UNIDADE 1  Brasil e mundo na aurora do século vinte

O que estudaremos na unidade

Como era o Brasil no início do período republicano? Era muito diferente do Brasil atual? Como era o cotidiano no país? E o que estava acontecendo no mundo? Ao longo desta unidade, você saberá como aconteceu a instauração do regime republicano no Brasil e conhecerá alguns acontecimentos que marcaram o início da nossa história republicana. Além disso, estudará as origens da Primeira Guerra Mundial, como foi a participação brasileira no conflito e quais foram as consequências da guerra para a Europa e para o mundo.

Fotografia. Senhor em pé, votando. Ele usa camisa xadrez azul, preta e branca, e calça escura. Está atrás da Cabine de Votação, biombo de papelão branco com o emblema da Justiça Eleitoral.
Eleitor durante votação no município do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Foto de 2018. Atualmente, no Brasil, o voto é universal, obrigatório e secreto, mas nem sempre foi assim na história brasileira.

Respostas e comentários

Abertura da unidade

Esta unidade trata de questões relacionadas ao Brasil e ao mundo no início do século vinte. São abordados temas político-econômicos sobre a Primeira República no Brasil, como a crise do Encilhamento e a anexação do Acre, e alguns aspectos socioculturais, como questões relativas aos povos indígenas e à cultura afro-brasileira. Também são trabalhados os antecedentes, os principais acontecimentos e os impactos da Primeira Guerra Mundial e da Revolução Russa.

A abertura apresenta imagens do século vinte e um, que podem servir como ponto de partida para uma conversa sobre o contexto histórico do início do século vinte, como o direito ao voto e sua relação com a construção da cidadania no Brasil, a participação social dos negros na sociedade brasileira nos dias atuais e a problematização das guerras, estabelecendo uma relação entre presente e passado. Discuta com os alunos as informações disponibilizadas nas legendas das imagens levantando seus conhecimentos prévios sobre os temas abordados. Esclareça que o período republicano no Brasil estabeleceu as estruturas políticas e sociais que permitiram o nascimento e a construção da cidadania, especialmente com o fim da escravidão e a universalização do direito de voto. Acrescente que o século vinte foi palco das duas grandes guerras mundiais (a Segunda Guerra Mundial será estudada no capítulo 6) e o século vinte e um vive sob a ameaça de um novo conflito.

Fotografia. Apresentadora de telejornal, Maria Júlia Coutinho. Mulher negra, de cabelos curtos e cacheados. Usa uma camisa preta com um zíper na frente, e um microfone de lapela preso na abertura da camisa. Está sentada atrás da bancada do telejornal.
Maria Júlia Coutinho na bancada do telejornal de maior audiência no Brasil, no município do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Foto de 2019. A jornalista foi a primeira mulher negra a ocupar o lugar de apresentadora fixa desse telejornal, que tem mais de cinquenta anos de existência.
Fotografia. Grupo de pessoas em um protesto. Carregam bandeiras e um cartaz feito de papelão.
Protesto contra a guerra entre Rússia e Ucrânia em Londres, Reino Unido. Foto de 2022. A ameaça de uma terceira guerra mundial em razão dos conflitos entre esses dois países gerou protestos no mundo todo. No cartaz do manifestante, se lê: “Pare a guerra de Putin contra a humanidade”. Putin é uma referência a Vladimir Pútin, presidente russo que autorizou as tropas do país a invadirem territórios ucranianos em 2022.

Sumário da unidade

Capítulo 1

A Primeira República no Brasil, 12

Capítulo 2

Cotidiano e cultura na Primeira República, 25

Capítulo 3

A Primeira Guerra Mundial, 38

Capítulo 4

A Revolução Russa, 59


Respostas e comentários

Unidade 1: justificativas

Na primeira página de cada capítulo desta unidade, estão listados os objetivos previstos para serem trabalhados com os alunos.

Os objetivos do capítulo 1 se justificam por desenvolver noções fundamentais para o exercício da cidadania, como república, representatividade política, voto e lutas sociais. Além disso, o capítulo trata de um tema sensível, ligado, na atualidade, ao meio ambiente e aos saberes tradicionais, que é a política de “proteção” aos povos indígenas.

No capítulo 2, a pertinência dos objetivos se deve à importância das alterações promovidas pela industrialização e pela urbanização durante a Primeira República, e que repercutem até hoje no cotidiano das cidades brasileiras. Ao lado delas, nasceu uma nova estética que influenciou as produções artísticas, expressa principalmente na Semana de 1922. Outra consequência da nova mentalidade industrial e moderna foi a exclusão da população negra e operária, promovendo debates importantes em torno do protagonismo desses grupos na busca por liberdade e participação social, política e cultural, que representam a ampliação da cidadania.

Os objetivos do capítulo 3 se justificam pela importância em desenvolver a cultura de paz entre os alunos para buscar soluções com base na negociação, na diplomacia e no entendimento mútuo, evitando confrontos e violências de qualquer tipo. Os objetivos também são relevantes ao evidenciar a necessidade de percepção crítica e conduta ética no desenvolvimento e emprego de novas tecnologias, além da importância de acolher as diferenças e de acomodá-las com respeito e tolerância no interior de comunidades identitárias baseadas em laços nacionais, religiosos ou culturais.

Os objetivos do capítulo 4 se justificam pela importância de estudar movimentos sociais que visam melhorar as condições de vida da sociedade civil, e a necessidade de criar mecanismos inclusivos, democráticos e diplomáticos para atingir esse objetivo, condenando autoritarismos e violências de todo o tipo, como os que foram cometidos em nome do ideal socialista.

CAPÍTULO 1  A Primeira República no Brasil

Fotografia. Indígenas reunidos em uma manifestação. Usam penas, cocares e outros tipos de adereços. Muitos estão com o rosto e o corpo pintados. Alguns usam máscara de proteção. Alguns carregam cartazes. Ao fundo, estrutura semicircular do Congresso Nacional. Atrás dela, prédios semelhantes alinhados.
Manifestação indígena para exigir do govêrno a garantia de seus direitos em Brasília, Distrito Federal. Foto de 2021.

No fim do século dezenove, a monarquia foi substituída pela república, iniciando uma nova fase na vida política do Brasil. Contudo, muitos valores e práticas culturais estabelecidos durante o longo período colonial e imperial foram mantidos nas relações políticas e sociais do país. Por exemplo, a estrutura social vigente não passou por mudanças significativas com a instauração do regime republicano, de modo que as elites rural e urbana continuaram a controlar os rumos da política brasileira.

Os movimentos sociais que visavam contestar a ordem vigente, expondo a precariedade da vida dos mais pobres e dos ex-escravizados, continuaram sendo duramente reprimidos. Apesar disso, a noção de cidadania começou a ter relevância nesse período. Com a instauração da república, o voto censitário foi substituído pelo voto direto. Mesmo que apenas brasileiros do sexo masculino, maiores de 21 anos e alfabetizados pudessem votar, essa mudança representou um passo importante na construção da cidadania no Brasil.

  • No seu entendimento, o que significa viver de fórma republicana?
  • Qual é a importância do voto em um país democrático?
  • De que outros modos podemos exercer a cidadania além do voto?

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Este capítulo contempla parcialmente as habilidades ê éfe zero nove agá ih zero um e ê éfe zero nove agá ih zero dois (ao abordar aspectos da emergência do regime republicano no país) e a habilidade ê éfe zero nove agá ih zero sete (ao apresentar algumas questões que envolvem os povos indígenas no início do período republicano). O trabalho para o desenvolvimento dessas habilidades se completa ao longo de outros capítulos, conforme as indicações no quadro de habilidades do ano.

Objetivos do capítulo

  • Reconhecer e contextualizar as mudanças políticas ocorridas a partir da instauração da república no Brasil.
  • Compreender as práticas políticas oligárquicas durante a Primeira República.
  • Caracterizar e compreender os movimentos sociais do período como manifestações da insatisfação popular e dos conflitos sociais que marcaram a história republicana.
  • Identificar e problematizar as políticas relacionadas aos povos indígenas, e suas principais consequências, durante o período republicano.

Abertura do capítulo

A proposta da abertura é sondar os conhecimentos prévios dos alunos sobre o conceito de república (já estudado no volume de 6º ano da coleção) e os valores que caracterizam uma sociedade constituída com base em preceitos republicanos. Recomenda-se verificar se eles são capazes de relacionar a prática republicana e o exercício da democracia a alguns dos seus fundamentos, como o direito ao voto, a representação política, a independência dos poderes de Estado etcétera Incentive-os a expressar o que sabem a respeito da importância do voto em um país democrático, comentando, se necessário, que o direito ao voto significa a possibilidade de escolher representantes para ocupar cargos no Legislativo e no Executivo que sejam alinhados com o que se espera para o futuro do país; trata-se, nesse sentido, de uma ferramenta de participação social. Motive-os também a identificar outras práticas, além do voto, que cabem aos cidadãos no sentido de ampliar a cidadania, consolidar a democracia e promover justiça e igualdade social, como as manifestações em prol do bem coletivo e o ato de fiscalizar e cobrar ações dos políticos eleitos, independentemente do voto pessoal.

A proclamação da república

No Brasil, as ideias republicanas transformaram-se em fôrça política organizada a partir da década de 1870. Todavia, não havia um projeto republicano homogêneo. Assim, alguns republicanos propunham transformações radicais, com a abertura de espaços para a atuação popular. Outros defendiam mudanças moderadas e limites para a participação política da sociedade. Havia também um terceiro grupo, composto de positivistas (consulte a seção “Saiba mais”), que pretendia instaurar uma “ditadura republicana” controlada por militares.

Saiba mais

O positivismo de Augusto Cônti

O positivismo foi uma corrente filosófica elaborada na França por Augusto Cônti, no século dezenove. Seus adeptos defendiam a ideia de que o conhecimento científico só podia ser construído por meio da observação e da experiência, e aplicavam métodos científicos ao estudo dos fenômenos sociais. A máxima positivista “o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim” influenciou a criação do lema da bandeira republicana do Brasil: “Ordem e Progresso”.

No dia 15 de novembro de 1889, sob a liderança do marechal Deodoro da Fonseca, integrantes do exército influenciados pelas ideias positivistas deram um golpe de Estado, e a república foi proclamada no Brasil, dando início ao período conhecido como Primeira República (1889-1930). Formou-se um govêrno provisório comandado por Deodoro e composto de representantes das várias tendências republicanas, com exceção dos radicais. Deposto, Dom Pedro segundo e sua família foram obrigados a se exilar em Portugal.

Uma das primeiras medidas de Deodoro foi a dissolução das Assembleias Provinciais e das Câmaras Municipais, além da destituição dos presidentes de província (atuais governadores de estado). O novo govêrno convocou eleições para o Congresso Nacional Constituinte, que elaborou a primeira Constituição do Brasil republicano, promulgada em 24 de fevereiro de 1891. No dia seguinte, o Congresso elegeu Deodoro da Fonseca como presidente e o marechal Floriano Peixoto como vice-presidente do Brasil.

Pintura. À esquerda, mulher branca sentada em uma estrutura elevada. Ela usa colar de brilhantes, blusa branca larga sem mangas e uma longa saia vermelha com adornos dourados na barra. Com uma das mãos segura um pergaminho e a outra está esticada na direção do mastro de uma bandeira brasileira carregada por um militar. Senhor de barba comprida e grisalha, veste uniforme escuro com adornos dourados nos ombros e botões. Seu chapéu é semi oval, escuro com adornos dourados. Carrega uma espada longa pendurada na cintura. À sua esquerda, outro militar com vestes iguais. Tem cabelos e bigode claros. Com uma das mãos, segura um pergaminho, e com a outra, tira o chapéu da cabeça em sinal de saudação à mulher. À direita, homem de casaco, calça social e cartola pretos. Tem cabelos e bigode escuros. Com uma das mãos segura a coroa do imperador, e com a outra, levanta a cartola da cabeça, também em sinal de saudação. Atrás deles, outros militares reunidos conversam. À direita, duas mulheres negras conversam. Elas usam saias longas e turbantes na cabeça. Ao lado delas, duas crianças com roupas simples observam a cena. Ao fundo, à esquerda, pessoas na janela de um prédio, e à direita, uma família em um deck perto do mar. Entre as pessoas da família está o imperador, homem branco de cabelos e barba brancos, sobretudo e cartola pretos. Ele acena para as pessoas na janela do prédio. No mar, dois grandes navios.
Alegoria à proclamação da república e à partida da família imperial, pintura do final do século dezenove. Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, município de São Paulo, São Paulo.

Responda em seu caderno.

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  1. Que símbolos da monarquia e da república aparecem na pintura?
  2. O que a presença da mulher negra e das crianças pobres, no canto direito da pintura, sugere sobre o processo de instauração da república no Brasil?

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar as fôrças políticas envolvidas na proclamação da república, bem como os arranjos políticos realizados na configuração do novo regime no Brasil, o texto contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero nove agá ih zero dois e contribui para o desenvolvimento da Competência específica de História nº 2.

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  1. A figura feminina é uma alegoria à república. Chame a atenção dos alunos para o fato de essa figura ter sido representada em uma posição de destaque na pintura, com maior iluminação, vestindo roupas de cores vivas e com aparência jovem e firme, que remete à vitalidade. Ela está prestes a empunhar uma bandeira do Império do Brasil, na qual os símbolos monárquicos foram eliminados. A monarquia foi representada ao fundo, escurecida, na figura envelhecida e diminuta do ex-imperador e de alguns familiares que o acompanham rumo ao exílio. A coroa, outro símbolo da monarquia, aparece nas mãos de um dos líderes republicanos, mostrando que o poder monárquico havia perdido sua função.
  2. Permita que os alunos discutam livremente a questão. Espera-se que eles reflitam sobre o fato de a mudança no regime político não ter alterado os fundamentos econômicos e sociais do país, pois a economia nacional se manteve predominantemente agroexportadora, e os pobres, incluindo os ex-escravizados, permaneceram excluídos e marginalizados.

Atividade complementar

Se considerar pertinente, proponha aos alunos a análise da pintura Proclamação da república (1893), de Benedito calísto, que pode ser facilmente encontrada na internet. Nessa pintura, ambientada no Campo de Santana, no centro da cidade do Rio de Janeiro, foram representados diversos militares com canhões e cavalaria, voltados para o centro da tela, onde está o marechal Deodoro da Fonseca (em destaque, com farda militar e acenando com o quepe).

Chame a atenção dos alunos para o fato de calísto ter representado na pintura o protagonismo dos militares e a reduzida participação de civis que compunham a elite brasileira na época. Além disso, as camadas populares não aparecem no cenário, o que pode expressar o caráter elitista e conservador da nascente República Brasileira.

A Constituição de 1891

A primeira constituição republicana incorporava princípios liberais, afirmando o direito à igualdade, à liberdade, à segurança e à propriedade privada. Conheça, a seguir, algumas de suas principais características.

  • O Brasil tornou-se uma república federativa e presidencialista, dividida em estados. Reconhecia-se a autonomia dos estados, que poderiam, por exemplo, criar impostos e obter empréstimos diretamente do exterior.
  • Foi adotada a tripartição dos poderes: O Estado passou a contar com Poder Legislativo, Judiciário e Executivo; o Poder Moderador deixou de existir. Os ocupantes dos principais cargos do Executivo e do Legislativo deviam ser eleitos por voto direto.
  • Foi instituído o voto aberto para a maior parte das eleições, mas só os cidadãos brasileiros, maiores de 21 anos e alfabetizados podiam votar. Soldados, religiosos e mendigos estavam excluídos desse direito. A Constituição de 1891 não fazia referência ao voto feminino; porém, pela tradição, as mulheres estavam impedidas de votar.
  • Estabeleceu-se a separação entre Estado e Igreja e foram criados mecanismos de registro civil, como as certidões de nascimento, de casamento e de óbito.
Esquema. Caixa de texto rosa escuro com o texto OS TRÊS PODERES NA CONSTITUIÇÃO DE 1891. A caixa está ligada por um fio vermelho a outras três caixas, na cor rosa claro, com os seguintes textos: EXECUTIVO: PRESIDENTE E VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA E MINISTROS DE ESTADO. LEGISLATIVO: DEPUTADOS FEDERAIS E SENADORES. JUDICIÁRIO: JUÍZES DOS TRIBUNAIS FEDERAIS E DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

Fonte: BRASIL. [Constituição (1891)]. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de 24 de fevereiro de 1891). Rio de Janeiro: Congresso Nacional Constituinte, 1891. Disponível em: https://oeds.link/jiNg8L. Acesso em: 10 março 2022.

A crise do Encilhamento

No início de 1890, o ministro da Fazenda Rui Barbosa propôs uma reforma financeira que ampliava o volume de papel-moeda em circulação no país a fim de facilitar o pagamento dos trabalhadores assalariados e expandir o crédito para a agricultura e, principalmente, para a indústria.

Com a facilidade de crédito, porém, muitas “empresas-fantasmas” surgiram. As ações dessas empresas eram negociadas nas bolsas de valores e o valor delas aumentava continuamente. Em razão disso, muitos empresários transferiram os investimentos do setor produtivo para o mercado financeiro, gerando uma intensa especulação financeiraglossário , que ficou conhecida como Encilhamento (esse nome deriva da palavra cilha – cinta que prende a sela à barriga dos cavalos antes da entrada na pista de corrida).

Como as empresas não cresciam na mesma proporção do preço de suas ações e muitas delas já tinham encerrado as atividades, a crise logo começou. O valor da moeda despencou e a inflação cresceu rapidamente. Muitas empresas foram à falência e o desemprego aumentou. O socorro do govêrno a algumas dessas empresas esvaziou os cofres públicos.

Charge. Três homens de cartola preta e ternos coloridos montando cavalos em uma corrida. Os três estão com a boca aberta e os dentes serrados. As sobrancelhas estão franzidas. Cada um tem um chicote e uma plaquinha com a palavra AÇÕES. À frente dos cavalos, a linha de chegada com a palavra LUCRO. No chão, à frente da linha de chegada, está escrito ESPECULAÇÃO FINANCEIRA. Na arquibancada, pessoas vestindo roupas de luxo assistem à corrida.
Charge de Ivan Coutinho sobre o Encilhamento, 2018. A especulação financeira ocorrida na Primeira República foi associada a uma corrida de cavalos.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao apresentar as alterações políticas decorrentes da promulgação da Constituição de 1891, bem como a crise do Encilhamento e suas consequências, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero nove agá ih zero um.

Atividade complementar

Organize a turma em grupos para que façam uma pesquisa sobre os seguintes itens: a história da bolsa de valores no Brasil; o que são ações e qual é a diferença entre empresas de capital aberto e fechado; o que é e como funciona a bolsa de valores; qual é a diferença entre investidor e especulador; e quais são as práticas existentes de manipulação do preço das ações na bolsa. Oriente os grupos a preparar apresentações sintéticas do resultado da pesquisa em formato analógico ou digital, usando infográficos.

A bolsa de valores no Brasil foi criada no período de transição da monarquia para a república, quando se iniciava a fase monopolista e financeira do capitalismo.

Uma ação corresponde a uma fração de uma empresa.

As empresas de capital aberto (sociedade anônima) disponibilizam suas ações para compra e venda na bolsa de valores. Já as empresas de capital fechado (limitada) são controladas apenas pelos seus sócios e investidores privados e não participam das transações de ações no mercado financeiro.

Ao comprar ações de uma empresa, o investidor passa a ser dono de pequena parte dela.

Diferente do investidor, o especulador se atenta apenas ao valor da ação, comprando ações quando os preços caem e vendendo logo que sobem; seu objetivo é o lucro fácil e rápido.

Apesar de existirem leis que coíbem fórmas de manipulação dos preços, a prática de indução do valor das ações é comum.

Bê êne cê cê

Ao explorar o funcionamento do capitalismo financeiro, a atividade se relaciona ao tema contemporâneo transversal Educação Financeira e contribui para o desenvolvimento das Competências gerais da Educação Básica nº 1 e nº 2 e da Competência específica de História nº 2.

Renúncia de Deodoro e o govêrno de Floriano

A crise do Encilhamento afetou as oligarquiasglossário regionais que, descontentes com a forte centralização do poder pelo presidente da república, defendiam mais autonomia para os estados e almejavam participação mais ativa na definição dos rumos econômicos do Brasil. À crise econômica somou-se, assim, uma crise política.

Diante da situação, Deodoro da Fonseca dissolveu o Congresso e passou a intervir por reformas constitucionais que lhe assegurassem mais poderes, o que desagradou ainda mais seus opositores. Pressionado por uma revolta organizada de parte da marinha, em que os revoltosos ameaçavam bombardear a capital, o presidente renunciou em novembro de 1891.

O marechal Floriano Peixoto assumiu o cargo e empregou esforços para controlar a inflação e recuperar a economia. Apesar de as medidas tomadas pelo marechal não terem resolvido a crise econômica, algumas delas, como o contrôle dos preços de alimentos e de aluguéis e a isenção de alguns impostos, garantiram certo apôio popular ao govêrno.

Floriano consolidou o regime republicano por meio da centralização política e do comando rigoroso das fôrças armadas. Enfrentou as duas principais rebeliões do período: a Revolução Federalista e a Segunda Revolta da Armada. Nos dois casos, a repressão foi violenta e o govêrno republicano mostrou sua disposição em não tolerar mobilizações oposicionistas.

A Revolução Federalista começou no Rio Grande do Sul, em fevereiro de 1893. Os combates foram travados entre republicanos partidários da centralização política do govêrno de Floriano e os federalistas, defensores de um Estado menos centralizado. As lutas estenderam-se por Santa Catarina e pelo Paraná. A revolta foi sufocada pelo govêrno em 1895.

A Segunda Revolta da Armada teve início em setembro de 1893. Descontentes com a preponderância do exército e com a limitada participação da marinha na política brasileira, oficiais da marinha se rebelaram e exigiram novas eleições. Durante o conflito, a cidade do Rio de Janeiro foi bombardeada pelos rebeldes, que só se renderam em março de 1894.

Fotografia em sépia. Construções em ruínas. Telhados e paredes destruídos. Algumas pessoas estão na rua entre as construções destruídas. Ao fundo, uma bandeira pendurada no mastro.
Forte de Villegagnon após bombardeio durante a Segunda Revolta da Armada, no Rio de Janeiro. Foto de cêrca de 1893. Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Quais foram as principais medidas estabelecidas pela Constituição de 1891?
  2. Os republicanos eram um grupo político homogêneo? Justifique.
  3. Quais eram as principais insatisfações dos revoltosos que participaram da Revolução Federalista e da Segunda Revolta da Armada, ambas ocorridas em 1893?

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar as alterações políticas e suas repercussões sociais durante os primeiros governos republicanos, o conteúdo favorece o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero nove agá ih zero um e ê éfe zero nove agá ih zero dois.

Recapitulando

  1. A Constituição de 1891 estabeleceu a separação entre a Igreja e o Estado e a divisão dos poderes em Executivo, Legislativo e Judiciário, extinguindo o Poder Moderador. Além disso, o documento incorporava princípios liberais, afirmando o direito à igualdade, à liberdade, à segurança e à propriedade privada. A constituição estabelecia ainda que os representantes do govêrno deviam ser eleitos por voto direto, e somente maiores de 21 anos e alfabetizados podiam votar. Soldados, religiosos e mendigos não tinham direito ao voto. Apesar de o texto constitucional não fazer referência ao voto feminino, pela tradição as mulheres estavam impedidas de votar.
  2. Não. Entre os republicanos havia setores que defendiam transformações radicais, com ampla participação popular; grupos moderados, que propunham limites para a participação do povo na política; e os positivistas, que queriam instaurar um govêrno centralizado e comandado pelos militares. A tendência positivista foi a vitoriosa.
  3. Os participantes da Revolução Federalista expressavam o descontentamento com a forte centralização política do govêrno de Floriano Peixoto. Já os participantes da Segunda Revolta da Armada estavam insatisfeitos, com a preponderância do exército e com a limitada participação da marinha na política brasileira.

Oligarquias no poder

Após a instabilidade dos dois governos militares da república, um civil, Prudente de Morais, assumiu o cargo de presidente em 1894. As alianças entre as oligarquias estaduais passaram, então, a determinar os rumos da política nacional. Por isso, os primeiros anos do regime republicano no Brasil ficaram conhecidos como República Oligárquica.

Política dos governadores

O contrôle do govêrno pelas oligarquias era garantido por meio da política dos governadores. Arquitetada por Campos Sales, o segundo presidente civil da república, essa política funcionava como um sistema de alianças entre o govêrno federal e os governos estaduais, que eram controlados pelas oligarquias locais. O govêrno federal oferecia favores políticos e se comprometia a não intervir nas disputas locais desde que os governadores dos estados conseguissem eleger deputados e senadores que apoiassem o presidente da república. As eleições eram diretas, geralmente abertas e fraudulentas.

Para esse esquema funcionar, criou-se a Comissão Verificadora de Poderes, que era controlada por pessoas ligadas ao presidente e encarregada de realizar a diplomaçãoglossário dos deputados eleitos. Com esse objetivo, a comissão excluía da lista de eleitos os políticos da oposição que haviam vencido as eleições, impedindo-os de chegar ao Congresso.

História em construção

Houve ou não a “política do café com leite”?

A “política do café com leite” foi a denominação de uma suposta aliança política entre as oligarquias dos estados mais ricos do país durante a Primeira República: São Paulo, maior produtor de café, e Minas Gerais, grande produtor de leite e o segundo maior produtor de café. O uso dessa expressão levava a crer que existia um acordo para garantir que paulistas e mineiros se revezassem no govêrno federal. Desde os anos 1990, contudo, historiadores têm contestado essa visão, mostrando que outras fôrças oligárquicas atuaram e influenciaram os rumos da política brasileira no período. Segundo essas pesquisas, os governos estaduais tinham potencial de intervenção na política nacional e construíam alianças de acordo com seus interesses.


Charge. Dois homens muito altos e fortes, de pele amarelada. Estão de braços cruzados na frente de uma grande porta com os dizeres: NOVO GOVERNO. Eles vestem calção listrado e meias de cano alto. No calção do homem à esquerda está escrito SÃO PAULO, e no calção do homem à direita está escrito MINAS. À frente deles, um homem branco, bem pequeno, com um guarda chuva embaixo do braço e o chapéu na mão, estendido para frente. Usa paletó e sapatos azuis, e calça vermelha onde está escrito a palavra SERGIPE.
O direito das minorias, charge de Alfredo Istorni, 1926. A charge era acompanhada da seguinte legenda: “O PEQUENO: — Há um lugarzinho para mim nesse Teamglossário ? OS GRAÚDOS: — Tem paciência, mas o scratchglossário está completo com elementos de São Paulo e Minas.”.

Responda em seu caderno.

Questão

A charge de Alfredo Istorni reafirma ou contesta a existência da política do café com leite? Como essa mensagem foi representada por ele?


Respostas e comentários

O “café com leite”

Segundo a pesquisadora Claudia Viscardi, a existência de uma aliança entre São Paulo e Minas Gerais teria sido difundida por jornais e chargistas do período, não se verificando na realidade. No entanto, ainda que esse rodízio não tenha sido acordado, não é correto afirmar que havia uma relação de igualdade entre essas oligarquias e as dos estados economicamente mais fracos. A maior presença de políticos de Minas Gerais e, principalmente, de São Paulo na Presidência da República é uma evidência do poder de pressão desses dois estados sobre a federação.

História em construção

A charge reafirma a existência da “política do café com leite”, definida pelo revezamento dos políticos que representavam as oligarquias de São Paulo e de Minas Gerais no govêrno federal. A mensagem foi representada na charge por meio do tamanho dos personagens, sendo o “pequeno”, o estado do Sergipe, e possivelmente outros com menor importância econômica no período, que pergunta se pode participar do time (team) do govêrno; e os “grandes”, os estados de São Paulo e de Minas Gerais, que negam a participação desses no elenco (scratch) do govêrno.

Bê êne cê cê

Além de propiciar o exercício da atitude historiadora, a análise da charge como fonte documental contribui para o desenvolvimento da Competência específica de História nº 3.

Ampliando: a predominância do café na economia nacional

“O fato de a economia agroexportadora reticências estar condicionada à ascensão de preços do mercado internacional para a ampliação de seus lucros a tornava refém das políticas cambial, fiscal e monetária estabelecidas nacionalmente. Portanto, a esfera da política se constituía de importância fundamental para que os interesses econômicos dos cafeicultores fossem contemplados. Daí o interesse premente, dos estados cafeicultores, em manterem-se no poder. Ao mesmo tempo, a necessária aliança com estados não cafeicultores, aliada à luta constante por hegemonia, limitou a ação dessas elites na defesa de interesses exclusivistas, garantindo ao Estado republicano a detenção de certa margem de autonomia, em se tratando dos interesses do café.”

VISCARDI, Claudia. O teatro das oligarquias: uma revisão da “política do café com leite”. Belo Horizonte: Traço Fino, 2012. página 22.

Coronelismo e currais eleitorais

A figura política dos “coronéis” tem origem na Guarda Nacional, criada em 1831 para manter a ordem pública. As tropas eram constituídas por homens livres e proprietários de terras, que deviam possuir determinada renda. Na Primeira República, a Guarda Nacional foi submetida ao exército e desmobilizada, mas o termo “coronel” continuou a designar os homens poderosos dos municípios, proprietários de terras e influentes na política local.

Os coronéis estavam no tôpo da hierarquia política local. Mediavam conflitos, ofereciam proteção, perseguiam os opositores e negociavam apôio a governantes estaduais e nacionais. Nas eleições, os coronéis conseguiam os votos do eleitorado por meio da violência ou de troca de favores, como a oferta de emprego, roupas, alimentos, medicamentos etcétera A lei não exigia o sigilo do voto e, por isso, era mais fácil coagir o eleitorado. Esse tipo de voto ficou conhecido como voto de cabresto. O nome fazia referência ao “cabresto”, peça de couro colocada na cabeça de animais para controlá-los.

Não se deve imaginar, porém, que as camadas populares tivessem uma atitude totalmente passiva diante da política no período. Alguns historiadores afirmam que o povo se mobilizava para exercer o direito ao voto e conquistar melhores condições de vida: falsificava documentos para cumprir as exigências eleitorais relacionadas a residência, profissão e idade; e encaminhava petições aos órgãos públicos para obter esse direito.

Refletindo sobre

O que você pensa sobre a prática de compra e venda de votos no presente? Essa prática é uma atitude cidadã? Justifique.

Saiba mais

Os campos dos flagelados no Ceará

No nordeste, os períodos de sêca aprofundavam os problemas sociais. Em 1915, por exemplo, no sertão cearense, houve uma grande sêca que obrigou milhares de pessoas a se deslocar para as cidades. Com o intuito de evitar que essa população chegasse às cidades – para não ter que abrigá-la –, o govêrno mandou construir campos de concentração, onde seriam oferecidos alimentação e trabalho (na construção de açudes) a essas pessoas. Porém, isso não ocorreu: os flagelados da sêca viviam amontoados nesses espaços, nos quais sofriam com a fome e a proliferação de doenças que provocaram milhares de mortes.

Os grandes fazendeiros temiam que o êxodo rural provocasse a falta de mão de obra em suas propriedades. Assim, sob a alegação de que queriam ajudar a população com a geração de empregos, eles recorriam ao Estado para conseguir verbas para que os flagelados trabalhassem em obras de melhoria em suas terras. Nesse aspecto, a criação dos campos de concentração atendeu mais às necessidades dos fazendeiros do que às dos retirantes.

Fotografia. Um homem e três crianças na margem de um açude. O homem está abaixado segurando um grande recipiente na água. Ela é escura e escassa. O solo na margem é seco com muitos galhos.
Família coletando água em açude quase sêco em Canudos, Bahia. Foto de 2019. Por causa da sêca em algumas regiões do semiárido nordestino, os sertanejos precisam caminhar vários quilômetros para encontrar água.

Respostas e comentários

Refletindo sobre

A atividade promove a reflexão sobre a prática de compra e venda de votos, atitude que fere os princípios da democracia e o exercício da cidadania, sendo uma oportunidade para que os alunos compreendam que as ações individuais podem impactar o funcionamento da sociedade.

Bê êne cê cê

Ao propor a reflexão sobre a permanência da prática da compra de votos na sociedade brasileira, a atividade se relaciona com o tema contemporâneo transversal Vida familiar e social e contribui para o desenvolvimento das Competências gerais da Educação Básica nº 1 e nº 7 e das Competências específicas de Ciências Humanas nº 5 e nº 6.

sêca

Na sêca de 1877-1878, muitos retirantes deslocaram-se para Fortaleza, agravando os problemas sociais na capital cearense, que não tinha estrutura para receber essa grande quantidade de pessoas. Na grande sêca de 1915, o Estado tentou impedir um novo êxodo rural, criando programas de construção de açudes para manter a população em seus locais de origem. Muitos projetos, porém, não saíram do papel ou foram ineficazes. É importante salientar que o acesso e a distribuição da água nessas regiões estão ligados a interesses políticos e econômicos que dificultam a solução dos problemas sociais ligados à sêca.

Campos de concentração cearenses

A expressão campos de concentração era usada na época das grandes sêcas do Ceará por confinar os flagelados em um espaço no qual eram constantemente vigiados. Na sêca de 1932, a construção de campos de concentração foi mais intensa. Mais informações sobre o tema podem ser consultadas em RIOS, Kênia Sousa. Isolamento e poder: Fortaleza e os campos de concentração na sêca de 1932. Fortaleza: Imprensa Universitária, 2014; e FERREIRA, Lara Vanessa de Castro. Enxadas e compassos: sêca, ciência e trabalho no sertão cearense (1915-1919). 2009. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2009.

Conflitos rurais na Primeira República

No início do período republicano, o Brasil era um país majoritariamente agrário. Calcula-se que cêrca de 70% da população habitava o campo nesse momento. A maioria dos trabalhadores rurais vivia da pequena lavoura de subsistência em terras que, frequentemente, pertenciam a um grande proprietário. Esse cenário contribuiu de fórma significativa para a ocorrência de conflitos sociais na zona rural.

Guerra de Canudos

Antônio Vicente Mendes Maciel, mais conhecido como Antônio Conselheiro, peregrinou pelo sertão nordestino durante anos pregando mensagens religiosas à população pobre. Com o tempo, muitas pessoas juntaram-se a ele e passaram a segui-lo em suas peregrinações. Em 1893, o grupo liderado por Antônio Conselheiro se fixou em Canudos, no norte da Bahia. O arraial, batizado de Belo Monte, cresceu rapidamente e reuniu muitos sertanejos famintos, sem emprego nem perspectivas de vida, além de pessoas que fugiam das perseguições dos coronéis.

Região de Canudos (século dezenove)

Mapa. Região de Canudos, século dezenove. Legenda: Roxo: Região de Canudos. Linha cinza: Limites atuais entre as unidades da federação. No mapa,a região de Canudos está localizada no norte do estado da Bahia, incluindo as cidades de Monte Santo, Canudos e Juazeiro, próximo aos rios São Francisco e Vaza-Barris. Na parte inferior do mapa, mais ao centro, rosa dos ventos. À direita, escala de 0 a 560 quilômetros.

Fonte: SAGA: a grande história do Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1981. página 173.

O crescimento de Canudos incomodou proprietários de terras, líderes da Igreja Católica e autoridades políticas, que consideravam a comunidade uma ameaça ao poder dos latifundiários, da Igreja e até mesmo da república recém-instalada. Assim, em 1896, o govêrno da Bahia enviou uma expedição armada para o local. Antes de chegar à região, porém, os soldados foram cercados e desmobilizados pelos conselheiristas. No ano seguinte, o govêrno federal enviou duas outras expedições, que foram novamente derrotadas.

Contudo, a população de Canudos não resistiu à quarta expedição. As fôrças federais iniciaram o ataque em junho de 1897 e, no início de outubro, tomaram e destruíram o arraial.

Fotografia em sépia. Homem em pé, vestindo calça e camisa de manga longa. Usa um chapéu arredondado. Está em frente a uma casa rústica com uma pequena porta e telhado de palha.
Homem em frente a uma moradia em Canudos, Bahia. Foto de 1897. Museu da República, Rio de Janeiro. A população de Canudos dedicava-se à agricultura, ao artesanato e à criação de animais. Toda a produção era dividida entre os membros da comunidade, e o excedente era vendido nas vilas e nas cidades vizinhas.

Respostas e comentários

O arraial de Canudos

O número de moradores de Canudos é incerto: estima-se que havia no arraial entre 10 mil e 30 mil pessoas. Durante a guerra, esses moradores foram chamados de “selvagens que ameaçavam a civilização”. Portanto, derrotá-los era considerado o triunfo da civilização sobre a barbárie. Ao chegar a Canudos, o jornalista e escritor Euclides da Cunha percebeu que a ação dos “civilizados” era de uma brutalidade absurda. Surpreso e chocado, Cunha, que a princípio era contra o movimento de Canudos, sintetizou sua amargura e suas dúvidas sobre o conflito na obra Os sertões, publicada em 1902.

Cangaço: uma guerra no sertão

A formação de bandos armados que percorriam o sertão nordestino é muito anterior à Primeira República. Esses bandos provavelmente tiveram origem na disputa entre famílias poderosas ou senhores de terras da região no final do século dezoito. Os homens que compunham esses grupos, chamados de cangaceiros, eram sustentados por chefes políticos locais. Mais tarde, porém, passaram a atuar de maneira independente, atacando fazendas, saqueando o comércio e matando de acordo com suas regras.

O cangaceiro que se tornou mais famoso foi Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como Lampião. Seu bando percorreu o sertão do final da década de 1910 até 1938, quando ele e outros cangaceiros foram mortos pela polícia, numa emboscada realizada na Fazenda Angicos, no interior do estado de Sergipe, esconderijo utilizado pelo grupo.

Fotografia em preto e branco. Lampião e Maria Bonita em uma trilha entre arbustos. Ela tem cabelos curtos e lisos, na altura das orelhas. Está sentada com as pernas cruzadas e com as mãos sobre os dois cachorros ao seu lado. Ele está em pé, usa roupas largas, botas altas e um chapéu de couro. Segura um jornal nas mãos.
Lampião e sua esposa, Maria Bonita. Foto de Benjamin Abraão, publicada na Revista Illustrada em 1936.

Embora frequentemente cometessem roubos, pilhagens e assassinatos, os cangaceiros eram muitas vezes vistos como heróis pelos sertanejos, sobretudo por terem coragem de enfrentar a polícia e os coronéis locais. O cangaço perdeu fôrça no início da década de 1940. A repressão dos governos se tornou mais eficiente, e a criação de vagas de trabalho nas indústrias do sudeste absorveu muitos sertanejos que até então encontravam no cangaço um meio de sobrevivência.

O cangaço é objeto de diferentes interpretações. Alguns historiadores o consideram uma reação rebelde às dificuldades sociais e políticas da região, como a fome, a miséria, a sêca e a opressão exercida pelos coronéis, na expectativa de transformar essa situação. Outros pesquisadores veem os cangaceiros como bandidos, que não tinham nenhum projeto de transformação social e praticavam crimes para sobreviver.

Guerra do Contestado

A Guerra do Contestado (1912-1916) ocorreu na divisa dos estados do Paraná e de Santa Catarina. Em 1908, o govêrno federal, comandado por Afonso Pena, permitiu que empresas estrangeiras se instalassem na região para a construção de uma ferrovia, ligando São Paulo ao Rio Grande do Sul, e para a exploração de madeira. Os pequenos proprietários, que viviam na área havia quase um século, foram expulsos do local.

Nesse contexto, sobressaiu-se a figura de José Maria de Jesus. Com um discurso de salvação da alma, ele conquistou centenas de pessoas que buscavam melhores condições de vida, inclusive operários que trabalhavam na construção da ferrovia, e organizou uma comunidade igualitária chamada Monarquia Celeste, no centro-sul de Santa Catarina.

Assim como no caso de Canudos, o crescimento da comunidade alarmou os governos de Santa Catarina e do Paraná. Temerosos de que uma revolta popular explodisse, enviaram tropas para combater o movimento no final de 1912. Nesse confronto, José Maria foi assassinado, mas sua morte não impediu que a luta política e religiosa continuasse. Os rebeldes só foram derrotados em 1916, com a ajuda do govêrno federal.


Respostas e comentários

Contestado

Os seguidores de José Maria de Jesus acreditavam que, depois de sua morte, ele teria se juntado ao exército encantado de Dom Sebastião, rei português que desapareceu na Batalha de Alcácer-Quibír, em 1578. Em Portugal e em suas colônias difundiu-se a crença de que, como um messias, Dom Sebastião voltaria para fundar um reino de liberdade e justiça para os portugueses.

Em razão da difusão da crença na vinda de um messias, salvador e redentor, Canudos e o Contestado são considerados movimentos messiânicos.

Atividade complementar

Proponha aos alunos um trabalho com cordel – a literatura que tem origem nas narrativas orais e é composta com base em rimas e métricas. Para isso, organize a turma em grupos e solicite a pesquisa, a seleção e a análise de um cordel. Após essas etapas, peça aos grupos que produzam um cordel sobre um personagem ou um tema trabalhado neste capítulo, como o cangaço, a Guerra de Canudos ou a do Contestado.

Outra possibilidade é propor que os alunos selecionem cordéis que apresentem visões antagônicas sobre o movimento do cangaço, que é um tema recorrente nos cordéis produzidos no século vinte, para problematizar e aprofundar o estudo do tema.

Ao final das análises, os grupos podem apresentar o resultado do trabalho para o restante da turma.

Interdisciplinaridade

Ao propor a análise de obras da literatura de cordel, a atividade desenvolve habilidades do componente curricular língua portuguesa, especificamente a ê éfe oito nove éle pê três seis.

O tenentismo e a Coluna Prestes

A política oligárquica que regia o Brasil incomodou alguns grupos da sociedade, como os jovens oficiais do exército. Com o objetivo de moralizar as instituições políticas, eles organizaram uma revolta no dia 5 de julho de 1922, partindo do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro. O movimento, porém, foi combatido pelas fôrças fiéis ao govêrno. A Revolta dos 18 do Forte, como ficou conhecida, deu início a um conjunto de mobilizações militares nos anos 1920: o tenentismo. O movimento, no entanto, não foi homogêneo, pois havia muitas divergências entre os grupos que o compunham.

Em 1924, ocorreram outros levantes tenentistas em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Os integrantes desses movimentos defendiam mais participação do exército nas decisões políticas, melhorias na educação pública e no sistema de justiça, criação de uma legislação social, liberdade sindical e de imprensa, eleições livres, voto secreto e reforma tributária.

As duas revoltas foram violentamente reprimidas, mas foi organizado outro movimento: a Coluna Miguel Costa-Prestes, ou simplesmente Coluna Prestes. Composto de participantes dos levantes paulista e gaúcho e liderado por Luís Carlos Prestes, o movimento escapou da repressão armada nos estados e avançou pelo interior do Brasil.

A Coluna Prestes chegou a reunir cêrca de uma.seiscentas pessoas, que percorreram mais de 20 mil quilômetros entre 1924 e 1927. Herdeira do tenentismo, seu discurso insistia na crítica ao então govêrno de Artur Bernardes. A Coluna enfrentou tanto as tropas do exército quanto as milícias locais e os bandos armados. Em fevereiro de 1927, bastante fragilizada, a Coluna Prestes cruzou a fronteira brasileira com a Bolívia e lá depôs as armas.

Fotografia em preto e branco. Soldados abaixados em uma trincheira feita de escombros de um muro. Alguns estão deitados com as armas apontadas. Ao fundo algumas casas.
Trincheira na Rua Domingos de Moraes durante a revolta tenentista no município de São Paulo, São Paulo. Foto de 1924.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Explique, com suas palavras, os seguintes termos:
    1. Política dos governadores.
    2. República Oligárquica.
    3. Voto de cabresto.
  2. A formação de Canudos e o cangaço são processos históricos distintos, mas que fazem parte do mesmo contexto social, econômico e político. Descreva esse contexto.
  3. A afirmação “Os tenentistas defendiam a política oligárquica no Brasil” está correta? Por quê?

Respostas e comentários

Revolta dos 18 do Forte

A crise política que antecedeu a Revolta dos 18 do Forte decorreu da insatisfação de alguns setores do exército com as medidas adotadas pelo então presidente Epitácio Pessoa, que havia nomeado um civil para o Ministério da Guerra e mandado prender érmes da Fonseca, presidente do Clube Militar.

Recapitulando

    1. A política dos governadores era um sistema no qual o govêrno federal não interferia nas disputas eleitorais locais e garantia que os governadores dos estados escolhessem seus representantes no Congresso, desde que estes apoiassem a União.
    2. Foi um nome atribuído a uma das fases da Primeira República no Brasil. O período foi marcado pelo domínio político e econômico das oligarquias agrárias, que controlavam o govêrno federal, o Congresso e o poder político nos estados.
    3. Prática de induzir o eleitor a votar em um dos candidatos escolhidos pelo político local (coronel) em troca de proteção e pequenos favores. Em algumas ocasiões, o coronel utilizava a fôrça física para induzir os votos.
  1. Tanto Canudos quanto o cangaço ocorreram em áreas rurais onde grandes proprietários de terra e a Igreja Católica exerciam poder político e contrôle sobre uma população de trabalhadores miseráveis, submetidos à exploração e à violência.
  2. Não, porque os tenentistas criticavam o domínio das oligarquias no poder e defendiam a moralização das instituições políticas brasileiras, assim como o aumento da participação do exército no govêrno.

A questão indígena

No fim dos anos 1890, o coronel Cândido Rondon foi designado a chefiar a construção de linhas telegráficas que estabeleceriam a comunicação entre o Rio de Janeiro e as regiões de fronteira com a Bolívia e o Paraguai. Nesse processo, além de fazer o mapeamento geográfico e científico do território, Rondon estabeleceu relações amistosas com alguns povos indígenas, como os borôro, os Terêna e os Quiniquinau.

Grafia dos nomes dos povos indígenas

Nos livros desta coleção, os nomes dos povos indígenas do Brasil foram escritos de acordo com a Convenção para a grafia dos nomes tribais, aprovada na Primeira Reunião Brasileira de Antropologia, em 1953.

Com inicial maiúscula, quando usados como substantivo, e opcional quando usados como adjetivo.

Sem flexão de número ou de gênero.

Esse contato foi muito importante para a criação de órgãos que atendessem às necessidades dos indígenas. Isso porque, naquele período, muitas comunidades nativas lutavam contra a expansão de empresas construtoras em suas terras. Nos confrontos, milhares de indígenas foram mortos. Assim, em 1910, foi criado o Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais (ésse pê i éle tê êne), sob a direção de Rondon. Em 1918, o órgão passou a se chamar apenas Serviço de Proteção aos Índios (ésse pê ih). Entre os principais objetivos do ésse pê ih estavam garantir a convivência pacífica com os indígenas, proteger a integridade física desses povos, respeitar suas culturas e reconhecer suas terras.

Rondon, no entanto, acreditava que os indígenas eram sujeitos em estado transitório, isto é, que precisavam aprender os costumes “civilizados”. Dessa fórma, mandou criar postos a fim de ensinar diferentes ofícios a adultos e crianças indígenas, o que contribuiu para alterar seus modos de vida. Além disso, permitiu que a terra na qual esses povos viviam fosse usada para fins econômicos, autorizando a transferência dos indígenas para outros locais nesses casos. Portanto, o ésse pê ih, muitas vezes, não respeitou nem protegeu essas populações.

Fotografia em preto e branco. Dois indígenas, um homem e um menino, sentados trabalhando, cada um em uma máquina de costura. O menino usa camisa clara e calça listrada, e está descalço. O homem usa camisa clara, calça social escura e sapato preto.
Indígenas da etnia Terêna costurando roupas no Posto Indígena Cachoeirinha, Mato Grosso. Foto de 1922. Museu do Índio, Funái, Rio de Janeiro. O ofício de costureiro era ensinado pelo ésse pê ih.

Conexão

A luta contra Canudos

Daniel Esteves. Ilustrações de Jós e Aquira Sanóqui. São Paulo: Nemo, 2014.

Essa história em quadrinhos, baseada em relatos e outros documentos históricos, trata da formação da comunidade de Canudos, descrevendo a resistência dos conselheiristas e a destruição do povoado pelas tropas do govêrno.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Quais eram os objetivos do Serviço de Proteção aos Índios (ésse pê ih)?
  2. O ésse pê ih cumpria corretamente sua função? Explique.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar as lógicas de inclusão e exclusão da população indígena no contexto da Primeira República, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero nove agá ih zero sete.

Conexão

A leitura da história em quadrinhos, linguagem familiar às culturas juvenis, favorece o aprendizado dos temas estudados ao abordá-lo de maneira dialógica e lúdica. Com base em referências históricas e relatos da época, os autores apresentam, com uma narrativa dinâmica e detalhada, o drama e a intensidade de um dos eventos mais marcantes do início da República Brasileira. A história ilustrada com a presença de diversos personagens desperta o interesse dos alunos da faixa etária, aproximando o conteúdo da realidade deles. Se possível, faça uma discussão coletiva após a leitura realizada individualmente.

Recapitulando

  1. O Serviço de Proteção aos Índios (ésse pê ih) objetivava garantir a convivência pacífica com os indígenas, proteger a integridade física desses povos, respeitar suas culturas e reconhecer suas terras.
  2. Não, pois o ésse pê ih contribuiu para a alteração dos modos de vida dos indígenas, desrespeitando suas culturas, e forçou o deslocamento de comunidades indígenas para que suas terras de origem fossem usadas para fins econômicos.

Leitura complementar

Os povos indígenas na primeira constituição republicana

O texto a seguir apresenta as discussões sobre os indígenas nos primeiros tempos da república no Brasil.

Com o advento da república, os questionamentos sobre a legitimidade da catequese, que a Igreja Católica vinha realizando historicamente, tornaram-se mais contundentes. Enquanto uma corrente defendia a catequese religiosa como única capaz de dar conta da condução dos indígenas à sociedade reticências outra defendia a catequese laica, mais adequada ao novo Estado fundado pelo movimento republicano. reticências

Ainda no âmbito das discussões, quando da elaboração da primeira constituição no novo regime, os reticências positivistas apresentaram, em 1890, um projeto no qual defendiam um novo tratamento em relação aos povos indígenas para que pudessem ‘evoluir’ reticências do ‘estágio primitivo’ em que se encontravam. Atribuíam ao govêrno a função de proteger esses povos e seus territórios contra qualquer violência. De uma fórma ambiciosa, o projeto propunha a criação de territórios ocupados por indígenas, nos quais só se poderia penetrar com seu prévio conhecimento e de fórma pacífica reticências.

O projeto não foi incorporado à nova constituição e é razoável supor que grupos econômicos ligados à expansão capitalista, com fortes interesses nas terras ocupadas por indígenas, tenham sido elementos destacados para justificar a sua não aprovação naquele momento.

Afinal, a Constituição de 1891 reticências transferiu para os estados as terras devolutasglossário e, com isso, houve uma confusão que se disseminou a partir de 1891. Durante algum tempo, acreditou-se que as terras indígenas haviam passado ao domínio dos respectivos estados. Na realidade, o que passou à administração dos estados foram as terras devolutas, entre as quais, as terras dos aldeamentos extintos.

MELO, Joaquim Rodrigues. A política indigenista no Amazonas e o serviço de proteção aos índios: 1910-1932. 2007. Dissertação (Mestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia) – Instituto de Ciências Humanas e Letras, Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2007. página 35-37.


Responda em seu caderno.

Questões

  1. Qual era a polêmica em relação às populações indígenas no início da república no Brasil? Qual era o argumento de cada parte?
  2. Em relação aos povos indígenas, qual era a visão expressa no projeto positivista apresentado em 1890?
  3. De que fórma é possível relacionar o que foi identificado nas questões anteriores à atuação do ésse pê ih?
  4. Qual é a hipótese do autor para que o projeto positivista não tenha sido incorporado à Constituição de 1891?
  5. Na sua opinião, os interesses econômicos influenciam a votação de projetos políticos? Justifique.

Respostas e comentários

Leitura complementar

  1. A polêmica envolvia a legitimidade da catequese promovida pela Igreja Católica. Enquanto alguns defendiam a catequese religiosa com o argumento da experiência histórica, outros propunham uma catequese laica, mais adequada à república recém-instituída no Brasil.
  2. O projeto positivista apresentado deixa clara uma visão dos indígenas como povos em “estágio primitivo”, que precisavam de proteção para “evoluir”.
  3. A atuação do ésse pê ih pode ser relacionada à polêmica e ao projeto positivista de 1890 por considerar que os povos indígenas deviam ser “civilizados” e precisavam da proteção do Estado.
  4. O autor levanta a hipótese de que o projeto não foi levado adiante por causa de interesses de grupos econômicos nas terras indígenas, que devem ter pressionado os congressistas para impedir a aprovação do projeto positivista.
  5. Espera-se que os alunos reflitam sobre a influência de grupos econômicos nas decisões políticas da atualidade. Empresários do setor agropecuário, por exemplo, ocupam um número considerável de cadeiras no Congresso Nacional e certamente levam em conta seus interesses pessoais ao votar os projetos de lei.

Atividades

Responda em seu caderno.

Aprofundando

1. O historiador José Murilo de Carvalho, ao pesquisar a conduta do povo nas eleições da Primeira República, concluiu que, em vez de “burro”, o povo era “esperto”, pois sabia que as instituições políticas não eram sérias. Compare a posição desse historiador com a representada na charge. Depois, responda à questão.

Charge. As próximas eleições... 'DE CABRESTO'. Mulher de vestido sem mangas, usa um gorro chamado barrete frígio e um par de sapatos de salto amarelos. Na barra de seu vestido há uma faixa amarela com a palavra SOBERANIA. Ela estende uma das mãos na direção de uma grande urna que está apoiada sobre uma base quadrada. Do outro lado da urna há um homem de paletó cinza e calça amarela, e nas costas do paletó está escrito POLÍTICO. Usa chapéu cinza e óculos. Ele segura as rédeas que estão presas a um homem com cabeça de burro. Este está em pé, cabisbaixo, usa um terno amarelo e sapatos marrons. Na manga de seu paletó está escrito a palavra ELEITOR.
As próximas eleiçõesreticências “de cabresto”, charge de Alfredo Istorni, 1927. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. A charge era acompanhada da seguinte legenda: “Ela (a soberania) — É o Zé Besta? Ele (o político) — Não, é o Zé Burro!”.

José Murilo de Carvalho e o autor da charge expressam a mesma visão? Por quê?

2. Nas últimas décadas, os estudos sobre a participação das mulheres no cangaço foram ampliados. Leia o texto sobre o tema, depois responda às questões.

reticências as reflexões sobre a incorporação da mulher nas fileiras do banditismo social sinalizam para dois tipos de interpretações: os que defendem o ingresso voluntário, que pode ser exemplificado com Maria Bonita, Dulce, Cristina, Inacinha. Outros interpretam essa presença como resultado de uma ação violenta, ou seja, do rapto reticências, como exemplificam os casos de Sila, Dadá, Lídia reticências.

Para a socióloga Maria Isaura P. de Queiroz, a inserção feminina no banditismo se configura numa escolha pessoal. Em sua concepção, a incorporação ao cangaço se constituía para as sertanejas pobres na oportunidade de se livrarem dos trabalhos rurais e na possibilidade de ascensão social. Tais perspectivas resultavam da imagem construída e veiculada pelos próprios cangaceiros que ostentavam o enriquecimento fácil e ilegal, a alegria e o nomadismo dos bandos.

FREITAS, Ana Paula Saraiva de. A presença feminina no cangaço: práticas e representações (1930-1940). 2005. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Ciências e Letras de Assis, Universidade Estadual Paulista, Assis, 2005. página 117-118.

  1. Quais são as duas interpretações sobre a participação das mulheres no cangaço?
  2. Em sua opinião, por que a história sobre os homens cangaceiros, como Lampião e Corisco, é mais divulgada do que a das mulheres cangaceiras, como Maria Bonita e Dadá?

Conversando com ciências

3. Alguns grupos indígenas conseguiram sobreviver isolados da sociedade não indígena e atualmente vivem em pequenos grupos principalmente nos estados de Rondônia, Mato Grosso e Maranhão. Leia o texto e faça o que se pede.

Repetidamente, o contato com a sociedade dominante tem sido desastroso para os povos indígenas isolados do Brasil. reticências É comum que metade de um povo seja dizimada no período de um ano após o primeiro contato, em decorrência de doenças como o sarampo e a gripe.

Os Matís [que vivem no sudoeste do estado do Amazonas] foram reduzidos pela metade após o contato. Jovens e idosos, incluindo a maioria dos xamãs, morreram de doenças introduzidas pelos não-indígenas.

SURVIVAL. Povos isolados. Disponível em: https://oeds.link/G30Kaz. Acesso em: 7 junho 2022.

Com base em seus conhecimentos de ciências, explique por que o contato com não indígenas é mais arriscado para a saúde dos indígenas isolados.


Respostas e comentários

Atividades

  1. O historiador e a charge não expressam a mesma visão sobre a conduta do povo nas eleições da Primeira República. A charge representa o eleitor popular como “Zé Burro”, uma figura manipulada que vota sob influência dos poderosos locais. José Murilo de Carvalho, por sua vez, vê nessa aparente submissão das camadas populares uma atitude consciente de quem não acredita na seriedade das instituições. O povo “colabora” nas urnas com os políticos locais para obter vantagens, em troca de favores, por exemplo.
    1. Uma das interpretações defende que as mulheres aderiram ao cangaço por livre e espontânea vontade; de acordo com outra interpretação, no entanto, elas teriam sido levadas à fôrça pelos cangaceiros.
    2. Espera-se, com a questão, promover uma reflexão sobre o fato de, por muito tempo, a historiografia oficial priorizar o estudo sobre homens como os únicos agentes históricos. Mesmo na revisão historiográfica, muitos estudiosos, ao pesquisar a respeito de pessoas das camadas populares, como os cangaceiros, mantiveram a tendência de priorizar a trajetória masculina. Somente nas últimas décadas houve um esfôrço para conhecer a história das cangaceiras.
  2. Os indígenas isolados, que nunca tiveram contato com povos não indígenas, não foram expostos a agentes infecciosos de doenças comuns na sociedade não indígena, como sarampo e gripe, por isso não têm nenhuma imunidade contra elas. Além disso, esses indígenas não recebem atendimento médico por meio da Secretaria Especial de Saúde Indígena (cêzái), que fornece vacina para várias dessas doenças. Por esses motivos, o contato dos indígenas isolados com pessoas não indígenas é mais arriscado para a saúde deles.

Aluno cidadão

4. O texto um apresenta um trecho do Código de menores, primeira lei brasileira que teve o objetivo de assegurar a proteção da infância e da adolescência, assinada no final da Primeira República. O texto dois reproduz um trecho do Estatuto da Criança e do Adolescente, vigente na atualidade. Leia-os atentamente e faça o que se pede.

TEXTO um

Artigo 101. é proibido em todo o território da república o trabalho nos menores de doze anos.

Artigo 102. Igualmente não se pode ocupar a maiores dessa idade que contem menos de quatorze anos e que não tenham completado sua instrução primária. Todavia, a autoridade competente poderá autorizar o trabalho destes, quando o considere indispensável para a subsistência dos mesmos ou de seus pais ou irmãos, contanto que recebam a instrução escolar, que lhes seja possível”.

BRASIL. Decreto nº .17943-a de 12 de outubro de 1927. Consolida as leis de assistência e proteção a menores. Rio de Janeiro: Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil. [1927]. Disponível em: https://oeds.link/BFVxuY. Acesso em: 12 julho 2022. (Adaptado).

TEXTO dois

Artigo 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz. reticências

Artigo 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da legislação de educação em vigor.

Artigo 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos seguintes princípios:

um - garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino regular;

dois - atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente;

três - horário especial para o exercício das atividades.”

BRASIL. Lei nº .8069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sôbre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília, Distrito Federal: Presidência da República, [1990]. Disponível em: https://oeds.link/fGd074. Acesso em: 7 junho 2022.

  1. Compare os dois textos. Em sua opinião, houve avanços ou retrocessos entre as leis de 1927 e 1990? Justifique.
  2. Em duplas, façam uma pesquisa a respeito das estatísticas do trabalho infantil no Brasil e elaborem um relatório com os resultados da investigação.
  3. Em grupos, debatam a seguinte questão: Que iniciativas e instrumentos, civis e governamentais, podem contribuir para a erradicação do trabalho infantil no Brasil?

Enem e vestibulares

5. (enêm-Méqui)

TEXTO um

Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. Vencido palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.

CUNHA, E. Os sertões. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1987.

TEXTO dois

Na trincheira, no centro do reduto, permaneciam quatro fanáticos sobreviventes do extermínio. Era um velho, coxo por ferimento e usando uniforme da Guarda Católica, um rapaz de 16 a 18 anos, um preto alto e magro, e um caboclo. Ao serem intimados para deporem as armas, investiram com enorme fúria. Assim estava terminada e de maneira tão trágica a sanguinosa guerra, que o banditismo e o fanatismo traziam acesa por longos meses, naquele recanto do território nacional.

SOARES, H. M. A Guerra de Canudos. Rio de Janeiro: Altina, 1902.

Os relatos do último ato da Guerra de Canudos fazem uso de representações que se perpetuariam na memória construída sobre o conflito. Nesse sentido, cada autor caracterizou a atitude dos sertanejos, respectivamente, como fruto da:

  1. manipulação e incompetência.
  2. ignorância e solidariedade.
  3. hesitação e obstinação.
  4. esperança e valentia.
  5. bravura e loucura.

Respostas e comentários
    1. Espera-se que os alunos reconheçam que as leis de proteção à criança e ao adolescente avançaram entre 1927 e 1990. Em 1927, a idade mínima para o início da vida laboral era de doze anos e permitia-se que jovens menores de quatorze anos que, eventualmente dependessem do próprio trabalho para garantir a sua subsistência ou a de sua família, trabalhassem, mesmo que isso implicasse um possível atraso escolar. Atualmente, o Estatuto da Criança e do Adolescente (éca), de 1990, proíbe o trabalho de menores de quatorze anos, exceto na condição de aprendiz, e regulamenta as condições de aprendizagem, determinando a obrigatoriedade da frequência ao ensino regular, o exercício de atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente e horário especial para o exercício das atividades.
    2. Instrua os alunos a buscar as estatísticas do trabalho infantil no Brasil em fontes confiáveis e seguras, como publicações do í bê gê É (por exemplo, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2019 – Trabalho de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos de idade 2016/2019, publicada em 2020 e disponível em: https://oeds.link/EDOiGL. Acesso em: 18 julho 2022) e os sites da Organização Internacional do Trabalho (Disponível em: https://oeds.link/kpkS56. Acesso em: 18 julho 2022) e do Observatório Digital da Prevenção e da Erradicação do Trabalho Infantil (Disponível em: https://oeds.link/wi48VC. Acesso em: 18 julho 2022). Os alunos podem considerar, na pesquisa, dados como a quantidade total de crianças que exercem algum tipo de trabalho no país, o percentual por faixa etária, os tipos de trabalho realizados, acidentes de trabalho, dados por região brasileira etcétera Na sequência, recomenda-se orientar os alunos a organizar os resultados da investigação em um relatório estruturado com os seguintes itens: título, objetivos, introdução, resultados obtidos, discussão dos resultados e considerações finais. Lembre-os de que podem ser usados recursos como textos, gráficos, mapas, tabelas, fotografias ou ilustrações na organização do trabalho.
    3. Motive os alunos a levantar e debater propostas que possam ser efetivadas pela sociedade civil ou pelos governos para erradicar o trabalho infantil no Brasil. Podem ser mencionados, por exemplo, mecanismos de fiscalização mais eficientes, programas de incentivo à educação com ajuda de custo, projetos sociais dedicados à infância e à adolescência, formação de redes de amparo comunitárias etcétera

Bê êne cê cê

Ao propor a análise de um trecho do éca e promover a reflexão sobre o trabalho infantil no Brasil, a atividade se relaciona com os temas contemporâneos transversais Vida familiar e social e Direitos da criança e do adolescente; além disso, favorece o desenvolvimento da Competência geral da Educação Básica nº 9.

5. Alternativa e.

Glossário

Especulação financeira
: operação comercial sobre o mercado de capitais ou câmbio com o objetivo de obter lucro em um curto período.
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Oligarquia
: regime político em que o poder é exercido por um pequeno número de pessoas. No caso brasileiro, o termo refere-se às poucas famílias ricas, proprietárias de grandes extensões de terras voltadas para a produção agroexportadora.
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Diplomação
: nesse contexto, ato pelo qual se verifica se um candidato está apto a assumir suas funções; se todos os requisitos forem cumpridos, ocorre a entrega do diploma que certifica a posse do cargo.
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Team
: time, em inglês.
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Scratch
: termo em inglês que originou a gíria futebolística escrete; elenco do time.
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Terras devolutas
: terras pertencentes ao govêrno sem uso público, entre as quais se incluem, também, as terras ocupadas irregularmente.
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