CAPÍTULO 7  Do Primeiro Reinado às Regências

Fotomontagem. Mulheres de diferentes épocas, etnias e idades. As imagens são de pinturas e fotografias, e estão numeradas.1: Dona Amélia, mulher branca de aproximadamente vinte anos, rosto arredondado e pequeno, lábios finos. Está de roupa preta com os ombros à mostra. Usa um colar de pérolas com um pequeno pingente. Seus cabelos são escuros e cacheados.2: Dona Leopoldina, mulher branca de aproximadamente trinta anos. Tem os cabelos escuros e curtos. Usa uma tiara de brilhantes sobre a cabeça, e um vestido com um laço na frente. Tem o rosto comprido e a boca pequena. Os olhos estão arregalados.3: Anita Garibaldi, mulher branca de aproximadamente 30 anos, rosto comprido, lábios pequenos e olhos escuros. Tem o cabelo amarrado para trás. Usa um lenço amarrado no pescoço.4: Leolinda Daltro, mulher branca de aproximadamente 50 anos. Tem o rosto largo, olhos pequenos e cabelo curto. Veste uma blusa de gola rendada e um casaco por cima.5: Maria Justina do Espírito Santo, mulher negra de aproximadamente 40 anos. Olhos grandes e lábios grossos. Usa uma espécie de turbante sobre a cabeça.6: Soror Joana Angélica, mulher branca de aproximadamente 30 anos. Usa um hábito de freira, com lenço escuro sobre os cabelos, e carrega um crucifixo pendurado no pescoço. Tem nariz e lábios pequenos.7: Nísia Floresta Brasileira Augusta, mulher branca de aproximadamente 50 anos. Tem cabelos brancos compridos. O rosto é largo e comprido, os olhos são pequenos e os lábios finos. Usa um casaco vermelho com detalhes dourados, e um lenço vermelho cobrindo a cabeça.8: Ana Néri, mulher branca de aproximadamente 40 anos. Tem olhos pequenos e lábios finos. Os cabelos são escuros e longos. Usa uma roupa larga escura.9: Tia Ciata, mulher negra de aproximadamente 20 anos. Tem lábios grossos, nariz largo, olhos redondos e cabelos curtos. Usa um lenço listrado sobre um dos ombros.
Mulheres que se destacaram na história do Brasil no século dezenove. Da esquerda para a direita: Dona Amélia (1), Dona Leopoldina (2), Anita Garibaldi (3), Leolinda Daltro (4), Maria Justina do Espírito Santo (5), Soror Joana Angélica (6), Nísia Floresta Brasileira Augusta (7), Ana Néri (8), Tia Ciata (9).

Você já reparou que na maioria dos acontecimentos políticos da história do Brasil estudados até agora parece que as mulheres se envolveram muito menos que os homens? Esse fato tem algumas explicações.

A sociedade imperial brasileira era patriarcal e considerava que as mulheres deviam ser tuteladas pelos homens e se dedicar apenas às atividades domésticas e aos cuidados com os filhos. Enquanto isso, a política e as atividades públicas eram executadas pelos homens.

Outra explicação é que a maioria dos estudos historiográficos eram voltados para o estudo dos grandes acontecimentos e personagens masculinos. Com isso, a participação das mulheres na história do Brasil e também de outros países foi esquecida.

Esse cenário, porém, vem mudando e tem sido feito o resgate da importante participação das mulheres como sujeitos históricos. No Primeiro Reinado, por exemplo, destacou-se Dionísia Gonçalves Pinto, que usava o pseudônimo Nísia Floresta Brasileira Augusta. Nísia fundou colégios para meninas e escreveu diversos textos e livros sobre a condição de vida das mulheres de sua época. Defendeu o direito delas à educação e ao trabalho e atacou o preconceito de gênero, afirmando a capacidade e a inteligência das mulheres.

Outra importante personagem desse período foi Dona Leopoldina, primeira esposa de Dom Pedro primeiro. Ela falava várias línguas, apreciava a literatura e estudou política internacional. Dona Leopoldina assumia a chefia do governo quando Dom Pedro primeiro viajava, tornando-se a primeira mulher a ocupar esse posto em nosso país.

  • Qual deve ter sido a repercussão das ideias defendidas por Nísia naquele período? Você acha que a sociedade as aceitou de imediato? Por quê?
  • Por que é importante estudar a história das mulheres no Brasil e também no mundo todo?
  • Você conhece alguma outra personagem feminina que se destacou na área da política ou da ciência no Brasil? A importância histórica dela é reconhecida?
  • Em sua opinião, as mulheres ainda sofrem preconceito como na época de Nísia e de Dona Leopoldina? Por quê?

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Este capítulo contempla parcialmente as habilidades ê éfe zero oito agá ih um cinco e ê éfe zero oito agá ih um seis (ao investigar os grupos políticos e seus interesses durante o Primeiro Reinado e as Regências e ao abordar os movimentos contestatórios ao poder central), as habilidades ê éfe zero oito agá ih um nove (por analisar o escravismo e a exclusão social dos africanos e seus descendentes, a participação desses grupos em revoltas e sua importância na formação da cultura brasileira), ê éfe zero oito agá ih um sete, ê éfe zero oito agá ih dois um e ê éfe zero oito agá ih dois dois (ao tratar das transformações territoriais, das políticas oficiais com relação ao indígena e do papel da cultura na produção das identidades no Brasil do século dezenove) e ê éfe zero oito agá ih dois sete (ao identificar as tensões e os significados dos discursos civilizatórios relacionados aos indígenas durante o Primeiro Reinado). O trabalho para o desenvolvimento dessas habilidades se completa ao longo de outros capítulos, conforme indicações na tabela de habilidades do ano.

Objetivos do capítulo

  • Contextualizar o processo de formação do Estado brasileiro durante o Primeiro Reinado e as Regências.
  • Caracterizar os grupos políticos que lideraram a Assembleia Constituinte de 1823 e identificar o caráter autoritário da Constituição de 1824.
  • Problematizar o conceito de cidadania e a condição das mulheres, dos negros e dos indígenas no Primeiro Reinado e nas Regências.
  • Analisar as políticas indigenistas do Primeiro Reinado.
  • Caracterizar o período regencial.
  • Relacionar as revoltas regenciais com os embates políticos, econômicos e sociais do período.
  • Reconhecer a participação das camadas populares nos movimentos que criticavam o governo imperial e reivindicavam melhores condições de vida.
  • Analisar os interesses dos grupos políticos durante as Regências e relacioná-los ao golpe da maioridade.
  • Reconhecer algumas manifestações da cultura afro-brasileira na primeira metade do século dezenove.

Abertura do capítulo

A abertura propõe uma discussão sobre a atuação das mulheres na história e na luta feminina por direitos. Espera-se que os alunos reconheçam que, no período imperial, as ideias de Nísia não foram aceitas imediatamente, em razão do patriarcalismo. Atualmente, o estudo e a valorização da trajetória das mulheres favorecem a inclusão, a igualdade e a justiça social. Como exemplo de mulheres que se destacaram na política, os alunos podem citar Dilma russéf, primeira mulher a presidir o país; Ellen Grece, primeira mulher a integrar o Supremo Tribunal Federal; Mara Gabrilli, senadora atuante na defesa dos direitos das pessoas com deficiência, entre outras. Na ciência, podem ser citadas a biomédica Jaqueline Góes de Jesus, responsável pelo sequenciamento genético do coronavírus; a geneticista maiâna zátis, pioneira nos estudos com células-tronco no país etcétera É importante que os alunos reconheçam que, apesar das muitas conquistas femininas ao longo da história, as mulheres ainda enfrentam obstáculos para ter seus direitos respeitados na sociedade atual.

A organização do Estado brasileiro

A atual organização do Estado brasileiro foi definida pela Constituição Federal, promulgada em 5 de outubro de 1988. De acordo com esse documento, o Brasil é uma república federativa presidencialista formada por estados, municípios e um Distrito Federal.

O Estado brasileiro está organizado em três poderes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Em nível federal, o Poder Executivo é exercido pelo presidente da república, que é, ao mesmo tempo, chefe de governo e chefe de Estado. O Poder Legislativo é representado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, que formam o Congresso Nacional. O Poder Judiciário é responsabilidade dos tribunais e outros órgãos da justiça, como o Supremo Tribunal Federal (ésse tê éfe).

O Estado brasileiro, porém, nem sempre teve essa organização. Além disso, comparado à França e ao Reino Unido, por exemplo, o Brasil é um Estado nacional criado muito recentemente.

Até o início do século dezenove, não existia um Estado brasileiro, mas sim um território português em terras americanas, regido pelas instituições de Portugal. Com a vinda da família real para o Brasil, em 1808, o aparato burocrático e administrativo do reino português foi transferido para o Rio de Janeiro para que a monarquia pudesse continuar administrando daqui seu império.

Assim, por ocasião de sua emancipação, em 1822, o Brasil já contava com uma máquina pública em funcionamento e, diferentemente das ex-colônias da Espanha, que precisaram implantar toda a estrutura burocrática e administrativa dos novos Estados independentes desde a fundação, o país pôde orientar seus esforços no sentido de adaptar as instituições à sua nova condição de nação soberana.

Dessa fórma, em 1823 ocorreram eleições para a Assembleia Constituinte, que deveria elaborar a primeira Constituição do Brasil. Venceram as eleições, por meio do voto censitário e indireto, 88 constituintes, entre eles padres, advogados, proprietários de terras, militares e comerciantes.

Gravura. No centro, a alegoria de uma mulher branca sentada em um trono. Usa uma coroa arredondada e dourada sobre a cabeça. Veste uma longa roupa branca e verde. Tem o cabelo escuro e comprido e segura, em uma das mãos, um papel comprido, e na outra, um escudo e um cetro. Em cima dela, um brasão com a letra P. À sua esquerda, uma família de pessoas negras, com destaque para uma mulher com um machado à mão. À sua direita, pessoas brancas segurando armas de fogo e espadas. Entre elas, um homem idoso segurando um sabre com uma das mãos e apoiando-se em uma criança com a outra. No canto direito, um militar manuseando um canhão. No fundo, pessoas indígenas segurando lanças. Entre elas, uma mulher indígena e seu filho. Próximo aos degraus nos pés do trono, uma mulher branca ajoelhada com dois bebês. Todos parecem fazer reverência à pessoa no trono. No meio da escada, uma cornucópia com muitas frutas.
Pano de boca executado para representação extraordinária no teatro da côrte, por ocasião da coroação do imperador Pedro primeiro, gravura de Jãn Batiste Dêbret, 1839. Biblioteca Pública de Nova iórque, Estados Unidos.

Responda em seu caderno.

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  1. Que camadas sociais foram representadas nessa gravura?
  2. Com base na ação dos personagens, responda: Qual teria sido a intenção do artista Jãn Batiste Dêbret ao representar a coroação de Pedro primeiro dessa maneira?

Respostas e comentários

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  1. À esquerda, foram representados negros e mestiços, provavelmente escravizados, e, à direita, homens brancos livres e um militar. Ao fundo, atrás da mulher sentada no trono, podemos identificar indígenas.
  2. Todas as pessoas representadas por Jãn Batiste Dêbret saúdam a figura sentada no trono, que personifica a monarquia. Ao fundo, na parte superior da imagem, aparece a inicial de Pedro primeiro, o imperador do Brasil. Na composição, pode-se identificar, entre outros, uma família negra, uma mulher indígena com seu filho, um oficial da marinha arvorando o estandarte da independência e um senhor, com sabre na mão, apoiado em uma criança. Todas essas figuras demonstram reverência e subordinação e parecem pedir clemência à figura que personifica a monarquia do Brasil.

Ampliando: primeira Assembleia Constituinte, 1823

“A Assembleia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil iniciou seus trabalhos em 3 de maio de 1823. Os deputados eleitos tomaram seus lugares à medida que as eleições iam sendo realizadas nas províncias, de acordo com as instruções assinadas por Andrada e Silva em 19 de junho de 1822. O comparecimento às sessões ocorreu aos poucos. Nas primeiras, a média era de 50 deputados; atingiu 70 nos períodos de maior participação, entre setembro e novembro de 1823. Deve-se levar em consideração que as províncias de Grão-Pará, Maranhão, Bahia, Pernambuco e Piauí não haviam aderido ao governo de Dom Pedro primeiro, sediado no Rio de Janeiro, à época da abertura da assembleia.

Quase todos os deputados eram nascidos no Brasil. Havia padres, matemáticos, médicos, funcionários régios, militares, bacharéis em direito, juízes e desembargadores. De maneira geral, estava representada na Assembleia parcela considerável da elite do Império do Brasil.”

ALVES, Andréia Firmino. O Parlamento brasileiro: 1823-1850, debates sobre o tráfico de escravos e a escravidão. 2008. Tese (Doutorado em História). Universidade de Brasília, Brasília, 2008. página 6.

Os interesses políticos em jogo

As discussões entre os deputados constituintes foram marcadas por divergências políticas entre dois principais grupos: o dos partidários e o dos adversários do imperador. Os partidários de Dom Pedro primeiro defendiam a implantação de uma monarquia forte, com o poder centralizado no soberano. Já os deputados adversários propunham a limitação da autoridade do imperador pelo Parlamento, proposta que recebeu o apoio de poucos republicanos.

Em setembro de 1823, ficou pronto o projeto da constituição, que tinha conteúdo liberal e impedia o imperador de dissolver a Câmara dos Deputados. Descontente com a redução de seus poderes e preocupado com as pressões liberais que vinham das ruas e dos jornais, em novembro do mesmo ano Dom Pedro primeiro ordenou o cerco da assembleia pela tropa imperial e decretou a dissolução da Constituinte, o que gerou uma disputa entre ele e a elite que o apoiou no processo de independência. Esse acontecimento ficou conhecido como Noite da Agonia.

A Constituição de 1824

Dissolvida a Constituinte, Dom Pedro primeiro reuniu um Conselho de Estado para redigir a primeira Constituição do Brasil, outorgadaglossário em março de 1824. A primeira Carta Magna brasileira conciliava os interesses das elites com o autoritarismo do imperador, como é possível perceber por algumas de suas deliberações, especificadas a seguir.

  • Sistema e fórma de governo. Estabeleceu a monarquia como fórma de governo e criou quatro poderes: Executivo, Legislativo, Judicial e Moderador. Por meio do Poder Moderador, o imperador podia nomear senadores e dissolver a Câmara dos Deputados.
  • Eleições. Determinou a eleição dos deputados e senadores pelo voto indireto, censitário e permitido apenas aos homens livres maiores de 25 anos de idade.
  • Educação e religião. Estabeleceu o ensino primário gratuito a todos os cidadãos e definiu o catolicismo como religião oficial do Estado.
  • Direitos e garantias individuais. Estabeleceu a tolerância religiosa, a liberdade de expressão, a proteção à propriedade e a igualdade dos cidadãos perante a lei.

A constituição ainda baniu a tortura e as penas mais cruéis, bem como dividiu o território em províncias, administradas por presidentes nomeados pelo imperador sem tempo fixo de mandato, podendo ser afastados ou pedir afastamento a qualquer momento.

Fotografia. Duas páginas de um manuscrito. São amareladas e enfeitadas nas bordas por desenhos florais. No centro, texto escrito com letra de mão.
Páginas do manuscrito da primeira Constituição do Brasil, outorgada em 25 de março de 1824. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.

Respostas e comentários

Neste capítulo, ao se referir aos poderes da monarquia, foi mantido o termo Judicial, de acordo com o texto da Constituição de 1824.

Bê êne cê cê

Ao identificar as disputas políticas durante o Primeiro Reinado, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero oito agá ih um cinco.

Ampliando: vários níveis de cidadania

“A Constituição Imperial de 1824, revogando finalmente o dispositivo colonial da ‘mancha de sangue’, reconheceu os direitos civis de todos os cidadãos brasileiros, diferenciando-os, apenas, do ponto de vista dos direitos políticos, em função de suas posses. Para tanto, adotou o voto censitário em três diferentes gradações: o cidadão passivo (sem renda suficiente para ter direito a voto), o cidadão ativo votante (com renda suficiente para escolher, através do voto, o colégio de eleitores), e o cidadão ativo eleitor e elegível. Neste terceiro nível, uma importante distinção não propriamente censitária se fazia, pois, além das exigências de renda, impunha-se ao eleitor que tivesse nascido ‘ingênuo’, isto é, não tivesse nascido escravo. Em outras palavras, se os descendentes dos escravos libertos poderiam (se renda tivessem) exercer plenamente todos os direitos políticos da jovem monarquia, os escravos nascidos no Brasil que fossem alforriados não entrariam em pleno gozo dos direitos reconhecidos aos cidadãos e súditos do Império do Brasil.”

MATTOS, Hebe Maria. Escravidão e cidadania no Brasil monárquico. Rio de Janeiro: Jorge zarrár, 1999. página 20-21. (Coleção Descobrindo o Brasil).

Negros, mulheres e indígenas na constituição

O Império Brasileiro foi formado com base em uma constituição elaborada para estabelecer direitos e critérios de cidadania. Mas, afinal, o que é ser cidadão? Ser cidadão é ter direito à liberdade, a condições dignas de vida, à igualdade perante a lei. É, também, poder participar da vida política do país, escolher os governantes e avaliar criticamente a atuação deles. Significa, ainda, construir relações sociais com base no respeito, na cooperação e na ética.

Segundo o documento Memória estatística do Império do Brasil, porém, em 1823, dos ..3960000 habitantes do território, ..1148000 eram escravizados, os quais não eram considerados cidadãos e, portanto, não tinham direitos. Dos negros libertos, pouquíssimos tinham a renda mínima exigida pela lei (100 mil-réis anuais) para votar nas eleições primárias, em que era definido o colégio que elegeria os deputados. Além disso, eles não podiam ser candidatos a nenhum cargo político. Dessa fórma, mesmo constituindo grande parcela da população brasileira no século dezenove, os negros foram praticamente excluídos da vida política do país.

Se somarmos aos escravizados e negros libertos a população de homens livres pobres, mulheres e indígenas, perceberemos que a primeira constituição brasileira negou o direito de cidadania plena à maior parte da população do país.

Os homens livres pobres não tinham a renda mínima para participar das eleições. Quanto às mulheres, a constituição era omissa, deixando prevalecer o costume. Assim, apesar de não haver um impedimento legal ao voto feminino, as mulheres eram consideradas intelectualmente inferiores aos homens e, por isso, estavam impedidas de votar e de se candidatar a cargos políticos. Já os indígenas não eram considerados cidadãos nem brasileiros, tanto que não foram nem mencionados na Constituição de 1824. Assim, estavam excluídos da sociedade imperial do Brasil.

A Constituição de 1824, portanto, apresentava um caráter contraditório: ela se alinhava aos princípios liberais que se difundiam na Europa, garantindo certas liberdades, mas mantinha a escravidão e a exclusão política e social da maioria da população.

Gravura. Pessoas negras descalças em rua com calçamento de pedra. Em duplas, elas carregam grandes peças sobre a cabeça. No chão, cordas e outras peças. Ao fundo, construções de dois andares com várias janelas.
Transporte de carruagem desmontada e vendedores de café torrado, gravura de Jãn Batiste Dêbret, 1832. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. O texto constitucional não fazia referência expressa à escravidão, mas mencionava os libertos, o que significa que o trabalho escravo era admitido pela lei.

Refletindo sobre

No Primeiro Reinado, a maior parte da população foi excluída do direito ao voto em razão da predominância das elites no poder. Manter as camadas populares afastadas da política era uma fórma de preservar os privilégios daquele grupo. Em sua opinião, por que o direito ao voto é importante? Por que as pessoas votam? Quando você completar 16 anos, terá direito ao voto de modo facultativo. Você pretende exercer esse direito?


Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar a manutenção da escravidão e da exclusão social dos africanos e seus descendentes no Brasil da primeira metade do século dezenove, o conteúdo favorece o trabalho com a habilidade ê éfe zero oito agá ih um nove. Ao analisar as políticas indigenistas durante o Primeiro Reinado, o conteúdo favorece o desenvolvimento parcial da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois um.

Refletindo sobre

Espera-se que os alunos compreendam que o direito ao voto é importante para a promoção e o exercício da cidadania, pois garante que as pessoas participem direta e indiretamente dos rumos políticos de um país e possibilita a construção de uma nação mais justa, inclusiva e democrática.

Bê êne cê cê

Ao propor uma reflexão sobre o direito de voto, a atividade se relaciona com o tema contemporâneo transversal Vida familiar e social e contribui para o desenvolvimento das Competências gerais da Educação Básica nº 1, nº 4, nº 7 e nº 10, bem como das Competências específicas de Ciências Humanas nº 2 e nº 6.

Leitura complementar

Indígenas no Primeiro Reinado

Como os indígenas foram tratados nas políticas do Primeiro Reinado? É o que se discute no texto a seguir.

[No] documento ‘Apontamentos para a civilização dos índios bravos do Império do Brasil’ [de José Bonifácio] reticências, três pontos merecem ser destacados reticências. Em primeiro lugar, a convicção de que os índios estavam no ‘estado selvático’. Mais ainda reticências, os homens eram dotados do ‘lume natural da razão’ e capazes, por isso mesmo, de civilizar-se. reticências Em segundo, a necessidade de criação de novos aldeamentos ou de reativação de antigos, onde os índios retirados dos sertões e das florestas pudessem ser reunidos, fixados, controlados e ressocializados (‘civilizados’). Em terceiro, o entendimento que a melhor fórma de civilizar os indígenas era por meio do método ‘brando’, que incluía um leque reticências de ações, como a educação, o trabalho, a agricultura, o comércio, o convívio com os brancos, os casamentos mistos reticências.

reticências apesar da simpatia de Bonifácio pelos índios, ele era um homem do seu tempo e construiu um ponto de vista bastante etnocêntrico sobre eles. Para Bonifácio, a população indígena era, na melhor das hipóteses, uma espécie de página em branco, sem cultura, Estado, religião e vida social realmente apreciável, que poderia ser facilmente moldada segundo o padrão cultural e comportamental europeu. reticências Sua proposta previa a redução dos índios bravos ao modo de vida sedentário dos aldeamentos. Isso significava, na prática, um intenso processo de transformação na vida tradicional das populações indígenas, como o trabalho na lavoura, o trabalho para o Estado, a catequese, a participação nas redes de comércio e a aprendizagem de ofícios e das primeiras letras. reticências


Litografia. Homens brancos a cavalo dentro de uma floresta densa. Eles usam chapéu, casaco, calças e botas até a altura dos joelhos, e carregam armas de fogo. Próximos a eles, um grupo de 3 homens indígenas portando lanças. Atrás das árvores, outros indígenas observam.
Encontro de índios com viajantes europeus, litografia de iôrram mórritis ruguendás, 1835. Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro. A questão indígena não foi incluída na Constituição de 1824. Isso significava que os indígenas não foram considerados nem cidadãos, nem brasileiros.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao propiciar a identificação das tensões e dos significados dos discursos civilizatórios relacionados aos indígenas na Assembleia Constituinte de 1823, a seção contribui para o desenvolvimento parcial da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois sete.

reticências Bonifácio reticências também insiste na miscigenação e na ‘nacionalização’ dos índios. Propõe uma espécie de segregação parcial e temporária dos índios nos aldeamentos, frisando ser a meta o fim das diferenças étnicas, sociais e políticas entre os ‘índios’ e a ‘nação’. reticências

reticências

Caberia ao Estado amparar os índios até a sua completa integração social e cultural. Além disso, a proposta de Bonifácio era bastante clara sobre o direito de os índios ascenderem na escala social à proporção que fossem educados e civilizados, podendo ocupar cargos nas Câmeras de suas respectivas vilas, cursar o ginásio como pensionista do Estado e ingressar nos colégios eclesiásticos reticências.

As ideias de Bonifácio sobre os índios, seus direitos e deveres, embora não fossem novas ou revolucionárias, eram avançadas o suficiente para desagradar a elite agrária, ansiosa por ampliar os seus negócios e lucros mediante a apropriação territorial sem limites e restrições. Em outras palavras, não se tinha grande simpatia pelo indigenato, isto é, pelos direitos dos índios, especialmente o direito territorial assegurado pelas leis reticências.

reticências Na Assembleia Constituinte, reticências a reflexão sobre a ‘questão indígena’ limitou-se ao debate se os índios poderiam ser considerados membros da sociedade brasileira e, por conseguinte, ‘cidadãos brasileiros’, ou se, ao contrário, eram apenas habitantes do Brasil. Para o deputado Montezuma, ser ‘brasileiro é ser membro da sociedade brasílica: portanto, todo brasileiro é cidadão brasileiro: convém sim dar a uns mais direitos, e mais deveres do que a outros; e eis aqui cidadãos ativos, e passivos’. reticências Montezuma, como outros homens de seu tempo, fazia uma clara distinção entre índios ‘bravos’ e índios ‘domesticados’, dando a entender que apenas os índios ‘bravos’ ou ‘selvagens’ não faziam parte da ‘sociedade’ e nem eram ‘súditos’ do Estado. Por isso, a inclusão dos índios (bravos) no capítulo da constituição que definiria quem seria considerado cidadão parecia-lhe não apenas algo muito novo, mas também absurdo. reticências

Os índios bárbaros eram definidos pela coroa, aliás, como súditos e vassalos especiais, pois, tal como os órfãos e os miseráveis, tinham limitações socialmente reconhecidas e desfrutavam, por isso mesmo, de certos direitos privativos. No caso dos índios, o tratamento diferenciado se justificava precisamente pelo seu suposto grau zero ou, na melhor das hipóteses, inferior de civilização. reticências

MOREIRA, Vânia Maria Losada. De índio a guarda nacional: cidadania e direitos indígenas no Império (Vila de Itaguaí, 1822-1836). Topoi, volume 11, número 21, página 128-131, julho a dezembro 2010. Disponível em: https://oeds.link/lJDthA. Acesso em: 4 abril 2022.


Responda em seu caderno.

Questões

  1. Quais foram as propostas políticas em relação aos indígenas defendidas por José Bonifácio? Qual era o objetivo dele com tais propostas?
  2. Por que as ideias de Bonifácio revelam uma visão etnocêntrica sobre os indígenas?
  3. Qual foi a principal questão sobre os indígenas discutida na Assembleia Constituinte de 1823?
  4. De que modo a posição de Montezuma dialoga com as ideias de Bonifácio e, ao mesmo tempo, as contrapõe?
  5. Por que as questões indígenas foram excluídas da Constituição de 1824?
  6. Com base no que você estudou sobre as condições de vida e os direitos dos indígenas, responda: Houve avanços na fórma como os governos os tratavam? Por quê?

Respostas e comentários

Leitura complementar

  1. Bonifácio acreditava que os indígenas eram selvagens, mas dotados de capacidade para se civilizar. A integração total dos nativos à sociedade imperial e, portanto, o fim das diferenças étnicas, sociais e políticas entre indígenas e não indígenas (com exceção dos escravizados) seriam os objetivos principais do projeto civilizacional de Bonifácio. Para isso, ele propunha o aldeamento dos indígenas. Nesses locais, inicialmente segregados, os nativos seriam ensinados a viver nos moldes da sociedade branca, cristã e europeia por meio da catequese, da educação e do trabalho na agricultura e no comércio. Depois, seriam ressocializados por meio do convívio com os brancos, o que possibilitaria, assim, a miscigenação pelos casamentos mistos.
  2. Porque Bonifácio via os indígenas como seres “incivilizados”, que não tinham cultura, Estado, religião nem vida social adequada e, por isso, deviam ser “civilizados” segundo os costumes europeus.
  3. A questão discutida foi se os indígenas eram cidadãos brasileiros ou apenas habitantes do Brasil.
  4. Montezuma colocava em questão a dualidade entre os indígenas “civilizados” e os indígenas “bravos”, assim como Bonifácio. Porém, Montezuma afirmava que apenas os primeiros poderiam ser considerados cidadãos brasileiros.
  5. Porque os direitos indígenas contrariavam os interesses da elite agrária, que pretendia enriquecer por meio da exploração do território brasileiro, incluindo as terras em que os nativos viviam.
  6. Espera-se que os alunos compreendam que, apesar de a escravidão indígena ser condenada, o Estado português e, depois, o Estado brasileiro, sempre colocaram o indígena em posição de inferioridade e de tutela, tomando posse das terras que eles ocupavam e propondo políticas de assimilação, que, na prática, desrespeitavam seus modos de vida. Desde as missões, passando pelo Diretório de Pombal, até os aldeamentos propostos por Bonifácio, além de não ocorrer mudanças significativas no trato com os indígenas, houve políticas oficiais de extermínio dos nativos (como a guerra contra os Botocudos, permitida por Dom João sexto).

A Confederação do Equador

A imposição da Constituição de 1824 gerou protestos no Nordeste, principalmente em Pernambuco, província de muita importância econômica. O médico e jornalista Cipriano Barata, por exemplo, divulgava duras críticas ao autoritarismo de Dom Pedro primeiro em seu jornal Sentinela da Liberdade. Mesmo estando preso, suas ideias liberais e republicanas foram bastante difundidas na província.

As divergências políticas não foram as únicas razões dos protestos. A queda nos preços do açúcar e do algodão no mercado internacional, o encarecimento dos escravizados e dos alimentos e os altos impostos traziam dificuldades econômicas para as elites e para as camadas populares.

A imposição por parte do imperador de um presidente de província para Pernambuco foi o estopim da revolta. No dia 2 de julho de 1824, os rebeldes, liderados por Frei Caneca e Manoel de Carvalho Paes de Andrade, entre outros, proclamaram a Confederação do Equador. O objetivo era fundar uma república liberal reunindo Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas e Piauí, além de Pernambuco. No entanto, apenas algumas áreas do Ceará, do Rio Grande do Norte e da Paraíba aderiram ao movimento.

A reação do governo imperial foi rápida e violenta. Em setembro de 1824, as fôrças imperiais entraram no Recife e reprimiram com violência os rebeldes, condenando nove deles à morte. Frei Caneca foi morto a tiros depois da recusa do carrasco a executá-lo na forca.

Fotografia. No centro, homem descalço vestindo uma batina preta. Ele está com um dos braços levantados, apontado o dedo indicador para cima. Nas laterais, pessoas sentadas em bancos de madeira. Atrás, homem de roupa branca e chapéu, está com os braços para trás do corpo. Atrás dele, um coral de pessoas vestindo túnicas largas e escuras. Ao fundo, parede de um altar, com grandes castiçais e imagens de santos.
Cena do espetáculo O suplício de Frei Caneca, encenado na Igreja Santa Tereza dávila da Ordem Terceira do Carmo, em Recife, Pernambuco. Foto de 2017.

A questão platina

Dom Pedro primeiro enfrentou outro movimento separatista no sul do país. Como você estudou no capítulo 5, a Província Cisplatina foi anexada ao Brasil em 1821, contribuindo para impulsionar as aspirações emancipacionistas da região.

Em 1825, os rebeldes declararam a independência da Província Cisplatina e sua incorporação às Províncias Argentinas, levando o Brasil a entrar em guerra contra o governo de Buenos Aires. O conflitou provocou desgaste político, perdas humanas e prejuízos econômicos para ambos os lados. A Guerra da Cisplatina, como ficou conhecida, terminou em 1828 com o reconhecimento da independência da Província Cisplatina, que adotou o nome de República Oriental do Uruguai.

Saiba mais

Conflitos fronteiriços

Na primeira metade do século dezenove, a área que compreendia o oeste das províncias de Santa Catarina e Paraná tornou-se objeto de disputa entre a Argentina e o Brasil. Os dois países passaram a reivindicar o território com base em interpretações diversas do Tratado de Madri, de 1750. No fim do século dezenove, a questão fronteiriça nessa região deu origem a um litígio entre o Brasil e a Argentina, conhecido como Questão de Palmas. O conflito só foi resolvido em 1895, mediante a arbitragem dos Estados Unidos a favor do Brasil.


Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar da Confederação do Equador, o conteúdo desta página contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero oito agá ih um seis. Essa habilidade também será contemplada nas páginas seguintes, quando serão retomadas a Confederação do Equador e a Guerra da Cisplatina e apresentadas a Noite das Garrafadas, as Rusgas Cuiabanas, a Cabanagem, a Revolta dos Malês e a Revolta dos Farrapos. Ao analisar a Guerra da Cisplatina e os conflitos fronteiriços entre Brasil e Argentina, o conteúdo desta página contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero oito agá ih um sete.

Ampliando: o contexto da Confederação do Equador

“O império recém-independente foi dividido em 18 províncias, cada uma substituindo uma antiga capitania e cada uma governada por um presidente designado pelo imperador. A intenção da elite era construir uma estrutura altamente centralizada. A reação no nível provincial a esse projeto centralizado foi fortemente negativa. A nova estrutura imperial representava uma administração bem mais rígida do que a que os proprietários de terra haviam experimentado durante a era colonial. Algumas regiões, como o Pará e o Maranhão, no Norte, estavam habituadas a se comunicar mais frequentemente com Lisboa do que com a Bahia ou com o Rio, e agora nutriam esperanças de romper seus laços continentais, como ocorrera nos vice-reinos e capitanias da América espanhola. reticências

Revoltas ocorreram não apenas contra o governo do Rio mas também contra o próprio princípio monárquico. reticências

isquídimór, tômas. Uma história do Brasil. quarta edição São Paulo: Paz e Terra, 1998. página 64.

Crise política e abdicação

A Confederação do Equador e a Guerra da Cisplatina geraram uma crise política, que foi agravada pelas dificuldades da economia brasileira. O açúcar, o algodão, o cacau e o tabaco, principais artigos exportados pelo país, sofriam a concorrência internacional. O Banco do Brasil também enfrentava uma situação difícil desde que Dom João sexto voltou para a Europa levando o ouro que havia retirado dos cofres públicos. Dom Pedro primeiro, então, recorreu à emissão de moedas de cobre, o que facilitou a falsificação. A grande oferta de moedas provocou a desvalorização do dinheiro e o aumento do custo de vida.

Além disso, em 1826, Dom João sexto faleceu, o que gerou uma crise sucessória em Portugal, já que Dom Pedro primeiro reinava no Brasil. Para solucionar a situação, o imperador abdicou do trono de Portugal em favor de sua filha, Maria da Glória. Como ela ainda era menor de idade, Dom Miguel, irmão de Dom Pedro, governaria até que Maria atingisse a maioridade. Contudo, Dom Miguel usurpou o trono e se autoproclamou rei, dando início a uma guerra civil, que gerou mais gastos militares para o Brasil.

A impopularidade de Dom Pedro primeiro também se manifestava nos jornais, que não poupavam críticas ao imperador. Ele começou a ser criticado por se dedicar mais aos acontecimentos em Portugal do que à resolução dos problemas políticos e econômicos do Brasil. Para piorar, em 1830, um de seus principais críticos, o jornalista Líbero Badaró, foi assassinado em São Paulo, e Dom Pedro primeiro foi acusado de ser o mandante do crime.

Protestos contra o imperador se espalharam por várias cidades do Brasil. As manifestações ficaram ainda mais acirradas em março de 1831, no Rio de Janeiro, quando uma parcela exaltada da oposição atacou as residências dos portugueses, chamados “pés de chumbo”, que responderam jogando garrafas. O episódio ficou conhecido como A Noite das Garrafadas.

No dia 7 de abril de 1831, sem apoio popular e abandonado pelo próprio exército, Dom Pedro primeiro abdicou do trono em favor de seu filho, Pedro de Alcântara, na época com 5 anos de idade, e voltou para Portugal.

Gravura. À esquerda, homem de rosto largo e cartola apoia com uma das mãos as costas de outro homem de tamanho diminuto, uniforme militar e botas compridas. Ele tem pouco cabelo e está com a testa franzida e os lábios cerrados. À direita, um homem alto, de cabelo grande, vestindo um saiote vermelho, apoia com as mãos as costas de outro homem, também de tamanho diminuto e uniforme militar. Tem o cabelo claro e comprido. Está com a testa franzida e uma das mãos segurando a coroa em sua cabeça.
Sátira da crise de sucessão em Portugal, de Onorrê Domiê, 1833. Biblioteca da Universidade brândêis, Uáltãm, Estados Unidos. Na imagem foram representados Dom Pedro primeiro (à esquerda) e Dom Miguel (à direita) brigando pela coroa de Portugal.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Responda às questões sobre a Constituição de 1824.
    1. Por que ela é classificada como uma constituição outorgada?
    2. Por que, em relação ao voto, a Carta de 1824 pode ser considerada antidemocrática?
    3. Que organismo instituído nessa constituição garantia amplos poderes ao imperador? Quais eram esses poderes?
  2. Explique o que foi a Confederação do Equador, apontando local, data, motivos e objetivos, assim como seu desfecho.
  3. Que fatores contribuíram para Dom Pedro primeiro abdicar do trono?

Respostas e comentários

Recapitulando

    1. A Constituição de 1824 é classificada como outorgada porque não foi elaborada nem aprovada por uma Assembleia Constituinte. Ela foi preparada por um grupo de políticos e juristas ligados a Dom Pedro primeiro e imposta ao Brasil pelo imperador.
    2. A Constituição de 1824 estabeleceu o voto censitário para os homens livres, maiores de 25 anos e que tivessem uma renda mínima de 100 mil-réis anuais. Assim, ela excluiu os escravizados e os homens livres pobres. Além disso, não fez menção às mulheres nem aos indígenas, o que significava, pelo costume, que eles estavam impedidos de votar. Dessa maneira, a Constituição de 1824 excluiu a maior parte da população do direito à cidadania.
    3. O Poder Moderador. Por meio dele, o imperador podia nomear e demitir ministros de Estado, nomear os senadores, convocar e dissolver a Câmara dos Deputados e sancionar os decretos da Assembleia Geral.
  1. A Confederação do Equador foi um movimento iniciado em Pernambuco, em 2 de julho de 1824, como reação às medidas autoritárias de Dom Pedro primeiro e aos problemas econômicos decorrentes da queda do preço do açúcar e do algodão, do aumento do preço dos escravizados e dos alimentos, assim como dos altos impostos. Os participantes do movimento tinham o objetivo de fundar uma república liberal que reunisse as províncias de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas e Piauí, mas foram violentamente contidos pelas tropas de Dom Pedro primeiro. Nove líderes foram condenados à morte.
  2. O descontentamento com o imperador vinha desde a dissolução da Assembleia Constituinte, em 1823, e a imposição da Constituição, em 1824. A isso se somaram o desgaste com a repressão violenta à Confederação do Equador, os custos com a Guerra da Cisplatina, a crise sucessória em Portugal e a crise financeira que abalou o país nos anos 1820. Os episódios finais da crescente impopularidade do imperador foram o assassinato do jornalista Líbero Badaró, atribuído a Dom Pedro primeiro, e a Noite das Garrafadas, em março de 1831. Em razão desses acontecimentos, e sentindo-se pressionado, em 7 de abril do mesmo ano, Dom Pedro primeiro abdicou do trono em favor de seu filho, Pedro de Alcântara, que na época tinha 5 anos de idade.

História em construção

Imprensa: formadora de opinião

No fim do Primeiro Reinado, a maior parte da imprensa tinha tendência liberal e procurava transmitir à população uma imagem negativa de Dom Pedro primeiro. Entre os jornais que atacavam o imperador destacava-se O Tribuno do Povo. Leia, a seguir, um trecho de um artigo publicado nesse jornal em 1831.

Ninguém pode duvidar do dano que causam essas monarquias hereditárias, opostas à razão, e ao bem-estar dos estados. Elas oprimem a nação, que se vê diante de uma série de homens incapazes de governar, reticências que reticências só fazem a retrogradaçãoglossário dos povos no caminho da civilização e da liberdade. Com efeito, aprovar as monarquias hereditárias é supor que os príncipes têm superioridade mental reticências, mas que certamente a maioria deles não possui. reticências Quantas vezes não temos nós visto diversidade de gênios nas famílias dos príncipes? Na mesma família de Dom Pedro não vemos que Dom João sexto, debaixo da covardia que lhe era inerente, perjurou tantas vezes, e fez tanto dano ao Brasil? reticências Porém, essa mesma família não quis apresentar Pedro como uma exceção de regra? reticências Todavia, será Dom Pedro o complemento das perfeições humanas? Não, certamente: ele tem mostrado fraquezas reticências. Apesar de sua vigilância, tem sido enganado, e muito enganado; e quem sabe o que será o filho destinado pela constituição para o suceder? reticências

O cetro e a coroa não os fazem superiores aos outros homens. Repetimos; reticências e fique ao Brasil a liberdade natural de dar o trono àquele em quem reconhecer mais mérito, instrução, patriotismo reticências.

O Tribuno do Povo. Rio de Janeiro, 3 março 1831, página 79-80. (Adaptado). Disponível em: https://oeds.link/TSIieI. Acesso em: 7 fevereiro 2022.


Responda em seu caderno.

Questões

  1. O texto apresenta princípios iluministas. Explique essa afirmação, apontando as críticas às monarquias hereditárias e os argumentos usados para defender a monarquia sem direito natural.
  2. O que o autor sugere em substituição à monarquia hereditária? Quais critérios deveriam ser considerados?
  3. De que fórma esse texto transmite uma imagem negativa de Dom Pedro primeiro?

O período regencial (1831-1840)

A abdicação de Dom Pedro primeiro criou uma dificuldade política: afinal, quem governaria o Brasil? É bom lembrar que o herdeiro do trono tinha apenas 5 anos de idade quando seu pai partiu para Portugal. A resposta para essa pergunta estava na constituição: no caso de menoridade ou impedimento do imperador, não havendo parentes em condições de assumir o governo, o capítulo cinco previa a eleição de uma regência formada por três membros nomeados pela Assembleia Geralglossário .

Assim, a Assembleia Geral nomeou três políticos para formar a Regência Trina Provisória, até que amadurecessem as discussões e as negociações para a eleição dos regentes permanentes. Em junho de 1831, os deputados e senadores da Assembleia elegeram a Regência Trina Permanente, formada por um militar e dois civis. Os regentes não tinham as atribuições do Poder Moderador, que eram exclusivas do imperador.


Respostas e comentários

História em construção

  1. As ideias iluministas estão presentes na crítica às monarquias hereditárias. O autor do texto afirma que elas são um retrocesso para o povo e oprimem a nação por colocar governantes incapazes no poder. Ele argumenta que a descendência real não significa superioridade e inteligência; sendo assim, o trono não deveria ser um direito natural.
  2. O autor sugere que a população deveria escolher o ocupante do trono. O governante seria escolhido por critérios como capacidade, mérito, instrução e patriotismo, e não pela hereditariedade.
  3. De acordo com o texto, Dom Pedro primeiro era um homem comum, que tinha fraquezas, como a de ser facilmente enganado, transmitindo a imagem de um governante despreparado, incompetente e medíocre, que, portanto, não tinha mérito nem era o mais apto para comandar o Brasil.

Bê êne cê cê

Por exigir que os alunos relacionem acontecimentos e processos de transformação e manutenção das estruturas sociais e políticas e identifiquem argumentos em um documento histórico, a seção favorece o desenvolvimento das Competências específicas de História nº 2 e nº 3.

Os grupos políticos

A Regência foi chamada de “experiência republicana” no Brasil imperial pelo fato de os membros do governo serem eleitos e cumprirem mandatos temporários. Outra característica desse período foram as divergências entre setores das elites, que levaram à formação de três gr‑upos políticos dominantes.

  • Liberais moderados. Integrantes da aristocracia agrária, que defendiam uma monarquia constitucional e limites ao poder do imperador. Tinham como principais líderes o padre Diogo Antônio Feijó e o jornalista Evaristo da Veiga.
  • Liberais exaltados. Militares, comerciantes e proprietários rurais, que representavam as camadas médias urbanas. Eles reivindicavam autonomia política e econômica para as províncias, direito de voto a todos os homens livres e o fim do Poder Moderador. Fortes no Sul e no Nordeste, tinham como líderes principais Cipriano Barata e o jornalista paraibano Borges da Fonseca.
  • Restauradores. Grandes comerciantes portugueses e burocratas do governo, que defendiam a volta de Dom Pedro primeiro ao poder.
Pintura. Criança com aproximadamente 4 anos de idade. Tem os cabelos curtos e claros, penteados de lado. Os olhos e a boca são pequenos. O rosto é arredondado. Está sentado ao lado de um tambor amarelo com duas faixas vermelhas e um brasão. A criança veste um casaco azul, calça branca e uma sapatilha preta. Está com uma das pernas flexionadas, com o joelho para cima e uma das mãos sobre ele.
Dom Pedro de Alcântara, pintura de armãn juliân paliér, cêrca de 1830. Museu Imperial, Petrópolis, Rio de Janeiro.
Medidas de defesa e punição

Os diferentes movimentos que eclodiam nas províncias reivindicando autonomia política em relação ao poder central despertaram, na elite, o temor de uma onda de rebeliões que poderia abalar a frágil unidade política do país e a ordem escravocrata. Assim, em agosto de 1831, o então ministro da Justiça, padre Diogo Antônio Feijó, criou a Guarda Nacional, uma milícia civil armada encarregada de manter a ordem nacional. A Guarda Nacional serviu principalmente às elites agrárias, combatendo levantes de escravizados e coibindo crimes contra o patrimônio.

Em 1832, foi criado o Código de Processo Criminal, que reforçou algumas medidas estabelecidas no Código Criminal de 1830, definindo os tipos de crime (públicos ou particulares) e de punição, bem como a garantia de defesa aos acusados, mas sempre distinguindo as penas para os homens livres das penas para os escravizados. Além disso, o código conferiu poderes policiais aos juízes de paz locais, que podiam prender e julgar os acusados.

Gravura em preto e branco. À esquerda, um homem branco, com os braços cruzados e um chicote na mão, olha para uma mulher negra, ajoelhada no chão, manuseando tecidos dentro de um baú. Atrás dela, um homem negro, de roupas claras, e uma mulher negra, de vestido longo com uma das mãos na cintura. Ao redor, outras pessoas observam.
A negra acusada de roubo, gravura de pôl árôu rérin, cêrca de 1840. Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro. O Código de Processo Criminal manteve a pena por açoite apenas aos escravizados.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao identificar e analisar as disputas políticas no período regencial, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero oito agá ih um cinco.

Guarda Nacional

A Guarda Nacional era composta de brasileiros entre 21 e 60 anos de idade que cumprissem as exigências censitárias para ser eleitor, isto é, que possuíssem a renda mínima de 100 mil-réis anuais. Os oficiais eram eleitos pelos próprios membros da corporação e recebiam a patente de coronel. A eleição e o recrutamento da Guarda Nacional foram regulados pelo Código de Processo Criminal de 1832.

Ampliando: as regências

“O país era grande, e a côrte desconhecia as especificidades de suas diferentes regiões, que vistas de longe pareciam quietas, serenas, e davam a impressão de que assim continuariam para sempre. A emancipação política de 1822 consolidou-se em torno da côrte, isto é, do Rio de Janeiro, privilegiando a instituição monárquica e a unidade nacional. O sentimento autonomista era, porém, forte nas províncias: desfeita a unidade do Império luso-brasileiro como consequência da ruptura com Lisboa, o debate girava ao redor de dois programas políticos decididamente antagônicos: o centralismo da côrte, de um lado, e o autogoverno provincial, de outro. reticências

Para piorar a instabilidade geral, na época da abdicação de Pedro primeiro, seu filho, o príncipe Pedro, tinha apenas 5 anos e quatro meses, cuidadosamente contabilizados, e a saída foi deixá-lo isolado no Paço de São Cristóvão com suas duas irmãs – Francisca (a mana Chica) e Januária. reticências Abriu-se, então, um vácuo político que liberou a imaginação popular, com graves e importantes resultados. De um lado, o problema prático e burocrático mais imediato foi resolvido a partir de uma sucessão de quatro regências reticências. De outro lado, contudo, a questão sucessória incendiou as demais províncias, que agora, sem rei no poder, passaram a contestar a legitimidade dos novos governantes reticências.”

Chuárquis, Lilia Mórits; istárlin, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. página 243.

O Ato Adicional de 1834

A Constituição Imperial sofreu algumas modificações com a aprovação do Ato Adicional de agosto de 1834. O objetivo era conciliar os interesses de liberais radicais e liberais moderados, que disputavam o poder. Conheça, a seguir, as principais reformas constitucionais.

  • Extinção do Conselho de Estado, órgão criado pela Constituição de 1824 e controlado pelo imperador.
  • Transformação dos Conselhos Provinciais em Assembleias Legislativas Provinciais, com poderes para criar leis de interesse para a província e nomear os funcionários do governo.
  • Substituição da Regência Trina pela Regência Una, com o regente eleito pelo voto secreto para um mandato de quatro anos.
  • Criação de um município neutro no Rio de Janeiro, separado da província do Rio de Janeiro, para ser a séde da côrte.

A criação da Regência Una e a ampliação da autonomia das províncias com as atribuições concedidas às Assembleias Legislativas Provinciais podem ser interpretadas como a tentativa de conciliar os interesses dos grupos dominantes no Brasil: de um lado, os que defendiam a centralização, principalmente os setores agrários do Rio de Janeiro; de outro, os setores federalistas do Nordeste e do Sul, que exigiam mais autonomia para as províncias.

Embora tenha agradado a alguns setores das elites com a criação das Assembleias Legislativas Provinciais, o Ato Adicional de 1834 não alterou as condições de vida das pessoas pobres, livres ou escravizadas, que eram maioria no país.

Gravura. Duas mulheres negras em pé, conversando. A mulher à direita usa um vestido longo e rosa, tem cabelos curtos, e carrega uma cesta com alimentos. A mulher à esquerda usa uma saia azul longa e um tecido claro cobrindo a parte de cima do corpo, e tem os ombros à mostra. Ela tem o cabelo curto. Está com uma das mãos esticadas para frente. Ao lado delas, uma mulher negra sentada no chão, apoiada em um caixote. Na sua frente, um tecido estendido no chão com alimentos organizados sobre ele. Atrás dela, outra mulher negra, sentada embaixo de um guarda-sol e uma banca de frutas à sua frente. Ela usa um turbante na cabeça.
Cena de mercado (quitandeiras), gravura de Frederico Guilherme brígs, 1845. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. O Ato Adicional não alterou o cotidiano da maior parte da população do país.

Saiba mais

Contradições políticas

O Ato Adicional de 1834 resultou de anos de acordos e negociações, especialmente, pelo Poder Legislativo. As propostas iniciais de uma releitura da Constituição de 1824 eram radicais. Em 1831, por exemplo, alguns pediam o fim do Poder Moderador e o estabelecimento de uma monarquia federativa. Mas, três anos depois, ao determinar a criação de Assembleias Legislativas provinciais, pretensamente autônomas, e a nomeação dos presidentes das províncias como privilégio do imperador, o governo ressaltou seu caráter centralizador e contraditório.


Respostas e comentários

Atividade complementar

Como vimos neste capítulo, durante o período regencial existiram três grupos com propostas diversas de ação política. Visando favorecer o desenvolvimento da linguagem oral dos alunos e a sistematização dos conteúdos aprendidos no capítulo, sugerimos a realização de uma atividade de argumentação e de debate, com base no roteiro a seguir.

  • Organize os alunos em três grupos, encarregando cada um deles de representar e defender as ideias de um grupo político do período regencial: liberais moderados, liberais exaltados e restauradores.
  • Cada grupo terá a tarefa de reler tópicos do capítulo referentes ao tema, além de pesquisar em outras fontes, como sites, livros, enciclopédias etcétera, para fundamentar seus argumentos.
  • Durante essa pesquisa, oriente os alunos sobre os pontos a serem destacados na argumentação: as propostas de organização política, as fórmas de trabalho defendidas, os pontos de vista sobre as reformas constitucionais, entre outros. Uma alternativa é organizar as apresentações em torno de um mesmo tema a ser discutido. Por exemplo, a questão do voto, ou a fórma de governo que cada grupo político considerava mais adequada para o país.
  • Concluída a fase de pesquisa, os grupos devem debater e argumentar em defesa das causas do respectivo grupo político que representam.
  • Ao final da atividade, avalie com os alunos qual grupo teve melhor desempenho. Para tanto, estabeleça com eles, antecipadamente, alguns critérios de avaliação, como: coerência argumentativa, respeito às regras do debate, conhecimento sobre o grupo político defendido etcétera

Bê êne cê cê

Ao incentivar os alunos a elaborar argumentos sobre contextos históricos específicos, a atividade favorece o desenvolvimento da Competência geral da Educação Básica nº 7 e da Competência específica de História nº 3.

A Regência Una de Feijó

Em 1834, Dom Pedro primeiro faleceu em Portugal. Com a morte do ex-imperador, houve uma mudança nas alianças políticas das elites. Setores do grupo dos moderados e dos exaltados se aproximaram para compor o grupo dos liberais. Representantes do antigo grupo dos restauradores, por sua vez, aliaram-se à outra ala dos moderados para formar o grupo dos conservadores.

Nas eleições para a primeira Regência Una, realizada em 7 de abril de 1835, já se podia perceber a divisão entre esses dois grupos. No pleito, saiu vitorioso o padre Diogo Antônio Feijó, antigo ministro da Justiça da Regência Trina Permanente e um dos líderes do grupo dos liberais. Feijó elegeu-se regente em um pleito do qual participaram, aproximadamente, 6 mil eleitores.

O ex-ministro venceu seu concorrente imediato, o conservador Holanda Cavalcanti, com a pequena diferença de 574 votos, ou seja, menos de 10% do eleitorado. Os conservadores, por sua vez, conseguiram a maioria na Câmara dos Deputados, isto é, a maior parte dos deputados da Câmara pertencia ao grupo de oposição ao regente.

O regente Feijó assumiu o governo em um contexto político muito conturbado. Levantes populares e rebeliões separatistas eclodiram em várias províncias, ameaçando a unidade territorial do império. A Guarda Nacional mostrou-se incapaz de conter as revoltas. As palavras ditas por Feijó aos parlamentares, em maio de 1836, expressam bem a crise política da época.

Nossas instituições vacilam, o cidadão vive receoso e assustado, o governo consome o tempo em vãs recomendações. Seja ele responsabilizado por abusos e omissões; dai-lhe, porém, leis adaptadas às necessidades públicas; dai-lhe fôrça, com que possa fazer efetiva a vontade nacional. O vulcão da anarquia ameaça devorar o império; aplicai a tempo o remédio.

In: CALDEIRA, Jorge (organizador). Diogo Antônio Feijó. São Paulo: Editora 34, 1999. página 176. (Coleção Formadores do Brasil).

Pintura. Homem branco, rosto largo, cabelo curto e escuro. A boca é pequena e curvada para baixo. Veste um casaco escuro e um lenço amarrado no pescoço. Está sentado em uma cadeira, com um dos braços apoiados sobre a ponta de uma mesa. Segura uma pena.
Retrato do Padre Antônio Diogo Feijó, pintura do século dezenove. Centro Cultural São Paulo, São Paulo.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Por que a Regência foi chamada de experiência republicana? Quem eram os eleitores do Brasil naquele período?
  2. Identifique os grupos políticos que disputavam o poder no começo do período regencial e seus objetivos.
  3. Por que a Guarda Nacional foi criada?
  4. O que foi o Código de Processo Criminal? De que modo ele revelava as injustiças sociais do período?
  5. Cite três mudanças na Constituição Imperial com o Ato Adicional de 1834, explicando por que ocorreu essa reforma.
  6. A que grupo político pertencia Feijó? Qual era sua função como regente?

Respostas e comentários

Recapitulando

  1. O período regencial foi chamado de experiência republicana porque os membros do governo eram eleitos e cumpriam mandatos temporários. Segundo a Constituição de 1824, podiam votar apenas os homens livres, maiores de 25 anos de idade e que tivessem a renda mínima determinada pela lei.
  2. Os liberais moderados defendiam uma monarquia constitucional e limites ao poder do imperador; os liberais exaltados reivindicavam autonomia política e econômica para as províncias, direito de voto a todos os homens livres e fim do Poder Moderador; os restauradores defendiam a volta de Dom Pedro primeiro ao poder.
  3. A Guarda Nacional foi criada para garantir a segurança e a ordem nacional. Para isso, ela teve funções policiais, reprimindo qualquer movimento que reivindicasse autonomia política em relação ao poder central e combatendo as revoltas de escravizados, por exemplo.
  4. Foi um código que estabeleceu medidas para a aplicação da justiça, definindo, entre outros aspectos, os tipos de crime e punições, bem como a garantia de defesa ao acusado. Ele revelava as injustiças sociais do período ao impor diferenças na aplicação da lei entre homens livres e escravizados. O Código permitiu, por exemplo, a aplicação de açoites como punição apenas aos escravizados e proibiu que estes denunciassem crimes cometidos por seus senhores.
  5. O Ato Adicional de 1834 extinguiu o Conselho de Estado, criou as Assembleias Legislativas Provinciais, dando mais autonomia às províncias, substituiu a Regência Trina pela Regência Una e criou o município neutro do Rio de Janeiro, entre outras medidas. Essas reformas constitucionais foram realizadas a fim de conciliar os interesses dos dois grupos políticos no poder: o dos liberais radicais e o dos liberais moderados.
  6. O padre Diogo Feijó pertencia ao grupo político dos liberais moderados, que eram monarquistas e defendiam a limitação do poder imperial pela Câmara dos Deputados. Sua função como regente era assumir o governo do país no caso de menoridade ou impedimento do imperador, não havendo parentes do monarca em condição de assumir o governo.
As revoltas regenciais

Ao longo do período regencial, manifestações contrárias ao governo foram comuns nas províncias. Elas expressavam a diversidade social, econômica, geográfica e étnica do Brasil e revelavam o desafio de construir um Estado nacional e criar nos habitantes um sentimento de brasilidade mais forte que o de ser baiano, pernambucano, rio-grandense-do-sul ou mineiro. A seguir, estudaremos quatro rebeliões: as Rusgasglossário Cuiabanas, a Cabanagem, a Revolta dos Malês e a Revolta dos Farrapos. Além dessas, ocorreram no período a Sabinada (1837-1838), na Bahia, e a Balaiada (1838-1841), no Maranhão. A Sabinada foi uma revolta liderada pelos militares com apoio das classes média e rica da Bahia contra as nomeações políticas do governo regencial para o estado. Já a Balaiada foi uma revolta popular contra imposições da aristocracia rural maranhense.

As revoltas regenciais (1834-1845)

Mapa. As revoltas regenciais, 1834 a 1845. Destaque para o território brasileiro no período imperial. 
O mapa apresenta as divisões internas do território: a província do Grão-Pará corresponde aos atuais estados do Amazonas, Pará, Amapá e Roraima; a província do Mato Grosso corresponde aos atuais estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul; a província de Goiás corresponde aos atuais estados de Goiás e de Tocantins; e a província de São Paulo corresponde aos atuais estados de São Paulo e do Paraná. O território que corresponde ao atual estado do Acre não fazia parte do Brasil durante o período imperial. As demais províncias ocupavam território similar aos atuais estados de Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Legenda: 
Círculo vermelho: Rusgas Cuiabanas, 1834.
Círculo azul: Revolta dos Malês, 1835, e Sabinada, 1837.
Verde: Revolta dos Farrapos, 1835 a 1845.
Laranja: Cabanagem, 1835 a 1840. 
Lilás: Balaiada, 1838 a 1841. 
Rosa: Área de litígio entre Brasil e Argentina.
No mapa, as Rusgas Cuiabanas localizam-se em torno de Cuiabá, na província do Mato Grosso. A Revolta dos Malês e a Sabinada localizam-se em torno de Salvador, na província da Bahia. A Revolta dos Farrapos localiza-se nas províncias do Rio Grande do Sul, incluindo a capital Porto Alegre, e na província de Santa Catarina, incluindo a cidade de Laguna, atual Florianópolis. A Cabanagem localiza-se na província do Grão-Pará, incluindo a cidade de Belém. A Balaiada localiza-se no leste do Maranhão (incluindo a capital, São Luís), no norte e no oeste do Piauí e em pequeno trecho no oeste do Ceará. A área de litígio entre Brasil e Argentina abrange o território no oeste da província de Santa Catarina e no sul da província de São Paulo.
No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 410 quilômetros.

Fonte: CAMPOS, Flavio de; dounicóf, Miriam. Atlas: história do Brasil. São Paulo: Cipiône, 1997. página 29.


Responda em seu caderno.

Explore

  1. Compare esse mapa com um mapa político atual do Brasil. Que diferenças há entre eles?
  2. Examine as regiões onde eclodiram as principais revoltas do período regencial. Que risco as revoltas representavam ao território brasileiro?
As Rusgas Cuiabanas

“Abaixo a Regência! Morte aos bicudos!”, gritavam os homens que iniciaram o levante denominado Rusgas Cuiabanas. O apelido “bicudo” era dado pejorativamente aos portugueses ou seus descendentes na região de Cuiabá. Eles também eram chamados de “estrangeiros”.

Desde 1833, parte da elite cuiabana se organizava na Sociedade dos Zelosos da Independência, grupo liberal que combatia os portugueses. Formada por proprietários rurais, comerciantes, militares e profissionais liberais, essa sociedade defendia mais autonomia para a província do Mato Grosso.

O grupo abrigava duas facções liberais: a dos moderados e a dos exaltados. Os exaltados, ou radicais, defendiam a expulsão e até mesmo a morte dos “estrangeiros”. Em maio de 1834, eles iniciaram a rebelião. Após três meses sem conseguir conter a revolta, o governo da província pediu auxílio ao governo central para reprimir o movimento.

Em outubro do mesmo ano, os rebeldes foram finalmente derrotados. Os principais líderes foram presos e enviados ao Rio de Janeiro para julgamento, sendo libertados posteriormente.


Respostas e comentários

Explore

  1. As fronteiras internas e externas do Brasil alteraram-se. Hoje, o estado do Acre faz parte do Brasil. O litígio existente entre o Brasil e a Argentina foi resolvido, e a região oeste das províncias de Santa Catarina e do Paraná (destacada em rosa no mapa) foi incorporada ao território brasileiro. Além disso, as antigas províncias agora são 26 unidades da federação e mais o Distrito Federal.
  2. As revoltas eclodiram por todas as regiões do Brasil, do norte ao sul. Elas representavam um risco para a unidade nacional e, se vitoriosas, poderiam levar à fragmentação do país em vários Estados independentes.
Uma revolta na Amazônia: a Cabanagem

A revolta conhecida como Cabanagem ocorreu na antiga província do Grão-Pará, no norte do Brasil. Desde a independência, a situação era tensa na região, que tinha laços muito fortes com Portugal. Além de vínculos comerciais da elite da capital Belém com a cidade do Porto, havia também muitos militares portugueses estabelecidos na província. Isso explica por que o Grão-Pará só reconheceu a independência do Brasil em 1823, por imposição do imperador.

A tensão na província era agravada pelo abismo social que separava a pequena elite de homens brancos, formada por proprietários de terras e um grupo de ricos comerciantes de Belém (principalmente portugueses), da maioria da população, composta de indígenas, negros e mestiços. Na capital ou no interior, esses grupos viviam em grande miséria e moravam em cabanas, à beira de rios ou igarapésglossário ; por isso, eram conhecidos como cabanos. Eles formavam a mão de obra, escravizada ou semiescravizada, utilizada na economia da região.

Depois da independência, o Grão-Pará ficou praticamente abandonado pelo poder central. Essa situação levou a uma série de levantes de cabanos na capital e no interior, quadro que se agravou com a abdicação de Dom Pedro primeiro. Sucessivos governantes nomeados pelos regentes foram depostos pelos cabanos, que também exigiam a expulsão dos portugueses, além de melhores condições de vida.

Gravura em preto e branco. Habitação em meio a floresta. Ela tem o telhado comprido e alto, de palha, e paredes de pau a pique. Na frente, alguns homens.
Gravura representando habitação típica dos cabanos, no Amazonas, de eduár riú, 1881. Biblioteca Nacional da França, Paris.

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A economia do Grão-Pará

A base econômica do Grão-Pará era a extração de produtos da Floresta Amazônica, como guaraná, salsa, urucum, gergelim, cacau, baunilha e castanha-do-pará. Alguns desses produtos eram usados na culinária; outros eram utilizados para tratar diversas doenças. Também se destacavam o plantio de algodão, tabaco e arroz e a extração de madeira. Muitas dessas riquezas eram enviadas para a Europa pelo porto de Belém.


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Ampliando: o Grão-Pará e o governo brasileiro

reticências Toda a história do Grão-Pará fôra construída de maneira autônoma e independente do restante do país. A ocupação da região iniciou-se no século dezesseis, com a incursão na Amazônia de holandeses e ingleses interessados em especiarias; particularmente em sementes de urucum, guaraná e pimenta. Os portugueses chegariam somente em 1616, com a fundação do Forte do Presépio, ponto de partida para a construção da cidade de Belém, na época conhecida como Santa Maria do Belém do Grão-Pará. Apenas em 1621 reticências foi criado o Estado do Grão-Pará e Maranhão reticências, com jurisdição autônoma em relação ao Estado do Brasil, cuja capital era Salvador, na Bahia. A fundação desse Estado objetivava aprimorar a relação da região com a metrópole, incentivando a coleta das ‘drogas do sertão’, o cultivo de cana, algodão e cacau. reticências

Como se pode notar, no período da Independência a região contava uma história muito diferente daquela do resto do Brasil, e não se identificava com o novo regime político. Na verdade, por lá se estabelecia uma rede familiar, de negócios e de gêneros. Além do mais, essa era uma sociedade onde conviviam muitos imigrantes nacionais e estrangeiros, vindos de Portugal, unindo povos, línguas e culturas. Por fim, a relação comercial se fazia diretamente com a metrópole, e não havia por que demonstrar lealdade a um governo que lhe era, até então, desconhecido. Não por coincidência, na época da emancipação política havia no Grão-Pará muito ressentimento em virtude da falta de participação política nas decisões do governo brasileiro. Este taxava pesado a exploração das drogas do sertão.”

Chuárquis, Lilia Mórits; istárlin, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. página 250-252.

O breve governo dos cabanos

O movimento dos cabanos ganhou fôrça no início de 1834. A revolta se alastrou pelo interior da província, recebendo apoio de proprietários e de setores das camadas médias urbanas do Maranhão. No ano seguinte, os cabanos tomaram Belém, executaram o governador e outras autoridades e colocaram no governo o fazendeiro Félix Clemente málcher.

Divergências internas, porém, abreviaram o governo de málcher. Os cabanos lutavam por melhores condições de vida, enquanto a elite agrária, representada por málcher, ansiava por mais participação política nas questões administrativas da província.

Em 1835, málcher foi deposto e executado pelos cabanos. O segundo governo cabano, de Francisco Vinagre, também foi debilitado por disputas internas, permitindo que as tropas regenciais retomassem a capital. Depois disso, os cabanos tomaram pela terceira vez a capital, permanecendo dez meses no poder.

No entanto, a dificuldade de definir um programa de governo e de conciliar os diversos interesses envolvidos, agravada por uma epidemia de varíola, enfraqueceu os cabanos, facilitando a reconquista definitiva da capital pelas tropas regenciais em maio de 1836. Os cabanos fugiram para o interior, onde permaneceram resistindo até 1840, quando foram derrotados. Os anos de conflito deixaram um saldo de 40 mil mortos.

Para a historiadora Magda ríti, a Cabanagem se destaca pela sua diferença em relação a outros movimentos regionais do período.

reticências os cabanos e suas lideranças vislumbravam outras perspectivas políticas e sociais. Eles se autodenominavam ‘patriotas’, mas ser patriota não era necessariamente sinônimo de ser brasileiro. Este sentimento fazia surgir no interior da Amazônia uma identidade comum entre povos de etnias e culturas diferentes. Indígenas, negros de origem africana e mestiços perceberam lutas e problemas em comum. Esta identidade se assentava no ódio ao mandonismo branco e português e na luta por direitos e liberdades.

ríti, Magda. Cabanagem, cidadania e identidade revolucionária: o problema do patriotismo na Amazônia entre 1835 e 1840. Tempo, Rio de Janeiro, volume 11, número 22, página 6-7, 2007.


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Segundo o texto, qual foi a singularidade da Cabanagem?

Pintura. Homem de rosto comprido, bigode e cabelo preto. Usa um chapéu de aba larga. Está sem camisa e com a calça rasgada na altura dos joelhos. Carrega uma arma de fogo em uma das mãos. Está descalço.
Cabano paraense, pintura de Alfredo Norfini, 1940. Museu de Arte de Belém, Pará.

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Os indígenas Mura

No século dezenove, o povo indígena Mura teve presença marcante nos confrontos da Cabanagem. Identificado como um povo navegante, atualmente vive em áreas do complexo hídrico dos rios Madeira, Amazonas e Purus, disperso em mais de 40 Terras Indígenas e também em centros urbanos, como Manaus.


Gravura. Destaque para o rosto de um homem indígena Mura. Tem cabelos lisos e compridos, com franja. As sobrancelhas são finas, os olhos são claros e amendoados, e o nariz é largo. Usa dois dentes de animal em furos acima do lábio superior, e outro dente embaixo do lábio inferior.
Índio Mura, gravura de Carr Friedrich Filip von Martius, século dezenove. Biblioteca Pública e Universitária, nêchatél, Suíça.

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Ampliando: os Mura na Cabanagem

“Os grupos Mura, salienta [a antropóloga] Marta Amoroso, eram uma constante ameaça aos empreendimentos ‘civilizatórios’ reticências. Notoriamente belicosos, realizavam frequentes ataques às vilas e povoados, que inviabilizavam a expansão territorial luso-brasileira e a ampliação da produção a ser remetida à exportação.

reticências Para os territórios dominados pelos Mura partiam em busca de refúgio, tapuios, negros, brancos e mulatos marginalizados da sociedade regional. Tal incorporação de grupos marginalizados, frequente até meados do século dezenove, foi chamada por Marta Amoroso de ‘Murificação’. Os grupos ‘Murificados’ uniam-se aos Mura, e com eles compartilhavam seus ‘modos de vida’ e de resistência à ‘sociedade branca’.

Foi tal articulação entre os Mura e os ‘Murificados’ que fez com que a região do rio Madeira se tornasse um dos principais palcos da Cabanagem. Os combates eram travados com os Mundurucu, que habitavam predominantemente a região do rio Tapajós. Os colonos e os membros dos partidos, em número reduzido na região, apenas tentavam se infiltrar nas disputas para conseguir vantagens e ganhar territórios. reticências

As disputas entre os Mura e ‘Murificados’ contra os Mundurucu e seus aliados se estenderam por longos períodos.”

LIMA, Leandro marralêm de. Presenças indígenas na Cabanagem. Proposta metodológica para a compreensão de suas participações diferenciadas. Anais do décimo sétimo Encontro Regional de História – O lugar da História. Ampú/São Paulo, unicâmpi: Campinas, 2004. página 9.

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A singularidade da Cabanagem foi a união dos diferentes grupos sociais que participaram dela, como indígenas, negros africanos e mestiços, na luta contra o mandonismo português, por direitos e por liberdade. Essa união demonstrava um sentimento de patriotismo, mas não necessariamente dizia respeito a seu conceito puro de amor e defesa à pátria (no caso, o Brasil).

A Revolta dos Malês

Quem visitasse a cidade de Salvador por volta de 1830 não deixaria de notar a presença expressiva de africanos escravizados e libertos trabalhando nas mais diversas tarefas. Remunerados pelo sistema de ganho, escravizados exerciam a função de pedreiros, vendedores ambulantes, ferreiros, sapateiros, mensageiros e alfaiates, entre muitas outras. Ligados pelo trabalho e pelo contato no ambiente urbano, escravizados e libertos construíram uma relação de solidariedade que possibilitou a luta conjunta contra a escravidão.

O século dezenove, em Salvador, foi marcado por uma série de rebeliões de africanos escravizados e seus aliados forros. A mais importante delas, considerada a maior rebelião de escravizados urbanos de toda a América, foi a Revolta dos Malês, em 1835, protagonizada por africanos das etnias nagô (ou iorubá) e hauçá.

Existem diferentes interpretações sobre a origem da expressão malê; a mais provável é a de que o nome denominava, na língua iorubá, o africano muçulmano, ou seja, que havia se convertido ao islã.

Gravura. À direita, um homem negro de colete verde escuro, calça verde claro e turbante vermelho na cabeça. Carrega uma pequena bolsa atravessada diagonalmente no corpo, e um tecido listrado vermelho e branco preso à cintura. Ele está colocando uma ventosa na cabeça de um homem negro sentado, que usa um macacão claro preso por dois suspensórios cruzados nas costas. Atrás deles, um homem negro deitado no chão, de bruços, com os braços esticados para frente e ventosas nas costas. Ele usa uma calça clara presa à cintura por cordões. Ao fundo, dois homens sentados. Um deles é negro, está com as pernas dobradas, com os joelhos flexionados. Ele tem duas ventosas nas laterais da cabeça. Ao seu lado, à esquerda, um homem negro todo coberto por uma túnica clara. Está apenas com parte do rosto de fora e os pés. As pernas estão esticadas. Ao lado deles, bebês sem roupa na porta de uma casa. No alto, uma pessoa sentada na janela, com os joelhos flexionados, o corpo coberto por um tecido listrado verde e branco e a cabeça coberta por um tecido listrado vermelho e branco.
Cirurgião negro aplicando ventosas, gravura de Jãn Batiste Dêbret, 1835. Biblioteca Pública de Nova iórque, Estados Unidos. São raras as imagens que representam muçulmanos no Brasil na primeira metade do século dezenove, como esta, que mostra, à esquerda, um muçulmano com vestes tradicionais de sua religião.

Os malês eram monoteístas e usavam amuletos com versículos do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, escrito em árabe. Muitos sabiam ler e escrever, pois o aprendizado do árabe, necessário para a leitura do Alcorão, era incentivado nas escolas islâmicas.

Os rebeldes malês lutavam contra a escravidão e contra a conversão forçada ao catolicismo. A intenção dos insurretosglossário de acabar com os católicos, fossem eles negros, mestiços ou brancos, divulgada pelas autoridades, não foi confirmada pelos registros disponíveis para pesquisa.

A revolta deveria eclodir no dia 25 de janeiro de 1835. No entanto, alguns libertos, conhecendo os planos dos rebeldes, os delataram a seus antigos senhores. As autoridades e a Guarda Nacional foram avisadas e reforçaram a vigilância da séde do governo. O movimento foi sufocado: os líderes foram mortos e os demais, punidos com prisão, açoites ou degredo para a África.

Fotografia. Página de um manuscrito com grafia em caracteres árabes. Está danificada com pequenos rasgos e algumas letras apagadas.
Manuscrito do escravizado hauçá Domingos encontrado nos autos policiais sobre a Revolta dos Malês, 1835. Arquivo Público da Bahia, Salvador.

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Bê êne cê cê

Ao tratar da Revolta dos Malês, tida como a maior rebelião de escravizados urbanos das Américas, e apresentar um panorama da escravidão na primeira metade do século dezenove, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero oito agá ih um nove.

Ampliando: baquáqua, a marca da religião

“Sua escravização [a de marrômá Gardo baquáqua] fóra de djugú redefiniu reticências a sua identidade. No sul, ele teria sido chamado de ‘bariba’, um termo comum entre os iorubás e no Daomé, aplicável ao povo de borgú. Parece claro, a partir de sua descrição, que havia alguma intenção de mantê-lo no Daomé, como um dos seus compatriotas, uôrú, havia sido mantido em Uidá. De mais a mais, havia outros muçulmanos escravizados no Daomé, tais como aqueles recrutados pelo forte francês em Uidá. Os muçulmanos desta região eram chamados de ‘malês’ e, se a religião de baquáqua fosse reconhecida, ele poderia também ter sido descrito por este termo. Tais escravos eram comuns na Bahia, o destino mais frequente para as pessoas do Golfo do Benim no século dezenove. Entretanto, desde a Revolta dos Malês na Bahia, em 1835, escravos muçulmanos não eram mais desejados, e talvez tenha sido esta a razão por que o navio de Baquaqua foi para Pernambuco, em vez de ir para a Bahia, embora não seja possível determinar se havia outros muçulmanos a bordo. Contudo, ser reconhecido como malê ainda não era desejável, e assim, a identidade muçulmana de baquáqua pode muito bem ter sido suprimida. reticências.”

lôve djói, pôl E. Identidade e a miragem da etnicidade: a jornada de marrômá Gardo baquáqua para as Américas. Afro-Ásia, Salvador, número 27, 2002. página 32-33.

A Revolta dos Farrapos

A Revolta dos Farraposglossário , também conhecida como Revolução Farroupilha, durou dez anos e aconteceu na província do Rio Grande do Sul. Apesar do nome, o movimento foi liderado pelos grandes proprietários de terras e criadores de gado, chamados estancieiros. Um dos principais objetivos dessa elite era separar a província do restante do Brasil e fundar uma república independente.

É importante conhecer os interesses dessa elite agrária para compreender a revolta. A base econômica da província do Rio Grande do Sul era a criação de gado, voltada principalmente para a produção de charque. Comercializado em várias províncias do Brasil, o charque era a base da alimentação dos escravizados. Assim, diferentemente das províncias do Sudeste e do Nordeste, que tinham a economia voltada para a exportação, o gado produzido no Sul abastecia principalmente o mercado interno.

Os estancieiros se queixavam dos altos impostos cobrados sobre o charque gaúcho e da concorrência da carne importada da Argentina e do Uruguai. Eles argumentavam que pagavam mais impostos do que recebiam do governo central em benefícios e, por isso, reivindicavam a redução dos tributos. Os estancieiros também exigiam mais autonomia, começando pelo direito de escolher o governador da província.

Diante da recusa do governo em atender suas reivindicações, os gaúchos iniciaram uma rebelião. Eles contaram com o apoio do Partido Liberal Exaltado, formado pelos “farroupilhas”, que defendiam o movimento armado contra o governo e a proclamação da república no Rio Grande do Sul. Em 1835, Bento Gonçalves, um rico estancieiro, liderou a derrubada do governador nomeado pelo poder central. Os rebeldes dominaram Porto Alegre, a capital da província do Rio Grande do Sul.

Em 1836, os sulistas venceram a primeira batalha e proclamaram a República Rio-Grandense ou República de Piratini, separando-se do Brasil. Dois anos depois, os revolucionários expandiram o ideal republicano. Comandados pelo revolucionário italiano djiuzépe Garibaldi, os rebeldes ocuparam o porto de Laguna, na província de Santa Catarina, e, em 1839, proclamaram a República Juliana. Em Laguna, Garibaldi conheceu Ana Maria Ribeiro, que se uniu a ele como companheira e revolucionária.

Gravura. Mulher de aproximadamente 30 anos. Tem os cabelos escuros e boca pequena. Veste uma blusa clara com os ombros à mostra, uma saia longa avermelhada, presa por um tecido vermelho amarrado na cintura, e um lenço amarelo amarrado no pescoço. Segura em uma das mãos uma espada e na outra um mastro com uma bandeira vermelha.
Anita Garibaldi, gravura de iôrram mórritis ruguendás, século dezenove. Coleções de Arte da Cidade de Augsburgo, Alemanha. Ao se casar com djiuzépe Garibaldi, Ana Maria Ribeiro ficou conhecida por Anita Garibaldi.
Fotografia. Pessoas andando a cavalo. Estão enfileiradas. Algumas usam chapéus e lenço vermelho no pescoço. As pessoas à frente trazem bandeiras do Brasil e do Rio Grande do Sul em mastros.
Homens e mulheres percorrem as ruas de Canoas, no Rio Grande do Sul. O desfile acontece todo dia 20 de setembro no estado, e celebra o início da Revolução Farroupilha. Foto de 2021.

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Impostos sobre o charque

O governo central, dominado por representantes da aristocracia rural do Nordeste e do Sudeste, cobrava impostos mais baixos sobre o charque importado da Argentina e do Uruguai, usado para alimentar os escravizados, barateando, assim, o custo da mão de obra utilizada nas propriedades dessas duas regiões.

Giuseppe e Anita Garibaldi

Giuseppe e Anita Garibaldi ficaram conhecidos como “heróis de dois mundos”. Juntos, eles lutaram pelos ideais democráticos e republicanos no Sul do Brasil e no Uruguai e, em 1848, rumaram para a Europa, onde participaram das lutas pela unificação italiana.

Ampliando: a Revolução Farroupilha

“A Revolução Farroupilha (1835-1845) se configurou, historicamente, como evento emblemático da memória pública no Rio Grande do Sul. Seus lances de batalha são, ainda hoje, narrados em tom épico, e seus protagonistas transformados em heróis da ‘pequena’ e da ‘grande’ pátria, ora pela suposta resistência à opressão do centro político e econômico do Brasil, ora pela também hipotética aspiração à liberalização e ‘republicanização’ do país, o que incorre na afirmação de seu caráter nacionalista. Em ambos os sentidos, como mito, a revolta tem sido matriz para discursos políticos, debates historiográficos, criações artísticas e projetos identitários.”

ZALLA, Jocelito; menegáti, Carla. História e memória da Revolução Farroupilha: breve genealogia do mito. Revista Brasileira de História, São Paulo, volume 31, número 62, página 49-50, 2011.

A punição diferenciada

Para pôr fim ao movimento, o governo regencial enviou tropas para a região e encontrou forte resistência por parte dos revoltosos. O exército rebelde era composto de homens brancos, mestiços, indígenas e negros escravizados. Os escravizados foram motivados pela promessa da alforria no fim da revolta, mas em nenhum momento a República Farroupilha os libertou.

Somente nos últimos anos, a importância e a dimensão da participação negra neste conflito têm recebido maior atenção. Hoje é possível afirmar com segurança que negros, índios e mestiços desempenharam papel fundamental na Guerra dos Farrapos não somente como soldados, mas também trabalhando em diversos outros setores importantes da economia de guerra, como nas estâncias de gado, na fabricação de pólvora e nas plantações de fumo e erva-mate cultivadas pelos rebeldes. reticências

Apesar das promessas, em nenhum momento a República Rio-Grandense libertou seus escravos. A questão da abolição era controversa entre seus líderes. Ao mesmo tempo que o governo rebelde prometia liberdade aos escravos engajados e condenava a continuidade do tráfico de escravos, seu jornal oficial, O Povo, estampava anúncios de fugas de cativos. reticências Anos após o fim do conflito, vários líderes farroupilhas ainda tinham escravos, como Bento Gonçalves reticências, que morreu deixando 53 cativos para seus herdeiros.

OLIVEIRA, Vinicius Pereira de; saláini, crístian jóbi. Guerreiros descartáveis. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, número 58, página 48-49, julho 2010.

A partir de 1843, a repressão do governo central ao movimento se intensificou. As tropas governistas, sob o comando de Luís Alves de Lima e Silva, o barão de Caxias, conquistaram importantes vitórias. Em fevereiro de 1845, o exército derrotou o movimento e promoveu um acordo com as lideranças locais: os revoltosos receberam anistia, os gaúchos obtiveram o direito de escolher o presidente da província e o imposto sobre o charque argentino aumentou.

Gravura. Homem de chapéu grande, camisa, calça azul e botas está sentado dentro de uma embarcação oval, semelhante a um grande cesto. Um homem negro está nadando no rio, puxando a embarcação através de uma corda na boca. Ao fundo, um rio e vegetação densa.
Pelota, embarcação brasileira, gravura de Jãn Batiste Dêbret, 1823. Museus Castro máia, Rio de Janeiro. A pelota é uma embarcação típica do Rio Grande do Sul para a travessia dos rios.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Elabore um quadro comparativo sobre as quatro revoltas regenciais, identificando: local, período, grupos sociais que participaram, objetivos e consequências.
  2. Como se explica o fato de os farroupilhas terem escravizados em suas tropas e ainda manterem a escravidão na república fundada por eles?
  3. Que diferença há entre a punição dada aos participantes da Revolta dos Farrapos e das Rusgas Cuiabanas e a aplicada aos rebeldes de outros movimentos regenciais? Justifique.

Versão adaptada acessível

10. Elabore um texto para cada uma das quatro revoltas regenciais abordadas, identificando, em todos eles e na mesma ordem: local, período, grupos sociais que participaram, objetivos e consequências.

Orientação para acessibilidade

Os estudantes devem produzir quatro diferentes textos, cada um deles sobre uma das revoltas regenciais abordadas, organizando as informações de acordo com as categorias fixas solicitadas: local, período, grupos sociais que participaram, objetivos e consequências. A produção desses textos facilita a comparação entre as revoltas regenciais.

Respostas e comentários

Recapitulando

10. Espera-se que os alunos insiram os seguintes dados no quadro.

Rusgas Cuiabanas: a revolta ocorreu em Cuiabá, no Mato Grosso, em 1834. Ela foi organizada por parte da elite cuiabana, que estava insatisfeita com os privilégios dos portugueses na província. O objetivo era expulsar os portugueses da região e obter mais autonomia para o Mato Grosso. O movimento foi derrotado e seus líderes, presos, mas logo depois libertados; Cabanagem: a revolta ocorreu na província do Grão-Pará, entre 1835 e 1840, e contou com a participação dos cabanos (indígenas, negros libertos, escravizados e mestiços), que lutaram por melhores condições de vida e pela expulsão dos portugueses da província. Os revoltosos chegaram a tomar a capital, Belém, e a depor governantes nomeados pelos regentes, mas foram enfraquecidos por epidemias e pela repressão do governo; Revolta dos Malês: ocorrida em Salvador, em 1835, a revolta foi protagonizada por africanos das etnias nagô e haussá, a maior parte deles seguidores do islã. Eles lutavam contra a escravidão e a conversão forçada ao catolicismo. O movimento foi violentamente reprimido: muitos líderes morreram, enquanto outros foram presos, açoitados ou degredados para a África; Revolta dos Farrapos: a revolta ocorreu no sul do Brasil (1835-1845). Os conflitos envolveram a elite gaúcha, que se queixava dos altos impostos sobre o charque e exigia mais participação nas decisões políticas do país. O movimento, depois de fundar a República Rio-Grandense, foi derrotado pelas tropas do governo central, que fizeram um acordo com os revoltosos. Estes foram anistiados, puderam escolher um presidente para a província e foram beneficiados com o aumento do imposto sobre o charque argentino.

  1. Os farroupilhas eram formados por grandes estancieiros e criadores de gado. Eles eram donos de escravizados e não estavam interessados em abolir a escravidão. Em geral, apenas defendiam a república e mais autonomia para as províncias.
  2. Tanto na Revolta dos Farrapos quanto nas Rusgas Cuiabanas, os revoltosos não sofreram punições severas. Os participantes da Farroupilha foram anistiados e tiveram suas reivindicações atendidas; em Cuiabá, os revoltosos chegaram a ser presos e julgados, mas logo foram libertados. Na Cabanagem e na Revolta dos Malês, por sua vez, os rebeldes foram violentamente reprimidos, havendo mortes, prisões, degredo e punições como açoites. Esses diferentes tipos de desfecho podem ser explicados pela composição social de cada movimento. Como no Rio Grande do Sul e em Cuiabá os revoltosos eram da elite, as punições foram brandas. Já nos outros dois movimentos, os rebeldes, que eram das camadas populares, sofreram com a violência do governo. Isso demonstra o caráter elitista do governo imperial.

O golpe da maioridade

A dificuldade do regente Feijó em conter as rebeliões gerou várias críticas a seu governo e uma nova fissura nas elites dirigentes. Os defensores de um poder central forte para acabar com as revoltas compunham o grupo dos regressistas, que fundariam o Partido Conservador, dominado pelos produtores de açúcar do Nordeste e do Sudeste e pelos cafeicultores do Vale do Paraíba. O grupo de Feijó, que defendia mais autonomia para as províncias e a limitação do Poder Moderador, era o dos progressistas, base do futuro Partido Liberal. Pressionado, o padre Feijó renunciou em setembro de 1837. Com isso, o regressista Araújo Lima assumiu o governo regencial, iniciando o chamado Regresso Conservador. A ordem era eliminar as reformas instituídas pelo Ato Adicional de 1834 para tirar o país do “estado de anarquia” que, segundo os conservadores, tinha tomado conta das províncias. Com esse argumento, Araújo Lima aprovou, em maio de 1840, a Lei Interpretativa do Ato Adicional, que retirava das províncias a autonomia adquirida.

Os liberais, insatisfeitos com a hegemonia dos conservadores no governo de Araújo Lima, lançaram uma campanha pública pela antecipação da maioridade de Pedro de Alcântara, na época com 14 anos de idade. Os militares e provavelmente o próprio príncipe aprovaram a ideia. Assim, deputados e senadores alteraram a lei para que o jovem imperador assumisse o trono antes dos 18 anos de idade. No dia 23 de julho de 1840, foi declarada a maioridade de Pedro de Alcântara, que convidou os liberais progressistas a compor o governo. Ele foi coroado imperador no ano seguinte.

Pintura. No centro, garoto de 14 anos ajoelhado, usando um longo manto escuro nas costas, e roupas com detalhes em dourado. À sua frente, um homem com vestes clericais e uma mitra sobre a cabeça coloca uma coroa sobre a cabeça do garoto. Ao redor deles, outros homens com vestes clericais, ou com vestes militares, assistem à cena. No alto, em um mezanino, mulheres de vestido claro também assistem.
Ato da coroação de Dom Pedro segundo, pintura de françuá renê morrô, 1842. Museu Imperial, Petrópolis, Rio de Janeiro.

Refletindo sobre

Dom Pedro segundo tornou-se imperador com apenas 14 anos de idade. Imagine as responsabilidades que ele teve de assumir ainda adolescente! Com que idade, no Brasil, uma pessoa atinge a maioridade? O que significa ter maioridade? O que você espera de sua vida quando atingi-la?


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Identifique as diferenças entre o Partido Conservador e o Partido Liberal, que se formaram no final da Regência.
  2. O fim do período regencial foi marcado pelo golpe da maioridade. Explique o que foi essa manobra política e cite os grupos sociais que ela beneficiou.

Respostas e comentários

Refletindo sobre

A atividade promove uma reflexão sobre as responsabilidades de uma pessoa ao alcançar a maioridade, que no Brasil é atingida aos 18 anos de idade. Espera-se que os alunos pensem sobre o que almejam, ao completar a maioridade, em relação aos estudos, às perspectivas profissionais, às relações afetivas, às responsabilidades como cidadãos etcétera

Bê êne cê cê

Ao promover uma reflexão sobre o projeto de vida dos alunos, a atividade se relaciona com o tema contemporâneo transversal Vida familiar e social e contribui para o desenvolvimento das Competências gerais da Educação Básica nº 2, nº 4, nº 6, nº 8 e nº 10, bem como das Competências específicas de Ciências Humanas nº 2, nº 3 e nº 4.

Recapitulando

  1. O Partido Conservador defendia um poder central forte para acabar com as revoltas e foi fundado pelo antigo grupo dos regressistas. Já o Partido Liberal defendia mais autonomia para as províncias e a limitação do Poder Moderador, sendo formado pelo antigo grupo dos progressistas.
  2. Em 1840, o golpe da maioridade antecipou a idade mínima para que Dom Pedro de Alcântara, então com 14 anos de idade, assumisse o trono. Embora tenha sido encabeçado pelos liberais que estavam descontentes com a limitação da autonomia das províncias, esse golpe atendeu aos interesses de todos os grupos dominantes da sociedade brasileira, que se sentiam ameaçados pelos levantes que tomavam conta do país. Eles acreditavam que a volta de um imperador ao comando do Brasil controlaria a crise política.

A cultura afro-brasileira

Embora marginalizados pela sociedade imperial, os negros, escravizados ou libertos, conseguiram resistir culturalmente, mantendo muitas de suas manifestações culturais e religiosas, ainda que para isso tivessem que se esconder ou enfrentar a repressão. Uma delas foi a capoeira, uma técnica de combate afro-brasileira que era praticada nas cidades e podia envolver armas brancas. Com o tempo, a capoeira passou a ser praticada em rodas, ao som de instrumentos musicais, misturando luta, dança e jogo.

Outro exemplo da cultura afro-brasileira que permaneceu na primeira metade do século dezenove foi o jongo, uma dança de roda acompanhada de canto e tambores, que era praticada pelos escravizados nos terreiros e nas senzalas, principalmente no Sudeste do Brasil. Também conhecido como caxambu e corimá, o jongo envolvia práticas de magia e feitiços.

A folia de reis era uma festa celebrada pelos africanos e seus descendentes. Os foliões visitavam as casas com cantos, danças e símbolos de devoção para representar a jornada dos três reis magos em busca do menino Jesus. De origem europeia, a festa tornou-se popular e demonstrava a religiosidade do povo.

Também havia as congadas, que eram procissões para coroar as rainhas e os reis negros e homenagear Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, os santos negros. Essas festas eram acompanhadas de cantos, louvores religiosos e encenações de batalhas. Dependendo da região do Brasil, as congadas recebiam diferentes nomes, como congos e cacumbis.

Gravura. À esquerda, um homem e uma mulher negros com trajes reais. O rei segura um cetro, veste um manto vermelho e uma coroa prateada sobre a cabeça. A rainha usa um xale azul e uma coroa dourada sobre a cabeça. Ao lado dela, uma mulher em pé, com um manto vermelho e um chapéu de penas. À sua frente, uma mesa com uma bandeja branca e azul com moedas dentro. À direita, pessoas observam e uma criança coloca uma moeda na bandeja.
Detalhe de Coleta para a manutenção da Igreja do Rosário, gravura de Jãn Batiste Dêbret, 1839. Biblioteca Pública de Nova iórque, Estados Unidos. Na gravura, são representados a rainha e o rei eleitos pelos negros nas congadas.

No governo de Dom Pedro primeiro, muitas dessas práticas associadas à população negra foram reprimidas e criminalizadas. O Código Criminal de 1830, por exemplo, previa punições aos “vadios e mendigos”, categoria ampla que incluía os praticantes de capoeira e as pessoas sem ocupação definida. O objetivo era claro: a cultura dos negros, associada à vadiagem e à violência urbana, devia ser combatida para não afetar a cultura elitizada, moldada de acordo com os padrões europeus e considerada “civilizada”.

Conexão

Uma história de amor e fúria

Direção: Luiz Bolonhézi e djin câlen de Moura

País: Brasil

Ano: 2013

Duração: 75 minutos

A animação narra a história do guerreiro Tupinambá chamado Abeguar, que, ao ter sua comunidade destruída pelos portugueses, transformou-se em uma ave que voou durante seiscentos anos para reencontrar seu amor, Janaína. Durante sua trajetória, ele renasceu em diferentes personagens da história colonial, imperial e republicana do Brasil.


Capa de filme. Na parte superior, ilustração de duas pessoas se beijando em uma cachoeira. No centro, o nome do filme. Na parte de baixo, ilustração de vista aérea do Cristo Redentor e de parte da cidade do Rio de Janeiro. O Cristo tem um dos braços quebrados.
Titulo do carrossel
Imagem meramente ilustrativa

Gire o seu dispositivo para a posição vertical


Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao analisar as manifestações culturais dos africanos e seus descendentes na primeira metade do século dezenove, o conteúdo contempla parcialmente as habilidades ê éfe zero oito agá ih um nove e ê éfe zero oito agá ih dois dois.

A capoeira

A figura principal da roda de capoeira é a do mestre, geralmente o mais velho ou o mais experiente. Além de ensinar a música e os movimentos da capoeira, o mestre transmite valores e outros saberes populares, utilizando ladainhas e conversas.

A capoeira regional foi criada na Bahia na década de 1920 pelo mestre Bimba (Manoel dos Reis Machado), que transferiu a capoeira da rua para um espaço de ensino. A capoeira Angola surgiu nos anos 1940, com o trabalho do mestre Pastinha (Vicente Ferreira Pastinha), que deu mais espaço para elementos como as ladainhas e os movimentos no chão. Na capoeira regional, a roda tem apenas um berimbau e dois pandeiros. Na capoeira Angola, além dos três berimbaus, são utilizados dois pandeiros, atabaque, agogô e reco-reco.

A maioria das manifestações culturais e religiosas afrodescendentes tinha em comum o uso de diferentes instrumentos de origem africana, como o atabaque, o berimbau, o agogô, o afoxé, entre outros.

Conexão

Ao assistir à animação, peça aos alunos que prestem especial atenção à parte da narrativa em que o protagonista está inserido no contexto da Balaiada, evento que ocorreu no período da história nacional abordado neste capítulo. Por ser apresentada em uma linguagem familiar às culturas juvenis, a animação pode atrair o interesse dos alunos e constituir uma ferramenta didática interessante para o ensino de história para a faixa etária.

Atividades

Responda em seu caderno.

Aprofundando

1. Observe a imagem e faça o que se pede.

Gravura. Homens a cavalo, vestindo calça, capas vermelhas, chapéu e botas com esporas, laçam bois em um campo aberto. Eles seguram grandes lanças. No centro, um dos homens, com sua lança, golpeia um boi que está parcialmente abaixado com sangue escorrendo pela perna. Outro homem a cavalo puxa uma corda que está no pescoço do mesmo boi. À esquerda destes, um homem negro, sem camisa, de calça clara e descalço, segura uma faca com a mão. À direita, um homem negro, sem camisa, descalço, abaixado sobre o corpo de outro boi. Ele está passando uma faca sobre ele. Ao redor do corte, sangue escorrendo. O boi está laçado por uma corda segurada por um homem a cavalo, no canto direito. Ao fundo, outros homens laçam e golpeiam outros bois.
Charqueada do Brasil, gravura de Jãn Batiste Dêbret, 1828. Museus Castro máia, Rio de Janeiro.
  1. Que atividade econômica da província do Rio Grande do Sul foi representada nessa gravura?
  2. Identifique os grupos sociais representados na obra, explicando como você os reconheceu.
  3. De que maneira a atividade representada na gravura está relacionada à Revolta dos Farrapos?

2. Leia o texto para responder às questões.

Para retratar o negro, em sua condição de escravo no Brasil oitocentista, debrê é portador de um discurso movido pela ideologia de seu tempo. reticências

reticências em nenhum momento há uma condenação da escravatura reticências

reticências percebe-se que debrê reticências contribui para reforçar a ideia de inferioridade do negro em relação ao homem branco.

Isso ocorre ao mesmo tempo que enfatiza características louváveis dos negros em relação ao trabalho, habilidades, relações e condutas diversas contribuindo também para uma representação positiva dos negros na composição social do país.

PEREIRA, Ives da Silva Duque. As artes visuais e o ensino da história e cultura afro-brasileira: uma proposta de releitura da imagem do negro oitocentista por meio do olhar contemporâneo. Educere: décimo terceiro Congresso Nacional de Educação. Curitiba: púquiParaná, 2017.

  1. Segundo o texto, as obras de debrê denunciam a escravidão? Por quê?
  2. Qual seria a contradição de debrê ao representar em suas obras os negros no Brasil no século dezenove?
  3. Observe as obras de debrê que foram reproduzidas neste capítulo. Argumente se elas vão ao encontro ou se contradizem as ideias do texto.

Respostas e comentários

Atividades

    1. A gravura representa a produção do charque. A charqueada é o local onde os bois são abatidos e a carne é preparada para a produção do charque.
    2. Na gravura, é possível identificar os estancieiros gaúchos, que estão montados a cavalo, e dois escravizados: um deles é representado no canto esquerdo da imagem, segurando um instrumento de córte, e o outro cortando a jugular de um boi. Esses grupos sociais podem ser identificados pelas vestimentas que usam e por suas ações.
    3. Os impostos altos sobre o charque do Rio Grande do Sul foram um dos motivos que levaram à eclosão da Revolta dos Farrapos.
    1. Não. Como homem europeu de seu tempo, debrê acreditava na “superioridade” dos brancos em relação aos negros. Dessa fórma, em suas obras, ele representa pessoas negras em cenas do cotidiano brasileiro, na primeira metade do século dezenove, sem fazer nenhuma crítica à escravidão.
    2. Por um lado, debrê usa expressões genéricas e negativas para se referir aos negros, evidenciando sua crença na inferioridade deles. Por outro, ele também enfatiza as habilidades e condutas desses grupos, mostrando seus aspectos positivos.
    3. Espera-se que os alunos analisem as obras de debrê, e construam argumentos concluindo se as obras confirmam ou contradizem as ideias apresentadas no texto de Ives da Silva Pereira. Instrua-os a distinguir assunções pessoais racionais de possíveis pressupostos emocionais ou orientados por visões parciais para construir a argumentação deles. Os alunos podem observar que, nas obras Cirurgião negro aplicando ventosas (página 145) e Pelota, embarcação brasileira (página 147), debrê enfatiza as habilidades dos escravizados no trabalho; na obra Pano de boca... (página 131), ele ressalta o apoio dos escravizados ao Império Brasileiro; e na gravura Coleta para a manutenção da Igreja do Rosário (página 149) mostra um aspecto da cultura dos africanos e de seus descendentes. Em nenhuma delas, porém, debrê revela uma crítica negativa ao trabalho escravizado, contribuindo, assim, para a naturalização da escravização e a exclusão social dos negros.

Aluno cidadão

3. Provavelmente, você já ouviu dizer que a feijoada, prato importante da culinária brasileira, foi criada pelos escravizados que aproveitavam os restos de carne dispensados pelos senhores para preparar o prato. Contudo, isso é um equívoco, como explica o texto.

Só se diz feijoada quando há carne e verduras. O feijão com carne, água e sal, é apenas feijão. Aquela subentende o cortejo das carnes, legumes, hortaliças.

Essa feijoada completa terá pouco mais de meio século. Até finais do século dezenove e primeira década imediata não havia nascido para a extensão nacional com tais roupagens de vegetais e carnes. reticências Nenhum informante fala-me dessa feijoada à volta de 1900. reticências

O [livro] O cozinheiro nacional evidencia a diferença das feijoadas de então [1887], comidas pelas bocas imperiais, e a assombrosa iguaria contemporânea.

CASCUDO, Luís da Câmara. História da alimentação no Brasil. Belo Horizonte. Itatiaia; São Paulo: êduspi, 1983. volume 2, página 507.

  1. Segundo o autor, quando a feijoada, como conhecemos, teria surgido?
  2. A atual feijoada é um prato composto de carnes de porco e de boi, feijão-preto e temperos. Ela geralmente vem acompanhada de arroz, couve refogada, banana frita, laranja e farofa. Pesquise que nutrientes importantes estão presentes em um prato de feijoada completo.
  3. Agora, consulte uma pirâmide alimentar, que classifica os alimentos de acordo com suas funções e nutrientes em uma alimentação balanceada. Com base nela, é possível dizer que a feijoada é uma refeição equilibrada e saudável? Por quê?
  4. Você tem uma alimentação balanceada? Se não, o que poderia mudar em seus hábitos alimentares para melhorá-los?

Conversando com língua portuguesa

4. As quadrinhas são trovas populares compostas de uma estrofe com quatro versos. Leia as duas quadrinhas, escritas no final do período regencial, e responda às questões.

um

Queremos Dom Pedro segundo

Embora não tenha idade!

A nação dispensa a lei

E viva a maioridade!

In: Oliviéri, Antonio Carlos. Dom Pedro segundo, imperador do Brasil. São Paulo: Callis, 2001. página 12.

dois

Por subir Pedrinho ao trono

Não fique o povo contente

Não pode ser coisa boa

Servindo com a mesma gente.

In: CALMON, Pedro. Histórias do Brasil na poesia do povo. Rio de Janeiro: A Noite, sem data.

  1. Essas duas quadrinhas abordam qual manobra política do final do período regencial?
  2. Qual delas teria sido defendida pelos liberais? E pelos conservadores? Explique.
  3. Que adjuntos adverbiais foram usados em cada quadrinha? Qual é a função deles nessas quadrinhas?
  4. A quadrinha dois usa o diminutivo Pedrinho. Que sentido esse diminutivo passa para o leitor?
  5. Elabore uma quadrinha que apresente o resultado e as consequências do embate político no final da Regência. Compartilhe a produção da quadrinha com a classe.

enêm e vestibulares

5. (ê ésse pê ême-São Paulo)

Num momento da história do império conhecido como ‘avanço liberal’, durante as regências, foram adotadas algumas medidas que concediam maior poder à representação local.

(Sonia Guarita do Amaral. O Brasil como império)

Aponte entre as alternativas aquela que apresente duas reformas liberais:

  1. Ato Adicional – Reforma do Código de Processo Criminal.
  2. Lei de Terras – Lei Saraiva-Cotegipe.
  3. Lei Rio Branco – Código de Processo Criminal.
  4. Tarifa Alves Branco – Lei Interpretativa do Ato Adicional.
  5. Código de Processo Criminal – Ato Adicional.

Respostas e comentários
    1. Segundo o autor, a feijoada, na fórma como a conhecemos, teria surgido há pouco mais de meio século da data de publicação do texto, ou seja, no início do século vinte.
    2. Em geral, os nutrientes encontrados na atual feijoada são: carboidratos, proteínas, gorduras, fibra alimentar e diversas vitaminas, como ferro, cálcio, potássio, fósforo etcétera Se possível, os alunos podem consultar a tabela de valor nutricional disponível em: https://oeds.link/wVHVYn. Acesso em: 8 abril 2022.
    3. A feijoada contém ingredientes que estão presentes em quase todos os grupos da pirâmide alimentar. Contudo, ela apresenta grande quantidade de carnes e gorduras e, por isso, deve ser consumida esporadicamente. Se considerar pertinente, oriente os alunos a pesquisar na internet e consultar: Filípi, S. T. êti ól Pirâmide alimentar adaptada: guia para escolha dos alimentos. Revista de Nutrição, Campinas, volume 12, número 1, janeiro a abril 1999. página 69.
    4. Incentive os alunos a refletir sobre os hábitos alimentares deles, destacando os benefícios do consumo de frutas e verduras e a necessidade de redução do consumo de alimentos ultraprocessados, como refrigerantes e salgadinhos.

Bê êne cê cê

A atividade se relaciona com o tema contemporâneo transversal Educação alimentar e nutricional e favorece o desenvolvimento das Competências gerais da Educação Básica nº 2, nº 4 e nº 8.

    1. O golpe da maioridade.
    2. A primeira quadrinha teria sido defendida pelos liberais, enquanto a segunda, pelos conservadores. Os liberais estavam insatisfeitos com o Regresso Conservador promovido pelo regente Araújo Lima e, assim, lideraram o processo que levou à maioridade de Pedro de Alcântara. Já os conservadores eram os que estavam dominando a fase final da Regência e, por isso, eram contra a maioridade de Dom Pedro de Alcântara.
    3. Na quadrinha um foi usado o adjunto adverbial de concessão “embora”, que tem a função de dar ênfase ao fato de Pedro de Alcântara ser um adolescente, mas mesmo assim sua maioridade traria benefícios ao povo. Já na quadrinha dois foi usado o adjunto adverbial de negação “não”, com a função de intensificar o aspecto negativo da maioridade de Pedro de Alcântara.
    4. O diminutivo Pedrinho quer passar a ideia de que Pedro de Alcântara ainda era menor de idade e, também, de desqualificá-lo em relação a sua competência para ser imperador por conta da sua idade.
    5. Além do aspecto formal da quadrinha, deve-se avaliar a correção dos conteúdos apresentados pelos alunos.

Interdisciplinaridade

Ao propor a análise de uma quadrinha, a atividade favorece o desenvolvimento de habilidades do componente curricular língua portuguesa, especialmente as habilidades ê éfe oito nove éle pê três seis, ê éfe zero oito éle pê zero quatro e ê éfe zero oito éle pê um zero.

5. Alternativa e.

Glossário

Outorgar
: nesse contexto, impor ou ordenar uma lei.
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Retrogradação
: retrocesso; retorno a um estado primitivo.
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Assembleia Geral
: organismo instituído na Constituição de 1824 que representava o Poder Legislativo e compunha-se de duas câmaras: a Câmara dos Deputados e o Senado.
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Rusga
: desentendimento; briga; tumulto.
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Igarapé
: canal natural entre duas ilhas, ou entre uma ilha e a terra firme, que tem pouca profundidade e corre pelo interior da mata.
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Insurreto
: insurgente, aquele que se rebelou ou que se insurgiu contra algo.
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Farrapo
: pessoa maltrapilha, que usa roupas velhas, desgastadas.
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