CAPÍTULO 5  Independências na América espanhola

Fotografia. Time de futebol feminino do Corinthians comemorando e posando para a foto. As pessoas estão agrupadas em três fileiras. Na fileira da frente, as atletas estão sentadas; na segunda fileira, as atletas estão abaixadas; e na última fileira, atletas e alguns homens com a camisa do mesmo time estão em pé. Todos carregam uma medalha no pescoço. Ao fundo, uma placa escrito CAMPEÃO 2021. Sobre o gramado, muitos papéis brilhantes.
Atletas comemoram a conquista da Libertadores em Montevidéu, Uruguai. Foto de 2021.

Provavelmente você já ouviu falar da Copa Libertadores da América, o torneio de clubes de futebol mais tradicional e importante da América do Sul. A competição começou a ser disputada em 1960 e se chamava Copa dos Campeões da América. O nome do campeonato foi alterado para homenagear alguns líderes da luta pela independência dos países da América do Sul, como Rossê Artigas, do Uruguai; Bernardo oôu ríguins, do Chile; Simón Bolívar, da Venezuela; e rossê de sãn martín, da Argentina.

Em 2009, foi criada a edição feminina do torneio, o que fez com que o futebol feminino ganhasse maior visibilidade nos meios de comunicação e evidenciou a importância da modalidade em nível internacional.

  • Em sua opinião, por que o torneio é tão importante para os times de futebol sul-americanos?
  • Você acha relevante que a competição seja disputada pelas mulheres? Argumente.
  • O nome Libertadores para o torneio de um esporte tão popular no mundo mostra a importância histórica da liberdade e da independência dos povos. O que caracteriza um país independente? Levante algumas hipóteses para explicar.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Este capítulo contempla parcialmente as habilidades ê éfe zero oito agá ih zero sete, ê éfe zero oito agá ih zero oito, ê éfe zero oito agá ih zero nove e ê éfe zero oito agá ih um zero (ao analisar as principais características dos movimentos de independência na América espanhola e ao investigar o papel dos escravizados e ex-escravizados na emancipação do Haiti), ê éfe zero oito agá ih zero um e ê éfe zero oito agá ih zero quatro (ao identificar os desdobramentos da Revolução Francesa e as influências do Iluminismo e do liberalismo nas independências e na formação dos novos Estados nas Américas) e ê éfe zero oito agá ih zero seis, ê éfe zero oito agá ih um um, ê éfe zero oito agá ih um três e ê éfe zero oito agá ih um nove (ao discutir os processos emancipatórios, apresentar as fórmas de governos adotadas e abordar o legado da escravidão no continente americano). O trabalho para o desenvolvimento dessas habilidades se completa ao longo de outros capítulos, conforme indicações na tabela de habilidades do ano.

Objetivos do capítulo

  • Compreender as principais características dos processos de independência na América espanhola.
  • Analisar a independência do Haiti e como ela afetou os movimentos emancipacionistas no restante da América.
  • Identificar e compreender os principais projetos políticos apresentados no contexto das independências na América hispânica.
  • Reconhecer os diferentes grupos sociais envolvidos nas independências da América hispânica.
  • Analisar a presença de Simón Bolívar na memória coletiva dos países hispano-americanos.
  • Diferenciar os significados da liberdade nos movimentos de independência, para criollos, negros e indígenas.
  • Explicar as políticas adotadas em relação às populações indígenas pelos recém-criados Estados nacionais.

Abertura do capítulo

É provável que muitos alunos acompanhem a Copa Libertadores da América de futebol masculino, competição que garante ao campeão uma vaga para disputar a Copa do Mundo de Clubes da Fifa. Destaque que a edição feminina da Libertadores passou a ser disputada quase meio século após o início do torneio masculino e representa uma conquista das mulheres, que ainda lutam por mais reconhecimento e valorização nesse esporte. Comente que o termo independência pode assumir diferentes significados. No caso de um país, a independência está relacionada à autonomia política, o que pode não corresponder à independência econômica. No contexto dos processos de independência americanos, a ideia de liberdade também variava entre os diferentes grupos: para os escravizados, a expectativa em relação à independência política correspondia à recuperação da liberdade perdida na escravização; para a elite colonial, significava o fim das intervenções da metrópole nos negócios.

Pintura. Homem de farda azul, calça branca e botas longas está montado em um cavalo. Segura o chapéu com uma das mãos. Ao redor, soldados de uniforme azul e chapéu comprido. Carregam armas. Um deles carrega uma bandeira com listras horizontais nas cores amarela, azul e vermelha.
Batalha de aiacútcho – Sucre atacando o batalhão espanhol em 9 de dezembro de 1824, pintura de Antonio errêra Toro, século dezenove. Congresso Nacional, Caracas, Venezuela.

Crise na Espanha e pressões na América

Na segunda metade do século dezoito, a Espanha enfrentou uma grave crise econômica. A prata, principal fonte de riqueza da metrópole, estava escasseando na América. Para garantir os recursos de que necessitava, o governo real espanhol reforçou o combate ao contrabando, ampliou os tributos sobre o comércio colonial e manteve a proibição de instalar manufaturas nas colônias. Apesar dessas restrições, a pecuária e a agricultura nas colônias se expandiram, a população cresceu e as elites locais enriqueceram.

O esforço espanhol para ampliar os ganhos com as colônias atingiu também os povos indígenas. O regime de trabalhos forçados foi intensificado, o que provocou reações e revoltas em diversas comunidades.

O rígido contrôle sobre suas colônias na América, porém, não foi suficiente para melhorar a situação econômica da Espanha. O efeito dessas medidas aumentou o descontentamento da elite criollaglossário , obrigada a transferir parte de seus lucros para a metrópole e proibida de comercializar com outras nações em razão do monopólio comercial exercido pelas companhias espanholas. O fragmento da carta do jesuíta e escritor criollo ruãn páblo viscárdo gusmãn, publicada em 1799, expressa essa insatisfação.

Irmãos e compatriotas, reticências a importância que as colônias inglesas da América deram ao combate pela liberdade, que agora gloriosamente desfrutam, cobre de vergonha a nossa indolência. reticências Essa importância acusa nossa insensibilidade. Que agora seja o estímulo de nossa honra, provocada com ultrajes que duraram trezentos anos. reticências A fraqueza [da Espanha] reticências não lhe permite usar a fôrça aberta sem acelerar sua ruína total. Seu principal apoio está nas riquezas que nós damos: que lhe sejam recusadas, que sirvam a nossa defesa e então sua raiva fica impotente.

escudêro, antônio gutiérres. ruãn páblo viscárdo i su Carta dirigida a los españoles americanos”. araucária: Revista Iberoamericana de Filosofía, Política y Humanidades, Sevilha, ano 9, número 17, 2007. (Tradução nossa).


Responda em seu caderno.

Explore

  1. Segundo o texto, o que era motivo de vergonha para gusmãn?
  2. Que motivos os colonos da América espanhola tinham para combater os espanhóis?

Saiba mais

Ideias iluministas na América

As ideias iluministas inspiraram a publicação de jornais e documentos na América espanhola a partir da segunda metade do século dezoito. Embora fosse restrita a membros da elite colonial, que entravam em contato com textos liberais em viagens à Europa, a veiculação dessas ideias favoreceu uma crítica organizada e profunda aos princípios do colonialismo e às práticas absolutistas.


Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao analisar a difusão das ideias iluministas na América espanhola, o conteúdo da página 90 contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero um. Na página 91, ao analisar como as guerras napoleônicas contribuíram para iniciar os processos de independência na América espanhola, contemplam-se parcialmente as habilidades ê éfe zero oito agá ih zero quatro, ê éfe zero oito agá ih zero seis e ê éfe zero oito agá ih zero sete.

Contexto internacional

O texto citado na página e o boxe “Saiba mais” destacam a relação dos processos de independência na América espanhola com o Iluminismo e o processo de independência dos Estados Unidos, estudados em capítulos anteriores. Essa relação com o contexto internacional continuará sendo estabelecida na página 91, que trata da invasão napoleônica na Península Ibérica.

Ideias iluministas na América espanhola

Livros contendo ideias iluministas foram introduzidos na América espanhola clandestinamente e circularam entre as camadas letradas da sociedade. Essas ideias, inicialmente, geraram propostas reformadoras; mais tarde, contudo, lançaram as bases para o surgimento de uma cultura política de contestação. Os periódicos, que existiam desde o início do século dezoito, por exemplo, tornaram-se mais politizados nas primeiras décadas do século dezenove.

Explore

  1. Segundo o texto, o motivo de vergonha para gusmãn era a indolência (falta de ânimo, indiferença, preguiça) dos colonos que, diferentemente dos estadunidenses, os impediram de lutar contra a metrópole espanhola.
  2. O motivo seria livrar as colônias da América da obrigação de enviar suas riquezas para a Espanha, garantindo, assim, a defesa delas.

Napoleão invade a Espanha

Em maio de 1808, Napoleão Bonaparte ocupou a Espanha. Os espanhóis reagiram à dominação francesa e, em algumas regiões, formaram juntas de governo autônomas que, além de não seguir as determinações da França, serviam como núcleos de organização da resistência contra o invasor.

Na América, alguns grupos dominantes seguiram o exemplo da metrópole e formaram juntas governativas. Em setembro de 1808, por exemplo, foi anunciada, na Cidade do México, a criação de um governo local autônomo que atuaria em nome de Fernando sétimo, o rei espanhol destronado. Na prática, apesar de afirmar lealdade ao rei ausente, essas juntas rompiam com o governo metropolitano.

Em 1814, depois da queda de Napoleão Bonaparte, Fernando sétimo retomou o trono espanhol e adotou medidas que reduziram a liberdade das colônias e centralizaram ainda mais o poder em suas mãos. As elites criollas, porém, não estavam dispostas a admitir o retorno da antiga ordem colonial. Assim, grande parte das colônias espanholas entrou em guerra pela independência.

As independências na América espanhola

Mapa. As independências na América espanhola. Destaque para terras no continente americano. 
Legenda: A América espanhola no início do século dezenove e datas de independência. 
Verde: Vice-Reino da Nova Espanha. Laranja: Vice-Reino da Nova Granada. Rosa: Vice-Reino do Peru.
Marrom: Vice-Reino do Rio da Prata.
Lilás: Capitania-Geral da Guatemala (Províncias Unidas da América Central a partir de 1823).
Roxo: Capitania-Geral de São Domingos (República Dominicana a partir de 1865).
Amarelo escuro: Capitanias-Gerais de Cuba e do Chile.
Amarelo claro: Colonizado por outros países.
Listras azuis: Território mexicano perdido para os Estados Unidos no século dezenove.
Listras vermelhas: Área em disputa.
Linha cinza contínua: Divisão política atual.
Linha tracejada preta; Divisão política em cerca de 1830.
Seta roxa: Campanha de libertação do norte (Bolívar).
Seta vermelha: Campanha de libertação do sul (San Martín).
No mapa, o Vice-Reino da Nova Espanha abrange o México e o sul e o oeste dos atuais Estados Unidos. O Vice-Reino da Nova Granada abrange território dos atuais Venezuela, Colômbia, Panamá e Equador, incluindo as cidades de Angostura, Caracas, Bogotá, Pasto, Quito e Guayaquil. O Vice-Reino do Peru abrange o território do atual Peru, incluindo as cidades de Callao, Lima, Pisco e Cuzco. O Vice-Reino do Rio da Prata abrange território dos atuais Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai, incluindo as cidades de La Paz e Mendoza. A Capitania-Geral da Guatemala (Províncias Unidas da América Central a partir de 1823) abrange território dos atuais Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua e Costa Rica. A Capitania-Geral de São Domingos (República Dominicana a partir de 1865) abrange o território da atual República Dominicana. As Capitanias-Gerais de Cuba e do Chile abrangem a ilha de Cuba e o território do atual Chile, incluindo as cidades de Valparaíso e Santiago. A colonização por outros países ocorreu no território dos atuais Haiti, Belize, Guiana, Suriname, Guiana Francesa e Brasil. O Território mexicano perdido para os Estados Unidos no século dezenove abrange o sul e o oeste dos atuais Estados Unidos. Áreas em disputa estão localizadas no território da atual Guiana Francesa; no Brasil, em parte do atual estado de Roraima, no noroeste do atual estado do Amazonas, no território do atual estado do Acre, em trechos dos atuais estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina; no norte do atual Peru; no norte do atual Chile; no norte do atual Paraguai; e no sul da atual Argentina. Divisão política atual: território dos atuais México, Belize, Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Haiti, República Dominicana, Cuba, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Brasil, Bolívia, Paraguai, Argentina, Chile e Uruguai. A divisão política em cerca de 1830 demarca o atual estado do Acre, separando-o do território brasileiro; e duas áreas no norte do atual Chile. A campanha de libertação do norte (Bolívar) parte de Angostura, na atual Venezuela, e vai em direção a Caracas, Bogotá e Pasto, na atual Colômbia; Quito e Guayaquil, no atual Equador; Callao, Lima e Cuzco, no atual Peru; chegando em La Paz, na atual Bolívia. A campanha de libertação do sul (San Martín): parte de Mendoza, na atual Argentina, e segue em direção a Santiago e Valparaíso, no atual Chile; chegando em Pisco e Lima, no atual Peru.
O mapa registra também as datas de independência dos territórios representados: México, 1821; Províncias Unidas da América Central, 1823; Cuba, 1898; Haiti, 1804; República Dominicana 1865; Grã-Colômbia, 1819; Peru, 1821; Bolívia, 1825; Paraguai, 1811; Argentina, 1816; Chile, 1818; Uruguai, 1828; Brasil, 1822.
No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 850 quilômetros.

Fonte: dubí jórj. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. página 242.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Que fator contribuiu para que o governo real espanhol reforçasse seu domínio sobre as colônias americanas na segunda metade do século dezoito?
  2. Que relação é possível estabelecer entre as guerras napoleônicas e os movimentos de independência das colônias espanholas?

Respostas e comentários

Recapitulando

  1. O fator foi a grave crise econômica que assolou a Espanha a partir da segunda metade do século dezoito, por causa, sobretudo, do declínio da atividade mineradora na América espanhola.
  2. Em 1808, a Espanha foi ocupada pelas tropas napoleônicas e o rei espanhol, Fernando sétimo, foi substituído por José Bonaparte, irmão de Napoleão. Imediatamente se constituíram na Espanha as juntas de governo, fórmas de organização político-administrativa que se estenderam para as colônias espanholas na América. Os integrantes das juntas americanas, controladas principalmente pelos criollos, passaram a reivindicar a ampliação da autonomia mesmo após a restauração espanhola.

Atividade complementar

Explore o mapa com os alunos e elabore com eles uma linha do tempo ordenando cronologicamente os anos em que ocorreram as independências na América espanhola e demais países da América Latina. Isso os auxiliará a localizar espacial e temporalmente os processos que serão estudados em seguida.

Cronologia das independências na América Latina

Linha do tempo vertical. Cronologia das independências na América Latina. De baixo para cima, os seguintes marcos: 1804: Haiti. 1811: Paraguai. 1816: Argentina. 1818: Chile. 1819: Grã-Colômbia (atuais Equador, Colômbia, Panamá e Venezuela). 1821: Peru e México. 1822: Brasil. 1823: Províncias Unidas da América Central (atuais Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua e Costa Rica). 1825: Bolívia. 1828: Uruguai. 1865: República Dominicana. 1898: Cuba. Ao final da linha, entra texto: ‘Os acontecimentos dessa linha do tempo não foram representados em
escala temporal.’.
Os acontecimentos dessa linha do tempo não foram representados em escala temporal.

Enquanto isso…

A independência de São Domingos

A Espanha estabeleceu o primeiro núcleo colonial na América em 1492, na Ilha Hispaniola, atualmente dividida entre Haiti e República Dominicana. Porém, no fim do século dezesseis, franceses se estabeleceram na parte oeste da ilha. Em 1697, por meio de um tratado, essa região foi cedida à França, que lá fundou a colônia de São Domingos.

No local, os franceses implantaram os cultivos de café, cana-de-açúcar e algodão. A principal mão de obra nas lavouras de São Domingos era a de escravizados de origem africana, que constituíam cêrca de 80% da população. As longas jornadas de trabalho e as difíceis condições de vida geravam constantes tensões entre esse grupo e a elite branca.

Em 1791, françuá dominíque tussãn lôvertíur, filho de um chefe tribal africano escravizado e deslocado para São Domingos, liderou uma rebelião em que proprietários brancos foram executados e suas terras foram confiscadas para ser distribuídas entre os negros. Os conflitos se acirraram quando os jacobinos, em 1794, decretaram o fim da escravidão nas colônias francesas.


Gravura colorizada. Pessoas em confronto. Algumas seguram pás e outros objetos compridos. Estão em um campo com terra escura. Entre eles, pontos de fumaça. Ao fundo, numa colina, pessoas perto de casas e muitos pontos de fumaça densa.
A rebelião de escravos em São Domingos, gravura colorizada de 1791. Museu Carnavalet, Paris, França.

Em 1801, já sob o governo de Napoleão Bonaparte, os franceses enviaram a São Domingos uma expedição para restabelecer o contrôle sobre a ilha. lôvertíur foi preso e deportado para a França.

Um dos momentos mais dramáticos das batalhas entre os escravizados e as tropas de Bonaparte ficou marcado pelo canto de uma música: o hino nacional francês, mais conhecido como A marselhesa. A canção, composta durante a revolução na França, foi cantada pelos negros, prestes a ser atacados pelos franceses, que, perplexos, acabaram recuando. Leia, a seguir, alguns versos do hino.

A marselhesa

Vamos, filhos da pátria,

O dia da glória chegou.

Contra nós, da tirania

O estandarte ensanguentado

Se ergue. Ouvis

Nos campos rugirem esses

Ferozes soldados? Eles vêm até

Os nossos braços degolar nossos

Filhos, nossas esposas.

Às armas, cidadãos!

Formai vossos batalhões!

Marchemos, marchemos,

Que um sangue impuro

Manche nossos campos reticências.

Amor sagrado pela pátria

Conduz, sustenta nossos braços

Vingativos! Liberdade, liberdade

Querida, combate com os teus

Defensores! Sob as nossas

Bandeiras, que a vitória chegue

Logo às tuas vozes viris! Que teus

Inimigos agonizantes vejam teu

Triunfo, e nossa glória!

líle, clôd J. R. de. A marselhesa [1792]. In: isquéf, ênio. A música na Revolução Francesa. Porto Alegre: Ele e Pê ême, 1989. página 131-136.


Respostas e comentários

Ampliando: a independência do Haiti

“Em 1801, Bonaparte interveio praticamente nos problemas concernentes à colônia francesa do Caribe. Não só pretendia debelar o levante dos negros, como restabelecer a escravidão. Este último objetivo deveria ser mantido em segredo, até o momento favorável à sua implementação.

A intervenção se concretizou com o envio a São Domingos de uma expedição de 25 mil soldados sob o comando do próprio cunhado de Bonaparte, o general leclerqui, que viajou acompanhado da esposa pôlín, de músicos e fâmulos, como se tivesse em vista um evento festivo. reticências

Contando com uma tropa numerosa e bem equipada, leclerqui obteve êxitos iniciais. Diante da valentia dos negros, excedeu-se na prática de crueldades. Conseguiu aprisionar tussãn [lôvertíur], em agosto de 1802. Levado à França, não submeteram o líder negro a julgamento algum. Bonaparte decidiu livrar-se dele por meio do rigor do tratamento carcerário. No entanto, apesar de prisioneiro e maltratado, tussãn ainda se declarava fiel à França e confiante em Bonaparte. Estava certo de que a escravidão nunca seria restaurada em São Domingos. Mal alimentado, numa cela fria e sem aquecimento, sem tratamento médico, não resistiu à dureza do cárcere e, aos 57 anos, se extinguiu no dia 7 de abril de 1803.

Mas o afastamento de tussãn não trouxe a vitória para leclerqui. Além das perdas em combate, seu exército sofria baixas numerosas em consequência de doenças tropicais e, principalmente, da febre amarela. A metrópole francesa se viu obrigada a enviar um total de 34 mil soldados e, apesar disso, perdeu a colônia. O próprio leclerqui veio a falecer, em 1802, vítima da febre amarela.

dêssalíne, cristófe, clérvô, môrrêpá, pêtiôn e outros líderes negros prosseguiram o combate e conseguiram derrotar e expulsar o exército francês. No processo da luta, massacraram a maioria dos brancos, que antes dominavam a colônia. Bonaparte conseguiu restabelecer a escravidão em outras possessões francesas, não, porém, na pátria de tussãn.”

gorênder, jacó. O épico e o trágico na história do Haiti. Estudos Avançados, volume 18, número 50, São Paulo, janeiro a abril 2004. página 299-300.

E nasce o Haiti

tussãn lôvertíur morreu na prisão em 1803. Isso, porém, não significou a vitória francesa. O ex-escravizado jãn jaque dêssalíne assumiu o comando das tropas negras, conseguindo expulsar o exército napoleônico da região. Em 1º de janeiro de 1804, a independência de São Domingos foi proclamada. O novo Estado recebeu o nome de Haiti, e dêssalíne tornou-se imperador. Como primeiro chefe de Estado do Haiti, suas principais medidas foram confiscar as terras francesas e distribuí-las aos veteranos revolucionários, assim como reorganizar e recuperar a economia local.


Gravura. Homem negro de perfil. Ele veste um casaco vermelho com detalhes dourados, calça justa branca e botas longas. Ao redor da cintura, um tecido dourado. Um dos braços está a frente do corpo, com a mão dentro do casaco. Com a outra mão ele segura uma espada, que está embainhada ao lado de seu corpo. Usa um grande chapéu triangular com detalhes dourados e um enfeite no topo.
tussãn não era um homem sem mérito, gravura de luí chárle bomblê, século dezenove.

No entanto, em 1806, dêssalíne foi assassinado, e dois países formaram-se na ilha: ao sul, teve início uma república; ao norte, uma monarquia. Na década de 1820, o país foi reunificado sob o regime republicano dirigido por jãn piérre bôiê. Os longos anos de conflito afetaram profundamente a economia do Haiti. Muitos canaviais foram destruídos e as indenizações que tiveram de ser pagas à França empobreceram ainda mais o país, que atualmente é um dos menos desenvolvidos do mundo.

A independência do Haiti foi um importante marco na história do continente americano. O fato de a nação ter origem em uma revolta de escravizados provocou um clima de medo e tensão entre as elites das colônias portuguesa e espanholas na América. A libertação de São Domingos inspiraria, mais tarde, muitas revoltas de escravizados em todo o continente, dos Estados Unidos à América do Sul.

Ilha Hispaniola

Mapa. Ilha Hispaniola. Destaque para os atuais territórios do Haiti e da República Dominicana, na América Central.
Legenda: 
Roxo: Colônia da França (atual Haiti). Vermelho: Colônia da Espanha (atual República Dominicana).
Uma linha vertical divide a ilha em duas partes, com a parte vermelha à leste, e a parte roxa à oeste. À oeste da ilha, o Mar do Caribe. Ao norte, o Oceano Atlântico.
No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 10 quilômetros.

Fonte: dubí jórj. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 1987. página 281.


Responda em seu caderno.

Questões

  1. O movimento que resultou na independência de São Domingos do domínio colonial francês foi inspirado nos ideais iluministas. Explique essa afirmação.
  2. Que característica da independência de São Domingos a torna singular no contexto das independências americanas?
  3. Identifique em A marselhesa os termos utilizados para designar os franceses e seus inimigos. Em seguida, responda: Quem seriam os tiranos para os franceses do período revolucionário e para os escravizados de São Domingos no processo de independência?
  4. Em sua opinião, por que as tropas francesas recuaram ao escutar A marselhesa?

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Por envolver a contribuição dos ideais da Revolução Francesa e do governo de Napoleão para o desencadeamento da independência do Haiti, a seção contempla parcialmente as habilidades ê éfe zero oito agá ih zero quatro e ê éfe zero oito agá ih um um. Além disso, ao abordar a independência de São Domingos, suas relações com a Revolução Francesa e suas implicações, contempla a habilidade ê éfe zero oito agá ih um zero. Ao comparar eventos ocorridos simultaneamente em espaços diferentes, a seção contribui para o desenvolvimento da Competência específica de Ciências Humanas nº 5.

Enquanto issoreticências

  1. A liberdade e a igualdade de todos perante a lei eram princípios iluministas. A população negra da ilha lutava contra a escravidão imposta pelos franceses, a desigualdade e a subordinação econômica e política de seu povo.
  2. A singularidade da independência de São Domingos estaria no fato de a libertação da ilha do domínio francês ter começado com uma rebelião escrava liderada por ex-escravizados.
  3. Os termos cidadãos e filhos da pátria dizem respeito aos integrantes dos batalhões franceses. Seus inimigos são associados ao termo tirania. Quando a canção foi composta, em 1792, seu propósito era motivar os soldados franceses a lutar contra os inimigos da revolução, internos e externos. Para os negros escravizados de São Domingos, os tiranos eram os franceses, que os exploravam e os escravizavam.
  4. Espera-se que os alunos percebam que as tropas francesas se sentiram constrangidas ao escutar o próprio hino cantado pelos escravizados de São Domingos, que lutavam pela liberdade e pela igualdade e contra a tirania. Os soldados franceses viveram naquele momento uma contradição e, por isso, recuaram.

A luta pela emancipação no México

A região onde atualmente está localizado o México fazia parte do Vice-Reino da Nova Espanha (consulte o mapa da página 91). O movimento pela independência política da região teve início em setembro de 1810, no povoado de Dolores. Naquele ano, o padre Miguel Hidalgo e um grupo de indígenas e mestiços passaram a lutar contra o governo colonial, iniciando a revolta que ficou conhecida como Grito de Dolores.

Hidalgo defendia a divisão das grandes propriedades rurais e a distribuição de terras, a supressão dos tributos sobre as comunidades indígenas e a abolição da escravidão. Liderando um exército formado por indígenas, mestiços e outras pessoas livres pobres, ele seguiu para a Cidade do México. Durante o trajeto, os rebeldes entraram em conflito com as fôrças do governo real espanhol. Nesse confronto muitos morreram ou ficaram feridos. Hidalgo foi preso em janeiro de 1811 e executado no mesmo ano, com apoio dos criollos e chapetonesglossário .

Com a morte de Hidalgo, o padre mestiço rossê María Morelos assumiu o comando das fôrças rebeldes. Morelos definiu um plano de independência para o México que previa a supressão das barreiras sociais e étnicas, bem como a distribuição de terras à população. Para isso, convocou uma assembleia reunindo diferentes grupos sociais. Em 6 de novembro de 1813, essa assembleia declarou a independência mexicana, instituindo um novo governo.

Esse governo, porém, foi dissolvido dois anos depois pelas fôrças metropolitanas, que se uniram aos colonos ricos para defender interesses em comum. rossê María Morelos foi capturado e executado em 1815.

Pintura. No centro, homem calvo, de casaco e roupas pretas. Tem um tecido azul amarrado na cintura, sobre o casaco. Uma das mãos está levantada para o alto e com a outra ele segura uma bandeira nas cores verde, branco e vermelho. Ao seu redor, homens de chapéu com abas largas, casaco escuro e calças coloridas empunhando espadas.
Pintura do século dezenove representando o padre Miguel Hidalgo liderando o Grito de Dolores.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

3. Identifique os principais objetivos do movimento de independência liderado pelo padre Miguel Hidalgo.

Saiba mais

As mulheres rebeldes

O processo de independência mexicana teve a participação de muitas mulheres, de diferentes classes sociais. Algumas combateram nas guerras, produziram munições, cuidaram dos feridos e chegaram a comandar tropas. Uma delas foi Leona vicário, que traçou planos estratégicos, recrutou soldados, contrabandeou armas, entre outras tarefas, ao lado das tropas de Morelos.


Escultura. Estátua de metal de uma mulher de vestido longo. Tem olhos pequenos e cabelo arrumado para trás. Uma mão está apoiada na cintura a outra está apoiada sobre livros que estão em um pilar.
Estátua de Leona vicário em frente ao Palácio Municipal em pláia dél cármen, México. Foto de 2017.

Outras mulheres, como as da elite criolla, organizaram espaços femininos de sociabilidade, conscientização e ação com o objetivo de discutir planos para a independência do México. Muitas também atuaram como espiãs, mensageiras e informantes. Antonina Guevara, por exemplo, transmitia mensagens do marido, que estava preso, aos principais líderes do movimento de independência.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.


Transcrição do áudio

Mulheres nas lutas hispano-americanas

[Locutor]:

Até recentemente, muito pouco se sabia sobre a participação feminina nas guerras de independência das colônias espanholas. Entretanto, novos estudos conseguiram identificar que, em diferentes regiões da América hispânica, as mulheres contribuíram ativamente nas lutas, seja participando de batalhas, seja atuando de maneira estratégica. É isso que nos explica a seguir a professora da Universidade de São Paulo, Maria Lígia Prado.

[Maria Lígia Prado]:

Olá, pessoal! Sou Maria Lígia Prado, professora de história da América Latina na Universidade de São Paulo. Eu vou apresentar a vocês um tema muito interessante: a participação das mulheres nas lutas pela independência da América Latina.

Os textos sobre a história da independência da América Latina raramente fazem referência à participação de mulheres nesses importantes acontecimentos, mas os estudos mais recentes têm mostrado que elas estiveram presentes nessas lutas, atuando de maneiras muito diversas.

Na América espanhola, as rebeliões armadas para conquistar a independência se estenderam por mais de dez anos. O resultado final desses embates era incerto, pois as batalhas ora pendiam para o lado dos rebeldes, ora para o da coroa espanhola. As pessoas tinham medo, se sentiam inseguras, mas também alimentavam esperanças e acreditavam que, se a independência chegasse, as condições sociais e políticas iriam melhorar. As mulheres, como parte fundamental dessas sociedades, tomaram partido e participaram dessas lutas.

Sua atuação assumiu modalidades diversas. Muitas trabalharam como mensageiras, ou espiãs, em busca de informações para os insurgentes. Outras organizaram e compareceram a reuniões políticas subversivas onde se debatiam temas da política e da guerra. As mais ricas contribuíram para a causa da liberdade comprando roupas, material tipográfico e até peças de armamento bélico.

Essa atuação aconteceu em todas as regiões da atual América Latina, do México até a Argentina.

Conto a vocês algumas das histórias dessas mulheres.

Na atual Bolívia, a resistência aos espanhóis tomou a forma de luta de guerrilha. Entre esses grupos de guerrilheiros, havia um liderado por uma mulher – Juana Azurduy de Padilha. Ela assumiu o comando do grupo depois que seu marido foi morto em um combate contra os espanhóis. Lutando a seu lado havia um grupo de mulheres chamadas As Amazonas.

Depois da independência, vivendo com a única filha que havia sobrevivido, recebeu uma pequena pensão do governo pelos serviços prestados à causa. Mas logo depois deixou de receber qualquer ajuda, vivendo até sua morte, aos 80 anos, pobre e esquecida.

Lembro agora a história de outra mulher, Policarpa Salavarrieta. Nasceu numa cidade do interior da atual Colômbia, parte do vice-reinado colonial da Nova Granada, em 1795. Policarpa frequentou a escola, onde aprendeu a ler, escrever, contar e costurar. Aos quinze anos, ficou noiva de Alejo Sabaraín. Iam se casar quando a guerra pela independência se iniciou. Seu noivo aderiu a causa da independência, integrando-se aos exércitos rebeldes. No final de 1816, Policarpa foi para Bogotá, empregou-se como costureira em casas de famílias ricas, em sua maioria, defensoras da coroa espanhola. Ela fazia espionagem, mandando informações para uma rede clandestina de solidariedades políticas que lutavam pela independência.

Santa Fé de Bogotá estava ocupada pelas forças realistas do general espanhol Pablo Morillo que pretendia derrotar os rebeldes. A repressão foi muito forte e, nesse período, Policarpa foi presa logo depois de seu noivo. Foi julgada e condenada à morte por traição por um concelho de guerra.

Passo contar para vocês a história de outra mulher que vivia no vice-reinado da Nova Espanha, o México atual. Ela se chamava Gertrudis Bocanegra. Pobre, filha de pai espanhol e mãe indígena, nasceu numa pequena cidade em 1765. Sabia ler e escrever e conhecia textos políticos e filosóficos. Era casada e mãe de cinco filhas e dois filhos. Quando começou a insurreição liderada por Miguel Hidalgo, seu marido Pedro e o filho mais velho aderiram à luta, mas logo foram mortos em batalha. A partir desse momento, Gertrudis passou a trabalhar como mensageira sob as ordens de um comandante rebelde. Foi descoberta e presa pelas forças espanholas. Como se recusou a denunciar seus companheiros, foi torturada, julgada traidora e fuzilada no dia 11 de outubro de 1817, aos 52 anos de idade.

Apresentei a vocês a história de apenas algumas entre as muitas protagonistas femininas dos movimentos pela independência. Esse protagonismo não tem sido valorizado. O empenho dos governos para o reconhecimento dessas mulheres como fundadoras da pátria foi muito pequeno. Enfatizo que essas mulheres participantes dos movimentos pela independência tiveram uma atuação política e foram motivadas por ideias, sentimentos e crenças que as levaram a romper com os padrões sociais e religiosos vigentes.

Para finalizar, quero dizer que somente após os movimentos feministas da segunda metade do século XX a questão das mulheres ganhou uma dimensão política nacional, e importantes conquistas sociais foram alcançadas. Esses movimentos chegaram às historiadoras e aos historiadores que se voltaram para o passado para pensar de outra forma o papel das mulheres na História. Desse modo, suas novas interpretações têm mostrado a grande relevância das mulheres nos acontecimentos do passado não apenas na literatura, na educação e nas artes, mas também na política. O papel dessas mulheres precisa ser lembrado e reconhecido a fim de se repensar seu lugar nas sociedades latino-americanas do passado e do presente.


Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao analisar os processos de independência, o protagonismo dos diferentes grupos sociais, bem como os ideários dos líderes dos movimentos independentistas, o conteúdo contempla a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero oito e, parcialmente, as habilidades ê éfe zero oito agá ih um um e ê éfe zero oito agá ih um três.

Recapitulando

3. O movimento almejava, além da independência do Vice-Reino da Nova Espanha, a divisão das grandes propriedades rurais e sua distribuição à população, a supressão dos tributos sobre as comunidades indígenas e a abolição da escravidão.

Atividade complementar

Organize os alunos em grupos heterogêneos e proponha uma atividade de pesquisa sobre a trajetória das mulheres nos movimentos de independência americanos. Sugira que cada grupo selecione uma mulher para pesquisar. Por exemplo, mulheres que participaram do movimento emancipatório mexicano, conforme apresentado no boxe “Saiba mais” da página.

Depois da pesquisa, cada grupo deve criar uma publicação para redes sociais, que pode ser uma fotografia com legenda ou um meme, enfatizando a importância da participação da mulher pesquisada no movimento de independência americano do qual fez parte ou a importância da participação política das mulheres no geral.

Bê êne cê cê

Além de promover uma fórma de expressão da cultura juvenil, a atividade favorece o contato com a linguagem das mídias sociais e o uso de tecnologias digitais, possibilitando o desenvolvimento das Competências gerais da Educação Básica nº 2 e nº 6, das Competências específicas de Ciências Humanas nº 6 e nº 7 e da Competência específica de História nº 7.

O México independente

Com o fim do governo independente e sem a interferência do padre Morelos, a situação no Vice-Reino da Nova Espanha parecia novamente sob contrôle espanhol. Contudo, a autoridade espanhola não tinha sido restaurada na região. Os grandes proprietários da colônia continuavam insatisfeitos com o governo metropolitano. Eles desejavam a independência, mas não por meio de uma revolução popular.

Em 1821, o militar augustín de iturbíde apresentou à elite colonial o Plano de Iguala, uma proposta de independência para o México. Segundo o plano, o Estado mexicano se tornaria uma monarquia católica independente, governada com base na Constituição da Espanha até que pudesse formular a própria constituição.

A elite logo percebeu que Iguala lhe trazia vantagens reticências. O clero e os militares se entusiasmaram, pois o plano assegurava a preservação de sua posição e oferecia uma esperança de rápida ascensão. Por outro lado, os rebeldes mais devotados podiam encontrar agora uma causa comum com seus antigos adversários, porque reconheciam que a independência era possível e o novo Estado, mesmo que não fosse a república que alguns deles desejavam, ainda assim seria reformista.

âna, tímoti. A independência do México e da América Central. In: Betell, Leslie (organizador). História da América Latina: da independência a 1870. São Paulo: êduspi; Brasília, Distrito Federal: Fundação Alexandre de Gusmão, 2004. volume 3, página 111.


Responda em seu caderno.

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Segundo o texto, por que a elite colonial apoiou o plano de augustín de iturbíde?

Em setembro de 1821, o México foi proclamado independente, e os criollos assumiram o contrôle do Estado. As reivindicações sociais do movimento de Hidalgo e de Morelos foram esquecidas. Iturbide foi coroado imperador e governou até 1823, quando foi derrubado e executado pelos republicanos.

Gravura. Mulher indígena usando uma saia azul rodada e um cocar de penas verdes, brancas e vermelhas sobre a cabeça. Está sentada sobre um leão, que está deitado no chão. Ela segura duas flechas numa das mãos, enquanto a outra está apoiando sua cabeça. Seu cotovelo está apoiado no tronco ao lado. À sua frente, um cartaz no chão com a informação Dolores 1810. À sua direita, flores e uma carroça com a bandeira do México, vermelha, branca e verde. À sua esquerda, uma árvore, pássaros, animais no rio, um cacto e, ao fundo, uma colina. No canto direito, dois globos terrestres, um representando o continente americano, o outro, o território da Espanha. Os dois globos são ligados por uma corrente.
México contempla o seu futuro, gravura do século dezenove representando a independência do México.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. O que foi o Plano de Iguala?
  2. É possível afirmar que a independência do México foi concretizada pelas elites, e não pela luta das camadas populares? Explique.

Respostas e comentários

Os indígenas

Ao abordar a independência do México, destaque a participação indígena nos movimentos liderados por Hidalgo e Morelos e mostre como a proposta apresentada no Plano de Iguala não considerou as reivindicações dos povos nativos. Nesse sentido, a análise da imagem México contempla o seu futuro auxiliará a problematização: destaque o estandarte abandonado no chão, no qual se lê “Dolores 1810”, em referência ao movimento independentista iniciado na província de Dolores com a participação indígena; a fisionomia desanimada da mulher nativa; e, à direita, a América e a Espanha representadas como dois mundos ligados pelos grilhões da dominação.

Explore

Porque o Plano de Iguala, apresentado por Agustín de Iturbide aos membros da elite colonial, preservava os privilégios do clero e dos militares e trazia a possibilidade de ascensão social desses grupos. Para a elite mais rebelde, ainda que não transformasse o México em uma república, o plano assegurava a independência e reformas.

Recapitulando

  1. O Plano de Iguala foi um projeto criado por Agustín de Iturbide para declarar a independência do México, tornando-o uma monarquia católica em que se previa a elaboração de uma constituição.
  2. Sim, porque ao propor o estabelecimento de uma monarquia católica, o Plano de Iguala tornou-se interessante para as elites. O clero e os militares se entusiasmaram, pois o plano assegurava a preservação de sua posição e oferecia esperança de rápida ascensão social. Portanto, a independência acabou sendo articulada pelas elites mexicanas, apesar da revolta popular.

As independências na América do Sul

No norte da América do Sul, tropas lideradas pelo venezuelano Simón Bolívar lutaram pela independência da Grã-Colômbia, correspondente aos atuais Equador, Venezuela, Colômbia, Panamá e Bolívia. O principal líder militar no centro-sul foi rossê de sãn martín, que combateu nos territórios que hoje correspondem a Argentina, Uruguai, Chile e Peru.

A Espanha tinha dificuldade para lutar nas várias frentes e foi sucessivamente derrotada, até que, na metade da década de 1820, toda a América do Sul colonizada pelo país se tornou independente (consulte o mapa da página 91). Um fator que ajuda a explicar a dificuldade da Espanha para controlar a onda separatista que se espalhou pela América foi a divisão do clero católico colonial, tradicional aliado do governo real espanhol. Muitos padres passaram a atuar nos movimentos populares de independência, como aconteceu no México.

Geralmente, a independência das colônias espanholas da América do Sul é considerada um processo que uniu líderes com projetos políticos semelhantes. Porém, as questões relacionadas à luta anticolonial se misturaram com os interesses locais e, muitas vezes, geraram disputas entre os líderes militares e políticos ou entre grupos sociais diferentes.

Fotografia. Monumento que possui, ao centro, as estátuas de Simón Bolívar e San Martín sobre uma estrutura alta de mármore. Ao fundo, construção em curva composta por dez pilastras. No topo várias bandeiras. No chão, piso de mármore, uma pequena escadaria e algumas flores e árvores baixas.
Monumento em homenagem a Simón Bolívar e rossê de sãn martín, dois dos líderes das lutas pela independência na América espanhola, em guaiaquíl, Equador. Foto de 2012.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

6. Cite um dos fatores que contribuíram para que a Espanha tivesse dificuldade em controlar os movimentos separatistas na América do Sul.


Respostas e comentários

Recapitulando

6. Os alunos podem mencionar que a Espanha teve dificuldade de controlar os movimentos separatistas porque eram muitas as regiões que passaram a reivindicar autonomia no mesmo período e isso demandava deslocamento de tropas reduzindo o número de soldados espanhóis em cada combate. Outro fator que ajuda a explicar a dificuldade da Espanha para controlar a onda separatista que se espalhou pela América é a divisão do clero católico colonial, que, de aliado do governo real espanhol, tornou-se atuante nos movimentos populares de independência, como aconteceu no México.

A unidade proposta por Bolívar

No século dezenove, os líderes dos movimentos de independência na América espanhola procuraram reforçar os laços que uniam os habitantes e ressaltar personagens e fatos importantes de sua história. Pretendiam, com isso, construir uma identidade que pudesse ser compartilhada por todos na luta anticolonial.

Uma dessas propostas foi elaborada por Simón Bolívar. Ele defendia a unidade de parte da América Latina e a formação de um Estado confederado, integrando a faixa de terra que se estendia da Guatemala até a Bolívia. Essa confederação, a Liga Americana, seria responsável pela garantia da manutenção da soberania nacional e pela proteção das nações contra perigos internos e externos. Essa união também garantiria a inserção de uma América Latina mais forte no cenário político e econômico internacional. Por isso, Bolívar é considerado um dos precursores do pan-americanismo.

Bolívar, no entanto, tinha muito conhecimento da situação fragmentária da América hispânica. Integrar a Bolívia e o Peru à Liga Americana seria a tarefa mais difícil: primeiro, porque a Bolívia ainda estava sob a esfera de influência do Vice-Reino do Rio da Prata; segundo, porque o Peru tornou-se independente sob a proteção de Buenos Aires e, assim, Bolívar teria de enfrentar as tropas de sãn martín para concretizar seu projeto.

História em construção

Bolívar, o mito

A imagem de Bolívar como grande libertador da América do Sul se mantém até hoje. Muitos estudiosos e artistas criaram representações grandiosas do líder, enaltecido como um herói que fez grandes sacrifícios em nome da liberdade de seu povo. A figura do “Libertador”, como ficou conhecido, foi usada, por exemplo, pelo ex-presidente venezuelano Hugo tcháves em seu governo (1998-2013), que aprovou uma constituição na qual uma homenagem ao líder foi acrescentada ao nome do país, que se tornou República Bolivariana da Venezuela.


Fotografia. Estátua equestre de bronze. Simón Bolívar, vestindo trajes militares, montado em um cavalo e empunhando uma espada, que aponta para o alto. O cavalo possui uma das patas levantadas. A estátua está sobre uma estrutura alta e retangular, que possui, na frente e na lateral, algumas inscrições em outro idioma.
Monumento em homenagem a Simón Bolívar em uóshinton, Estados Unidos. Foto de 2012.

A imagem heroica que se criou de Bolívar, contudo, vem sendo questionada em estudos recentes sobre as posições políticas do líder. Para alguns pesquisadores, o projeto de unidade latino-americana era um perigoso sonho de ditadura pessoal. Bolívar, ao mesmo tempo que defendia uma educação pública, gratuita e obrigatória para a população, pretendia manter o poder político e econômico nas mãos dos criollos, sem promover grandes transformações sociais. Para o jornalista colombiano Evelio Rosero, Bolívar também foi autoritário e cruel, pois comandou na cidade de Pasto, na Colômbia, em 1822, um massacre de nativos contrários à independência.


Responda em seu caderno.

Questões

  1. Por que Simón Bolívar é um personagem contraditório?
  2. O monumento reforça que ponto de vista sobre Bolívar? Justifique.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao analisar os ideais de Bolívar, conhecido como um dos precursores do pan-americanismo, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero nove.

Bolívar

Bolívar também defendia o republicanismo e os ideais iluministas de liberdade e igualdade para garantir a autonomia e a unidade da América Latina. Ele dirigia suas críticas especialmente à Espanha, por considerar que os outros países europeus já haviam consolidado os princípios iluministas em seus territórios. Bolívar foi um grande difusor das ideias emancipacionistas em toda a América hispânica.

História em construção

  1. Porque, na memória oficial de muitos países da América do Sul, principalmente na da Venezuela, construiu-se a imagem de Bolívar como o grande líder do povo sul-americano, por defender a liberdade e a união. Muitos elementos, porém, revelam outros aspectos de sua postura política: manutenção do poder nas mãos dos criollos, a falta de preocupação com os problemas sociais que afetavam a população e o massacre de nativos durante as guerras de independência são exemplos desse caráter contraditório de Bolívar.
  2. O monumento representa Simón Bolívar com vestimenta militar, montado a cavalo e com uma postura de superioridade, de homem vitorioso e corajoso. Dessa fórma, a obra reforça a ideia de Bolívar como o herói nacional, libertador da América do Sul.

A seção promove a análise crítica acerca da imagem de Simón Bolívar, favorecendo o pluralismo de ideias e evitando a formação de percepções doutrinárias e reducionistas.

No Uruguai: as ideias de artígas

No período colonial, a parte leste do Vice-Reino do Rio da Prata era conhecida como Banda Oriental do Uruguai. Durante muito tempo, a região ficou esquecida pelo governo real espanhol, que retomou seu interesse por ela depois de o governo português manifestar intenções de anexá-la. Em 1811, tropas saídas do Brasil invadiram a região, mas se retiraram dela no ano seguinte.

Em meio à guerra por autonomia, destacou-se o general uruguaio José gervásio artígas. Ele abandonou o exército espanhol para se unir às fôrças de Buenos Aires, que encabeçaram a luta pela independência dessa região. Artigas tornou-se um dos principais líderes do movimento e assumiu o contrôle da Banda Oriental, que estava submetida à junta de Buenos Aires. Descontente com o contrôle de Buenos Aires, artígas rompeu com os portenhos e instituiu em Montevidéu um governo independente. Ele adotou uma política de distribuição de terras, priorizando os integrantes das camadas mais pobres da população, principalmente os mestiços e os indígenas.

Em 1821, contudo, Portugal incorporou a Banda Oriental ao Brasil com o nome de Província Cisplatina. Com isso, artígas, derrotado, exilou-se no Paraguai. Quatro anos depois, um movimento pela emancipação dessa província foi apoiado pela Argentina. Brasil e Argentina disputaram o território até 1828, quando um acordo pôs fim ao conflito, e o Uruguai foi reconhecido como um Estado independente.

Pintura. Vários homens reunidos. Alguns trajam roupa escura, outros usam um manto vermelho por cima das roupas. Um deles, ao centro, carrega uma bandeira azul, branca e vermelha. Outros, posicionados ao redor da bandeira, estão com os chapéus levantados. Ao fundo, muitas árvores.
O juramento dos Trinta e Três Orientais, pintura de Ruán Manuel Blánes, 1877. Museu Municipal de Belas Artes Ruán Manuel Blánes, Montevidéu, Uruguai. Trinta e Três Orientais é o nome de um movimento pela libertação da Província Cisplatina do domínio brasileiro.

Assim como Bolívar, artígas foi exaltado por políticos e historiadores como líder popular e defensor da independência uruguaia. Contudo, alguns especialistas contestam essa visão, argumentando que o principal motivo de sua luta não era a independência do Uruguai, mas sim a autonomia da região sob seu comando, em uma federação platina. O projeto federalista de artígas concentrava-se, principalmente, na solução de problemas sociais do meio rural e na necessidade de distribuição das terras, o que o diferenciava de outros processos de independência que privilegiavam as questões urbanas. Por esse motivo, durante o século vinte, artígas passou a ser visto como o precursor da política social uruguaia.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Quais são as diferentes visões históricas sobre Artigas?
  2. Quais eram os principais objetivos do projeto federalista de Artigas?
  3. O que diferenciava o projeto federalista de Artigas de outros movimentos de independência americanos?

Respostas e comentários

Recapitulando

  1. Alguns historiadores consideram artígas um líder popular e defensor da independência uruguaia. Outros especialistas contestam essa visão, argumentando que o principal motivo de sua luta era transformar a região sob seu comando em uma federação platina e não a independência de todo o Uruguai.
  2. O projeto federalista de Artigas concentrava-se na solução das questões sociais do meio rural e na necessidade de distribuição de terras.
  3. O projeto federalista de artígas concentrava-se nas questões rurais, ao passo que outros movimentos de independência americanos privilegiavam as questões urbanas.

Atividade complementar

gervásio artígas rompeu com a centralização do poder em Buenos Aires e instituiu em Montevidéu um governo independente na Banda Oriental.

Reproduza para os alunos um trecho do projeto de Constituição para a Província Oriental, publicado em 1813. Em seguida, promova uma atividade de comparação entre esse documento e a Declaração de Independência dos Estados Unidos, estudada no capítulo 3, página 58.

“Em abril de 1813 constituiu-se o primeiro Governo Oriental autônomo e, para tanto, preparou-se este projeto de constituição, que não chegou a ser aprovado reticências.

Artigo 1: Como todos os homens nascem livres e iguais, e têm certos direitos naturais, essenciais e inalienáveis – entre os quais se pode contar o de gozar e defender sua vida e sua liberdade, o de adquirir, possuir e proteger a propriedade, e, finalmente, o de buscar e obter segurança e felicidade – é um dever da instituição, continuação e administração do governo, assegurar esses direitos, proteger a existência do corpo político, e o de que seus governadores gozem com tranquilidade as bendições da vida; e sempre que não se consigam estes grandes objetivos, o povo tem o direito de alterar o governo, e de tomar as medidas necessárias à sua segurança, prosperidade e felicidade.”

artígas, josé gervásio. proiêcto de constitución para la província oriental (1813). In: ROMERO, José Luis; ROMERO, Luis Alberto (organizador). Pensamiento político de la emancipación (1790-1825). Caracas: Fundación Biblioteca Ayacucho, 1977. volume 2. página 18. (Tradução nossa).

Bê êne cê cê

Ao propor a análise de um documento histórico, a atividade favorece o desenvolvimento das Competências específicas de História nº 3 e nº 6.

As independências na América Central

As lideranças criollas na América Central tentaram, desde o início da década de 1810, negociar com a Espanha mais autonomia. Em 1812, elas chegaram a apoiar um projeto liberal de conciliação dos interesses da elite colonial com os da metrópole. O retorno de Fernando sétimo ao poder e suas pretensões absolutistas, assim como o medo de uma mobilização popular pela independência, refrearam as tentativas da elite criolla de tornar a região independente.

Em 1821, as províncias da América Central admitiram anexar a região ao recém-formado Império Mexicano. A união, porém, durou pouco. Com a queda de Iturbide, a região se separou do México, mas buscou manter sua unidade. Em 1823, em um congresso realizado na Guatemala, declarou-se a independência da região, que foi nomeada Províncias Unidas da América Central. No ano seguinte, foi estabelecida uma constituição para o novo Estado, que se tornou uma república federativa.

O principal defensor da federação foi o hondurenho rossê cecílio dél vale. Suas propostas inspiravam-se nas ideias iluministas e na independência dos Estados Unidos, que mantiveram a unidade política e territorial sem que suas partes perdessem a autonomia. O projeto federativo, contudo, não teve sucesso. Nos anos seguintes, após sucessivas guerras, cinco países independentes se formaram: Honduras, El Salvador, Costa Rica, Nicarágua e Guatemala.

Assim como o México, os Estados que constituíram a América Central viveram décadas de grande instabilidade política causada por disputas de poder entre as elites regionais. A situação foi agravada pela crise econômica. A guerra pela independência deixou muitas dívidas, e grande parte da estrutura produtiva foi destruída.

Fotografia. Praça com o chão de pedra clara e muitas pombas. À direita, uma fonte. Ao fundo, uma grande construção com muitas janelas, com bandeiras azuis e brancas em cima. Na frente, uma imensa bandeira azul e branca.
Vista da Praça da Constituição e do Palácio Nacional da Cultura, na Cidade da Guatemala, Guatemala. Foto de 2018. Nessa cidade, realizou-se o congresso em que se decidiu pela independência das Províncias Unidas da América Central, em 1823.

Saiba mais

O Congresso do Panamá

Em 1826, por iniciativa de Simón Bolívar, ocorreu o Congresso do Panamá, que reuniu a Grã-Colômbia (atuais Equador, Colômbia, Venezuela e Panamá), o Peru, o México e as Províncias Unidas da América Central. O objetivo dos participantes do evento era discutir ações para unificar as nações recém-independentes, como a criação de uma Assembleia com poderes supranacionais, a formação de uma aliança militar para derrotar definitivamente a Espanha, a segurança da soberania nacional e o fim do tráfico de escravizados. Os países participantes, no entanto, discordavam em vários pontos, o que contribuiu para o fracasso das ideias pan-americanas de Bolívar.


Respostas e comentários

A ideia de nação

O desmembramento das Províncias Unidas da América Central em cinco países não significou que cada um desses novos países surgisse de imediato como um Estado nacional, com uma língua, uma história e uma tradição em comum. Na Guatemala, por exemplo, o projeto das elites criollas de construir o Estado-nação enfrentou dificuldades. Nesse país, onde quase metade dos habitantes tem origem maia, as culturas indígenas se identificam com uma história milenar mesoamericana e são dotadas de particularidades linguísticas e territoriais que não coincidem com as fronteiras políticas do Estado nacional guatemalteco.

O Congresso do Panamá

O Chile e as Províncias Unidas do Rio da Prata recusaram-se a participar do Congresso do Panamá. O Brasil, os Estados Unidos, o Reino Unido e os Países Baixos foram convidados a participar do evento como observadores.

Ampliando: independência: liberdade para quê?

“Os homens que lideraram o processo de independência política, descontentes com o sistema colonial, estavam imbuídos das ideias liberais burguesas ‘descobertas’ nos estudos realizados na Europa ou através de livros ‘franceses’ entrados clandestinamente no continente. Julgavam-se absolutamente bem preparados para alcançar seus objetivos e acreditavam esperançadamente no futuro. As ideias de liberdade, de igualdade jurídica, da legitimidade da propriedade privada, da educação como remédio para os grandes males, da necessidade do império da lei, do progresso e da felicidade geral do povo estavam todas presentes nos projetos desses líderes liberais.

reticências O Mundo Novo que surgia era o lugar da liberdade que se opunha à Espanha, reino do despotismo, da opressão e do arbítrio. A América era o espaço do novo, da esperança, do futuro. Entre os anos de 1810 e 1820 os objetivos fundamentais da luta desses grupos eram os mesmos e o inimigo comum era a Espanha. Todos os esforços se concentravam para acabar com o domínio da Espanha. reticências Liberdade, entretanto, não é um conceito entendido de fórma única; tem significados diversos, apropriados também de fórmas particulares pelos diversos segmentos da sociedade.”

PRADO, Maria Ligia Coelho. A formação das nações latino-americanas. São Paulo: Atual, 1990. página 12-13. (Coleção Discutindo a história).

Cuba: a libertação tardia

Cuba foi o último país americano a se tornar independente. Essa experiência tardia foi fruto de três fatores principais. O primeiro foi a prevalência da grande propriedade monocultora, especialmente de tabaco e açúcar, com o uso de mão de obra escravizada. Essa estrutura agrária garantia a rígida hierarquia social e o poder político dos grandes proprietários de terras. O segundo foi a lembrança da revolução de escravizados no Haiti, que atemorizava a elite cubana, interessada em obter a independência, mas sem abolir a escravidão. O terceiro fator eram as relações comerciais da ilha com os Estados Unidos, o que garantia aos comerciantes locais certa liberdade econômica e muitos lucros.

O medo da rebelião de escravizados e a flexibilidade nas relações comerciais com a metrópole retardaram o desejo da elite local de lutar pela independência da ilha, movimento que só se iniciou em 1868. Cuba era a última grande colônia espanhola na América, e o governo real espanhol se empenhou militarmente para mantê-la. Os cubanos só retomaram a luta pela emancipação em 1895. Nesse processo, foram apresentados dois projetos políticos para o país. Os autonomistas defendiam a ideia de que, após a emancipação, Cuba deveria organizar-se como um Estado plenamente autônomo. Já os anexionistas desejavam que Cuba fosse anexada aos Estados Unidos.

O principal defensor da autonomia cubana após a independência foi o cubano rossê martí. Ele afirmava que os anexionistas eram os principais inimigos de Cuba e os atacava moralmente. martí denunciou o expansionismo dos Estados Unidos na América Latina e propôs que as nações da região se unissem como fórma de se fortalecer. Ele acreditava que o processo histórico da América Latina não deveria seguir nem o dos Estados Unidos nem o da Europa, valorizando a identidade da região.

A independência de Cuba ocorreu em 1898, com o apoio militar dos estadunidenses, que passaram a interferir diretamente nos assuntos internos do país, o que significou, na prática, a vitória dos anexionistas.

Charge. Uma mulher de cabelo comprido e vestido branco, tem um cinto escrito CUBA e a bandeira do país presa nele. Ela está ajoelhada aos pés de um senhor de nariz comprido, cabelo branco e enrolado. Ele usa chapéu enfeitado. Veste uma calça bufante azul com estrelas brancas, e meias com listras verticais vermelhas até o meio das coxas, uma camisa verde de mangas compridas e luvas com grandes punhos. Em seu cinto, as iniciais US. Ele está com uma das mãos sobre a cabeça da mulher. No canto esquerdo, encolhido e encoberto por uma capa escura, um homem de bigode. Usa botas escuras até a altura dos joelhos e um chapéu com a inscrição SPAIN.
Charge de C. djêi têilor a respeito do processo de emancipação cubano, 1896.

Responda em seu caderno.

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  1. Identifique o país que cada personagem representa na charge.
  2. A charge é uma leitura crítica da luta pela emancipação em Cuba. Que características dos países envolvidos no conflito foram ressaltadas?

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Responda às questões a seguir sobre Simón Bolívar.
    1. Em que regiões ou países ele atuou diretamente?
    2. Quais eram seus principais objetivos?
  2. Explique o significado do termo independência na visão do líder Simón Bolívar e na do padre Miguel Hidalgo.
  3. Identifique e explique os projetos políticos apresentados pelos seguintes personagens do processo de independência das colônias da América espanhola.
    1. José gervásio artígas.
    2. rossê cecílio dél vale.
    3. rossê martí.
  4. Por que Cuba conquistou a independência tardiamente?

Respostas e comentários

Explore

  1. A mulher representa Cuba, o homem de pé junto à mulher, os Estados Unidos, e o homem de capa preta, a Espanha. Cada personagem utiliza vestimentas que identificam o país a que se referem.
  2. Cuba foi representada como uma mulher submissa, protegida por um herói, os Estados Unidos; já a Espanha, como a vilã. A Espanha é caracterizada como um bandido, e os Estados Unidos aparecem como um protetor de Cuba. A charge apresenta uma visão simpática dos defensores da incorporação de Cuba aos Estados Unidos depois da independência.

Recapitulando

    1. Simón Bolívar atuou na região que compreendia os atuais territórios da Colômbia, do Equador, do Panamá e da Venezuela.
    2. O objetivo de Bolívar era formar uma grande nação no continente americano, que se estenderia da atual Guatemala ao território que hoje compreende a Bolívia.
  1. Para Simón Bolívar, a independência era sinônimo de rompimento com a Espanha para a criação de nações livres e unidas que poderiam comercializar com todos os países. Já para o padre Hidalgo, a independência estava relacionada ao direito à terra, principalmente no início do processo, quando liderou uma rebelião indígena em defesa da terra, da abolição da escravidão e do fim dos tributos exigidos dos indígenas.
    1. José gervásio artígas defendia um projeto que garantisse a autonomia do Uruguai em uma federação platina. Essa ideia estava conectada à valorização da questão social no meio rural e à necessidade de distribuir as terras para as camadas mais pobres da população.
    2. rossê cecílio dél vale defendeu o federalismo nas Províncias Unidas da América Central, tendo como modelo a organização política dos Estados Unidos, que mantiveram a unidade política e territorial sem que suas partes perdessem a autonomia.
    3. rossê martí defendeu a autonomia de Cuba após a independência, criticando o expansionismo estadunidense na América Latina e propondo uma unidade continental que valorizasse a especificidade da identidade e do processo histórico latino-americanos.
  2. Cuba tornou-se independente tardiamente em razão do medo dos grandes proprietários de terras de que eclodisse na ilha uma revolta escrava nos moldes da que ocorreu no Haiti, da aproximação comercial com os Estados Unidos, que favorecia os comerciantes locais, e da estrutura agrária e social, que garantia o poder político dos grandes proprietários de terras.

Significados de liberdade

No tempo das lutas pela independência na América espanhola, a palavra liberdade tinha diferentes significados. Para as elites criollas que liam os textos iluministas, o termo tinha, principalmente, uma dimensão política e econômica. Esse grupo desejava autonomia para ampliar seus negócios e atuar no comércio internacional sem a intervenção da metrópole. Para os escravizados, liberdade significava o fim da condição de cativos. Já para os indígenas, a palavra estava associada ao fim dos tributos coloniais e do trabalho compulsório. Contudo, nas lutas pela emancipação na América espanhola não foi possível conciliar as diferentes visões de liberdade.

Os movimentos de independência contaram com a participação de indígenas e de negros, mas foram conduzidos pelos criollos (brancos e mestiços), que já exerciam funções na administração colonial ou atuavam no comércio interno ou externo. Portanto, os novos Estados nacionais foram organizados para defender os interesses deles, que constituíam o grupo dominante, dando origem ao chamado caudilhismo, um tipo de poder local exercido pelos caudilhos, proprietários de terras que usavam a violência e estabeleciam sistemas de troca de favores para conquistar terras e bens, impor sua liderança e legitimar seu poder político, econômico e social.

A independência das colônias não significou o fim do trabalho escravizado na América hispânica. Como muitos dos que lutaram pela liberdade política e econômica eram senhores de escravizados, a maior parte dos novos países adiou ao máximo o fim da escravidão (observe a linha do tempo) e, mesmo depois da abolição, os negros continuaram marginalizados.

A imensa maioria dos negros libertos saiu da escravidão sem uma poupança, e levou consigo somente o capital humano em termos de conhecimento, idiomas e habilidades para o trabalho. Assim, formaram a base da camada de pobres em todas as sociedades latino-americanas, posição que compartilharam com uma minoria de brancos empobrecidos e mestiços. reticências Para aqueles que subiam na escala econômica e social, a discriminação claramente se acentuava tanto quanto mais alto subissem.

cláin, rébert ésse A experiência afro-americana numa perspectiva comparativa: a situação atual do debate sobre a escravidão nas Américas. Afro-Ásia, Salvador, número 45, página 113, 2012.

Fim da escravidão na América espanhola*

Linha do tempo vertical. Fim da escravidão na América espanhola. A linha do tempo traz datas e nomes dos países, com suas respectivas bandeiras ao lado. De baixo para cima: 
1823: Chile (bandeira com uma faixa vertical vermelha e uma faixa branca. No canto superior esquerdo, um quadrado azul e uma estrela branca);
1826: Bolívia (bandeira com três faixas horizontais: uma verde, uma amarela e uma vermelha. No centro, um brasão);
1829: México (bandeira com três faixas verticais: uma verde, uma branca e uma vermelha. No centro uma águia segurando uma serpente com o bico);
1846: Uruguai (bandeira com listras horizontais azuis e brancas. No canto superior esquerdo, um sol amarelo);
1851: Equador e Colômbia (bandeira do Equador: três faixas horizontais, uma vermelha, uma azul e uma amarela; no centro, um brasão. Bandeira da Colômbia:  três faixas horizontais, uma vermelha, uma azul e uma amarela);
1853: Argentina (bandeira azul, com uma faixa horizontal branca e um sol amarelo ao centro);
1854: Peru e Venezuela (bandeira do Peru: três faixas verticais, duas vermelhas, nas laterais, e uma branca; ao centro, um brasão rodeado por folhas verdes. Bandeira da Venezuela: três faixas horizontais, uma vermelha, uma azul e uma amarela; ao centro, na faixa azul, sete estrelas brancas posicionadas em semicírculo); 
1869: Paraguai (bandeira com três faixas horizontais, uma azul, uma branca e uma vermelha. Ao centro, um brasão circular);
1873: Porto Rico (bandeira com cinco faixas verticais, três vermelhas e duas brancas. No canto esquerdo, um triângulo azul com uma estrela branca no centro);
1886: Cuba (bandeira com cinco faixas verticais, três azuis e duas brancas. No canto esquerdo, um triângulo vermelho com uma estrela branca no centro).
*Não inclui as Províncias Unidas da América Central. Os acontecimentos dessa linha do tempo não foram representados em escala temporal.
Fotografia. Grupo de pessoas tocando e dançando. Um homem de camisa amarela e bermuda jeans e uma mulher de vestido floral estão dançando. Atrás deles, homens cantando, alguns deles estão sentados tocando instrumentos.
Grupo em apresentação de rumba, dança que tem origem nos ritmos africanos, em rua de Havana, Cuba. Foto de 2018.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao analisar os significados de liberdade nos processos de independência na América espanhola, o conteúdo contempla parcialmente as habilidades ê éfe zero oito agá ih zero um e ê éfe zero oito agá ih um nove.

Abolição da escravidão na Venezuela e na Colômbia

A Venezuela proibiu a escravidão em 1816, e a Colômbia, em 1818. Contudo, nesses países, os ex-escravizados do sexo masculino, com idade entre 14 e 60 anos, foram obrigados a prestar serviço militar. Aqueles que se recusassem eram submetidos à servidão. A abolição definitiva nos dois países ocorreu apenas na década de 1850.

Atividade complementar

Organize a turma em grupos heterogêneos e solicite aos integrantes que debatam entre si o que entendem por liberdade. Então, peça que criem uma definição para o termo liberdade em uma folha de papel avulsa.

Compartilhe as conclusões de cada grupo com a turma. Então, promova uma discussão coletiva a respeito da liberdade no plano individual e no plano coletivo. Pergunte se eles acreditam que todas as pessoas têm o mesmo acesso à liberdade no que se refere à opção religiosa, postura política, orientação sexual etcétera Pergunte quais ações coletivas podem ser feitas para ampliar o acesso à liberdade de maneira igualitária na sociedade.

Relacione os aspectos discutidos pela turma com os processos de independência americanos e os grupos que deles participaram, como escravizados, por exemplo. Sugira aos alunos que se coloquem no lugar dessas pessoas, em um exercício de empatia, e que imaginem o que seriam capazes de fazer para reconquistar a liberdade perdida.

Após as discussões, peça que cada grupo avalie se a definição inicial que fizeram do termo liberdade pode ser modificada, ou se está satisfatória. Em seguida, a turma deve criar dois verbetes de dicionário com o significado das expressões liberdade individual e liberdade coletiva. Esses verbetes podem ser compartilhados com a comunidade escolar, por meio das redes sociais digitais da escola.

Bê êne cê cê

Ao promover o uso de tecnologias para difundir informações e promover o exercício da empatia, a atividade contribui para o desenvolvimento das Competências gerais da Educação Básica nº 4 e nº 9.

Os indígenas depois da independência

Os governos que se formaram na América Latina adotaram, ao longo do século dezenove, um programa de reformas liberais com o objetivo de modernizar a economia de seus países e integrá-los ao mercado internacional na condição de fornecedores de produtos primários.

Para a execução desse projeto modernizante, as comunidades indígenas foram dissolvidas, e suas terras, entregues aos grandes proprietários e empresas estrangeiras. Os nativos tornaram-se, então, pequenos proprietários ou mão de obra assalariada e barata para o trabalho nas lavouras e nas minas. Além disso, apesar de alguns tributos coloniais cobrados das comunidades indígenas terem sido abolidos formalmente, em vários territórios essa determinação não foi respeitada. Os direitos de cidadania também não foram estendidos aos indígenas, que continuaram excluídos da participação política.

Essa situação produziu graves tensões sociais e rebeliões armadas de povos indígenas em diferentes países hispano-americanos. No México, por exemplo, os indígenas organizaram revoltas em teuântepéc (1827), em Papantila (1836-1838), em guerrêro (1842-1843) e em ôarráca (1845). Eles queriam recuperar suas terras e lutar contra o fim da exploração econômica à qual estavam submetidos. Para isso, invadiram as fazendas, destruíram as lavouras e mataram o gado.

Fotografia em preto e branco. Dois homens de chapéu de aba larga e um tecido listrado sobre os ombros. Cada um carrega um grande cesto nas costas. Um dos homens está sentado, com as pernas encolhidas e os braços apoiados sobre os joelhos, e o outro está em pé, segurando uma trouxa de roupas.
Nativos do México. Foto do século dezenove. Museu Real das fôrças Armadas, Bruxelas, Bélgica.

Na Argentina, por sua vez, grupos indígenas formaram confederações para defender suas terras, manter sua autonomia e garantir meios de sobrevivência. A partir da década de 1870, porém, o Estado argentino iniciou uma política mais ofensiva para vencer a resistência indígena. O exército organizou uma série de campanhas militares para exterminar as comunidades nativas, começando pelas suas principais lideranças.

Em 1879, com alguns dos principais caciques presos e com os indígenas enfraquecidos, iniciaram-se oficialmente as chamadas Campanhas do Deserto. O objetivo era expulsar os indígenas das zonas pecuaristasglossário ao sul e a leste de Buenos Aires. Segundo o historiador brasileiro Gabriel Passetti, um terço dos nativos foi assassinado, e os demais, presos.

Refletindo sobre

Após a independência das colônias na América espanhola, os negros e os indígenas continuaram marginalizados em razão dos interesses dos grupos que estavam no poder. Essa situação se manteve também em outras regiões, como nos Estados Unidos. Assim como naquela época, hoje muitos políticos atuam em defesa de interesses pessoais em detrimento das necessidades da coletividade. Em sua opinião, de que fórma essa atitude se relaciona com a corrupção? De que maneira essa prática intensifica problemas sociais como a pobreza e a falta de serviços públicos de qualidade? fóra do âmbito político, que atitudes podem ser consideradas corruptas?


Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao analisar o confronto entre o modelo liberal adotado nos países recém-independentes na América e o modo de vida das comunidades indígenas, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero um.

Refletindo sobre

Espera-se que os alunos reflitam sobre os problemas políticos na atualidade, especialmente a corrupção. São frequentes as notícias sobre fraudes em licitações, governantes que receberam propina em troca de favores, improbidade administrativa de cargos do Executivo, superfaturamento de obras públicas, desvio de verbas etcétera Esses e outros problemas relacionados ao favorecimento de interesses particulares em detrimento da população podem ser debatidos entre os alunos. Além disso, eles devem trocar impressões sobre o fato de que a corrupção não se restringe ao contexto da política, mas está presente em outros setores da vida em sociedade. Oriente-os a refletir também sobre as suas atitudes e a selecionar argumentos fundamentados em informações de fontes seguras para defender suas opiniões.

Bê êne cê cê

Ao propor uma reflexão sobre a presença da corrupção em variados setores da sociedade, a atividade se relaciona com o tema contemporâneo transversal Vida familiar e social, e contribui para o desenvolvimento das Competências gerais da Educação Básica nº 1, nº 2, nº 4, nº 7 e nº 10, e das Competências específicas de Ciências Humanas nº 2 e nº 6.

Reflexos no presente

Quase todos os movimentos de resistência indígena nos séculos dezenove e vinte foram derrotados ou obtiveram vitórias restritas. Por causa desse histórico de exclusão, atualmente os indígenas estão entre os grupos mais pobres em muitos países latino-americanos.

Segundo a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (cepál), em 2020 existiam cêrca de 60 milhões de indígenas na América Latina e no Caribe. Eles viviam principalmente na Bolívia, no Peru, no México e na Guatemala. A maioria era pobre e apresentava baixos índices de escolarização.

No meio rural, as comunidades indígenas, em geral, são afetadas pela escassez de recursos, como água potável e eletricidade, e também pela falta ou pela má qualidade das estradas, fundamentais para que possam transportar seus produtos para as cidades. Nas cidades, os trabalhadores indígenas estão mais presentes no setor informal, ou seja, trabalham sem vínculos legais com os empregadores e sem direitos; portanto, sem salário fixo, férias remuneradas nem assistência médica.

As atuais constituições latino-americanas reconhecem os direitos dos povos indígenas e, na maioria dos países, existem comissões nacionais voltadas para a defesa dos direitos e da cultura desses povos. Com a reforma constitucional mexicana de 2001, por exemplo, foram modificados cinco artigos com o objetivo de ampliar o reconhecimento e a garantia dos direitos das populações indígenas, como o de manter suas instituições culturais, sociais e políticas. Em 2007, após duas décadas de debates, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas.

Apesar de essas leis nacionais e internacionais reconhecerem a multiplicidade étnica e defenderem os direitos dos povos indígenas, ainda há muito a ser feito para que tais direitos sejam efetivamente respeitados e garantidos.

Fotografia. Muitas pessoas em uma manifestação na rua. Estão de máscara. Carregam bandeiras coloridas. Ao fundo, uma construção e algumas árvores.
Manifestação pela prorrogação da lei que suspende a expulsão dos povos indígenas das terras tradicionalmente ocupadas por eles, em Buenos Aires, Argentina. Foto de 2021.

Conexão

A independência dos países da América Latina

Alexandre de Freitas Barbosa. São Paulo: Saraiva, 1999. (Coleção Que história é esta?).

Nesse livro, o historiador analisa a independência da América espanhola destacando os diferentes significados desse processo para os diversos grupos sociais envolvidos, como indígenas, negros e mestiços.


Capa do livro. Na parte superior, o título e o nome do autor. Abaixo, ilustração de homens armados em uma batalha.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Identifique o sentido de liberdade para os seguintes grupos sociais nos processos de independência na América hispânica: elite criolla, indígenas e escravizados. Qual dessas liberdades se concretizou?
  2. Como as sociedades indígenas que viviam ao sul e a leste de Buenos Aires, em meados do século dezenove, eram vistas pelo Estado argentino? Justifique.
  3. O que foram as Campanhas do Deserto?

Respostas e comentários

Cepal

Os dados apresentados sobre as populações indígenas foram extraídos de cepál. É urgente obter a plena inclusão dos povos indígenas no cumprimento da Agenda 2030, garantindo o exercício de seus direitos coletivos. Comunicado de imprensa, junho 2020. Disponível em: https://oeds.link/DWi5J7. Acesso em: 12 maio 2022.

Recapitulando

  1. Para a elite criolla, liberdade significava o fim do domínio político e econômico exercido pela Espanha sobre suas colônias americanas; para os indígenas, representava o fim dos tributos coloniais e do trabalho compulsório; para os escravizados, significava a abolição da escravidão. A liberdade almejada pelos criollos foi a que se concretizou.
  2. As sociedades indígenas eram vistas como obstáculo ao projeto modernizador e “civilizador” empreendido no século dezenove pelo Estado argentino, controlado pelos criollos. Esse projeto previa a inserção da economia argentina no mercado mundial na condição de fornecedora de artigos primários, o que implicava a expansão da fronteira agropecuária do país. No sul e a leste da capital, no entanto, as terras eram habitadas por populações indígenas que resistiam ao avanço criollo. O exército argentino empreendeu uma série de ataques contra os indígenas, que foram quase exterminados sob a bandeira da missão “civilizadora” do Estado nacional.
  3. As Campanhas do Deserto foram operações militares muito ofensivas, iniciadas em 1879, organizadas pela Argentina para exterminar ou expulsar os indígenas das terras que tradicionalmente ocupavam.

Conexão

Esta obra paradidática, escrita pelo economista e livre-docente em História Econômica e Economia Brasileira Alexandre de Freitas Barbosa, aprofunda o conteúdo discutido no capítulo. Em suas páginas, o aluno pode consultar mais detalhes sobre o que estudou e encontrar novas informações a respeito das independências dos países latino-americanos, contribuindo para o seu aprendizado. No livro, o professor discute o sentido da palavra independência e os diversos significados que os latino-americanos atribuíram a ela.

Atividades

Responda em seu caderno.

Aprofundando

1. Leia o texto sobre a postura e as ideias dos criollos no processo de independência na América espanhola. Depois, responda às questões.

reticências Os criollos também estavam de olho nos seus empregados, os índios sobretudo, mas também os mestiços. Diante do perigo de revolta reticências, eles ainda preferiam a Espanha à anarquia. reticências Para a América hispânica a revolta do Haiti servira de exemplo: não se podia deixar que se repetisse.

ferrô, márc. História das colonizações: das conquistas às independências, séculos treze a vinte. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. página 255-256.

  1. Que “perigo de revolta” era temido pelos criollos?
  2. Por que, segundo o texto, os criollos “preferiam a Espanha à anarquia”?

2. Em 1815, Simón Bolívar escreveu uma carta para rênri câlen, um importante comerciante que vivia na Jamaica, então colônia britânica. Forme dupla com um colega, leiam o trecho a seguir e, depois, respondam às questões.

É uma ideia grandiosa pretender formar o Novo Mundo como uma só nação reticências. Já que tem uma origem, uma língua, uns costumes e uma religião, deveria, por conseguinte, ter um só governo que confederasse os diferentes Estados que haverão de ser formados. reticências

reticências o que pode nos colocar em condição de expulsar os espanhóis e a fundar um governo livre: é ‘a união’, certamente reticências.

BOLÍVAR, Simón. Carta de Jamaica, 1815-2015. Brasília, Distrito Federal: Embaixada da Venezuela, 2015. página 28. Disponível em: https://oeds.link/U3UJgY. Acesso em: 2 maio 2022.

  1. Com base em seus conhecimentos, em que contexto histórico a carta foi redigida?
  2. Qual é o projeto político que Bolívar defende na carta?
  3. Que elementos são citados por Bolívar para justificar seu projeto político?
  4. Com base no estilo do texto, qual pode ter sido a intenção de Bolívar ao escrever a um poderoso comerciante de uma colônia britânica do Caribe?

Aluno cidadão

  1. Nos territórios que integram a região atualmente identificada como América Latina, houve intenso intercâmbio cultural entre indígenas, africanos e europeus durante o processo de colonização. A cultura latino-americana tem sido estudada por pesquisadores de diferentes áreas, como linguistas, historiadores da arte, geógrafos e sociólogos. Organizem-se em grupos para fazer uma pesquisa bibliográfica sobre os estudos desses pesquisadores. Sigam o roteiro.
    • Pesquisem títulos de livros e de textos de revistas científicas que tratem do tema “cultura latino-americana”. Vocês podem usar palavras-chave como “cultura latino-americana”, “diversidade cultural na América”, entre outras.
    • Selecionem estudos sobre o tema.
    • Organizem o conjunto selecionado, identificando o autor, o título da obra, a instituição responsável pela publicação, o local e a data.
    • Façam uma lista dos autores dos textos e identifiquem a nacionalidade e a área de pesquisa de cada um.
    • Leiam resumos dos estudos selecionados para avaliar quais são os principais assuntos abordados pelos autores. Trata-se de diversidade linguística, produção cultural (pinturas, músicas, filmes etcétera), diversidade étnica ou outros assuntos?
    • Reúnam os dados levantados e respondam às questões. Com base no número de estudos selecionados e nas datas de publicação, esse tema é pesquisado com frequência? De quais países foram selecionados mais estudos? De quais áreas de pesquisa há mais estudos? Quais são os assuntos mais comuns nos estudos?

Respostas e comentários

Atividades

    1. Os criollos temiam o levante de indígenas e mestiços contra eles. Receavam que a revolta escrava, que marcou o processo de independência do Haiti, chegasse às colônias espanholas e mobilizasse indígenas e mestiços em uma luta semelhante.
    2. Segundo o texto, os criollos preferiam continuar submetidos ao domínio metropolitano espanhol a enfrentar a revolta de indígenas ou mestiços contra eles.
  1. Para realizar a proposta, os alunos devem considerar o contexto em que a carta foi escrita, as características dela e a identidade do remetente e do destinatário.
    1. A carta foi redigida no contexto da independência das colônias espanholas da América, quando os revolucionários lutavam contra a metrópole espanhola.
    2. Na carta, Bolívar defende a unificação das ex-colônias em um só Estado e uma só nação.
    3. Bolívar justifica seu projeto político com base na existência de uma origem, uma língua, costumes e uma religião comuns.
    4. Espera-se que os alunos percebam que o estilo do texto é argumentativo, ou seja, tem a função de persuadir o leitor. Assim, devem deduzir que Bolívar está buscando o apoio do destinatário para seu projeto e que, no contexto da guerra de independência, o suporte estrangeiro era estratégico não só para obter o reconhecimento internacional para a independência, mas também para angariar aliados para o novo Estado em formação.
  2. A atividade permite desenvolver noções introdutórias de revisão bibliográfica, prática em que o pesquisador levanta as referências sobre determinado tema a fim de obter um panorama do conhecimento acumulado sobre ele até o momento. Vale ressaltar para os alunos a importância de selecionar fontes confiáveis, com base em produção científica, em que métodos de checagem e crítica entre pares garantem a qualidade das publicações. Auxilie-os a diferenciar textos jornalísticos dos científicos ou de divulgação científica e incentive-os a pesquisar também na biblioteca física da escola para que manuseiem os livros.

Se possível, aproveite o momento para alertar os alunos sobre o risco da prática de voluntarismo, que consiste em realizar uma seleção tendenciosa de bibliografia ou documentação direcionada para a confirmação de uma ideia ou teoria previamente concebida, de fórma acrítica ou pseudocientífica, por um autor ou pesquisador.

Bê êne cê cê

Ao propor uma pesquisa bibliográfica sobre o tema da cultura latino-americana, a atividade se relaciona com o tema contemporâneo transversal Diversidade cultural e contribui para o desenvolvimento das Competências gerais da Educação Básica nº 1, nº 2, nº 4 e nº 5, bem como das Competências específicas de Ciências Humanas nº 2 e nº 7.

Conversando com arte

  1. ruán ôgôrman foi um importante arquiteto e pintor mexicano. No mural Painel da independência, reproduzido a seguir, o artista representou o processo de independência do México. A obra, encomendada pelo governo mexicano, fazia parte de uma política de educação popular visando construir uma identidade nacional vinculada à história revolucionária do México. Observe a pintura e faça o que se pede.
    • Na composição, o artista destacou especialmente a figura de Miguel Hidalgo. Localize-o no mural e descreva-o.
    • Que grupos da sociedade mexicana o artista destacou no processo de independência do México?
    • Que grupos sociais o artista deixou, intencionalmente, em segundo plano? Por quê?
Pintura. Diversas pessoas aglomeradas. À frente, em destaque, um homem calvo, de batina preta e uma faixa roxa na cintura. Está com um dos braços esticados lateralmente, com o punho cerrado, e o outro esticado para o alto, com uma tocha na mão. Está de boca aberta, como se estivesse gritando, e sua postura corporal sugere que está conduzindo as demais pessoas à sua volta. À sua direita, indígenas, e outros homens de terno e de uniforme militar. À esquerda, caídas no chão, pessoas com pouca roupa, algumas nuas. Ao lado delas, um homem crucificado, com um tecido cobrindo seu corpo abaixo da cintura e um braço flexionado para baixo. Atrás deles, um homem com um longo casaco azul e cabelo branco, com uma folha de papel na mão. Próximo a este, um grupo de homens usando roupas clericais. À frente deles, uma pilha de livros e um globo terrestre. À direita destes, outro grupo de homens. Estão armados com facões. Perto deles, mais ao fundo, diversos homens de terno, alguns usam cartola, outros usam chapéu. À frente, um homem de costas usa um tecido listrado ao redor do corpo. Mastros com diversas bandeiras são erguidos na multidão. Ao fundo da cena, à esquerda, uma grande construção.
Detalhe de Painel da independência, mural de ruán ôgôrman, 1960-1961. Museu Nacional de História, Cidade do México.

enêm e vestibulares

  1. (unêál) Entre fim do século dezoito e começo do dezenove, organizaram-se vivamente os revoltosos latino-americanos, influenciados pelas ideologias advindas com a Revolução Francesa e pelas independências norte-americana e haitiana. Identifique a alternativa correta.
    1. Para os criollos, a independência norte-americana não poderia servir de modelo, pois suas origens coloniais eram diferentes.
    2. A América do Sul conseguiu a independência, expulsando os espanhóis do continente em 1825, não restando nenhum país sob regime colonial.
    3. Os territórios libertados convocaram diferentes e sucessivos congressos, com o reiterado objetivo de organizar constitucionalmente os novos Estados e de mantê-los independentes entre si.
    4. O grande sonho de Simón Bolívar era a unidade além das fronteiras da Grande Colômbia, somando toda a América Latina em uma grande confederação.
    5. A partir da independência, em 1825, Cuba passou a ser um protetorado dos Estados Unidos até 1959, quando houve a Revolução Cubana.

Respostas e comentários

4. O padre Miguel Hidalgo foi representado em primeiro plano, com braços abertos e pernas afastadas, com uma tocha na mão direita. Ele cerra o punho da mão esquerda e escancara a boca como se estivesse gritando. Os alunos deverão inferir que a posição em que é pintado indica liderança e protagonismo no movimento de independência. Ao lado de Miguel Hidalgo, o artista representou indígenas, mestiços e homens livres, grupos sociais que lutavam pela independência da colônia. Em segundo plano, ficaram as autoridades religiosas, jurídicas e políticas e parte da elite social e econômica do futuro país. Na representação, o artista colocou em evidência o caráter popular do processo de independência mexicano, que teria unificado dois projetos: o de libertar o México da opressão metropolitana e o de garantir melhores condições de vida aos setores mais pobres da população.

Interdisciplinaridade

Ao propor a análise de uma obra de arte como documento histórico, a atividade desenvolve habilidades de análise documental iconográfica e habilidades do componente curricular arte, especificamente as habilidades ê éfe seis nove á érre três um e ê éfe seis nove á érre três três.

5. Alternativa d.

Fazendo e aprendendo

Romance

Você costuma ler romances ou outras narrativas literárias?

Basicamente, o romance é um gênero que ganhou popularidade nos séculos dezoito e dezenove ao retratar a emergente burguesia e novos valores sociais. Escritos em prosa (diferentemente dos poemas épicos), os romances narram fatos ocorridos ou vivenciados por personagens em determinado tempo e espaço e são caracterizados pelo tema ou pela fórma como o abordam. Assim, temos: romances históricos, romances psicológicos, romances de aventura, romances de costumes, romances policiais etcétera Até o fim do século dezenove era comum os romances serem publicados em capítulos nos jornais, criando a mesma expectativa pela continuidade da história que hoje temos ao assistir a uma novela ou a uma série.

Leia um trecho de O vermelho e o negro, do escritor francês istêndál (1783-1842), romance publicado em 1830 que narra a história do jovem e ambicioso juliãn sorrél. Note como, no fragmento selecionado, o protagonista fala de Napoleão Bonaparte com certa admiração:

‘Texto citado dentro de moldura de periódico antigo. Texto: 
‘Para Julien, fazer fortuna significava antes de mais nada sair de Verrières; abominava a cidade natal. Tudo o que via ali gelava sua imaginação.
Tivera momentos de exaltação desde a primeira infância. Sonhava deliciosamente que um dia seria apresentado às belas mulheres de
Paris; saberia atrair sua atenção com algum ato espetacular. Por que
não seria amado por uma delas, tal como Bonaparte, ainda pobre, fora
amado pela brilhante sra. de Beauharnais? Fazia muitos anos que
Julien não passava nem uma hora da vida sem lembrar que Bonaparte,
tenente obscuro e sem fortuna, se tornara senhor do mundo com a
espada. A ideia o consolava de seus infortúnios, que julgava grandes,
e redobrava sua alegria, quando a tinha.’’
STENDHAL. O vermelho e o negro. São Paulo: Cosac Naify, 2015. página 30. (Coleção Prosa do mundo).

Quando lemos um romance, devemos atentar para os seguintes aspectos:

1. Foco narrativo. É fundamental observar quem e como se conta uma história, pois essa escolha determina as impressões que teremos da narrativa. No trecho de O vermelho e o negro, observe como o narrador consegue revelar os pensamentos de Julian, mostrando para o leitor o que se passa em seu íntimo e quais são seus desejos (sair da sua cidade natal é um deles).


Respostas e comentários

Fazendo e aprendendo

Ao propor a leitura de um trecho do romance de ãnrí marrí bêiê, conhecido pelo pseudônimo istêndál, e o desenvolvimento de um texto imaginativo, espera-se que os alunos compreendam mais profundamente os espaços históricos e suas possibilidades narrativas. As ferramentas de análise literária podem ser utilizadas para os processos de outras fórmas narrativas.

Além de representar imaginativamente, espera-se que os alunos articulem os marcos históricos trabalhados no capítulo, como faz o narrador de O vermelho e o negro. Eles poderão apresentar seus trabalhos para a turma e trocar impressões sobre as fórmas como foram articulados os temas e os conteúdos da unidade.

BNCC

A seção proporciona aos alunos a oportunidade de utilizar a imaginação literária para trabalhar criativamente os tópicos estudados. Dessa fórma, desenvolve habilidades do componente curricular língua portuguesa, especificamente as habilidades ê éfe seis nove éle pê quatro seis e ê éfe oito nove éle pê três três, e favorece o desenvolvimento da Competência específica de Ciências Humanas nº 7.

  1. Personagens. Um romance pode ter muitos e, para conhecê-los, devemos atentar para o que o personagem faz, o que ele fala e o que o narrador ou outros personagens falam sobre ele. No trecho “Sonhava deliciosamente que um dia seria apresentado às belas mulheres de Paris; saberia atrair sua atenção com algum ato espetacular”, ficamos sabendo da ambição de Julian e de seu desejo de descobrir um dom para com ele conquistar o que quer.
  2. Tempo e espaço. É importante saber a época de publicação ou o momento retratado no romance, bem como o local onde se passam as ações. No trecho lido, sabemos que Julian não está em uma grande cidade, pois sonha com Paris. Já o aspecto temporal fica evidente na fórma como Napoleão Bonaparte é descrito, como inspiração para o sonhador e ambicioso protagonista: “Fazia muitos anos que Julian não passava nem uma hora da vida sem lembrar que Bonaparte, tenente obscuro e sem fortuna, se tornara senhor do mundo com a espada”.
  3. Pano de fundo histórico. Um romance pode tratar de muitos assuntos e guardar sinais da época em que foi escrito e da sociedade retratada. No trecho de O vermelho e o negro, o contexto histórico é evidenciado pelo fato de o personagem fazer referências à figura de Napoleão Bonaparte – embora já estivesse morto no momento de publicação do romance, esse líder era uma figura que guardava um sentido importante para a sociedade francesa.

Considerando esses procedimentos, responda: Como a leitura de um romance pode nos revelar detalhes de um momento histórico?


Responda em seu caderno.

Aprendendo na prática

Agora é hora de soltar o verbo e a imaginação! Você e seus colegas vão criar uma continuação para o trecho do romance francês O vermelho e o negro que lemos nesta seção. O texto criado deverá apresentar um sonho do personagem juliãn sorrél, no qual ele encontrará uma figura histórica ou estará em um dos contextos que você estudou nos capítulos desta unidade. Pode ser, por exemplo, um encontro de Julian com Napoleão Bonaparte no auge das guerras napoleônicas. Sigam o roteiro.

  1. Escolham um dos assuntos estudados nesta unidade para servir de cenário para sua narrativa.
  2. Vocês deverão considerar as informações já oferecidas pelo trecho, como o foco narrativo (um narrador em terceira pessoa e que conhece o que o personagem pensa e sente) e as características do personagem (um jovem ambicioso que deseja ascender socialmente).
  3. Levantem hipóteses sobre o que poderia acontecer nesse sonho: Onde poderia ocorrer o encontro dos personagens? Sobre o que poderiam conversar? Como esse sonho poderia apresentar informações sobre a época que vocês estudaram nesta unidade? Anotem as ideias em um rascunho e procurem organizar o texto, cuidando para deixar evidentes o início, o clímax e o desfecho da narrativa.
  4. Escrevam o texto e façam com que ele circule entre a turma. Vocês poderão trocar impressões sobre as criações dos colegas e propor uma fórma para divulgá-lo também fóra da escola – pode ser a criação de uma coletânea impressa ou de um blog coletivo reunindo os “Sonhos de juliãn sorrél”.

Respostas e comentários

Aprendendo na prática

Espera-se, com essa atividade, incentivar os alunos a se relacionar de fórma mais lúdica e criativa com os temas estudados na unidade.

O vermelho e o negro é um romance histórico e psicológico publicado por istêndál em 1830. Trata-se de um romance bastante representativo não só da literatura francesa, mas mundial. A escolha recaiu no fato de ser uma obra em que o autor elabora um imaginário político francês imediato – a França alguns anos depois da morte de Napoleão e no momento das revoluções de 1830.

Comente com os alunos como a literatura trabalha com a imaginação e, ao mesmo tempo, fixa hábitos e costumes da época em que o autor viveu e escreveu. Desse modo, um romance nos oferece detalhes sobre a dimensão do cotidiano e sobre o reflexo de fatos históricos na vida de pessoas comuns, suas experiências de mundo e seus sentimentos.

No desenvolvimento da atividade, procure proporcionar uma gama maior de possibilidades temáticas, para que os alunos possam ampliar suas escolhas. Com imaginação e criatividade, trata-se de uma boa oportunidade de trabalhar os assuntos estudados.

Glossário

: feminino de criollo; refere-se a descendentes de espanhóis nascidos na América. Em geral, o criollo era proprietário de grandes extensões de terra ou se dedicava ao comércio.
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: colonos nascidos na Espanha, que ocupavam postos públicos importantes no governo, na Igreja e no exército colonial.
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Zona pecuarista
: região ligada à criação de gado.
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