UNIDADE 2  Totalitarismo, autoritarismo e guerra

O que estudaremos na unidade

Você sabe qual foi o contexto do surgimento da Segunda Guerra Mundial? O que levou o mundo a um novo conflito, mesmo depois de tantas perdas humanas e materiais na Primeira Guerra? Ao final desta unidade, você saberá que foi em um período de crise econômica mundial e de ascensão de movimentos autoritários e totalitários na Europa que se armaram as condições para a ocorrência da Segunda Guerra. Além disso, estudará como se desenrolou esse conflito e qual foi a participação brasileira nele. Também saberá como Getúlio Vargas chegou ao poder no Brasil e qual foi o desempenho de seu govêrno.

Fotografia. Monumento de bronze em um campo gramado, composto por diversas estátuas de crianças, de idades variadas. À frente do monumento, flores, pelúcias e velas.
Monumento em homenagem às crianças vítimas da Segunda Guerra Mundial, em Lídice, República Tchéca. Foto de 2017. A escultura criada pela artista Maríe Urritilová homenageia um grupo de oitenta e duas crianças que foram executadas pelos nazistas em junho de 1942.

Respostas e comentários

Abertura da unidade

A abertura desta unidade tem o objetivo de promover um diálogo sobre a importância do estudo, atualmente, da crise econômica, social e política que devastou a Europa no período entreguerras, conectando os alunos com os reflexos das ideologias daquele período no tempo presente. Nesse sentido, analise com os alunos as fotografias apresentadas e solicite que expressem as impressões que eles tiveram ao observá-las e que compartilhem o que é possível inferir sobre o passado e o presente por meio delas.

Peça a eles que observem o monumento em homenagem às crianças vítimas da Segunda Guerra Mundial e pergunte qual é a importância da existência de monumentos como esse para a memória coletiva. Depois, pergunte se eles já tiveram contato com ideias políticas extremistas como as apresentadas nos cartazes da segunda fotografia e como se sentem em relação a elas. Então, questione se eles conhecem alguns reflexos das Primeira e Segunda guerras no Brasil.

O estudo da crise do capitalismo e sua relação com a ascensão do nazifascismo, o desenrolar da Segunda Guerra Mundial e seus reflexos no Brasil, especialmente durante o primeiro govêrno Vargas, permite aos alunos conhecer o funcionamento e ideologia que sustentaram os regimes totalitários e autoritários no passado. Esse estudo é fundamental para a compreensão das ameaças à sociedade democrática ainda presentes no Brasil e no mundo, como é possível verificar no protesto contra o fascismo mostrado na terceira fotografia desta abertura.

Fotografia. Cartazes colados em um muro. Um deles é azul e tem os seguintes dizeres em dourado: EN AVANT LA REVOLUTION NATIONALE. AVEC LE PEUPLE, POUR LA NATION! PARTI NATIONLISTE FRANÇAIS. No centro uma flor de lis entre dois ramos. Ao lado, outro cartaz com os dizeres: FRANCE D’ABORD. BLANCHE TOUJOURS! No centro a ilustração de uma cruz celta, cruz sobreposta a um círculo, sobre uma bandeira da França.
Cartazes de propaganda política durante a campanha eleitoral presidencial na França. Foto de 2022. Nos cartazes leem-se frases que expressam ideias racistas e supremacistas, como: “França em primeiro lugar!”, “Sempre branca!” e “Com o povo, pela nação!”. Essas ideias são comuns em regimes políticos totalitários.
Fotografia. Pessoas na rua em um protesto. Carregam cartazes e faixas escritos à mão. À frente um rapaz carrega um cartaz com os dizeres: ROMA É ANTIFASCISTA.
Marcha antifascista em Roma, na Itália. Foto de 2018. Nos cartazes dos manifestantes, lê-se: “Roma é antifascista”, “Contra o fascismo” e “Alerta antifascista”.

Sumário da unidade

Capítulo 5

A crise do capitalismo e a ascensão do nazifascismo, 80

Capítulo 6

A Segunda Guerra Mundial, 97

Capítulo 7

O primeiro govêrno Vargas e o Estado Novo (1930-1945), 115


Respostas e comentários

Unidade 2: justificativas

Na primeira página de cada capítulo desta unidade, estão listados os objetivos previstos para serem trabalhados com os alunos.

Os objetivos do capítulo 5 se justificam por estimularem a associação entre as circunstâncias sociais, econômicas e políticas que fomentaram a construção de Estados totalitários e autoritários em países da Europa e a ascensão de ideologias como o nazismo e o fascismo.

No capítulo 6, a pertinência dos objetivos se deve à compreensão do contexto de eclosão da Segunda Guerra Mundial, à caracterização das fases do conflito e à avaliação das consequências desse evento para os países direta e indiretamente envolvidos. Além disso, os objetivos se justificam por motivarem o entendimento do cenário mundial no pós-guerra, considerando a formação de blocos de influência capitalista e socialista, a criação da ônu e a instituição da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Os objetivos do capítulo 7 se justificam por motivarem a compreensão dos efeitos da crise de 1929 no Brasil e dos fatores relacionados à ascensão de Getúlio Vargas ao poder. A pertinência dos objetivos também se deve à caracterização e à identificação das fases dos governos de Vargas e às análises relacionadas às suas posições ambíguas e contraditórias, que envolvem, entre outros aspectos, a criação da legislação trabalhista brasileira, incentivos à industrialização nacional e períodos ditatoriais e autoritários.

CAPÍTULO 5  A crise do capitalismo e a ascensão do nazifascismo

Fotografia. Pessoas aglomeradas em uma manifestação. Estão agasalhadas com casacos e gorros de frio. Algumas usam máscara de proteção facial. Um dos cartazes é rosa, tem o desenho de um arame farpado cortado e os dizeres: DE CALAIS À VINTIMILLE: OUVREZ LES FRONTIERES!
Manifestação em favor da regularização de migrantes sem documentos no Dia Internacional dos Migrantes, em Paris, França. Foto de 2021. No cartaz do manifestante, lê-se: “De Calais a Ventimiglia: abram as fronteiras!”.

A tolerância é uma ideia por vezes ameaçada. reticências [Eu] noto o surgimento de doutrinas baseadas na lógica do isolamento e da rejeição. Noto a instrumentalização das crises migratórias, da situação trágica dos refugiados ou dos conflitos armados para fomentar o ódio ao outro, estigmatizar as minorias e legitimar a discriminação. Ouço cada vez mais discursos racistas e estereótipos sobre as religiões e as culturas, nos quais se diz que povos diferentes não podem viver juntos e que o mundo seria um lugar melhor se voltássemos aos tempos antigos em que as ‘culturas puras’ viviam sozinhas, protegidas de influências externas, a um passado mitificado que nunca existiu.

MENSAGEM de Irina Bocufa, diretora-geral da unêsco, por ocasião do Dia Internacional da Tolerância. Comissão Nacional da unêsco, Lisboa, 16 novembro 2016. Disponível em: https://oeds.link/JuKgor. Acesso em: 12 março 2022.

Em meados do século vinte, teorias racistas pseudocientíficas foram usadas para justificar a perseguição a certos grupos de pessoas. O nazismo difundido por ádolf rítler na Alemanha, por exemplo, defendia uma suposta superioridade dos alemães e foi a base da perseguição a grupos como judeus, ciganos, homossexuais, negros, pessoas com deficiência etcétera

Atualmente, o mundo vive uma crise migratória, em que muitas pessoas deixam o local onde vivem para se refugiar em outros locais em razão de guerras, desastres ambientais ou perseguições por vários motivos. Porém, determinados movimentos, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, são contrários à entrada de imigrantes em seus países. Eles se baseiam em ideias racistas, supremacistas e nacionalistas como as difundidas pelos regimes totalitários do século vinte. A permanência dessas ideias reforça a necessidade de promoção dos direitos humanos e a cultura de paz no mundo.

  • Você já soube de uma notícia sobre pessoas perseguidas em razão de características físicas, opção religiosa, orientação sexual ou origem? Se sim, que notícia era essa?
  • O que cada um de nós pode fazer para disseminar a tolerância e promover a cultura de paz? Converse sobre isso com os colegas.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Este capítulo contempla a habilidade ê éfe zero nove agá ih um dois (ao tratar da crise de 1929 e de seus impactos na economia global e, parcialmente, as habilidades ê éfe zero nove agá ih um zero (ao retomar os conflitos da Primeira Guerra Mundial) e ê éfe zero nove agá ih um três (ao contextualizar a emergência do fascismo e do nazismo e a consolidação dos estados totalitários). O trabalho para o desenvolvimento dessas habilidades se completa ao longo de outros capítulos, conforme indicações no quadro de habilidades do ano.

Objetivos do capítulo

  • Caracterizar o cenário europeu entreguerras, marcado por uma intensa polarização política e ideológica e por uma grave crise social.
  • Identificar e caracterizar os mecanismos que geraram a crise do capitalismo liberal nos anos 1920 e 1930 e explicar como a crise afetou a economia dos países do Ocidente.
  • Analisar as medidas de recuperação econômica adotadas pelo govêrno dos Estados Unidos nos anos 1930, conhecidas como New Deal, diferenciando-as do modêlo econômico liberal vigente no país até então.
  • Explicar a crise do modelo liberal democrático, bem como a ascensão do fascismo e do nazismo e a construção de Estados totalitários na Itália e na Alemanha.

Abertura do capítulo

A abertura pretende promover o contato dos alunos com uma manifestação política com objetivo de combater preconceitos etnoculturais, xenofobia e intolerâncias, para que se possa estabelecer relações entre ela e eventos históricos, do presente e do passado, relativos a ideologias discriminatórias e intolerantes. O período entreguerras foi palco do ápice da expressão dessas ideologias, que sustentaram a ascensão de governos autoritários e totalitários na Europa, como o nazista, o fascista, o salazarista e o franquista, que serão estudados neste capítulo.

Comente com os alunos que teorias pseudocientíficas são aquelas criadas sem seguir o método científico, que consiste basicamente em levantar uma hipótese, testá-la para verificar sua validade e expô-la à comunidade científica para ser comprovada. Muitas delas são criadas para justificar interesses pessoais, como foi o caso do nazismo, e não para beneficiar a sociedade, que é o objetivo fundamental dos estudos científicos. Espera-se que os alunos mencionem notícias relacionadas à perseguição religiosa, como casos de ataques a espaços onde se realizam cultos de religiões de origem afro, ou a casos de preconceito contras pessoas negras, indígenas, deficientes físicos, imigrantes e homoafetivas, por exemplo. Como ações para disseminar a tolerância e promover a cultura de paz, os alunos podem mencionar a importância de assumir uma postura de respeito e acolhimento à diversidade humana e à liberdade de escolha das pessoas viverem de acôrdo com o que acreditem ser melhor para elas sem precisar seguir os padrões estabelecidos socialmente pelos grupos dominantes. As questões propostas na abertura pretendem incentivar reflexões sobre a necessidade de promoção da tolerância à diversidade e dos direitos humanos, estabelecendo-se a cultura da paz.

Bê êne cê cê

A abertura contribui para o desenvolvimento das Competências gerais da Educação Básica nº 6 e nº 9 e das Competências específicas de Ciências Humanas nº 1, nº 4 e nº 6. Além disso, envolve os temas contemporâneos transversais Diversidade cultural e Educação em direitos humanos.

Dinâmica e crise do capitalismo

Como você estudou, a Primeira Guerra Mundial gerou um alto custo humano e econômico à Europa: milhões de vidas foram perdidas e significativas dificuldades econômicas foram desencadeadas, como o aumento do custo de vida, a redução da produção econômica e o desemprego.

A crise econômica se transformou em crise política por meio de movimentos revolucionários na Alemanha, na Hungria e na Bulgária, além de ocupações de fábricas no norte da Itália. Esse cenário de crise parecia anunciar que a revolução socialista chegava ao Ocidente. Contudo, a partir de 1924, as revoltas foram controladas e a economia capitalista europeia começou a se recuperar.

No mesmo período, na região da atual Rússia, foi implantada a União Soviética, um modêlo de Estado que se caracterizava pela centralização e pelo autoritarismo do govêrno e pela economia planificadaglossário . O sucesso do modêlo econômico planificado produziu um rápido crescimento econômico na União Soviética e gerou o sentimento de que o socialismo era uma alternativa viável ao capitalismo em crise.

Por outro lado, os primeiros anos da década de 1920 marcaram a ascensão dos Estados Unidos como centro do capitalismo mundial e principal credor dos países europeus arrasados pela Primeira Guerra Mundial. A destruição causada pela guerra reduziu a capacidade de produção industrial e agrícola dos países europeus e favoreceu o poder econômico dos Estados Unidos, que se tornaram líder mundial de exportação de bens.

Assim, impulsionado pela expansão do mercado externo com as exportações e pelo aumento do consumo interno, os Estados Unidos experimentaram um crescimento industrial acelerado. Como consequência, desenvolveu-se no país o chamado American way of life (“modo de vida americano”), caracterizado pela produção em larga escala e pelo consumo em massa, estimulados por uma política de crédito bancário livre do contrôle estatal.

Ilustração. Avenida larga com muitos automóveis e pessoas. As construções são altas, coloridas e têm formatos variados. Ao fundo, um grande prédio com uma bandeira no topo.
The great white way (traduzido do inglês para o português como “O grande caminho branco”), ilustração da avenida Broadway, em Nova iórque, 1921. Os automóveis e os anúncios publicitários revelam a prosperidade econômica dos Estados Unidos no comêço dos anos 1920.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Qual era a situação da Europa após a Primeira Guerra Mundial?
  2. O que caracterizava o American way of life?

Respostas e comentários

Recapitulando

  1. A Europa vivia significativas dificuldades econômicas, como o aumento do custo de vida, a redução da produção econômica e o desemprego. A crise econômica se transformou em crise política com a presença de movimentos revolucionários na Alemanha, na Hungria e na Bulgária, além de ocupações de fábricas no norte da Itália.
  2. O American way of life era caracterizado pela produção em larga escala e pelo consumo em massa, estimulados por uma política de crédito bancário livre do contrôle estatal.

Ampliando: antecedentes da crise de 1929

reticências A globalização da economia dava sinais de que parara de avançar nos anos entreguerras. Por qualquer critério de medição, a integração da economia mundial estagnou ou regrediu. reticências

Por que essa estagnação? Sugeriram-se vários motivos, como, por exemplo, que a maior das economias do mundo, a dos Estados Unidos, passara a ser praticamente autossuficiente, exceto pelo suprimento de umas poucas matérias-primas; jamais dependera particularmente do comércio externo. Contudo, mesmo países que tinham sido comerciantes de peso, como a Grã-Bretanha e os Estados escandinavos, mostravam a mesma tendência. reticências Cada Estado agora fazia o mais possível para proteger suas economias de ameaças externas, ou seja, de uma economia mundial que estava visivelmente em apuros.”

róbisbáum, Eric J. Era dos extremos: o breve século vinte (1914-1991). segunda edição São Paulo: Companhia das Letras, 1995. página 92-93.

A quebra da bolsa de valores de Nova iórque

A prosperidade econômica dos Estados Unidos impulsionou a especulação financeiraglossário nas bolsas de valores. Milhares de investidores aplicaram no mercado de ações, que não tinha nenhuma regulamentação governamental. Muitos chegaram a hipotecar a própria casa para comprar ações de empresas, apostando na sua crescente valorização.

No entanto, o crescimento econômico não beneficiava a todos. Os salários não cresciam no mesmo ritmo da produção industrial, e os pequenos proprietários rurais sofriam com os baixos preços dos seus produtos. Além disso, com a crescente mecanização da produção agrícola e industrial, muitos trabalhadores rurais e urbanos perderam o emprego.

No final da década de 1920, os produtos industrializados estadunidenses já não eram absorvidos pelo mercado interno nem pelo externo, pois os países europeus começavam a retomar a produção industrial, reduzindo as importações. Contudo, as ações das empresas, mesmo daquelas que estavam à beira da falência, continuavam sendo artificialmente valorizadas na bolsa de valores.

Em outubro de 1929, com base nos sinais da depressão que se aproximava, os investidores colocaram grande volume de ações à venda, que, com isso, foram desvalorizadas. Como consequência, no dia 24 daquele mês, a bolsa de valores de Nova iórque entrou em colapso, paralisando suas atividades. As ações perderam praticamente todo o valor, e milhões de investidores perderam tudo. Sem dinheiro, fábricas e bancos faliram rapidamente.

A quebra da bolsa de Nova iórque causou impactos desastrosos na economia dos Estados Unidos. Entre 1929 e 1932, a produção industrial estadunidense caiu 54% e o número de desempregados passou de 400 mil para 12 milhões. Os efeitos que ela produziu em todo o mundo capitalista interromperam o breve período de melhora da economia europeia e o grande crescimento econômico estadunidense, com consequências sociais e políticas que duraram vários anos.

Fotografia em preto e branco. Pessoas na chuva, vestindo longos casacos e boinas. Um grupo está em frente a um pequeno caminhão. Outro grupo está dentro e sobre o pequeno caminhão. Colado na caçamba, um cartaz com os dizeres: WE WANT WORK.
Pessoas desempregadas reivindicando ajuda do govêrno em frente ao Congresso dos Estados Unidos, em Washington. Foto de 1932. No cartaz, lê-se: “Queremos trabalho”.

Saiba mais

A crise econômica de 2008

Em 2008, a falência de um importante banco de investimentos dos Estados Unidos causada pela especulação imobiliáriaglossário espalhou pânico pelo sistema financeiro e teve efeitos econômicos e sociais catastróficos no mundo todo: centenas de empresas faliram e milhões de trabalhadores perderam o emprego. As principais ações dos governos para combater a crise incluíram a redução de salários, o congelamento das aposentadorias e a demissão de funcionários públicos, causando uma onda de protestos populares.


Respostas e comentários

Mercado de ações

Na página 14 do capítulo 1 (A Primeira República no Brasil), ao abordar a chamada crise do Encilhamento, foi proposta uma atividade complementar para a compreensão dos alunos sobre o funcionamento das bolsas de valores. Caso tenha realizado a atividade, relembre o que aprenderam sobre o mercado de ações, estabelecendo nexos entre os conhecimentos adquiridos e os novos. Caso não tenha desenvolvido a proposta, este capítulo oferece uma nova oportunidade de fazê-lo.

Comente com os alunos que as ações são documentos ou títulos que representam parte do patrimônio de uma empresa. Elas são emitidas por empresas a fim de atrair sócios-investidores. Normalmente, o preço dessas ações varia de acordo com o sucesso econômico das empresas: quando a rentabilidade de uma empresa cresce, aumenta a procura por suas ações, fazendo subir o preço desses títulos. Por isso, ao enfrentar dificuldades, há empresas que omitem informações sobre a sua situação financeira e mantêm elevado o preço de suas ações, gerando uma valorização ilusória sobre o seu real valor.

Sinais da crise

Alguns sinais da depressão econômica já podiam ser notados antes de 1929; por exemplo, a desaceleração da demanda de imóveis e de automóveis a partir de 1927, as notícias de falência de empresas e o aumento do desemprego em cidades pequenas e médias dos Estados Unidos e de fazendeiros impossibilitados de saldar suas dívidas com os bancos em razão do baixo preço dos produtos agrícolas.

Os efeitos mundiais da crise econômica

A profunda recessão nos Estados Unidos afetou as exportações e a concessão de crédito para outros países. Com isso, praticamente toda a Europa Ocidental e a América Latina foram impactadas pela quebra da bolsa de Nova iórque.

Nos anos 1930, com o objetivo de combater a crise econômica, tanto o govêrno dos Estados Unidos como os governos de vários países precisaram adotar medidas de intervenção e regulamentação da economia. Desse modo, a crise econômica revelou a fragilidade do liberalismo econômico e mostrou a necessidade da intervenção estatal para regular a economia.

O programa de Roosevelt: o New Deal

Em 1933, o democrata Frânclin Rúsvelt tomou posse da presidência dos Estados Unidos com o compromisso de tirar o país da crise. Assim que assumiu o govêrno, Roosevelt colocou em ação o New Deal (“Novo acôrdo”), um plano para reorganizar a produção industrial e agrícola estadunidense com o objetivo de alavancar a economia.

O programa estabelecia medidas para limitar a produção e reduzir os estoques agrícolas, visando conter a queda de preços. Também incluía concessão de financiamentos a juros baixos para a indústria, incentivo às exportações, redução da jornada de trabalho (com o objetivo de criar empregos), fixação de um salário mínimo e grande investimento em obras públicas para gerar empregos.

Os recursos públicos utilizados para a realização desses programas foram garantidos por meio da cobrança de impostos mais altos dos ricos e da emissão de dinheiro, mesmo que essa medida provocasse inflaçãoglossário .

Fotografia em preto e branco. Pessoas negras alinhadas em uma fila. Vestem longos casacos e acessórios para cobrir a cabeça, como chapéus, lenços e gorros. Atrás deles, um grande cartaz em um muro mostra uma família branca, composta por um homem, uma mulher, uma menina e um menino, sorridentes dentro de um carro. Ao redor os dizeres: WORLD’S HIGHEST STANDARD OF LIVING. THERE’S NO WAY LIKE THE AMERICAN WAY.
Vítimas de uma grande enchente em fila para receber comida, em Louisville, Estados Unidos. Foto de 1937. No cartaz ao fundo lê-se: “O mais alto padrão de vida do mundo. Não existe um modo (de vida) como o americano”.

Responda em seu caderno.

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Observe a fotografia e leia a legenda. Qual é a contradição evidenciada por ela?


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Por que o breve período de retomada do crescimento econômico na Europa foi interrompido em 1929?
  2. Como o govêrno dos Estados Unidos e o de outros países combateram a crise de 1929? O que isso revelou sobre o liberalismo econômico?

Respostas e comentários

Liberalismo econômico

No liberalismo econômico, as empresas têm liberdade para operar transações econômicas, como a expansão do crédito bancário e a especulação financeira, sem a intervenção do Estado. Segundo essa teoria, a economia se regula autonomamente, sem a necessidade de intervenção estatal.

Bê êne cê cê

Ao tratar da crise de 1929 e de seus efeitos na economia estadunidense e global, o conteúdo contempla a habilidade ê éfe zero nove agá ih um dois e, parcialmente, a habilidade ê éfe zero nove agá ih um zero.

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A imagem do outdoor que mostra uma família sorrindo, dentro de um carro, com a frase “O mais alto padrão de vida do mundo” contrasta com a realidade expressa pela fila de pessoas que aguardam pela doação de comida, o que revela a fragilidade do discurso do govêrno estadunidense que afirma garantir um alto padrão de vida para a população. A fotografia também revela o contraste socioeconômico entre pessoas negras (na fila) e brancas (no outdoor). A atividade permite desenvolver o raciocínio inferencial e o pensamento crítico por meio da análise do discurso presente em uma propaganda política.

Recapitulando

  1. Com a quebra da bolsa de valores de Nova iórque em 1929, instaurou-se uma profunda recessão econômica nos Estados Unidos, afetando as exportações e a concessão de crédito para outros países. Isso aprofundou a crise econômica na Europa que dependia das importações de produtos e dos créditos estadunidenses, interrompendo a retomada do crescimento econômico.
  2. Para combater os efeitos da crise iniciada de 1929, os governos dos Estados Unidos e de outros países precisaram adotar medidas de intervenção e regulamentação da economia. Isso revelou a fragilidade do liberalismo econômico e mostrou a necessidade da intervenção estatal para regular a economia – a política do New Deal é um exemplo disso.

A crise da democracia na Europa

Na Europa, a pobreza gerada pela crise econômica do pós-guerra e o enfraquecimento do liberalismo despertaram na burguesia o temor de novas revoluções proletárias, tal como aconteceu no mundo soviético. Procurando contê-las, setores das classes dominantes deram apôio a movimentos políticos antidemocráticos que, em meio ao clima de inquietação social das décadas de 1920 e 1930, cresceram e conseguiram instaurar governos autoritários e totalitários em vários países europeus.

A onda de regimes ditatoriais teve início em 1922, quando os fascistas chegaram ao poder na Itália. Na Alemanha, Rítler assumiu o poder em 1933. No mesmo ano, António de Oliveira Salazar iniciou em Portugal uma das mais longas ditaduras da história recente na Europa. Na Espanha, após uma guerra civil, instaurou-se uma ditadura sob a liderança de Francisco Franco.

Os regimes ditatoriais e totalitários

Os regimes ditatoriais e os totalitários são caracterizados pelo abuso do poder por parte do Estado e pela supressão da liberdade individual. Contudo, de acôrdo com a filósofa alemã Hannah Arendt, existem diferenças importantes entre eles.

Nos regimes ditatoriais ou autoritários, o projeto do govêrno está acima da vontade da nação. Isso significa que a soberania do povo é substituída pela soberania do ditador.

Já nos regimes totalitários, além da liberdade, a identidade das pessoas é suprimida por meio de um processo de condicionamento e do uso sistemático de instrumentos de terror. Nesses regimes, o govêrno exerce o contrôle total sobre a sociedade, impondo determinada ideologia pelo uso da fôrça e pela severa vigilância dos meios de comunicação, da educação e da vida privada. A eliminação da liberdade, além de ser promovida por métodos de terror, atinge a consciência das pessoas: por meio da repressão do pensamento autônomo, objetiva-se formar mentes moldadas à ideologia do Estado.

O termo totalitarismo é utilizado para designar os governos do século vinte caracterizados pelo antiliberalismo e pela concentração do poder do Estado na figura de um líder, que é exaltado como a personificação da pátria. O fascismo, na Itália, o nazismo, na Alemanha, e o stalinismo, na União Soviética, são os principais exemplos de regimes totalitários nesse período.

Fotografia. Representação de duas páginas de um livro escolar. Na página à esquerda, a imagem de Benito Mussolini, com vestes militares, está sorridente abraçando um jovem que carrega um buquê de flores. Ao lado e abaixo, escritos em italiano. Na página à direita, estudantes estão com vestes e postura militares. Estão padronizados. Entre as ilustrações, escritos em italiano.
Reprodução de um livro escolar italiano que exalta Mussolini e a pátria italiana, 1941. Museu do Brinquedo e das Crianças, Milão, Itália. Nos regimes totalitários, a educação é intensamente controlada com o objetivo de ensinar valores ultranacionalistas às crianças e aos adolescentes e enaltecer a imagem do líder do govêrno.

Responda em seu caderno.

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  1. Observe a imagem do livro escolar. Como o líder italiano Mussolini foi representado na página da esquerda?
  2. O que chama a atenção na fórma como os estudantes foram representados na página da direita?

Respostas e comentários

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  1. Na página da esquerda, Mussolini foi representado cumprimentando carinhosamente um jovem que carrega um buquê de flores. A cena sugere o afeto do líder pelas crianças e jovens e a admiração destes por ele. Nessa página se lê: “Esta é uma linda gravura colorida. O Duce abraça e beija um pequeno balilla [menino entre 8 e 14 anos que recebia educação fascista]. O menino oferece flores lindas ao Duce. Duce, Duce, você é muito bom para as crianças e elas o amam com todo o coração. Para elas você é como um pai, que as torna fortes e robustas e as faz muito felizes. Viva o Duce da Itália!”.
  2. Na página da direita, os jovens foram representados uniformizados em postura militar e de fórma padronizada, tornando impossível distinguir uns dos outros.

Ampliando: discurso de Mussolini contra os socialistas

“Querem, por toda a parte, expulsar os socialistas das autarquias locais que eles administram em certas localidadesreticências Como fazê-lo?reticências Tomam por alvo os presidentes e seus adjuntos, aos quais fazem saber que devem abandonar os seus cargos e, no seu interesse, decidir-se depressareticências (Se não obedecem) uma ‘esquadra’ dirige-se aos domicílios do presidente e dos seus assessores; ou os constrange a escrever imediatamente uma carta de demissãoreticências espontâneareticências; ou os aconselha a demitir-se no seu interesse e no de suas famílias, aterradasreticências Se existe o sentimento de que um elemento é teimoso, moemo-no com pancada, fazendo-o agredir de noitereticências

BENITO Mussolini [1921]. Primeiros elementos de um inquérito sobre a ação dos fascistas na Itália. In: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de história. segunda edição Lisboa: Plátano, 1977. volume 3, página 285.

O fascio littorio

No antigo Império Romano, o fascio littorio (feixe de lictor) era utilizado por funcionários (chamados lictores) a fim de abrir caminho para a passagem dos magistrados. Por isso, a imagem do fascio era associada ao poder e à autoridade. Ele era representado por um machado (símbolo do poder de decisão dos magistrados sobre a vida e a morte dos réus) amarrado a um feixe de varas (emblema da fôrça pela união). Adotado por Mussolini, passou a ser o símbolo do fascismo italiano.

A ascensão do fascismo na Itália

Ao final da Primeira Guerra Mundial, a Itália não recebeu a compensação territorial prometida em troca do apôio dado aos países da Tríplice Entente (Reino Unido, Rússia e França). Além disso, os italianos enfrentavam escassez de mão de obra, causada pela perda de cêrca de 2 milhões de combatentes, entre mortos e mutilados. A situação econômica também era grave, marcada pelo aumento da dívida pública, da inflação, da falência de várias empresas e do desemprego.

No início da década de 1920, a Itália passava por uma significativa crise social. Camponeses em situação de fome ocupavam terras improdutivas e operários paralisavam as cidades com greves. Com o objetivo de superar a crise, trabalhadores desempregados tomaram fábricas falidas e tentaram dirigi-las. O sucesso econômico do comunismo soviético inspirava esses movimentos operários e os políticos progressistas, representando uma ameaçava à elite econômica.

Contudo, nesse contexto, uma parte da população desempregada se aliou à elite econômica e construiu um movimento político conservador ultranacionalista chamado Fasci Italiani di Combattimento. O movimento, que deu origem ao Partido Nacional Fascista, era liderado por Benito Mussolini e seus membros e simpatizantes, chamados fascistas, difundiam o ódio ao comunismo e o desprezo pela democracia liberal.

Em 1919, os fascistas participaram pela primeira vez de uma eleição parlamentar, mas não elegeram nenhum deputado. Após esse fracasso eleitoral, Mussolini decidiu reorganizar o movimento em moldes militares e começou a planejar um golpe de Estado. Os grupos paramilitares fascistas atacaram violentamente organizações partidárias e sindicais em vários pontos do país. Esses grupos tiveram apôio financeiro da elite econômica urbana e rural, o que contribuiu para promover o anticomunismo e o ultranacionalismo.

Fotografia em preto e branco. Homens dentro de um bonde. Alguns estão pendurados do lado de fora.
Fascistas dirigindo bondes para boicotar greve do setor de transportes em Milão, na Itália. Foto de cêrca de 1920.
Cartaz. Ilustração de estátua de uma mulher com uma auréola floral sobre a cabeça. Está com os braços abertos lateralmente para baixo. A parte de baixo de seu vestido está vermelha. Atrás dela, uma grande bandeira verde, branca e vermelha. Ao lado da estátua, dois homens, cada um em uma escada, carregando baldes, como se estivessem lavando a estátua.
Cartaz de propaganda do Partido Nacional Fascista para as eleições administrativas de 1922. Note que no cartaz a Itália foi representada como uma mulher com aparência divina.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Qual era a situação social e política da Itália no início da década de 1920?
  2. Explique a criação e a atuação do Partido Nacional Fascista na Itália.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar da ascensão dos regimes autoritários e totalitários na Europa no século vinte, o conteúdo contempla parcialmente a habilidade ê éfe zero nove agá ih um três.

Recapitulando

  1. No início da década de 1920, a Itália passava por uma significativa crise econômica e social. A situação econômica era marcada pelo aumento da dívida pública, da inflação, da falência de várias empresas e do desemprego. Camponeses ocupavam terras improdutivas e operários realizavam greves que paralisavam as cidades.
  2. Diante do cenário da crise italiana, parte da população desempregada se aliou à elite econômica e construiu o Partido Nacional Fascista; liderado por Benito Mussollinni, se caracterizava pelo ódio ao comunismo e pelo desprezo pela democracia liberal. Após a derrota do partido nas eleições de 1919, Mussolini reorganizou o movimento em grupos paramilitares e começou a planejar um golpe de Estado, perseguindo organizações partidárias e sindicais. Com o apôio financeiro da elite econômica urbana e rural, o movimento promovia o anticomunismo e o ultranacionalismo.

Ampliando: o apôio ao fascismo

“Também o fascismo não pode ser identificado como uma determinada fórma de organização do Estado, como o Estado corporativista reticências. Mesmo um elemento aparentemente tão fundamental como o racismo no início estava ausente do fascismo italiano. Por outro lado, reticências o fascismo compartilhava nacionalismo, anticomunismo, antiliberalismo etcétera com outros elementos não fascistas da direita. Vários desses, notadamente entre os grupos reacionários franceses não fascistas, também compartilhavam com ele a preferência pela violência de rua como política. reticências.

As camadas de classe média e média baixa continuaram sendo o alicerce desses movimentos por toda a era da ascensão do fascismo. reticências Isso não quer dizer que os movimentos fascistas não conseguiam conquistar genuíno apôio de massa entre os trabalhadores pobres. Qualquer que fosse a composição dos seus quadros, os membros da Guarda de Ferro romana vinham do campesinato pobre.”

ROBSBAUM, Eric J. Era dos extremos: o breve século vinte (1914-1991). segunda edição São Paulo: Companhia das Letras, 1995. página 120-125.

Fotografia em preto e branco. Em primeiro plano, Benito Mussolini com seu traje militar, em pé com as mãos na cintura em um palanque. Ao redor, multidão aglomerada.
Mussolini discursando para uma multidão em Milão, na Itália. Foto de cêrca de 1930.
Os fascistas chegam ao poder

Em 1921, o Partido Fascista já tinha um número considerável de filiados. Financiado pela elite econômica italiana, o partido rapidamente se transformou em uma poderosa organização. Com o movimento consolidado, em outubro de 1922, Mussolini comandou os fascistas na Marcha sobre Roma, demonstrando fôrça e apôio popular e exigindo espaço no poder.

O rei italiano, Vítor Emanuel terceiro, cedeu às pressões e convidou o líder fascista para compor o govêrno. O comando efetivo do país passou a ser exercido por Mussolini, chamado de Duce (comandante).

A partir de 1924, o Estado fascista começou a perseguir violentamente a oposição, instituiu a pena de morte, assumiu o contrôle da economia e ampliou a censura. Mussolini passou a ter o poder de indicar pessoas para os cargos executivos na Itália e, no ano seguinte, decretou uma legislação trabalhista que atrelava o movimento sindical ao govêrno fascista.

História em construção

Fascismo italiano: totalitário ou não?

Segundo alguns historiadores, o regime fascista italiano não pode ser considerado totalitário, mesmo tendo seu caráter fortemente ditatorial. Para esses pesquisadores, não existiu na Itália o processo de condicionamento ou de coisificaçãoglossário do indivíduo, destituindo-o de liberdade, que marcou o totalitarismo de Rítler, na Alemanha, ou de Stálin, na União Soviética.

Outros historiadores, porém, afirmam que o fascismo italiano foi um regime totalitário, pois a doutrina fascista é essencialmente totalitária, mesmo que o govêrno de Mussolini não tenha exercido contrôle total sobre os italianos. Essa análise se apoia na visão que o próprio Mussolini tinha sobre o regime que liderava, como pode ser lido neste trecho.

reticências para o fascista, tudo está no Estado, e nada de humano nem de espiritual reticências existe fóra do Estado. Nesse sentido, o fascismo é totalitário, e o Estado é fascista, síntese e unidade de todo o valor, interpreta e dá poder à vida inteira do povo. Nem agrupamentos – partidos políticos, associações, sindicatos –, nem indivíduos fóra do Estado.

BENITO Mussolini [1930]. In: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de história. segunda edição Lisboa: Plátano, 1977. volume 3, página 286.


Responda em seu caderno.

Questão

Que peso político a doutrina fascista, sintetizada nessas palavras de Mussolini, atribui ao Estado?


Respostas e comentários

A criação do Estado do Vaticano

Mussolini procurou neutralizar a influência da Igreja Católica na Itália assinando com a instituição o Tratado de Latrão, em 1929. O acôrdo criou o Estado do Vaticano, localizado em um bairro de Roma onde ficava a séde da Igreja. Os termos da negociação garantiram a soberania do novo Estado e a predominância da religião católica na Itália. O Vaticano reconheceu, em contrapartida, a soberania do govêrno italiano sobre seu Estado, e abandonou a reivindicação de uma compensação financeira por suas perdas territoriais e de propriedade.

História em construção

De acôrdo com o pensamento de Mussolini, o Estado fascista é totalitário: nada acontece fóra do contrôle dele. Não existe indivíduo, sindicato ou partido político, a não ser como parte do Estado.

Bê êne cê cê

Por envolver a análise de uma fonte primária, a seção “História em construção” favorece o desenvolvimento da Competência específica de História nº 3.

Atividade complementar

A fim de desenvolver nos alunos habilidades básicas para prepará-los para realizar revisões bibliográficas, reforce que diferentes autores podem tratar de um mesmo tema com base em abordagens distintas e produzir interpretações díspares. Partindo dessa afirmação, solicite aos alunos que identifiquem o ponto de divergência entre os autores que negam que o fascismo italiano foi um regime totalitário e os autores que consideram que ele foi totalitário. Espera-se que os alunos apontem a supressão da individualidade como aspecto fundamental da discussão: enquanto os primeiros historiadores entendem que, na Itália, o indivíduo não foi anulado por um processo de condicionamento ou coisificação, os segundos consideram que o indivíduo foi tão absorvido pelo Estado, que nele se dissolveu.

A ascensão do nazismo na Alemanha

Após a derrota na Primeira Guerra Mundial, em 1918, foi deflagrada uma revolução na Alemanha, que obrigou o imperador Guilherme segundo a abdicar do trono. Com isso, foi proclamada a República de Weimarglossário , uma república parlamentarista.

O novo govêrno republicano tinha a difícil tarefa de reconstruir o país, que ainda vivia as consequências da guerra. cêrca de 2 milhões de homens foram mortos no conflito e mais de 4 milhões ficaram gravemente feridos. Além disso, o Tratado de Versalhes, de 1919, obrigava a Alemanha a ceder territórios, a pagar altos valores de indenização aos países vencedores e a reduzir seu poder militar.

O desemprego, a inflação e o crescimento da pobreza geraram um clima de agitação social que preocupava os setores conservadores da sociedade alemã. Antigos aristocratas, oficiais do exército, a burguesia industrial e financeira e parte da classe média temiam que o modêlo da revolução bolchevique da Rússia chegasse à Alemanha.

Nesse contexto, organizaram-se diversos movimentos conservadores nacionalistas que defendiam medidas radicais para recuperar o país da crise. O principal deles era o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, mais conhecido como Partido Nazista, liderado por ádolf rítler.

Os nazistas pregavam a rejeição ao Tratado de Versalhes e à República de Weimar, responsabilizando-a pela difícil situação econômica vivenciada pela Alemanha. Eles também defendiam a construção de um Estado forte e centralizado em torno de um líder, a militarização da sociedade e a conquista de um espaço vitalglossário para o povo alemão.

Segundo os nazistas, a população germânica formava uma raça superior, a “raça ariana”, que deveria ser unida em um império. Assim, o povo alemão precisaria expandir seu território e garantir o espaço vital para seu desenvolvimento social e econômico. Para os nazistas, os povos considerados inferiores deveriam ser eliminados, para que não “contaminassem” a “raça ariana”. Assim, ciganos, negros, eslavos, homossexuais, testemunhas de Jeová e, principalmente, judeus passaram a ser perseguidos por membros e simpatizantes do partido.

Cartaz. Ilustração de homem sorridente vestindo roupas largas e escuras. Usa chapéu. Carrega pendurada no corpo e na mão uma bolsa com palavras em alemão. Na parte de baixo do cartaz, outras palavras em alemão. À sua esquerda, um Sol, cujos raios iluminam todo o cartaz, que possui fundo amarelo e dourado.
Cartaz de propaganda do Partido Social-Democrata Alemão (ésse pê dê) durante as eleições de 1919. Biblioteca do Congresso, Washington, Estados Unidos. Na bolsa que o homem carrega lê-se: “Liberdade, paz, trabalho”.
Fotografia em preto e branco. Homem medindo o nariz de um senhor com a ajuda de um instrumento de medição. Atrás, outra pessoa faz anotações.
Autoridades nazistas medindo o tamanho do nariz de um alemão. Foto de 1941. Os nazistas criaram um sistema pseudocientífico que usava a medição facial para identificar a origem étnica das pessoas. Os resultados desse sistema foram usados para afirmar a superioridade da “raça ariana”.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

7. Explique a ideia de “raça ariana” defendida pelos nazistas.


Respostas e comentários

O Partido Nazista

O nome completo do Partido Nazista (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães) pode gerar curiosidade nos alunos, em razão do termo socialista. Explique a diferença entre “socialismo” e “nacional-socialismo”. No primeiro caso, o conflito social ocorre pela luta de “classes” ou grupos sociais, envolvendo questões internas a um país, portanto. No segundo caso, o conflito social está baseado na disputa entre nações envolvendo, portanto, as relações externas de uma nação ou a disputa entre nações. Essa explicação ajuda a entender a ênfase nazista em conflitos com o estrangeiro, com o diferente, e a perseguição sistemática a quem não era incluído na “nação alemã” como os nazistas a concebiam.

Pseudociência

Pseudociência é a prática de construir conceitos, ideologias ou informações que não resultam da aplicação do método científico de pesquisa, isto é, que não passam por testes empíricos nem são validadas pela comunidade científica. A pseudociência é frequentemente baseada em afirmações vagas, exageradas ou improváveis e costuma ser difundida por indivíduos e grupos com posturas extremistas, que têm interesses particulares, muitas vezes de cunho emocional, e não racional, na difusão dessas ideias, como aconteceu na Alemanha nazista.

Recapitulando

7. Os nazistas defendiam a ideia de que os germânicos eram “arianos” – integrantes de uma raça supostamente superior às outras – e afirmavam que todos os povos considerados inferiores deveriam ser eliminados ou subjugados.

Ampliando: a superioridade ariana segundo Rítler

“Nós, como arianos, vivendo sob um determinado govêrno, podemos apenas imaginá-lo como um organismo vivo da nossa raça que não só assegurará a conservação dessa raça, mas a colocará em situação de, por suas possibilidades intelectuais, atingir uma mais alta liberdade. reticências O Estado alemão deve reunir todos os alemães com a finalidade não só de selecionar os melhores elementos raciais e conservá-los, mas também de elevá-los, lenta, mas firmemente, a uma posição de domínio.”

Rítler, Ádolf. Minha luta. São Paulo: Centauro, 2001. página 300-303.

Raça

Comente com os alunos que o conceito “raça” aplicado aos seres humanos tem sido inutilizado em razão dos estudos genéticos do dê êne á humano, que revelam parentesco ancestral entre os variados grupos étnicos, o que reitera que a ideia de “raça pura” é um equívoco do ponto de vista científico.

A ocupação do Ruhr e o Putsch de Munique

Em janeiro de 1923, tropas francesas e belgas ocuparam a região do Vale do Rio Ruhr, principal área industrial da Alemanha. Prevista no Tratado de Versalhes, a ocupação foi feita para pressionar o govêrno alemão a pagar as indenizações de guerra que devia à França.

O resultado da ocupação foi desastroso para a economia alemã: em poucos meses, a moeda alemã daquele período, o marco, sofreu significativa desvalorização: em março de 1923, um dólar valia 22 mil marcos; no final do mesmo ano, cada dólar custava 4,2 trilhões de marcos. Com a hiperinflação, muitas empresas faliram, aumentando o número de desempregados e agravando a crise econômica.

Aproveitando o clima geral de descontentamento, os nazistas tentaram, em novembro do mesmo ano, dar um golpe no govêrno da região alemã da Baviera, em um episódio que ficou conhecido como o Putsch de Munique. Inspirados na “Marcha sobre Roma” realizada por Mussolini, na Itália, os golpistas planejaram tomar o poder na região e, posteriormente, em toda a Alemanha com o apôio da população. Porém, o golpe fracassou por falta de apôio popular e os principais líderes foram presos. No entanto, o movimento atraiu a atenção da sociedade alemã e o julgamento dos membros do grupo, que era divulgado na mídia, se transformou em uma oportunidade de disseminar as ideias nazistas por todo o país.

ádolf rítler foi condenado a cinco anos de prisão, mas cumpriu apenas nove meses da pena. Durante esse período, ele escreveu o livro Mein Kampf (“Minha luta”), no qual expôs as principais ideias da ideologia nazista: entre elas, a da superioridade racial germânica, a do ódio às “raças inferiores” (judeus e eslavos, por exemplo) e a da necessidade de eliminar pessoas com deficiência e indivíduos considerados “degenerados”, como comunistas, homossexuais e representantes da vanguarda artísticaglossário .

Na obra, além das ideias racistas e antiliberais, Rítler defendeu a guerra aos países que impuseram o Tratado de Versalhes à Alemanha e expressou seu desprezo pelos marquicístas e pela Rússia soviética, deixando claro que a conquista do espaço vital para o povo alemão exigiria uma guerra contra a Rússia.

Pintura. Prato raso com apenas alguns grãos e um retrato bem pequeno de Adolf Hitler. Um morcego está pousado na borda do prato com as asas abertas. Sobre o prato, um galho com os brotos cortados. Pendurado na ponta do galho, um guarda-chuva e o fone de um telefone. A parte para fala está quebrada, e da parte da escuta pende uma gota d'água, que cai no prato. Ao fundo, a praia, um cachorro sentado embaixo de um guarda-sol e uma pessoa observando o prato.
O Enigma de Rítler, pintura de Salvador Dalí, 1939. Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri, Espanha. O artista catalão Salvador Dalí foi um dos principais representantes do Surrealismo europeu. Note que, nessa pintura, Dalí representou um prato vazio com uma pequena fotografia de Rítler.

Responda em seu caderno.

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Considerando o título da obra, o que você acredita que Dalí pretendeu representar nessa pintura?


Respostas e comentários

Atividade complementar

Um dos temas mais discutidos no estudo do totalitarismo na Europa é a perseguição promovida pelo nazismo às minorias e aos grupos de pessoas consideradas inferiores, como os judeus. Como atividade complementar, proponha aos alunos a leitura do livro O salto para a vida – a história de Léa Mamber, de Célia Valente (São Paulo: éfe tê dê, 2008). O livro trata da história da judia polonesa cujo nome ao nascer era Léa Bláimen, que se salvou da perseguição na Alemanha nazista migrando para o sul do Brasil. Peça que analisem a descrição de Léa da ocupação nazista na Polônia, da atmosfera de medo, da solidariedade das pessoas que a ajudaram a fugir, e como o Brasil se tornou um refúgio para ela. Ao final, peça que escrevam uma sinopse do livro.

Interdisciplinaridade

Combine uma atividade conjunta com o professor de língua portuguesa para trabalhar a peculiaridade da escrita biográfica, que ocasionalmente recorre a elementos ficcionais, associados à narração da experiência efetivamente vivida, a fim de enfatizar certos aspectos ou ocorrências reais. Dessa fórma, a atividade permitirá desenvolver a habilidade ê éfe oito nove éle pê três três do componente curricular língua portuguesa.

Salvador Dalí

Salvador Dalí foi uma figura polêmica, pois apesar de fazer parte da vanguarda artística europeia, sendo um dos principais representantes do Surrealismo, produziu algumas obras representando o ditador nazista Rítler e apoiou o regime autoritário de Francisco Franco, no contexto da Guerra Civil Espanhola.

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As obras surrealistas de Dalí costumam ter significados enigmáticos e difíceis de interpretar, como o título sugere. Porém, é possível que a representação do prato vazio com apenas alguns grãos de alimento e uma gota de água caindo sejam uma referência à dificuldade econômica vivida pelo povo alemão em razão da política de guerra de Rítler com seus altos custos. Além disso, as discrepantes dimensões da imagem de Rítler (na foto) e do telefone (um meio de comunicação) podem sugerir que, apesar de a propaganda nazista difundir a grandiosidade do Estado alemão e da figura de Rítler, ele era um ser diminuto pelas ações de horror que cometia contra os diversos grupos que perseguia.

A ascensão de Rítler ao poder

Na segunda metade da década de 1920, o govêrno da República de Weimar parecia ter retomado o caminho da estabilidade. Beneficiando-se de empréstimos concedidos pelos Estados Unidos, iniciou um plano de crescimento e de modernização industrial, que, no início de 1929, já tinha superado os índices de crescimento do período pré-guerra.

No entanto, a quebra da bolsa de Nova iórque em 1929 e a suspensão do crédito estadunidense tiveram efeitos brutais na Alemanha. Sem o investimento estrangeiro, muitas empresas fecharam e o desemprego atingiu índices alarmantes. Em 1932, no auge da crise, havia cêrca de 6 milhões de trabalhadores desempregados na Alemanha.

À medida que os efeitos da crise se agravavam, o discurso ultranacionalista do Partido Nazista atraía cada vez mais adeptos. Nas eleições parlamentares de julho de 1932, os nazistas elegeram o maior número de deputados para o Reichstag (Parlamento alemão), consolidando-se como o maior partido do país.

Em janeiro de 1933, o presidente da república, Pól fon Rindemburg, cedeu às pressões da poderosa burguesia industrial alemã e nomeou Rítler como chanceler, ou seja, chefe de govêrno do país. Para os setores da grande indústria, apenas os nazistas poderiam combater a depressão econômica e estabilizar a vida social e política do país.

No mês seguinte, o prédio do Reichstag foi incendiado e os comunistas foram acusados de ser os responsáveis pelo crime. Pressionado pelos nazistas, Fon Rindemburg suprimiu a liberdade de expressão, de opinião, de reunião e de imprensa, entre outras medidas, para combater a “ameaça comunista” na Alemanha. Estava aberto o caminho para a chegada dos nazistas ao poder.

Em agosto de 1934, com a morte de Fon Rindemburg, Rítler unificou os cargos de presidente da república e de chanceler. Um referendo nacional, realizado duas semanas após a morte do presidente, confirmou Rítler como único líder do país. Dessa maneira, ele assumiu o poder na Alemanha, colocando fim à República de Weimar.

Fotografia. Adolf Hitler, homem de cabelos escuros penteados de lado e bigode escuro e curto. Uma das mãos está apoiada no cinto e a outra está esticada diagonalmente para frente, em uma saudação. Ele veste um macacão bege com uma braçadeira vermelha com a suástica desenhada. Está em pé, dentro de um carro. Perto dele, alguns militares. Ao fundo, uma multidão aglomerada e diversas bandeiras com a suástica  nazista.
ádolf rítler saudando a população em Nuremberg, na Alemanha. Foto de 1938. Após a nomeação de Rítler como chanceler, a cidade de Nuremberg passou a sediar as reuniões anuais do Partido Nazista, que se transformaram em grandes espetáculos de propaganda do nazismo.

Refletindo sobre

Imagine que você presenciasse um evento no qual os líderes defendessem o extermínio de todas as pessoas que tivessem características (físicas, religiosas, étnicas etcétera) semelhantes às suas. Como você se sentiria? Que reação imagina que teria?


Respostas e comentários

Refletindo sobre

Pretende-se, com essa atividade, estimular os alunos a imaginarem o clima de insegurança que se instaurou entre os indivíduos e as comunidades que se tornaram alvo dos nazistas e o quanto era difícil tomar uma decisão sobre como agir em um contexto de crescimento progressivo da intolerância. Conduza a conversa sobre a situação de modo que os alunos entendam que as pessoas que experimentaram a difusão do nazismo não tinham ainda como saber o que estava por vir e precisaram fazer, com os dados do seu presente, previsões políticas para se antecipar aos acontecimentos. Pergunte-lhes se, hoje, são capazes de fazer projeções e de que maneira as fazem. Ao explorar o contexto de intolerância presente na Alemanha nazista, a atividade também permite valorizar a cultura de paz por meio do estudo da história, sensibilizando o aluno para entender as posturas de intolerância de alguns grupos no tempo presente.

Bê êne cê cê

Por envolver uma reflexão sobre o impacto emocional da propaganda e seus significados sociais, essa atividade contribui para o desenvolvimento da Competência geral da Educação Básica nº 8 e da Competência específica de Ciências Humanas nº 2.

A política nazista

Com o contrôle total do Estado alemão, Rítler declarou-se Führer do Reich, ou seja, líder do Império Alemão, e intensificou a política de perseguição aos opositores. O governante nazista fechou o Parlamento, ordenou a dissolução dos sindicatos e decretou a ilegalidade de todos os partidos políticos da Alemanha, com exceção do Partido Nazista.

O govêrno nazista controlou intensamente a sociedade alemã. A polícia política do país (guestápo), a guarda pessoal de Rítler (Schutzstaffel ou ésse ésse) e as milícias conhecidas como fôrças de Assalto (Sturmabteilung ou ésse á) eram as responsáveis pelas perseguições aos opositores do regime.

Rítler também utilizou a propaganda para assegurar e ampliar o apôio popular ao nazismo e assim manter o contrôle sobre a sociedade. iôzef guêbels, ministro da propaganda nazista, foi responsável por difundir a imagem pública de Rítler como salvador da Alemanha e por submeter os meios de comunicação a uma severa censura. Muitos artistas, intelectuais e cientistas deixaram a Alemanha para fugir da perseguição nazista.

Descumprindo as cláusulas do Tratado de Versalhes, Rítler deu início a uma política de rearmamento do país. A produção armamentista alavancou a economia, aumentando a popularidade do govêrno. Além disso, as fôrças armadas foram reorganizadas e o alistamento militar tornou-se obrigatório.

Cartaz. Ilustração de homem branco e loiro, de camisa clara com as mangas arregaçadas e calça escura, empilhando blocos. Ao fundo, bandeira vermelha com a suástica. Ao redor, dizeres em alemão.
Cartaz de propaganda nazista produzido por Gunter Náguel, em cêrca de 1935, no qual se lê: “Rítler está construindo. Ajude. Compre bens alemães”.

Saiba mais

O campo de concentração de Dachau

Os campos de concentração eram centros de confinamento de civis ou de militares detidos como presos políticos ou prisioneiros de guerra. O campo de Dachau, o primeiro construído pelos nazistas, começou a funcionar em 1933, semanas após a nomeação de Rítler como chanceler. Milhares de prisioneiros (a maioria judia) morreram fuzilados ou nas câmaras de gás instaladas em Dachau. Estima-se que mais de duzentas mil pessoas tenham ficado presas e quase quarenta e duas mil tenham sido executadas no local, muitas delas após serem usadas em experimentos médicos.


Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Qual foi a importância do Putsch de Munique para a difusão das ideias nazistas?
  2. Escreva um pequeno texto sintetizando três características comuns ao nazismo e ao fascismo.
  3. Que relação pode ser estabelecida entre a crise econômica iniciada em 1929 e ascensão do nazismo na Alemanha?
  4. Explique o papel do contrôle social e da propaganda na política nazista.

Respostas e comentários

Recapitulando

  1. Apesar do fracasso do golpe de govêrno, conhecido como Putsch de Munique, essa ação chamou a atenção da opinião pública, e o julgamento dos envolvidos, que era divulgado na mídia, se transformou em uma oportunidade de disseminar as ideias nazistas por todo o país.
  2. O nazismo e o fascismo apresentam estas três características comuns: a centralização do poder político na figura de um líder autoritário, a perseguição aos opositores políticos (comunistas, por exemplo) e o intenso uso da propaganda para controlar a sociedade e garantir a unidade do Estado.
  3. A quebra da bolsa de Nova iórque em 1929 e a suspensão do crédito estadunidense tiveram efeitos negativos na economia alemã: sem o investimento estrangeiro, muitas empresas fecharam e o desemprego alcançou cêrca de 6 milhões de trabalhadores em 1932. À medida que os efeitos da crise se agravavam, o discurso ultranacionalista do Partido Nazista atraía cada vez mais adeptos, o que promoveu a ascensão do nazismo na Alemanha.
  4. O contrôle do Estado nazista sobre a sociedade alemã por meio da polícia política eliminou, pela fôrça, os opositores do regime. Por outro lado, a censura aos meios de comunicação e a propaganda asseguraram e ampliaram o apôio popular ao nazismo, reforçando o contrôle social. Nas propagandas, Rítler era apontado como o salvador da Alemanha.

As perseguições

No dia 8 de junho de 1935, o Ministério do Interior do Reich divulgou a quarta lista de pessoas que perdiam a cidadania alemã e passavam a ser consideradas inimigas da Alemanha. A lista trazia o nome de jornalistas, intelectuais e grandes escritores, como bértold Brécht e Êrrica Man, todos acusados de infidelidade ao regime e ao povo alemão. Os cassados eram expatriados e tinham seus bens confiscados pelo govêrno. Até 1938, oitenta listas de cassação da cidadania alemã foram publicadas no país.

O salazarismo em Portugal

O regime ditatorial em Portugal teve início em 28 de maio de 1926 por meio de um golpe de Estado, liderado pelo general Gomes da Costa. O novo govêrno aproximou-se da Igreja, impondo um nacionalismo católico e intensa ideologia anticomunista. No entanto, até 1930, o regime esteve em significativa instabilidade política. Gradualmente, os militares foram afastados do poder e uma elite civil com ideais inspirados no fascismo italiano passou a ganhar fôrça. Nesse cenário, destacou-se António de Oliveira Salazar, nomeado ministro das Finanças em 1928.

Em 1930, foi fundada a União Nacional, uma frente política que congregava as diferentes fôrças que apoiavam a ditadura e que propôs um programa de Estado autoritário e corporativistaglossário . Diferentemente do que ocorreu na Itália fascista e na Alemanha nazista, em Portugal não existia um partido único do regime, embora a União Nacional tivesse mais fôrça. No mesmo ano, criou-se o Ato Colonial, que reafirmou o direito de Portugal colonizar e “civilizar” os domínios ultramarinos.

Em 1932, Salazar tornou-se presidente do Conselho de Ministros, com amplos poderes. Em 1933, ele outorgou uma constituição para o país, dando início a um regime autoritário denominado Estado Novo, que duraria até 1974. A nova Carta Constitucional afirmava Portugal como um Estado unitário, corporativo, forte e interventor e ratificava o Ato Colonial, mostrando a importância das colônias portuguesas para o desenvolvimento econômico lusitano.

Ainda naquele ano, Salazar instituiu o Secretariado de Propaganda Nacional (ésse pê êne), chefiado por António Ferro. O ésse pê êne foi responsável pelo intenso contrôle e pela censura dos meios de comunicação, assim como pela criação de um projeto cultural que enaltecia o Estado Novo, o ultranacionalismo e os valores católicos. Nas escolas, o ensino religioso tornou-se obrigatório. Além disso, foram criadas milícias nacionalistas juvenis com o objetivo de combater os comunistas.

Cartaz. No centro, um círculo vermelho, e dentro dele a informação 1925 A 1934. Do círculo saem feixes vermelhos, como raios de sol, que dividem o cartaz em diferentes partes. Na metade superior, uma mulher sentada com a cabeça apoiada nas mãos. Na frente dela, um bebê esticando os braços. Ao fundo, casas simples. À esquerda, um homem descalço, usando um casaco e uma boina. À direita, dois homens bem vestidos usando chapéu. Na parte inferior, um casal dança, e outro se beija. No cartaz, os dizeres: ONTEM: A MISÉRIA E O DESCONFORTO. HOJE: BEM ESTAR E ALEGRIA. POVO, VOTAI NA LISTA DA UNIÃO NACIONAL.
Cartaz de propaganda política do Estado Novo em Portugal, 1934. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa.
Fotografia em preto e branco. À frente, dois homens caminhando. O homem da esquerda é António Salazar, tem o rosto fino, cabelo penteado para trás, queixo quadrado e bigode. Usa terno escuro e carrega o chapéu em uma das mãos. Ele está ao lado de um militar de chapéu triangular. Ao fundo, outros militares caminham perto. À direita, militares perfilados.
António de Oliveira Salazar (vestido com terno escuro) em Lisboa, Portugal, visitando as tropas que embarcariam para as colônias portuguesas na África. Foto de cêrca de 1950.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

12. Cite duas características do salazarismo em Portugal.


Respostas e comentários

Autoritarismo vérçus totalitarismo

O autoritarismo tem como fim controlar e cercear a sociedade civil que, apesar disso, mantém autonomia relativa. Nesse regime, o poder está concentrado nas mãos de um ditador ou de um grupo de ditadores, contudo, sob a vigência da lei. Já o totalitarismo visa instituir contrôle total sobre a vida dos cidadãos. Cria um regime de terror permanente, destruindo a confiança e os laços sociais entre as pessoas. Dessa fórma, o totalitarismo corrompe as redes de solidariedade e a esfera pública, eliminando assim qualquer possibilidade de existência de liberdade de expressão, de opinião ou de pensamento.

Ampliando: o salazarismo

“Como diria Salazar em 1934, ‘não reconhecemos liberdade contra a nação, contra o bem comum, contra a família, contra a moral’. Para não negar a própria nação, o Estado Novo havia de assumir como missão essencial a de reconduzir os portugueses à ‘nova ordem moral’ que a redimia e realizava. É por isso que no Portugal salazarista, à semelhança do que se passava com outras ditaduras reticências de natureza fascista e portadoras de um projeto totalitário, o discurso ideológico não se limitou a um simples enunciado, mesmo que exclusivo e unívoco. Constituiu-se como um duplo guia para a ação: uma orientação para a política em geral, mas, de fórma muito particular, uma espécie de catecismo para o ‘resgate das almas’, levado à prática por organismos de propaganda e inculcação ideológica expressamente criados para esse efeito.”

ROSAS, Fernando. O salazarismo e o homem novo: ensaio sobre o Estado Novo e a questão do totalitarismo. Análise social, Lisboa, volume trinta e cinco, número 157, página 1037, 2001. Disponível em: https://oeds.link/ELp087. Acesso em: 12 março 2022.

Recapitulando

12. Os alunos podem citar a censura aos meios de comunicação, as propagandas favoráveis ao regime, o estabelecimento da obrigação do ensino religioso nas escolas, o ultranacionalismo e a criação de milícias juvenis.

História em construção

O salazarismo foi totalitário?

Muitos historiadores, como Istíven Diêi Li e Pierre Milza, consideram que o salazarismo não apresentou as características de um Estado totalitário, como ocorreu na Alemanha nazista e na Itália fascista. Segundo eles, Salazar não tinha uma liderança carismática nem apelava à mobilização das massas como faziam Rítler e Mussolini. Também argumentam que não houve em Portugal um partido único, uma política expansionista agressiva, uma ideologia totalitária nem condições estruturais que permitissem a emergência de um sistema totalitário, como crise econômica, industrialização acelerada ou unificação política tardia. De qualquer fórma, há consenso de que o salazarismo foi um regime autoritário de inspirações fascistas, mesmo que de fórma periférica.


Responda em seu caderno.

Questão

De acôrdo com o texto, o que diferencia o salazarismo do nazismo alemão e do fascismo italiano?

Na Espanha: a guerra civil

Em julho de 1936, na Espanha, um grupo de militares nacionalistas, liderado pelo general Francisco Franco, iniciou um golpe de Estado para derrubar o govêrno da Frente Popular, que reunia comunistas, socialistas e republicanos. O levante franquista foi derrotado pela reação popular, e o país, dividido entre nacionalistas e republicanos, entrou em uma violenta guerra civil.

As fôrças nacionalistas receberam apôio dos grandes proprietários de terras e da Igreja, assim como dos governos de Rítler, Mussolini e Salazar. Já os republicanos foram apoiados pelas Brigadas Internacionais, grupos de voluntários formados em diversos países para lutar contra os franquistas. A União Soviética deu apôio aos republicanos, especialmente por meio do Partido Comunista Espanhol, mas o retirou antes de o conflito terminar.

A opinião pública internacional identificava o conflito espanhol como uma polarização entre a organização nacionalista de caráter fascista e o movimento socialista. Os governos do Reino Unido, da França e dos Estados Unidos declararam-se neutros, atitude que contribuiu para fortalecer os franquistas e expandir o nazifascismo pela Europa.

Fotografia em preto e branco. Militares apontando armas para um grupo de homens em uma colina. Eles estão com os braços erguidos.
Soldados nacionalistas capturando um grupo de republicanos durante a Guerra Civil Espanhola em Madri, Espanha. Foto de 1936.

Respostas e comentários

História em construção

Diferentemente do nazismo alemão e do fascismo italiano, o salazarismo português não se caracterizou pela formação de um partido único, pela mobilização das multidões, pela liderança carismática do ditador nem por uma política expansionista de caráter totalitário.

Ampliando: a Guerra Civil Espanhola

A Guerra Civil Espanhola mobilizou mais do que as fôrças internas republicanas e nacionalistas. Lutando ao lado do exército republicano, as Brigadas Internacionais foram uma das protagonistas no conflito. A participação internacional na Guerra Civil Espanhola fez com que elas adquirissem um caráter muito maior do que o de um conflito regional, como evidencia este texto.

“[No pasarán!] Esse era o grito com que os camponeses aclamaram os batalhões da Brigada Internacional no seu caminho para Madri, que sofria a primeira ofensiva franquista, em 7 de novembro de 1936. Nessa batalha, em que os republicanos obtiveram uma inesquecível vitória, o grito no pasarán! tornou-se um símbolo de toda a luta antifascista que correu paralela e justaposta ao conflito espanhol.

No pasarán! condensa a fôrça empenhada pelos voluntários das Brigadas Internacionais que, oriundos de cinquenta e quatro países, se deslocaram para a Espanha com o objetivo de lutar em defesa da república. Isso resume o impulso que levou intelectuais do mundo inteiro a se mobilizar reticências entendendo por essa luta um enfrentamento corpo a corpo contra a ameaça nazifascista.”

Bêiguelman Messina, Giselle. A Guerra Civil Espanhola (1936-1939). São Paulo: Scipione, 1994. página 84-88.

Pintura. Traçados sobrepostos, originando figuras de pessoas com os corpos mutilados. Algumas estão com expressão de dor. As cores são escuras. À esquerda, uma mulher segurando uma criança morta nos braços, e a seu lado, um touro com feições disformes; no centro há um cavalo de boca aberta com expressão de dor e, abaixo dele, uma mão mutilada segurando uma flor e uma espada quebrada. À direita, uma pessoa com os braços esticados para cima parece gritar desesperada, e ao seu lado, uma mulher se arrastando no chão. Na parte superior, à direita, braço de uma figura boquiaberta que entra na cena segurando uma lamparina para iluminar o ambiente. No alto, uma lâmpada acesa.
Guernica, pintura de Pablo Picasso, 1937. Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia, Madri, Espanha. Nessa obra, o pintor espanhol representou o horror do bombardeio da Luftwaffe ao vilarejo de Guernica.

Responda em seu caderno.

Explore

  1. Observe a pintura de Pablo Picasso e faça uma descrição da obra, considerando as cores utilizadas, as expressões e fórmas das figuras representadas.
  2. Que sentimentos a obra desperta em você? Discuta com os colegas quais foram as impressões deles ao analisar a pintura.
A implantação da ditadura franquista

Em abril de 1937, a fôrça aérea alemã, a Luftwaffe, com o objetivo de testar novas tecnologias e estratégias de guerra, bombardeou a pequena aldeia basca de Guernica, no norte da Espanha. O vilarejo foi destruído. Mais de mil pessoas morreram e centenas ficaram desabrigadas.

O auxílio nazifascista foi decisivo para a vitória das fôrças nacionalistas do general Franco em 1939, que instituiu uma ditadura na Espanha e permaneceu no poder até morrer, em 1975.

O franquismo caracterizou-se pelo forte nacionalismo católico, pelo anticomunismo e pela perseguição e execução dos opositores ao regime. Assim como em Portugal, a Igreja teve importante participação na consolidação do regime autoritário, atuando na censura, no contrôle do ensino e na repressão moral.

Conexão

Jojo Rabbit

Direção: Táica Uaitíti

País: Estados Unidos

Ano: 2019

Duração: 108 minutos

O filme se passa na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial. Jojo é um garoto de 10 anos que gosta do nazismo e admira ádolf rítler, que se torna seu amigo imaginário. O menino sonha em participar da Juventude ritlerísta, um grupo pró-nazista. Porém, um dia, Jojo descobre que sua mãe está abrigando uma menina judia no sótão de sua casa. Com o passar do tempo, ele começa a desenvolver empatia por ela e a questionar as ideias nazistas.


Cartaz de filme. No centro, um menino de boina com a cabeça inclinada olhando para o alto. Ao seu redor, homens e mulheres com vestimentas e feições variadas. Um homem com penteado e bigode, semelhante ao de Hitler, gesticula com dois dedos atrás da cabeça do menino. Embaixo, nome do filme e informações sobre a obra.
Cartaz de divulgação do filme Diôdiô Rébit, 2019.

Responda em seu caderno.

Recapitulando

  1. Identifique os motivos, os grupos envolvidos e o desfecho da Guerra Civil Espanhola.
  2. Qual era o interesse de Rítler na Guerra Civil Espanhola?

Respostas e comentários

Explore

  1. Pablo Picasso representou vários corpos mutilados e pessoas com expressão de desespero, dor, sofrimento e horror. À esquerda, há uma mulher segurando uma criança morta nos braços e a seu lado um touro com feições disformes; no centro, há um cavalo de boca aberta com expressão de dor e abaixo dele, uma mão mutilada segurando uma flor e uma espada quebrada. À direita do quadro, uma pessoa com os braços esticados para cima parece gritar desesperada e ao seu lado uma mulher parece se arrastar no chão. Na parte superior, à direita, aparece o braço de uma figura boquiaberta que entra na cena segurando uma lamparina para iluminar os horrores do bombardeio ao vilarejo. As cores utilizadas são escuras, em tons cinza, preto e branco.
  2. Os elementos representados na obra possivelmente gerarão sentimentos de angústia e horror nos alunos. Espera-se que discutam o que a obra pretende revelar com base no significado de alguns elementos presentes na pintura. A representação dos animais, por exemplo, pode sugerir a animalidade dos ataques de guerra. O braço que segura uma flor e uma espada quebrada, pode sugerir o fim da guerra e a esperança de renascimento. A figura boquiaberta segurando uma lamparina para iluminar a cena pode representar o próprio artista que, ao produzir a obra, revelou os horrores do bombardeio ao vilarejo. As cores utilizadas, escuras, em tons cinza, preto e branco, conferem um caráter sombrio à obra, remetendo à tristeza da guerra, entre outros elementos que podem ser analisados e discutidos coletivamente pelos alunos.

Interdisciplinaridade

A atividade desenvolve habilidades do componente curricular arte, especificamente as habilidades ê éfe seis nove á érre zero um e ê éfe seis nove á érre zero dois.

Conexão

O filme Jojo Rabbit trata do nazismo alemão de maneira leve e bem humorada, porém propondo reflexões profundas sobre a tolerância e os direitos humanos. Por ser parte da cultura juvenil, o filme pode atrair a atenção dos alunos constituindo um recurso pedagógico efetivo por tratar de um tema histórico árido como o nazismo de maneira empática. A classificação indicativa do filme é a partir de 14 anos.

Recapitulando

  1. A Guerra Civil Espanhola iniciou-se em 1936 após uma frente nacionalista, liderada por Francisco Franco, ser derrotada pela frente popular em uma tentativa de golpe de Estado. Dividida entre nacionalistas de caráter fascista – apoiados por Rítler, Mussolini e Salazar – e republicanos – apoiados pelas Brigadas Internacionais –, a Espanha passou por uma guerra civil até 1939. Os nacionalistas venceram a guerra e Franco instalou uma ditadura no país.
  2. Apoiando os nacionalistas, Rítler usou o conflito na Espanha para testar seus armamentos e estratégias de combate, que seriam aplicados no processo de expansão do território alemão. A vitória de Franco garantia a Rítler um govêrno alinhado com as ideias nazistas na Espanha.

Leitura complementar

A propaganda e a opinião pública

Este texto apresenta uma reflexão sobre o uso dos meios de comunicação pelos regimes autoritários e totalitários que se consolidaram na Europa entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.

A primeira metade do século vinte foi marcada pela ascensão e consolidação dos regimes [nazista, fascista, salazarista e franquista] que utilizaram os meios de comunicação de massas como instrumentos de propaganda política e de contrôle da opinião pública.

A propaganda política, entendida como fenômeno da sociedade e da cultura de massas, consolidou-se nas décadas de 1920-1940, com o avanço tecnológico dos meios de comunicação. Valendo-se de ideias e conceitos, a propaganda os transforma em imagens, símbolos, mitos e utopias que são transmitidos pela mídia. A referência básica da propaganda é a sedução, elemento de ordem emocional de grande eficácia na conquista de adesões políticas. Em qualquer regime, a propaganda é estratégica para o exercício do poder, mas adquire uma fôrça muito maior naqueles em que o Estado, graças à censura ou monopólio dos meios de comunicação, exerce rigoroso contrôle sobre o conteúdo das mensagens, procurando bloquear toda atividade espontânea ou contrária à ideologia oficial. O poder político, nesses casos, conjuga o monopólio da fôrça física e da fôrça simbólica; tenta suprimir, dos imaginários sociais, toda representação do passado, presente e futuro coletivos que seja distinta daquela que atesta a sua legitimidade e caucionaglossário o contrôle sôbre o conjunto da vida coletiva. Em regimes dessa natureza, a propaganda política se torna onipresenteglossário , atua no sentido de aquecer as sensibilidades e tende a provocar paixões, visando assegurar o domínio sobre os corações e mentes das massas.

PEREIRA, Wagner Pinheiro. Cinema e propaganda política no fascismo, nazismo, salazarismo e franquismo. História: Questões e Debates, Curitiba, número 38, página 102, 2003.


Responda em seu caderno.

Questões

  1. Qual importante objetivo da propaganda é citado no texto?
  2. Segundo o texto, de que fórma os Estados autoritários e totalitários se apropriam dos meios de comunicação e usam a propaganda como estratégia de poder?
  3. Com base no que você estudou neste capítulo, responda: De que fórma o nazismo, o fascismo, o salazarismo e o franquismo se identificam com o tema abordado nesse texto?
  4. Em sua opinião, os governos ainda usam os meios de comunicação para se autopromover? Como são as propagandas políticas atuais?
  5. Atualmente, as redes sociais digitais são um importante veículo de propaganda comercial e política. Que estratégias você acredita que são usadas para isso?

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Por envolver a análise do texto, a seção contribui para o desenvolvimento da Competência específica de História nº 3. Especificamente a questão 5, em que se propõe uma reflexão crítica sobre a propaganda e o consumo, favorece a abordagem do tema contemporâneo transversal Educação para o consumo.

Leitura complementar

  1. Seduzir para conquistar adesões políticas.
  2. Segundo o texto, os Estados autoritários e totalitários utilizam a censura ou o monopólio dos meios de comunicação para exercer rigoroso contrôle sobre o conteúdo das mensagens divulgadas e bloquear toda atividade espontânea ou contrária à ideologia oficial. O poder político combina o monopólio da fôrça física e da fôrça simbólica para tentar suprimir do imaginário social toda representação do passado, presente e futuro coletivos que seja distinta daquela que atesta a sua legitimidade, controlando a vida coletiva. Nesses regimes, a propaganda política está em toda parte e apela para os sentimentos das pessoas, provocando paixões, como fórma de assegurar o domínio sobre os corações e mentes das massas.
  3. O nazismo, o fascismo, o salazarismo e o franquismo criaram um aparato de contrôle e censura dos meios de comunicação de massa e usaram intensamente a propaganda para disseminar ideais ultranacionalistas e anticomunistas, exaltar seus líderes e conquistar o apôio popular, como é discutido no texto.
  4. Espera-se que os alunos reflitam sobre as estratégias de persuasão usadas nas propagandas políticas atuais, como o uso, pelos políticos, de roupas que transmitem uma imagem de seriedade, o discurso formal que sugere competência, a referência a obras já realizadas em outros mandatos e a menção a quantias investidas e número de pessoas beneficiadas, além do apelo para a emoção dos eleitores, por meio da exibição de imagens de apoiadores em recepções acaloradas a esses políticos.
  5. Espera-se que os alunos respondam com base no que percebem quando acessam redes sociais digitais. Eles podem mencionar a inclusão de propagandas de produtos associados aos perfis que seguem e às publicações que curtem. Além disso, empresas costumam coletar dados dos usuários, por meio de cookies, para avaliar seus gostos e posturas políticas e direcionar publicidade a eles incentivando o consumo – muitas vezes, sem que eles saibam disso. Essa estratégia tem sido amplamente divulgada nos últimos anos e é possível que os alunos já tenham tido contato com o assunto. Se considerar conveniente, incentive uma discussão coletiva sobre o tema. A atividade permite promover a análise de mídias sociais.

Atividades

Responda em seu caderno.

Aprofundando

  1. Sobre a quebra da bolsa de Nova iórque e a crise de 1929, identifique a afirmativa incorreta.
    1. Um dos fatores que desencadearam a quebra da bolsa de Nova iórque, em 1929, foi a venda desenfreada de ações pelos investidores.
    2. Apesar da recessão estadunidense em 1929, os Estados Unidos mantiveram o crédito aos países da América Latina.
    3. O New Deal foi financiado com recursos públicos originados da arrecadação de impostos mais altos da parcela mais rica da sociedade estadunidense e com a emissão de papel-moeda.
    4. Uma das razões da crise de 1929 foi a estagnação das vendas dos produtos industrializados estadunidenses.
  2. Analise o cartaz e faça o que se pede.
Cartaz. Ilustração de uma caveira que usa uma mitra de bispo com uma suástica na frente. A caveira esmaga crânios com uma foice ensanguentada, que tem duas bombas amarradas no cabo. Uma das bombas tem o símbolo do fascio littorio desenhado. No canto superior esquerdo, um emblema com uma ave de asas abertas. Na parte inferior do cartaz os dizeres: REINARÉ EM ESPANÃ QUE TE CREES TU ESO!
Cartaz produzido na Espanha em 1937.
  1. Que grupos envolvidos na Guerra Civil Espanhola foram representados no cartaz?
  2. Qual é a crítica expressa no cartaz? Com base na sua resposta, identifique o grupo espanhol que o produziu.

3. Leia um trecho da obra Mein Kampf (“Minha luta”), escrita por ádolf rítler quando estava na prisão, na década de 1920.

Nosso povo alemão, hoje esfacelado, jazendo entregue, sem defesa, aos pontapés do resto do mundo, tem, precisamente, necessidade da fôrça, que a confiança em si proporciona. Todo o sistema de educação e de cultura deve visar dar às crianças de nosso povo a convicção de que são absolutamente superiores aos outros povos. reticências

O direito ao solo e à terra pode tornar-se um dever quando um grande povo parece destinado à ruína por falta de extensão territorial.

Rítler, Adolf. Minha luta [1925]. In: COLETÂNEA de documentos históricos para o 1º grau: 5ª a 8ª séries. São Paulo: Secretaria de Educação/sêmp, 1980. página 94.

Elabore um texto argumentativo que conteste as afirmações nacionalistas e preconceituosas expressas nas palavras de Rítler e apresente-o aos colegas.

Aluno cidadão

  1. O nazismo se caracterizou pela perseguição e pelo extermínio das pessoas e dos povos que não se enquadravam nos padrões pseudocientíficos de “pureza racial” de Rítler. Atualmente, esse tipo de preconceito é considerado crime. Apesar disso, diversas ideias como essa ainda promovem práticas discriminatórias e opressoras. Uma delas é conhecida como bullying e é caracterizada por comportamentos agressivos e intencionais praticados por uma ou mais pessoas contra outra ou outras, causando-lhe ou causando-lhes sofrimento emocional e físico.
    1. Sob a orientação do professor ou da professora, junte-se a alguns colegas para debater as questões: Que comportamentos vocês consideram prática de bullying? Vocês já sofreram bullying? Algum de vocês se percebe como praticante de bullying? Como é possível combater essa prática na escola?
    2. Após o debate, criem cartazes sobre as medidas que podem ser adotadas contra o bullying na escola. Eles devem conter informações claras e canais de denúncia. Por fim, exponham os cartazes para conscientizar a comunidade escolar sobre a necessidade de combater o bullying.

Respostas e comentários

Atividades

  1. Afirmativa b.
    1. O cartaz mostra uma grande caveira que usa uma mitra de bispo com o símbolo da suástica. A caveira esmaga crânios com uma foice ensanguentada, que tem duas bombas amarradas no cabo, uma delas com o símbolo do fascio littorio. Por essas características, o cartaz representa a Igreja, a Alemanha nazista e os fascistas italianos, grupos que apoiavam os nacionalistas na Guerra Civil Espanhola.
    2. Ao representar a Igreja, os nazistas e os fascistas com símbolos que lembram a morte e a destruição, o autor do cartaz faz uma crítica à violência disseminada pelos nacionalistas e pelos grupos que os apoiavam. Por meio do raciocínio inferencial, é possível concluir que o cartaz foi produzido pelos republicanos.
  2. Espera-se que os alunos, no texto, refutem os argumentos de Rítler, apontando que todos os seres humanos são iguais em direitos, como define a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de modo que não há um povo superior a outro ou que detenha o direito de subjugar outros povos para se desenvolver. Dessa fórma, não é correto educar as crianças de um povo para que se sintam especiais ou superiores a pessoas de outros povos. Ao contrário, as crianças devem ser ensinadas a respeitar a diversidade, a se solidarizar e a cooperar com o outro, assumindo uma postura de humanidade que favoreça a cultura de paz.

Bê êne cê cê

A atividade contribui para o desenvolvimento das Competências gerais da educação Básica nº 4, nº 7 e nº 9, das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 1 e nº 6 e da Competência específica de História nº 3.

4. Esclareça para os alunos que a prática de bullying é extremamente danosa para os envolvidos e que as vítimas podem desenvolver problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade e até suicídio. Discuta com os agentes da escola a possibilidade de criar um canal de denúncia, caso ainda não exista, promovendo a discussão sobre o tema entre toda a comunidade escolar. É importante que os casos de bullying identificados recebam acompanhamento de um profissional da saúde mental.

Bê êne cê cê

Ao incentivar a reflexão sobre a prática do bullying, a atividade se relaciona com os temas contemporâneos transversais Direitos da criança e do adolescente e Educação em direitos humanos, bem como contribui para o desenvolvimento das Competências gerais da Educação Básica nº 4, nº 5, nº 8 e nº 9 e das Competências específicas de Ciências Humanas nº 4 e nº 6.

Conversando com língua portuguesa

5. Fernando Pessoa foi um importante poeta e escritor português, que viveu entre 1888 e 1935. No início do salazarismo em Portugal, ele escreveu alguns poemas com críticas ao Estado Novo. Leia dois deles e responda às questões.

um

Este senhor Salazar

É feito de sal e azar.

Se um dia chove,

A água dissolve

O sal,

E sob o céu

Fica só o azar, é natural.

Oh, c’os diabos!

Parece que já choveureticências


dois

Coitadinho

Do tiraninho!

Não bebe vinho,

Nem sequer sozinhoreticências

Bebe a verdade

E a liberdade,

E com tal agrado

Que já começam

A escassear no mercado.


Coitadinho

Do tiraninho!

O meu vizinho

Está na Guiné,

E o meu padrinho

No Limoeiro

Aqui ao pé,

Mas ninguém sabe porquê.


Mas, enfim, é

Certo e certeiro

Que isto consola

E nos dá fé:

Que o coitadinho

Do tiraninho

Não bebe vinho,

Nem até

Café.

PESSOA, Fernando. Da República (1910-1935). Lisboa: Ática, 1979. página 349.

  1. Que mensagem o poeta quis transmitir no poema um? Que recurso linguístico ele usou para fazer isso?
  2. Que aspecto do salazarismo foi criticado no poema dois? Que figura de linguagem foi usada para isso?
  3. Que outra figura de linguagem foi utilizada no poema?

Enem e vestibulares

6. (enêm-Méqui) Os regimes totalitários da primeira metade do século vinte apoiaram-se fortemente na mobilização da juventude em torno da defesa de ideias grandiosas para o futuro da nação. Nesses projetos, os jovens deveriam entender que só havia uma pessoa digna de ser amada e obedecida, que era o líder. Tais movimentos sociais juvenis contribuíram para a implantação e a sustentação do nazismo, na Alemanha, e do fascismo, na Itália, na Espanha e em Portugal.

A atuação desses movimentos juvenis caracterizava-se:

  1. pelo sectarismo e pela fórma violenta e radical com que enfrentavam os opositores ao regime.
  2. pelas propostas de conscientização da população acerca dos seus direitos como cidadãos.
  3. pela promoção de um modo de vida saudável, que mostrava os jovens como exemplos a seguir.
  4. pelo diálogo, ao organizar debates que opunham jovens idealistas e velhas lideranças conservadoras.
  5. pelos métodos políticos populistas e pela organização de comícios multitudinários.

Respostas e comentários
    1. O poeta quis transmitir sua aversão ao salazarismo. Para isso, utilizou um jôgo de palavras com o nome do ditador Salazar. No poema, a chuva dissolveu o “sal”, deixando apenas o “azar”, o que demonstra o pessimismo do poeta com o regime salazarista. O recurso linguístico utilizado foi o trocadilho.
    2. No poema dois, foi criticada a censura imposta por Salazar. Para isso, o poeta usou a metáfora, relacionando, por exemplo, a verdade e a liberdade com uma bebida vendida em um mercado que, por causa da censura do Estado Novo, escasseou.
    3. Também foi usada a paronomásia (a repetição de sons semelhantes em diferentes palavras), tais como: “inho”, em “coitadinho”, “tiraninho”, “vinho”, “sozinho”.

Interdisciplinaridade

Essa atividade relaciona-se com o componente curricular língua portuguesa, especificamente com as habilidades ê éfe seis nove éle pê quatro quatro e ê éfe seis nove éle pê quatro oito.

6. Alternativa a.

Glossário

Economia planificada
: modêlo no qual o Estado controla toda a atividade econômica do país e define planejamentos estratégicos que têm como objetivo o crescimento econômico.
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Especulação financeira
: prática de comprar ações do mercado financeiro, na bolsa de valores, esperando que elas sejam valorizadas, fiquem mais caras e possam ser vendidas com lucro no futuro.
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Especulação imobiliária
: prática de comprar vários imóveis com a expectativa de que seu valor de mercado aumente no futuro, para vendê-los com maior lucro.
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Inflação
: aumento geral dos preços de produtos e serviços, implicando na diminuição do poder de compra da moeda de um país.
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Coisificação
: redução de seres vivos à condição de objeto.
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República de Weimar
: a república alemã recebeu esse nome porque o projeto de constituição foi criado na cidade de Weimar.
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Espaço vital
: conceito desenvolvido pelo geógrafo frídriqui rátizel, que defendia que um povo necessitaria de condições espaciais e naturais específicas para se desenvolver plenamente, tais como vasto território e abundância de recursos naturais.
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Vanguarda artística
: nesse caso, refere-se aos movimentos artísticos europeus do início do século vinte, como o Expressionismo, o Cubismo e o Surrealismo, que propunham novas fórmas de expressão artística (pintura, escultura, arquitetura, literatura, cinema, teatro, música etcétera) que fugiam aos moldes artísticos tradicionais.
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Corporativista
: que age apenas de acôrdo com os interesses de sua classe profissional, sem considerar a coletividade.
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Caucionar
: garantir, assegurar.
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Onipresente
: presente em todos os lugares.
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