CAPÍTULO 4  A Revolução Russa

Fotografia. Pessoas reunidas na rua em uma celebração. Carregam bandeiras vermelhas e cartazes. À frente, três pessoas, cada uma traz um quadro com o retrato de um homem. À esquerda, um rapaz carrega o quadro de Karl Marx, senhor de cabelos e barba grandes e grisalhos. Tem o rosto grande, testa larga e olhos pequenos. No centro, uma senhora carrega o retrato de Lenin, homem calvo, de cabeça oval, tem olhos grandes e sobrancelhas arqueadas. Tem bigode e cavanhaque. À direita, um senhor carrega o retrato de Stalin. Homem de rosto largo e cabelo grisalho penteado para trás. Tem sobrancelhas escuras e bigode. Veste uniforme militar com várias medalhas.
Comemoração do centenário da Revolução Russa em 7 de novembro, em Moscou, Rússia. Foto de 2017.

Em 2017, a Revolução Russa completou cem anos, mas as celebrações ocorridas na Rússia foram tímidas. A primeira revolução socialista da história ainda é um tema polêmico.

Alguns se lembram com nostalgia da revolução que teve como objetivo alcançar uma sociedade igualitária, enquanto outros têm uma visão negativa desse processo histórico em razão da rigidez do regime político instaurado pela revolução.

De qualquer fórma, a Revolução Russa foi um evento histórico de grande importância, que acarretou mudanças nas ordens política, econômica e social no mundo todo.

Esse evento está muito presente na memória coletiva russa e nas discussões políticas, sendo um marco da história mundial que, ainda hoje, gera muitos debates.

  • O que você sabe sobre a Revolução Russa?
  • Você identifica as personalidades representadas nos quadros que as pessoas da foto carregam? Se sim, sabe dizer qual é a relação delas com a Revolução Russa?

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Este capítulo contempla a habilidade ê éfe zero nove agá ih um um (ao abordar o processo da Revolução Russa e seus desdobramentos) e, parcialmente, a habilidade ê éfe zero nove agá ih um zero (ao traçar paralelos entre a Revolução Russa e a Primeira Guerra Mundial). O trabalho para o desenvolvimento dessa habilidade se completa ao longo de outros capítulos, conforme indicações no quadro de habilidades do ano.

Objetivos do capítulo

  • Relacionar a situação política, econômica e social da Rússia no início do século vinte com a eclosão da revolução.
  • Identificar e caracterizar os principais acontecimentos que marcaram o processo revolucionário na Rússia.
  • Avaliar as medidas políticas e econômicas adotadas pelo govêrno russo após a revolução e ao longo do processo de formação da União Soviética.
  • Caracterizar o regime stalinista soviético e reconhecer suas bases totalitárias.

Abertura do capítulo

A abertura permite verificar os conhecimentos prévios dos alunos acerca da Revolução Russa e dos acontecimentos que se seguiram a ela. Espera-se que os alunos associem a Revolução Russa ao processo de implantação do socialismo iniciado por movimentos sociais de trabalhadores na Rússia, a partir de 1904. Nos quadros aparecem (da esquerda para a direita) cál marcs, Vladimir Lênin e Jôsef Istálin. márks, junto com fréderique ênguels, desenvolveu a base teórica do socialismo científico, que orientou o processo da Revolução Russa. Lênin e Istálin foram líderes que participaram do movimento revolucionário russo. Com base nos comentários e respostas dos alunos às questões propostas, será possível, ao longo do estudo do capítulo, desconstruir possíveis ideias ligadas ao senso comum e propor um entendimento mais preciso sobre os conceitos históricos ligados ao tema, como socialismo e comunismo, localizando espacial e temporalmente sua concepção e examinando as mudanças que se produziram na Rússia e no leste europeu por causa do projeto de implantação de uma sociedade socialista nas primeiras décadas do século vinte.

A Rússia dos quizáres

No fim do século dezenove, o Império Russo, com uma área de aproximadamente 22 milhões de quilômetros quadrados, constituía o território mais extenso do mundo, com terras na Ásia e na Europa. Também tinha a terceira maior população do planeta, superada apenas pela China e pela Índia. A autoridade máxima do império era o czar, governante que concentrava grandes poderes e tinha o apôio da Igreja Ortodoxa Russa, da nobreza proprietária de terras e das fôrças armadas.

Responsável pêla primeira grande derrota das tropas napoleônicas na Europa, em 1812, a Rússia construiu, ao longo do século dezenove, o maior exército do mundo. A partir de 1816, o exército imperial conquistou territórios na Ásia Central e no extremo leste da Ásia. Além da tarefa de expandir os domínios russos, o exército imperial era responsável por garantir a ordem interna, submeter os povos conquistados e assegurar o contrôle de portos, rótas comerciais e fontes de matérias-primas.

Formação do Império Russo (1689-1900)

Mapa. Formação do Império Russo, 1689-1900. Legenda: Amarelo claro: O Estado russo em 1689. Expansão do Império Russo. Amarelo escuro: de 1689 a 1725. Laranja: de 1726 a 1800. Rosa: de 1801 a 1815. Vermelho: de 1816 a 1860. Marrom: de 1861 a 1900. Verde: Estados submissos. Linha cinza: Limites do Império Russo em 1900. O Estado russo em 1689: grande área com destaque para as cidades de Moscou, Kiev e Omsk. Expansão do Império Russo, de 1689 a 1725:  regiões de São Petesburgo, a oeste, Petropavlovsk em Kamtchatka, a leste; e a região ao sul de Omsk. Expansão do Império Russo, de 1726 a 1800: região de Odessa, na atual Ucrânia; e trecho ao sul, na fronteira com a China. Expansão do Império Russo, de 1801 a 1815: Finlândia; região de Varsóvia, na Polônia; Bessarábia; região de Baku, no atual Azerbaijão. Expansão do Império Russo, de 1816 a 1860: Kuriev no Canato Cazaque, no atual Cazaquistão; região de Khabaravosk, no sudeste; e regiões próximas a Baku, no atual Azerbaijão. Expansão do Império Russo, de 1861 a 1900: região de Batumi, na atual Geórgia; região de Merv, no atual Turcomenistão; e região de Kokand, no atual Usbequistão. Estados submissos: região de Khiva, no atual Usbequistão. Limites do Império Russo em 1900: Divisa com a Europa, litoral do Mar Báltico, algumas ilhas ao norte, no Oceano Glacial Ártico e ao sul, nas fronteiras com a China e com a Mongólia. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 810 quilômetros.

Fonte: dubí jórj. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. página 149.

cêrca de 85% da população do império era formada por camponeses. A maior parte deles vivia submetida à servidão até 1861, quando um decreto do quizár Alexandre segundo aboliu esse regime de trabalho, que tinha origem no feudalismo. No entanto, o fim da servidão não garantiu aos camponeses terras em quantidade suficiente para o cultivo, e muitos deles foram obrigados a trabalhar para seus antigos senhores.

Apesar da unidade política e territorial, a Rússia era composta de um grande mosaico de povos e línguas. Além dos russos e dos ucranianos, que correspondiam a quase metade da população, havia poloneses, estonianos, lituanos, letões, finlandeses, georgianos, armênios, turcos, iranianos, curdos e mongóis. No campo religioso, a diversidade também era grande: havia cristãos (ortodoxos, católicos e protestantes), judeus, muçulmanos, budistas e animistas.

Pintura. Retrato de uma família. No centro, um homem de pele clara, barba e bigode castanhos. Usa uma túnica azul comprida com detalhes dourados. Ao lado dele, uma mulher de túnica vermelha com um lenço claro encobrindo a cabeça. Ao redor deles, duas moças de túnicas e lenços adornando parte do cabelo. À frente, três crianças carregando crucifixos, duas meninas e um menino. Todos na imagem usam coroas e tem uma auréola amarela atrás da cabeça.
Representação da família de Nicolau segundo, último governante da Rússia czarista, pintura de cêrca de 1900. Galeria Estatal Tretyakov, Moscou, Rússia.

Responda em seu caderno.

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  1. Como a família real russa foi representada nessa pintura?
  2. Que ideia sobre a monarquia a pintura expressa?

Respostas e comentários

Atividade complementar: povos do campo no Império Russo

No comêço do século vinte, o Império Russo era majoritariamente rural. Proponha aos alunos uma pesquisa de análise documental iconográfica (fotografias) dos povos do campo na Rússia desse período. Peça aos alunos que acessem o site da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos e selecionem fotografias das áreas e práticas agrícolas dos camponeses russos no período, que fazem parte da coleção do fotógrafo Serdiêi Miquiêiloviti Procudín Gôrsqui (1863-1944) (disponível em: https://oeds.link/08WzhV; acesso em: 14 junho 2022).

Para analisar as fotografias selecionadas, oriente os alunos a avaliar como viviam os camponeses russos no período e em que condições produziam. Peça que registrem para cada uma delas: a data de cada fotografia, a paisagem mostrada nelas, as características das pessoas e das atividades retratadas, as ferramentas e os equipamentos de trabalho que aparecem.

Com base nos dados levantados por meio da análise das fotografias, os alunos, que podem ser organizados em grupos, devem escrever um pequeno texto sobre a vida do campesinato durante o Império Russo.

A atividade favorece o desenvolvimento de habilidades de análise documental com base no método próprio à ciência histórica.

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  1. Os integrantes da família real russa foram representados vestidos como santos: as crianças seguram crucifixos bizantinos nas mãos e todos usam coroas e têm uma auréola sobre a cabeça.
  2. Assim como outras monarquias europeias da Idade Moderna, o Império Russo legitimava seu poder por meio do direito divino; a representação confere, portanto, natureza sagrada ao quizár, à sua esposa e aos cinco filhos. As revoluções ocorridas na Europa entre os séculos dezoito e dezenove combateram essa ideia.

As contradições no Império Russo

Na segunda metade do século dezenove, iniciou-se um rápido processo de modernização da economia russa. Foram fundadas indústrias siderúrgicas e petrolíferas, financiadas com capitais franceses e britânicos. Além disso, expandiram-se as linhas de telégrafo e a malha ferroviária. Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, a Rússia era uma potência econômica e em suas indústrias trabalhavam aproximadamente 3 milhões de operários.

No entanto, mesmo com a rápida industrialização, a capacidade de produção e de inovação industrial da Rússia era muito inferior à das principais potências ocidentais. Em 1820, por exemplo, apenas o Reino Unido produzia mais ferro que a Rússia. Quarenta anos depois, o país já havia sido ultrapassado pela França, pela Prússia e pelos Estados Unidos.

O desenvolvimento da economia russa também não eliminou as profundas desigualdades sociais do império. No campo, pequena parcela da população se beneficiava com o processo de modernização econômica, enquanto a maioria continuava marginalizada pela nobreza proprietária de terras.

Fotografia em preto e branco. Mulher de vestido longo e chapéu dá esmola para duas pessoas sentadas na calçada. Estão com as mãos esticadas na direção da mão da mulher. Um deles é um homem idoso, de cabelos e barba grisalhos. Veste uma túnica escura e segura uma varinha. O outro é uma criança, de cabelos claros. Usa casaco escuro e calça clara.
Mulher dando esmola a duas pessoas em Moscou, Rússia. Foto de cêrca de 1870-1875. Museu Estatal de História, Moscou, Rússia. Os contrastes sociais na Rússia foram decisivos para a queda do regime quizarista.

Além disso, o fim da servidão favoreceu as divisões internas no campesinato. Formou-se uma camada de camponeses enriquecidos, os Culáquis, que, mesmo sendo minoria, concentravam a maior parte das terras e da riqueza gerada no campo. Constituiu-se também um grupo de camponeses médios, que cultivavam a própria terra, mas muitas vezes se viam obrigados a trabalhar como assalariados nas terras dos Culáquis para sobreviver. A maioria dos camponeses, contudo, era muito pobre, dona de apenas um lote de terra insuficiente para a sobrevivência.

Nas cidades, principalmente em Moscou e em São Petersburgo, os operários russos eram submetidos a condições extremas de exploração: jornadas diárias que variavam entre 12 e 16 horas, baixos salários, falta de segurança, inexistência de legislação trabalhista e proibição de organizar sindicatos.

Fotografia. Grande prédio horizontal com muitas janelas e o telhado verde. Tem torres de cúpula douradas. Ao redor dele, vegetação e uma enorme muralha. À direita, um rio.
Vista do Crêmilim de Moscou, na Rússia. Foto de 2020. O Crêmilim de Moscou é um complexo fortificado que abriga, entre outros edifícios, a atual séde do govêrno russo.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar as contradições do Império Russo, revelando as especificidades do processo revolucionário, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero nove agá ih um um.

Ampliando: industrialização russa

“É a abolição da servidão que permitirá a industrialização do país e a emergência de uma burguesia, embora se deva dizer que a abolição da servidão não esteja vinculada diretamente à industrialização. A maior parte das reformas agrárias havidas na Europa no século dezenove demonstra que seus autores eram contrários ou, no mínimo, indiferentes à industrialização.

O grande arranco industrial da Rússia no período pré-revolucionário se dará nas últimas décadas do século dezenove. Isto é, trinta anos após a emancipação dos servos.

É um período em que o Estado assume para si a função de construir a infraestrutura da industrialização mediante a implantação e desenvolvimento do sistema ferroviário. O desenvolvimento ferroviário permitiu ao govêrno manter a procura de produtos industriais. O Estado estimulou o processo aplicando recursos de que dispunha, colocando a política tributária a serviço da industrialização.

O Estado dedicou-se especialmente a desenvolver a produção de ferro e de aço e as indústrias mecânicas.”

trégtenbérg, Maurício. A Revolução Russa. São Paulo: Editora Unésp, 2007. página 69.

As correntes políticas

As contradições do Império Russo contribuíram para a formação, no fim do século dezenove, de várias correntes socialistas cujos integrantes combatiam o quizarismo. Entre elas se destacava a dos populistas. Liderados por jovens intelectuais, os populistas defendiam a ideia de que a tarefa de derrubar o quizarismo cabia aos camponeses, que, segundo eles, eram a principal fôrça revolucionária da Rússia.

Na mesma época, apareceram os primeiros defensores das ideias de cál marcs e fréderique ênguels no país. Foi graças a eles que se formou a primeira geração de marxistas russos, que fundou, em 1898, o Partido Operário Social-Democrata Russo (pê ó ésse dê érre).

Desde sua fundação, havia divergências no interior do partido sobre o modo como a luta contra o quizarismo deveria ser conduzida. Vladimir Uliánóf, conhecido como Lênin, defendia a tese de que o partido deveria ser centralizado e homogêneo, composto de militantes altamente disciplinados, dedicados e preparados para ser a vanguarda da luta revolucionária. Por sua vez, Július Mártóf defendia um partido aberto à integração de diferentes tipos de militantes, que podiam ser profissionais disciplinados ou apenas simpatizantes, desde que concordassem com o programa.

Lênin venceu a disputa, e seus apoiadores ficaram conhecidos como bolcheviques (maioria), enquanto os membros do grupo derrotado ficaram conhecidos como mencheviques (minoria). Com o tempo, as diferenças entre os dois grupos se ampliaram. Os mencheviques defendiam uma aliança com a burguesia para derrubar o quizarismo na Rússia, conquistar as liberdades democráticas, desenvolver plenamente o capitalismo no país e depois, gradualmente, implantar o socialismo. Os bolcheviques, por sua vez, defendiam uma aliança revolucionária entre operários e camponeses para derrubar o quizarismo, derrotar a burguesia e implantar o socialismo na Rússia.

Fotografia em preto e branco. Sete homens posando para foto. Vestem roupas sociais escuras. Três deles estão em pé, Malchenko, homem de cabeça grande com testa retangular. Tem olhos pequenos, bigode e cavanhaque. No centro, ao lado dele, Zaporozhets, homem de rosto comprido, cabelo e barba escuros. À direita, apoiado em um objeto, Vaneyev, com o cabelo mais claro, penteado para o lado, tem barba e bigode. À frente deles, sentados, da esquerda para a direita, Starkov, com o cabelo escuro penteado em um topete alto, tem olhos pequenos, barba e bigode. Krzhizhanovsky, tem a cabeça comprida e oval, o cabelo curto penteado para trás, olhos pequenos e bigode. No centro, com os braços apoiados em uma mesa, Lênin, calvo, com olhos pequenos e nariz largo. Tem barba e bigode. E à direita, Martov, cabelo grande penteado de lado, rosto fino e barba cheia.
Líderes políticos russos em São Petersburgo, Rússia. Foto de 1897. Em pé, da esquerda para a direita: Mautionca, Záporôséts e Vanáive; sentados: Istárcóf, Carzáis ranóvisqui, Lênin e Mártóf.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. O fim do regime de servidão na Rússia, no final do século dezenove, melhorou as condições de vida do campesinato russo? Justifique.
  2. Qual foi a corrente política que defendeu uma revolução a partir do campo na Rússia?
  3. Quais eram as principais diferenças entre os bolcheviques e os mencheviques?

Respostas e comentários

Recapitulando

  1. Não, o fim da servidão não melhorou as condições de vida do campesinato russo, pois as terras permaneceram concentradas em poucas mãos: praticamente toda a riqueza gerada no campo ficou nas mãos dos Culáquis, grandes proprietários de terra, enquanto a maior parte da população rural continuou muito pobre, sem recursos para assegurar a própria subsistência.
  2. A corrente política que defendeu uma revolução a partir do campo na Rússia foi a dos populistas.
  3. Os bolcheviques, liderados por Lênin, defendiam uma aliança revolucionária entre os operários e os camponeses para derrubar o quizarismo, derrotar a burguesia e implantar o socialismo na Rússia. Já os mencheviques, sob a liderança de Mártóf, eram a favor de uma aliança com a burguesia para derrubar o quizarismo, conquistar liberdades democráticas, desenvolver plenamente o capitalismo e, depois, gradualmente, implantar o socialismo.

A vitória de Lênin

No congresso de 1903, os bolcheviques não eram o grupo majoritário, como o nome sugere. A designação foi dada por Lênin, após seu grupo vencer uma votação que definiu o corpo editorial do jornal do partido, o Iscra. A vitória do grupo foi obtida após oito delegados que haviam votado inicialmente a favor de Mártóf se retirarem por defender teses que não tinham apôio de nenhuma das duas correntes. A saída deles desequilibrou a disputa e garantiu a Lênin os votos necessários para derrotar o grupo adversário.

O processo revolucionário

Entre 1904 e 1905, russos e japoneses envolveram-se em um conflito conhecido como Guerra Russo-Japonesa. A derrota da Rússia expôs a fragilidade do império e aumentou a insatisfação popular com a política quizarista.

Nesse contexto, a população, os partidos e os movimentos sociais e revolucionários ocuparam as grandes cidades e organizaram greves e manifestações. Em janeiro de 1905, um grupo de manifestantes marchou até o Palácio de Inverno, em São Petersburgo, para entregar uma petição ao quizár, solicitando melhores condições de vida e de trabalho. Porém, os soldados da guarda imperial receberam os manifestantes a tiros, o que provocou a morte de centenas deles. Esse episódio ficou conhecido como Domingo Sangrento.

A repressão promovida pelo govêrno quizarista acirrou a tensão social e política e uma série de protestos e greves eclodiu por toda a Rússia. Em um dos episódios, marinheiros de um importante navio de guerra, o encouraçado pôtenquín, rebelaram-se contra seus comandantes em razão dos maus-tratos e tomaram o contrôle da embarcação. O govêrno ordenou a prisão dos rebeldes, mas as tripulações de outros navios solidarizaram-se com eles e se recusaram a cumprir as ordens. Assim, os amotinados puderam deixar Odessa, cidade atualmente localizada na Ucrânia, às margens do Mar Negro, e navegar até o porto de Constança, na Romênia, onde se exilaram.

Diante da repercussão da Revolução de 1905, como ficou conhecida, o regime cedeu e o quizár assinou o Manifesto de Outubro, autorizando a criação de um Parlamento, a Duma, e a oficialização de partidos políticos. O Parlamento, contudo, não tinha autonomia, e o império continuava a reprimir os movimentos de contestação ao regime.

Cartaz de filme. Ilustração de um marinheiro com a boca aberta, testa franzida e olhos serrados. Ao fundo um marinheiro no topo de uma estrutura e outro caindo no mar. Entre eles uma bandeira vermelha.
Cartaz do filme O encouraçado pôtenquín, do diretor serguei áisenstáin , 1925. Vinte anos após o motim dos marinheiros, Isenstím levou a história aos cinemas, e seu filme se tornou um clássico do cinema mundial.
A formação dos sovietes

Após o massacre do Domingo Sangrento, formaram-se na Rússia os sovietes, conselhos de representantes de operários, soldados e camponeses, que deliberavam sobre questões de interesse dos trabalhadores, como as lutas, o abastecimento de suprimentos e a publicação de jornais. Os conselhos eram constituídos de representantes eleitos no seu local de trabalho, com mandatos revogáveis, e dividiam-se em dois organismos: a assembleia geral e o comitê executivo, encarregado de colocar em ação as propostas votadas na assembleia.

O primeiro embrião de conselho foi organizado em São Petersburgo, entre janeiro e fevereiro de 1905, e o Soviete de Deputados Operários de São Petersburgo formou-se em outubro do mesmo ano. O soviete convocou uma greve geral que paralisou São Petersburgo e se espalhou por Moscou e outras cidades russas, fortalecidas por levantes nos campos e nos quartéis. O movimento foi derrotado em dezembro, com cêrca de .1500 mortos e a dissolução dos sovietes.


Respostas e comentários

Ampliando: o marquicísmo para Lênin

“O marquicísmo difere de todas as outras teorias socialistas porque alia, de modo notável, plena lucidez científica na análise da situação objetiva, ao reconhecimento mais terminante do papel da energia, da criação e da iniciativa das massas, e também, naturalmente, dos indivíduos, dos agrupamentos, organizações de partido que sabem descobrir e realizar a ligação com tais ou quais classes. A alta avaliação atribuída aos períodos revolucionários no desenvolvimento da humanidade decorre do conjunto das concepções históricas de márks: é nesses períodos que se solucionam as grandes contradições que se acumulam lentamente nos períodos ditos de evolução pacífica. É nesses períodos que aparece, com maior fôrça, o papel direto das diferentes classes na determinação das fórmas da vida social, que se criam os fundamentos da ‘superestrutura’ política, a qual se mantém depois, durante muito tempo, sobre a base de relações de produção renovadas.”

LÊNIN, Vladimir. Política. São Paulo: Ática, 1978. página 46. (Coleção Grandes cientistas sociais).

A Revolução de Fevereiro

A insatisfação popular com o regime quizarista aumentou em 1914, quando a Rússia ingressou na Primeira Guerra Mundial ao lado do Reino Unido e da França. O conflito consumiu muitos recursos do Estado. Além disso, nos campos de batalha, o exército russo, despreparado para uma guerra moderna e longa, sofria constantes derrotas.

O conflito atingiu duramente a economia do império, paralisando a indústria, as exportações e as importações e aumentando a inflação, o desemprego e os problemas de abastecimento. Como muitos camponeses tinham sido recrutados para a guerra, a produção de alimentos foi reduzida drasticamente e a população sofreu com a fome.

Greves, passeatas, saques a armazéns e manifestações, encabeçadas por diversos setores da sociedade russa, passaram a ocorrer espontaneamente em todo o país. Grupos socialistas de diversas correntes denunciavam a guerra, afirmando que esse conflito só interessava aos países capitalistas e já havia causado a morte de milhões de soldados russos.

Em fevereiro de 1917, segundo o calendário russo (consulte a seção “Saiba mais”, na página 65), teve início um movimento revolucionário na cidade de Petrogradoglossário . Soldados e tropas aderiram ao movimento e até mesmo setores moderados abandonaram o quizár Nicolau segundo, que foi forçado a deixar o trono.

História em construção

Pôster da revolução

Os revolucionários russos utilizavam principalmente cartazes e pôsteres para divulgar suas causas. Por meio deles, criticavam o quizarismo, denunciavam a exploração dos operários e camponeses e difundiam os ideais socialistas do movimento. Analise o pôster e, depois, responda às questões.


Pôster. Ilustração de grupo de pessoas de roupas largas, chapéus e mangas arregaçadas, de roupas e fisionomias distintas, estão ao redor de um homem de casaco vermelho. Ele aponta para o globo terrestre. Uma bandeira vermelha comprida está encaixada na região entre a Rússia e Europa. A bandeira contorna a parte de trás do globo e passa sobre a região da Austrália.
Pôster bolchevique de 1917 em que se lê: “1º de Maio. Os trabalhadores não têm nada a perder senão suas correntes, e eles vão conquistar o mundo inteiro”.

Responda em seu caderno.

Questões

  1. Que grupo social do Império Russo foi representado no pôster? O que levou você a essa conclusão?
  2. O pôster revela um dos objetivos dos bolcheviques. Qual? Justifique sua resposta com base na imagem.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao explorar a relação entre o início do processo revolucionário russo com a Primeira Guerra Mundial, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero nove agá ih um zero.

História em construção

  1. O grupo social representado no pôster é o dos trabalhadores. Podemos identificá-lo pelas vestimentas simples, pelas mangas de camisa arregaçadas e pelos aventais, assim como pelo próprio texto do cartaz (traduzido na legenda), que os menciona nominalmente. Chame a atenção dos alunos para a representação de diferentes tipos étnicos e culturais, que podem ser identificados pelas fisionomias e vestimentas diversas, como o uso de gorros e turbantes.
  2. Na imagem, é representada uma bandeira vermelha, que simboliza a Revolução Russa e os ideais socialistas, rodeando o globo terrestre. Esse detalhe, somado à frase “[os trabalhadores] vão conquistar o mundo inteiro”, sugere que um dos objetivos dos bolcheviques era espalhar os ideais socialistas da Revolução Russa para o restante do mundo. A ideia de internacionalização da revolução era defendida por León Trótisqui, o que criaria embates no Partido Comunista.

Bê êne cê cê

As atividades da seção “História em construção” contribuem para o desenvolvimento da Competência específica de História nº 3.

Ampliando: a ascensão bolchevique

“Os reacionários desprovidos de escrúpulos, que dominavam a côrte do quizár, haviam decidido deliberadamente a ruína da Rússia, a fim de poderem concluir uma paz em separado com a Alemanha. A falta de armas nas frentes, a falta de víveres nos exércitos e nas grandes cidades, a paralisação da produção e dos transportes em 1916, tudo fazia parte de um plano gigantesco de sabotagem que a Revolução de Fevereiro, no seu justo tempo, impediu que fosse executado até o fim.

Durante os primeiros meses do novo regime, com efeito, não obstante a confusão que se segue a um grande movimento revolucionário como o que acabava de libertar um povo de 160 milhões de almas, o mais oprimido do mundo, a situação interior e a fôrça combativa dos exércitos melhoraram sensivelmente.

Mas essa ‘lua de mel’ teve curta duração. As classes dominantes pretendiam uma revolução unicamente política que, tirando o poder do quizár, o passasse às suas mãos. Queriam fazer na Rússia uma revolução constitucional, segundo o modêlo da França ou dos Estados Unidos, ou então uma monarquia constitucional como a da Inglaterra. Ora, as massas populares queriam, porém, uma verdadeira democracia operária e camponesa. reticências

Qualquer que seja a nossa opinião a respeito do bolchevismo, é inegável que a Revolução Russa foi um dos grandes acontecimentos da história da humanidade e que a subida ao poder dos bolcheviques é um fato de importância mundial.”

Rid, Djón. 10 dias que abalaram o mundo. São Paulo: Global, 1978. página 11-15.

O govêrno provisório

Com a abdicação do quizár, os revolucionários formaram um govêrno provisório, de caráter moderado, liderado pelo menchevique Alequissânder Querênsqui. O novo govêrno tomou algumas medidas, como a adoção do sufrágio universal, a convocação de uma Assembleia Constituinte, a anistia a presos e exilados políticos e a garantia da plena liberdade de expressão e de organização – porém manteve o país na Primeira Guerra Mundial.

Em abril de 1917, Lênin, que estava exilado na Suíça, retornou à Rússia e apresentou aos bolcheviques as chamadas Teses de Abril. Nelas, defendeu a retirada do país da guerra, o confisco das terras dos latifundiários, a ruptura com o govêrno provisório e a tomada do poder pelos sovietes. As ideias de Lênin tornaram-se muito populares e ganharam cada vez mais fôrça.

Os operários e os soldados do exército começaram a formar os próprios sovietes, ignorando o govêrno. Enfraquecido, o govêrno provisório sofria com as pressões dos monarquistas, que articulavam a restauração do quizarismo, e dos bolcheviques, que defendiam a tomada do poder pelos sovietes.

A Revolução de Outubro

Em outubro de 1917, os bolcheviques, comandados por Lênin e León Trótisqui, presidente do Soviete de Petrogrado, ocuparam pontos estratégicos da cidade, atacaram o Palácio de Inverno, séde do govêrno provisório, e tomaram o poder. Lênin foi escolhido para presidir o Conselho de Comissários do Povo, cargo equivalente ao de primeiro-ministro.

Entre as primeiras medidas de Lênin estavam o confisco de terras da nobreza e da Igreja e sua distribuição aos camponeses, a simplificação da língua russa escrita, a anulação dos títulos de nobreza, a estatização de bancos, estradas de ferro e indústrias, a igualdade de direitos entre homens e mulheres e a mudança do calendário.

Em dezembro, o govêrno bolchevique assinou um armistício com a Alemanha e retirou a Rússia da guerra. Em março de 1918, os dois países assinaram o Tratado de Brêst Litôvisqui. Pelo acordo, a Rússia cedia à Alemanha diversos territórios reivindicados pela antiga ordem imperial, como a Polônia, a Finlândia, os territórios bálticos e a Ucrânia, regiões ricas em terras férteis e em recursos minerais.

Fotografia em preto e branco. Homens de sobretudo agrupados empunhando  armas de fogo de cano longo para a mesma direção.
Revolucionários bolcheviques durante tomada do Palácio de Inverno de Petrogrado (atual São Petersburgo), Rússia. Foto de 1917.

Saiba mais

O antigo calendário russo

Havia uma diferença de treze dias entre o calendário utilizado pelos russos até 1917 e o utilizado no Ocidente. Por isso, no calendário gregoriano (que usamos), a Revolução de Fevereiro ocorreu em março e a Revolução de Outubro aconteceu em novembro. O Império Russo adotava o calendário juliano por influência bizantina, responsável pela cristianização dos povos eslavos. Depois da tomada do poder pelos bolcheviques, a Rússia adotou o calendário gregoriano, utilizado no Ocidente.


Respostas e comentários

O antigo calendário russo

A leitura da seção “Saiba mais” sobre o antigo calendário russo permite discutir o caráter convencional das diferentes fórmas de medição do tempo e das periodizações. Problematizar o método da periodização contribui para a reflexão conceitual sobre o trabalho do historiador e a construção do conhecimento histórico, desenvolvendo, assim, a Competência específica de História nº 6.

A guerra civil

Apesar da vitória da Revolução Bolchevique, a Rússia ainda era ameaçada pela oposição interna e por uma frente de potências capitalistas unidas para invadir o país. Diante dessas tensões, uma guerra civil teve início em 1918. Do lado bolchevique, lutava o exército vermelho, comandado por León Trótisqui; do lado da contrarrevolução, estava o exército branco, que reuniu monarquistas, aristocratas e liberais, apoiados por uma coligação de fôrças ocidentais (britânicas, francesas, estadunidenses, japonesas e tchecas).

Pôster. Ilustração que representa Leon Trotsky, homem de sobretudo vermelho, botas. Usa um gorro vermelho com o contorno branco de uma estrela. Ele empunha uma arma. Está pisoteando pessoas em um mapa.
Pôster que representa trótisqui defendendo a Rússia revolucionária contra a intervenção europeia na guerra civil, cêrca de 1918.

A Rússia, paralisada pela guerra civil e por uma crise de abastecimento nas cidades, estava à beira de um colapso. Para salvar a revolução, Lênin preparou um programa de govêrno radical, que ficou conhecido como comunismo de guerra. Por meio desse programa, o govêrno determinou o confisco dos cereais, o congelamento dos preços e dos salários, a suspensão dos direitos individuais e a imposição de uma severa censura à imprensa. O quizár e sua família, que estavam presos, foram executados para desmontar o plano de restauração monárquica.

A guerra civil terminou em 1921, com a vitória do exército vermelho. cêrca de 9 milhões de pessoas morreram em consequência direta dos conflitos ou vítimas de doenças e da fome. A economia russa estava devastada. A produção industrial representava 18% e a agricultura menos de 30% do que eram em 1913. Moscou tinha perdido quase 70% da sua população. A Revolução Bolchevique triunfou, mas o seu custo foi alto.

Saiba mais

Protagonismo feminino na Revolução Russa

Em 23 de fevereiro de 1917 (8 de março), Dia Internacional da Mulher, as operárias russas tomaram as ruas para lutar contra o govêrno do quizár e reivindicar direitos, como a aprovação do divórcio, a criação de creches e a igualdade de direitos em relação aos homens. Muitas pegaram em armas e lutaram ativamente nas revoluções de Fevereiro e de Outubro.


Fotografia em preto e branco. Mulheres de sobretudo e gorro, perfiladas empunhando armas de fogo com cano longo.
Mulheres que compunham o exército vermelho recebendo treinamento na Rússia. Foto de fevereiro de 1917.

Algumas reivindicações das mulheres foram conquistadas com a Revolução de Outubro. Já nos primeiros meses, o govêrno revolucionário estabeleceu a paridade de direitos entre homens e mulheres, ampliou o acesso feminino à educação e criou um grande número de creches e escolas de educação infantil, liberando as mulheres para o trabalho e os estudos.


Respostas e comentários

Com a Primeira Guerra Mundial, milhares de homens foram deslocados para os campos de batalha, e as mulheres assumiram diversos postos de trabalho, sobretudo nas indústrias têxteis.

O fim da democracia dos sovietes

As medidas tomadas pelo govêrno bolchevique durante a guerra civil – dissolução da Assembleia Constituinte instalada em janeiro de 1918, supressão da liberdade de imprensa e dos direitos individuais e confisco dos cereais dos camponeses mais ricos – são consideradas o embrião da ditadura que marcaria o regime stalinista. Soma-se a isso aquele que é considerado o ato mais brutal: o massacre dos marinheiros rebelados da base naval de Crônstat, que participaram na linha de frente da revolução.

A revolução poderia ter sido pacífica?

Ao tratar dos fatos que se desenrolaram na Rússia entre 1905 e 1921, questione os alunos sobre os motivos pelos quais, na avaliação deles, a solução para as insatisfações populares resultou na formação de um exército de potências capitalistas para combater os revolucionários por meio da violência. Incentive-os a refletir sobre a conduta do govêrno do quizár, os anseios e as dificuldades das classes trabalhadoras, os planos da burguesia russa e as escolhas feitas pelas lideranças políticas menchevique e bolchevique. Peça que avaliem se escolhas diferentes poderiam, eventualmente, ter mudado os rumos dos acontecimentos de modo que os problemas do império tivessem sido solucionados de maneira pacífica.

O novo cenário artístico-cultural

A revolução socialista na Rússia foi acompanhada por uma profunda revolução cultural. Cineastas, pintores, escultores e outros artistas criaram fórmas de manifestação artística por meio das quais procuravam expressar as transformações que ocorriam na Rússia naquele período.

Nesse cenário, a principal discussão estava relacionada ao papel formativo da arte e da cultura. Para Lênin, a arte deveria estar a serviço da revolução e das diretrizes partidárias, mas respeitando a liberdade de criação dos artistas e das associações livres (como o partido). Isso significava dizer que o partido tinha a liberdade de afastar aqueles que difundissem ideias contrárias às dele. Lênin também apoiava a arte realista, acadêmica e tradicionalista do século dezenove para conscientizar e mobilizar os trabalhadores.

Para outros, como o físico e filósofo Alequissânder Boguidânóf, era necessário criar uma arte proletária (Prolíticult) e mais autônoma, que se afastasse dos modelos burgueses e não recebesse tanta interferência do partido e do Estado. Nessa direção, o revolucionário bolchevique Pável Líbidif Poliânsqui defendia a ideia de que a arte deveria ter como tema a história do movimento operário e dividir-se em dois momentos: o didático (de instrução do povo) e o criador (de independência criativa do artista).

Diante dessa falta de consenso, do período pré-revolucionário até meados dos anos 1920, houve diversas experiências artístico-culturais na Rússia. Além do tradicionalismo realista e do movimento em torno do Prolíticult, havia os vanguardistas, ligados a diferentes correntes, como o Expressionismoglossário e o Construtivismoglossário , que em geral defendiam a autonomia da arte e se caracterizavam pelas novas fórmas, técnicas e procedimentos estéticos. Já a Associação Pan-Russa dos Escritores Proletários (érre a pê pê), criada em 1925, voltou-se para uma estética naturalista, que combinava o cotidiano do operariado e as mudanças trazidas pela revolução com a herança cultural burguesa.

Pintura. Traçados sobrepostos e figuras abstratas. Multicolorido, com cores fortes.
Dois ovais, pintura de vacíli candinsqui, 1919. Museu Estatal da Rússia, São Petersburgo, Rússia. O pintor foi responsável por introduzir e reinventar o Expressionismo na Rússia.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Quais eram as reivindicações das camadas populares na Revolução de 1905?
  2. O que eram os sovietes?
  3. De que fórma a participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial contribuiu para o início da Revolução de Fevereiro de 1917?
  4. Que medidas foram tomadas pelos bolcheviques após a Revolução de Outubro de 1917?
  5. A afirmação “A Revolução Russa não promoveu uma revolução cultural” está correta? Explique.

Respostas e comentários

Ampliando: a arte revolucionária

“Em 1918, o construtivismo já havia garantido o apoio oficial do Partido Comunista dominante. Artistas como [Vladimir] Tatilín e [alêquissânder] rotchênco começaram a procurar fórmas de ajudar a economia dedicando suas habilidades ao design de objetos práticos, como roupas para operários, aquecedores domésticos e propagandas de produtos. Para isso, rotchênco adaptou as técnicas de fotomontagem que havia desenvolvido sob a influência do dadaísmo e criou capas de livros, cartazes de filmes e até mesmo propagandas de biscoitos.”

fárting, istífen. Tudo sobre arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2011. página 401.

Recapitulando

  1. Na Revolução de 1905, as camadas populares reivindicavam melhores condições de vida e de trabalho e lutavam contra o autoritarismo do quizár.
  2. Os sovietes eram conselhos formados por representantes de operários, soldados e camponeses, responsáveis por organizar as pautas e as fórmas de luta dos trabalhadores. Dividiam-se na assembleia geral e no comitê executivo.
  3. A participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial consumiu muitos recursos do Estado e paralisou a indústria, as importações e as exportações, aumentando a inflação, o desemprego e a fome. Além disso, o país sofreu muitas derrotas no conflito. Esse cenário de crise política e econômica propiciou a eclosão da Revolução de Fevereiro.
  4. Ao tomar o poder, os bolcheviques confiscaram as terras da Igreja e da nobreza e as distribuíram aos camponeses, simplificaram a língua russa escrita, facilitando a alfabetização, anularam os títulos de nobreza, estatizaram os bancos, as ferrovias e as indústrias, equipararam os direitos entre homens e mulheres, mudaram o calendário e retiraram a Rússia da Primeira Guerra Mundial.
  5. A afirmação está incorreta. A Revolução Russa promoveu uma importante transformação artístico-cultural. Nos períodos pré e pós-revolucionário, os movimentos de vanguarda, a arte proletária (Prolíticult), o tradicionalismo realista e o naturalismo apresentaram novidades e promoveram renovações estéticas.

Enquanto isso…

A Revolução Mexicana

Uma revolução quase tão intensa quanto a que transformou a história da Rússia no início do século vinte aconteceu na América Latina. No México, a revolução teve origem no descontentamento do povo com o govêrno de Porfírio Dias, general que se manteve na presidência, por meio de eleições fraudulentas, de 1876 a 1911.

Durante seu govêrno, días facilitou a entrada de empresas e capitais estrangeiros no México e acelerou o processo de modernização das comunicações e dos transportes, privilegiando os interesses das classes dominantes. Ao mesmo tempo, expropriouglossário terras indígenas. Em situação de miséria, camponeses e indígenas eram empregados como mão de obra farta e barata pelos produtores de açúcar do sul e pelas empresas mineradoras do norte.

Em 1910, días disputou o cargo de presidente com o liberal Francisco Madêro, que percorreu todo o país defendendo o fim das reeleições. Poucos meses antes do pleito, Madêro foi preso, acusado de incitar o povo à rebelião. Com o adversário na prisão, días se reelegeu, por meio de fraude, obtendo quase 100% dos votos.

Após as eleições, Madêro foi libertado e seguiu para o exílio nos Estados Unidos, onde redigiu o Plano de San Luis Potosí, em que conclamava os mexicanos a pegar em armas contra a ditadura porfirista no dia 20 de novembro de 1910. A proposta ganhou a adesão de setores operários e camponeses do sul e do norte do país. Conforme planejado, eclodiu a Revolução Mexicana.


Pintura. No centro da imagem, Francisco Madero, homem calvo, de bigode e barba. Tem uma faixa transversal nas cores verde, branca e vermelha sobre o corpo, e carrega uma bandeira nas mesmas cores em um mastro. Está montado em um cavalo branco. Ao seu redor, diversas pessoas aglomeradas, militares e civis. Algumas pessoas estão vestidas socialmente, outras estão sem camisa e descalças. Um homem de costas usa chapéu e veste uma roupa com vários rasgos. Algumas crianças e um cachorro estão à frente. A multidão ao fundo carrega cartazes e bandeiras.
Afresco representando a Revolução Mexicana, obra de ruán ôgôrman, 1968. O artista representou Francisco Madero no centro a cavalo, com a faixa presidencial, acompanhado por militares e políticos da época revolucionária. Na faixa vermelha, na parte superior da pintura, lê-se: “Sufrágio efetivo” e “Não reeleição”.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao trabalhar a simultaneidade de processos em espaços diferentes, a seção “Enquanto issoreticências” contribui para o desenvolvimento da Competência específica de Ciências Humanas nº 5 e, ao envolver a análise de trecho de uma fonte primária, favorece o desenvolvimento da Competência específica de História nº 3.

A luta contra Porfírio Dias foi rápida. Em maio de 1911, o ditador renunciou ao cargo de presidente e fugiu do país. O México passou por um período de relativa tranquilidade até outubro do mesmo ano, quando ocorreram eleições presidenciais e Madêro foi eleito. Um mês e meio depois, as tensões internas voltaram a crescer. A burguesia mexicana queria modernizar a agricultura e expandir a indústria no país. Os operários, por sua vez, reivindicavam direitos trabalhistas e melhores condições de vida. Os camponeses e os indígenas esperavam recuperar suas terras e transformar o regime de propriedade rural.

Levantes camponeses ocorreram em todo o país, cobrando de Madêro a realização de reformas sociais profundas. Os líderes camponeses Pasqual Orosco, no norte, e Emiliano Zapata, no sul, declararam guerra ao govêrno. No Plano de Ayala, Zapata elegeu a questão da terra como o ponto central de sua luta. Leia um trecho dessa proposta.


Fotografia em preto e branco. Mulher de camiseta e saia longa em pé, segurando uma arma de fogo comprida. Usa um chapéu grande. Carrega diagonalmente sobre o corpo uma cartucheira com munição para a arma. Atrás dela, outras mulheres sentadas no vagão de um trem. Uma delas empunha uma arma.
Mulheres, conhecidas como soldaderas, que lutaram ao lado de Pântio Vilha, um dos generais da Revolução Mexicana. Foto de cêrca de 1911-1920.

6. reticências as terras, montanhas e águas usurpadas por fazendeiros, governantes ou chefes políticos à sombra da tirania e da justiça venal entrarão imediatamente em posse das comunidades ou dos cidadãos que tenham os títulos correspondentes a essas propriedades, das quais foram despojados pela má-fé dos opressores reticências.

15. Mexicanos: considerai que a astúcia e a má-fé de um homem estão derramando sangue reticências; e, assim como levantamos nossas armas para levá-lo ao poder, agora nos voltaremos contra ele por ter faltado com seus compromissos perante o povo mexicano e ter traído a revolução reticências.

Povo mexicano, apoiai com armas na mão este plano, e fareis a prosperidade e o bem-estar da pátria.

ZAPATA, Emiliano e outros Plan de Ayala. Ayala, 28 novembro 1911. Disponível em: https://oeds.link/NisiN0. Acesso em: 1 julho 2022. (Tradução nossa).

Nesse contexto de grande turbulência, o México entrou na segunda e mais profunda fase de sua revolução. Em 1913, um levante porfirista depôs e fuzilou Madêro. No ano seguinte, uma mobilização popular e camponesa comandada por Emiliano Zapata e Pântio Vilha, um dos principais estrategistas militares da revolução, derrubou o novo govêrno, encerrando a era do porfirismo no México. Líderes burgueses, porém, logo afastaram os camponeses e assumiram o poder.

Em meio aos conflitos armados, uma Assembleia Constituinte se reuniu e promulgou, em 1917, uma nova constituição para o México. Foi, então, introduzida uma legislação trabalhista e foram criadas as bases para a realização de uma reforma agrária. O contrôle do Estado, no entanto, prosseguiu nas mãos da burguesia. Camponeses e indígenas, descontentes, continuaram combatendo até o assassinato de Zapata, em 1919, e a rendição das tropas de Pântio Vilha, em 1920.


Responda em seu caderno.

Questões

  1. Quais eram as principais reivindicações de cada grupo social que participou da deposição de Porfírio Dias?
  2. A quem Emiliano Zapata se dirigiu no Plano de Ayala e qual era a principal reivindicação popular apresentada nele?

Respostas e comentários

Enquanto isso...

  1. Os camponeses e os indígenas esperavam retomar terras expropriadas e transformar o regime de propriedade rural. Já a burguesia mexicana desejava diversificar a economia, ampliando o nível de industrialização e modernizando a produção agrícola. Os operários, por sua vez, pretendiam conquistar direitos trabalhistas e melhorar suas condições de vida.
  2. Zapata dirigiu-se a todos os mexicanos na tentativa de promover uma mobilização popular contra Francisco Madêro, considerado, por ele, traidor da revolução e incapaz de governar o país. Ele reivindicou os territórios (terras, montanhas e águas) que teriam sido usurpados do povo por fazendeiros, governantes e chefes políticos. O líder revolucionário lutava pela reintegração de indígenas e camponeses à terra, pois os considerava vítimas da má-fé dos opressores.

Atividade complementar

A Revolução Mexicana durou quase dez anos e envolveu toda a sociedade, dividida em propostas distintas, mas mobilizada pela transformação do México.

Proponha aos alunos que pesquisem mais informações sobre a Revolução Mexicana para que compreendam por que as propostas de Emiliano Zapata, Pântio Vilha e Ricardo Flores Magón eram consideradas revolucionárias. Anarquista, Magón editou, desde antes do período revolucionário, o jornal Regeneración. No periódico, ele defendia a ideia de que a revolução não podia limitar-se às fundamentais mudanças sociais, políticas e econômicas; ela devia envolver, também, mudanças comportamentais, promovendo, por exemplo, o reconhecimento da igualdade entre homens e mulheres.

A atividade de pesquisa pode ter um enfoque na análise documental iconográfica – fotografias, obras de arte, cartazes e outros documentos do período. Desse modo, a atividade favorece o desenvolvimento de habilidades de análise documental em diferentes tipos de fonte histórica, método próprio da ciência histórica.

A Nova Política Econômica (népi)

Após seis anos de conflitos (a Primeira Guerra Mundial e a guerra civil), a Rússia encontrava-se destruída. Entre 1921 e 1922, mais de 5 milhões de pessoas morreram por falta de alimentos. Revoltas, greves e insurreições espalhavam-se pelo país. Para garantir a sobrevivência do Estado nascido com a Revolução Bolchevique, era preciso acabar com a fome do povo. Para isso, Lênin elaborou, em 1921, a chamada Nova Política Econômica (népi).

Por meio da népi, foram adotadas medidas capitalistas para incentivar a produção, como a abertura de pequenas empresas agrícolas e industriais. O programa também liberou os camponeses para vender seus produtos e permitiu a entrada de capitais estrangeiros no país em fórma de empréstimos. Contudo, os setores estratégicos da economia, como o de transportes e o sistema financeiro, permaneceram sob contrôle do Estado.

As medidas de liberação adotadas na economia não se estenderam, no entanto, ao plano político. A ditadura estabelecida durante a guerra civil para combater os inimigos da revolução foi mantida no Estado socialista que começava a se estruturar na Rússia. O poder exercido pela classe operária por meio dos sindicatos e dos sovietes foi transferido para o Partido Comunista, o único permitido no país.

Em 1922, foi criada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (u érre ésse ésse), uma federação de repúblicas que congregava várias das regiões que compunham o antigo Império Russo e os territórios que haviam sido anexados pelo exército vermelho ao longo da guerra revolucionária. A União Soviética, contudo, estava fragilizada internamente e isolada no contexto das relações internacionais.

A União Soviética em 1950

Mapa. A União Soviética em 1950. Destaque para países da Ásia setentrional e central e alguns países do leste europeu. Legenda: Amarelo: Repúblicas eslavas. Verde: Repúblicas do Cáucaso. Marrom: Repúblicas da Ásia Central. Vermelho: Outras repúblicas. Entre parênteses, as datas em que os respectivos territórios entraram para a União Soviética. Repúblicas eslavas: Rússia (1922); Ucrânia (1922); Bielorrússia (1922). Repúblicas do Cáucaso: Geórgia (1922); Armênia (1922); Azerbaijão (1922). Repúblicas da Ásia Central: Cazaquistão (1936); Uzbequistão (1924); Turcomenistão (1925); Quirguistão (1936); Tadjiquistão (1924). Outras repúblicas: Estônia (1940); Letônia (1940); Lituânia (1940); Moldávia (1939). No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 830 quilômetros.

Fonte: CHALIONDE, Gerrádi; RAGEÚ, Jean Piérre. Atlas stratégique. Paris: Complexe, 1988. página 91.


Responda em seu caderno.

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  1. De acordo com o mapa, que territórios compunham a União Soviética em 1922?
  2. Note que a União Soviética, em 1950, era formada por vários territórios, em que viviam diferentes povos. Em sua avaliação, essa expansão territorial poderia provocar tensões? Por quê?

Responda em seu caderno.

Recapitulando

9. Identifique as principais medidas adotadas pela népi e seus objetivos.


Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar da Nova Política Econômica (népi), da ascensão de Stálin e da expansão da União Soviética, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero nove agá ih um um.

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  1. Em 1922, a União Soviética era formada por Rússia, Bielorrússia, Ucrânia, Geórgia, Armênia e Azerbaijão.
  2. Espera-se que os alunos sejam capazes de realizar inferências com base no que já aprenderam até aqui, e compreendam que a Rússia, ao longo de sua história, incorporou diversos territórios nos quais viviam povos de diferentes etnias, línguas e religiões. A incorporação era forçada, assim como a definição das fronteiras da União Soviética, o que criou um cenário propício para a formação de movimentos nacionalistas e revoltas.

Recapitulando

9. Entre as principais medidas da népi estavam a abertura de pequenas empresas agrícolas e industriais, a liberação da venda de produtos pelos camponeses e a entrada de capitais estrangeiros na Rússia. O objetivo do govêrno era resolver o problema da falta de abastecimento e da fome, a fim de garantir a sobrevivência do Estado criado com a Revolução Bolchevique.

A ascensão de Istálin

Em 1924, com a morte de Lênin, iniciou-se no Partido Comunista uma acirrada disputa pelo poder. Jôsef Istálin, secretário-geral do partido desde 1922, defendia uma posição nacionalista. Para ele, a revolução deveria se concretizar primeiro na União Soviética, para, em seguida, ganhar o mundo. No plano internacional, Istálin defendia a tese de que os partidos comunistas deveriam fazer alianças com setores burgueses e proletários, na fórma de frentes populares.

Em contrapartida, León Trótisqui, líder do exército vermelho e responsável pela política externa soviética, defendia a ideia de que, isolada, a União Soviética desapareceria. Para ele, a continuidade e a “exportação” da revolução eram a única maneira de evitar que ela fosse esmagada pelas nações capitalistas ou terminasse sufocada pela burocratização e pelo autoritarismo do partido único. Por propor a revolução mundial, a política de trótisqui foi chamada de internacionalista.

No décimo quarto Congresso do Partido Comunista da União Soviética, em 1925, as teses de Stálin foram aprovadas. Dois anos depois, trótisqui foi expulso do partido e, em 1929, banido do país. Com isso, Istálin pôde avançar na construção de um Estado totalitário na União Soviética, buscando o contrôle total sobre a sociedade.

Refletindo sobre

Sob Istálin, a história soviética foi reescrita por meio da adulteração do passado. A imagem de trótisqui, principal rival de Istálin, foi apagada intencionalmente de fotos com o objetivo de construir uma memória diferente da Revolução Russa. Atualmente, a disseminação de imagens descontextualizadas, bem como a distorção de suas características originais usando tecnologias digitais, como a do deepfakeglossário , são estratégias largamente utilizadas para manipular a opinião pública, principalmente em relação ao posicionamento político das pessoas. Em sua opinião, como essas práticas afetam a democracia?

O realismo socialista

Com a ascensão de Istálin ao poder, houve uma mudança na política cultural da Rússia. Em razão disso, muitos artistas foram condenados ao exílio ou à prisão. No lugar da arte revolucionária e independente, foi imposta uma arte oficial, com a tarefa de enaltecer o Estado, o govêrno e a grande pátria soviética.

As obras desse estilo de arte, chamado realismo socialista, tinham o dever de retratar o “real”, com personagens mais próximos do povo. O conteúdo deveria ser pedagógico, com o objetivo de educar os trabalhadores para a defesa do socialismo, do Estado soviético e de suas conquistas. Istálin era representado como o “pai do povo”, com expressões amáveis e, sempre que possível, ao lado de crianças e de trabalhadores.

Cartaz. Ilustração representando Stálin, homem de cabelo escuro e bigode. Usa camisa e boina brancos com detalhes em dourado. Está abraçado com um menino com roupa de marinheiro e uma menina sorridente. Ele olha sorridente para outras crianças ao seu redor. Algumas delas seguram brinquedos.
Cartaz de propaganda soviética produzido por Víquitor Ivanouíti Govorcau, 1936. Nele, aparece a frase: “Obrigado ao querido Stálin pela infância feliz!”. Biblioteca Estatal Russa, Moscou, Rússia.

Responda em seu caderno.

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Como Istálin foi representado nesse cartaz? Quais eram as prováveis intenções do artista ao criar essa representação?


Respostas e comentários

Totalitarismo

O conceito totalitarismo e as consequências de sua aplicação nas sociedades é tema do capítulo 5.

Refletindo sobre

A atividade visa promover uma reflexão sobre o modo como a manipulação de imagens (tanto de fotografias quanto de vídeos), facilitada pelo desenvolvimento de aplicações digitais, afeta a vida das pessoas. Essa prática pode atender a interesses diversos, como prejudicar a reputação de alguém (colocando pessoas em situações constrangedoras) e criar fake news (notícias falsas criadas para manipular a opinião pública) com objetivos políticos, por exemplo. Dessa fórma, a atividade pode desenvolver nos alunos uma postura crítica em relação ao conteúdo que acessam na mídia, especialmente nas redes sociais digitais, favorecendo a elaboração de questionamentos, hipóteses, argumentos e proposições sobre documentos, interpretações e contextos históricos específicos. Também permite que os alunos aprofundem o entendimento do conceito de democracia e reflitam sobre os princípios que devem norteá-la. Além disso, a atividade contribui para o reconhecimento da importância do trabalho do historiador na escrita da história e na problematização da memória.

Bê êne cê cê

A atividade contribui para o desenvolvimento das Competências gerais da Educação Básica nº 1, nº 2, nº 5 e nº 9, das Competências específicas de Ciências Humanas nº 4 e nº 6 e das Competências específicas de História nº 1, nº 3 e nº 6.

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Istálin foi representado como uma pessoa generosa, simples e amável que está se divertindo com um grupo de crianças e sorrindo para elas. Um menino parece mostrar um desenho do Crêmilim de Moscou a Istálin, enquanto outros seguram miniaturas de um navio e de um avião. Vê-se também uma menina que parece entregar flores a ele. O artista provavelmente intencionava representar uma imagem popular e carismática de Istálin, que transmitisse que ele se preocupava com as futuras gerações.

O stalinismo

A ascensão do stalinismo foi favorecida por uma crise da népi. Em 1927, a produção de alimentos não correspondeu às expectativas do govêrno, provocando novamente o fantasma do desabastecimento nas cidades. No campo, os produtores estocavam seus excedentes e diminuíam as áreas de cultivo.

No início de 1928, o govêrno soviético estabeleceu “medidas extraordinárias” para obrigar os camponeses a entregar os grãos estocados. Em 1929, Stálin decretou a coletivização forçada da terra, expropriando os camponeses ricos, os Culáquis.

O terror e a violência foram adotados como práticas comuns durante o stalinismo. Entre 1936 e 1939, o líder soviético promoveu o chamado Grande Expurgo, perseguindo e assassinando todos os opositores ou pessoas que poderiam representar uma ameaça ao regime. Até mesmo antigos dirigentes bolcheviques acabaram presos e executados por ordem de Istálin.

Os povos não russos da União Soviética foram submetidos às regras estabelecidas pelo comitê central do Partido Comunista. Foram obrigados, por exemplo, a adotar o idioma russo como oficial. Além disso, instituiu-se uma severa censura aos meios de comunicação e estabeleceu-se uma grande burocratização do Estado, que deu origem a uma elite que usufruía de privilégios políticos e econômicos.

Havia defensores e admiradores do stalinismo dentro e fóra das fronteiras soviéticas. A maior parte dos membros dos partidos comunistas do mundo acreditava que as denúncias feitas às práticas de Stálin não passavam de uma campanha de difamação conduzida pelos Estados Unidos e por seus aliados capitalistas. Quase todos seguiam à risca as diretrizes enviadas por Moscou. Somente em 1956, três anos após a morte de Istálin, os crimes do govêrno stalinista foram confirmados e denunciados pelo próprio Estado soviético, revelando ao mundo a violência daquele regime.

Fotografia. Pessoas agasalhadas com casacos e gorros estão perto da estátua de uma menina. Ao redor dela diversas velas vermelhas acesas.
Visitantes no memorial às vítimas da grande fome que assolou a Ucrânia entre 1932 e 1933, no Museu Nacional do Holodomor-Genocídio, em Quiévi, Ucrânia. Foto de 2019. Estima-se que, nesse período, 6 milhões de pessoas morreram de fome ou de epidemias em decorrência das políticas aplicadas pelo govêrno ditatorial de Jôsef Istálin na Ucrânia.

Conexão

A mãe

Máximo górqui. São Paulo: Expressão Popular, 2005.

Máximo górqui participou ativamente da Revolução de 1905. Nesse livro, escrito em 1907 e inspirado em fatos reais, ele trata da luta dos operários russos. A história é narrada pela mãe de Pável Vlassôf. Após a morte do pai, Vlassôf e sua mãe se tornam protagonistas das manifestações operárias ocorridas na cidade russa de Nígini Novigorót, no início do século vinte. Essa obra é considerada uma das mais importantes do realismo literário russo.


Capa de livro. No canto superior direito, o título. Ocupando o restante da capa, ilustração de mãos femininas segurando um pequeno bebê encolhido, sem roupas. Uma das mãos está apoiando a cabeça e a outra apoiando a parte de baixo do corpo.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Quais eram as principais divergências entre Josef Stálin e Leon trótisqui acerca dos rumos da revolução socialista?
  2. Que recursos foram empregados por Stálin para consolidar seu poder na União Soviética?

Respostas e comentários

Expurgos

Durante os expurgos promovidos por Istálin, ocorreram os chamados Processos de Moscou. A fim de eliminar as possibilidades de oposição, os acusados eram submetidos a torturas físicas e psicológicas para confessar crimes que não cometeram, evidências de crimes e conspirações eram produzidas pelos acusadores, e os julgamentos obedeciam a um “roteiro” previamente estabelecido.

Conexão

Esta obra de Máximo górqui aborda questões fundamentais a respeito da organização familiar, da sociabilidade e da formação política nos ambientes de onde emergem lideranças entre os trabalhadores. Além disso, o narrador compartilha, por meio da personagem da mãe, de certa onisciência em relação ao narrado, o que lhe permite discutir a ideia – relevante na narrativa de górqui e também presente nas reflexões de ênguels – de que a primeira opressão de classe teria sido a do sexo masculino sobre o feminino. Além disso, a linguagem que o autor emprega é simples e direta, buscando alcançar amplo público de leitores e, apesar de constituir uma defesa apaixonada do socialismo, o protagonismo da mãe (e não do filho) atribui à obra um caráter complexo, que a distancia da categoria de propaganda política.

Recapitulando

  1. Istálin defendia uma visão nacionalista, na qual a revolução deveria concretizar-se na União Soviética e só depois expandir-se para o restante do mundo, enquanto trótisqui era a favor do internacionalismo, isto é, da difusão da revolução em todos os países.
  2. Istálin implantou um govêrno totalitário, tomando medidas violentas e de exceção, como a coletivização forçada da terra, a perseguição e o assassinato de opositores ou suspeitos de ameaçar o regime, a intensa censura e o contrôle dos meios de comunicação, a alta burocratização do Estado e a imposição das regras ditadas pelo comitê central do Partido Comunista em toda a União Soviética.

Atividades

Responda em seu caderno.

Aprofundando

1. Componha um organograma sobre a cisão interna do Partido Operário Social-Democrata Russo. Baseie-se no seguinte modêlo.

Organograma vertical. No topo da hierarquia, um retângulo com a inscrição Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR). Abaixo, saem duas colunas ligadas a ele. Na coluna da esquerda, o retângulo com a inscrição Bolcheviques. Abaixo desse retângulo, um quadro com a inscrição Objetivos. Na coluna da direita, um retângulo com a inscrição Mencheviques. Abaixo desse retângulo, um quadro com a inscrição Objetivos.

Versão adaptada acessível
  1. A respeito da cisão interna do Partido Operário Social-Democrata Russo, responda às questões.
    1. Quais os objetivos dos bolcheviques?
    2. Quais os objetivos dos mencheviques?
Orientação para acessibilidade

A diferenciação entre os objetivos de bolcheviques e de mencheviques pode ser apresentada por meio de uma exposição oral ou de uma produção textual.

2. Analise a charge sobre o conflito do quizár russo com o Japão no início do século vinte.

Charge. Homem de sobretudo e com um chapéu escrito CZAR está de frente para um gênio que saiu de um jarro. Ele tem as feições de uma caveira com uma faca entre os dentes. O corpo é uma fumaça escura com a palavra cuja tradução é Revolução. No jarro estão escritas palavras cujas traduções são: Russo, Japonês, Guerra.
Charge publicada no jornal New Zealand Graphic, de 28 de janeiro de 1905, satirizando as pretensões do quizár na guerra contra o Japão (1904-1905). Patrimônio das Bibliotecas de Auckland, Nova Zelândia.
  1. A charge sugere que a guerra que o quizár travou contra o Japão em 1904 pelo contrôle dos territórios da Manchúria e da Coreia foi bem-sucedida? Por quê?
  2. Você considera pertinente a avaliação que o chargista fez da situação política russa no comêço do século vinte? Justifique sua resposta.
  1. Identifique a afirmação incorreta sobre o processo revolucionário da Rússia e corrija-a em seu caderno.
    1. No início do século vinte, as condições de vida da maioria da população russa eram muito precárias.
    2. A situação de penúria da população pobre foi agravada pela Guerra Russo-Japonesa, de 1904-1905.
    3. A derrota da Rússia na guerra de 1905 fez crescer a insatisfação popular com a ditadura quizarista e com a corrupção da côrte imperial.
    4. Em 1905, manifestantes que reivindicavam melhores condições de vida e trabalho em São Petersburgo depuseram o quizár.
  2. Leia um trecho de um texto escrito por Lênin e publicado no periódico Právida, em 7 de abril de 1917.

O que há de singular na situação atual da Rússia é a transição da primeira etapa da revolução, que deu poder à burguesia, em consequência do grau insuficiente de consciência e de organização do proletariado, para a segunda etapa, que deverá dar o poder ao proletariado e aos setores pobres do campesinato.

Essa transição é caracterizada, por um lado, por um máximo de garantias legais (a Rússia é, atualmente, de todos os países beligerantes, o mais livre do mundo); por outro, pela ausência de violência exercida sobre as massas; e, por fim, pela confiança irracional das massas em relação ao govêrno dos capitalistas, os piores inimigos da paz e do socialismo.

LÊNIN. Teses de abril. In: DISCURSOS que mudaram o mundo. São Paulo: Folha de São Paulo, 2010. página 16.

  1. Identifique as ideias marquicístas no texto de Lênin.
  2. A que acontecimento histórico Lênin se refere quando diz que a Rússia havia passado pela primeira etapa da revolução?
  3. Em sua análise, Lênin aponta como objetivo da revolução, com a qual ele sonha, estabelecer liberdade ou igualdade social? Justifique.

Respostas e comentários

Atividades

1. Bolcheviques: defendiam a centralização e a democracia no interior do partido e sua direção por revolucionários profissionais com base em uma disciplina severa, além de uma aliança revolucionária entre operários e camponeses para derrubar o quizarismo, derrotar a burguesia e implantar o socialismo na Rússia.

Mencheviques: defendiam uma aliança com a burguesia para derrubar o quizarismo na Rússia, conquistar as liberdades democráticas e desenvolver plenamente o capitalismo no país. Só depois, gradualmente, o socialismo seria colocado em prática.

    1. Não. Na charge, as pretensões imperialistas do quizár libertaram “um gênio” maligno, que aparece representado como a morte, com uma faca entre os dentes e a legenda “revolução”. Na representação, o quizár mostra-se espantado diante dessa figura, dando a entender que não era isso que ele esperava obter.
    2. Espera-se que os alunos relacionem as ambições imperialistas do quizár com a imposição de condições duras para o povo do império, que produziram insatisfação e revoltas, culminando na Revolução Russa. A realização da atividade exige que os alunos estabeleçam associações entre elementos da imagem e informações estudadas que não estão explícitas. Assim, eles terão de mobilizar conhecimentos prévios sobre a Revolução Russa para fazer inferências.
  1. Alternativa d. Correção: Em 1905, manifestantes que reivindicavam melhores condições de vida e trabalho em São Petersburgo foram violentamente reprimidos. Esse episódio ficou conhecido como Domingo Sangrento.
    1. A base teórica marquicísta pode ser identificada tanto na ideia de que a revolução se cumpriria por etapas, sendo a primeira caracterizada pela tomada de poder pela burguesia e o desenvolvimento do capitalismo, quanto pela afirmação dos antagonismos entre burguesia e proletariado.
    2. Lênin se refere à Revolução de Fevereiro, que levou ao poder os mencheviques.
    3. O objetivo era a conquista da igualdade social, com a derrota da burguesia e do capitalismo e a tomada dos meios de produção pelos trabalhadores. Para essa etapa se concretizar, os revolucionários contavam já com uma situação de liberdade para as manifestações dos trabalhadores. Para Lênin, essa transição é caracterizada, por um lado, por um máximo de garantias legais (“a Rússia é, atualmente, de todos os países beligerantes, o mais livre do mundo”) e, por outro, pela “ausência de violência exercida sobre as massas”.
  1. Explique de que maneira as ideias socialistas de cál marcs e fréderique ênguels influenciaram os movimentos revolucionários russos nas primeiras décadas do século vinte.
  2. O romance O homem que amava os cachorros, do escritor cubano Leonardo Padura, é uma obra de ficção centrada em acontecimentos históricos: a perseguição e o assassinato de León Trótisqui pelo comunista espanhol Ramón Mercader. No trecho a seguir, trótisqui está exilado no México, e, na voz de um narrador onisciente, avalia sua responsabilidade pelo massacre dos marinheiros da base naval de Crônstat.

Mas Lívi Devidavíti [trótisqui] sabia que Crônstat ficaria eternamente marcada como um capítulo negro da revolução e que ele próprio, cheio de vergonha e de dor, carregaria para sempre essa culpa. Também sabia que, se em Crônstat os bolcheviques (e incluía-se a si próprio e a Lênin) não tivessem reprimido sem piedade a rebelião, talvez tivessem aberto as portas à restauração. Assim, simples, terrível e cruel, podem ser a revolução e suas opções, pensou nessa altura e continuaria a pensar até o fim, sem que nada o fizesse mudar de opinião.

Padura, Leonardo. O homem que amava os cachorros. São Paulo: Boitempo, 2013. página 322.

  1. Quais são os sentimentos do personagem expressos no texto?
  2. Explique a postura do personagem em relação à rebelião de Crônstat, cuja repressão foi parte do processo revolucionário russo.

7. Leia o texto para responder às questões.

Assim, contra as expectativas, a Rússia soviética sobreviveu. reticências E o fez por três grandes razões: primeiro, possuía um instrumento de poder único, praticamente construtor de Estado, no centralizado e disciplinado Partido Comunista de 600 mil membros. reticências Segundo, era, de fórma evidente, o único govêrno capaz de manter a Rússia integral como Estado reticências. A terceira razão era que a revolução permitiria ao campesinato tomar a terra. Quando chegou a isso, o grosso dos camponeses da Grande Rússia – núcleo do Estado, além de seu novo exército – achou que suas chances de mantê-la eram melhores sob os vermelhos do que se retornasse a fidalguia. Isso deu aos bolcheviques uma vantagem decisiva na guerra civil de 1918-1921. Como se viu, os camponeses russos foram otimistas demais.

róbisbáum, Eric. Era dos extremos: o breve século vinte (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995. página 70-71.

  1. Em 1918, quais deveriam ser as expectativas a respeito do futuro da Rússia soviética?
  2. Que razões foram apontadas pelo autor para explicar a sobrevivência da revolução?

8. Leia um trecho do texto escrito pela revolucionária Alexandra Colantái, publicado em 1927, no Jornal das Mulheres, em comemoração aos dez anos da Revolução de Outubro.

As mulheres que participaram da Grande Revolução de Outubro – quem eram elas? Indivíduos isolados? Não, havia multidões delas; dezenas, centenas e milhares de heroínas anônimas que, marchando lado a lado com os operários e camponeses sob a Bandeira Vermelha e a palavra de ordem dos sovietes, passaram por cima das ruínas da teocracia quizarista rumo a um novo futuro...

reticências Jovens e velhas, mulheres trabalhadoras e esposas de soldados, camponesas e donas de casa [que vinham] das cidades pobres. Mais raramente, muito mais raramente nesses dias, secretárias e mulheres profissionais, mulheres cultas e educadas. Mas havia também mulheres reticências [envolvidas com o trabalho intelectual] entre aqueles que carregavam a Bandeira Vermelha à vitória de Outubro – professoras, empregadas de escritório, jovens estudantes nas escolas e universidades, médicas. Elas marchavam alegremente, generosamente, cheias de determinação.

Colantái, Alexandra. Mulheres militantes nos dias da grande Revolução de Outubro. Siênsqui sirnal, Moscou, número 11, novembro 1927.

  1. Segundo a autora, quem eram as mulheres que participaram da Revolução de Outubro?
  2. De que maneira elas colaboraram para o êxito do processo revolucionário?

Respostas e comentários
  1. Para márks e ênguels, a fôrça que movia os acontecimentos históricos era a luta de classes. Para superar esse conflito, os trabalhadores deveriam se organizar para tomar para si o contrôle do Estado, derrubando o capitalismo e implantando o socialismo. Com o agravamento das condições de vida do proletariado, essas ideias repercutiram cada vez mais entre os trabalhadores e os intelectuais russos, tornando-se a principal influência de movimentos radicais.
    1. Vergonha, dor e culpa.
    2. Apesar de sentir-se culpado por reprimir a rebelião de Crônstat, o personagem entende que eventos como esse fazem parte do processo revolucionário que envolve algumas decisões simples, terríveis e cruéis.
    1. Em 1918, as crises de abastecimento nas cidades, a queda brusca da produção industrial e agrícola, as perdas territoriais, a violenta guerra civil e o apôio de potências capitalistas às fôrças contrarrevolucionárias indicavam que a revolução dificilmente triunfaria.
    2. Para explicar a sobrevivência da revolução, o autor apontou a fórma como estava organizado o Partido Comunista, centralizado e disciplinado, e a maneira como a Revolução Bolchevique preservou a maior parte da unidade territorial multinacional do velho estado quizarista, além do fato de o movimento permitir ao campesinato pobre ter acesso à terra, satisfazendo uma importante reivindicação dessa parcela da população, o que deu aos bolcheviques uma vantagem decisiva.
    1. Mulheres de todas as idades e classes sociais participaram da Revolução de Outubro: jovens e idosas, trabalhadoras e esposas de soldados, camponesas e donas de casa, professoras, secretárias, estudantes, médicas etcétera
    2. As mulheres colaboraram para o êxito do processo revolucionário por meio da participação em manifestações e marchas.

Aluno cidadão

9. Como você estudou, antes e após a Revolução Russa, a população sofreu com o desabastecimento e a fome, que provocaram milhares de mortes.

Atualmente, de acordo com dados do Programa Mundial de Alimentos (pê ême a) da Organização das Nações Unidas (ônu), em 2021, existiam 45 milhões de pessoas em situação grave de fome em 43 países do mundo.

Reúnam-se em grupos para pesquisar dados sobre a fome no Brasil nos últimos anos e políticas públicas existentes para combatê-la. Com base nos dados levantados, elaborem uma proposta de combate à fome no Brasil e apresentem-na aos demais colegas.

Conversando com matemática

10. Analise os dados do quadro a seguir e, depois, faça o que se pede.

GREVES NA RÚSSIA

Ano

Greves

Grevistas

1904

68

24.904

1905

13.995

2.863.173

1906

6.114

1.108.406

1914

3.534

1.337.458

1915

928

538.528

1916

1.161

878.347

1917

4.307

2.203.846

1922

538

197.022

1923

434

168.864

1925

434

73.243

1926

843

106.044

1927

905

80.784

1928

842

93.835

1929

735

65.443

Fonte: Múrfi, Quévin. Greves durante o período soviético inicial, 1922 a 1932: da militância à passividade da classe trabalhadora? Rus, São Paulo, volume 8, número 10, página 39, 2017.

  1. Construa um gráfico de colunas com os dados “Ano” e “Greves” do quadro.
  2. O que explica o grande número de grevistas em 1905 e entre 1914 e 1917?
  3. Que período do quadro mostra a insatisfação da população com o govêrno de Istálin?

enêm e vestibulares

11. (Vunéspi)

No final da primavera de 1921, um grande artigo de Lênin define o que será a népi [Nova Política Econômica]: supressão das requisições; impostos em gêneros (para os camponeses); liberdade de comércio; liberdade de produção artesanal; concessões aos capitalistas estrangeiros; liberdade de empresa – é verdade que restrita – para os cidadãos soviéticos. reticências Ao mesmo tempo, recusa qualquer liberdade política ao país: ‘Os mencheviques continuarão presos’, e anuncia uma depuração do partido, dirigida contra os revolucionários oriundos de outros partidos, isto é, não imbuídos da mentalidade bolchevique.

Siôrgi, Víquitor . Memórias de um revolucionário, 1987.

O texto identifica duas características do processo de constituição da União Soviética:

  1. a reconciliação entre as principais facções social-democratas e a implantação de um sistema político que atribuía todo poder aos sovietes de soldados, operários e camponeses.
  2. o reconhecimento do fracasso político e social dos ideais comunistas e o restabelecimento do capitalismo liberal como modo de produção hegemônico no país.
  3. a estatização das empresas e dos capitais estrangeiros investidos no país e a nacionalização de todos os meios de produção, com a implantação do chamado comunismo de guerra.
  4. a aguda centralização do poder nas mãos do partido governante e o restabelecimento temporário de algumas práticas capitalistas, que visavam à aceleração do crescimento econômico do país.
  5. o fim da participação russa na Guerra Mundial, defendida pelas principais lideranças do exército vermelho, e a legalização de todos os partidos socialistas.

Respostas e comentários

9. Em setembro de 2020, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (í bê gê É) divulgou o resultado da última Pesquisa de Orçamento Familiar (pê ó éfe), realizada entre junho de 2017 e julho de 2018, que apontava a volta do Brasil ao Mapa da Fome. A insegurança alimentar grave, ou seja, a falta de alimentos em um domicílio, atingia 5% da população brasileira no período (mais de 10 milhões de pessoas). Esse percentual é comparado ao de 2013, em que 3,6% da população estava nessa situação. Oriente os alunos a analisar a pesquisa do í bê gê É (disponível em: https://oeds.link/maDZ3s; acesso em: 14 junho 2022). Espera-se que, com base nos dados levantados na pesquisa, os alunos selecionem argumentos para propor soluções para o problema da fome no Brasil. Desse modo, a atividade promove habilidades de argumentação com base em dados científicos e a construção de uma postura cidadã em relação aos direitos humanos.

Bê êne cê cê

A atividade se relaciona com o tema contemporâneo transversal Educação em direitos humanos e contribui para o desenvolvimento das Competências gerais da Educação Básica nº 1, nº 2, nº 5 e nº 7 e da Competência específica de Ciências Humanas nº 6.

10. a)

Gráfico de barras. No eixo horizontal, os anos. No eixo vertical, a quantidade de greves. As barras são azuis e trazem as seguintes informações: 1904: 68; 1905: 13.995; 1906: 6.114; 1914: 3.534; 1915: 928; 1916: 1.161; 1917: 4.307; 1922: 538; 1923: 434; 1925: 434; 1926: 843; 1927: 905; 1928: 842; 1929: 735.
  1. Em 1905, ocorreu a primeira revolução na Rússia, na qual operários e camponeses reivindicaram melhores condições de trabalho e de vida. Já em 1914 teve início a Primeira Guerra Mundial e, em 1917, ocorreram as revoluções de fevereiro e de outubro. Nesse período, diversas greves e protestos eclodiram por causa dos efeitos negativos da guerra sobre a população russa.
  2. O período do quadro que revela a insatisfação da população com o govêrno de Istálin é principalmente o de 1926 a 1929. Como é possível observar no quadro, quando Stálin se tornou secretário-geral do Partido Comunista, em 1922, o número de greves era 538 (o segundo menor desde 1904), caindo em 1923 e 1925 para 434. Já em 1926, subiu para 843, oscilando pouco até 1929.

Interdisciplinaridade

A atividade desenvolve a habilidade ê éfe zero nove ême ah dois dois do componente curricular matemática.

11. Alternativa d.

Fazendo e aprendendo

Reportagem

Você costuma ler reportagens? Sabe reconhecer esse gênero jornalístico? As reportagens geralmente são textos em que se discute um tema de fórma aprofundada. Leia o trecho de uma reportagem publicada em 28 de junho de 2014 para lembrar os cem anos do início da Primeira Guerra Mundial.


Ilustração. Reprodução de reportagem.
Título: ‘A confusão que iniciou a Primeira Guerra Mundial.’
Subtítulo: ‘Um insólito acúmulo de casualidades permitiu a Gavrilo Princip assassinar o arquiduque em Sarajevo 100 anos atrás’. Autoria: ‘GUILLERMO ALTARES’. Data: ‘Madri, 28 jun. 2014’. Texto: ‘Nunca um acúmulo de casualidades tão insólito teve consequências tão pavorosas. As possibilidades de que Gavrilo Princip desatasse com dois tiros em Sarajevo uma guerra mundial, em um atentado que neste sábado completa 100 anos, eram mínimas, mas aconteceu. “Era um ‘zé-ninguém’, mas, entretanto, mudou tudo”, explica Tim Butcher, um escritor de viagens britânico que acaba de publicar um ensaio sobre Princip, The trigger. Hunting the assassin who brought the world to war (“O gatilho. Caçando o assassino que levou o mundo para a guerra”, em inglês). [...] Após a visita prevista à prefeitura, o governador da Bósnia, Oskar Potiorek, convenceu o arquiduque [Francisco Ferdinando] para encurtar e mudar o trajeto, evitando as estreitas ruas do centro de Sarajevo. [...] A parada aconteceu em frente à pastelaria Moritz Schiller, mas poderia ter acontecido em qualquer outro lugar. Mas, justamente ali, um jovem armado, que talvez estivesse lá para comer um sanduíche, se encontrou com a brecha perfeita [...]. A princesa Sofia morreu quase imediatamente, o arquiduque Francisco Ferdinando, meia hora depois. Eram 11 horas da manhã e o século XX acabava de começar. Trinta e sete dias depois, estourava a Primeira Guerra Mundial.
O historiador Christopher Clark , autor de Sonâmbulos, o mais influente ensaio de todos os publicados no ano do centenário, insiste no aspecto casual e coloca sobre a mesa uma ideia muito inquietante dada a dimensão do desastre que se aproximava (o desaparecimento de quatro impérios, a Revolução Russa, a mudança das fronteiras mundiais, o nascimento do fascismo e do nazismo, outra Guerra Mundial, o Holocausto...): se Gavrilo Princip falhasse, Francisco Ferdinando, que não era um belicista, poderia ter evitado a guerra. [...]’ Referência: ALTARES, Guillermo. A confusão que iniciou a Primeira Guerra Mundial. El País, São Paulo, 28 jun. 2014. Disponível em: https://oeds.link/D6xDDX. Acesso em: 11 mar. 2022.

https://oeds.link/D6xDDX


Para analisar uma reportagem, procure seguir estes procedimentos.

1. Identifique o veículo (site, jornal ou revista) e a data da publicação, pois uma reportagem trata sempre de um assunto que se relaciona com o presente – o tema da reportagem reproduzida foi o centenário da Primeira Guerra Mundial, momento em que foram publicados livros e estudos a respeito desse fato histórico.


Respostas e comentários

Bê êne cê cê

A seção proporciona aos alunos a oportunidade de utilizar um gênero jornalístico para divulgar informações, experiências e ideias, contribuindo, dessa fórma, para o desenvolvimento da Competência específica de Ciências Humanas nº 2 e da Competência específica de História nº 1.

Fazendo e aprendendo

A seção tem o objetivo de salientar a importância da leitura de reportagens, pois se trata de um gênero que oferece muita informação e oportunidade de reflexão. Se possível, pesquise previamente uma reportagem recente sobre um tema histórico que venha passando por revisões.

Espera-se que os alunos apontem como diferenças entre notícia e reportagem a extensão do texto e a relação dos temas abordados com o presente: geralmente, a reportagem é mais longa e analítica, com mais dados, podendo apresentar gráficos e várias fotos; a notícia, por sua vez, é sucinta, direta e menos opinativa; além disso, a notícia aborda fatos recentes e a reportagem pode tratar de assuntos relacionados a variadas temporalidades, porém vinculados ao presente de alguma maneira. Outro elemento que pode ser apontado diz respeito à linguagem: a reportagem admite vários recursos narrativos e estratégias para contar um fato, diferente da notícia, que geralmente tem formato padronizado.

  1. Observe o título e a linha fina (a frase que aparece abaixo do título): eles contêm pistas sobre as ideias apresentadas ou defendidas no texto. Na reportagem reproduzida, a linha fina apresenta detalhes do assunto (a morte do arquiduque), além de localizá-lo no tempo (há cem anos).
  2. Leia com atenção o primeiro parágrafo dela. Nas reportagens, ele concentra as informações básicas do assunto tratado, além de instigar o leitor a continuar a leitura.
  3. Observe o modo como as informações são encadeadas e como são citados os depoimentos de entrevistados: “‘Era um ‘zé-ninguém’, mas, entretanto, mudou tudo’, explica Tim Bútier reticências”.

Considerando esses procedimentos, responda: Qual é a diferença entre reportagem e notícia? Que importância têm as reportagens sobre assuntos históricos?


Responda em seu caderno.

Aprendendo na prática

Agora, é a sua vez de escrever uma reportagem de jornal ou revista sobre um dos assuntos estudados na unidade ou outro de seu interesse. Reúna-se com alguns colegas e sigam estes procedimentos.

  1. Definam o tema da reportagem. Lembrem-se de que, por circular em veículos jornalísticos (jornais, revistas e sites), uma reportagem trata de algum assunto vinculado ao presente. Por isso, caso escolham tratar de um dos assuntos estudados na unidade, reflitam sobre as consequências do evento histórico abordado na sociedade atual.
  2. Pesquisem informações diversificadas sobre o tema, considerando a confiabilidade das fontes de informação. Para isso, é importante verificar o autor das informações e compará-las com as disponíveis em outras fontes de informação, confirmando-as. O assunto da reportagem deve ser abordado de maneira aprofundada, fazendo referência a mais de uma fonte de informação e expondo opiniões diversas. Considerem a possibilidade de entrevistar especialistas no tema ou pessoas que tiveram experiência (direta ou indireta) com o fato ou evento abordado. Também é recomendável apresentar dados estatísticos sobre o assunto para corroborar os argumentos.
  3. Após a seleção, reúnam as informações coletadas e definam o modo como serão apresentadas na reportagem. Lembrem-se de que é preciso haver uma introdução, a exposição de argumentos com dados que os confirmem e uma conclusão. Vocês podem pensar em etapas: Quais informações foram levantadas? O que elas revelam? De que modo o assunto histórico, se for o caso, reverbera no presente? Espera-se que uma boa reportagem leve o leitor a refletir sobre o tema abordado.
  4. Redijam o texto. Atentem à fórma de encadear as informações. O parágrafo de abertura pode conter, por exemplo, a citação de um trecho de narrativa ou a descrição de um lugar. Usem a criatividade!
  5. Definam o título e a linha fina da reportagem (aquela que fica abaixo do título e sintetiza o tema principal da reportagem).
  6. Acrescentem elementos visuais, como fotos, gráficos, tabelas ou organogramas. É importante que os elementos visuais confirmem ou acrescentem dados sobre as informações do texto. Não se esqueçam de compor legendas para esses elementos, que devem ser curtas e objetivas, e acrescentar a fonte dos dados ou das imagens apresentadas.
  7. Revisem o texto criado para verificar erros gramaticais e ortográficos.
  8. Entreguem a reportagem criada para o professor ou a professora e, após fazer as correções apontadas, caso sejam necessárias, definam em qual formato a reportagem será publicada: em uma página de internet escolhida pela turma ou impressa em papel.

Respostas e comentários

Aprendendo na prática

A produção de uma reportagem possibilita aos alunos o contato com variadas estratégias de pesquisa e a compilação de discursos e opiniões a respeito de um assunto. Oriente-os a pesquisar variadas fontes de informação e a compará-las atentando para a confiabilidade dos autores e selecionando apenas dados ou informações consolidados (confirmados por mais de uma fonte de pesquisa) para compor a reportagem. Esse processo favorece a prática de pesquisa com base no método científico.

Glossário

Petrogrado
: nome dado à cidade de São Petersburgo em 1914. Dez anos depois, o nome da cidade foi novamente alterado para Leningrado, em homenagem a Lênin. Em 1991, a cidade voltou a se chamar São Petersburgo.
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Expressionismo
: vanguarda artística europeia, formada no comêço do século vinte. Os expressionistas empregavam em suas obras fórmas distorcidas, cores fortes e contrastantes, a subjetividade e a arte gráfica.
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Construtivismo
: vanguarda artística russa, formada no início do século vinte. Os construtivistas consideravam a pintura e a escultura construções que deviam ser informativas e funcionais, e não meras representações.
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Expropriar
: retirar de alguém aquilo que pertence a ele.
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Deepfake
: tecnologia de inteligência artificial capaz de criar registros visuais e sonoros falsos que parecem reais.
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