Coleção Os pensadores).
Texto dois
“27. Ainda que a terra e todas as criaturas inferiores pertençam em comum a todos os homens, cada um guarda a propriedade de sua própria pessoa; sobre esta ninguém tem qualquer direito, exceto ela. Podemos dizer que o trabalho de seu corpo e a obra produzida por suas mãos são propriedade sua. Sempre que ele tira um objeto do estado em que a natureza o colocou e deixou, mistura nisso o seu trabalho e a isso acrescenta algo que lhe pertence, por isso o tornando sua propriedade. reticências Sendo este trabalho uma propriedade inquestionável do trabalhador, nenhum homem, exceto ele, pode ter o direito ao que o trabalho lhe acrescentou, pelo menos quando o que resta é suficiente aos outros, em quantidade e em qualidade.
28. Aquele que se alimentou com bolotas que colheu sob um carvalho, ou das maçãs que retirou das árvores na floresta, certamente se apropriou delas para si. Ninguém pode negar que a alimentação é sua. reticências Será que alguém pode dizer que ele não tem direito àquelas bolotas do carvalho ou àquelas maçãs de que se apropriou porque não tinha o consentimento de toda a humanidade para agir dessa fórma? reticências Se tal consentimento fosse necessário, o homem teria morrido de fome, apesar da abundância que Deus lhe proporcionou. Sobre as terras comuns que assim permanecem por convenção, vemos que o fato gerador do direito de propriedade, sem o qual essas terras não servem para nada, é o ato de tomar uma parte qualquer dos bens e retirá-la do estado em que a natureza a deixou. E esse ato de tomar esta ou aquela parte não depende do consentimento expresso de todos. reticências
31. Talvez surja uma objeção que reticências qualquer um pode tomar tudo para si, se esta for a sua vontade. A isso eu respondo que não é bem assim. A mesma lei da natureza que nos concede dessa maneira a propriedade também lhe impõe limites. reticências Tudo o que um homem pode utilizar de maneira a retirar uma vantagem qualquer para sua existência sem desperdício, eis o que seu trabalho pode fixar como sua propriedade. Tudo o que excede a esse limite é mais que a sua parte e pertence aos outros.”
LÓQUE, Djon. Segundo tratado sobre o governo civil e outros ensaios. Petrópolis: Vozes, 1994. página 98-100. (Coleção Clássicos do pensamento político).
Responda em seu caderno.
Questões
- Quem é o “impostor” a que se refere o texto de Russô? Explique o ponto de vista desse filósofo.
- Segundo Russô, em que momento da história da humanidade a desigualdade surgiu? Que atividades econômicas causaram isso?
- Explique por que Russô criticava a existência da propriedade privada.
- Para lóqui, quando algo se torna propriedade privada? Que argumentos ele utiliza para defender essa ideia?
- lóqui afirma que há limite para que um indivíduo não tome posse de tudo. Que limite é esse?
- Quais são as diferenças entre o pensamento de Russô e o de lóqui em relação à propriedade privada?
Despotismo esclarecido: uma nova concepção de Estado
No fim do século dezoito, na Europa, estabeleceu-se um tipo de governo que ficou conhecido como despotismo esclarecido. Déspota é sinônimo de indivíduo autoritário, tirano; esclarecido designa o indivíduo que tem conhecimento das coisas. Dessa fórma, o despotismo esclarecido caracterizou-se pela combinação do absolutismo real com algumas ideias iluministas. Os déspotas esclarecidos mantinham o poder centralizado, mas adotavam medidas que modernizavam a administração, como o incentivo à educação pública, o contrôle das finanças e a redução do poder da Igreja.
A Rússia, por exemplo, um Estado despótico e uma das economias menos desenvolvidas da Europa, adotou algumas ideias iluministas durante o governo da czarinaglossário Catarina segunda. Entre as medidas tomadas pela governante, destacaram-se a relativa liberdade de culto concedida aos súditos e o contrôle da Igreja Ortodoxa pelo Estado. Porém, a burguesia russa no século dezoito era inexpressiva. Assim, em um país essencialmente agrário e feudal, as medidas modernizadoras de Catarina segunda foram pouco eficientes.
Tal como aconteceu na Rússia, o Iluminismo foi introduzido no Império Austríaco por obra do monarca José segundo. Porém, suas reformas foram mais profundas e eficazes que as implementadas por Catarina segunda. O imperador austríaco aboliu a servidão, concedeu liberdade de culto, estabeleceu a igualdade de todos perante a lei e admitiu não católicos nos postos de trabalho da administração pública.
O monarca da Prússia, Frederico segundo, por sua vez, foi um grande amigo de voltér. Influenciado pelo filósofo francês, implantou em seu reino várias medidas defendidas pelos iluministas, como a abolição da tortura e dos direitos feudais, a criação de escolas, o incentivo à instrução pública e a tolerância religiosa.
O despotismo esclarecido em Portugal
No século dezoito, mesmo sendo um grande império colonial, Portugal tinha uma economia muito dependente de suas colônias. Carente de indústrias, o reino português dependia das importações de manufaturados britânicos. Além disso, o peso da Igreja Católica sobre a moral, os costumes e o ensino era um dos mais fortes em toda a Europa.
O Iluminismo chegou a Portugal por meio de Sebastião José de Carvalho e Melo, o futuro marquês de Pombal. Ele assumiu o cargo de secretário de Estado em meio a uma forte crise econômica, agravada pela destruição de Lisboa por um violento terremoto, seguido de um tissunãmi, em novembro de 1755. Rapidamente, Pombal organizou a distribuição de alimentos e a construção de abrigos para as vítimas da catástrofe. Além disso, encomendou projetos de reconstrução da cidade. cêrca de um ano depois do início das obras, em 1758, Lisboa estava quase completamente reconstruída.
Pela competência demonstrada na condução da tarefa, Pombal conquistou a confiança do rei Dom José primeiro, concentrou vários poderes e iniciou um programa de reformas no governo. Suas medidas de caráter iluminista, racionalizando o uso dos recursos do Estado, não foram tomadas para combater o absolutismo português, mas para fortalecê-lo e tornar o Estado mais eficiente.
A fim de promover o enriquecimento de Portugal, Pombal estimulou a indústria, o comércio e a agricultura. Além disso, combateu o clero, particularmente os jesuítas, por entender que eles interferiam demais nos negócios do reino. Por ordem de Pombal, os jesuítas foram expulsos de Portugal e de todas as possessões ultramarinas portuguesas.
Saiba mais
O Brasil e a reconstrução de Lisboa
Pouco mais de um mês após o terremoto em Lisboa, seis projetos foram apresentados para a reconstrução da cidade. Contudo, somente em maio de 1758 um alvaráglossário permitiu o início dos trabalhos. As obras foram financiadas, principalmente, pelo ouro e pelos diamantes extraídos das regiões mineradoras na América portuguesa nesse período.
Conexão
O contrato social
jeãn jác russô. Adaptação e ilustrações: Equipe East Press. Porto Alegre: Ele e Pê ême Póquét Mangá, 2014.
Essa obra clássica de jeãn jác russô foi adaptada para o formato de mangá. Com desenhos e linguagem clara e acessível, apresenta o contexto político, econômico e social da França no século dezoito, assim como a crítica do filósofo ao absolutismo e sua ideia de contrato social.
Responda em seu caderno.
Recapitulando
- Defina o termo despotismo esclarecido.
- Por que é possível dizer que os déspotas esclarecidos foram inovadores na adoção de algumas medidas econômicas, mas conservadores na política?
- De que fórma os princípios iluministas foram adotados nas reformas pombalinas em Portugal? Quais eram os objetivos de Pombal ao empreender essas reformas?
Atividades
Responda em seu caderno.
Aprofundando
1. Copie o quadro em seu caderno e complete-o.
País que foi o centro do movimento |
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Principais pensadores |
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Críticas que os iluministas faziam |
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Principais ideias |
- Na obra Leviatã, publicada em 1651, o filósofo inglês Tômas Róbes afirmou que “a razão é o passo, o aumento da ciência, o caminho, e o benefício da humanidade, o fim”.
- Essa declaração prenunciou uma ideia-chave do Iluminismo, que se manifestaria no século dezoito. Identifique-a.
- Explique o sentido dessa declaração de Tômas Róbes.
- Você concorda com o ponto de vista do filósofo? Por quê?
- Observe a imagem e responda às questões.
- Qual parece ser, nessa representação, a condição social do professor e de seus alunos? Como aparenta ser a relação entre eles? Justifique seu ponto de vista.
- Que elementos dessa gravura remetem aos ideais iluministas?
- Que semelhanças e diferenças você identifica entre a sala de aula representada na gravura e a em que você estuda? Explique.
- Entre os pensadores que desenvolveram ideias que dariam início ao liberalismo político e econômico estavam o inglês Djón Lóque e o escocês Adam Smifi. Identifique a alternativa que descreve corretamente as ideias liberais.
- O Estado de direito e as práticas econômicas mercantilistas.
- A usurpação de terras pelo Estado e a socialização dos meios de produção.
- O direito à propriedade privada e a não intervenção do Estado na economia.
- A divisão tripartite do poder e a exploração de colônias pelos países europeus.
- O estabelecimento de monopólios e a taxação sobre o campo como fórma de um país gerar riquezas.
Aluno cidadão
5. Ao longo dos séculos dezenove e vinte, ideias iluministas, como a valorização da liberdade e a defesa dos direitos naturais das pessoas e da igualdade de todos perante as leis, foram ampliadas e deram origem ao conceito de direitos humanos. Além disso, foram reconhecidos os direitos de segmentos específicos da sociedade, como o das crianças e dos adolescentes. Vamos investigar quais são? Em grupos, sigam o roteiro.
a) Pesquisem e registrem no caderno.
- Quais são os documentos que defendem os direitos das crianças e dos adolescentes no Brasil? Quando foram elaborados e por quem?
- O que esses documentos determinam sobre educação, saúde e trabalho?
b) Discutam estas questões.
- Essas determinações vêm sendo cumpridas? Existem aspectos que podem ser melhorados? Quais e como?
- Na opinião de vocês, quais são os deveres das crianças e dos adolescentes?
c) Apresentem os resultados.
• Organizem, em um cartaz ou em um arquivo digital, uma apresentação com as conclusões do grupo.
Conversando com ciências
6. Leia o texto e faça o que se pede.
“Num momento em que o estudo dos fenômenos da natureza aparecia crescentemente associado à perspectiva da intervenção humana, o aumento da ciência representava a ampliação das possibilidades de transformação do meio, com vistas a promover o bem-estar da humanidade. reticências
Não por acaso o ideário do progresso se projetou como um dos temas fundamentais do Iluminismo europeu. reticências Considerava-se que a transposição das sociedades tradicionais às sociedades modernas se dava por meio da implementação de um conjunto de processos específicos, como industrialização, urbanização, mercantilização, ampliação da divisão do trabalho, burocratização, formação do Estado, racionalização.”
FERREIRA, Rodrigo de Souza. Capitalismo, ciência e natureza: do ideário iluminista do progresso à crise ambiental contemporânea. 2016. Tese (Doutorado em Extensão Rural) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Minas Gerais, 2016. página 44, 96.
- Segundo alguns iluministas, qual era o principal objetivo do estudo das ciências?
- Que processos marcariam a sociedade moderna, de acordo com o texto?
- Os iluministas associaram a ideia de progresso ao contínuo desenvolvimento científico e tecnológico. Para eles, o crescente domínio humano sobre a natureza estaria na base da construção de um modelo de sociedade superior ao das sociedades tradicionais. Contudo, ao longo da história, vimos que, apesar de os avanços científicos proporcionarem muitas melhorias à vida humana, também provocaram profundas transformações ambientais. Cite alguns problemas ambientais advindos desse processo.
- Junte-se a três colegas e pesquisem matérias jornalísticas que tratem das políticas voltadas para as populações indígenas no Brasil. Depois, respondam: Algum dos textos reproduz a perspectiva iluminista em relação às sociedades tradicionais? Na opinião de vocês, essa concepção é coerente com os desafios do século vinte e um? Justifiquem.
enêm e vestibulares
7. ( enêm Méqui)
De acordo com algumas teorias políticas, a formação do Estado é explicada pela renúncia que os indivíduos fazem de sua liberdade natural quando, em troca da garantia de direitos individuais, transferem a um terceiro o monopólio do exercício da fôrça. O conjunto dessas teorias é denominado de
- liberalismo.
- despotismo.
- socialismo.
- anarquismo.
- contratualismo.
Fazendo e aprendendo
Pesquisa
Na era digital, realizar uma pesquisa pode parecer, à primeira vista, simplesmente buscar e coletar as informações na internet, que já tem pronto aquilo que procuramos. No entanto, a grande quantidade de informações existentes na internet, informações essas nem sempre verdadeiras, pode dificultar bastante esse trabalho. Para fazer uma boa pesquisa, é preciso prestar atenção a detalhes e tomar alguns cuidados. O que garante a confiabilidade das informações encontradas? Como saber se elas estão completas e se são adequadas à finalidade da pesquisa?
Se bem utilizada, a internet é uma ferramenta útil e poderosa. Adotando estes procedimentos, você poderá pesquisar com segurança em ambiente virtual, garantindo, assim, a qualidade no resultado final do seu trabalho.
- Acesse um site de buscas. Alguns buscadores funcionam melhor em um ou outro navegador; uns são mais rápidos, outros mais complexos. Escolha aquele com o qual você está acostumado.
- Utilize palavras-chave para fazer a busca. Por exemplo, se você precisar pesquisar sobre a sociedade inglesa durante a Revolução Industrial, digite no campo de busca do navegador “sociedade inglesa revolução industrial”. Se desejar encontrar duas ou mais palavras, use o sinal “+” entre elas (ex.: sociedade + inglesa + revolução + industrial) ou, ainda, caso queira pesquisar uma frase inteira, coloque-a entre aspas. Assim, o resultado da pesquisa será mais específico.
- Feita a busca, serão mostrados vários links, um após o outro. Cada link que aparece na pesquisa apresenta uma descrição. Leia as descrições para encontrar o que deseja.
Tenha cuidado com os sites que você vai acessar para obter as informações: dê preferência a páginas oficiais do governo (que apresentam a extensão “ góv”), de organismos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde ( ó ême ésse) ou os órgãos ligados à Organização das Nações Unidas (como a unêsco e o unicéfi), de veículos de comunicação confiáveis, como revistas e jornais, de instituições de ensino, como universidades, museus etcétera
Para pesquisas em fontes impressas, siga estas dicas.
- Se a pesquisa for feita em livros, consulte o sumário da obra, no qual todos os assuntos são previamente listados. Depois, basta dirigir-se às páginas relacionadas ao tema da pesquisa e ler o texto contido nelas.
- Se a pesquisa for feita em revistas, uma espécie de sumário também poderá ser conferida no início.
- Para a busca em jornais, uma boa dica é pesquisar nos cadernos específicos de temas (economia, política, cultura etcétera).
Fique atento: uma pesquisa nunca deve se basear apenas em uma fonte. É recomendável consultar três ou mais fontes. Em um trabalho, você deve citar todas as fontes consultadas.
Levando essas orientações em consideração, converse com seus colegas sobre as seguintes questões: Por que é fundamental pesquisar em mais de uma fonte? Qual é a importância de citar as fontes quando se faz uma pesquisa para um trabalho?
Responda em seu caderno.
Aprendendo na prática
Junte-se a um colega e, com base em uma pesquisa, elaborem um texto sobre um dos temas estudados na unidade. Sigam estas dicas.
- Escolham o tema. Procurem um assunto que não tenha sido muito aprofundado na unidade, para que vocês possam expandir seus conhecimentos sobre ele.
- Pesquisem o assunto em mais de uma fonte. Se possível, utilizem fontes de tipos diferentes – livros e sites, por exemplo.
- Citem as fontes da pesquisa na parte final do trabalho. Se vocês reproduzirem trechos de alguma das fontes, insiram aspas no início e no final do trecho citado e indiquem o nome do autor, o nome da obra, a cidade, a editora, o ano da publicação e o número da página da qual foi retirada a citação. Se o trecho for retirado da internet, insiram o nome do autor, o título do texto, o nome do site, o link da página e a data do acesso.
- Ao fim do trabalho de escrita, revisem o texto e façam uma apresentação do que aprenderam na pesquisa para as outras duplas.
Glossário
- : termo usado para designar uma imperatriz russa. É o feminino de , palavra que tem origem no nome quizár César, governante romano.
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- Alvará
- : documento ou licença emitida por uma autoridade administrativa que permite o exercício ou a prática de certas atividades, como comércio, construção, entre outras.
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