UNIDADE 4  Transformações no século XIXdezenove

Abertura da unidade

Esta unidade trata de transformações econômicas, sociais, políticas e tecnológicas ocorridas no século XIXdezenove em diversos continentes e de seus desdobramentos geopolíticos. As imagens da abertura problematizam situações contemporâneas relacionadas aos imigrantes e aos refugiados, frequentemente hostilizados por xenófobos. A xenofobia é um problema atual relacionado à ideologia nacionalista criada no século XIXdezenove. Desse século datam também as delimitações territoriais e as novas relações de poder entre países.

A questão da imigração na Europa e nos Estados Unidos nos dias de hoje reflete as desigualdades sociais e econômicas geradas pela exploração econômica e pelas divisões territoriais artificiais de continentes, como a África e a Ásia. Essas divisões territoriais, por sua vez, foram determinadas no contexto do imperialismo, que marcou o século XIXdezenove.

Enquanto o capitalismo se desenvolvia ao lado de avanços tecnológicos, pensadores europeus questionavam a desigualdade social, que se tornava cada vez mais notória. Muitos deles criaram teorias políticas e sociais com base nas revoluções europeias liberais e de cunho nacionalista. Tais pensadores discutiam as contradições do seu tempo, procuravam uma compreensão mais profunda do sistema capitalista e apontavam possíveis caminhos para a solução de problemas como a pobreza e a exploração de grupos sociais.

Unidade 4: justificativas

Na primeira página de cada capítulo desta unidade, estão listados os objetivos previstos para serem trabalhados com os alunos.

Os objetivos do capítulo 9 se justificam por motivarem o reconhecimento da influência que correntes de pensamento, como o liberalismo e o nacionalismo, tiveram nas Revoluções de 1820, 1830 e 1848 no continente europeu. Além disso, justificam-se por relacionarem os eventos e processos históricos que ocorreram na Europa durante o século XIXdezenove ao surgimento de teorias sociais e políticas e de movimentos artísticos.

No capítulo 10, a pertinência dos objetivos se deve ao encaminhamento dos estudos sobre o processo de expansão do território dos Estados Unidos, nos séculos XVIIIdezoito e XIXdezenove, associado à problematização da questão das terras indígenas, à identificação das causas da Guerra de Secessão, bem como à análise das características do fim da escravidão nesse país.

Os objetivos do capítulo 11 se justificam por motivarem a compreensão dos termos imperialismo e neocolonialismo e da relação entre a Segunda Revolução Industrial e o imperialismo empreendido na África e na Ásia pelas potências econômicas. Nesse capítulo, a pertinência dos objetivos também se deve à promoção de análises críticas sobre as teorias pseudocientíficas usadas para justificar o imperialismo e a submissão de povos e ao estímulo à percepção da diversidade cultural, histórica e social das sociedades que habitavam os continentes africano e asiático no século XIXdezenove, bem como de alguns dos movimentos de resistência promovidos por esses povos.

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Este capítulo contempla parcialmente as habilidades EF08HI01ê éfe zero oito agá ih zero um, EF08HI03ê éfe zero oito agá ih zero três e EF08HI06ê éfe zero oito agá ih zero seis (ao tratar das principais características das Revoluções de 1820, 1830 e 1848, discutindo o liberalismo e o nacionalismo, bem como as formulações teóricas socialistas e anarquistas em resposta às políticas liberais que mantiveram a exploração dos trabalhadores). O trabalho para o desenvolvimento dessas habilidades se completa ao longo de outros capítulos, conforme indicações no quadro de habilidades do ano.

Objetivos do capítulo

• Identificar as principais características do liberalismo e do nacionalismo e a influência dessas correntes de pensamento nas revoluções ocorridas na Europa na primeira metade do século XIXdezenove.
• Caracterizar os principais acontecimentos das Revoluções de 1820, 1830 e 1848.
• Compreender o processo de unificação política da Itália e da Alemanha.
• Reconhecer de que modo o desenvolvimento industrial fortaleceu a burguesia e reproduziu as más condições de vida e de trabalho do operariado, aumentando as disparidades sociais.
• Compreender e diferenciar as teorias sociais e políticas formuladas no século XIXdezenove, como o marxismomarquicísmo e o anarquismo, em resposta ao liberalismo vigente.
• Relacionar as transformações políticas, sociais e econômicas do século XIXdezenove com os movimentos artísticos do período, principalmente o Romantismo e o Realismo.

Abertura do capítulo

A abertura permite uma discussão a respeito da ideia de utopia e a verificação dos conhecimentos prévios dos alunos a respeito de ideias utópicas.

No texto, José Alves de Freitas Neto aponta um paradoxo nas sociedades atuais, que desejam mudanças, mas não acreditam em utopias. Durante a discussão, é possível relativizar essa ideia por meio do debate sobre a criação de hortas comunitárias, por exemplo, como a retratada na fotografia: Seriam elas a realização de uma utopia, uma vez que seus integrantes estabelecem regras sustentáveis e cooperativas? Comunidades sustentáveis e cooperativas estariam à parte da sociedade de consumo atual? Ou seriam apenas uma formafórma de minimizar os impactos dessa sociedade, sem configurar um projeto utópico?

Encoraje os alunos a compartilhar o que pensam sobre esse tipo de iniciativa, se conhecem alguma experiência como essa, quais são os benefícios para a comunidade e quais são as possíveis dificuldades de implementação de projetos como esse.

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Ao retomar o conceito de liberalismo e sua relação com a organização do Estado nacional contemporâneo, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade EF08H01ê éfe zero oito agá zero um.

Liberalismo

Se achar necessário, retome com os alunos o conteúdo sobre o liberalismo, tratado previamente no capítulo 2 deste volume, para que relembrem seus princípios fundamentais e principais pensadores, estabelecendo, assim, relação entre os conhecimentos adquiridos e o novo conteúdo.

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1. O gorro é o barrete frígio (destacado no estudo sobre a Revolução Francesa), um item que identificava os revolucionários.
2. A serpente do mar representa as ideias inovadoras da Revolução Francesa.
3. A serpente está ameaçando os reis reunidos em um bote pequeno e frágil, representando o Antigo Regime.

Nação e nacionalismo

Retome com os alunos a conversa sobre o conceito de nação (comunidade estabelecida em determinado território, com vínculos étnicos, históricos e linguísticos, entre outros). Comente também a questão do nacionalismo exacerbado, que se expressa como a convicção de que a nação a que se pertence é superior às demais, e pode ter a intolerância e o preconceito como consequências. Para o aprofundamento e a problematização dos conceitos, sugerimos a leitura da obra Nações e nacionalismo desde 1780, do historiador britânico Eric HobsbawmÉrik Robsbaum, publicada em 2012 pela Editora Paz e Terra.

Ampliando: a definição de nação

“[...]reticências proponho a seguinte definição de nação: uma comunidade política imaginada – e imaginada como sendo intrinsecamente limitada e, ao mesmo tempo, soberana.

Ela é imaginada porque mesmo os membros da mais minúscula das nações jamais conhecerão, encontrarão, ou sequer ouvirão falar da maioria de seus companheiros, embora todos tenham em mente a imagem viva da comunhão entre eles. [...]reticências”.

ANDERSON, Benedictândersson, benedíquit R. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p.página 32.

As experiências revolucionárias na Espanha e na Grécia

As campanhas napoleônicas no continente europeu provocaram, em muitos casos, a união entre povos contra a invasão inimiga. Governos e grupos sociais criaram a ideia da identidade nacional, fornecendo as bases para os movimentos revolucionários da primeira metade do século XIXdezenove.

Contudo, nem todas as iniciativas revolucionárias alcançaram o êxito esperado. Na Espanha, o rei Fernando VIIsétimo foi reconduzido ao trono, em 1814, depois de anos de lutas do povo espanhol contra as forçasfôrças de Napoleão. Ao retomar o poder, o rei suspendeu a constituição do país (que havia sido aprovada pelas Cortescôrtes em 1812), devolveu os privilégios ao clero e à nobreza, perseguiu os deputados liberais e fez retornar os tribunais da Inquisição, criando as condições para as Revoluções de 1820, que foram sufocadas pelas tropas enviadas pela Santa Aliança.

Outros povos seguiram o exemplo espanhol, como os portugueses, os gregos e os habitantes de Nápoles e do Piemonte. Entre os povos que se revoltaram nas décadas de 1820-1830, os gregos foram os que alcançaram maior êxito, tornando-se independentes do domínio turco. Contudo, o fracasso dessas insurreições pode ser explicado pela intervenção violenta da Santa Aliança e pelo pequeno desenvolvimento econômico dessas regiões, onde não havia ainda uma burguesia forte nem organizações sociais coesas que pudessem levar adiante os movimentos revolucionários.

Ampliando: as Revoluções de 1848

“Em primeiro lugar, todas [as Revoluções de 1848] foram vitoriosas e derrotadas rapidamente e, na maioria dos casos, totalmente. [...]reticências

[...]reticências em agosto de 1849, a revolução estava morta. Com a única exceção da França, todos os antigos governantes foram restaurados no poder [...]reticências e os revolucionários espalharam-se no exílio. [...]reticências Ocorrera uma e apenas uma modificação irreversível importante: a abolição da servidão no Império dos Habsburgosabsbúrgos. Excetuando-se esta última, apesar de ser visivelmente uma importante realização, 1848 aparece como a revolução da moderna história da Europa que combina a maior promessa, a mais ampla extensão, o maior sucesso inicial imediato com o mais rápido e retumbante fracasso. Em certo sentido, lembra outro fenômeno de massa da década de 1840, o movimento cartista na Inglaterra. [...]reticências Não é por acidente que o documento daquele ano, que viria a ter o mais duradouro e significativo efeito na história mundial, tenha sido o Manifesto Comunista.

Todas essas revoluções têm algo mais em comum, o que explica largamente o seu fracasso. Elas foram, de fato ou como antecipação imediata, revoluções sociais dos trabalhadores pobres. Por isso elas assustaram os moderados liberais a quem elas próprias deram poder e proeminência – e mesmo alguns dos políticos mais radicais –, pelo menos tanto quanto os que apoiavam os antigos regimes [...]reticências.”

HOBSBAWM, EricROBSBAUM, Eric J. A era do capital: 1848-1875. 5. ed.quinta edição Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. p.página 33-35.

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O homem insinua o uso de armas para combater os inimigos externos e o voto para combater os inimigos internos. O personagem, que provavelmente representa os trabalhadores, reconhece o sufrágio universal como a arma de combate às reações contrarrevolucionárias internas e o uso de armas de fogo nos combates com os países que tentavam destruir o movimento revolucionário.

Recapitulando

1. É um conjunto de ideias que prega a união de uma população culturalmente semelhante em torno de um mesmo Estado. As justificativas para esse ideal de pertencimento podem ser a língua, a religião, a etnia, a história, entre outras.
2. A conquista de diversas regiões da Europa pelo exército de Napoleão gerou um sentimento de revolta entre os povos dominados e a formação de grupos de resistência. Para expulsar os estrangeiros e conquistar a independência, esses povos se uniram e se mobilizaram com base em ideias que despertavam sentimentos nacionalistas.
3. Nas Revoluções de 1848 houve fortalecimento e mobilização mais ativa da classe operária, ao passo que nas de 1830 as reivindicações eram de caráter liberal, de acordo com os interesses da burguesia. As Revoluções de 1848 foram mais radicais, defendendo interesses que não eram compartilhados pela burguesia. Por esse motivo, a burguesia afastou-se dos operários e buscou o restabelecimento da ordem social.

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Por apresentar a formafórma como o conceito de nação foi aplicado e seus desdobramentos nos conflitos do século XIXdezenove, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade EF08HI06ê éfe zero oito agá ih zero seis.

Ampliando: a “construção” dos italianos

“[...]reticências uma identidade nacional italiana podia ser encontrada apenas nas elites urbanas e educadas. Essas falavam italiano e se reconheciam como parte integrante de uma civilização e de uma cultura únicas. Mesmo entre elas havia desconfianças com relação ao novo Estado que surgia, mas havia elementos suficientes para integrar essas pessoas em uma comunidade, imaginária que fosse.

O problema é que, para a esmagadora maioria da população, que vivia no campo, esses conceitos abstratos de ‘civilização italiana’ pouco significavam. Os camponeses e outros extratos inferiores da sociedade não apenas haviam participado relativamente pouco das lutas pela unificação do país, como não se sentiam italianos, mas toscanos, vênetos ou sicilianos. [...]reticências”

BERTONHA, João Fábio. Os italianos. São Paulo: Contexto, 2008. p.página 56. (Coleção Povos e civilizações).

História em construção

1. O nacionalismo pode despertar nas pessoas um sentimento de negação do outro como modo de reafirmar a própria identidade, o que pode ocasionar também um sentimento de superioridade em relação ao diferente, gerando muitos conflitos.
2. Na Europa atual, o nacionalismo exacerbado se manifesta em atitudes xenófobas e racistas contra os imigrantes, que acabam sendo considerados culpados por problemas como a violência, a pobreza e o desemprego dentro das fronteiras nacionais dos países em que vivem.
3. Xenofobia é a aversão a pessoas estrangeiras. A ideia de alguém ser estrangeiro, ou seja, de outro país, só é possível porque se criou a concepção de nação e o discurso nacionalista. Este é utilizado para unificar determinado povo com base em práticas culturais comuns, no idioma e na sua história. Por meio dessa ideologia, cria-se a sensação de identidade coletiva em oposição aos outros, os de identidade distinta (os estrangeiros). Desse modo, com base no discurso nacionalista radical, pessoas que pertencem a um território podem acreditar que os nascidos em outro local não têm o direito de lá permanecer, o que configura o sentimento xenofóbico.

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Por envolver a análise da relação entre o nacionalismo exacerbado e a xenofobia no mundo atual, a seção contribui para o desenvolvimento da Competência específica de Ciências Humanas nº 6 e da Competência específica de História nº 5. Além disso, ao abordar a ligação entre nacionalismo e intolerância, relaciona-se com o tema contemporâneo transversal Diversidade cultural.

Refletindo sobre

Incentive os alunos a identificar contrastes sociais no município onde vivem, que podem se manifestar na coexistência de edifícios e condomínios de classe alta, favelas e bairros pobres; na coexistência de espaços com boa infraestrutura urbana próximo a outros sem saneamento básico; na maior oferta de centros culturais e de serviços de transporte nas áreas centrais e elitizadas do que nos bairros periféricos etc.etcétera

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Por propor uma análise crítica sobre o espaço em que os alunos vivem, solicitando a identificação de contrastes sociais, a atividade se relaciona com o tema contemporâneo transversal Vida familiar e social e contribui para o desenvolvimento das Competências gerais da Educação Básica nº 1 e nº 4, bem como das Competências específicas de Ciências Humanas nº 2 e nº 6 e da Competência específica de História nº 1.

Ampliando: a pobreza de Paris

“Na metade do século [XIXdezenove], após uma epidemia de cólera, vários documentos administrativos municipais são unânimes ao considerar o crescimento desmesurado e caótico da cidade e de sua população como causa das péssimas condições de moradia na parte antiga de Paris. Um observador em 1849 assim descreve a cidade vista do alto de Montmartre: ‘um amontoado de casas desalinhadas encimado por um céu sempre nebuloso, mesmo nos dias mais belos. Somos tomados de um medo súbito, hesitamos em penetrar neste vasto dédalo onde já se acotovelam mais de um milhão de homens, onde o ar viciado de exalações insalubres eleva-se, formando uma nuvem infecta que basta para obscurecer o sol quase por completo. A maioria das ruas desta maravilhosa Paris são na verdade tão somente condutos sujos e sempre úmidos de água pestilenta. Fechadas entre duas fileiras de casas, o sol jamais desce até elas. Uma multidão pálida e doentia transita continuamente por elas, os pés nas águas que escorrem, o nariz no ar infecto e os olhos atingidos a cada esquina pela mais repulsiva sujeira. [...]reticências’”

BRESCIANIBreciani, Maria StellaIstéla. Londres e Paris no século XIXdezenove: o espetáculo da pobreza. São Paulo: Brasiliense, 1992. p.página 75 (Coleção Tudo é história).

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Ao retomar aspectos e impactos da Revolução Industrial, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade EF08HI03ê éfe zero oito agá ih zero três.

Recapitulando

4. O Reino do Piemonte-Sardenha era um dos Estados italianos mais industrializados, onde havia uma burguesia forte e interessada na unificação política. Aliando interesses políticos e econômicos, o reino encabeçou o processo de independência ao combater a dominação austríaca no norte da península e anexar a parte sul desta após a vitória de Garibaldi.
5. A Zollverein foi uma área de livre-comércio criada em 1834 entre os Estados germânicos, sem a participação da Áustria e sob a liderança da Prússia. Por meio dela, a economia prussiana teve forte impulso.
6. O Reino da Prússia era muito próspero e exercia influência política sobre o restante dos reinos germânicos. A unificação contribuiria para o desenvolvimento econômico da região, assim como para o fim do domínio estrangeiro sobre esses territórios. Por isso a Prússia iniciou a luta pela unificação dos Estados germânicos.
7. Por meio de uma guerra contra a França, Bismarckbísmarc incentivou o sentimento nacionalista nos Estados do sul, que o apoiaram para eliminar qualquer possível influência dos franceses na região. Com a vitória, os Estados do sul foram incorporados à Alemanha, assim como as regiões francesas da Alsácia e da Lorena.
8. A principal conquista foi a legalização dos sindicatos, pois, por meio dessas associações, os operários puderam legalmente organizar suas lutas, o que impulsionou as mobilizações por direitos trabalhistas, melhorando, em parte, a vida das camadas populares.

Ampliando: a utopia de Fourierfurriê

“Em que pese a dimensão de devaneio, sonho e especulação que hoje nos parecem pautar a utopia proposta por Fourierfurriê, a verdade é que esse francês nascido em Besançonbêzançôn via a sociedade por ele idealizada como um empreendimento concreto a ser realizado. O grande fundador desta utopia que seria uma sociedade formada por ‘falanstérios’, neste caso, deveria ser ele mesmo – de modo que aqui não mais se tratava de mero esforço de imaginação que remetia a um fundador imaginário, tal como havia ocorrido com diversas das utopias dos séculos anteriores, a exemplo da Utopia de Thomas MorusTômas Morus (1478-1535) ou da Nova Atlântida de Francis Baconfrâncis bêicon (1561-1626). Em contraste com essas utopias dos períodos renascentista e clássico, a utopia de Fourierfurriê anunciava finalmente um fundador concreto, embora um fundador histórico que, não obstante, não logrou obter qualquer sucesso efetivo na implantação do seu projeto. Assim, o Fourierfurriê que pretendia se tornar o fundador efetivo de uma nova sociedade acaba se transformando em mais um fundador imaginário como os outros – um personagem engolido pela sua própria utopia não realizada. A nova era por ele anunciada não se realiza sequer como um projeto malsucedido, tal como ocorre com as colônias fundadas por Robert OwenRóbert Ôuen na Inglaterra e Estados Unidos.”

BARROS, José D’Assunçãodassunção. Os falanstérios e a crítica da sociedade industrial: revisitando Charles Fourierchárles furriê. Mediações, Londrina, v.volume 16, n.número 1, p.página 245, jan.-jun.janeiro a junho 2011.

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1. A charge e a tirinha aludem à existência de diferentes classes sociais.
2. Tanto a charge como a tirinha tratam da teoria da luta de classes, elaborada por Marxmárks e Engelsênguels. De acordo com essa teoria, haveria um constante conflito entre grupos sociais antagônicos: a burguesia e o proletariado. O fim dessa luta levaria à construção de uma sociedade sem classes e à implantação do comunismo. Na charge, os capitalistas estão representados na figura do homem sentado em uma poltrona, enquanto o proletariado são os homens que o sustentam. Já na tirinha, Mafalda pergunta a seu colega Felipe se as classes sociais acabaram quando ele afirma que “as classes” haviam acabado. Contudo, mostrando-se chocada por ter acreditado que o comunismo havia sido atingido, ela descobre que foram apenas as classes da escola que foram eliminadas.

Ampliando: o Manifesto Comunista

“Pela exploração do mercado mundial, a burguesia imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países. [...]reticências As velhas indústrias nacionais foram destruídas e continuam a ser destruídas diariamente. São suplantadas por novas indústrias, cuja introdução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas – indústrias que já não empregam matérias-primas nacionais, mas sim matérias-primas vindas das regiões mais distantes, e cujos produtos se consomem não somente no próprio país, mas em todas as partes do mundo. [...]reticências No lugar do antigo isolamento de regiões e nações autossuficientes, desenvolvem-se um intercâmbio universal e uma universal interdependência das nações. E isso se refere tanto à produção material como à produção intelectual. [...]reticências

[...]reticências Sob pena de ruína total, ela obriga todas as nações a adotarem o modo burguês de produção, constrange-as a abraçar a chamada civilização, isto é, a se tornarem burguesas. Em uma palavra, cria um mundo à sua imagem e semelhança.”

MARX, Karl; ENGELS, FriedrichMarcs, Cál; Ênguels, Frídrichi. Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo Editorial, 2007. p.página 43-44. (Coleção Marxmárks & Engelsênguels).

Marxistasmarquicístas versusvérçus anarquistas

Sugerimos reforçar para os alunos que, apesar de criticarem a ordem estabelecida, marxistasmarquicístas e anarquistas divergiam sobre a existência do Estado. Enquanto o primeiro grupo acreditava na instauração de um governo dos trabalhadores como transição para o comunismo, o segundo defendia o fim das instituições e a livre associação dos indivíduos.

Atividade complementar

Converse com os alunos sobre as diferentes formasfórmas de reivindicação adotadas por grupos sociais, movimentos, sindicatos ou partidos políticos. Escrever um manifesto é uma delas. O manifesto tem a função de denunciar um problema por meio de uma declaração pública, que apresenta os motivos do protesto e as intenções das pessoas que dele participam.

Organize a turma em grupos e proponha a confecção de um manifesto coletivo seguindo o roteiro.

• Escolher o motivo do manifesto (os alunos podem selecionar um problema relacionado à comunidade escolar, à comunidade local ou a toda a sociedade).
• Definido o problema, os grupos devem realizar uma pesquisa para fundamentar as denúncias a serem feitas no manifesto e argumentar em favor das proposições a serem apresentadas. Se possível, sugira a realização de uma pesquisa de campo para coletar dados sobre o problema selecionado.
• Auxilie-os a analisar e interpretar os dados pesquisados, ressaltando a importância do fornecimento de informações confiáveis.
• Solicite, na sequência, que reflitam em conjunto sobre possíveis soluções para o problema identificado. Peça-lhes também que valorizem nesse momento o compartilhamento de ideias e propostas que contribuam para a construção de um convívio social mais justo.
• O manifesto deve conter: título, identificação e análise do problema, argumentos que fundamentem o ponto de vista de seus autores, local, data e assinaturas dos autores. Os alunos podem, inclusive, colhercolhêr assinaturas de outras pessoas que simpatizem com a causa apresentada.
• Peça, por fim, a um representante de cada grupo que leia para a classe o manifesto redigido pela equipe.

Ao exigir que os alunos selecionem uma situação-problema e apontem soluções para ela por meio da redação de um manifesto, a atividade favorece o protagonismo e a cooperação entre eles.

Recapitulando

9. Saint-Simonsãn simôn defendia a construção de uma sociedade dividida entre sábios, proprietários e pessoas que não possuíam bens. Os sábios deveriam governar voltando-se para as questões sociais. Já Robert OwenRóbert Ôuen defendia a implantação de mudanças nas fábricas para melhorar a vida dos trabalhadores, construindo uma comunidade cooperativa que dividisse os lucros entre si. Por sua vez, Charles Fourierchárles furriê propunha a criação de falanstérios, comunidades autônomas e autossuficientes que viveriam em harmonia por meio do trabalho comunitário e da partilha dos bens produzidos entre seus membros.
10. Os anarquistas e os marxistasmarquicístas fizeram críticas semelhantes ao capitalismo. Contudo, propunham métodos diferentes para superar a sociedade capitalista. Para os marxistasmarquicístas, os operários deveriam se organizar em um partido político revolucionário e tomar provisoriamente o Estado, dando a ele uma orientação socialista até que sua existência se tornasse desnecessária. Os anarquistas, por sua vez, combatiam tanto a existência do Estado quanto a participação nas instituições por meio de partidos políticos. Por isso, defendiam a ação direta dos trabalhadores por meio de organismos próprios, como os sindicatos.
11. A Comuna de Paris (18 de março a 28 de maio de 1871) consistiu em um governo popular, com caráter socialista, instaurado para atender sobretudo às aspirações da classe trabalhadora. O governo da comuna tomou medidas populares, que rompiam com as bases do Estado burguês, como a criação de organismos operários que assumiam as funções administrativas, além de estabelecer o congelamento dos preços de gêneros de primeira necessidade e dos aluguéis. Algumas creches e escolas foram fundadas para os filhos dos trabalhadores, e o comando das fábricas abandonadas passou para os operários. Já os movimentos de 1830 e 1848, apesar da ampla participação popular, foram controlados pela burguesia e apresentavam uma orientação nacionalista e liberal, defendendo bandeiras como a liberdade política e econômica; por isso, acabaram privilegiando os interesses da burguesia, das camadas médias urbanas e de alguns setores da nobreza e do clero.

As barricadas da comuna e a reurbanização de Paris

Comente com os alunos que a construção de barricadas pela população durante a comuna foi um dos motivos que contribuíram para a reurbanização de Paris no final do século XIXdezenove. Entre outros projetos, foram construídas largas avenidas que permitiriam que as tropas do governo se deslocassem sem empecilhos, para manter a “ordem”, em caso de protestos, e que dificultariam a construção de barreiras, como as barricadas.

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Por comparar eventos ocorridos simultaneamente em espaços diferentes, o conteúdo desta seção contribui para o desenvolvimento da Competência específica de Ciências Humanas nº 5.

Enquanto isso...reticências

1. Os falansterianos do Saí idealizavam uma vida comunitária perfeita e equilibrada, assim como teorizava Fourierfurriê. A liberdade seria total, todos trabalhariam e dividiriam os frutos do trabalho. Não haveria conflitos, porque todas as atividades no falanstério teriam por finalidade criar ambientes harmoniosos e festivos.
2. Espera-se que os alunos utilizem informações do texto para justificar suas hipóteses. O governo imperial ajudou materialmente os falansterianos, oferecendo as terras do Saí para a construção da comunidade e dinheiro para garantir a subsistência da comunidade até que ela pudesse se autossustentar. D.dona Pedro IIsegundo provavelmente ficou entusiasmado com a possibilidade de a experiência utópica realizar-se no Brasil, pois havia uma expectativa europeia em relação a esse empreendimento. Além disso, predominava nas elites brasileiras a ideia de que o branqueamento da população ajudaria o país a progredir.

Atividade complementar

Leia com os alunos o trecho da obra Os miseráveis, de VictorVítor Hugo, publicada em 1862.

“Nesse bairro existem dolorosas misérias escondidas sob o teto dos casebres; lá existem também inteligências ardentes e raras. [...]reticências

O bairro Saint-Antoine tinha ainda outros motivos para revoltas, pois recebera o contragolpe das crises comerciais, das falências, das greves, da falta de trabalho, inerentes aos grandes acontecimentos políticos. Em tempos de revolução, a miséria é, ao mesmo tempo, causa e efeito. Os golpes que ela dá prejudicam-na ainda mais. Essa população, cheia de virtude altiva, capaz do mais alto grau de entusiasmo, sempre pronta a pegar em armas, pronta às explosões, irritada, profunda, minada, parecia não esperar senão a queda de uma fagulha. Todas as vezes que certas centelhas flutuam no horizonte, impelidas pelo vento dos acontecimentos, ninguém pode deixar de se preocupar com o bairro Saint-Antoine e com o terrível acaso que colocou às portas de Paris esse paiol de pólvora de sofrimento e de ideias.”

HUGO, VictorVítor. Os miseráveis. São Paulo: Cosac & Naifycosáqui e naífi, 2002. v.volume 2. p.página 257-258.

Peça aos alunos que identifiquem as características do Romantismo nesse trecho (a descrição subjetiva e repleta de sentimentos de sofrimento, de ira e de dramaticidade revela características do movimento romântico europeu). Na sequência, pergunte a eles de que formafórma o trecho se relaciona às ondas revolucionárias europeias da primeira metade do século XIXdezenove. Explique que o trecho relata a condição de vida precária dos trabalhadores que os levou a lutar por direitos, relacionando-se, assim, ao contexto que acarretou a eclosão das Revoluções de 1820, 1830 e 1848.

O Realismo no Brasil

O Realismo no Brasil também tem relação com o seu contexto de produção: o protagonismo da burguesia e a criação e valorização de um modo de vida e de um imaginário próprios dessa classe, que frequentemente eram criticados pela arte realista.

Ampliando: Memórias póstumas de Brás Cubas, romance realista

“A partida de Virgília deu-me uma amostra da viuvez. Nos primeiros dias meti-me em casa, a fisgar moscas, como Domiciano, se não mente o Suetônio, mas a fisgá-las de um modo particular: com os olhos. [...]reticências Era tudo: saudades, ambições, um pouco de tédio, e muito devaneio solto. Meu tio cônego morreu nesse intervalo; idem, dous primos. Não me dei por abalado; levei-os ao cemitério, como quem leva dinheiro a um banco. Que digo? Como quem leva cartas ao correio: selei as cartas, meti-as na caixinha, e deixei ao carteiro o cuidado de as entregar em mão própria. Foi também por esse tempo que nasceu minha sobrinha Venância, filha do Cotrim, morriam uns, nasciam outros: eu continuava às moscas.”

ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Penguin Companhia das Letras, 2014. p.página 282.

Recapitulando

12. O Romantismo na Europa caracterizou-se pela valorização da imaginação, da emoção, da subjetividade e da contemplação da natureza, apresentando obras que expressavam dramaticidade, paixão, sonho e furor revolucionário. Esse movimento artístico esteve diretamente relacionado às revoluções europeias do século XIXdezenove na medida em que os românticos buscaram representar o contexto conturbado da época, contemplando temas sociais e as pessoas comuns, bem como apresentar um olhar e uma estética ligados às mudanças que presenciaram.
13. Os artistas realistas mantiveram a preocupação dos românticos em tratar de pessoas comuns e de temas contemporâneos a eles. Muitos refutaram os padrões da arte neoclássica, mas procuraram fazer isso sem a emotividade nem a subjetividade do Romantismo. Buscaram apresentar os acontecimentos e as pessoas de modo objetivo e o mais fiel possível à realidade.

Conexão

Baseada em um romance homônimo, a obra de Jean Vautrinjân votrân e Jacques Tardijaque tardí é capaz de transpor para a linguagem gráfica das histórias em quadrinhos, típica das culturas juvenis, uma história fascinante sobre a luta de homens e mulheres comuns pela liberdade. Para criar os desenhos que acompanham um texto meticuloso a respeito da Comuna de Paris, Jacques Tardijaque tardí realizou uma ampla pesquisa documental. Ele recriou o ambiente das ruas, das assembleias e das reuniões com base em fontes deixadas pelos próprios communards, em uma narrativa leve, que pode despertar o interesse dos alunos por esse evento que marcou a história do Ocidente.

Atividades

1. 1. Os Estados do norte representados na cor roxo-escura foram conquistados pelas tropas de Bismarckbísmarc por meio de uma guerra contra a Áustria, em 1866. Já os Estados do sul, representados em amarelo, foram unificados por meio de outra guerra, dessa vez contra a França (1870-1871). As tropas de Bismarckbísmarc também saíram vitoriosas em ambos os conflitos.
   2. As regiões representadas pela cor laranja são a Alsácia e a Lorena, que pertenciam à França e abrigavam ricas reservas de ferro e carvão, importantes para a industrialização da Alemanha.
   3. A linha vermelha delimita o território da Alemanha unificada.
2. 1. A Comuna de Paris está diretamente relacionada à Guerra Franco-Prussiana. Após a derrota francesa no conflito, os prussianos iniciaram o cerco à capital francesa. Enquanto o governo da Terceira República ficou paralisado diante dos invasores, a população de Paris resistiu, proclamando a Comuna de Paris.
   2. A defesa de uma revolução social que eliminaria a propriedade privada, o governo e o Estado, e que inauguraria uma sociedade de indivíduos livres, capazes de se autogovernar.
   3. Concordâncias: o caráter precursor da Comuna de Paris para os movimentos revolucionários posteriores; a defesa de uma revolução que aboliria a propriedade privada. Divergências: os marxistasmarquicístas defendem a supressão do governo e do Estado burguês por meio de uma revolução dos trabalhadores, que teria a tarefa de instaurar um Estado do proletariado. A ditadura do proletariado, segundo o marxismomarquicísmo, é uma etapa necessária para destruir o capitalismo e abolir as diferenças de classe. O florescimento de uma sociedade comunista, sem a existência de classes e sem Estado, seria a última etapa da revolução realizada pelo proletariado.

3. A obra representa a cena com grande dramaticidade ao ressaltar os sentimentos das pessoas, como medo, dor, angústia, preocupação, sofrimento e esperança. Esses aspectos são reforçados pelo contraste de luz e sombra, pela desordem da cena, pela composição dos corpos amontoados e pelas expressões e ações dos personagens. Outra característica do Romantismo é a escolha de temas contemporâneos à época – no caso, o naufrágio do navio Medusa.

Interdisciplinaridade

A atividade desenvolve habilidades do componente curricular arte, especificamente as habilidades EF69AR01ê éfe seis nove á érre zero um, EF69AR04ê éfe seis nove á érre zero quatro, EF69AR31ê éfe seis nove á érre três um e EF69AR33ê éfe seis nove á érre três três.

4. Entre os principais problemas enfrentados pelos trabalhadores atualmente estão o excesso de horas trabalhadas (por meio de horas extras, por exemplo), a falta de empregos que os obriga a se dedicar a atividades de trabalho informal (sem vínculo empregatício e direitos trabalhistas), a precarização do trabalho por meio da exigência de uma produtividade que prejudica a qualidade de vida e a saúde física e mental, falta de tempo para o lazer, baixos salários, entre outros. As soluções para esses problemas são amplas e complexas e envolvem ações do Estado, como a preservação e criação de leis que protejam os direitos do trabalhador, além do estabelecimento de uma mentalidade social que valorize o bem-estar humano em detrimento do lucro das empresas.

A atividade favorece o desenvolvimento de habilidades de construção de questionários para entrevista, de análise crítica e de proposição de soluções para situações-problema de maneira autônoma.

BNCCBê êne cê cê

Ao propor uma investigação sobre a vida dos trabalhadores atualmente, a atividade se relaciona com o tema contemporâneo transversal Trabalho e contribui para o desenvolvimento da Competência geral da Educação Básica nº 2 e da Competência específica de História nº 1.

5. Alternativa b.