CAPÍTULO 4  França: revolução e era napoleônica

Fotografia. Destaque para uma mulher de cabelos pretos e lisos, na altura dos ombros. Veste um longo vestido azul e usa um lenço da mesma cor cobrindo parcialmente os cabelos e o pescoço. Com uma das mãos ela segura o microfone. A outra está esticada para cima. Ao fundo, um painel com o título: THE MASSACHUSETTS CONFERENCE FOR WOMEN.
Malala iuçáfizái durante a Conferência para Mulheres, em bóston, nos Estados Unidos. Foto de 2019. Ela é uma jovem ativista paquistanesa que luta pelos direitos das mulheres e, em 2014, recebeu o Prêmio Nobel da Paz.

No trecho a seguir, o historiador francês michél vovéil explica a sua neta gabriéle o significado simbólico da Revolução Francesa para a atualidade.

A revolução é feita de sombra, mas, acima de tudo, de luz. Ela foi de uma enorme violência, por vezes descontrolada e selvagem, por vezes necessária para enfrentar um mundo antigo que se defendia ferozmente. reticências Mas foi, e continua sendo, a base para reticências a esperança de mudar o mundo reticências. reticências sabemos que seu êxito teve origem na união das aspirações da burguesia e das classes populares. E, por causa disso, percebe-se bem tudo o que fica faltando: a conquista da igualdade pela mulher, a ratificação do fim da escravidão, mas, sobretudo, a eliminação das desigualdades sociais reticências.

– Você acredita que para nós, jovens, que a vemos de tão longe, ela ainda tem sentido?

– Essa revolução na história continua sendo, também, a nossa revolução reticências. Conhecemos, daí em diante, outras revoluções que se diziam igualitárias, reticências e delas nos restou o gosto amargo de um terrível fracasso. Mas o sonho e a necessidade de mudar o mundo continuam intactos.”

vovéil, michél. A Revolução Francesa explicada à minha neta. São Paulo: Editora Unésp, 2007. página 99-101.

A Revolução Francesa foi um importante marco da história ocidental pela radicalidade das transformações que promoveu, delimitando o início da chamada Idade Contemporânea.

  • Segundo michél vovéil, qual é o significado simbólico da Revolução Francesa para a atualidade?
  • Em sua opinião, qual seria a melhor fórma de alterar situações intoleráveis de desigualdade e injustiça? Por quê?
  • Com base no exemplo de Malala iuçáfizái, explique a importância da atuação dos jovens para tornar a realidade mais justa, inclusiva e solidária.

A França às vésperas da revolução

No final do século dezoito, a França era uma monarquia absolutista governada pelo rei Luís dezesseis, que concentrava todos os poderes do Estado. A sociedade ainda mantinha bases feudais e estava dividida em três ordens: o primeiro estado, formado pelo clero, o segundo estado, constituído pela nobreza, e o terceiro estado, composto de camponeses, operários, profissionais liberais e burgueses, ou seja, a maioria da população. Essa rígida divisão social era uma das principais características do Antigo Regime.

O clero, além das atividades religiosas, monopolizava o ensino, interferia nas publicações que circulavam na França e prestava assistência aos necessitados. A cobrança do dízimo e de impostos sobre o que era produzido nas propriedades da Igreja era a principal fonte de renda do clero.

A nobreza detinha a maior parte das terras do reino e cobrava impostos dos camponeses pelo uso das terras senhoriais, incluindo tributos feudais. Além disso, os nobres recebiam do rei uma série de privilégios e títulos honoríficosglossário e podiam participar de atividades políticas e militares.

O terceiro estado correspondia a aproximadamente 96% da população da França naquele período, estimada em 25 milhões de pessoas. Os camponeses constituíam o maior grupo dessa camada social. Eles pagavam tributos aos nobres pelo uso das suas propriedades e ao governo pela compra dos artigos de que precisavam.

A burguesia, que também compunha o terceiro estado, estava se tornando próspera em decorrência do crescimento da economia francesa ao longo do século dezoito. Por meio da diversificação das manufaturas, que inicialmente atendiam apenas às necessidades da côrte, os burgueses acumularam riquezas e propriedades. Essa condição lhes permitiu pressionar a coroa para obter postos no governo e, assim, participar da direção do Estado.

Charge. Homem de casaco vermelho, calça azul e chapéu marrom está deitado no chão, embaixo de uma pedra. Ao redor dele, ferramentas agrícolas como uma pá e um arado. Na pedra, estão escritas as palavras ‘Talha’, ‘Impostos’ e ‘Corveias’, em francês. Sobre a pedra, dois homens em pé. Um deles veste roupas parecidas com as do homem embaixo da pedra, mas com detalhes militares. Ele segura uma espada nas mãos, e a bainha está presa ao seu corpo por uma faixa transversal. Ao seu lado, homem vestindo uma batina escura comprida, que cobre todo seu corpo, com uma cinta de tecido marrom presa na cintura. Ele usa um chapéu comprido, e segura um livro nas mãos.
Charge do século dezoito representando as três ordens da sociedade francesa. Museu Carnavalet, Paris, França.

Responda em seu caderno.

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  1. Que grupos sociais da França do século dezoito foram representados na charge? Que elementos da imagem o ajudam a chegar a essa conclusão?
  2. Que aspecto da organização social francesa foi representado na charge?

A difusão das ideias iluministas

As mudanças que ocorriam na França pré-revolucionária, como o fortalecimento da burguesia, atingiam o terreno das ideias. Naquele período, circulavam jornais e panfletos pelo país divulgando ideias iluministas, como a da igualdade dos homens perante a lei e a da defesa da razão como guia de todas as ações e instituições humanas, entre elas o governo.

Inicialmente, para escapar da censura da Igreja e do Estado, os princípios iluministas circulavam em espaços restritos, como os clubes literários, por meio de obras clandestinas e de teor satírico que tratavam da devassidão da nobreza e do clero. Com o aumento da circulação desses impressos, as discussões públicas sobre política tornaram-se inevitáveis, e essas ideias passaram a ser discutidas em praças, cafés e outros locais públicos, atingindo a população não alfabetizada.

Aos poucos, os ideais iluministas ultrapassaram as fronteiras das cidades e chegaram aos campos. Eles foram essenciais para formular a crítica ao poder estabelecido na França.

A crise financeira e política

No fim do século dezoito, a rígida divisão social do Antigo Regime tornava-se inadequada às transformações pelas quais passava a sociedade francesa. O contrôle do Estado absolutista sobre a produção e o comércio, por exemplo, tornou-se um empecilho ao desenvolvimento econômico. Esse quadro agravou-se com a crise financeira da França.

O governo gastava muito mais dinheiro do que recolhia, e não havia nenhum tipo de contrôle sobre os gastos da côrte e da administração das províncias. Estas eram governadas por intendentes, isto é, nobres nomeados pelo rei, que recebiam uma série de privilégios. Muitos eram corruptos e desviavam dinheiro dos impostos arrecadados.

Fotografia. Ambiente amplo e bem iluminado. Tem o teto curvo decorado com pinturas. Todos os detalhes do espaço são dourados. Na parede do lado esquerdo, grandes espelhos com molduras em arco. Na parede direita, grandes janelas com abertura em arco. Diversos lustres de cristal estão pendurados pelo teto, e há, nas laterais, castiçais de cristal apoiados em suportes dourados.
Galeria dos Espelhos do Palácio de Versalhes, França. Foto de 2020. Residência oficial da família real francesa, o palácio também abrigava os membros da côrte, que, apesar da crise geral do país, mantinham seu luxo e seus privilégios.

A delicada situação financeira do país agravou-se com o apoio dado pela França ao movimento de independência das Treze Colônias britânicas na América. Com as despesas militares assumidas no conflito, as dívidas do governo francês cresceram tanto que os empréstimos solicitados aos bancos e o aumento dos tributos sobre o terceiro estado não foram suficientes para recuperar as finanças públicas.

Uma das propostas para contornar a grave crise financeira era efetuar uma austera reforma fiscal e cobrar impostos de toda a população, inclusive do primeiro e do segundo estados. A nobreza e o clero, diante da ameaça a seus privilégios, resistiram à mudança, criando mais um problema para o rei Luís dezesseis.


Os Estados Gerais e a Assembleia Nacional Constituinte

Na esperança de conseguir aprovar mudanças fiscais na França, o rei Luís dezesseis convocou os Estados Gerais. Reunida pela última vez havia mais de um século, essa assembleia era composta do monarca e dos deputados representantes de cada estado.

No dia 5 de maio de 1789, os Estados Gerais se reuniram em Versalhes para a primeira sessão. Apesar de muitas discussões entre seus membros, nada foi decidido. Os representantes do terceiro estado, que eram maioria, queriam o voto individual. O clero e a nobreza, por sua vez, exigiam o voto por estado, pois eles se uniriam, garantindo a vitória de suas propostas e a manutenção de seus privilégios. Diante desse impasse, os deputados do terceiro estado se retiraram dos Estados Gerais. Em 17 de junho de 1789, eles declararam-se parte da Assembleia Nacional Permanente para elaborar uma constituiçãoglossário para o país.

Pressionado, o rei reconheceu a nova assembleia e ordenou que os deputados do primeiro e do segundo estados se unissem a ela. Em julho, a assembleia nomeou um comitê constituinte, passando a ser conhecida como Assembleia Nacional Constituinte.

O início da revolução

Os acontecimentos políticos eram acompanhados com grande expectativa pela população. Com a crise de desabastecimento, o custo de vida tornou-se muito alto e os saques a mercados e armazéns cresceram, sendo difícil para as tropas reais conter os famintos. Multiplicou-se a quantidade de mendigos que vagavam pelas cidades e amedrontavam o restante da população, que temia roubos e furtos. Para agravar a situação, muitas manufaturas francesas, prejudicadas pela concorrência dos produtos britânicos, foram à falência, elevando o desemprego a índices alarmantes.

No dia 14 de julho de 1789, em busca de armas e munição para combater as tropas reais, uma multidão invadiu a Bastilha, fortaleza utilizada como prisão real em Paris e símbolo do absolutismo na França. Com a tomada da Bastilha, a fôrça popular deu início à revolução. Paris sofreu uma onda de violência que as autoridades não conseguiram conter: funcionários do governo e aristocratas foram assassinados e tiveram suas casas saqueadas. Rapidamente o movimento se espalhou pelo campo e pelas províncias vizinhas.

Enquanto alguns nobres ainda mantinham tropas para enfrentar a população enfurecida, outros optaram por buscar abrigo em países vizinhos, como Áustria e Prússia, onde passaram a conspirar contra a revolução.

Charge. Homem de casaco vermelho e chapéu comprido preto, deitado no chão, segurando uma corrente. Ele parece fazer um movimento de quem está se levantando, enquanto segura uma arma que está no chão. Em pé, à sua esquerda, dois homens olham-no. Estão com a boca aberta e olhar assustado. Um dos homens veste uma batina preta que cobre todo o corpo, e o outro veste um uniforme azul e carrega uma espada embainhada na cintura, ao lado do seu corpo. Ao fundo, a Bastilha.
O despertar do terceiro estado, charge de 1789. Biblioteca Nacional, Paris, França.

Responda em seu caderno.

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Compare essa imagem com a charge da página 66. Qual foi a mudança de atitude do homem deitado no chão? O que isso representa?


A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

A fim de conter as agitações populares que tomaram conta da França, a Assembleia Nacional, controlada pela grande burguesia mercantil e industrial, aprovou o fim dos direitos senhoriais, do dízimo e dos tributos feudais. No entanto, para libertar-se da terra, os camponeses deviam pagar uma taxa de resgate aos senhores.

As resoluções da Assembleia Nacional Constituinte aboliram, juridicamente, os privilégios feudais e a sociedade rigidamente hierarquizada do Antigo Regime. Essas resoluções foram reafirmadas em 26 de agosto de 1789, com a publicação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Composto de 17 artigos, esse documento estabeleceu a liberdade de expressão e culto e o direito à propriedade, à segurança e à resistência a qualquer tipo de opressão. Leia, a seguir, alguns artigos desse documento.

Artigo 1º. Os homens nascem e são livres e iguais em direitos.

As distinções sociais só podem ter como fundamento a utilidade comum. reticências

Artigo 4º. A liberdade consiste em poder fazer tudo o que não prejudique o próximo. reticências

Artigo 6º. A lei reticências deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos. reticências

Artigo 11º. A livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem; todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos dessa liberdade nos termos previstos na lei.

DECLARAÇÃO dos Direitos do Homem e do Cidadão [26 agosto 1789]. Disponível em: https://oeds.link/JbxweU. Acesso em: 9 maio 2022.

Fotografia. Pessoas em uma caminhada na rua. Elas estão vestidas de branco e carregam uma grande faixa escrito: CONTRA A INTOLERÂNCIA! PELA LIBERDADE RELIGIOSA.
Pessoas participam da 12ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa na orla de Copacabana, no município do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Foto de 2019. Mais de duzentos anos após a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, algumas religiões, como as de matrizes africanas, ainda sofrem com violência, ataques e ofensas.

Refletindo sobre

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão estabeleceu a igualdade de todos perante a lei e o direito à liberdade. Com base nesses princípios, converse com os colegas sobre os direitos que vocês têm como estudantes e os limites necessários para que seja assegurado o bom convívio escolar.


A Monarquia Constitucional

Em outubro de 1789, a família real foi retirada de Versalhes e levada para o Palácio das Tulherias, em Paris. Na cidade, que voltou a ser a capital, Luís dezesseis adotou uma postura ambígua em relação à política do país. Ele parecia aceitar as resoluções dos revolucionários, enquanto articulava com alguns emigrados um plano para retomar o poder.

A situação tornou-se tensa quando, em junho de 1791, o rei e sua família tentaram fugir do país. O plano era organizar tropas fóra da França com a ajuda de outros monarcas europeus e retornar ao país para restabelecer a antiga ordem. O plano, porém, fracassou. Eles foram detidos na cidade de Varennes e conduzidos de volta a Paris. Em setembro daquele ano, o rei Luís dezesseis foi obrigado a jurar a constituição aprovada pela Assembleia Constituinte.

Pintura. No centro, Luís dezesseis, homem de cabelos brancos, veste uma capa vermelha sobre um dos ombros, que cobre parte de suas roupas. Ele olha na direção de um feixe de luz, que vem do alto e o ilumina. À frente, em primeiro plano, mulher com roupas largas e parte do seio à mostra. Atrás dela, pessoas vestindo peças de tecido sentadas no chão. À direita, homem de vestes militares e instrumentos musicais no chão, próximos a ele. Todos olham para cima. No centro, à esquerda, homem segura o chapéu para o alto. A seu lado, homem apoiado em uma mesa de pedra. Mais acima, um homem com uma foice nas mãos, crianças de aparência angelical, uma mulher vestida toda de branco, apenas com o rosto à mostra, e um homem de feições angelicais segura uma coroa de louros.
Luís dezesseis jurando lealdade à constituição no altar da pátria, pintura de nicolá guí brenê, século dezoito. Museu de Belas Artes, Quimper, França.

Pela Carta Magna, o Estado francês foi organizado em três poderes: o Executivo (exercido pelo rei), o Legislativo (composto de 745 deputados eleitos por meio do voto censitário) e o Judiciário (constituído por juízes eleitos). Além disso, a Constituição francesa eliminou as restrições mercantilistas e garantiu a livre iniciativa e a liberdade de comércio, estabeleceu uma nova contribuição sobre a propriedade da terra e aboliu alguns impostos.

Os camponeses e os integrantes das camadas populares urbanas – os chamados sans-culottes –, porém, não ficaram satisfeitos com as reformas estabelecidas pela constituição. Elas pouco alteravam suas condições de vida, e, para piorar, a crise econômica ainda não havia sido solucionada. Entre as principais reivindicações dos sans-culottes estavam o fim das taxas cobradas sobre os alimentos, o direito ao voto universal masculino e a instituição de uma república na França.

Saiba mais

Quem eram os sans-culottes?

Em português, sans-culotte quer dizer “sem culote”. O culote era um tipo de calça curta, presa na altura dos joelhos, utilizada pelos nobres franceses. Em oposição a eles, o termo sans-culottes denominava os integrantes das camadas populares urbanas, como artesãos, operários e pequenos lojistas, que usavam calças compridas. Durante a revolução, os sans-culottes também usavam o barrete frígio, touca de cor vermelha semelhante à usada pelos escravizados libertos do Império Romano, em referência à sua libertação em relação ao Antigo Regime.


Ilustração. Pessoa de calças curtas com listras verticais brancas e vermelhas, casaco azul e um barrete frígio vermelho comprido. Tem os cabelos claros e ondulados, na altura dos ombros. Tem pendurado na lateral do corpo uma espada embainhada. Apoia com as mãos uma baioneta comprida. Está descalço.
Ilustração do século dezenove representando um sans-culotte.

A Assembleia Legislativa

Depois de aprovada a constituição, a Assembleia Nacional Constituinte foi substituída por uma Assembleia Legislativa, em outubro de 1791. Seus deputados estavam divididos em grupos com diferentes tendências políticas.

  • Jacobinos. Representando os membros da pequena burguesia, eles defendiam a igualdade de todos perante a lei. Suas reuniões eram realizadas no convento de sãn jáque, que deu origem ao nome do grupo.
  • Girondinos. Republicanos moderados, seus membros representavam a alta burguesia mercantil e financeira e os nobres liberais. Esses homens eram maioria na Assembleia Legislativa. Os líderes do grupo vinham da Gironda, região do interior da França; daí o nome girondinos.
  • Cordeliers. Defendiam mudanças radicais na França, como a proclamação da república e a realização de uma grande reforma agrária. Seus deputados estavam ligados aos sans-culottes.
  • Planície ou Pântano. Setor da burguesia representado por um grupo de deputados moderados e sem posições políticas definidas, os quais se opunham ao setor mais radical.
  • Monarquistas constitucionais. Também chamados de feuillants, eles defendiam a manutenção da ordem estabelecida pela constituição.

Em abril de 1792, a França entrou em guerra contra a Áustria e a Prússia. Os soberanos desses países temiam que a revolução se espalhasse pela Europa, ameaçando a preservação do Antigo Regime nos territórios governados por eles. Luís dezesseis e os deputados contrarrevolucionários apoiavam o conflito, pois acreditavam que o país seria facilmente derrotado e a antiga ordem seria restaurada. No entanto, a situação interna da França piorou. A população saiu às ruas para defender a revolução. Os revolucionários cercaram o Palácio das Tulherias e prenderam o rei e sua família, acusados de traição à pátria.

Fotografia. Monumento em pedra com uma estátua de bronze no topo. Ele tem inscrições em francês em sua superfície. A parte de cima é ornamentada. A estátua representa uma pessoa segurando uma espada com uma mão e erguendo o chapéu com outra.
Monumento na região de Valmy, França, em homenagem ao general quélermãn, líder francês da Batalha de Valmy (contra os prussianos, em setembro de 1792), considerada a primeira vitória militar da Revolução Francesa. Foto de 2014.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Explique como cada um dos fatores a seguir contribuiu para a eclosão da Revolução Francesa.
    1. Sociedade hierarquizada e desigual.
    2. Descontentamento da burguesia.
    3. Circulação de novas ideias.
    4. Crise financeira da França.
  2. O que foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão? Que medidas ela estabeleceu?
  3. Cite três resoluções estabelecidas na Constituição francesa e relacione-as com os princípios iluministas.
  4. Em outubro de 1791, a Assembleia Constituinte foi substituída por uma Assembleia Legislativa. Elabore uma ficha com as características das diferentes tendências políticas representadas nesse órgão.

A República Francesa

Imediatamente após a prisão do rei, foram convocadas eleições com base no sufrágio universal masculino, ou seja, sem restrições de renda ou origem social. Em setembro de 1792, a Assembleia Nacional Legislativa foi substituída pela Convenção Nacional (ou simplesmente Convenção), e a república foi proclamada na França.

Para destacar esse momento de ruptura, a Convenção elaborou um novo calendário. O dia da proclamação da república, 22 de setembro de 1792, foi considerado o primeiro dia do ano um (um) da República Francesa. Todas as festas religiosas, como o Natal, foram abolidas. Cada mês recebeu um nome ligado às características climáticas e às atividades agrícolas predominantes no período.

A maioria dos deputados da Convenção estava alinhada aos girondinos, que representavam os interesses da grande burguesia mercantil e financeira e defendiam medidas moderadas, bem como a manutenção da ordem estabelecida. Os girondinos sofriam forte oposição dos jacobinos, os quais desejavam mudanças mais radicais que atendessem aos interesses dos operários e da pequena e média burguesias (artesãos, profissionais liberais, lojistas e pequenos produtores). A política dos jacobinos também se aproximava das reivindicações dos sans-culottes.

Os deputados da Convenção precisavam decidir o destino de Luís dezesseis e sua família. Os girondinos defendiam o exílio do rei. Para os jacobinos, porém, se o monarca fosse mantido vivo, poderia servir de apoio aos movimentos de restauração do Antigo Regime. A situação de Luís dezesseis piorou após a descoberta de documentos que o ligavam aos franceses emigrados e aos monarcas europeus contrários à revolução.

O rei foi convocado a depor e, após um longo processo, foi considerado culpado de traição à pátria e condenado à morte. Luís dezesseis foi guilhotinado no dia 21 de janeiro de 1793, sob os aplausos da multidão. A rainha Maria Antonieta foi guilhotinada meses depois.

Gravura. No centro da imagem, um grande e alto palanque. Sobre ele, três homens. Um está ajoelhado, manuseando um tecido claro, que está no piso do palanque. Outro homem segura uma corda com as mãos. Ela está presa no alto de uma guilhotina, no centro do palco. Preso à guilhotina, um corpo. O terceiro homem no palanque exibe a cabeça de uma pessoa. Dela escorre sangue. Ao redor do palco, uma multidão assiste à cena. Entre estas pessoas. muitas usam fardamento militar, e carregam baionetas sobre os ombros.
Trágico fim de Luís dezesseis, rei da França, gravura do século dezoito representando a execução do monarca francês em Paris. Museu Carnavalet, Paris, França.

Os jacobinos no poder

Após a morte de Luís dezesseis, a situação da França tornou-se ainda mais instável. Tropas britânicas, holandesas e espanholas aliaram-se às fôrças austríacas e prussianas na luta contra a França revolucionária. A Convenção não conseguiu conter o movimento contrarrevolucionário, e uma guerra civil eclodiu no oeste do país. As diferenças entre jacobinos e girondinos na condução da França revolucionária os levaram à ruptura definitiva.

Os jacobinos defendiam a tomada de medidas radicais para deter o avanço das tropas estrangeiras e atender aos anseios populares. Em junho de 1793, apoiados pelos sans-culottes, eles expulsaram os girondinos da Convenção e prenderam seus principais líderes. Iniciava-se o Grande Terror.

O governo jacobino suspendeu as liberdades civis e buscou conter os contrarrevolucionários. Foram instaurados, em Paris, o Comitê de Salvação Pública, que dispunha de plenos poderes sobre o exército e a política interna, e um Tribunal Revolucionário, que julgava os suspeitos de tramar contra a república. Sob a liderança de maquissimiliâ de Rubespiér, a repressão jacobina silenciou até mesmo os líderes da revolução que divergiam do governo, como Danton, executado na guilhotina em 1794.

Fotografia. Guilhotina, estrutura de madeira presa com peças de ferro. A base é retangular. No centro, uma estrutura comprida verticalmente. Dentro dela, presa no alto, uma navalha com uma lâmina de corte diagonal, e na parte de baixo, um suporte para a cabeça com um buraco.
Réplica de uma guilhotina francesa do século dezoito. Museu Carnavalet, Paris, França.

História em construção

Críticas à Revolução Francesa

fóra da França, muitos países temiam que a revolução se espalhasse pela Europa. Os revolucionários franceses eram malvistos, sobretudo quando os jacobinos assumiram o poder e adotaram medidas radicais. Uma fórma de criticar a revolução foi por meio das charges. Na Grã-Bretanha, por exemplo, divulgavam-se imagens que depreciavam os líderes revolucionários (especialmente os jacobinos) e procurava-se construir uma imagem positiva das monarquias.


Charge dividida em dois quadros, um ao lado do outro. No da esquerda, três torres em uma colina. Próximos a ela, embarcações no mar e uma grande construção com uma cúpula no topo. A imagem é toda feita em cores claras. À direita, pessoas em uma colina, ao lado de uma guilhotina e uma forca. No alto de uma montanha, pessoas penduradas. Ao fundo, um lago. A imagem é toda feita em cores escuras.
O contraste, ou As coisas como elas são, charge de djêimes guílrêi, 1796. Instituto de Arte, Chicago, Estados Unidos. Na imagem, está escrito, no alto, à esquerda, “Velha Inglaterra” e, embaixo, “Na base, a felicidade do povo”. À direita, no alto, está escrito “Nova França” e, embaixo, “Na base, despotismo”.

Responda em seu caderno.

Questões

  1. Essa charge faz uma crítica ou uma defesa da Revolução Francesa? Justifique.
  2. Que mensagem o artista transmitiu ao inserir os termos “Velha Inglaterra” e “Nova França”?

Realizações do governo jacobino

Apesar da violência praticada, o governo jacobino adotou medidas de caráter social. Os jacobinos aboliram a escravidão nas colônias francesas e tabelaram o preço do pão e de outros alimentos. Além disso, confiscaramglossário joias e outros bens dos nobres emigrados e os doaram para a população mais pobre.

O ponto alto das reformas promovidas pelos jacobinos foi a abolição, sem indenização, de todos os direitos senhoriais e a realização de uma ampla reforma agrária, que beneficiou cêrca de 3 milhões de camponeses.

Com o objetivo de sustentar a guerra contra as potências estrangeiras, o governo jacobino abriu manufaturas de armas, fundições de canhões e fábricas para produzir roupas e sapatos aos soldados. Além disso, instituiu programas de apoio aos indigentes, às viúvas e aos órfãos. No período do governo jacobino, foram ainda fundadas as primeiras escolas laicas, ou seja, desvinculadas da Igreja, e o ensino primário gratuito tornou-se obrigatório.

Outra ação importante do governo jacobino foi a unificação dos pesos e das medidas no país com a instituição do Sistema Métrico Decimal (ésse ême dê). Os cientistas da Academia de Ciências de Paris receberam a tarefa de criar um sistema de unidades com base em princípios científicos que pudesse ser adotado universalmente. Embora tenha havido certa resistência no início, o metro, o quilograma, o segundo e o litro tornaram-se muito populares e possibilitaram a criação do Sistema Internacional de Unidades (ésse Í), adotado atualmente na maior parte dos países.

Fotografia. Marmita de isopor sendo pesada em uma balança digital. Ela está cheia, com uma porção de comida. Está apoiada em um prato branco e raso. O visor da balança indica o peso da comida, o preço por quilo e o valor a ser pago.
Pesagem de marmita em balança digital na cidade de Londrina, Paraná. Foto de 2021. A unificação dos pesos e medidas com base em princípios científicos resultou na criação do litro, do quilograma e do metro. A utilização dessas unidades de medida foi essencial para o estudo dos fenômenos naturais e para a realização de transações comerciais e bancárias.

Ao promover essas mudanças, os jacobinos conquistaram a simpatia dos camponeses e da população mais pobre das cidades. O apoio popular ajuda a entender o êxito do governo jacobino na mobilização de soldados para expulsar as fôrças estrangeiras e preservar as fronteiras da França.


O fim do processo revolucionário

O autoritarismo da fase do Grande Terror gerou divisões no governo. Os sans-culottes, mais radicais, queriam aprofundar as mudanças para destruir a aristocracia e implementar uma república popular. Os jacobinos, por sua vez (até mesmo os do grupo de Rubespiér), eram adeptos de uma democracia representativa e sofriam pressões para atender aos anseios dos sans-culottes.

Os excessos da política do Terror e a divisão entre a pequena burguesia e o movimento popular enfraqueceram a república jacobina. Aproveitando o isolamento dos jacobinos, a grande burguesia articulou um golpe e tomou o poder. Em 27 de julho de 1794 (9 Termidor no calendário republicano), Rubespiér e seus partidários foram presos e, no dia seguinte, guilhotinados.

Em 1795, o Tribunal Revolucionário foi extinto e outra constituição foi elaborada. O voto censitário foi restabelecido, e dividiu-se o Poder Executivo entre cinco diretores, que seriam trocados periodicamente. O novo governo, conhecido como Diretório, reuniu a antiga burguesia girondina e da Planície e os setores enriquecidos com as guerras e a especulação.

As dificuldades econômicas, no entanto, agravaram-se. A escalada dos preços, o esvaziamento dos cofres públicos e a miséria crescente eram sinais evidentes da fraqueza do novo regime. As revoltas dos sans-culottes parisienses e as rebeliões camponesas tornaram-se frequentes. O governo ainda precisou conter as fôrças monarquistas, que tentaram restaurar o Antigo Regime na França.

A rica burguesia francesa, ameaçada pela instabilidade interna, precisava de uma solução política que preservasse suas propriedades e favorecesse seus negócios. Para isso, o general Napoleão Bonaparte foi convidado a compor um governo que pacificasse a França. No dia 9 de novembro de 1799 (18 Brumário no calendário revolucionário), Bonaparte, com o apoio de dois diretores, dissolveu o Diretório e iniciou o Consulado.

O golpe logo recebeu amplo apoio da alta burguesia e dos camponeses. Para a burguesia, o general representava a preservação da ordem; para os camponeses, a certeza de que o Antigo Regime e as taxas feudais não seriam restabelecidos.

Charge. Crocodilo com os dentes à mostra. Ele está em pé, apoiado sobre as patas traseiras. Usa botas e uma coroa sobre a cabeça, e carrega uma espada embainhada na lateral do seu corpo. Atrás dele, crocodilos com roupas de soldado, alinhados lado a lado e empunhando lanças. À frente do crocodilo de coroa, dezenas de rãs vestindo capa vermelha sobre os ombros, e barretes frígios vermelhos sobre suas cabeças. Todas estão boquiabertas com os olhos arregalados. O crocodilo de coroa segura duas rãs com as mãos. Ao fundo, uma grande janela, por onde fogem algumas das rãs.
O crocodilo da Córsega dissolvendo o Conselho das Rãs, charge britânica sobre o 18 Brumário na França, 1799. A charge satiriza a dissolução do Poder Legislativo francês, cujos membros são representados como rãs, e Napoleão Bonaparte, como um crocodilo.

Responda em seu caderno.

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A charge expressa o ponto de vista britânico sobre o 18 Brumário. Esse ponto de vista parece positivo ou negativo? Explique.


A revolução dos costumes

A Revolução Francesa modificou profundamente o cotidiano não apenas dos nobres e dos burgueses, mas também dos camponeses, dos operários e dos artesãos. Os ideais revolucionários estavam em todos os lugares e situações: nas roupas, na decoração e até mesmo no vocabulário das pessoas.

No período do Antigo Regime, as roupas identificavam os diferentes grupos sociais e profissionais que compunham a sociedade francesa. Com o advento da revolução, o vestuário adquiriu um sentido político. Por exemplo, na abertura dos Estados Gerais, em 1789, os deputados do terceiro estado vestiam roupas pretas, enquanto os deputados do primeiro e do segundo estados usavam roupas luxuosas, algumas com detalhes de ouro. A ostentação dos nobres diante da terrível situação econômica da França tornou-se motivo de intensas críticas por parte dos burgueses.

Com a tomada da Bastilha, homens e mulheres passaram a demonstrar seu apoio à causa revolucionária usando roupas e acessórios com as cores da bandeira francesa: azul, branca e vermelha.

Ilustração. Mulher de vestido longo. Ela tem o rosto rosado e cabelos ondulados. Usa um chapéu de aba branca e detalhes vermelhos. O vestido tem três cores: a parte de cima tem mangas compridas, é branca e está justa ao corpo; e a parte de baixo é azul e vermelha.
Mulher vestindo o tricolor revolucionário, ilustração de françuá cláudius cônte calíquis publicada na obra Les modes parisiennes sous le Directoire (As modas parisienses sob o Diretório), em 1865. Biblioteca fórnei, Paris, França.

A preocupação em estabelecer a igualdade entre as pessoas não se manifestou apenas nas roupas, mas também no vocabulário adotado pelos revolucionários. Com o advento da revolução, todos os homens e mulheres passaram a se tratar por cidadãos e cidadãs. Essa regra foi aplicada até mesmo ao rei Luís dezesseis, que na ocasião de seu julgamento foi chamado de “cidadão Luís”.

Em 1793, os sans-culottes encaminharam à Convenção um requerimento sugerindo que todos os cidadãos se tratassem por tu, pronome informal na língua francesa e utilizado principalmente no ambiente familiar. Os sans-culottes alegavam que o uso do tu aproximaria as pessoas e, consequentemente, traria mais igualdade. Em pouco tempo, o uso do pronome se generalizou.

A Revolução Francesa também gerou profundas mudanças no mercado artístico e cultural. A aristocracia e a Igreja reduziram ou cortaram os investimentos nas artes. Quando as academias típicas do Antigo Regime foram suprimidas, toda uma geração de artistas e intelectuais marginalizados teve oportunidade de publicar suas obras. A poesia, o romance, o teatro, a pintura, a criação gráfica e a música foram expressos em novas linguagens e ampliaram seus temas, absorvendo o contexto geral de politização e de engajamento.

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Liberdade, igualdade e fraternidade

Os termos liberdade e igualdade eram mencionados repetidamente no início do processo revolucionário na França, mas somente a partir de 1790, com o acréscimo da palavra fraternidade, o bordão se tornou um dos principais símbolos do país. Inscrito nas fachadas dos prédios públicos, nas moedas, nas cédulas e nos selos de correio, é considerado atualmente parte do patrimônio nacional da França.


Fotografia. Mural pintado nas cores da bandeira da França: azul, branco e vermelho. No centro, a imagem do rosto de uma mulher com o cabelo enfeitado com rosas. Ao redor dela as palavras, LIBERTÉ, EGALITÉ, FRATERNITÉ. Nas bordas do mural ornamentos desenhados.
Lema da Revolução Francesa em mural do artista chépar féri na cidade de Paris, França. Foto de 2021. No mural, lê-se: “Liberdade, igualdade e fraternidade”.

Cidadãs, mas nem tanto...

Nos primeiros anos da revolução, a participação feminina na vida política do país foi aceita e até mesmo incentivada. Muitas mulheres fundaram clubes políticos, encabeçaram protestos e ações armadas e discursaram no Parlamento.

Em 1791, marrí gúze, conhecida pelo pseudônimo de Olamp de Gúge, escreveu a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, um manifesto reivindicando a igualdade de direitos entre homens e mulheres. O documento baseava-se no argumento de que, se as mulheres podiam ser condenadas pela lei, também deveriam ter seus direitos garantidos por ela.

Algumas leis implementadas durante a revolução garantiram às mulheres direitos importantes. Pela lei do divórcio, por exemplo, foi reconhecida a igualdade no casamento, permitindo que homens e mulheres usassem os mesmos argumentos para solicitar o divórcio.

Mas durante a revolução foram impostos limites à cidadania feminina. Em 1792, políne leôn apresentou à assembleia uma petição, assinada por mais de trezentas mulheres, solicitando autorização para lutarem ao lado dos homens na guarda nacional. Esse pedido foi negado.

Em pouco tempo, as proibições se transformaram em repressões. Em outubro de 1793, durante a política do Terror, todas as associações de mulheres foram fechadas (cêrca de sessenta grupos) e muitas ativistas foram guilhotinadas, entre elas Olamp de Gúge. Por muito tempo, as mulheres francesas não puderam ocupar funções públicas, e seu direito ao voto só foi aprovado em 1944.

Os homens responsáveis pela elaboração das leis na França acreditavam que, se as mulheres assumissem funções ou cargos públicos, não constituiriam família nem se dedicariam ao marido e aos filhos. Para esses homens, o lugar das mulheres era no lar, cuidando dos afazeres domésticos e educando os filhos.

Gravura. Mulheres em cima de uma carroça puxada por cavalos. Uma delas está com a cabeça deitada no ombro da mulher ao seu lado. Ao redor pessoas observando, e soldados escoltando a carroça.
Gravura de gustáv demulãn, de 1887, representando a condução de jêâne marrí rolân à guilhotina em 8 de novembro de 1793, após ter sido julgada pelo Tribunal Revolucionário. Ela dirigiu as atividades do marido, influenciando decisivamente a política dos girondinos, e foi condenada à guilhotina durante o Grande Terror.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Sobre a fase jacobina da revolução, faça o que se pede.
    1. Identifique as principais medidas tomadas pelos jacobinos que caracterizaram seu governo como o Grande Terror.
    2. Cite três políticas sociais implementadas pelos jacobinos.
    3. Que fatores contribuíram para o fim do governo jacobino e o início do Diretório?
  2. Como ficou conhecido o golpe de Estado liderado por Napoleão Bonaparte na França?
  3. Como as ideias de liberdade e igualdade se refletiram na cultura e nos costumes da população francesa?
  4. Escreva um parágrafo sobre a participação das mulheres na Revolução Francesa, identificando os limites impostos a elas.

Enquanto isso…

As ideias revolucionárias chegam à América portuguesa

As ideias de liberdade difundidas pelo movimento revolucionário na França e a notícia do fim da escravidão nas colônias francesas chegaram à América portuguesa, influenciando a formação de diversos quilombos na capitania do Grão-Pará.

Em fins de 1794, o comandante militar de Mazagão, no Macapá [cidade juridicamente anexada ao Grão-Pará], destacava apreensivo quanto ao que os ‘franceses têm praticado nas suas ilhas, a respeito dos escravos’ e mais: na região era ‘sabido, pelos jornais que chegam da Europa, e até mesmo os escravos não o ignoram’. reticências Os contatos e as ideias de liberdade que circulavam naquela conjuntura eram compartilhados tanto por negros como por índios. reticências

A fuga de escravos e os estabelecimentos de mocambos eram já nessa época considerados problemas crônicos. Grande parte dos escravos que fugiam nesta região era formada por aqueles que trabalhavam nas fortificações militares em Macapá. Houve ocasiões de fugas em massa. Algumas expedições reescravizadoras capturaram de uma só vez mais de 40 cativos. reticências

Em várias ocasiões, embarcações estrangeiras, destacadamente francesas, adentravam o território português, visando perseguir e recuperar fugitivos. Autoridades e fazendeiros brasileiros denunciavam, igualmente, que seus escravos fugiam para Caiena [na Guiana Francesa] e encontravam proteção de comerciantes e autoridades francesas. Em 1798, a chegada ao Pará de duas canoas provenientes de Caiena com o objetivo de ‘recrutar os pretos que tinham fugido e se achavam ali refugiados’ foi acompanhada de grande tensão.

As constantes fugas escravas permitiram a constituição de mocambos grandes (formados por centenas de fugitivos), estáveis e duradouros na região. Proprietários de escravos reclamavam e autoridades coloniais sentiam-se impotentes: não havia fôrça militar na região suficiente para recapturar os fugitivos existentes e impedir novas deserções. reticências


Gravura em preto e branco que mostra uma grande área de vegetação baixa. No centro, pequenas casas entre a vegetação. Ao fundo, uma colina com grandes construções.
Gravura representando o Quilombo de Boucou, na Guiana, em 1772. Arquivo Nacional da Holanda, êmen. A formação de quilombos ocorreu em diversas partes do continente americano. Nessa gravura, é possível identificar edificações próprias para a moradia dos quilombolas.

Havia, de fato, na capitania do Grão-Pará, quilombos por todas as partes, de norte a sul. reticências

Os quilombolas andavam armados, produziam roupas tingidas com vegetais da floresta, caçavam, ‘salgavam’ carne para comercializar e faziam ‘tijolos para os franceses fazerem uma fortaleza’. Nesse contexto, naquelas regiões da Amazônia colonial, negros reticências fugidos criaram um espaço para contatos e cooperação. Com expectativas diferenciadas e sonhando com a liberdade, promoviam não só comércio clandestino, mas fundamentalmente um campo de circulação de experiências. Estavam o tempo todo atentos aos acontecimentos a sua volta. reticências

Estabelecidos em mocambos, os quilombolas do Macapá atravessam os limites dos territórios coloniais, indo em busca de novos contatos. Misturavam-se com fugitivos, cativos nas plantações e soldados desertores da Guiana Francesa. Traziam (ou mesmo levavam) ideias de liberdade. Não ficaram impassíveis ou boquiabertos com as decisões políticas que lhes poderiam ser benéficas e nem permaneceram isolados na imensidão da floresta amazônica. Com essa migração constante conseguiram fundamentalmente proteção. Tornavam-se algumas vezes até anônimos aos olhos das autoridades coloniais. Essas, certamente, subestimaram as percepções que os escravos podiam ter destes acontecimentos. Subestimaram em parte. Ao mesmo tempo que diziam que os cativos podiam ser ‘contagiados’ pelas ‘ideias de liberdade’ advindas da Europa via comunicações com as colônias estrangeiras, temiam que os mesmos – a exemplo do Haiti – articulassem uma grande revolta. reticências

No Grão-Pará reticências temeu-se igualmente o ‘contágio revolucionário’ vindo da França. Tais temores promoveram, inclusive, uma militarização acelerada em áreas de fronteira, visto haver litígios territoriais com a Guiana Francesa. Tais ‘ideias de liberdade’ podiam não ter apenas uma leitura. Escravos, fossem crioulos ou africanos, homens livres, soldados, oficiais metropolitanos, europeus, marinheiros, mestiços, índios e outros tantos podiam reinterpretá-las diferentemente. Também os roteiros da sua circulação podiam ser diversos. Na Amazônia colonial, talvez tenham sido os quilombolas e fugitivos os responsáveis por sua difusão.

GOMES, Flávio dos Santos. Em torno dos bumerangues: outras histórias de mocambos na Amazônia colonial. Revista úspi, São Paulo, número 28, página 40-55, dezembro 1995/fevereiro 1996.


Responda em seu caderno.

Questões

  1. Por que as autoridades coloniais do Grão-Pará temiam o “contágio revolucionário vindo da França”?
  2. De acordo com o texto, como os princípios revolucionários chegaram à América portuguesa?
  3. Em sua opinião, nos dias de hoje, movimentos populares organizados podem ter também esse efeito “contagioso”? Justifique.

A ascensão de Napoleão Bonaparte

O Consulado foi instituído para garantir estabilidade política e econômica à França depois de dez anos de turbulência revolucionária. Inicialmente, foi composto de três cônsules provisórios, entre os quais Napoleão Bonaparte. Em dezembro de 1799, outra constituição foi assinada, elevando Napoleão ao cargo de primeiro cônsul.

Pintura. Homem jovem, veste um casaco com muitos botões na frente e uma calça justa ao corpo, ambos vermelhos, meias brancas até a altura dos joelhos, e sapatos pretos com detalhes dourados. Uma das mãos está dentro do casaco, e a outra está apoiada em uma mesa a seu lado, sobre a qual há muitos papéis. Na cintura, uma espada embainhada. Atrás dele, um trono e as cortinas de uma janela abertas, pela qual é possível ver uma igreja.
Bonaparte como primeiro cônsul, pintura de jãn ógust dominíque ângr, 1804. Museu de Belas Artes de liége, Bélgica.

Artigo 41. O primeiro cônsul promulga as leis, nomeia e revoga livremente os membros do Conselho de Estado, os ministros, os embaixadores e outros agentes internacionais, os oficiais do exército de terra e de mar, os membros das administrações locais e os comissários do governo junto aos tribunais. Nomeia ainda todos os juízes criminais e cíveis, que não sejam juízes de paz, e os juízes de cassação sem poder revogá-los.

Artigo 42. Para os outros atos do governo, o segundo e o terceiro cônsules têm voz consultiva: assinam o registro destes atos.

CONSTITUIÇÃO Francesa de 13 de dezembro de 1799. In: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Textos e documentos. Belo Horizonte: ú éfe ême gê, [20--]. Disponível em: https://oeds.link/DAM2Dc. Acesso em: 30 janeiro 2022.

Napoleão Bonaparte governou de fórma autoritária. Ele eliminou os principais focos de oposição a seu governo e instituiu a censura, fechando importantes jornais de Paris. Contudo, outras realizações lhe garantiram muita popularidade. No plano externo, ele assinou tratados com os países europeus, estabelecendo provisoriamente a paz, e implantou uma série de reformas jurídicas, econômicas e administrativas nas áreas a seguir.

  • Finanças. A implantação de uma política bem orientada de cobrança de impostos recuperou a economia francesa. Foi fundado o Banco da França, responsável pela emissão de dinheiro e pelo financiamento dos setores agrícola e industrial.
  • Segurança. O banditismo foi combatido, e tribunais militares especiais foram instalados para julgar os casos de contrarrevolução.
  • Administração pública. O governo dos departamentos franceses foi uniformizado e hierarquizado. Os prefeitos, chefes do Executivo de cada departamento, eram escolhidos por Napoleão.
  • Justiça. Os juízes deixaram de ser eleitos e passaram a ser nomeados. Os processos na justiça foram padronizados em todo o território.
  • Educação. A educação pública foi reorganizada com a criação de escolas secundáriasglossário e de liceusglossário .

Com essas medidas, Napoleão centralizou o governo da França, buscando conter as tensões sociais e gerando condições econômicas e políticas para o desenvolvimento da indústria e do capitalismo no país.


A relação política com a Igreja

Napoleão buscou reaproximar o Estado francês da Igreja Católica. Ele aboliu as perseguições religiosas e reconheceu o catolicismo como a opção religiosa da maioria dos franceses. Os bispos passaram a ser nomeados pelo Estado e a receber uma pensão mensal.

Essas ações foram muito bem recebidas pela população, pois a maior parte dela se manteve católica, apesar das medidas anticlericais adotadas pelos líderes revolucionários. Contudo, os registros de casamento, nascimento e morte, que durante o Antigo Regime eram emitidos pela Igreja, foram mantidos como responsabilidade do Estado. Além disso, o clero não foi indenizado pelo confisco de suas propriedades durante a revolução.

O Código Civil

Em agosto de 1800, Napoleão atribuiu a uma comissão de juristas a elaboração de um Código Civil para a França. O Código Civil Napoleônico, que entrou em vigor em março de 1804, incorporou importantes conquistas da revolução: a separação entre a Igreja e o Estado, o fim das obrigações feudais, o direito inviolável à propriedade e a igualdade dos homens perante a lei. A legislação do Antigo Regime, caracterizada pela fragmentação, foi substituída pela uniformidade da lei controlada pelo Estado.

Do ponto de vista de setores tradicionalmente oprimidos, porém, o código reafirmou práticas do Antigo Regime: estabeleceu a subordinação das mulheres à autoridade do pai ou do marido, considerando-as “civilmente incapazes”, proibiu as greves e as organizações dos trabalhadores e restabeleceu a escravidão nas colônias francesas.

Charge. Casal caminhando nas margens de um rio. O homem está à frente, com as calças levantadas e dobradas até a altura dos joelhos, e está descalço. Usa óculos e uma cartola preta, camisa branca e um colete vermelho por cima. Carrega com uma das mãos um tecido grande e uma vara, e com a outra ele carrega um guarda-chuva fechado, apoiado no ombro. No cabo do guarda-chuva estão pendurados um par de botas. Atrás dele, a mulher de vestido longo azul, e lenço lilás cobrindo os ombros. Na cabeça, um chapéu verde com um laço azul que esconde seu rosto. Ela está cabisbaixa e carrega uma cesta com uma das mãos.
A esposa deve seguir o marido onde quer que ele queira viver, charge de Onorrê Domiê satirizando o trecho do Código Civil Napoleônico que subordina as mulheres à autoridade dos homens, cêrca de 1840-1850. Arquivo do Ministério das Relações Exteriores, Paris, França.

Responda em seu caderno.

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  1. Que imagem da mulher francesa a charge de Onorrê Domiê apresenta?
  2. A charge faz alguma crítica à condição das mulheres na França napoleônica?

De cônsul a imperador

Em agosto de 1802, Napoleão foi elevado à condição de cônsul vitalícioglossário , por meio de um plebiscito popular. Enquanto isso, as fôrças estrangeiras ligadas ao Antigo Regime, apoiadas pela Grã-Bretanha, reorganizavam-se para impedir a expansão das ideias liberais na Europa. A França controlava grande parte do litoral europeu e fazia o possível para dificultar o comércio dos produtos britânicos, que eram os principais concorrentes das mercadorias francesas.

Em maio de 1803, após alegar o descumprimento do tratado de paz assinado entre os dois países, a Grã-Bretanha declarou guerra aos franceses. A Prússia, a Rússia e a Áustria, que temiam o crescimento da influência de Napoleão na Europa, uniram-se aos britânicos.

Além disso, em setembro de 1803, um grupo de generais, descontentes com os rumos da França, procurou se aliar aos herdeiros da coroa francesa para restaurar a monarquia. O plano foi descoberto pela polícia, e os principais suspeitos foram presos e executados.

Nesse contexto, Napoleão difundia a ideia de que a nação estava em perigo, ameaçada por potências estrangeiras e conspirações internas, e por isso precisava de mais poderes para salvar a República Francesa. A estratégia deu resultado. Em maio de 1804, o império foi proclamado na França e uma nova constituição foi promulgada no país. No dia 2 de dezembro de 1804, na Catedral de Notre-Dame, em Paris, Napoleão Bonaparte coroou-se imperador.

Pintura. Muitas pessoas próximas ao altar de uma igreja. Uma mulher está ajoelhada em uma almofada diante do altar. Ela tem o cabelo preso, usa um vestido claro e um manto vermelho sobre ele. Mulheres atrás dela seguram as pontas do manto. À sua frente, um homem em pé, de roupas claras e manto vermelho igual ao da mulher, ergue uma coroa, num gesto de quem colocará a coroa sobre a cabeça da mulher. De frente para a mulher e atrás do homem, pessoas com vestes clericais, com mantos brancos com detalhes dourados e segurando cetros dourados. Um deles usa uma mitra sobre a cabeça. Ao redor, várias pessoas assistem à cena.
Sagração do imperador Napoleão primeiro e coroação da imperatriz Josefina, pintura de jác lui daví, 1806-1807. Museu do Louvre, Paris, França. Napoleão tomou a coroa das mãos do papa Pio sétimo e se coroou, de frente para o público e de costas para o pontífice, coroando a imperatriz logo em seguida.

A guerra contra a Grã-Bretanha continuava. Em 1805, na Batalha de Trafalgar, as fôrças napoleônicas foram derrotadas no mar pela superioridade naval britânica. Por terra, entretanto, Napoleão se mostrou imbatível. Em dezembro daquele ano, o imperador francês aniquilou as fôrças inimigas da Áustria e da Rússia na Batalha de austerlítz.

Após esse conflito, o Sacro Império Romano-Germânico foi abolido, e Napoleão reuniu dezesseis Estados alemães do antigo império na chamada Confederação do Reno, em 1806. O imperador francês estabeleceu ainda uma aliança bem-sucedida com o governo russo, em julho de 1807, e anexou territórios que antes pertenciam à Áustria e à Prússia.


Crescimento e repressão

Napoleão investiu na construção civil, ordenando a reforma e a construção de estradas para diminuir o tempo de viagem entre as regiões do império. Na capital, Paris, ele efetuou várias melhorias: a pavimentação de ruas, a drenagem de pântanos, a construção de edifícios, pontes e mercados e a instalação de sistemas de iluminação pública a gás e de saneamento básico.

Em contrapartida, o imperador francês ampliou a censura sobre as artes e a imprensa: artistas e escritores foram perseguidos, e jornais e teatros, fechados. O imperador encomendava a impressão de boletins com suas versões sobre as batalhas. Esses impressos eram lidos em escolas, igrejas e praças públicas, contribuindo para o aumento de sua popularidade.

O Bloqueio Continental

Napoleão tinha conquistado grande parte da Europa, mas ainda não havia derrotado a Grã-Bretanha, principal adversária da França. Os britânicos tinham uma moeda mais forte, e o volume de comércio e a qualidade de suas manufaturas eram superiores aos dos franceses. O imperador francês sabia que para derrotar a Grã-Bretanha seria necessário debilitar suas atividades comerciais.

Em novembro de 1806, Napoleão determinou o bloqueio comercial às Ilhas Britânicas. A França, as nações aliadas e as áreas sob domínio francês foram proibidas de comercializar produtos e bens com os britânicos. Os países que descumprissem essa determinação sofreriam intervenção militar. Conhecida como Bloqueio Continental, essa medida foi tomada com o objetivo de garantir mercados para os produtos franceses e enfraquecer economicamente o país rival.

O Império Napoleônico (1811)

Mapa. O Império Napoleônico, 1811. Destaque para o território europeu.
Legenda: 
Vermelho: França em 1789. 
Listras rosas: Conquistas e anexações francesas de 1792 a 1795.
Listras laranjas: Territórios anexados ao império.
Amarelo: Países e Estados dominados por Napoleão.
Lilás: Estados independentes aliados de Napoleão. 
Verde claro: Principal País adversário. 
Linha verde-escuro: Limites do Império Napoleônico. 
Linha rosa: Confederação do Reno. 
Linha azul: Bloqueio Continental.
Ícone de navio: Base naval britânica.
No mapa, a França em 1789 corresponde ao território continental francês e à Ilha de Córsega. As conquistas e anexações francesas de 1792 a 1795 abrangem a área ao redor de Bruxelas e um pequeno território ao sul da França. Os territórios anexados ao império abrangem a área ao redor de Roma, o norte da atual Itália, a área dos Países Baixos em torno de Amsterdã, a área entre o sul da França e o leste da Espanha e o leste do Reino da Itália, no território próximo à atual Croácia. Os países e Estados dominados por Napoleão foram: Espanha com a capital Madri; Reino de Nápoles no sul da Península Itálica; Reino da Itália no norte da Península Itálica, incluindo a cidade de Milão; Suíça; Confederação do Reno, em território da atual Alemanha; e Grão-Ducado de Varsóvia, em território da atual Polônia. Os Estados independentes aliados de Napoleão foram: Império Austríaco, com a capital em Viena; Império Russo, com a capital em Moscou; Prússia; Dinamarca; Suécia; e Noruega. O principal país adversário da França era o Reino da Grã-Bretanha e Irlanda, com a capital em Londres. Os limites do Império Napoleônico localizam-se à oeste da Confederação do Reno, à sudoeste do Império Austríaco, à oeste da Suíça, à leste e à oeste do Reino da Itália, e à leste da Espanha. A Confederação do Reno abrangeu a área no centro da Europa, em território pertencente à atual Alemanha, incluindo as cidades de Hamburgo e Leipzig. O Bloqueio Continental abrangeu todo o litoral norte e sul da Europa, com exceção da costa de Portugal. Bases navais britânicas localizam-se ao sul da Ilha da Sicília; ao sul de Gibraltar; e na costa oeste da Dinamarca.
Na parte inferior, no centro, rosa dos ventos e escala de 0 a 290 quilômetros.

Fonte: dubí jórj. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. página 82-85.

Saiba mais

Napoleão na Península Ibérica

Em outubro de 1807, França e Espanha assinaram o Tratado de Fontainebleau, pelo qual os dois países decidiram iniciar a invasão e a partilha de Portugal. As tropas franco-espanholas ocuparam o território português, e a família real portuguesa fugiu para o Brasil. Napoleão, contrariando as cláusulas do tratado, apoderou-se sozinho de Portugal e investiu contra a Espanha. As tropas francesas ocuparam Madri, e o imperador francês obrigou o rei da Espanha a renunciar ao trono, em maio de 1808.


O fim do Império Napoleônico

Com o avanço das conquistas napoleônicas na Europa, o Império Francês chegou a ter mais de 4 milhões de súditos. Para manter essas áreas integradas a Paris, Napoleão designou parentes para governá-las, prática que hoje é conhecida por nepotismo.

Embora as funções administrativas mais importantes fossem confiadas aos franceses, políticos naturais de cada área conquistada podiam participar da administração pública nos senados locais. Por meio de nomeações, reformas e concessões políticas, Napoleão conseguiu apoio de grande parte da população dos territórios conquistados. Nem todos, contudo, submeteram-se ao novo governo de fórma pacífica. Quando Napoleão obrigou o rei da Espanha a abdicar do trono, em 1808, em favor de seu irmão José Bonaparte, a população espanhola reagiu violentamente.

O maior problema para o governo de Napoleão começou quando a Rússia rompeu com o Bloqueio Continental. Em junho de 1812, o imperador francês reuniu mais de 600 mil homens e iniciou a campanha de invasão da Rússia. Os russos evitaram confrontos diretos, preferindo utilizar a tática da terra arrasada, que consistia em destruir os campos cultivados e tudo o que pudesse fornecer suprimentos para as fôrças de Napoleão.

As dificuldades para o exército napoleônico se tornaram maiores no inverno, pois as temperaturas atingiam 30grauscélsius negativos. Com muita dificuldade, Napoleão conseguiu chegar a Moscou, acompanhado por menos de 100 mil homens. A cidade estava abandonada, e o quizár russo, que se encontrava na então capital São Petersburgo, negou-se a iniciar qualquer tipo de negociação. Humilhado, o imperador francês foi obrigado a marchar de volta para Paris.

A derrota na Rússia não só enfraqueceu o exército de Napoleão, como também mostrou a seus inimigos que ele podia ser vencido. A população dos territórios ocupados começou a se rebelar: em 1813, a Holanda tornou-se independente e a Confederação do Reno foi dissolvida. Uma coligação encabeçada por Áustria, Prússia e Rússia invadiu a França em março de 1814. Napoleão aceitou abdicar em troca da soberania sobre a Ilha de Elba e da promessa de uma pensão anual de 2 milhões de francos, que seria paga pelo governo francês.

Pintura. Pessoas em fila, caminhando na neve. Usam roupas de pele e chapéus. O homem à frente da fila carrega uma pessoa nas costas. Na neve diversas marcas de pés.
Na marcha de Moscou, pintura de láslet djôn pót, 1873.

Refletindo sobre

O nepotismo é uma prática que afeta não só a política, mas também outros setores da esfera pública. Ele se caracteriza pela oferta e recebimento de vantagens profissionais entre familiares. Dessa fórma, valorizam-se os laços familiares em detrimento da capacidade profissional do indivíduo. Para você, qual é a importância de se combater o nepotismo na vida pública? Por que essa prática é injusta e de que fórma ela afeta toda a sociedade?


O governo dos cem dias

Na França, Luís dezoito, irmão do rei decapitado durante a revolução, assumiu o trono. Em maio de 1814, ele assinou o Tratado de Paris, que restabelecia as fronteiras francesas de 1792. O novo governante foi visto por muitos setores da sociedade francesa como uma imposição da coligação estrangeira que havia vencido Napoleão. Muitos temiam que a restauração da dinastia dos Bourbon e da antiga aristocracia promovesse um retrocesso e a supressão das conquistas revolucionárias.

Entretanto, Napoleão, exilado na Ilha de Elba, mantinha-se informado sobre a situação política francesa, dedicando-se a organizar sua volta ao governo. Após dez meses de exílio, o descontentamento dos franceses com a monarquia restaurada e a situação financeira de Napoleão, que não recebera a pensão prometida, foram suficientes para motivar o retorno do ex-imperador à França. Ao chegar ao país, ele foi aclamado por grande parte da população.

Com isso, o rei Luís dezoito saiu da França, e Napoleão assumiu o governo sem dificuldades. Seu exército, contudo, não foi suficiente para vencer as fôrças inimigas comandadas pelos britânicos. Depois de apenas cem dias de governo, Napoleão Bonaparte foi derrotado na Batalha de uóterlú, na Bélgica, em junho de 1815. Luís dezoito reassumiu o trono, e Napoleão foi exilado na Ilha de Santa Helena. Morreu em 1821, aos 51 anos de idade.

Charge. Napoleão sentado. Na metade esquerda da charge, ele está de farda, com paletó verde com detalhes em vermelho e dourado, calça branca e botas até a altura do joelho. Sobre sua cabeça, metade de uma coroa. Está sentado em um trono, com o pé apoiado em uma banqueta baixa. Com a mão ele segura um pequeno cetro que aponta para um globo terrestre, no qual é possível ler nomes de alguns países, grafados em inglês. Na metade direita da charge, Napoleão está com a farda rasgada no cotovelo e no joelho, chapéu preto no lugar da coroa e sentando sobre uma montanha. Sua perna está esticada e apoiada sobre o solo, no qual está escrito Santa Helena. Ao fundo embarcações com a bandeira da Inglaterra.
O que era/O que é, charge de J. L. márquis satirizando o exílio de Napoleão na Ilha de Santa Helena, século dezenove. Biblioteca Nacional da França, Paris.

O Congresso de Viena

Quando Napoleão estava na Ilha de Elba, representantes de Grã-Bretanha, Rússia, Prússia, Áustria e outros Estados europeus se reuniram na cidade de Viena, na Áustria, em setembro de 1814. Os objetivos centrais desses países, no Congresso de Viena, eram reorganizar as fronteiras da Europa e definir medidas para garantir a estabilidade política do continente.

Durante o congresso, que se estendeu até junho de 1815, decidiram-se o restabelecimento das bases políticas do Antigo Regime e a restauração das dinastias que haviam sido depostas por Napoleão. Também foi fixada uma pesada indenização que deveria ser paga pelos franceses. No Congresso de Viena definiu-se ainda uma nova configuração geográfica para o continente europeu: a França manteve as fronteiras que tinha antes de 1792 (conforme determinado no Tratado de Paris), a Prússia e a Áustria recuperaram seus territórios, e a Rússia anexou a Finlândia e a Polônia.

Foi estabelecido ainda um equilíbrio de poder político-militar entre as diversas nações europeias. Rússia, Prússia e Áustria se uniram na Santa Aliança, uma coligação militar, para garantir os acordos firmados durante o Congresso de Viena e combater os movimentos liberais e nacionalistas inspirados nos ideais da Revolução Francesa que eclodiam na Europa. Contudo, por influência britânica, a Santa Aliança não interferiu nos movimentos de emancipação que já haviam sido iniciados nas colônias espanholas da América.

Pintura feita em caixa circular. A borda do círculo está decorada com a imagem de vinte e dois homens, cada um dentro de um pequeno círculo. No centro, um anjo em uma estrutura puxada por quatro cavalos. Estão no topo de uma grande construção. À esquerda, pessoa montada em um animal alado, e à direita, soldado voando, abraçado a uma ave, ambos apoiados sobre um arco-íris. No centro, acima deles, uma estrela com noves pontas e o desenho de um homem dentro dela. Abaixo, mais duas estrelas de nove pontas com a imagem de dois homens de farda.
Caixa comemorativa da coalizão da Santa Aliança, 1815. Museu Nacional, Estocolmo, Suécia.

Conexão

A tríade: liberdade, igualdade e fraternidade

Disponível em: https://oeds.link/Syy7hw. Acesso em: 19 abr. 2023.

A tríade é um jogo educativo eletrônico criado pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento das Comunidades Virtuais da Universidade do Estado da Bahia (unébi). Nesse jogo, você será desafiado a tomar decisões e a resolver situações enfrentadas pelos personagens Enrri, jêâne e Clôd na França pré-revolucionária e durante a Revolução de 1789.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Identifique as principais medidas adotadas por Napoleão Bonaparte nos seguintes setores.
    1. Administrativo.
    2. Educacional.
    3. Financeiro.
    4. Jurídico.
    5. De segurança.
  2. Considerando as principais decisões de Napoleão relacionadas aos diferentes setores da sociedade francesa, reflita e descreva como seria a imagem do imperador diante dos seguintes grupos sociais: burguesia industrial, nobreza, clero, camponeses, mulheres e operários.
  3. O governo de Napoleão Bonaparte na França representava, para as potências ligadas ao Antigo Regime, uma grave ameaça. Explique essa afirmação.
  4. Qual era a principal finalidade dos países participantes do Congresso de Viena?

Atividades

Responda em seu caderno.

Aprofundando

1. Durante a Revolução Francesa, foram criadas diversas alegorias revolucionárias, como a liberdade, a república, a nação e a pátria, que eram representadas por figuras femininas e, muitas vezes, relacionadas à mitologia greco-romana. Sobre o tema, leia o texto a seguir.

reticências Poderiam servir de modelos de comportamento para as mulheres da época: as matronas romanas, as mães espartanas, ou os rostos virginais das ‘Liberdades’ [que] inspiravam valores eternos, mas dentro da austeridade da república. reticências Dessa fórma, enquanto as mulheres de carne e osso eram excluídas da vida pública, as deusas podiam ser exaltadas porque eram abstratas, coletivas, estavam acima das turbulências revolucionárias reticências: não votavam, não faziam petições à Assembleia nem protestavam nas ruas. Em outras palavras, não exerciam nenhum poder.

Morrã, Tania Machado. Práticas e representações das mulheres na Revolução Francesa (1789-1795). 2009. Dissertação (Mestrado em História Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. página 172.

  1. Segundo o texto, o que explicaria o uso de figuras femininas, como deusas da cultura clássica, nas alegorias da Revolução Francesa?
  2. As alegorias femininas revelam as contradições do processo revolucionário em relação às mulheres. Identifique-as.
  3. Na sua opinião, a sociedade ainda impõe um ideal de mulher? Por quê?

Aluno cidadão

2. Analise a charge a seguir e faça o que se pede.

Charge. Rapaz careca, de roupas largas, pichando um muro. No muro estava escrito três palavras. LIBERTÉ (liberdade), escrito em azul; EGALITÉ (igualdade), escrito em branco; e FRATERNITÉ (fraternidade), escrito em vermelho. Embaixo de LIBERTÉ ele escreveu PROVISOIRE (provisória); embaixo de EGALITÉ ele escreveu DÉRISOIRE (insignificante); e embaixo de FRATERNITÉ ele escreveu ALÉATOIRE (eventual). A pichação é feita em preto, e a tinta escorre das palavras pelo muro.
Na charge, lê-se, da esquerda para a direita e no sentido vertical, “Liberdade provisória, igualdade insignificante, fraternidade eventual”. Charge de michél quíchica, 2008.
  1. Identifique o que essa charge critica, citando exemplos recentes para justificar a mensagem contida nela.
  2. De que fórma a crítica da charge se aplica ao Brasil?
  3. As suas ações cotidianas promovem o respeito aos direitos de liberdade, igualdade e fraternidade? De que fórma? Que atitudes suas podem ser melhoradas para a construção de uma sociedade mais justa?

Conversando com arte

3. O pintor belga jãn joséf vírts se instalou em Paris em 1867 como estudante da tradicional Escola Imperial de Belas Artes. Na pintura O assassinato de marrá, ele representou a morte do médico, cientista e ativista político jãn pôl marrá. Aliado dos jacobinos e defensor de propostas radicais durante a Convenção, marrá foi assassinado pela girondina Charlóte Cordé. Junte-se a um colega, observem a imagem e respondam às questões.

Pintura. À direita, pessoas armadas com objetos e espadas nas mãos, estão da porta para dentro de um cômodo. Eles estão de boca aberta e olhos arregalados. A maioria utiliza roupas simples. Em destaque, um homem e uma mulher utilizando o barrete frígio. Eles estão inclinados para à esquerda, na direção de uma mulher encostada na parede de forma acuada. Ela veste um longo vestido azul de listras pretas e lenço azul claro na cabeça. Segura um objeto pontiagudo na mão. Entre ela e as pessoas na porta, o corpo de um homem estirado, sem roupa, com sangue no tórax. O corpo está em uma banheira, rodeada por cadeiras viradas.
O assassinato de marrá, pintura de jãn joséf vírts, 1886. Museu de Arte e da Indústria André díligênt, rubé, França.
  1. Identifiquem os personagens representados. A que grupo social e político da França revolucionária eles podem ser associados? Descrevam os elementos da imagem (vestuário, objetos, cores etcétera) que vocês utilizaram para responder a essa questão.
  2. No século dezenove, muitos artistas europeus que se dedicaram à pintura histórica procuraram incorporar, em suas obras, as camadas populares e os acontecimentos relacionados às lutas sociais. Vocês percebem essas características na obra de jãn joséf vírts? Justifiquem.
  3. Muitos artistas franceses contribuíram para a construção da imagem de marrá como mártir. Na opinião de vocês, vírts procurou fazer isso nessa obra? Por quê?

enêm e vestibulares

4. (enêmMéqui)

Fala-se muito nos dias de hoje em direitos do homem. Pois bem: foi no século dezoito – em 1789, precisamente – que uma Assembleia Constituinte produziu e proclamou em Paris a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Essa Declaração se impôs como necessária para um grupo de revolucionários, por ter sido preparada por uma mudança no plano das ideias e das mentalidades: o Iluminismo.

FORTES, L. R. S. O Iluminismo e os reis filósofos. São Paulo: Brasiliense, 1981 (adaptado).

Correlacionando temporalidades históricas, o texto apresenta uma concepção de pensamento que tem como uma de suas bases a

  1. modernização da educação escolar.
  2. atualização da disciplina moral cristã.
  3. divulgação de costumes aristocráticos.
  4. socialização do conhecimento científico.
  5. universalização do princípio da igualdade civil.

Glossário

Título honorífico
: título concedido a alguém por meio do qual se reconhece sua honra, distinção ou dignidade.
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Constituição
: conjunto das leis fundamentais que regem uma nação. Ela regula as relações entre governantes e governados, estabelecendo limites entre os poderes e garantindo os direitos individuais.
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Confiscar
: apreender em nome do fisco (setor da administração pública que cuida da arrecadação de impostos).
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Escola secundária
: equivalente, no Brasil, ao segundo ciclo do Ensino Fundamental.
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Liceu
: colégio interno exclusivo aos jovens do sexo masculino a fim de prepará-los para assumir os principais cargos da administração pública e do exército na França. Nos liceus, era priorizado o estudo de línguas e de ciência.
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Vitalício
: por toda a vida.
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