CAPÍTULO 3 A Primeira Guerra Mundial
Provavelmente, quando você ouve ou lê a palavra guerra, pensa nas batalhas, nos soldados, nas armas e nas vítimas, entre outras coisas relacionadas aos seres humanos. Mas você já parou para pensar no que acontece com os animais em períodos de conflito?
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), também chamada de Grande Guerra, cavalos foram utilizados nas linhas de combate e no transporte de armas, de soldados e de alimentos.
A historiadora estadunidense Dín Têmpést pesquisou esse tema e afirmou que a França e o Reino Unido utilizaram, respectivamente, 1,5 milhão e 1,2 milhão de cavalos durante o conflito. Estima-se que cêrca de 8 milhões de cavalos morreram nos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial.
A pesquisadora também afirma que os cavalos ajudaram os soldados a manter sua humanidade e sensibilidade em meio à brutalidade da guerra. Há cartas e relatos que demonstram a relação de companheirismo entre os combatentes e os animais, considerados entes queridos.
- O que você sabe sobre a Primeira Guerra Mundial?
- Além de cavalos, pombos e cães foram empregados no suporte aos conflitos durante a Primeira Guerra Mundial. Você considera legítimo o uso de animais em campos de batalha? Justifique.
- Atualmente, antes de novos medicamentos, cosméticos, entre outros produtos serem consumidos por humanos, muitas empresas encomendam testes laboratoriais que utilizam animais como cobaias. O que você pensa sobre isso? Discuta o tema com os colegas.
Um período de otimismo e tensão
Na Europa e nos Estados Unidos, o final do século dezenove foi marcado pelo crescimento dos centros urbanos, pelas invenções tecnológicas que acompanharam o progresso da ciência e por novas fórmas de expressão artística (consulte a seção “Saiba mais”). Além disso, a elite urbana passou a adotar hábitos como o de frequentar cafés, bailes, teatros e parques. Esses locais de entretenimento e de sociabilidade tornaram-se moda e conferiram prestígio social às pessoas que os frequentavam.
Nesse cenário repleto de novidades, o século vinte era aguardado com bastante otimismo. A cidade de Paris, na França, tornou-se o centro da vida cultural do Ocidente, irradiando modas, ideias e costumes. As elites europeias e estadunidenses procuravam seguir os padrões da capital francesa, incorporando as tendências arquitetônicas, científicas, artísticas e de comportamento da burguesia parisiense.
Esse período de otimismo e progresso na Europa ficou conhecido como Belle Époque (“Bela Época”). O termo começou a ser usado depois da Primeira Guerra Mundial para designar o período entre 1871 e 1914. Após a guerra, o mundo observava o panorama de destruição que o conflito havia deixado e se lembrava, com nostalgia, desses anos de otimismo.
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As artes na Belle Époque
Na passagem do século dezenove para o século vinte, grupos que se autointitulavam “vanguarda” procuravam novas expressões artísticas. O Impressionismo destacou-se ao incorporar várias características vanguardistas. Os pintores impressionistas valorizavam o jôgo de luzes e sombras, alteravam o tom das cores de acordo com a luminosidade e eliminavam a nitidez dos contornos. No lugar da objetividade da representação realista, eles procuravam registrar os tons que a paisagem adquiria ao refletir a luz natural em certos momentos.
As obras desse movimento foram muito criticadas em diversas exposições de arte. Contudo, com o tempo, os críticos de arte passaram a reconhecer o caráter inovador das obras impressionistas e a importância de sua proposta.
A economia europeia
Apesar dos avanços científicos e tecnológicos e da expansão urbana na Europa no fim do século dezenove, silenciosamente ia se instalando uma persistente e assustadora depressão econômica. Economistas, industriais e proprietários de terra europeus lamentavam a queda dos preços e a diminuição dos lucros do comércio causadas pelos graves problemas que atingiam a produção agrícola.
O preço do trigo no mercado, por exemplo, correspondia, em 1894, a um terço do alcançado em 1867. A produção vinícola na França, afetada por pragas nas plantações, diminuiu dois terços de 1875 a 1889. Famintos e sem terras, camponeses rebelaram-se em vários locais (como na Irlanda e na Sicília) e migraram para as cidades ou para outros países, reduzindo ainda mais a capacidade de produção do setor agrícola.
Nesse cenário, os governos da maioria das potências europeias adotaram medidas protecionistas para valorizar os produtos nacionais e garantir seus preços. Pressionados pelos industriais e por grandes proprietários de terra, eles criaram mecanismos para encarecer os produtos estrangeiros, assegurando o mercado interno para produção agrícola e industrial local.
Na Europa, os alemães e os italianos foram os primeiros a adotar tarifas protecionistas para seus produtos. Na Alemanha, a associação dessas medidas com outras ações de estímulo econômico resultou em forte crescimento industrial, sem paralelo até aquele momento.
Assim, no final do século dezenove, os países industrializados passaram a disputar mercados consumidores para seus produtos e áreas em que havia abundância de matérias-primas e fontes de energia, estabelecendo domínios coloniais na Ásia e na África. Essas disputas prenunciavam conflitos que extrapolariam o campo econômico. Assim, em meio à euforia da Belle Époque, havia certa tensão.
Responda em seu caderno.
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• O autor da charge apoia ou critica a política imperialista das potências europeias? Justifique.
Um cenário explosivo
No contexto marcado pela disputa de mercados e pela crescente rivalidade entre as potências europeias, formaram-se movimentos nacionalistas que acirraram as tensões internas na Europa e contribuíram para a eclosão da Primeira Guerra Mundial: o pan-eslavismo e o pangermanismo.
Parte das tensões nacionalistas às vésperas da guerra concentrava-se no Império Austro-Húngaro, um imenso território governado pela dinastia austríaca dos Habsburgo. O foco das lutas pela independência nacional situava-se na Península Balcânica (consulte a seção “Saiba mais”), região em que povos de origem eslava lutavam contra o domínio austríaco e onde se desenvolveu, no início do século dezenove, o pan-eslavismo, um movimento pela união de todos os povos de origem eslava da Europa Oriental.
Como resultado do pan-eslavismo, no final do século dezenove, a Sérvia passou a defender a criação de um Estado eslavo sob sua direção, chamado de Grande Sérvia. O projeto contava com o apôio russo porque favoreceria seu acesso ao Mar Mediterrâneo através do Mar Adriático.
Porém, ao anexar a Bósnia-Herzegovina, em 1908, o Império Austro-Húngaro frustrou o projeto sérvio de criar um Estado eslavo. Com isso, a Sérvia adotou uma postura revanchista em relação aos austríacos, acirrando o nacionalismo eslavo, o que instaurou um clima político explosivo.
Simultaneamente, expandia-se pela Europa Central o pangermanismo, que propunha a reunião dos países de origem e língua germânicas da Europa em um único Estado. Encabeçado pela Alemanha, esse movimento ganhou fôrça sobretudo após a unificação desse país, concluída em 1871. A partir de então, a ideia de unidade identitária e territorial germânica difundiu-se pelo Império Austro-Húngaro e por partes do Império Russo.
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A Península Balcânica
Também chamada de Bálcãs, a Península Balcânica é uma região do sul da Europa correspondente aos atuais territórios da Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Sérvia, Montenegro, Albânia, Macedônia do Norte, Grécia, Turquia (parte europeia), Bulgária e sul da Romênia. cossôvo declarou independência em 2008, mas a Sérvia e grande parte da comunidade internacional ainda não o reconhecem como Estado soberano. Voivodina, por sua vez, é uma província autônoma da Sérvia. O nome da península se deve aos Montes Bálcãs, que formam uma grande cordilheira situada a nordeste da região.
A região dos Bálcãs (2019)
Fonte: FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. quinta edição São Paulo: Moderna, 2019. página 89.
As alianças entre as potências imperialistas
As ambições imperialistas das grandes potências e os movimentos nacionalistas dos Bálcãs propiciaram um espaço de forte tensão na Europa, favorecendo a formação de alianças entre países com interesses comuns.
Desde sua unificação, a Alemanha apresentava um crescimento econômico acelerado. Para continuar se desenvolvendo, o país precisava de mercados consumidores que absorvessem sua produção, além de novos fornecedores de matérias-primas. Por isso, o recém-criado Estado alemão formou um grande exército com o objetivo de expandir seu território e suas áreas de influência. Apesar disso, na corrida por domínios coloniais, a liderança ficou com a França e o Reino Unido.
Diante da crescente rivalidade entre essas potências, a Alemanha estabeleceu uma aliança preventiva com o Império Austro-Húngaro, em 1879, apoiada no pangermanismo. Três anos depois, a Itália uniu-se aos dois Estados, formando a Tríplice Aliança. Como a Alemanha, a Itália foi unificada tardiamente, e ficou em desvantagem na divisão do mundo colonial.
Do outro lado, estavam Reino Unido e França, as duas maiores potências imperialistas, com vastos domínios coloniais na África e na Ásia. Por terem interesses econômicos e políticos comuns, contrários ao crescimento alemão, em 1904 os dois países firmaram um pacto de colaboração. A Rússia, que tinha grandes pretensões expansionistas e também era contrária à expansão alemã, uniu-se às duas potências, em 1907, formando a Tríplice Entente.
Àquela altura, os acordos já não eram apenas políticos. Eles preparavam as potências para uma guerra que a todos parecia inevitável.
Responda em seu caderno.
Recapitulando
- Responda às questões sobre a Belle Époque.
- Por que o período recebeu esse nome?
- Que características do período indicavam uma realidade oposta à sugerida pela expressão Belle Époque?
- O pan-eslavismo e o pangermanismo marcaram o contexto político e cultural da Europa às vésperas da guerra.
- Qual era o propósito desses movimentos?
- Quais eram suas semelhanças?
- De que maneira eles contribuíram para o início da Primeira Guerra Mundial?
- Quais Estados compunham a Tríplice Aliança? E a Tríplice Entente?
A evolução da indústria da morte
Além da formação de alianças, o grande crescimento da indústria bélica europeia era um indício de que um conflito estava próximo.
No início do século vinte, já estavam em uso muitas tecnologias que revolucionaram a vida humana, como a fotografia, o cinema, o rádio, o telefone, o avião e o automóvel. Mas a mesma ciência que tornou possível esse desenvolvimento tecnológico, criou, na mesma época, armamento bélico como metralhadoras, bombas, lança-chamas, gases tóxicos e tanques de guerra.
O desenvolvimento da indústria bélica foi financiado pelas grandes potências europeias, interessadas em garantir seus mercados e suas possessões coloniais. Assim, a Europa vivia um período de paz aparente, enquanto as grandes nações armavam-se à espera da guerra. Por isso, esse período ficou conhecido como Paz Armada.
“ reticências às vésperas da Primeira Guerra Mundial, quase todo europeu qualificado do sexo masculino em idade militar tinha uma carteira de identidade militar entre seus papéis pessoais, informando onde apresentar-se em caso de mobilização geral. Os almoxarifados dos regimentos estavam abarrotados de uniformes e armas sobressalentes para os reservistas; até mesmo os cavalos nos campos das fazendas estavam listados para serem requisitados em caso de guerra.”
quiigan djón. Uma história da guerra. São Paulo: Companhia de Bolso, 2006. página 43-44.
Nesse contexto, as nações imperialistas produziram grandes esquadras de navios encouraçados, armados com canhões de longo alcance. Os submarinos foram projetados para lançar torpedos e os aviões foram equipados com bombas e metralhadoras. O aprimoramento tecnológico também foi aplicado às armas portáteis, como metralhadoras, granadas, morteiros e pistolas semiautomáticas, e às armas químicas (consulte a seção “Saiba mais”).
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As armas químicas e sua proibição
Os alemães foram os primeiros a utilizar bomba de gás de cloro contra tropas inimigas, em 1915, durante a Primeira Guerra Mundial. Estima-se que, no ataque, cêrca de 5 mil homens tenham morrido asfixiados em apenas dez minutos. A descoberta do gás mostarda, no ano seguinte, tornou a guerra ainda mais devastadora. Em contato direto com a pele, esse gás provocava graves queimaduras, além de matar em poucos minutos se inalado em grande quantidade.
As armas químicas continuaram sendo utilizadas ao longo do século vinte e só foram proibidas a partir de abril de 1997, quando entrou em vigor a Convenção de Armas Químicas. Os países que assinaram a convenção se comprometeram a destruir seus arsenais químicos até 2012. Em 2022, 193 países seguiam o tratado. Entre os que não aderiram ao acordo estavam Coreia do Norte, Egito, Israel e Sudão do Sul.
Refletindo sobre
As armas químicas e as armas nucleares têm grande poder de destruição em massa. Em sua opinião, deve haver regulamentação internacional sobre a produção de armas desse tipo? Por quê? Argumente para defender sua posição.
O início da guerra
Em 1914, um novo acontecimento na região dos Bálcãs aprofundou o clima de tensão. No dia 28 de junho daquele ano, o arquiduque austríaco Francisco Ferdinando, herdeiro da coroa do Império Austro-Húngaro, visitava a cidade de saraiêvo, na Bósnia. O objetivo da visita era demonstrar aos rebeldes bósnios quem dava as ordens na região. No entanto, o resultado foi outro: o arquiduque e sua esposa foram assassinados por Gravrílo Príncip, um estudante do movimento nacionalista sérvio-bósnio.
Depois de um mês de pressões diplomáticas, o Império Austro-Húngaro declarou guerra à Sérvia. A Rússia, aliada da Sérvia, reagiu mobilizando suas tropas para a região. A França, que integrava o mesmo bloco da Rússia, também mobilizou suas tropas. A Alemanha, aliada do Império Austro-Húngaro, declarou guerra à Rússia e à França.
Marchando em direção ao território francês, os alemães ocuparam a Bélgica e Luxemburgo, que até aquele momento eram países neutros. Essa expansão da Alemanha violava o Tratado de Londres, de 1839, que comprometia seus signatários a reconhecer a independência da Bélgica e de Luxemburgo e a garantir sua neutralidade em caso de invasões externas. A investida da Alemanha contra esses países foi a justificativa para o Reino Unido entrar no conflito.
Em 1915, a Itália decidiu lutar ao lado da Entente após um acordo – feito com Reino Unido, França e Rússia – que lhe garantia uma compensação territorial e financeira. Por isso, naquele ano, declarou guerra ao Império Austro-Húngaro e, no ano seguinte, à Alemanha.
Já o Império Turco-Otomano, com fortes interesses na região dos Bálcãs, aliou-se à Tríplice Aliança. Na Ásia, o Japão juntou-se aos Aliados, como também passaram a ser chamados os países da Entente. A guerra tinha se generalizado.
Responda em seu caderno.
Recapitulando
- O que foi a Paz Armada?
- Identifique o contexto pelo qual cada um destes países entrou na Primeira Guerra Mundial.
- Rússia.
- Itália.
- Alemanha.
- Império Austro-Húngaro.
- França.
- Reino Unido.
A propaganda de guerra
Com o conflito declarado, as nações beligerantes envolvidas precisavam conquistar o apôio da população para o esfôrço de guerra. Para isso, investiram muito na propaganda nacionalista, por meio de fotografias, pôsteres e cartazes, que se tornaram os principais instrumentos da campanha oficial a favor da guerra.
Com a propaganda nacionalista, as potências pretendiam convocar voluntários para as equipes médicas e levantar recursos para as campanhas militares. Nos materiais produzidos, geralmente se apelava para a emoção e eram relembrados acontecimentos da história dos países que alimentavam o fervor patriótico. Esse efeito era potencializado pela linguagem utilizada: em pequenas frases impactantes, procurava-se construir a identificação do indivíduo com aquilo que se queria comunicar. Dessa fórma, buscava-se dialogar diretamente com o povo, seduzindo-o e transmitindo uma mensagem de unanimidade nacional, ou seja, a de que todos concordavam com o esfôrço de guerra.
No Reino Unido, a propaganda foi bastante significativa. Em 1914, mesmo sendo o maior império transoceânico do mundo, o país tinha apenas um exército profissional e não adotava uma política de alistamento militar, como a França e a Alemanha. Por isso, o govêrno britânico adotou algumas estratégias publicitárias, como a utilização de cartazes de convocação durante todo o conflito e o tema recorrente da ameaça de invasão da ilha pela Alemanha.
Responda em seu caderno.
Recapitulando
6. Que estratégia os países participantes do conflito empregaram para garantir o apôio da população ao esfôrço de guerra?
A expansão do conflito
A Primeira Guerra Mundial estendeu-se por um imenso território e foi travada em diversas frentes de batalha. Nas fronteiras entre a França, a Alemanha e a Bélgica ficava a Frente Ocidental. Na Frente Oriental combatiam a Rússia, a Alemanha e o Império Austro-Húngaro. Na Frente dos Bálcãs, onde se iniciou a guerra, lutavam a Sérvia, a Romênia e a Grécia, pela Tríplice Entente, e o Império Austro-Húngaro, o Império Turco-Otomano e a Bulgária, pela Tríplice Aliança. Na fronteira da Áustria com a Itália formou-se a Frente Alpina.
No Oriente Médio, britânicos e turcos guerrearam na Síria, na Península Arábica e na Palestina. Na África, as operações tiveram como centro a África Oriental Alemã (atuais Tanzânia, Ruanda e Burundi). Nos prolongados combates travados nessa região, os alemães, sob o comando do coronel Pól Êmil fon Léto Vôobéc, não perderam nenhuma batalha. Por fim, boa parte do Oceano Atlântico e do Mar Mediterrâneo também foi tomada pela chamada guerra marítima.
Na Frente Ocidental, depois de invadir a Bélgica e Luxemburgo, o exército alemão planejava entrar na França e marchar até a capital, Paris. Com o apôio britânico, os franceses conseguiram deter o avanço alemão. Com isso, foi estabelecida uma guerra de posições, marcada por lutas em trincheiras. Na Frente Oriental, em que a área do conflito era mais ampla, as batalhas aconteciam de fórma direta. Nesse lado da guerra, a Alemanha conseguiu vitórias importantes sobre os russos. Na Ásia, porém, os alemães perderam para os japoneses vários territórios, como Qingdao, na China, e as Ilhas Carolinas e Marshall, no Oceano Pacífico.
Alianças e frentes de combate na Primeira Guerra Mundial
Fontes: CHALIONDE, Gerrádi; RAGEÚ, Jean Piérre. Atlas stratégique. Paris: compléxe, 1988. página 34; Enciclopédia Britânica DO BRASIL. Atlas histórico. Barcelona: Marin, 1997. página 178.
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O genocídio armênio
Em 1913, o grupo político Jovens Turcos tomou o poder no Império Otomano objetivando “turquinizar” os povos subjugados e exterminar os armênios, que eram vistos como “uma praga”, uma ameaça à soberania nacional, pois lutavam havia décadas para ter direitos e autonomia. Com a Primeira Guerra Mundial, os Jovens Turcos viram uma oportunidade para concretizar seus ideais. O pretexto foi uma derrota do império para os russos, que teriam sido ajudados pelos armênios. Em 1915, os turcos enviaram os armênios aos “batalhões de trabalho” em áreas desérticas, onde viviam em condições deploráveis. Muitos morriam ou eram assassinados no caminho. Historiadores estimam que cêrca de 1,5 milhão de armênios tenham sido mortos. Até hoje, a Turquia não reconhece esse genocídio.
A guerra de trincheiras
As trincheiras eram valas cavadas na terra em que os soldados se protegiam das investidas dos inimigos e aguardavam a próxima oportunidade de atacar. Nelas, os soldados podiam atirar contra o inimigo e ter alguma segurança para se movimentar durante os combates. Essa estratégia de guerra foi usada pela primeira vez na Guerra Civil Americana, entre 1861 e 1865.
Na Primeira Guerra Mundial, as trincheiras começaram a ser construídas em setembro de 1914, quando os alemães foram barrados pelos franceses. O exército alemão, que não queria retroceder, também utilizou trincheiras para aguardar uma nova oportunidade para atacar a França.
No decorrer da guerra, as trincheiras transformaram-se na principal estratégia militar, especialmente da Frente Ocidental. O sistema alemão de trincheiras era o mais sofisticado. Em pouco tempo, elas se estenderam do sudeste da França, na fronteira com a Alemanha e a Suíça, até a costa norte, na fronteira com a Bélgica. Os soldados passavam a maior parte do tempo nessas valas estreitas e úmidas e, por isso, muitos adoeciam.
Leia o texto sobre algumas dificuldades vivenciadas pelos soldados nas trincheiras.
“Quando o solo estava molhado, era impossível se deitar – então os soldados tinham de dormir sentados, encostados uns nos outros. reticências Mergulhados no lodo, os soldados desenvolviam uma doença que ficou conhecida como ‘pé de trincheira’: a umidade deixava os pés azulados ou vermelhos, cheios de bolhas e úlceras, que muitas vezes acabavam em gangrena e amputação. reticências Havia uma praga adicional: os piolhos. Amontoados e com pouca higiene, os soldados não tinham como evitar a infestação. E os problemas não se resumiam à coceira das picadas. [A] bactéria Bartonéla cuintana – transmitida pelos piolhos – causava febre alta, tontura e terríveis dores nas pernas, nas costas e na cabeça.”
BOTELHO, José Francisco. A guerra da lama. Aventuras na História, número 130, página 28-30, maio 2014. (Adaptado.)
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Recapitulando
- O que eram as trincheiras? Qual era sua função?
- Como era o cotidiano dos soldados nas trincheiras?
Nas trincheiras, os soldados viviam situações que revelavam ora solidariedade, ora desumanidade. Leia dois trechos de cartas de combatentes na Primeira Guerra Mundial que tratam desses aspectos.
Carta do tenente britânico ártur cônuei iâng, de 1916:
“Ao ouvir alguns gemidos quando eu ia para as trincheiras, olhei para um abrigo ou buraco cavado ao lado e achei nele um jovem alemão. Ele não podia se mover porque suas pernas estavam quebradas. Implorou-me que lhe desse água, eu corri atrás de alguma coisa e encontrei um pouco de café que logo lhe dei para beber. Ele dizia todo o tempo ‘Danke, kamerad, danke, danke’ (‘Obrigado, camarada, obrigado, obrigado’). Por mais que odeie os bochesglossário , quando você os está combatendo, a primeira reação que ocorre ao vê-los caídos por terra e feridos é sentir pena. reticências Não é raro ver um soldado inglês e outro alemão lado a lado num mesmo buraco, cuidando um do outro, fumando calmamente.”
Carta encontrada no bolso de um soldado alemão em 1916:
“Estamos tão cansados que dormimos, mesmo sob intenso barulho. A melhor coisa que poderia acontecer seria os ingleses avançarem e nos fazerem prisioneiros. Ninguém se importa conosco. Não somos revezados. Os aviões lançam projéteis sobre nós. Ninguém mais consegue pensar. As rações estão esgotadas, pão, conservas, biscoitos, tudo terminou! Não há uma única gota de água. É o próprio inferno!”
MARQUES, Adhemar Martins; BERUTTI, Flávio; FARIA, Ricardo. História contemporânea através de textos. décima segunda edição São Paulo: Contexto, 2013. volume 5, página 120. (Coleção Textos e documentos).
Responda em seu caderno.
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- O que o relato do tenente ártur cônuei iâng revela sobre o cotidiano dos soldados nas trincheiras?
- Que sentimento o soldado alemão expressa em seu relato?
- Com base nos relatos, explique o conflito emocional dos combatentes em relação ao inimigo.
Refletindo sobre
Além das sequelas físicas, como amputação de membros e cegueira, muitos soldados sobreviventes ficam com sequelas psicológicas da guerra. Em sua opinião, como a guerra pode afetar a capacidade de empatia humana? Converse sobre o tema com os colegas.
Texto do Infografico
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A África na Primeira Guerra Mundial
O processo de colonização da África e da Ásia no final do século dezenove e no comêço do século vinte foi motivado pelo interesse de países europeus em conquistar fontes de energia, matérias-primas, mercados consumidores para seus produtos industrializados e negócios para o investimento dos capitais excedentes. Para justificar a dominação, os colonizadores adotaram um discurso civilizador, defendendo a ideia de que o homem branco estava predestinado a tirar os povos “atrasados” da “barbárie” em que se encontravam.
No entanto, a eclosão da Primeira Guerra Mundial mudou os rumos da dominação colonial. No continente africano, que foi palco importante do conflito, a guerra começou em agosto de 1914 com um ataque da marinha britânica às cidades de Dar es Salaam e Tanga, na África Oriental Alemã. Em retaliação, os alemães destruíram um trecho da Estrada de Ferro Uganda, próximo à fronteira entre os territórios onde hoje se localizam o Quênia e a Tanzânia.
Outras batalhas ocorreram na África e contaram com a participação maciça de soldados nativos. Eles lutaram no Sudoeste Africano (atual Namíbia), na África Oriental Alemã (atuais Tanzânia, Ruanda e Burundi), no Togo e em Camarões.
Os colonizadores empregaram duas táticas para garantir a participação dos africanos no conflito: o aliciamento dos soldados, que obtinham alguns privilégios materiais e políticos compensatórios, e a coerção, pressionando-os a se alistar sob a ameaça de receberem punições em caso de recusa. Em algumas regiões, o alistamento era obrigatório, o que contribuiu para o surgimento de revoltas, como as ocorridas no sul da Costa do Marfim, na Líbia e em Uganda. Além do recrutamento forçado de soldados, ocorreram no continente africano rebeliões durante a guerra, motivadas pela oposição ao conflito, pelas restrições econômicas impostas pela guerra e pelo objetivo de emancipar-se da dominação imperialista.
Responda em seu caderno.
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• Observe, na foto, os oficiais a cavalo que comandam os soldados. O que esse detalhe revela sobre a relação dos europeus com os africanos na época?
A entrada dos Estados Unidos na guerra
Em 1917, os alemães declararam guerra a qualquer país que fornecesse suprimentos para seus inimigos. A intenção era isolar o Reino Unido e deixá-lo sem alimentos, medicamentos e armamentos. Os mais atingidos pela medida alemã foram os Estados Unidos, importantes parceiros comerciais do Reino Unido.
Em abril de 1917, após um ataque alemão a um de seus navios, os Estados Unidos entraram na guerra. O govêrno estadunidense, então, investiu pesadamente na criação do Comitê de Informação Pública, órgão encarregado de preparar campanhas publicitárias com o objetivo de obter apôio popular à participação do país na guerra.
Em um período no qual os exércitos europeus estavam muito desgastados por anos de conflito, o poder bélico estadunidense colaborou de fórma decisiva para a vitória da Entente.
A participação do Brasil
O Brasil manteve-se neutro no início da guerra, com o objetivo principal de não prejudicar as vendas de café no exterior, entrando no conflito somente após uma série de bombardeios alemães a navios brasileiros no primeiro semestre de 1917. Em 26 de outubro daquele ano, sob forte pressão popular, o govêrno declarou guerra à Tríplice Aliança.
A participação militar do país restringiu-se a algumas ações de pilotos da fôrça aérea (ligados ao exército e à marinha, pois ainda não havia sido criada a fôrça Aérea Brasileira). Além disso, o Brasil contribuiu com apôio médico e fornecimento de alimentos e matérias-primas, e a marinha patrulhou o Oceano Atlântico à procura dos temidos submarinos alemães.
No Oriente Médio: sionismo e pan-arabismo
Um dos principais focos do conflito no Oriente Médio, que estava sob o domínio do Império Turco-Otomano, foi a região da Palestina e envolveu os judeus e os árabes muçulmanos.
No século dezenove, os judeus concentravam-se principalmente no leste da Europa – que estava sob domínio do Império Russo – e sofriam constantes perseguições. Nesse cenário, começou a se delinear o sionismo, movimento nacionalista judaico cujos defensores pregavam a criação de um Estado judeu na Palestina. Em 1897, foi realizado na Suíça o Primeiro Congresso Sionista, no qual se reconheceu internacionalmente o estabelecimento dos judeus na Palestina. Assim, muitos judeus imigraram para a região, onde viviam milhares de árabes muçulmanos, dando início às hostilidades entre esses dois grupos.
Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, esse cenário se agravou. Além de ser uma região estratégica que ligava o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, o Oriente Médio tinha as maiores jazidas de petróleo do mundo.Assim, interessado em controlar a região, em 1917 o Reino Unido declarou apôio ao movimento sionista por meio da Declaração de Balfour. Em troca, recebeu apôio dos judeus na luta contra o Império Turco-Otomano.
Em 1918, com a derrota do Império Turco-Otomano, foi assinado o Armistício de Mudros, por meio do qual se determinou a divisão dos territórios que pertenciam aos otomanos entre os Estados vitoriosos na guerra. A Palestina tornou-se um mandato britânico, e intensificou-se a imigração de judeus para a região, agravando-se os conflitos com os árabes muçulmanos. Esse movimento contribuiu para fortalecer o pan-arabismo, cujos participantes defendiam a união de todos os árabes em uma grande comunidade, de modo que fossem superadas as barreiras e fronteiras historicamente construídas.
Responda em seu caderno.
Recapitulando
- Como as potências imperialistas recrutaram soldados africanos na guerra?
- Por que a Declaração de Balfour contribuiu para intensificar os conflitos entre judeus e árabes muçulmanos na Palestina?
Mulheres em tempo de guerra
À medida que os combates se prolongavam, os efeitos da guerra se estendiam pelas sociedades europeias. Enquanto a fôrça de trabalho masculina era mobilizada para as frentes de batalha, as mulheres assumiam funções que antes eram desempenhadas exclusivamente por homens. Nas cidades, elas se tornaram chefes de família, operárias, condutoras de bondes, agentes do serviço postal etcétera Nas áreas rurais, exerciam as atividades agrícolas, garantindo, pelo menos minimamente, o suprimento de alimentos.
Durante a guerra, as práticas sociais e os preconceitos que colocavam as mulheres em condição inferior à dos homens foram relativamente vencidos pela necessidade. Contudo, o fim do conflito mundial revelaria o quão resistentes eram as estruturas patriarcaisglossário das sociedades ocidentais do começo do século . vinte
“A guerra: um parêntese antes do retorno à normalidade, um teatro de sombras em que as mulheres, na retaguarda, só aparentemente desempenham os papéis principais. Mais do que isso, a guerra teria bloqueado o movimento de emancipação que se esboçava em toda a Europa do início do século vinte e que se encarnava numa nova mulher econômica e socialmente independente . A guerra teria reforçado a identidade masculina em crise nas vésperas do conflito e reposto as mulheres no seu lugar de mães reticências prolíficasglossário , de donas de casa reticências e de esposas submissas e admiradoras.”
Tebô, Françuási. A Grande Guerra: o triunfo da divisão sexual. In: dubí jórj; perrô michéle ( organizador). História das mulheres no Ocidente: o século vinte. Porto: Afrontamento, 1991. volume 5, página 33.
Responda em seu caderno.
Recapitulando
11. Os novos papéis desempenhados pelas mulheres durante a guerra fortaleceram a luta pela emancipação feminina? Justifique a sua resposta.
O fim da guerra
Em 1917, a guerra chegou a um impasse. Divisões e motins no interior dos exércitos expressavam o desgaste de um conflito que já durava três anos. A Rússia, debilitada pelas batalhas e dividida internamente pelo início de uma revolução socialista (que precedeu uma guerra civil), assinou a paz em separado com a Alemanha e saiu do conflito.
Principalmente a partir de 1918, o reforço dos Estados Unidos em suprimentos agrícolas e industriais e tropas ajudou os Aliados a decidir o conflito. No início de novembro, uma revolução eclodiu em Berlim e em outras importantes cidades da Alemanha, e o imperador abdicou do trono. No dia 11 de novembro, o govêrno da recém-proclamada república alemã assinou a rendição. Em janeiro de 1919, os vencedores reuniram-se em Paris para discutir as condições da paz.
Na Conferência de Paris, o presidente dos Estados Unidos, Uodrou Uilsom, apresentou uma proposta de paz sem indenizações nem anexações territoriais. Alguns pontos defendidos por Uílson acabaram se concretizando, como a independência de alguns Estados europeus e a criação da Sociedade das Nações, organização internacional que teria o papel de assegurar a paz.
O continente europeu foi reconfigurado. O Império Austro-Húngaro foi desmembrado e de seu fatiamento surgiram o Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos (a partir de 1929 chamado de Iugoslávia), a Tchecoslováquia e a Hungria, que reconquistou a independência. A Turquia perdeu quase todos os seus domínios para os britânicos e os franceses. Independentes do Império Russo, formaram-se a Letônia, a Estônia, a Lituânia e a Finlândia. A Polônia, antes dividida entre os grandes impérios da região, também se tornou um Estado independente.
A Europa depois da Primeira Guerra Mundial
Fonte: CHALIONDE, Gerrádi; RAGEÚ, Jean Piérre. Atlas politique du XXe siècle. Paris: Seuil, 1988. página 52.
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Explore
• Compare este mapa com o mapa apresentado na página 46, que representa as frentes de combate na Primeira Guerra Mundial. Depois, descreva as mudanças territoriais ocorridas no período.
Nos termos dos vencedores
Algumas propostas apresentadas pelo presidente estadunidense, Uodrou Uilsom, não interessavam aos vencedores, sobretudo ao Reino Unido e à França, que pretendiam afastar a Alemanha do centro do cenário político, econômico e militar da Europa. Assim, ao final de meses de negociações, os tratados de paz ficaram muito distantes da proposta do govêrno dos Estados Unidos. O principal acordo político para o fim da guerra, o Tratado de Versalhes, foi firmado no Palácio de Versalhes, na França, em 28 de junho de 1919.
As condições impostas à Alemanha, considerada única responsável pela guerra, foram duríssimas. O país teve parte do seu território ocupado e foi obrigado a devolver a região da Alsácia-Lorena para a França. Além disso, perdeu suas colônias e teve de pagar elevadas indenizações aos países vencedores.
Para os alemães, iniciou-se um período de grave crise econômica e social. A humilhação imposta pelos termos do Tratado de Versalhes alimentou um sentimento revanchista, que foi decisivo para o início da Segunda Guerra Mundial anos depois.
Os Estados Unidos saíram fortalecidos da Primeira Guerra Mundial. O número de baixas de suas tropas representou menos de 10% das baixas alemãs; seu território não foi atingido pelo conflito e o país tornou-se financiador da reconstrução dos Estados europeus arrasados pelos combates. Nos anos do pós-guerra, os Estados Unidos assumiriam a liderança econômica e política do mundo capitalista.
História em construção
De quem foi a culpa da guerra?
A responsabilização da Alemanha pela Grande Guerra ainda é um tema muito discutido pelos estudiosos. Na década de 1960, o historiador alemão frítz fishá argumentou que a Alemanha teve a maior responsabilidade pela guerra, pois seus dirigentes políticos estavam conscientes das consequências do conflito e mesmo assim o planejaram para afirmar o país como potência mundial. O historiador australiano cristófer clárqui contesta essa tese, como revela o seguinte trecho de seu estudo, publicado em 2014.
“ reticências a eclosão da guerra de 1914 não é um episódio de um drama reticências, no final do qual se descobre o culpado com uma arma na mão, ao lado de um cadáver. Nesta história, cada um dos personagens principais tem em mão um revólver. Se olharmos por esta perspectiva, a eclosão da guerra foi uma tragédia, não um delito com um único culpado. Reconhecer isso não significa minimizar aquelas obsessões de molde beligerante e imperialista dos políticos austríacos e alemães reticências. Mas os alemães não eram os únicos imperialistas, e não eram os únicos a serem vítimas de obsessões paranoicas.”
Clárc, Crístofer. Os sonâmbulos: como eclodiu a Primeira Guerra Mundial. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. página 604-605.
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Questão
• Qual é a contestação que cristófer clárqui faz das ideias defendidas por frítz fishá?
Os “filhos inválidos” da guerra
A Primeira Guerra Mundial deixou um rastro de sangue e destruição. Estima-se que 9 milhões de soldados tenham morrido em combate, enquanto mais de 5 milhões de civis sucumbiram vitimados pelos bombardeios, pela fome e pelas epidemias. Além disso, a guerra deixou cêrca de 21,2 milhões de feridos.
Os soldados sobreviventes que retornavam a suas casas, muitos deles mutilados, deformados e com graves problemas psiquiátricos, nunca mais seriam como antes. Reintegrar-se à sociedade seria um passo difícil por causa dos traumas da guerra e porque muitos ex-combatentes e seus familiares receberam, do govêrno, indenizações e pensões insuficientes para uma vida digna. Além disso, para receber a pensão por incapacidade física, era preciso provar que a deficiência havia sido provocada pela guerra, e muitos documentos se perderam durante o conflito.
Outra dificuldade enfrentada pelos ex-combatentes estava no fato de que a sociedade em geral não havia se preparado para recebê-los ao final da guerra. Em vários países, por exemplo, não existia uma legislação que protegesse os que perderam membros, ficaram surdos ou tiveram o corpo queimado durante o conflito. Para agravar a situação, havia preconceito contra os ex-soldados. Muitos mutilados não conseguiam arranjar emprego e passaram a viver nas ruas.
Nesse contexto de abandono, em muitos países, os veteranos de guerra uniram-se e formaram associações para ajudar-se mutuamente nas dificuldades e cobrar das autoridades leis e benefícios para os que tinham arriscado a vida pela nação. Em alguns casos, essas associações acabaram se envolvendo com partidos políticos para ampliar sua luta.
Conexão
O lobo do deserto
Países: Jordânia, Catar, Estados Unidos, Rússia
Direção: nádji ábu nouár
Ano: 2014
Duração: 100 minutos
O filme narra a história de dois irmãos beduínos da província de Reijás, no Império Turco-Otomano, que ajudam um soldado britânico a encontrar um poço no deserto durante a Primeira Guerra Mundial. A narrativa é centrada na perspectiva do irmão mais novo, Riíb. O filme não exibe os conflitos da guerra, mas apresenta algumas questões do panorama político do período, como a interferência dos britânicos no Império Turco-Otomano, e mostra a cultura dos povos do deserto.
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Recapitulando
- Como a Primeira Guerra Mundial terminou?
- Quais foram as condições impostas à Alemanha ao final da guerra?
Enquanto isso…
As rivalidades entre Japão e China no Extremo Oriente
Ao longo do século dezenove, o Japão promoveu uma política de modernização e expansão territorial que o transformou na principal potência do Extremo Oriente. Em razão da aliança econômica e militar com o Reino Unido, em 1902, e da vitória na guerra contra a Rússia (1904-1905), o país ascendeu internacionalmente. Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, o Japão tinha a quinta maior frota naval do mundo e um grande exército, duas vezes maior que o dos Estados Unidos.
A China, em contrapartida, estava dividida em várias zonas de influência comandadas pelas potências europeias e pelos japoneses. O país havia perdido territórios para o Japão na Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894-1895) e sido obrigado a assinar acordos que lhe eram desfavoráveis pela derrota na Revolta dos Boxers (1901) contra o domínio britânico, além de pagar uma pesada indenização aos vencedores.
As rivalidades entre os dois países, portanto, eram intensas, e isso se refletiu na participação deles na Primeira Guerra Mundial. O Japão, a fim de se igualar às potências europeias e ampliar suas possessões na China e no Pacífico, entrou na guerra em agosto de 1914, ao lado da Tríplice Entente. As tropas japonesas venceram a Alemanha na província chinesa de Chandon e em colônias alemãs do Pacífico, dominando essas regiões.
A China entrou no conflito somente em 1917, também ao lado da Entente, esperando que, com a provável vitória, conseguiria reverter sua condição de inferioridade em relação às grandes potências da época. Os chineses acreditavam que, ao lutar ao lado do Reino Unido e da França, poderiam ser reconhecidos internacionalmente e negociar a retomada de Chandon e o fim do pagamento das indenizações decorrentes da Revolta dos Boxers.
Ao final do conflito, a China não reintegrou Shandong e, indignada, não assinou o Tratado de Versalhes. Já o Japão pôde continuar com seus domínios. Porém, não foi reconhecido como uma potência igual às ocidentais. Estados Unidos, Reino Unido e França sentiram-se incomodados com a predominância regional que o país conquistara.
Responda em seu caderno.
Questões
- A China entrou na Primeira Guerra Mundial ao lado de países como o Reino Unido e o Japão, que controlavam muitos de seus territórios. O que ela pretendia com esse envolvimento?
- É possível afirmar que o Japão saiu fortalecido da guerra, mesmo sem ser reconhecido como uma potência igual às ocidentais? Explique.
Atividades
Responda em seu caderno.
Aprofundando
1. Analise o quadro para responder às questões.
Reino Unido |
França |
Rússia |
Alemanha |
Áustria-Hungria |
|
---|---|---|---|---|---|
População |
46.407.037 |
39.601.509 |
167.000.000 |
65.000.000 |
49.882.231 |
Soldados disponíveis para mobilização |
711.000 |
3.500.000 |
4.423.000 |
8.500.000 |
3.000.000 |
Submarinos |
64 |
28 |
16 |
40 |
16 |
Navios de guerra |
64 |
73 |
29 |
23 |
6 |
Valor anual do comércio exterior (em libras – £) |
1.223.152.000 |
424.000.000 |
190.247.000 |
1.030.380.000 |
198.712.000 |
Fonte: HISTÓRIA do século 20: 1914-1919. São Paulo: Abril Cultural, 1968. página 497.
- Quais eram os países com maior atividade no comércio exterior?
- Qual país era mais bem preparado para a guerra naval?
- Qual país tinha o maior exército?
- Que relação pode ser estabelecida entre os dados do quadro e a Paz Armada?
- Com a eclosão da guerra, o Reino Unido precisou investir amplamente em propaganda para recrutar soldados. Explique essa informação com dados do quadro.
2. Leia o poema escrito por um soldado britânico durante a Primeira Guerra Mundial.
“A mesma velha trincheira, a mesma paisagem
Os mesmos ratos, crescendo como mato
Os mesmos abrigos, nada de novo,
Os mesmos e velhos cheiros, tudo na mesma,
Os mesmos cadáveres no front,
A mesma metralha, das duas às quatro,
Como sempre cavando, como sempre caçando,
A mesma velha guerra dos diabos.”
MARQUES, Adhemar Martins; BERUTTI, Flávio; FARIA, Ricardo. História contemporânea através de textos. São Paulo: Contexto, 2000. página 118. (Coleção Textos e documentos, volume 5).
- Do que o poema trata?
- A postura do autor do poema é positiva ou negativa em relação à guerra? Explique.
- Em sua avaliação, o planejamento e a construção das trincheiras consideraram o bem-estar dos soldados?
3. Leia o texto e responda às questões.
“ reticências os colonizadores incitavam os súditos uniformizados a matar o ‘inimigo’ branco, até então pertencente a um grupo considerado sacrossanto dada a côr de sua pele reticências.
Em muitas regiões africanas, a guerra favoreceu, se não sempre o despertar de movimentos nacionalistas, ao menos o desenvolvimento de uma atitude mais crítica da elite culta em relação ao poder colonial. reticências
‘O soldado africano não tardou a descobrir os pontos fortes e a fraqueza do europeu reticências. De fato, sargentos africanos foram encarregados de ensinar a voluntários europeus técnicas da guerra moderna. Tornava-se evidente que os europeus não sabiam de tudo. De volta à sua terra, soldados e carregadores difundiram essa nova imagem do homem branco reticências’.”
Cráuder, Máicol . A Primeira Guerra Mundial e suas consequências. In: boên, ábert adú ( edição). História geral da África: África sob dominação colonial, 1880-1935. Brasília, Distrito Federal: unêsco, 2011. página 330-344. (Coleção História geral da África, volume sete).
- Na Primeira Guerra Mundial, as nações europeias imperialistas recrutaram soldados africanos para lutar contra os “brancos” inimigos. Considerando o contexto histórico, qual era a contradição dessa situação?
- De que modo a Primeira Guerra Mundial contribuiu para despertar um sentimento anti-imperialista entre os africanos?
Aluno cidadão
- Após a Primeira Guerra Mundial, grande número de soldados voltaram para seus países mutilados. Vários voltaram para suas casas cegos, surdos, sem um ou mais membros e com terríveis deformações. Apesar de, no comêço do século passado, já existirem instituições voltadas para os cuidados de pessoas com deficiência, os países europeus ainda não estavam preparados para reintegrar socialmente tantas pessoas nessa condição.
- Forme um grupo com mais três ou quatro colegas e pesquisem o que as leis brasileiras dispõem sobre os direitos da pessoa com deficiência.
- Façam uma pesquisa pelas vias públicas, estabelecimentos comerciais, instituições e órgãos públicos que existam nas proximidades da escola ou de suas moradias e avaliem se eles estão preparados para atender às necessidades das pessoas com deficiência. Registrem a pesquisa em fotografias.
- Em sala, debatam com a turma as seguintes questões: As necessidades das pessoas com deficiência são adequadamente atendidas em seus bairros? Há diferenças entre o atendimento prestado por órgãos públicos e privados? Que tipo ou tipos de deficiência é ou são mais atendida ou atendidas? qual ou quais não é ou são? O que pode ser feito para melhorar as condições de vida das pessoas com deficiência?
Conversando com arte
5. O terror da Primeira Guerra Mundial inspirou artistas. Durante o conflito, o pintor britânico Pou néshi foi recrutado como artista oficial e enviado para a Frente Ocidental. Observe a pintura feita por Néchi no final da guerra. Depois, responda às questões.
- Que relação pode ser estabelecida entre a guerra e a pintura de Pou néshi?
- A pintura representa o Sol “se pondo”. O que esse elemento revela sobre a perspectiva do artista em relação à guerra?
- Explique a ironia contida no título da obra.
Enem e vestibulares
6. ( enêm- Méqui)
“Três décadas – de 1884 a 1914 – separam o século dezenove – que terminou com a corrida dos países europeus para a África e com o surgimento dos movimentos de unificação nacional na Europa – do século vinte, que começou com a Primeira Guerra Mundial. É o período do imperialismo, da quietude estagnante na Europa e dos acontecimentos empolgantes na Ásia e na África.”
arent, H. As origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
O processo histórico citado contribuiu para a eclosão da Primeira Grande Guerra na medida em que:
- difundiu as teorias socialistas.
- acirrou as disputas territoriais.
- superou as crises econômicas.
- multiplicou os conflitos religiosos.
- conteve os sentimentos xenófobos.
Glossário
- Boche
- : palavra utilizada pelos franceses para designar os alemães. A palavra é uma abreviação de Alboche, que significa “cabeça de madeira”, já que os franceses consideravam os alemães pessoas de caráter duro, assertivo.
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- Patriarcal
- : termo utilizado para se referir a sociedades caracterizadas pelo domínio masculino.
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- Prolífico
- : que gera a prole (filhos).
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