UNIDADE 3  A Guerra Fria e seus desdobramentos

O que estudaremos na unidade

O que foi a Guerra Fria? Qual foi o seu impacto no mundo? Nesta unidade, você compreenderá como a oposição entre o bloco capitalista, conduzido pelos Estados Unidos, e o bloco socialista, liderado pela União Soviética, dividiu política e ideologicamente o globo. Entenderá também de que fórma essa bipolarização influenciou a independência dos países colonizados da África e da Ásia e como impactou na implantação de ditaduras na América do Sul, sobretudo no Brasil, na Argentina e no Chile.

Fotografia. Pessoas observando desenhos e grafites coloridos em uma parte do Muro de Berlim. Ao fundo, atrás do muro, duas torres e prédios.
East Side Gallery, trecho remanescente do Muro de Berlim, símbolo da Guerra Fria em Berlim, Alemanha. Foto de 2014.

Fotografia. Estátua gigante de um casal. O homem segura um bebê no ombro. Os três olham para o horizonte. Seus corpos são torneados e formam uma linha diagonal ascendente.
Turistas visitam o Monumento da Renascença Africana, construído para celebrar o cinquentenário da independência do Senegal em 2008. dacár, Senegal. Foto de 2019.
Fotografia. Dois homens observam uma escultura em uma região arborizada. Moldura retangular, com uma placa retangular disposta horizontalmente no centro. Abaixo da placa, uma pessoa com o corpo encolhido, abraçando as pernas.
Visitantes observam o Monumento Tortura Nunca Mais, concebido pelo arquiteto Demetrio Albuquerque em homenagem às vítimas da ditadura civil-militar brasileira, no município do Recife, Pernambuco. Foto de 2022.

Sumário da unidade

Capítulo 8

A Guerra Fria, 138

Capítulo 9

A descolonização na África e na Ásia, 158

Capítulo 10

O Brasil entre duas ditaduras, 174

Capítulo 11

Experiências ditatoriais na América Latina e a ditadura civil-militar no Brasil, 193


CAPÍTULO 8  A Guerra Fria

Fotografia. Pessoas assistem a uma partida de basquete. O time dos Estados unidos usa uniforme branco com números vermelhos. O time da união Soviética usa uniforme vermelho com números em brancos. Os jogadores tem as pernas e braços compridos.
Disputa pêla medalha de ouro de basquete entre Estados Unidos (de branco) e União Soviética (de vermelho) nos Jogos Olímpicos de Verão, realizados em Munique, Alemanha Ocidental. Foto de 1972.

Você já ouviu falar na Guerra Fria? Foi o período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, em que ocorreu intensa disputa entre os Estados Unidos, capitalista, e a União Soviética, socialista. Os embates entre os dois países ultrapassaram os campos político e ideológico, afetando até o esporte.

Na final de basquete dos Jogos Olímpicos de Verão de 1972, disputada entre estadunidenses e soviéticos, em Munique, na Alemanha Ocidental, os jogadores da União Soviética venceram os adversários e levaram a medalha de ouro. O resultado, contudo, foi muito contestado pelos Estados Unidos, porque a virada dos soviéticos aconteceu depois que o árbitro decidiu prorrogar o fim da partida em três segundos. Assim, no momento de entregar as medalhas, os jogadores estadunidenses não compareceram ao pódio. Essa tensão na quadra era um reflexo do contexto da Guerra Fria.

  • Você sabe por que a disputa entre os Estados Unidos e a União Soviética é chamada de Guerra Fria?
  • Conhece um fato histórico que teve relação com a Guerra Fria?
  • O mundo ainda vive a Guerra Fria ou esse conflito pode ser considerado superado?
  • Em sua opinião, o esporte também pode servir como espaço de discussão política e social? Por quê? De que modo isso ocorre atualmente?

Os acôrdos de paz após a Segunda Guerra Mundial

No final de 1943, os líderes dos Estados Unidos (Frânclin Delano Rúsvelt), do Reino Unido (uinstãn tchãrtchil) e da União Soviética (Josef Stálin) reuniram-se na Conferência de Teerã, no Irã. Mesmo havendo diferenças ideológicas entre a União Soviética e os outros dois países, os três líderes definiram ações conjuntas contra o Eixo e discutiram as primeiras medidas a serem tomadas após o término da Segunda Guerra Mundial.

Em fevereiro de 1945 (três meses antes da rendição da Alemanha), esses líderes voltaram a se reunir na Conferência de Ialta, na Crimeia, território soviético. A guerra estava terminando, e a necessidade de definir o novo equilíbrio de fôrças era ainda maior. Nesse encontro, foram discutidos diversos pontos, como a criação da Organização das Nações Unidas (ônu), o futuro da Polônia e a assistência econômica no pós-guerra. O caso da Polônia foi polêmico, pois os soviéticos haviam se instalado no país, e tchârtchil e Rusevélt temiam que isso contribuísse para o avanço da União Soviética na Europa Central.

Fotografia. Três homens sentados em cadeiras, lado a lado. À esquerda, Winston Churchill, senhor de cabeça arredondada, calvo, olhos pequenos e boca grande. Veste um sobretudo bege. No centro, Franklin Roosevelt, senhor de rosto comprido, cabelo grisalho, lábios finos e marcas de expressão ao redor da boca. Tem um longo casaco azul sobre os ombros. À direita, Josef Stálin, militar de boina. Tem o cabelo e o bigode grisalhos. Veste um casaco verde escuro com abotoaduras douradas e detalhes vermelhos na gola. Atrás deles, homens de vestes militares com muitas insígnias.
Da esquerda para a direita, uinstãn tchãrtchil, Frânclin Delano Rúsvelt e Jôsef Istálin durante a Conferência de Ialta, União Soviética. Foto de fevereiro de 1945.

Pouco mais de dois meses após a rendição da Alemanha, outra reunião ocorreu na cidade alemã de Potsdam. Como você estudou no capítulo 6, na Conferência de Potsdam foi estabelecida a divisão da Alemanha e da cidade de Berlim em quatro áreas de ocupação: soviética, estadunidense, britânica e francesa (consulte o mapa da página 110). Decidiu-se, ainda, o modo como os derrotados pagariam as indenizações de guerra e outras fórmas de punição.

Após o encontro, Estados Unidos e União Soviética passaram a disputar a supremacia mundial. Os estadunidenses tinham como objetivo fortalecer o capitalismo no mundo, principalmente na Europa. Os soviéticos, por sua vez, pretendiam formar um bloco de países alinhados com o regime de Moscou. Iniciou-se, então, um período marcado por outra guerra, igualmente sombria, que ficou conhecida como Guerra Fria.

Saiba mais

Berlim, cidade dividida

A primeira grave crise da Guerra Fria ocorreu em Berlim, na Alemanha. Em junho de 1948, a União Soviética bloqueou os acessos por terra às áreas da cidade sob contrôle das potências ocidentais. Em 1961, o govêrno da Alemanha Oriental, controlado pelos soviéticos, iniciou a construção de um muro para separar Berlim Oriental de Berlim Ocidental. Ele tinha 155 quilômetros de extensão e cêrca de trezentas torres de vigilância.

O muro foi um dos principais símbolos da Guerra Fria, pois dividia a cidade entre os dois blocos de influência. Até sua derrubada, no final de 1989, o muro separou famílias, e muitas pessoas que tentaram ultrapassá-lo foram mortas.


A disputa por áreas de influência

Grande parte do continente europeu foi devastada pela Segunda Guerra Mundial. A Europa Oriental enfrentava altas taxas de desemprego e falta de recursos para obras de infraestrutura, como abastecimento de água, redes coletoras de esgoto e fornecimento de energia elétrica. Essas condições impulsionaram o crescimento eleitoral dos partidos socialistas e a formação de governos alinhados com a União Soviética.

Em março de 1947, o presidente dos Estados Unidos, Réri Trúman, pronunciou ao Congresso seu compromisso de impedir o avanço da influência soviética na Europa Ocidental. Nascia, então, a Doutrina Trúman, um amplo conjunto de diretrizes para a política externa dos Estados Unidos a fim de consolidar a presença do país na Europa Ocidental.

O esforço anticomunista incluía concessão de créditos para a reconstrução europeia e auxílio militar aos países da região. Os primeiros alvos foram a Grécia e a Turquia, países situados na fronteira da área de influência soviética, que enfrentavam profundas tensões internas. A interferência estadunidense contribuiu para conter o avanço do socialismo nos dois países e para aproximar seus governos dos Estados Unidos.

Em mais um ato da política anticomunista, em junho do mesmo ano, o govêrno dos Estados Unidos aprovou o Plano márchal, um programa de ajuda econômica e tecnológica aos países europeus, incluindo a Alemanha Ocidental. Bilhões de dólares foram injetados na economia desses países, acelerando a recuperação da capacidade produtiva e facilitando a criação de empregos e o desenvolvimento de políticas sociais.

A resposta soviética ao Plano márchal foi dada em 1949, com a criação do Conselho de Assistência Econômica Mútua (comecôn). Embora com menos recursos financeiros, o Comecon contribuiu para ampliar a dependência econômica dos países-membros em relação à União Soviética.

Charge. Vaca branca de corpo comprido atravessada sobre um rio, com as patas dianteiras e traseiras em margens diferentes do rio. Em seu corpo, a palavra MARSHALL, com a letra S substituída por um cifrão. Suas patas traseiras estão em uma margem identificada com a frase USA WALL STREET. Deste lado, dois homens ordenham a vaca e enchem dois baldes de leite. Atrás deles, grandes prédios e um grande cofre. As patas dianteiras da vaca estão na outra margem, identificada com a palavra EUROPA. Um homem está montado na vaca, segurando em uma corrente ao redor do pescoço dela. Ela está mastigando um prédio que representa uma indústria. Ao lado dela, dois homens.
Charge do cartunista tcheco radicado na Alemanha Oriental Lío Rás satirizando o Plano márchal, cêrca de 1950. Museu Histórico da Alemanha, Berlim. Em primeiro plano, foram representados o secretário de Estado estadunidense, Dín Átiêssan (montado na vaca), o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Êrnest Bévin, e o primeiro-ministro da França, Robér Chumán.

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Como você interpreta a crítica feita ao Plano márchal na charge de Lío Rás?


O mundo se arma

As superpotências também estabeleceram alianças para assegurar a defesa militar de suas respectivas áreas de influência. Em outubro de 1949, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França e outros países europeus fundaram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (otâm), também conhecida como Aliança Atlântica, que previa ajuda mútua e cooperação militar entre seus membros. Na prática, com a iniciativa, esses países buscavam demonstrar a fôrça e a união do Ocidente diante da União Soviética.

A Alemanha Ocidental ingressou na otâm em 6 de maio de 1955, contrariando acôrdos assinados no pós-guerra que estabeleciam a neutralidade militar das duas Alemanhas. A resposta do bloco socialista ocorreu alguns dias depois. Em 14 de maio, a União Soviética reuniu os países socialistas do Leste Europeu e estabeleceu o Pacto de Varsóvia. A aliança foi comandada pela União Soviética com o mesmo objetivo do grupo rival: demonstrar ao mundo a coesão de seu bloco. Inicialmente, o Pacto de Varsóvia era composto de União Soviética, Albânia, Hungria, Romênia, Bulgária, Polônia, Alemanha Oriental e Tchécoslováquia.

As duas superpotências começaram a disputar o domínio de novas tecnologias e o desenvolvimento de armas sofisticadas, dando origem à chamada corrida armamentista. Já na década de 1950, os Estados Unidos e a União Soviética dispunham de um poderoso arsenal nuclear e de bombas de hidrogênio, que tinham capacidade destrutiva muito maior do que as bombas utilizadas na Segunda Guerra Mundial.

Dessa maneira, evidenciou-se que Estados Unidos e União Soviética tinham tecnologia suficiente para exterminar a vida no planeta. O mundo estava dividido e aterrorizado com a possibilidade de assistir, a qualquer momento, a uma guerra que poderia destruí-lo.

O mundo dividido pêla Guerra Fria (1977)

Mapa. O mundo dividido pela Guerra Fria (1977). Planisfério que identifica apenas os Estados Unidos e a União Soviética.
Legenda: 
Verde: Países capitalistas.
Verde listrado: Otan.
Laranja: Países socialistas.
Laranja listrado: Pacto de Varsóvia.
No mapa: Países capitalistas, todos os países do continente americano (com exceção de Cuba), todos os países da África (com exceção de Angola e Moçambique), países da Europa Ocidental, todos os países da Ásia (com exceção de União Soviética, Iêmen, China, Mongólia e Vietnã) e todos os países da Oceania.
Otan: Estados Unidos, Canadá e todos os países da Europa Ocidental (com exceção da Suíça e da Áustria). 
Países socialistas: União Soviética, países da Europa Oriental, China Mongólia, Vietnã, Iêmen, Angola, Moçambique e Cuba. Pacto de Varsóvia: União Soviética e todos os países da Europa Oriental (com exceção da Iugoslávia).
No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 2.680 quilômetros.

Fonte: ATLAS da história do mundo. São Paulo: Folha de São Paulo; Londres: The Times, 1995. página 292-293.


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De acôrdo com o mapa, Estados Unidos e União Soviética tiveram mais influência em quais continentes?


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Recapitulando

  1. O que foi a Guerra Fria? Por que ela recebeu esse nome?
  2. Quais foram as alianças militares formadas durante a Guerra Fria? Quais eram os objetivos dos participantes dessas alianças?
  3. Resuma estas políticas adotadas pelo govêrno dos Estados Unidos na Guerra Fria.
    1. Doutrina Trúman.
    2. Plano márchal.

Corrida espacial, propaganda e cultura

A disputa por áreas de influência levou a Guerra Fria para fóra do planeta. Em outubro de 1957, a União Soviética lançou ao espaço o primeiro satélite artificial, o Isputiniqui. No ano seguinte, os Estados Unidos criaram a Agência Espacial Norte-Americana (Náza) e lançaram o satélite Explorer um. Em abril de 1961, os soviéticos enviaram o primeiro ser humano ao espaço, o cosmonauta Iuri Gagarin. Oito anos depois, a missão estadunidense Apólo 11 atingiu a superfície lunar.

A corrida espacial foi amplamente usada pela União Soviética em sua propaganda ideológica. Os soviéticos afirmavam que seus avanços tecnológicos e sua primaziaglossário no espaço eram provas da superioridade do socialismo. Por meio de cartazes, também procuravam construir sua imagem de sociedade igualitária, em que o Estado zelava pelo bem-estar coletivo, garantindo emprego, educação e moradia. O capitalismo era apontado como um sistema injusto, que beneficiava as elites e transformava os cidadãos em escravos do consumo.

Em contrapartida, a propaganda capitalista difundia a ideia de que o Estado liberal garantia a qualquer cidadão liberdade para realizar seus desejos e prosperar por meio do trabalho. O consumo era incentivado pela publicidade e pela facilidade de crédito. O socialismo era apresentado como um sistema que condenava as pessoas a uma vida triste e tolhida por um Estado controlador. Essas ideias eram divulgadas principalmente em cartazes, em gibis e no cinema.

História em construção

A Guerra Fria nas histórias em quadrinhos

Em meio à Guerra Fria, ganhou forte impulso nos Estados Unidos a indústria de gibis, principalmente as histórias em quadrinhos (agá quês) de super-heróis, como Batman, Capitão América, Homem-Aranha e rulc. Nas histórias, em geral, os heróis estadunidenses combatiam os vilões soviéticos, como o cientista russo Fantasma Vermelho, tendo como desfecho a vitória do “bem” contra o “mal”. Essas associações, porém, nem sempre eram diretas. Algumas histórias descreviam países fictícios governados por um tirano, fazendo referência à União Soviética e a Istálin. A corrida armamentista e a iminência de uma guerra nuclear também foram temas muito abordados nas agá quês. Contudo, aos poucos, alguns gibis começaram a incluir críticas à política e à sociedade estadunidenses nas narrativas.


Ilustração. Capa da revista Capitão América. Pendurado em um gancho, o Capitão América passa por cima de seus adversários, acertando os pés em alguns deles. Outros homens de boina azul atiram em sua direção. Abaixo dele um tanque de água com polvos. Ao fundo, outro super-herói pendurado combatendo um homem armado com uma faca. Perto dele, um senhor pendurado com os punhos amarrados.
Capa da agá quê Capitão América, de julho de 1954. Nela, lê-se: “Capitão Américareticências esmagador de comunistas. ‘Golpeando de volta os soviéticos!’.

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Questões

  1. Como os soviéticos foram representados nessa capa? E os super-heróis?
  2. Qual teria sido a intenção dos autores ao fazer isso?

Ilustração. Dois homens, sentados um perto do outro. O homem da esquerda é calvo, tem a cabeça redonda, usa óculos e segura um cigarro com os lábios. O homem à direita é ruivo do cabelo grande e encaracolado. Tem um dos olhos arregalados. A orelha é pontuda. Está apontando o dedo indicador para o homem calvo. À frente deles, sobre uma mesa, uma bolsa com papéis, um cinzeiro com várias bitucas de cigarro e um maço de cigarro. No centro, uma frase escrita em russo. À direita, um terceiro homem, com o rosto parcialmente atrás de um jornal. Tem a orelha grande. Usa chapéu. À frente dele, sobre a mesa um copo cheio.
Litogravura de Viniamím Brísquim, de 1954, em que se lê: “Conversando e fofocando – direto para as mãos do inimigo”. Biblioteca do Estado Russo, Moscou, Rússia.

Espionagem e repressão

Os serviços secretos dos Estados Unidos e da União Soviética trabalharam incessantemente durante a Guerra Fria. A Agência Central de Inteligência (cía), estadunidense, e o Comitê de Segurança do Estado (cá gê bê), soviético, buscavam informações secretas clandestinamente, dentro e fóra de seus respectivos territórios. Os dois serviços de inteligência também mantinham agentes infiltrados em organismos internacionais e próximos aos governos dos países adversários.

Nos países alinhados a cada uma das superpotências, um amplo aparato de espionagem também foi acionado para vigiar pessoas consideradas suspeitas. O Serviço Secreto de Inteligência Britânico (ême i seis), por exemplo, atuou em muitos casos de investigação, inclusive no Leste Europeu.

A preocupação de que o inimigo estivesse infiltrado no país era um temor contínuo. Serviços secretos vigiavam o cotidiano da população e chegavam a controlar correspondências e ligações telefônicas. Alguns desses órgãos de vigilância interna tornaram-se conhecidos pela violência de suas ações, como a polícia secreta da Alemanha Oriental, conhecida como Istási, e a Securitáte, a temida polícia secreta da Romênia.

Nos Estados Unidos, a partir de 1950, o senador djôuzef macárti comandou uma intensa campanha anticomunista. Como presidente do Comitê de Investigação de Atividades Antiamericanas do Senado, macárti liderou investigações sobre supostas atividades pró-soviéticas de artistas, intelectuais, jornalistas e políticos do país. Na longa lista de acusados por meio dessa política, que ficou conhecida como macartismo, estavam, por exemplo, o ator Tcharls Tcháplin e os escritores Dáchiél Rêmet, Lillian Rélman e Ártur Míler.

Refletindo sobre

Durante a Guerra Fria, os serviços de espionagem estatais buscavam descobrir segredos dos Estados rivais e identificar indivíduos que tivessem ações ou ideias consideradas perigosas à segurança interna. Essa situação deixava as pessoas inseguras para falar espontaneamente ao telefone ou para escrever cartas porque poderiam ser presas se suas mensagens despertassem suspeita.

Atualmente, nossas conversas em redes sociais e pesquisas em meios digitais fornecem informações sobre o que fazemos e pensamos. Você se sente confortável com essa situação? Ela interfere na maneira como você interage com outras pessoas em redes sociais ou outros espaços virtuais?


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Recapitulando

  1. Estados Unidos e União Soviética não se limitavam a disputar a hegemonia política, econômica e ideológica durante a Guerra Fria. Explique essa afirmação.
  2. O que foi o macartismo?

Os conflitos armados da Guerra Fria

Estados Unidos e União Soviética estabeleceram um equilíbrio de fôrças que tinha como base a formação de grandes áreas de influência e o contrôle de um enorme arsenal bélico, sem nunca terem se enfrentado diretamente. No entanto, na disputa por poder, os dois países se envolveram, de uma fórma ou de outra, em diversos conflitos regionais, como apresentado a seguir.

A Revolução Chinesa

No comêço do século vinte, a burguesia nacional chinesa mostrava-se profundamente insatisfeita com as numerosas concessões feitas pelo govêrno imperial às nações estrangeiras, e passou a defender uma mudança de regime no país.

Em 1912, sun iát sên, um defensor do republicanismo, fundou o cuomintâng (Partido Nacionalista) e mobilizou a população em várias regiões da China. Sem conseguir controlar a situação, o imperador abdicou do trono, e um govêrno provisório foi formado. Contudo, o novo govêrno foi incapaz de realizar reformas profundas e de conter a insatisfação no país. A tensão e a instabilidade política se agravaram e, fragilizada, a China viu os interesses estrangeiros avançarem, aumentando o risco de fragmentação política e territorial.

A Revolução de 1917 na Rússia refletiu diretamente no desenrolar dos acontecimentos na China. A partir de 1919, os operários chineses organizaram grandes mobilizações, que fortaleceram os nacionalistas. Com apôio soviético, em 1923, o cuomintâng assumiu a liderança da luta revolucionária na China e absorveu o ainda pequeno Partido Comunista Chinês, fundado dois anos antes.

Com a morte de sun iát sên, em 1925, a liderança do cuomintâng passou para chiân cái chéqui e o movimento revolucionário se intensificou. Nesse cenário, o Partido Comunista Chinês cresceu rapidamente com a adesão de um número expressivo de camponeses, contrariando as orientações de Istálin, para quem a China ainda não estava madura para uma revolução comunista.

Cartaz. À esquerda, militares perfilados carregando armas e bandeiras. À direita, outros militares perfilados, atrás de escudos e canhões. No centro, Chiang Kai-shek de farda avermelhada, montado em um cavalo empunhando uma espada. Acima, uma bandeira com o retrato de  Sun Yat-sen, homem de olhos pequenos, pele clara e bigode. Usa farda e quepe azuis. À esquerda, uma bandeira azul, e à direita, uma bandeira vermelha. Ao lado de ambas, militares em conflito.
A revolução ainda não está completa; seus camaradas devem continuar a fazer esforços, cartaz chinês, 1927. Biblioteca Britânica, Londres, Reino Unido. No cartaz, sun iát sên é representado em destaque, acima, entre as bandeiras. chiân cái chéqui, por sua vez, é representado ao centro, montado no cavalo.

máo tsé tung e a Longa Marcha

O crescimento das fôrças populares não estava nos planos de chiân cái chéqui, pois ameaçava a aliança política dos nacionalistas com os grandes proprietários e a burguesia nacional. Assim, com o objetivo de limitar o crescimento e a autonomia do movimento camponês e operário, em 1927, chiân cái chéqui determinou o massacre de milhares de comunistas nas principais cidades da China.

A repressão promovida pelo cuomintâng se desdobrou em uma sangrenta guerra civil. Cercados pelas tropas nacionalistas, os comunistas recuaram em direção ao norte, iniciando a chamada Longa Marcha, sob a liderança de máo tsé tung. Ao longo de um ano, os comunistas percorreram mais de 10 mil quilômetros enfrentando as fôrças nacionalistas e arregimentando camponeses para suas fileiras de combate.

Em 1937, o Japão ocupou militarmente a parte oriental do território chinês. Para expulsar o invasor, os nacionalistas precisaram unir fôrças com os comunistas que, no decorrer da luta, angariaram a admiração da população.

Com a derrota japonesa ao final da Segunda Guerra Mundial, as fôrças invasoras retiraram-se da China. Para combater as fileiras comunistas, os Estados Unidos passaram a dar apôio aos nacionalistas e o país mergulhou em nova guerra civil, que se estendeu até 1949, quando os exércitos de máo tsé tung ocuparam Pequim e proclamaram a República Popular da China, adotando um regime socialista. Os nacionalistas se retiraram para a Ilha de Formosa (taiuã), onde fundaram um govêrno de caráter liberal apoiado pelos Estados Unidos.

Fotografia em preto e branco. Mao Tsé-tung, homem de casaco e boina montado em um cavalo. Ao redor dele, pessoas caminham.
máo tsé tung (montado no cavalo) e outros comunistas durante a Longa Marcha, na China. Foto de 1935.

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Recapitulando

  1. Por que a aliança firmada entre nacionalistas e comunistas chineses no início do século vinte foi desfeita?
  2. Qual é a importância da Longa Marcha para a Revolução Chinesa?

Os comunistas no poder da China

Uma vez no poder, máo tsé tung tratou de conduzir mudanças profundas na China. Porém, diferentemente do que fizera a Rússia, seu foco foram os camponeses. Com o apôio da União Soviética, ele adotou o modêlo de economia planificada, coletivizou as terras e proibiu a propriedade privada. Além disso, nacionalizou as empresas estrangeiras. Como no regime soviético, o poder foi concentrado no Partido Comunista e a oposição foi violentamente reprimida.

No final da década de 1950, máo tsé tung implantou um programa de aceleração econômica, conhecido como Grande Salto para a Frente, a fim de industrializar o país e aumentar a produção agropecuária em pouco tempo. Os camponeses foram reunidos em imensas fazendas coletivas. No entanto, em razão de falhas no planejamento, a produção agrícola se desorganizou, provocando uma grave escassez de alimentos. Com isso, cêrca de 20 milhões de chineses morreram de fome entre 1959 e 1962. A indústria também não obteve o desempenho esperado. Diante do fracasso, as críticas ao govêrno comunista aumentaram.

Com o objetivo de recuperar a imagem de máo tsé tung e de eliminar focos de oposição entre intelectuais e artistas, o govêrno iniciou, em 1966, um grande projeto político-ideológico que ficou conhecido como Revolução Cultural. O govêrno empreendeu uma campanha de forte doutrinação ideológica e adotou medidas repressivas que resultaram no fechamento de diversos cursos universitários, na perseguição e na morte de opositores ao regime. Nessa época, o principal veículo de divulgação das convicções políticas, sociais e culturais do regime chinês foi O Livro Vermelho, que, distribuído em todo o país, tornou-se leitura obrigatória nas escolas.

Após a morte de máo tsé tung, em 1976, dãn chiáo pín assumiu o govêrno na China e iniciou uma política de reformulação econômica de caráter capitalista. Com isso, o país manteve a centralização política e a ditadura do Partido Comunista, mas passou a participar ativamente do mercado mundial.

Fotografia. Jovens sentados em uma colina lendo um pequeno livro de capa vermelha. Atrás deles duas placas, uma com dizeres em chinês e outra com o retrato de Mao Tsé-tung, homem calvo de paletó cinza. Ao fundo plantações de arroz e outras plantações ao lado do vilarejo.
Crianças e adolescentes lendo O Livro Vermelho, durante a Revolução Cultural na China, cêrca de 1969.

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Recapitulando

  1. Quais foram as principais medidas adotadas pelos comunistas ao tomar o poder na China?
  2. O que foi a Revolução Cultural promovida por máo tsé tung? De que fórma essa revolução se assemelha ao stalinismo na União Soviética?

O conflito sino-soviético

A China começou a se desentender com as diretrizes do Partido Comunista da União Soviética no final da Guerra da Coreia (apresentada adiante). Em 1953, os tratados de paz e a divisão da Coreia aproximaram estadunidenses e soviéticos, iniciando a chamada Coexistência Pacífica. O objetivo era evitar uma guerra nuclear entre as duas superpotências. O Partido Comunista Chinês, contudo, era contrário a essa ideia.

Em 1957, máo tsé tung criticou publicamente Naiquita Crúchéf, primeiro-secretário do Partido Comunista da União Soviética, durante a Conferência Internacional dos Partidos Comunistas, realizada em Moscou. Máo havia declarado que os soviéticos não deveriam temer a guerra, mesmo que nuclear, contra os Estados Unidos. Para Máo, se fosse necessário um conflito nuclear para garantir a vitória do comunismo no mundo, ele deveria acontecer.

Charge em preto e branco. Mao Tsé-tung, homem grande, calvo de cabeça arredondada. Tem as bochechas salientes. As pernas estão cruzadas à frente do corpo. As mãos estão com os dedos entrelaçados e apoiadas sobre a barriga. Ao lado dele, à esquerda um homem de casaco escuro e chapéu. À frente dele, três homens o observam.
Nos confunda, ele diz..., charge inglesa de 1958 que representa Naiquita Crúchéf (à esquerda, sozinho), o presidente estadunidense duáit aizênrráuer, o presidente francês charle dê gôle e o primeiro-ministro britânico Rérold Maquimílan diante de máo tsé tung.
Fotografia em preto e branco. Dois homens sorridentes sentados lado a lado. À esquerda, Mao Tsé-tung, homem calvo, com olhos pequenos e bochechas salientes. Usa casaco com muitos botões à frente. À direita, Nikita Kruschev, homem de cabelos curtos e claros, tem o nariz grande e segura um leque aberto. Usa terno claro.
máo tsé tung e Naiquita Crúchéf conversam em Pequim, China. Foto de 1958.

Dois anos depois, a União Soviética decidiu não enviar armas nucleares para a China, quebrando um acôrdo secreto feito com os chineses em 1957. Na mesma época, Máo lançou o Grande Salto para a Frente, que foi duramente criticado pelos soviéticos. No comêço dos anos 1960, a ruptura entre os comunistas chineses e os soviéticos era muito clara. Uma equipe de técnicos e de especialistas soviéticos que estava na China foi convocada a retornar para a União Soviética. Na crise dos mísseis, Máo declarou que os soviéticos haviam capituladoglossário ante os estadunidenses. Em 1964, a China realizou seu primeiro teste atômico, sem o aval da União Soviética.

Desfeita a aliança, em 1969, China e União Soviética entraram em confronto direto, pois os soviéticos alegaram que os soldados chineses haviam ultrapassado as fronteiras do Rio Ussuri, que delimita a fronteira entre os dois países, e atirado contra eles. Já os soldados chineses afirmaram o contrário.

O conflito sino-soviético incentivou outros países do bloco socialista a adotar uma política mais independente em relação às diretrizes do Partido Comunista Soviético. Assim, a China se apresentava como uma nova potência comunista que ameaçava os interesses dos Estados Unidos e da União Soviética.


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Recapitulando

  1. Quais foram as consequências do programa conhecido como Grande Salto para a Frente?
  2. Em que momento máo tsé tung passou a discordar do Partido Comunista da União Soviética?

A Guerra da Coreia

Em suas investidas expansionistas, o Japão ocupou a Coreia em 1910, impondo-lhe um regime de terror e exploração. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, com a rendição japonesa, os Estados Unidos e a União Soviética concordaram em dividir a região em duas áreas de influência: a Coreia do Sul, capitalista, apoiada pelos estadunidenses, e a Coreia do Norte, socialista, sob contrôle soviético.

A guerra entre as duas Coreias começou em junho de 1950, após a Coreia do Norte atacar a Coreia do Sul com o objetivo de unificar os dois países. O Conselho de Segurança da ônu condenou a invasão e autorizou uma intervenção militar para obrigar a Coreia do Norte a respeitar os limites do paralelo 38graus norte, que dividia as duas Coreias. Sob a liderança estadunidense, fôrças militares compostas de soldados de 15 países integrantes das Nações Unidas atacaram a Coreia do Norte. Durante os três anos de guerra, Estados Unidos e Reino Unido apoiaram abertamente a Coreia do Sul, enquanto União Soviética e China garantiram apôio militar e financeiro aos norte-coreanos. Em julho de 1953, um cessar-fogo pôs fim ao conflito, no qual morreram cêrca de 3,5 milhões de pessoas.

Cartaz. Ilustração de soldado em pé sobre o globo terrestre. Ele está de costas, com as pernas afastadas. Com uma arma ele fere pessoas. Em cima e embaixo do cartaz, escritos em coreano.
Cartaz anticomunista produzido na Coreia do Sul durante a Guerra da Coreia em que se lê: “Expulsar os comunistas para unificar o nosso país!”.
Fotografia aérea em preto e branco. Aviões sobrevoam plantações e vilarejos.
Bombardeiros estadunidenses durante a Guerra da Coreia, ocorrida entre 1950 e 1953.

No início do século vinte e um, houve novas ameaças de guerra na região: a Coreia do Norte declarou a intenção de avançar com seu projeto nuclear. Em resposta, o govêrno da Coreia do Sul mobilizou dezenas de tropas militares, aumentando as tensões nas áreas de fronteira entre os dois países.

Desde a morte do ditador norte-coreano Quim Dium il e a posse de seu filho, Quim Dium um, em 2011, as tensões entre Coreia do Norte e Estados Unidos aumentaram. As relações entre os dois países se configuraram em ameaças abertas, em 2017, quando o então presidente dos Estados Unidos, Donald trãmp, prometeu responder com "fogo e fúria" caso a Coreia do Norte desenvolvesse seu programa nuclear. Uma série de conversas entre Quim Dium um e trãmp, ocorridas em 2018, amenizou as tensões entre os dois países. Em 2022, novas sanções voltaram a ser feitas contra a Coreia do Norte pelo presidente estadunidense jou baiden.


Guerras na Indochina

A Indochina, situada no Sudeste Asiático, tornou-se colônia francesa no final do século dezenove. Em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, a região foi invadida pelo Japão, que não escondeu suas intenções de mantê-la na condição de colônia. Isso estimulou o fortalecimento de grupos nacionalistas, que passaram a se organizar para combater o invasor. Em 1941, foi fundada a Liga pela Independência (Viêtmin), sob a liderança do socialista rô chi min.

Com a derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial, os combatentes do Viêtmin proclamaram a República Democrática do Vietnã em 1945. Contudo, a França, que pretendia recuperar seus domínios coloniais, reagiu, dando início no ano seguinte à Guerra da Indochina.

Em 1954, depois de nove anos de conflito, os revolucionários venceram a França. No acôrdo de paz celebrado em Genebra, na Suíça, estabeleceu-se que o novo país ficaria dividido em duas regiões: ao norte, a República Democrática Popular do Vietnã, de linha socialista, permaneceria liderada por rô chi min, enquanto, no sul, a República Democrática do Vietnã seria governada pelo antigo imperador Báo Dái, submisso aos interesses do Ocidente. Conforme o acôrdo firmado, a situação deveria ser temporária, prevendo-se a realização de eleições livres em 1956 para reunificar o país.

A divisão da Indochina (1954)

Mapa. A divisão da Indochina (1954). Destaque para o Sudeste Asiático. Sem legenda.
Em amarelo, Laos, com destaque para as cidades de Sam Neua e Vientiane. Em lilás, Vietnã do Norte, com destaque para as cidades de Hanói, Haipong e Vinh. Em laranja, Vietnã do Sul, com destaque para as cidades de Da Nang, Kontum, Da Lat e Saigon. Em verde, Camboja, com destaque para a cidade de Phnom Penh. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 190 quilômetros.

Fonte: Ríguelmãn, Vérner; Quínder, Rérmãn; Albéc, Reimún . Atlas historique: de l’apparition de l’homme sur la terre à l’ère atomique. Paris: Perrin, 1992. página 512.

Os Estados Unidos, porém, temiam uma vitória eleitoral de rô chi min, pois consideravam que ela favoreceria o avanço do comunismo na Ásia. Por isso, eles dificultaram as tratativas diplomáticas para a realização das eleições e apoiaram a ascensão do ditador Nô Dim Díem no Vietnã do Sul e a suspensão das eleições.

O govêrno de Nô Dim Díem instalou um regime autoritário, marcado pela corrupção e por perseguições políticas. A principal oposição ao govêrno de Dím Díem surgiu em 1960, com a criação da Frente de Libertação Nacional (éfe éle êne), movimento comunista apoiado pelo Vietnã do Norte. Seus membros, que ficaram conhecidos como vietcongues, adotavam o método de guerrilha nos ataques contra o govêrno do Vietnã do Sul para derrubar Dím Díem e unificar o país sob um regime socialista.

Fotografia. Mão feminina segura fotografia em preto e branco de mulher de roupas escuras e chapéu atrás de um pedaço de tronco. Ela empunha uma arma. Ao redor dela troncos e arbustos secos.
Ex-integrante de uma unidade de combate secreta formada apenas por mulheres, Roán Ti No exibe uma fotografia em que aparece com uniforme vietcongue empunhando uma arma soviética. Foto de 2018.

A Guerra do Vietnã

A partir de 1961, milhares de soldados estadunidenses foram enviados para o Vietnã. Os vietcongues, apoiados pelo Vietnã do Norte, pela China e pela União Soviética, combatiam as fôrças dos Estados Unidos em condição desigual. Com muito menos armas e recursos, eles se valiam do conhecimento do território e do apôio popular. Em uma guerra de guerrilhas, em que o inimigo é combatido com atos de sabotagem e ataques-surpresa, o conhecimento do território e a ajuda da população local davam vantagem aos vietcongues.

A Guerra do Vietnã foi o primeiro conflito armado transmitido ao vivo pela televisão. As notícias e as imagens que chegavam ao Ocidente, sem edição, mostravam a brutalidade do conflito. O número crescente de soldados dos Estados Unidos mortos em ação e a violência promovida contra os vietnamitas chocaram a sociedade estadunidense e a comunidade internacional. Nesse contexto, diversos protestos foram organizados para pressionar os Estados Unidos a se retirar da guerra.

Apesar do crescente número de baixas em suas tropas e da forte rejeição à guerra expressa pela população, o govêrno dos Estados Unidos manteve a ação militar até janeiro de 1973, quando retirou suas fôrças do Vietnã do Sul e assinou um acôrdo de cessar-fogo com o govêrno do Vietnã do Norte. As fôrças comunistas do Norte e do Sul prevaleceram e, em 1976, os dois Vietnãs foram reunificados sob o regime socialista, com a capital estabelecida em Ranói.

Estima-se que 60 mil soldados estadunidenses e 2,5 milhões de vietnamitas tenham morrido durante a guerra. Além disso, o uso de armas químicas no conflito, como o agente laranja, destruiu florestas e poluiu a água e o solo, o que tornou grandes extensões de terra impróprias para o cultivo e afetou gravemente a saúde de milhões de pessoas.

Fotografia. Duas crianças sem os braços escrevem em cadernos com os pés. Uma mulher de branco observa.
Crianças vítimas do agente laranja aprendem a escrever com os pés em escola localizada em hospital, em rô chi min (antiga Saigon), Vietnã. Foto de 2005.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Identifique os motivos e os desdobramentos dos dois conflitos a seguir, considerando o envolvimento dos Estados Unidos e da União Soviética no contexto da Guerra Fria.
    1. Guerra da Coreia.
    2. Guerra do Vietnã.

A Revolução Cubana

Em 1898, depois de três anos em guerra com a Espanha, Cuba obteve sua independência com a ajuda dos Estados Unidos. Após a emancipação, o govêrno estadunidense conseguiu introduzir na Constituição de Cuba a Emenda Plát, por meio da qual poderia intervir na ilha toda vez que seus interesses estivessem ameaçados.

Em 1952, com apôio dos Estados Unidos, o general Fulgêncio Batista liderou um golpe militar no país, impôs uma ditadura e protegeu os interesses de grandes grupos econômicos estadunidenses na ilha. Segmentos da sociedade cubana insatisfeitos com a política do ditador Batista reivindicavam medidas como a realização de uma reforma agrária e melhorias no sistema de saúde.

Um dos grupos de oposição ao govêrno, chamado Geração do Centenário, sob a liderança de Fidel Castro, tentou tomar o Quartel de Moncada, na cidade de Santiago de Cuba, em julho de 1953. O plano era obter armas para distribuí-las ao povo e, assim, espalhar a revolução pelo país e derrubar o govêrno de Batista. O movimento foi reprimido, resultando na morte e na prisão de muitos de seus participantes.

Preso, Fidel Castro foi julgado, condenado e, em 1955, libertado e banido do país. Exilado no México, Fidel reuniu-se a outros opositores do regime e ao médico argentino Ernesto “Tchê Guevára, que aderiu à causa revolucionária. Em 1956, eles e outros combatentes desembarcaram em Cuba e se refugiaram nas montanhas de Sierra Maestra, no leste da ilha, onde iniciaram a guerrilha contra o govêrno.

Os revolucionários procuraram se aproximar dos camponeses da região e difundir entre eles os princípios da reforma agrária e os ideais de democracia e de independência nacional contra o intervencionismo dos Estados Unidos. Aos poucos, os guerrilheiros conquistaram o apôio da população e derrotaram as fôrças militares do govêrno em diferentes pontos do território cubano.

Em 1º de janeiro de 1959, Fulgêncio Batista abandonou o país e refugiou-se na República Dominicana. Com a fuga de Batista, os revolucionários tomaram as principais cidades de Cuba, onde foram recebidos em clima de comemoração.

Após a tomada do poder, o novo govêrno cubano manifestou neutralidade em relação aos Estados Unidos e à União Soviética e tomou uma série de medidas, como a realização da reforma agrária, a universalização do acesso à educação, a nacionalização de empresas estrangeiras e a reforma no sistema de saúde pública.

Fotografia em preto e branco. Fidel Castro, homem de barba cheia e boina. Está sobre um palanque ao lado de diversas pessoas. Ao redor uma multidão o observa. Na parte de baixo do palanque, várias bandeiras de Cuba dependuradas.
Fidel Castro discursando para uma multidão diante do palácio presidencial em Havana, Cuba. Foto de janeiro de 1959.

O alinhamento de Cuba à União Soviética

As reformas promovidas pelo novo govêrno cubano feriam os interesses de integrantes das elites, principalmente os latifundiários e as empresas estrangeiras. Por isso, foram interpretadas pelos Estados Unidos como um alinhamento de Cuba ao regime soviético, o que representava uma ameaça à hegemonia estadunidense na América Latina.

Assim, uma operação para derrubar o govêrno de Fidel Castro foi realizada em abril de 1961, unindo cubanos anticastristas exilados em Máiâmi e o govêrno estadunidense, na época sob o comando de djôn quênedi. Treinados e equipados pelas fôrças armadas dos Estados Unidos, os contrarrevolucionários invadiram a Baía dos Porcos, na costa cubana, mas foram rapidamente detidos pelas tropas do govêrno.

Diante das pressões estadunidenses sobre o programa de reformas em Cuba e do interesse do govêrno de Fidel Castro em garantir um mercado para o açúcar cubano e um fornecedor de petróleo para a ilha, ocorreu a progressiva aproximação de Cuba e União Soviética, que foi concluída após a tentativa de invasão da Baía dos Porcos. O govêrno de Cuba declarou sua adesão ao socialismo em 1961 e, no ano seguinte, os Estados Unidos decretaram o embargo econômico à ilha.

Para agravar a crise, em 1962, os estadunidenses descobriram a existência de mísseis nucleares soviéticos em Cuba e exigiram a retirada imediata deles. A Crise dos Mísseis, como ficou conhecida, foi superada quando a União Soviética decidiu atender às exigências dos Estados Unidos em troca de eles assumirem o compromisso de não mais invadir Cuba.

Saiba mais

O embargo a Cuba

Em abril de 2015, a sétima Cúpula das Américas foi palco de um encontro inédito desde o início da Guerra Fria. Raúl Castro, irmão e sucessor de Fidel no govêrno de Cuba, e baráqui obâma, presidente dos Estados Unidos, sentaram-se lado a lado e conversaram por cêrca de uma hora. Os dois chefes de Estado demonstraram a intenção de restabelecer o diálogo e promover a reaproximação econômica e diplomática dos dois países. Em 2016, Obama fez uma visita oficial de três dias a Cuba, depois de quase noventa anos sem que um presidente estadunidense pisasse na ilha. Contudo, em 2017, sob o govêrno de dônald tramp, os Estados Unidos cancelaram a política de aproximação a Cuba, e seu sucessor, jou baiden, ampliou as sanções à ilha em 2021. Assim, o embargo estadunidense, condenado por organismos internacionais e por diversos países, continuava, em 2022, sem perspectiva de ser revogado.

Fotografia. Carro conversível antigo estacionado em uma rua. Ele é comprido e tem três cores na lataria. É roxo na parte de baixo, azul no capô e bege na parte trás. Os bancos são claros, o volante grande e o vidro do para brisa é esverdeado. O para-choque e o para-lama são prateados e brilhantes. Os pneus são largos.
Sem renovação da frota de automóveis, modelos antigos ainda circulam nas ruas de Havana, capital de Cuba. Foto de 2020.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Cite os principais objetivos dos revolucionários cubanos.
  2. Por que Cuba acabou se alinhando à União Soviética?
  3. O que foi a Crise dos Mísseis?

Enquanto isso…

O cinema estadunidense

Enquanto as tensões da Guerra Fria se intensificavam, o cinema Róliudiãno era impulsionado com produções que abordavam, direta ou indiretamente, o conflito. Muitos filmes reforçavam a imagem dos Estados Unidos como os grandes heróis que salvariam o mundo dos comunistas. Nos anos 1960, o Departamento de Defesa do país chegou a fazer uma parceria com os diretores e as produtoras de cinema para garantir que isso acontecesse.

Entre os filmes produzidos nesse período estão Moscou contra 007 (1963) e 007 contra a chantagem atômica (1965), adaptados dos livros de Iân Flêmin, sobre as missões do agente secreto britânico Diêimis Bond na luta contra o inimigo soviético. Outro filme característico da época é róqui quatro (1985), dirigido por silvéster istalône, que apresenta diversos símbolos da Guerra Fria por meio da luta entre o russo Áivan Drago e o estadunidense Róqui Balbôa.

Apesar de diversos filmes valorizarem a imagem dos Estados Unidos, muitos outros tiveram uma postura mais crítica em relação à Guerra Fria. Doutor Fantástico (1964), de Istanlei Cúbriqui, por exemplo, satirizou o instável poder nuclear dos estadunidenses e dos soviéticos. Por meio do personagem Doutor Fantástico, um general estadunidense que acreditava que os soviéticos estavam contaminando os reservatórios de água dos Estados Unidos, o filme criticou o orgulho de ambos os lados do conflito em desenvolver um arsenal nuclear capaz de destruir o mundo.


Cena de filme. Dois lutadores de boxe dentro do ringue. Estão frente a frente, sem camisa. Entre eles, o juiz de camisa branca e gravata borboleta.
Cena do filme róqui quatro, dirigido por silvéster istalône, 1985.

Responda em seu caderno.

Questões

  1. Como os filmes estadunidenses incorporaram em sua narrativa o contexto da Guerra Fria?
  2. Em sua avaliação, de que modo os filmes podem contribuir para formar a opinião do público sobre determinado assunto?

A criação do Estado de Israel e a Questão Palestina

Como estudamos no capítulo 3, depois da Primeira Guerra Mundial, a Palestina passou para o contrôle do Reino Unido. A partir desse período, a migração de judeus para a região cresceu consideravelmente. Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, os judeus estabelecidos na Palestina já representavam cêrca de 30% da população, o que agravou as tensões com os árabes muçulmanos.

Em 1947, o Reino Unido transferiu à ônu a tarefa de propor uma solução para a Palestina. No fim daquele ano, a entidade apresentou um plano de divisão do território em dois Estados: um árabe e um judeu. A proposta, aprovada pela Assembleia Geral, foi rejeitada pelos países árabes e pela maior parte da população árabe da Palestina. Em 1948, líderes judeus proclamaram unilateralmente a criação do Estado de Israel. Os países árabes reagiram, iniciando a primeira de várias guerras que seriam travadas entre eles e o Estado judeu, todas vencidas por Israel.

Quando terminou a primeira guerra entre Israel e os países árabes (1948-1949), os judeus já dominavam 78% da Palestina. Milhares de habitantes árabes do território se refugiaram em países vizinhos ou em enclavesglossário árabes dentro de Israel. Começou, então, a Questão Palestina, isto é, a luta dos palestinos (como os árabes do território passaram a ser chamados) pela criação de um Estado nacional. O marcoglossário do nacionalismo palestino foi a fundação, em 1964, da Organização para a Libertação da Palestina (ó éle pê). Liderada por Iásser Arafát, a entidade se transformou em símbolo do movimento palestino por um Estado soberano na região.

O grande salto na expansão territorial israelense na Palestina foi dado com a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Israel venceu uma aliança de países árabes e ocupou a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, Jerusalém Oriental, as Colinas de Golã, que pertenciam à Síria, e o Sinai (devolvido ao Egito posteriormente).

Israel e territórios palestinos (1917-2018)

Mapa. Israel e territórios palestinos, 1917-2018. Seis mapas, todos mostrando a região da Palestina em diferentes momentos.
Primeiro mapa: 1917. 
Legenda: 
Laranja: território palestino. 
No mapa, toda a região da Palestina incluindo as cidades de Haifa, Tel Aviv, Ramallah, Jerusalém, Belém e Gaza. 
Segundo mapa: 1946. 
Legenda: 
Laranja: Território palestino.
Amarelo: Território judaico.
No mapa, todo o território em laranja, incluindo as cidades de Haifa, Tel Aviv, Ramallah, Jerusalém, Belém e Gaza, com exceção de alguns pequenos pontos no norte do território, que estão em amarelo. 
Terceiro mapa: 1947.
Legenda: 
Laranja: Território palestino.
Amarelo: Território judaico.
No mapa: maior parte do território em amarelo, incluindo as cidades de Haifa e Tel Aviv, com exceção de uma pequena porção ao norte, território no centro do país e um trecho no sudoeste, próximo a Gaza, e incluindo as cidades de Ramallah, Jerusalém e Belém. 
Quarto mapa: 1948. 
Legenda: 
Laranja: Território palestino.
Amarelo: Israel.
No mapa, Maior parte do território em amarelo, incluindo as cidades de Haifa e Tel Aviv, com exceção de Gaza e da Cisjordânia, incluindo as cidades de Ramallah, Jerusalém e Belém. 
Quinto mapa: 1967. 
Legenda: 
Laranja: Território palestino.
Amarelo: Israel. 
No mapa: Maior parte do território em amarelo, incluindo as cidades de Haifa e Tel Aviv e a região das Colinas de Golã, na Síria, com exceção de Gaza e da Cisjordânia, incluindo as cidades de Ramallah, Jerusalém e Belém.
Sexto mapa: 2018. 
Legenda: 
Laranja: Território palestino.
Amarelo: Israel.
No mapa: quase todo o território em amarelo, incluindo as cidades de Haifa e Tel Aviv e a região das Colinas de Golã, na Síria, com exceção de Gaza e de pequenos trechos na Cisjordânia, incluindo as cidades de Ramallah, Jerusalém e Belém. No canto direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 80 quilômetros.

Fontes: EVOLUÇÃO do mapa da Palestina e de Israel. Rede Angola, Luanda, 25 julho 2014. Disponível em: https://oeds.link/WZCTdE; LA PALESTINE en cartes, citations, faits et chiffres. Le Monde Diplomatique, Paris, fevereiro a março 2018. Disponível em: https://oeds.link/FghGxS. Acessos em: 14 abril 2022.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.


Transcrição do áudio

A Questão Palestina

[Locutora]:

Neste podcast, o professor Samuel Feldberg fala sobre o conflito entre povos de origem árabe e judeus na região da Palestina, que teve início em meados do século vinte. As razões para o início do conflito político e os desdobramentos desse processo, que culminaram na criação do estado judeu e em um confronto armado que dura até os dias de hoje, são alguns dos temas que o convidado explica a seguir.

[Samuel Feldberg]:

O conflito entre palestinos e israelenses tem a sua origem fundamentalmente no final do século dezenove com o aumento da imigração judaica para a região da Palestina, que na época era uma província do Império Otomano. Ao longo do começo do século vinte, houve uma relação relativamente cordial entre as duas populações.

Essa situação vai se complicar ao longo das décadas seguintes e com as consequências da Segunda Guerra Mundial, principalmente o holocausto perpetrado contra a população judaica na Europa, há um aumento do apoio para a criação de um Estado judeu independente na Palestina, o que vai levar a uma reação da população palestina e dos países árabes da região, que termina com o conflito em 1947, 1948, depois de as Nações Unidas terem decidido pela partilha do território e a criação de dois Estados independentes: um Estado judeu e um Estado árabe. A população palestina e os Estados árabes da região recusam a decisão das Nações Unidas, invadem o território e depois de um conflito que é vencido pelos israelenses vai originar o problema dos refugiados palestinos, que hoje representam a maior parte da população da Faixa de Gaza e uma parte significativa da população da Cisjordânia.

A Faixa de Gaza é um território muito limitado geograficamente. Uma pequena área geográfica na fronteira entre Israel e o Egito, que esteve em disputa desde a criação do Estado de Israel em 1948. É um local de enorme densidade demográfica, habitado principalmente por refugiados palestinos originários da Guerra de Independência de 1948.

Desde 2007, o território vem sendo administrado pelo Hamas e, portanto, as suas ligações tanto com o Irã quanto com a Síria e o ex-governo da irmandade mulçumana no Egito dificultaram o acesso do Hamas aos organismos internacionais e, portanto, a população tem que viver a partir dos recursos disponíveis no território.

O que torna o problema extremamente difícil de resolver é que os judeus veem o seu direito na ocupação de um território que ancestralmente esteve ligado ao seu povo e que no passado foi a sede de um Estado judeu independente. Os palestinos por terem vivido na região por vários séculos entendem que também têm o direito ao território, à posse do território.

A única solução viável é uma solução de divisão do território e essa divisão implicaria, de certa forma, uma separação das populações. Portanto, num primeiro momento teria que haver uma separação da população civil. E, no segundo passo, uma alocação de território que permita a criação de um Estado palestino independente.

A questão da intolerância talvez seja hoje o maior problema que as sociedades enfrentam ao redor do mundo e nós não vemos esse problema somente na questão do conflito israelo-palestino. A exclusão do outro, o não reconhecimento dos direitos do outro, que está na base da maior parte desses conflitos. Nós vemos isso acontecendo nas relações entre a Ucrânia e a Rússia, nós vemos isso nas relações entre coptas e mulçumanos no Egito, entre xiitas e sunitas na Síria e no Iraque. É um problema que aflige o mundo todo e, sem dúvida nenhuma, as crianças têm que ser educadas para aceitar os valores daqueles que eles não conhecem. E um dos grandes problemas da perpetuação desse conflito no Oriente Médio é o fato de palestinos e israelenses serem educados para o conflito e não para a convivência.


A Intifada

Desde a guerra de 1967, os sucessivos governos israelenses implementaram uma política de assentamentos de colonos judeus nos territórios da Faixa de Gaza e da Cisjordânia ocupados pelos palestinos. As colônias da Faixa de Gaza foram removidas, mas na Cisjordânia, além de mantidas, foram expandidas com a criação de novos assentamentos judaicos, apesar dos protestos da ônu e da comunidade internacional.

Diante da política de colonização israelense e da dificuldade de concretizar a criação do Estado palestino, na década de 1980 iniciou-se uma obstinada resistência à ocupação israelense. A revolta começou de fórma espontânea, tendo à frente jovens palestinos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, e ficou conhecida como Intifada, a “guerra das pedras”. Uma nova Intifada começou em 2000, mas dessa vez entraram em ação os ataques suicidas contra alvos civis e militares de Israel.

Fotografia. Manifestantes atirando pedras em militares que estão do outro lado da rua.
Manifestantes palestinos atirando pedras contra fôrças israelenses, que respondem com bombas de gás de efeito moral, em Nablus, Cisjordânia. Foto de 2015.
Tentativas de estabelecer a paz

A Intifada evidenciou a necessidade de um acôrdo político entre israelenses e palestinos. Foi nesse contexto que, em 1993, a ó éle pê e o govêrno de Israel firmaram, na Noruega, os acôrdos de Oslo, feitos com a mediação e a supervisão dos Estados Unidos.

Por meio do acôrdo, foi instituída, em 1994, a Autoridade Nacional Palestina, que administraria os territórios palestinos, sendo previstas a negociação posterior de um acôrdo de paz definitivo e, no prazo de alguns anos, a criação de um Estado palestino na região.

A maior parte das propostas dos acôrdos de Oslo, porém, não foi aplicada. Entre as razões para essa paralisia estão o radicalismo nacionalista e religioso, a intransigência de líderes − tanto de setores israelenses como de grupos palestinos − e a política do govêrno conservador de Israel, que continua a construir assentamentos na Cisjordânia, confinando os palestinos a espaços cada vez mais reduzidos.

Conexão

Promessas de um novo mundo

Direção: Justíne Chapiro, B. Z. gôldbérg, Carlos Bolado

País: Estados Unidos

Ano: 2001

Duração: 106 minutos

O documentário registra uma roda de conversa com crianças palestinas e israelenses em Jerusalém, em que elas expõem suas impressões sobre os conflitos entre Israel e Palestina e confrontam seus conhecimentos sobre “o outro”, descobrindo a possibilidade de diálogo.


Cena de filme. Dois meninos sorridentes. Ambos têm o cabelo escuro penteado de lado.
Cena do documentário Promessas de um novo mundo, 2001.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. O que motivou o início dos conflitos entre israelenses e palestinos?
  2. Explique os termos a seguir.
    1. Organização para a Libertação da Palestina.
    2. Guerra dos Seis Dias.
    3. Intifada.
  3. Identifique as propostas e os resultados dos acôrdos de Oslo, firmados em 1993.

Atividades

Responda em seu caderno.

Aprofundando

1. Junte-se a um colega e leiam o texto para responder às questões.

Um determinado filme, produzido em 1944, perturbou sobremaneira os membros do comitê [do Congresso]. Solicitaram o testemunho de uma perita em filmes, a novelista Áin Rend, e ela rapidamente identificou o principal pecado da película: exibia russos sorridentes.

– Mostrar essa gente sorrindo é um golpe-padrão da propaganda comunista. reticências

Apenas o deputado Diôn Méquidoél manifestou reservas:

– Ninguém sorri na Rússia?

– Se a pergunta é literal, a resposta é: quase ninguém.

– Eles nunca sorriem?

– Não assim. Se acaso sorriem, é na intimidade e por acidente. Certamente não se trata de um ato social. Não sorriem em aprovação ao sistema.

Uils, Guéri . Introdução. In: Rélman, Líliam. A caça às bruxas. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1981. página 64-65.

  1. Que relação pode ser estabelecida entre o macartismo e o texto apresentado?
  2. A difusão de notícias distorcidas sobre o inimigo, com um objetivo claramente político-ideológico, foi uma prática muito comum durante a Guerra Fria. Atualmente, a manipulação de informações ainda existe. Por que é importante fazermos a leitura e a análise crítica de todas as notícias que recebemos? Discutam essas questões com os colegas e apresentem argumentos para sustentar as suas ideias.

2. Leia o trecho de uma reportagem publicada em 1963 pela revista Manchete.

cúper, o astronauta nº 9

Quando Lirói Górdon Cúper Diúnior foi escolhido para subir ao espaço sideral, nos Estados Unidos, declarou, risonhamente, no centro de treinamento, em que se submetia a duras provas:

— Cumpriu-se o meu desejo! Eu torcia, desesperadamente, para ficar entre os dez primeiros pioneiros do espaço. Agora estou certo de que serei o nono, a menos que os russos, para estragar a festa, resolvam lançar alguém, repentinamente, antes da minha ascensãoreticências reticências

cúper, o astronauta nº 9. Manchete, Rio de Janeiro, edição 579, página 23, 2 maio 1963.

  1. Segundo o astronauta Lirói Górdon Cúper Diúnior, o que poderia fazê-lo perder o lugar entre os dez primeiros astronautas a ir ao espaço?
  2. O que poderia explicar esse temor?

3. O agente laranja é um herbicida que contém dioxina, substância química altamente tóxica. Entre 1961 e 1971, os Estados Unidos jogaram dezenas de milhões de litros desse produto sobre o Vietnã para destruir as florestas e os cultivos em áreas onde se escondiam os vietcongues, contaminando o solo e a água. Até hoje, os vietnamitas sentem os efeitos dessa arma química. Como vimos anteriormente, muitas crianças, cujos pais foram contaminados pelo agente laranja, nascem com malformação congênita, e o solo vietnamita ainda apresenta sinais de contaminação 50 anos depois de terminada a guerra.


  1. No presente, a pulverização de agentes químicos sobre populações ainda é usada com objetivos políticos ou militares? Investigue.
  2. O uso de agentes químicos com objetivos políticos e militares contraria os direitos humanos? Por quê?

Aluno cidadão

  1. Neste capítulo, você viu que a propaganda ideológica foi fundamental para os blocos socialista e capitalista. Nos países capitalistas, a publicidade identificava esse sistema político-econômico com a liberdade e a possibilidade de prosperar e consumir.
    1. Analise alguns anúncios publicitários na internet, em revistas, em jornais, na televisão e nas ruas. Que recursos são utilizados para convencer as pessoas a consumir determinado produto ou serviço?
    2. Avalie o impacto da publicidade em seus hábitos de consumo. De que maneira a publicidade influencia suas escolhas? Reflita e discuta o assunto com os colegas. Em seguida, registre suas conclusões.
    3. Atualmente, são muito discutidos os impactos ambientais, sociais e psicológicos do consumo não sustentável. Você conhece alguém que tenha adquirido um produto apenas para ter o modêlo “mais novo” ou para ser aceito em determinado grupo? O que foi feito com o produto “velho”? Que tipo de impacto social e ambiental essa atitude provoca?

Conversando com geografia

  1. Observe a sequência de mapas da página 154, que mostra os territórios ocupados por palestinos e judeus antes e depois da criação do Estado de Israel. Depois, faça o que se pede.
    1. De que maneira as mudanças verificadas na sequência de mapas ajudam a explicar os conflitos entre palestinos e israelenses?
    2. Por que esse território é importante para os dois povos?

enêm e vestibulares

6. (enêm-Méqui)

Os soviéticos tinham chegado a Cuba muito cedo na década de 1960, esgueirando-se pela fresta aberta pela imediata hostilidade norte-americana em relação ao processo social revolucionário. Durante três décadas os soviéticos mantiveram sua presença em Cuba com bases e ajuda militar, mas, sobretudo, com todo o apôio econômico que, como saberíamos anos mais tarde, mantinha o país à tona, embora nos deixasse em dívida com os irmãos soviéticos – e depois com seus herdeiros russos – por cifras que chegavam a trista e dois bilhões de dólares. Ou seja, o que era oferecido em nome da solidariedade socialista tinha um preço definido.

Padura, L. Cuba e os russos. Folha de São Paulo, 19 julho 2014. (Adaptado).

O texto indica que durante a Guerra Fria as relações internas em um mesmo bloco foram marcadas pelo ou pela:

  1. busca da neutralidade política.
  2. estímulo à competição comercial.
  3. subordinação à potência hegemônica.
  4. elasticidade das fronteiras geográficas.
  5. compartilhamento de pesquisas científicas.

Glossário

Primazia
: superioridade; condição de quem está em primeiro lugar.
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Capitular
: entregar-se, render-se, ceder.
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Enclave
: reduto localizado em território alheio.
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Marco
: acontecimento importante que marca época na história pessoal ou coletiva.
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