Capítulo 5 – Rir também é necessário


E se a gentereticências

reticências falasse de segurança?

O humor pode ter vários fins; diversão é apenas um deles. Neste capítulo, vamos pensar no humor como um recurso de crítica e refletir sobre seu efeito na sociedade.

Você conhece o Código de Trânsito Brasileiro? Leia a seguir um trecho desse documento e, depois, responda às perguntas.

Reprodução de página da internet.

Código de Trânsito Brasileiro

CAPÍTULO quatro

DOS PEDESTRES E CONDUTORES DE VEÍCULOS NÃO MOTORIZADOS

artigo sessenta e oito É assegurada ao pedestre a utilização dos passeios ou passagens apropriadas das vias urbanas e dos acostamentos das vias rurais para circulação, podendo a autoridade competente permitir a utilização de parte da calçada para outros fins, desde que não seja prejudicial ao fluxo de pedestres.

reticências

artigo sessenta e nove Para cruzar a pista de rolamentoglossário o pedestre tomará precauções de segurança, levando em conta, principalmente, a visibilidade, a distância e a velocidade dos veículos, utilizando sempre as faixas ou passagens a ele destinadas sempre que estas existirem numa distância de até cinquenta metros dele, observadas as seguintes disposições:

um – onde não houver faixa ou passagem, o cruzamento da via deverá ser feito em sentido perpendicularglossário ao de seu eixo;

dois – para atravessar uma passagem sinalizada para pedestres ou delimitada por marcas sobre a pista:

a) onde houver foco de pedestres, obedecer às indicações das luzes;

b) onde não houver foco de pedestres, aguardar que o semáforo ou o agente de trânsito interrompa o fluxo de veículos;

três – nas interseçõesglossário e em suas proximidades, onde não existam faixas de travessia, os pedestres devem atravessar a via na continuação da calçada, observadas as seguintes normas:

Reprodução de página da internet.
Respostas e comentários

CAPÍTULO 5

Leia sobre o percurso de aprendizagem proposto para este capítulo na parte específica deste ême pê.

E se a gentereticências falasse de segurança?

Bê êne cê cê em foco

cê gê: 1, 2, 4, 7, 9 e 10.

cê e éle : 1, 2, 3 e 4.

cê e éle pê : 2, 3, 5 e 6.

Habilidades: ê éfe seis nove éle pê dois zero, ê éfe seis nove éle pê dois quatro, ê éfe seis nove éle pê dois cinco, ê éfe seis nove éle pê dois seis, ê éfe seis nove éle pê dois sete e ê éfe seis nove éle pê dois oito.

Orientações didáticas

Esta seção antecipa o tema explorado na charge que será estudada em Leitura 1 – está em foco o Tema Contemporâneo Transversal Educação para o Trânsito, da macroárea temática “Cidadania e Civismo”.

A seção propõe a leitura e a discussão de um trecho do Código de Trânsito Brasileiro. Embora os estudantes tenham produzido listas de normas nos anos iniciais do Ensino Fundamental – Anos Iniciais e estejam lendo e produzindo textos normativos e legais sistematicamente desde o início do Ensino Fundamental – Anos Finais, entendemos que a compreensão de gêneros como códigos, estatutos e regimentos ainda é desafiante. Por isso, optamos por iniciar a seção retomando informações relativas à fórma de organização desses textos. Sugerimos que a leitura seja coletiva, com interrupções frequentes para que os estudantes façam paráfrases orais dos trechos, de modo a verificar a compreensão do que é expresso no documento.

Reprodução de página da internet.

a) não deverão adentrar na pista sem antes se certificar de que podem fazê-lo sem obstruir o trânsito de veículos;

b) uma vez iniciada a travessia de uma pista, os pedestres não deverão aumentar o seu percurso, demorar-se ou parar sobre ela sem necessidade.

artigo setenta Os pedestres que estiverem atravessando a via sobre as faixas delimitadas para esse fim terão prioridade de passagem, exceto nos locais com sinalização semafórica, onde deverão ser respeitadas as disposições deste Código.

Parágrafo único. Nos locais em que houver sinalização sema­fórica de contrôle de passagem será dada preferência aos pedestres que não tenham concluído a travessia, mesmo em caso de mudança do semáforo liberando a passagem dos veículos.

Reprodução de página da internet.

BRASIL. Lei número 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de Trânsito Brasileiro. Brasília, Distrito Federal: Presidência da República, 1997. Disponível em: https://oeds.link/CPovVV. Acesso em: 15 março 2022.

Etapa 1 Discutindo o texto

  1. Você já conhecia o Código de Trânsito Brasileiro (cê tê bê)?
  2. Qual é a principal função desse documento?
  3. Do que trata, especificamente, o trecho reproduzido?
  4. O documento remete ao âmbito privado, municipal, estadual ou federal?
  5. Um texto legal, como o Código de Trânsito Brasileiro, costuma ser estruturado em algumas partes específicas. Veja algumas delas, citadas na ordem em que são apresentadas.

A. Título.

B. Artigos.

C. Parágrafos.

D. Incisos.

E. Alíneas.

a) Que recursos gráficos sinalizam o título do “Capítulo quatro”?

  1. A identificação das partes do documento segue normas. O capítulo, por exemplo, é sinalizado por algarismos romanos. Quais sinalizações – abreviaturas, símbolos, numeração etcétera – são ­usadas nas demais partes?
  2. Com que finalidade um texto legal é estruturado dessa fórma?

Sabia?

Uma campanha na cidade de Santos (São Paulo), denominada Faixa Viva, propôs aos pedestres estender o braço para sinalizar sua travessia aos motoristas. A medida contribuiu para a diminuição de acidentes, sobretudo em locais sem semáforos. Essa campanha também ocorreu em outras cidades, como Sorocaba, no interior de São Paulo.

Fotografia. Faixa de pedestre branca com o entorno em vermelho. Entre duas faixas a informação: FAIXA VIVA.
Faixa Viva em uma rua da cidade de Sorocaba (São Paulo). Foto de 2015.
Respostas e comentários

1. Resposta pessoal. Ver comentário nas Orientações didáticas.

2. Organizar e orientar a circulação de veículos e de pessoas dentro do território nacional.

3. Das regras de trânsito, especificamente às destinadas a pedestres e condutores de veículos não motorizados.

4. O documento remete ao âmbito federal.

5a. O título foi apresentado em letras maiúsculas e está centralizado.

5b. B: Artigos: indicados pela abreviação “ artigo”, seguida de algarismos arábicos; C: Parágrafos: indicados pelo símbolo parágrafo, seguido por algarismos ordinais; D: Incisos: indicados pelos algarismos romanos; E: Alíneas: indicadas pelas letras minúsculas.

5c. Com a finalidade de organizar e hierarquizar as informações para que sejam compreendidas e de facilitar a consulta e a referência às suas partes.

Orientações didáticas

Questão 1 – No caso de respostas afirmativas, peça aos estudantes para compartilharem com os colegas em quais contextos eles tiveram contato com o Código. Lembramos que eles já entraram em contato com um trecho do documento no volume do 6º ano – mas alguns podem.

Sabia? – Convide os estudantes a acessar o portal da campanha “Faixa Viva”, realizada pela Prefeitura de Santos (São Paulo), disponível em: https://oeds.link/rB6rkT. Acesso em: 15 março 2022. Oriente uma discussão oral entre a turma sobre a eficiência dessa campanha. Leve os estudantes a refletir sobre os pontos positivos (como ampliar a consciência do pedestre acerca da importância de cuidar de sua segurança) e negativos (como acostumar os motoristas a não observar a faixa, mas sim os pedestres, o que causaria problemas, por exemplo, para um turista que desconhece a campanha) que ela pode apresentar. Se houver alguma campanha semelhante na cidade em que vivem, oriente-os a comentá-la e a estabelecer um paralelo com a “Faixa Viva”.

6. Releia o trecho a seguir.

três - nas interseções e em suas proximidades, onde não existam faixas de travessia, os pedestres devem atravessar a via na continuação da calçada, observadas as seguintes normas:

a) não deverão adentrar na pista sem antes se certificar de que podem fazê-lo sem obstruir o trânsito de veículos;

Versão adaptada acessível

Atividade 6.

O que "devem" e "não deverão", no trecho, indicam: proibição, possibilidade ou obrigatoriedade? Por que elas são importantes em um documento legal?

O que cada uma dessas expressões em destaque indica: proibição, possibilidade ou obrigatoriedade? Por que elas são importantes em um documento legal?

Etapa 2 Discussão de caso

Observe as fotografias a seguir.

Fotografia. Rua movimentada por pedestres e veículos. Pedestres atravessam na faixa e desviam de um carro parado sobre ela.
Motoristas param em cima da faixa de pedestres em Belo Horizonte (Minas Gerais). Foto de 2015.
Fotografia. Pedestre atravessando a rua fora da faixa de pedestres.
Pedestre atravessa fora da faixa no cruzamento da avenida Ipiranga com a São João, no centro de São Paulo (São Paulo). Foto de 2009.

Você diria que as fotografias registram situações de respeito às regras do Código de Trânsito Brasileiro? Discuta com os colegas. Depois, reflitam sobre as seguintes perguntas:

  • Como podemos no dia a dia fazer valer o respeito ao Código de Trânsito Brasileiro?
  • A quem cabe essa responsabilidade?
  • Como promover a conscientização da população para alertá-la para o respeito à lei?
  • Troque ideias com os colegas, apresentando seus argumentos e contra-argumentos e tomem notas no caderno.
Respostas e comentários

6. A expressão deve indica obrigatoriedade; já a expressão não deverão indica proibição. Elas são importantes porque destacam as condutas que o documento orienta.

Orientações didáticas

Etapa 2 – Na primeira fotografia apresentada, os estudantes devem observar que não há semáforo para os pedestres ou carros. Assim, os pedestres deveriam ter prioridade, mas os carros desrespeitam e param sobre a faixa. Na segunda imagem, os estudantes devem observar que, apesar de existir uma faixa de pedestre, um pedestre se arrisca atravessando fora dela.

Peça aos estudantes que discutam as questões propostas no livro. Após a discussão, convide-os a se manifestar um a um. Destaque a importância de ouvir e respeitar as ideias dos colegas e evitar repeti-las durante a discussão. Se preferir, a discussão dos casos e das perguntas pode ser feita coletivamente.

Caso seja necessário, peça aos estudantes que retomem o trecho do Código de Trânsito Brasileiro para esclarecer possíveis dúvidas. Finalize explicando que os documentos legais, embora tenham a função de normatizar as condutas que devem ser seguidas socialmente, nem sempre são respeitados. Explique também que eles são atualizados periodicamente para atender a novas demandas sociais e a novos contextos. Se considerar pertinente, apresente aos estudantes a linha do tempo com as mudanças pelas quais passaram as normas federais. Disponível em: https://oeds.link/sBMNxN. Acesso em: 17 março 2022.

Leitura 1 CHARGE

Quem resiste a um desenho relacionado a uma frase provocativa? Imagine uma leitura despretensiosa de jornal: passamos os olhos pelas páginas, lemos as manchetes, vemos as principais fotos. Deparamos, ­então, com a charge do dia, geralmente relacionada a um tema polêmico. Para muitos de nós, esse gênero textual é irresistível.

Leia a charge produzida pelo cartunista fluminense Arionauro.

Charge. CELULAR PODE DISTRAIR PEDESTRE AO ATRAVESSAR A RUA, DIZ PESQUISA.  Carros parados no farol. Um pedestre atravessa a rua olhando celular. Ele passa por cima do teto do carro da frente. Ao lado do poste com o farol um cachorro sentado.

Arionauro. Celular trânsito pedestre. 2018. uma charge. Disponível em: https://oeds.link/N6scUT. Acesso em: 27 abril 2022.

De quem é o texto?

Fotografia. Arionauro da Silva Santos, homem branco, rosto largo, cabelo escuro penteado para trás. Tem nariz grande e olhos escuros.
Foto de 2017.

Desde 1986, o cartunista e ilustrador Arionauro da Silva Santos (1968-) produz charges, tiras, cartuns, para jornais, revistas e sites de vários países, além de participar de livros de humor.

DESVENDANDO O TEXTO

  1. Observe os elementos que compõem a imagem.
    1. Que espaço está sendo representado?
    2. Quais são os usuários da via representados nessa charge?
    3. Descreva as expressões faciais das pessoas representadas.
    4. Na cena, a reação dos motoristas é explicada pela representação dos semáforos? Explique sua resposta.

É lógico!

A questão 1 orientou sua observação e o preparou para questões mais difíceis. Note o que precisou observar e repita a estratégia, com autonomia, na análise de outras charges e cartuns.

2. Observando os recursos verbais e não verbais da charge, conclua: em que contexto foi publicada a charge? Com qual objetivo?

COMO FUNCIONA UMA CHARGE?

  1. Releia a charge.
    1. Como foi empregado o recurso do exagero na composição da charge?
    2. Além do riso, que outra reação a situação exagerada procura produzir no leitor?
    3. Quais são as funções da linguagem verbal na charge?
Respostas e comentários

Desvendando o texto

1a. Uma rua, com uma faixa de pedestre e semáforos.

1b. Os motoristas e o pedestre.

1c. O pedestre está sorrindo, feliz; o motorista do primeiro carro está irritado e esbravejando; o segundo motorista está apreensivo e surpreso.

1d. Não. É possível notar que a luz vermelha está acesa para os motoristas e a verde para os pedestres; portanto, o pedestre deve seguir, como, de fato, ocorre. O problema está na maneira como ele o faz: atravessa a rua mexendo no celular e andando sobre um dos veículos.

2. Espera-se que os estudantes respondam que, provavelmente, a charge foi publicada em uma época em que havia altos índices de acidentes de trânsito envolvendo o uso de celulares, como sugere a legenda que menciona uma pesquisa feita sobre isso. A situação absurda retratada alerta para o risco que as pessoas correm e critica o comportamento irresponsável.

1a. O exagero aparece no fato de o pedestre estar tão distraído a ponto de subir no teto do carro sem perceber o que está fazendo.

1b. A reflexão sobre o uso do celular no trânsito.

1c. Associar a situação retratada ao contexto social e explicitar que o uso excessivo do celular não é um fato isolado, mas um fenômeno social.

Leitura 1

Bê êne cê cê em foco

cê gê: 1, 2, 3, 4, 6 e 7.

cê e éle : 1, 2, 3, 4 e 5.

cê e éle pê : 1, 2, 3, 6 e 7.

Habilidades: ê éfe seis nove éle pê zero três, ê éfe seis nove éle pê zero cinco e ê éfe oito nove éle pê zero três.

Orientações didáticas

Explique aos estudantes que a charge está firmemente relacionada ao contexto a que se refere. Por exemplo, em países como Portugal e Alemanha, em que as faixas são respeitadas, uma charge sobre o desrespeito a elas não faria sentido ou, pelo menos, não geraria o humor pretendido.

A charge em questão foi publicada em uma época em que o Código de Trânsito Brasileiro, além de se tornar mais rígido para os motoristas, devido ao alto índice de acidentes provocados em grande parte pelo uso do celular, cogitou também aplicar multas a ciclistas e até a pedestres que cometessem infrações, como atravessar a rua fora da faixa. No entanto, em 2019, o Conselho Nacional de Trânsito (conatran) revogou a lei que previa multa a pedestres e ciclistas.

Caso queira ampliar a discussão sobre o uso do celular por motoristas, leia para os estudantes a seguinte matéria: Multas por uso de celular ao volante crescem 33% em 2018. Disponível em: https://oeds.link/LXy3Ny. Acesso em: 22 fevereiro 2022. Na reportagem, comenta-se que mexer no celular enquanto dirige é tão perigoso quanto dirigir sob efeito de álcool e aumenta em quatrocentas vezes o risco de gerar um acidente.

  1. Reflita sobre o tema abordado na charge. É correto afirmar que o chargista Arionauro revela sua opinião? Justifique sua resposta.
  2. A charge costuma circular, principalmente, em jornais impressos e on-line.
    1. O que torna as charges semelhantes às notícias, que também ­circulam em jornais?
    2. O que torna o conteúdo das charges diferente do exposto nas notícias?
    3. Leia alguns títulos de matérias que foram publicados na mesma época em que a charge circulou. Qual deles tem uma relação mais direta com a charge publicada?

Um em cada cinco motoristas no Brasil admite uso do celular ao dirigir, diz pesquisa

gê um, [sem local], 24 junho 2019. Disponível em: https://oeds.link/IruQDY. Acesso em: 22 fevereiro 2022.

Brasileiro é um dos campeões em tempo conectado na internet

gê um, Em movimento, [sem local], 22 outubro 2018. Disponível em: https://oeds.link/LSIt8t. Acesso em: 22 fevereiro 2022.

Pedestres de olho no celular ignoram a faixa com mais frequência, diz estudo

BALAGO, Rafael. Folha de São Paulo, São Paulo, 13 julho 2018. Disponível em: https://oeds.link/1UvMg9. Acesso em: 22 fevereiro 2022.

d. Considerando a charge e os títulos das notícias, o que você pode concluir sobre a importância do Código de Trânsito Brasileiro?

Da observação para a teoria

As charges são compostas, geralmente, de um quadro único e ­associam várias linguagens: palavras, imagens, diferentes tipos de balões de fala, cores e tamanhos de letras variados etcétera Costumam apresentar desenho simplificado, apenas com pormenores necessários à caracterização de personagens e ambientes, para que seja possível reconhecer a ­figura ­pública, o comportamento ou o fato satirizados. Dois recursos são ­comuns na charge: o ridículo e o exagero, que enfatizam defeitos ou erros e ­ampliam o humor.

Respostas e comentários

2. Sim. Ao construir uma situa­ção absurda, o chargista faz uma crítica ao uso do celular em situações inadequadas.

3a. As charges, como as notícias, referem-se a fatos recentes que interessam à sociedade.

3b. Diferentemente das notícias, as charges revelam uma crítica e expressam um posicionamento particular, além de muitas vezes se pautarem pelo humor.

3c. O terceiro título, pois ele se refere diretamente à distração dos pedestres em relação à faixa quando estão usando celular.

3d. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes concluam que é necessário que haja uma regulamentação do trânsito e que ela seja, de fato, aplicada.

Orientações didáticas

Como funciona uma charge – Questão 3c – Os estudantes devem observar que o primeiro título se refere aos motoristas, não aos pedestres. O segundo fala dos usuários de internet de fórma generalizada, não no contexto do trânsito.

Se eu quiser aprender MAIS

A intertextualidade

Como você viu, o ridículo e o exagero são recursos importantes na construção das charges. Ao lado deles está a intertextualidade, que ocorre pela referência implícita ou explícita a outros textos.

A intertextualidade exige um leitor com conhecimento prévio e é um recurso usado também na produção de outros gêneros textuais. Vamos estudá-la nas atividades desta seção.

1. Observe a charge do cartunista paranaense Paixão, publicada em um jornal do Paraná.

Charge. Paródia do quadro O Grito, de Edvard Munch. Pessoa com tom de pele esverdeado, careca, com olhos arregalados e uma mão de cada lado do rosto. Usa roupas escuras e está com a boca aberta. Atrás dela, silhuetas de duas pessoas em frente a prateleiras de supermercado com produtos. Entre elas, dois carrinhos de compras vazios. Ao fundo, traçados curvos em tons claros, em preto e variações de vermelho formam o céu, o horizonte e um rio.

PAIXÃO. Gazeta do Povo, Curitiba, 27 fevereiro 2015. uma charge.

Sabia?

A recriação de uma obra com a intenção de provocar um efeito cômico é chamada de paródia.

A charge vale-se de uma relação de intertextualidade com o famoso quadro do pintor norueguês eduard mãntch (1863-1944), reproduzido a seguir. Observe-o e responda às questões propostas.

Pintura. O Grito. Silhueta de uma pessoa com tom de pele esverdeado, careca, com olhos arregalados e uma mão de cada lado do rosto. Usa roupas escuras e está com a boca aberta. Ela está sobre uma ponte. Ao fundo, silhuetas de duas outras pessoas na ponte. Traçados curvos em tons claros, em azul e variações de vermelho formam o céu, o horizonte e um rio que passa embaixo da ponte.

mãntch eduard. O grito. 1893. Óleo sobre tela, têmpera e pastel, 91 centímetros por 73,5 centímetros.

A tela tem como tema a sensação de desespero. O estado interno da figura humana estilizada se reflete na distorção da paisagem, ­ganhando ênfase.

Biblioteca cultural

O Museu mãntch fica em Oslo, na Noruega. Você pode acessar o site dessa instituição e conhecer outras obras do famoso pintor de O grito em: https://oeds.link/UtzpM8. Acesso em: 15 março 2022.

Respostas e comentários

Se eu quiser aprender mais

Bê êne cê cê em foco

cê gê: 1, 2, 3, 4 e 9.

cê e éle : 1, 2, 3 e 5.

cê e éle pê : 1, 2, 3, 7 e 9.

Habilidades: ê éfe oito nove éle pê três dois, ê éfe oito nove éle pê três três e ê éfe oito nove éle pê três seis.

Orientações didáticas

Uma das dimensões que deve ser considerada no tratamento das práticas leitoras é a relação entre os textos. Nesta seção, é estudada a intertextualidade. O objetivo não é apresentar conceitos, mas desenvolver habilidades ligadas à percepção dos diferentes posicionamentos em jogo no diálogo entre textos e dos efeitos produzidos pelas referências menos ou mais explícitas.

  1. Que elementos permitem ao leitor relacionar a charge a esse quadro?
  2. Explique de que maneira a charge altera a cena do quadro.
  3. O que o chargista pretendia com sua imagem?
  4. Que efeito o chargista obteve com o uso da intertextualidade? Como o conseguiu?
  5. Em sua opinião, o recurso da intertextualidade prejudica a compreensão da charge pelos leitores? Por quê?

Desafio da linguagem

Escreva uma análise da charge, associando os elementos que você estudou nos itens a a d. Siga o roteiro:

  • Identifique o tema da charge e mencione o uso da intertextualidade como fórma de construí-lo.
  • Mostre como foram construídas a semelhança e a diferença em relação ao quadro.
  • Descreva como são produzidos o humor e a crítica na charge.
  • Preste atenção na segmentação e no uso das vírgulas no interior das orações.

2. Leia uma fábula bem conhecida.

A cigarra e as formigas

Era inverno e as formigas estavam secando o trigo encharcado, quando uma cigarra faminta lhes pediu alimento. As formigas lhes disseram: “Por que, no verão, você também não recolheu alimento?”. E ela: “Mas eu não fiquei à toa. Ao contrário, eu cantava canções melodiosas!”. Elas tornaram a rir: “Mas, se você flauteava no verão, dance no inverno!”.

Ilustração. Cigarra sorridente, usando chapéu. Está sentada cantando e tocando violão. Ao redor dela duas formigas carregando grandes folhas. À frente uma formiga baixada.

ESOPO. Fábulas completas. Tradução Maria Celeste C. dezóti. São Paulo: Cosac Naify, 2013. página 154.

  1. As personagens dessa fábula simbolizam quais ações humanas?
  2. Releia a última fala das formigas. Como elas reagem ao pedido da cigarra? Por quê?
  3. Qual é o ensinamento dessa fábula? Você conhece outras versões dela, com outros ensinamentos?
Respostas e comentários

1a. A charge utiliza as mesmas figuras humanas e a mesma distorção da paisagem.

1b. A charge insere a cena no espaço de um supermercado.

1c. Denunciar a alta de preços.

1d. Ele obteve um efeito de humor ao associar uma situação do dia a dia – a percepção de que os preços estão subindo muito – a uma cena tradicionalmente relacionada ao desespero profundo.

1e. Resposta ­pessoal. Ver comentário nas Orientações didáticas.

2a. A formiga simboliza a ação do trabalho árduo e contínuo e a cigarra simboliza tanto o lazer como o trabalho artístico (ambas as interpretações são aceitas).

2b. Elas reagem com ironia e crueldade, sem a intenção de ajudá-la, pois não concordam com a postura da cigarra de tocar flauta durante o verão.

2c. Sugestão: O esforço do trabalho é recompensado; quem não planeja o futuro não sobrevive. Resposta pessoal. Há versões que valorizam a ação da cigarra, relacionada à expressão artística e ao entretenimento como um trabalho necessário à sociedade.

Orientações didáticas

Questão 1e – Os estudantes devem perceber que é possível compreender a charge mesmo sem conhecer o quadro, porque a expressão da figura é suficiente para revelar o horror diante da alta de preços. Porém, o humor é acentuado quando se percebe a brincadeira entre essa obra tradicional – que é símbolo do desespero profundo – e uma vivência corriqueira.

Desafio da linguagem – Sugestão: Para tratar da reação dos consumidores diante da alta de preços, o chargista Paixão valeu-se da intertextualidade com a icônica tela O grito, de eduard mãntch. Assim como na obra, Paixão desenhou uma figura humana distorcida e uma paisagem deformada, mas mudou seu contexto ao inseri-las no cenário de um supermercado. A sugestão do sentimento de desespero desloca-se, assim, para uma situação corriqueira e resulta em humor e crítica.

Organize duplas para a avaliação. Peça aos estudantes que observem especialmente a segmentação dos períodos, o uso da vírgula e a utilização de conjunções e outros articuladores textuais para criar períodos completos. Enquanto a avaliação é feita, escolha uma ou duas produções que você possa apresentar como exemplo de boa realização do que foi solicitado.

Questão 2 – Comente com os estudantes que essa é a versão resumida da fábula “A cigarra e a formiga”, de jôn de la fontéin, publicada pela primeira vez em 1668.

3. Leia a seguir o poema “Fábula da fábula”, do escritor português Miguel Torga (1907-1995), que dialoga com a fábula “A cigarra e as formigas”.

Fábula da fábula

Era uma vez

Uma fábula famosa,

Alimentícia

E moralizadora,

Que, em verso e prosa,

Toda a gente

Inteligente

Prudente

E sabedora

Repetia

Aos filhos,

Aos netos

E aos bisnetos.

À base duns insetos

De que não vale a pena fixar o nome,

A fábula garantia

Que quem cantava

Morria

De fome.


E, realmentereticências

Simplesmente,

Enquanto a fábula contava,

Um demônio secreto segredava

Ao ouvido secreto

De cada criatura

Que quem não cantava

Morria de fartura.

Ilustração. Formiga carregando uma grande folha nas costas. Cigarra sentada, usando chapéu e tocando violão. Moça sentada conversando com um menino. Ele está com uma das mãos na cintura.

TORGA, Miguel. Fábula da fábula. escritas ponto órgui. [sem local], [anos 2000]. Disponível em: https://oeds.link/xTxDZ6. Acesso em: 23 fevereiro 2022.

  1. A partir de quais elementos do texto é possível estabelecer a ­relação com a fábula “A cigarra e as formigas”?
  2. Por que o título desse poema é “Fábula da fábula”?
  3. Qual é a moral da história no poema “Fábula da fábula”? Explique sua resposta.
  4. Selecione um trecho do poema que comprove a resposta dada no item anterior e explique sua escolha.

Biblioteca cultural

Adolfo Correia da Rocha (1907-1995), mais conhecido pelo pseudônimo Miguel Torga, foi um importante poeta, contista, memorialista e ­cordelista ­português, tendo publicado mais de cinquenta livros. Você pode conhecer mais sobre Miguel Torga no site da Biblioteca Nacional de Portugal: https://oeds.link/RRsdAb. Acesso em: 2 abril 2022.

Respostas e comentários

3a. O poema afirma se tratar de uma fábula famosa, protagonizada por insetos, e que “A fábula garantia/Que quem cantava/Morria/De fome”, uma alusão à cigarra.

3b. Sugestão: Porque ele explora uma fábula e traz um novo ensinamento a partir dela, assim temos uma fábula originada de outra fábula.

3c. Sugestão: O poema faz uma crítica à moral da fábula e à visão de que somente quem trabalha de modo convencional e se dedica às provisões e ao acúmulo sobrevive. Para o eu lírico, quem trabalha também morrerá. Assim, a moral da história poderia ser: Cantando ou não cantando, todos terão o mesmo destino; Quem não canta também morre.

3d. Sugestão: O verso “E, realmentereticências” confirma que quem não trabalha vai morrer, e deve ser entendido considerando a continuidade do poema, que desenvolve a ideia apontando que a morte não se dá apenas no caso de quem não trabalha: “Que quem não cantava/Morria de fartura.”.

Orientações didáticas

Questão 3c – Aceite outras leituras que sejam pertinentes, inclusive a que aponta que o excesso de preocupação com bens ou com o futuro, sem o espaço para a arte ou o lazer, também provoca a morte, real ou simbólica.

4. Leia a seguir uma notícia sobre uma espécie de formiga.

De acordo com a ciência, as formigas são “preguiçosas”

Estudo feito por cientistas americanos revelou que no formigueiro da espécie ‘teminotóraquis rugatulus’ apenas 2,6% dos insetos trabalham duro para manter o bem-estar da colônia, enquanto 71,9% passa mais da metade do dia sem fazer nada

Uma das fábulas mais conhecidas em todo o mundo é a da formiga e da cigarra. Na história, enquanto a formiga passa incansáveis horas trabalhando para guardar comida para o inverno, a cigarra fica cantando e dançando. Graças a essa narrativa da cultura popular, a formiga ganhou a fama de trabalhadora incansável. Mas, de acordo com a ciência, é preciso rever essa ideia. Um estudo feito por uma equipe de cientistas da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, com formigas da espécie teminotóraquis rugatulus mostrou que apenas 2,6% dos indivíduos do formigueiro trabalham o tempo todo, enquanto um quinto delas não trabalha. A maior parte das formigas, 71,9%, passa mais da metade do dia sem fazer nada.

reticências

DE ACORDO com a ciência, as formigas são “preguiçosas”. Veja, São Paulo, 13 outubro 2015. Disponível em: https://oeds.link/CMTRgB. Acesso em: 23 fevereiro 2022.

  1. A fábula da formiga e da cigarra foi escrita pela primeira vez no século dezessete, por La Fontéin, mas possivelmente ela já era contada oralmente. Em sua opinião, como se deu a escolha das personagens da fábula?
  2. Os dados apresentados na notícia confirmaram a ideia, presente na fábula, de que formigas são trabalhadoras? Justifique.
  3. Por que, na sua opinião, o autor do artigo fez referência à fábula?

5. Leia a tirinha a seguir.

Tirinha. Quadrinho 1: A CIGARRA E A FORMIGA (TEXTO PARA CIGARRAS). Cigarra com os olhos desproporcionais, magra com duas asas. ERA UMA VEZ UMA CIGARRA QUE ADORVA TOCAR... Quadrinho 2: ... E CONTRATOU UMA FORMIGA PARA CARREGAR O SEU PIANO. Silhueta de uma formiga carregando nas costas um enorme piano pela floresta. À frente dela cigarra.

Níquel Náusea. [2010 década certa]. uma tirinha.

  1. Releia o título da tira. Por que é dito que o texto é para cigarras?
  2. Por que a tira começa com a expressão Era uma vez?
  3. Imagine que uma pessoa que não conhece a fábula original está lendo essa tira. Será que vai achar a tira engraçada? Justifique.
Respostas e comentários

4a. É possível que a escolha das personagens tenha surgido da observação trivial da natureza, pois as formigas são vistas frequentemente carregando e armazenando alimentos, e as cigarras, cantando. No entanto, a atribuição de um juízo de valor a essas características nasce de valores morais da sociedade.

4b. Não. A pesquisa apresentada na notícia sobre uma espécie de formigas demonstra o contrário.

4c. Resposta pessoal. Ver comentário nas Orientações didáticas.

5a. Porque, na fábula original, as formigas punem a cigarra por cantar, enquanto elas trabalham, mas, nesta tira, a cigarra subverte a história a seu favor, fazendo com que uma formiga trabalhe para ela. Dessa fórma, o desfecho é favorável às cigarras.

5b. Porque é uma expressão que marca a indeterminação do tempo, muito comum em textos narrativos, como as fábulas.

5c. Resposta pessoal. Provavelmente não, pois o humor está na reviravolta da história, no fato de a cigarra subverter a lógica original e desconstruir a moral da fábula.

Orientações didáticas

Questão 4b – É importante ressaltar que a pesquisa faz um recorte: outras espécies de formiga podem apresentar outros tipos de comportamento.

Questão 4c – É esperado que os estudantes mencionem que a intertextualidade contribui para tornar o artigo mais interessante ao associar o tema, bastante específico, a uma concepção sobre o comportamento das formigas que faz parte do imaginário, em grande parte devido à famosa fábula.

Comente com os estudantes que as fábulas revelam valores morais das sociedades que criam ou transmitem essas histórias. Pergunte a eles: como os dados científicos podem ajudar a refletir sobre esses valores? Relembre-os de que os valores de cada sociedade mudam de acordo com cada período histórico-social.

Desafio da linguagem

Nesta atividade, você e um colega vão produzir uma paródia do poema “Quadrilha”, do poeta mineiro Carlos Drumôn de Andrade (1902-1987). Conheça-o.

Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

que não tinha entrado na história.

Ilustração. Um rapaz está deitado de bruços na grama com a cabeça apoiada nas mãos e os joelhos dobrados, pés para cima. Diante de seu rosto, há um coração. Ele olha para a frente, onde quatro mulheres e três homens aparecem em uma imagem vertical, alguns vistos de corpo inteiro, outros do tronco ou do peito para cima. A primeira mulher, no alto, está com os olhos fechados, o queixo um pouco abaixado e os braços cruzados. As demais figuras estão alternadas: uma mulher, um homem, uma mulher, e assim por diante. Ao redor deles há corações.

ANDRADE, Carlos Drumôn. Quadrilha. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002. página 26. cópiráiti granha drumon.

Vejam algumas dicas para a produção:

  • Troquem os personagens, as ações, o contexto ou outro elemento com o objetivo de produzir humor ou crítica.
  • O poema retoma a natureza da quadrilha, uma dança típica das festas juninas, caracterizada pela alternância de parceiros. Essa natureza sugere alguma ideia? E a palavra quadrilha, com seus vários significados?
  • O poema usa orações subordinadas para sugerir um efeito de encadeamento. Como vocês vão explorá-lo?
  • O poema mostra uma visão pessimista do amor, afinal, ­apenas quem “não amava ninguém” teve sucesso. Essa lógica será mantida no poema ou vocês vão subvertê-la?
  • Escrevam sua paródia e compartilhem com a turma.

Investigue

A famosa tela Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, serviu de mote para a produção de inúmeras obras intertextuais. Duas bastante conhecidas são as obras produzidas por Fernando Botero e Vik Muniz. Pesquise uma delas na internet. Anote o título, o nome do artista e o ano da produção e faça um breve comentário sobre as modificações propostas pelo artista. Se possível, imprima uma reprodução da obra e cole-a junto dos dados.

Respostas e comentários

Orientações didáticas

Desafio da linguagem – Convide os estudantes a ler as paródias. No final, destaque as paródias que construíram contextos interessantes com as modificações, como retomar uma obra cinematográfica ou remeter a uma situação da vida política (corrupção, por exemplo) ou social (fofoca, por exemplo).

Investigue – É esperado que os estudantes mencionem, em seus comentários, que (1) Mona Lisa (1977), de Fernando Botero, apresenta a principal característica do estilo do autor – o trabalho com o volume, as fórmas “rechonchudas”; (2) Mona Lisas (1999), de Vik Muniz, foi feita com geleia de morango e pasta de amendoim, seguindo a tendência do artista de produzir arte com material inusitado e “não artístico”. A obra foi exposta inicialmente no Masp, em São Paulo, e esteve em várias exposições internacionais, reproduzida em fotografias.

Se desejar, amplie a atividade. A busca livre de imagens da Mona Lisa na internet leva a muitos trabalhos interessantes, que podem motivar análises comparativas produtivas. Entretanto, os resultados de busca podem apresentar imagens que não consideramos pertinentes à situação escolar e, por isso, sugerimos a pesquisa sob sua supervisão e mediação. Use uma ferramenta de busca na internet e vá projetando apenas as imagens adequadas. Releituras da Mona Lisa aparecem em produções de Mauricio de Sousa, em peças publicitárias etcétera

Falando sobre a NOSSA LÍNGUA

Pontuação

Você tem estudado a importância da pontuação nos textos escritos para uma comunicação clara e sem mal-entendidos. As palavras e as orações que formam os períodos organizam-se segundo relações de dependência, as quais, na fala, são expressas em unidades melódicas. A pontuação tem a função de organizar essas relações no texto escrito.

Vamos, agora, retomar alguns casos de emprego da vírgula, do travessão, dos dois-pontos e dos parênteses.

COMEÇANDO A INVESTIGAÇÃO

Releia a charge de Arionauro estudada anteriormente e conheça uma nova charge, produzida por Junião. Depois, responda às questões.

Charge. CELULAR PODE DISTRAIR PEDESTRE AO ATRAVESSAR A RUA, DIZ PESQUISA.  Carros parados no farol. Um pedestre atravessa a rua olhando celular. Ele passa por cima do teto do carro da frente. Ao lado do poste com o farol um cachorro sentado.
Charge. Um homem com semblante assustado e um papel na mão pergunta: POR QUE A CONTA DE LUZ SUBIU DE NOVO?! Atrás dele duas caveiras com sobretudo preto e uma foice. No sobretudo de uma está escrito MUDANÇAS CLIMÁTICAS e no sobretudo da outra está escrito DESMATAMENTO. Uma delas diz: SABE DE NADA INOCENTE!

JUNIÃO. [Sem título]. [2010 década certa]. uma charge.

  1. Observe a legenda da primeira charge. Haveria alguma consequência se a vírgula fosse retirada do texto? Explique.
  2. Que sinal poderia ser empregado no trecho que antecede a vírgula para caracterizá-lo como uma citação?
  3. Observe, agora, a pontuação empregada na segunda charge e justifique a combinação de sinais na fala do rapaz.
  4. Que recursos o chargista empregou para responder à pergunta do rapaz?
  5. O humor da charge é produzido, em parte, pela frase “Sabe de nada, inocente!”, que costuma ser usada para indicar que alguém é tolo, incapaz de compreender algo. Como a pontuação contribui para o efeito dessa frase?

Como você pode perceber, o ponto de interrogação e o ponto de exclamação, além de separarem os períodos, produzem efeitos expressivos. Na maioria das vezes, entretanto, os sinais de pontuação cumprem um papel ligado à organização do período, como faz a vírgula, na segunda charge, ao isolar o vocativo inocente, deixando, assim, mais claro o sentido.

Nesta seção, você vai estudar os usos de alguns sinais de pontuação.

Respostas e comentários

1. Espera-se que os estudantes percebam que o período ficaria confuso, porque não haveria separação entre a citação, que ocupa a parte anterior à vírgula, e a oração que a contextualiza.

2. O texto poderia ser destacado por aspas.

3. A combinação do ponto de exclamação e do ponto de interrogação contribui para intensificar a expressão do espanto.

4. O chargista criou dois personagens usando a tradicional representação da morte. Na identificação de ambos, evidente nas palavras escritas nas vestes, apresenta os culpados pelo aumento da conta de energia elétrica: o desmatamento e as mudanças climáticas.

5. O ponto de exclamação reforça o vocativo inocente, criando um tom sarcástico.

Falando sobre a nossa língua

Bê êne cê cê em foco

cê gê: 1, 2, 3 e 4.

cê e éle : 1, 2, 3 e 5.

cê e éle pê : 1, 2, 3, 7 e 9.

Habilidade: ê éfe seis nove éle pê cinco seis.

Tópicos trabalhados na parte de linguagem deste capítulo.

Pontuação.

Orientações didáticas

Nesta coleção, desde o volume do 6º ano, estamos promovendo atividades com vistas a consolidar a habilidade de segmentar períodos. Nos boxes Desafio da Linguagem são frequentes as orientações que determinam os conteúdos dos períodos, contribuindo para reforçar a compreensão de que contêm ideias completas. Na correção, oferecemos modelos e orientamos você a verificar se as estruturas sintáticas estão completas.

Neste capítulo, avançamos no estudo da pontuação, especialmente do emprego da vírgula, que já vem sendo tratado e será, agora, alvo de sistematização. Estudamos, também, sinais que, embora presentes nos textos lidos e explorados em atividades, nem sempre são mobilizados nas produções dos estudantes. Pretendemos, com a explicitação das funções dos parênteses, do travessão e dos dois-pontos, estimular esse uso consciente e produtivo.

Esclarecemos que a exposição das relações entre aspectos melódicos e rítmicos dos enunciados e a pontuação, bem como das funções dela nas estruturações semântica e sintática do texto escrito, é complexa, mesmo para o 9º ano. Por isso, optamos por uma apresentação simplificada.

Biblioteca do professor

BECHARA. Evanildo. Pontuação. ín: Gramática escolar da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. páginas seiscentos e cinquenta e quatro e seiscentos e cinquenta e cinco.

Se desejar ler sobre a pontuação, sugerimos a introdução desse capítulo, o qual pode contribuir com a compreensão de alguns princípios gerais. Na descrição de cada sinal de pontuação, esses princípios ganham particularidades e aprofundamento.

Vírgula, travessão, dois-pontos e parênteses

Leia, a seguir, algumas estrofes do poema “Notícia da manhã”, do poeta amazonense Thiago de Mello.

Notícia da manhã

Por verdadeira, a manhã

vai chamando outras manhãs

sempre radiosas que existem

(e às vezes tarde despontam

ou não despontam jamais)

dentro dos homens e das coisas:

na roupa estendida à corda,

nos navios chegando,

nas torres das igrejas,

nos pregões dos peixeiros,

na serra circular dos operários,

nos olhos da moça que passa, tão bonita!

A manhã está no chão, está nas palmeiras,

está no quintal dos subúrbios,

está nas avenidas centrais,

está nos terraços dos arranha-céus.

(Há muita, muita manhã

no menino; e um pouco em mim.)

reticências

E de repente a manhã

— manhã é céu derramado,

é claridão, claridão —

foi transformando a cidade

numa praça imensa praça,

e dentro da praça o povo

o povo inteiro cantando,

dentro do povo o menino

me levando pela mão.

Ilustração. À frente um navio navegando nas ondas do mar. Atrás dele, em terra firme, uma rua passando em frente a um aglomerado de casas. Atrás delas muitas nuvens. Uma pessoa está sentada no teto da construção mais alta, olhando para o sol parcialmente escondido atrás das nuvens.

MELLO, Thiago de. Vento geral (1951-1981): doze livros de poemas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984.

Biblioteca cultural

Capa de livro. Fundo azul com trechos coloridos na parte superior e inferior. No centro o título e outras informações.

Thiago de Mello (1926-2022), além de poeta, foi um importante jornalista e tradutor brasileiro. Em seu livro de poemas Os estatutos do homem, usa elementos de composição típicos dos textos jurídicos para abordar temas como a verdade, a esperança e a vida.

Com uma qualidade poética que encantou leitores brasileiros e estran­geiros, Thiago de Mello trata do efeito da manhã, que, no­ ­contexto do poema, desperta a coragem, a alegria e o movimento de recomeço.

Podemos observar, na primeira estrofe reproduzida, que os efeitos da manhã se espalham. Após dizer que está "dentro dos homens e das coisas", o eu lírico enumera as fórmas como ela se manifesta, produzindo, com a lista de elementos, a impressão de multiplicidade.

Observe como a enumeração é construída nestes versos:

dentro dos homens e das coisas:

na roupa estendida à corda,

nos navios chegando,

nas torres das igrejas,

nos pregões dos peixeiros,

na serra circular dos operários,

nos olhos da moça que passa, tão bonita!

Essa enumeração é introduzida por dois-pontos e tem seus componentes, expressões com a mesma função sintática (são adjuntos adverbiais), separados por vírgulas. Note que falta a conjunção e, que, costumeira­mente, antecede o último item; com isso, a sequência parece não encerrar e, até mesmo, reforçar a ideia de que os efeitos da manhã se espalham.

Há, no entanto, certa inquietação. Observe o uso que o poeta faz dos parênteses.

vai chamando outras manhãs

sempre radiosas que existem

(e às vezes tarde despontam

ou não despontam jamais)

Com os parênteses, separa um comentário, no qual acrescenta uma particularidade ao processo que descreve. A manhã, na verdade, não chega igual para todos: não vem para alguns e vem tarde para outros.

Ainda assim, é o tom otimista que prevalece, graças à força da manhã. Veja essa metáfora marcante na última estrofe:

— manhã é céu derramado,

é claridão, claridão —

O uso dos travessões isola o trecho e, com isso, ­enfatiza-o. Nessa estrofe, já não há mais os parênteses com suas observações tristes; a ­manhã parece tomar a todos, incluindo o eu lírico, conduzido pelo menino em quem "há muita, muita manhã".

Como você pode perceber, os sinais de pontuação têm funções específicas. Conhecê-las amplia as possibilidades de se produzir textos mais claros e organizados, principalmente quando é necessário construir sentidos mais complexos.

Nas atividades a seguir, você conhecerá outros usos desses sinais e poderá sistematizar informações importantes.

INVESTIGANDO MAIS

1. Observe o emprego da vírgula no trecho a seguir.

Conheça Lucas, a aranha carismática que provoca ataques de fofura

Vídeo animado do bichinho atingiu mais de 1 milhão de visualizações no YouTube apenas três dias depois da postagem

O youtuber jochuá islaice fez uma animação de aranha tão fofa que até rôni uísli ia gostar! O aracnídeo tem oito perninhas peludinhas e olhos bem redondos – similares ao do Gato de Botas, do filme Schrék, e do bichinho mort, de Madagascar.

islaice é responsável pelo design, modelação, manipulação, iluminação e edição de um curta de 20 segundos que está disponível em seu canal no YouTube.

No vídeo, o bicho aparece andando sobre uma mesa e diz: “Oi, meu nome é Lucas. Tenho muitos globos oculares”. O resto da frase não é perceptível, e logo se despede. “Tchau, tchau.”

Ah, Homem-Aranha, não precisa ficar com ciúmes. Ainda temos espaço no coração para você!

CONHEÇA Lucas, a aranha carismática que provoca ataques de fofura. Revista Galileu, São Paulo, 9 novembro 2017. Disponível em: https://oeds.link/C1IkQV. Acesso em: 10 fevereiro 2022.

  1. Por que a aranha criada pelo youtuber mereceu ser assunto de uma notícia?
  2. Suponha que o leitor não saiba quem é rôni uísli. Quais são os dois possíveis sentidos que poderia atribuir à oração “até ia gostar!”? Explique sua resposta.
  3. A vírgula é usada para separar elementos de uma enumeração, isto é, termos apresentados em série. Transcreva o trecho em que ocorre a enumeração.
  4. No título, a vírgula separa o aposto, que aparece depois dela. Qual é a função de um aposto?
  5. Copie a oração que exemplifica o uso da vírgula separando um adjunto adverbial de lugar antecipado.
  6. A linha fina é composta de um período bem longo, e os termos sintáticos que o compõem, nessa ordem, não poderiam ser separados por vírgula. Caso o produtor do texto desejasse criar uma pausa na leitura, o que poderia fazer?
  7. Agora, em seu caderno, faça uma lista com itens, sistematizando tudo o que foi dito sobre o uso da vírgula desde o início da seção.
Versão adaptada acessível

Atividade 1, itens e e g.

e) Escreva a oração do texto que exemplifica o uso da vírgula separando um adjunto adverbial de lugar antecipado.

g) Agora, faça uma lista com itens, sistematizando tudo o que foi dito sobre o uso da vírgula desde o início da seção.

Respostas e comentários

1a. Porque o curta que protagoniza teve muitas visua­lizações na internet em pouquíssimo tempo.

1b. O leitor pode entender que a animação é tão fofa que até rôni uísli poderia gostar, o que sugere que ele é exigente em relação às animações a que assiste, ou que a aranha é tão fofa que mesmo rôni uísli, que não gosta de aranhas, poderia gostar.

1c. “islaice é responsável pelo design, modelação, manipulação, iluminação e edição de um curta reticências.”

1d. Aposto é o termo ou expressão que esclarece ou explica um termo anterior.

1e. “No vídeo, o bicho aparece andando sobre uma mesa.”

1f. Poderia antecipar o adjunto adverbial e separá-lo com vírgula: Apenas três dias depois da postagem, vídeo animado do bichinho atingiu mais de 1 milhão de visualizações no YouTube.

1g. Sugestão: A vírgula é empregada para separar termos que têm a mesma função sintática e estão enumerados, isolar o vocativo, isolar o aposto, separar o adjunto adverbial que está antecipado.

Orientações didáticas

Investigando mais – Questão 1b – Pergunte aos estudantes se eles sabem quem é rôni uísli. Trata-se de um personagem das histórias protagonizadas por Réui Póter que tem muito medo de aranhas.

Questão 1c – Explique aos estudantes que, antes do último termo da enumeração, pode ser usada a conjunção e ou a vírgula. Peça a eles que comparem o uso de e nesta enumeração com a ausência dele no poema de Thiago de Mello (página 160). Eles devem observar que a enumeração sem a conjunção obtém, como já comentado, um efeito poético, pois parece sugerir que não são apenas aqueles os elementos em que se manifesta a manhã.

Questão 1f – Analise com os estudantes a composição sintática dessa linha fina para mostrar que poderia haver a inserção da vírgula desde que o adjunto adverbial fosse deslocado. No entanto, reforce que não há erro na escrita de um período longo, sem vírgula, como ocorre no texto da linha fina. Aproveite para comentar que a vírgula não corresponde a uma “pausa para respirar”, como entendem algumas pessoas.

Questão 1g – Verifique se os estudantes identificaram os quatro itens. Complete a informação sobre o adjunto adverbial, explicando que é separado por vírgula quando está no início ou no meio da oração e, em geral, tem três ou mais palavras. Ele não é separado quando está no final de uma oração. Peça aos estudantes que incluam uma observação: a vírgula não deve separar o sujeito e o verbo e o verbo e seus complementos.

2. Veja, agora, esta postagem no blog do jornalista esportivo Juca quifúri, que fala principalmente sobre o futebol brasileiro.

Quatro minutos depois, pela direita, foi a vez de Dudu ver Tadeu impedir o 1 a 1. Mas o empate amadurecia. Aos trinta e seis’, Zé Rafael fez cruzamento bisonho em nova jogada que poderia ser fatal. “Vamos virar Porco”, incentivava a torcida palmeirense no estádio, aparentemente em maioria.

quifúri, Juca. Palmeiras vira com justiça como Felipão não conseguiu. Blog do Juca quifúri uól, 7 setembro 2019. Disponível em: https://oeds.link/N4Dm9e. Acesso em: 1º março 2022.

  1. Embora a postagem tenha ocorrido após o jogo, Juca quifúri usou recursos para tornar mais viva a narrativa, como se o leitor pudesse acompanhar os eventos enquanto ocorriam. Como esse efeito foi obtido?
  2. A fórma como foi escrita a oração “Vamos virar Porco” resulta em um sentido indesejado. Qual é o sentido de virar nesse contexto? Qual é o sentido pretendido?
  3. Reescreva a oração de modo a obter o sentido desejado.
  4. Analise sintaticamente o termo porco na oração original e em sua reformulação. Em seguida, explique por que a vírgula deve ser empregada.

3. Leia um poema do escritor paulista Elson Fróes.

Raiz

cansei de flores e caules

folhas e galhos

frutas e cascas

– eu quis –

agora quero raiz

(e ad

jacências)

o sumo da seiva da essência

STERZI, Eduardo. Raiz. ín: DANIEL, Claudio; BARBOSA, Frederico (organizador). Na virada do século: poesia de invenção no Brasil. São Paulo: léndi, 2007. página 136.

Orientação para acessibilidade

Atividade 3, item c.

Para estudantes cegos, uma possibilidade é compor o poema em alto-relevo para que percebam a disposição dos versos e levantem hipóteses sobre a imagem formada por eles.

  1. O eu lírico diz preferir, atualmente, a raiz a outras partes da planta. Que palavras foram usadas para sugerir as noções de passado e de presente?
  2. Ao escolher a raiz, o que o eu lírico afirma preferir?
  3. Observe a maneira como os versos foram organizados. Você consegue visualizar alguma imagem formada pela disposição deles?
  4. Observe o conteúdo dos parênteses. Adjacências significa “o que é vizinho, próximo”. Qual é a função dos parênteses nesse caso?

Biblioteca cultural

Para conhecer alguns poemas do poe­ta Eduardo Sterzi, pesquise informações sobre ele na internet.

Respostas e comentários

2a. O efeito foi obtido por meio das fórmas verbais. Em lugar do pretérito perfeito, que exprime ações finalizadas e pontuais, o autor usou o pretérito imperfeito, que sugere ações que se estendem no tempo, e o futuro do pretérito, que sugeriu que o resultado ainda não era conhecido: “reticênciaso empate amadureciareticências”, “que poderia ser fatal” e “reticênciasincentivava a torcidareticências”.

2b. O verbo virar tem o sentido de “transformar-se”, como se a torcida exortasse os interlocutores a se transformarem em porcos. O sentido pretendido é de “alterar positivamente o placar”, “obter a vitória”.

2c. Vamos virar, Porco!

2d. Na oração original, porco é um predicativo do sujeito e, na reformulação, um vocativo. Os vocativos são isolados por vírgula.

3a. As fórmas verbais cansei e quis sugerem passado, enquanto o advérbio agora e a fórma verbal quero indicam presente.

3b. Ele prefere não o que está exposto, do lado de fora, mas o que está interiorizado, do lado de dentro, e que corresponde à essência, ou seja, à parte principal de algo.

3c. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes identifiquem o formato de uma árvore.

3d. Introduzir uma informação complementar.

Orientações didáticas

Questão 2b – Comente com os estudantes que porco é o apelido da torcida palmeirense, amplamente adotado por ela. O ruído de comunicação não se refere à associação entre os torcedores e porcos, mas ao valor indesejado que se atribui ao verbo virar nesse contexto.

Questão 3b – Aproveite a resposta para conduzir uma análise ainda mais detida dos recursos expressivos. Peça aos estudantes que releiam o poema e identifiquem um recurso de sonoridade em destaque no final dele. Trata-se da aliteração, já que ocorre a repetição de som consonantal em o “sumo da seiva da essência”. Em seguida, pergunte o que, além do som, é comum às palavras do último verso e que relação há entre essa observação e o poema. É interessante que eles notem que as palavras indicam algo que não fica exposto, assim como a raiz, que o eu lírico diz preferir.

4. Você já ouviu falar do pintor e escultor italiano Miquelângelo? Leia informações sobre a juventude dele.

reticências

Miquelângelo era o primeiro nome do filho de ludovíco buonaróti simoni e de frantchêsca miniáto del sêra, nascido em 6 de março de 1475, numa pequena cidade chamada Caprese, perto de Florença. reticências

reticências Alguns anos mais tarde, já famoso, Miquelângelo fez grandes sacrifícios para ajudar seus irmãos e seu pai. Fama não necessariamente trazia riqueza no século dezesseis – como aparentemente acontece hoje em dia –, mas ele sempre arranjava maneiras de enviar dinheiro para sua família.

Miquelângelo teve muita sorte de crescer em Florença. Essa elegante cidade foi o centro artístico da Europa, no período da história que hoje chamamos de Renascimento (que se refere à redescoberta – ou renascimento – do pensamento, da arte e da escrita dos clássicos greco-romanos).

reticências

Miquelângelo: escultor, pintor, poeta. Rio de Janeiro: Salamandra, 1992. páginas seis a oito e onze. (Fragmentos).

Fotografia. Destaque para um trecho de uma escultura de homens aglomerados em luta corporal, com membros entrelaçados.
BUONARROTI, Michelangelo. Centauromaquia ou Batalha dos centauros. 1492. Baixo-relevo.
Versão adaptada acessível

Atividade 4, item b.

Escreva a afirmativa presente no texto que explica o uso do travessão neste trecho: “Fama não necessariamente trazia riqueza no século XVI – como aparentemente acontece hoje em dia –, mas ele sempre arranjava maneiras de enviar dinheiro para sua família.”.

I. Separa um comentário pessoal do produtor do texto.

II. Isola uma informação para enfatizá-la.

III. Introduz uma explicação sobre um termo anterior.

  1. Explique por que a condição da família de Miquelângelo e o lugar onde ele cresceu representavam, respectivamente, uma ­dificuldade e uma facilidade para o futuro artista.
  2. Copie no caderno a afirmativa que explica o uso do travessão neste trecho: “Fama não necessariamente trazia riqueza no século dezesseis  – como aparentemente acontece hoje em dia –, mas ele sempre arranjava maneiras de enviar dinheiro para sua família.”.
    1. Separa um comentário pessoal do produtor do texto.
    2. Isola uma informação para enfatizá-la.
    3. Introduz uma explicação sobre um termo anterior.

c. Em “(que se refere à redescoberta – ou renascimento – do ­pensamento, da arte e da escrita dos clássicos greco-romanos)”, qual é a função do conteúdo entre parênteses?

Dica de professor

Fique muito atento quando usar parênteses. Eles precisam ser abertos e fechados para que o texto não fique confuso e seu uso deve ser bem pensado: as informações mais importantes não ficam entre parênteses.

d. Leia o texto da legenda que acompanha a imagem da escultura. Como a informação que vem após o travessão se relaciona com a palavra anterior a ele?

Respostas e comentários

4a. A família de Miquelângelo precisava de ajuda financeira, o que poderia ter dificultado a carreira do artista, mas seu crescimento em Florença (centro artístico da Europa) deu-lhe possibilidade de contato com a arte.

4b. um. Separa um comentário pessoal do produtor do texto.

4c. Os dizeres entre parênteses explicam o que é o Renascimento, citado anteriormente.

4d. A informação explica o significado de centauros.

Orientações didáticas

Questão 4b – Embora as afirmações dois e três não sejam descabidas, é a afirmação um que melhor explica a intromissão do comentário, inclusive considerando seu tom. O comentário não contém uma informação ou explicação relevante.

Veja como o travessão e os parênteses são usados.

Travessão

1. Indica mudança de interlocutor em um diálogo.

2. Isola palavras ou frases para enfatizá-las.

3. Introduz uma explicação sobre algo que foi dito.

4. Isola comentários acessórios, de tom mais pessoal.

Parênteses

1. Introduzem uma explicação sobre o que foi dito.

2. Incluem uma informação acessória.

3. Isolam comentários marcados por tom emocional (ironia, lamentação etcétera).

4. Separam datas, siglas, indicações bibliográficas.

5. Incluem indicações cênicas (rubricas) em um texto teatral.

5. Leia o trecho da reportagem sobre ramranrãe, uma jovem indígena.

Quando amangaí foi aprovada no vestibular para medicina veterinária, mudou-se para o município de Cruz das Almas. Por causa da pandemia, ela não tem mais voltado para sua aldeia. Hoje a filha de dois povos lista suas saudades: a família, os amigos, o rio, as árvores. Por um momento, quando precisou de hospedagem na cidade nova, arrumou morada em um quilombo. “E isso, de uma certa fórma, suavizou um pouco tudo, porque era muito parecido com minha realidade: todo mundo vivia de um jeito mais coletivo, tinha ar puro e, infelizmente, até mesmo os conflitos de territórios.”

RODRIGUES, Paula. Bloco do eu sozinha. ín: "EU SOU PATAXÓ HÃ-HÃ-HÃE". Ecoa – uól, São Paulo, 18 janeiro 2021. Disponível em: https://oeds.link/aQ263z. Acesso em: 4 abril 2022.

a) Quais foram os desafios enfrentados por r­elatados nesse trecho da reportagem?

b) No trecho “Hoje a filha de dois povos lista suas saudades: a ­família, os amigos, o rio, as árvores”, qual é a função dos dois-pontos?

c) Releia o trecho a seguir: “E isso, de uma certa fórma, suavizou um pouco tudo, porque era muito parecido com minha ­realidade: todo mundo vivia de um jeito mais coletivo, tinha ar puro e, ­infelizmente, até mesmo os conflitos de territórios.”

O que as aspas indicam? E os dois-pontos na fala de amangaí?

d) Agora, sistematize as informações acerca do uso de dois-pontos. Caso conheça outros usos, inclua-os.

e) Segundo amangaí, quais são os elementos em comum entre sua aldeia e o quilombo?

Biblioteca cultural

Fotografia. Hamangaí Pataxó, moça indígena, de pele morena, cabelo longo e escuro. Usa um cocar de penas brancas com algumas penas azuis no centro.
A ativista indígena amangaí patachó rãrrãrrãe.

amangaí patachó rãrrãrrãe é descendente da ­etnia Terêna, por parte da mãe, e patachó rã rã rãe, por parte de pai, e estudante de Medicina Veterinária na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

Para conhecer melhor a história dela, acesse a reportagem indicada.

Fala aí!

Considerando a região onde você vive, quais são as seme­lhanças e as dife­ren­ças em relação à ­aldeia e ao quilombo Vila Guaxinim mencionados por ?

As aspas são usadas para marcar o começo e o fim de citações, indicar títulos de obras e destacar gírias, neologismos e palavras empregadas com sentido irônico.

Respostas e comentários

5a. Por causa da pandemia, amangaí não podia voltar para sua aldeia e encontrou moradia em um quilombo. Durante esse período, teve de lidar com a saudade de sua terra, da família e dos amigos.

5b. Iniciar uma enumeração, no caso, com os elementos de que amangaí sente saudade.

5c. As aspas isolam a fala de amangaí patachó rãrrãrrãe. Os dois-pontos foram usados para introduzir complementos que exemplificam melhor o que foi dito anteriormente.

5d. Sugestão: Empregam-se os dois-pontos para iniciar uma enumeração, para introduzir complementos que esclarecem um termo ou ideia anterior e para introduzir uma citação (discurso direto).

5e. Ambos apresentam uma fórma de vida mais coletiva, proximidade à natureza e até conflitos territoriais.

Fala aí! Resposta pessoal. Ver comen­tário nas Orientações didáticas.

Orientações didáticas

Questão 5c – Relembre os estudantes de que é comum em reportagens haver fala dos entrevistados em discurso direto.

Questão 5d – Os textos da seção não exploram o terceiro uso citado, mas trata-se de um emprego amplamente conhecido pelos estudantes e é esperado que o mencionem.

Fala aí! – Se os estudantes vivem em uma região urbana, é possível que apontem principalmente as diferenças entre os espaços físicos das realidades comparadas. No entanto, é possível que elementos comuns possam ser destacados, em comparação com a vida na aldeia, como a proximidade com os familiares e os amigos. Se houver estudantes indígenas ou quilombolas na turma, pergunte a eles se gostariam de expor seu ponto de vista sobre o que disse amangaí. Eles podem, inclusive, comentar o que sabem a respeito da dificuldade de manutenção das terras dos povos originários, apesar de a demarcação ser uma garantia desde a Constituição de 1988.

Minha charge NA PRÁTICA

Propomos, neste capítulo, a produção de uma charge. Mesmo que você acredite não desenhar bem, dedique-se a essa produção: os traços da charge são simplificados e nela vale mais a ideia do que a capacidade de desenhar com perfeição.

Sua charge, que deverá empregar a combinação de diferentes linguagens, será exposta em um varal de textos no pátio da escola. Como tema, você pode escolher: um comportamento social que lhe pareça reprovável; um serviço público que não esteja funcionando bem; uma situação envolvendo pessoas públicas.

MOMENTO DE PRODUZIR

Orientação para acessibilidade

Momento de produzir.

Caso haja estudantes cegos na turma, você pode propor a eles que escolham a técnica que preferirem para a criação dos elementos não verbais da charge, não sendo obrigatória a produção de desenhos. Outra possibilidade é que a atividade seja realizada em duplas.

Planejando minha charge

Veja as orientações a seguir. Elas podem ajudá-lo a construir sua charge.

Quadro. Equivalente textual a seguir. Da teoria para a...: O assunto das charges nasce de fatos que estão em destaque na mídia. ... prática: Examine um jornal impresso ou on-line. Você certamente encontrará situações que poderão ser exploradas na construção da cena cômica. Faça uma crítica que, de fato, interesse aos leitores. Da teoria para a...:  O desenho da charge é simplificado, isto é, em geral, está reduzido aos elementos essenciais. ... prática: Esboce a cena definindo um ou mais personagens e suas características. Pense em roupas ou acessórios simples, capazes de identificar o grupo social (classe social, profissão etc.) a que pertencem os personagens, caso essa seja uma informação necessária. Da teoria para a...:  A charge costuma associar diversas linguagens. ... prática: Além das figuras e de textos verbais, defina outros recursos de linguagem que podem contribuir para o efeito da charge: enquadramento, cores etc. Da teoria para a...:  Na charge, estão associados o humor e a crítica. É importante que o texto faça o leitor refletir. ... prática: Empregue o exagero intencional, o ridículo ou a intertextualidade para promover o riso e a reflexão.

Elaborando minha charge

  1. Use uma folha de papel sulfite A4 na posição horizontal. A imagem e os textos devem ter tamanho suficiente para permitir a leitura da charge a distância, quando exposta no varal de textos.
  2. Desenhe os personagens e o cenário. Cuide para não sobrecarregar a cena com detalhes desnecessários.
  3. Procure retratar gestos e expressões faciais coerentes com a ação dos personagens.
  4. Construa os balões de fala e as legendas com textos curtos, escritos de maneira bem legível. Use letras de fôrma (de imprensa), como nas charges estudadas.
Respostas e comentários

Minha charge na prática

Bê êne cê cê em foco

cê gê: 1, 2, 3, 4, 6 e 7.

cê e éle : 1, 2, 3, 4 e 5.

cê e éle pê : 3 e 7.

Habilidade: ê éfe seis nove éle pê zero sete.

Orientações didáticas

Os estudantes vêm analisando gêneros multissemióticos desde o início do Ensino Fundamental, tendo explorado, possivelmente, poemas visuais, tirinhas, agá quês, cartuns e charges, em atividades que previam o estabelecimento de relações entre imagens e palavras e a interpretação de recursos gráficos. Nos anos finais do Ensino Fundamental, essa exploração continua e os textos se tornam mais complexos, sobretudo porque têm destaque os efeitos de humor, ironia e crítica. Aos gêneros já citados, juntam-se o meme e o gif.

Nesta seção, os estudantes vão produzir charges, procurando, como caracteriza o gênero, representar temas ligados ao contexto da vida pública. São vários os desafios: tratar o tema de modo inteligível, produzir efeitos expressivos, articular linguagens, entre outros. A apresentação será feita por meio de um varal, estratégia bastante prática que permite às produções dos estudantes ter um público efetivo, o que os motiva.

  1. A linguagem verbal também pode ser usada para identificar algum elemento do cenário.
  2. Utilize cores para tornar sua charge mais atraente.

É lógico!

A sequência de orientações para elaborar uma charge cor­responde a um al­goritmo. Dominá-lo permite resolver o mesmo problema em outras situações.

Revisando minha charge

Releia eventuais falas e legendas em sua charge para observar se os sinais de pontuação foram empregados corretamente e se há possibilidade de explorá-los melhor para obter determinados efeitos de sentido. A repetição do ponto de exclamação ou do ponto de interrogação, por exemplo, pode contribuir para a expressão de sentimentos e reações dos personagens. Veja também se as aspas deveriam ser empregadas. Elas podem destacar uma palavra usada com intenção irônica, por exemplo.

MOMENTO DE REESCREVER

Avaliando minha charge

A avaliação será feita em duplas. Troque sua produção com a de um colega, que, em um primeiro momento, dirá o que entendeu de sua charge. Você, por sua vez, confirmará esse sentido ou apresentará o pretendido. Em seguida, ele a avaliará usando os critérios do quadro. Depois, invertam os papéis.

A

Há um bom aproveitamento do espaço da folha de papel? O desenho e os textos têm tamanho adequado para uma exposição em varal de textos?

B

O leitor consegue reconhecer o comportamento social, o serviço público ou a personalidade que motivou a charge?

C

Os detalhes de cenário e a caracterização necessários para a compreensão da ideia são reconhecidos com facilidade?

D

Os textos verbais contribuem para esclarecer a crítica e construir a sátira?

E

A charge promove o riso e a reflexão do leitor?

F

A charge usa um dos recursos estudados: intertextualidade, exagero ou ridículo?

Refazendo minha charge

Se for o caso, refaça sua produção para aprimorar alguns ­aspectos. Lembre-se de que a charge será exposta à comunidade escolar e, ­portanto, precisa ser um trabalho caprichado. Assine sua produção.

Ilustração. Menino com um lápis encaixado acima da orelha, está piscando um olho sorridente. Carrega um cartaz com a ilustração de duas pessoas conversando na rua.

MOMENTO DE APRESENTAR

Apresentando minha charge

As charges serão colocadas em um varal de textos em uma área de uso comum na escola. Além das charges, é interessante que o ­varal conte com um texto de apresentação, explicando o trabalho feito pela turma. Um dos estudantes pode se voluntariar para redigi-lo. Também é interessante que o varal contenha algumas notícias de jornal com as quais as charges tenham dialogado.

Leitura 2 CHARGE

Leia a charge a seguir, criada por Duke e publicada em 2020.

Charge. Área desmatada. No centro apenas uma árvore restante. Ela diz: ISOLAMENTO SOCIAL NÃO ESTAVA NOS MEUS PLANOS.

DUKE. [Sem título]. 2 agosto 2020. uma charge. Disponível em: https://oeds.link/1WItXI. Acesso em: 20 maio 2022.

De quem é o texto?

Fotografia. Duke, homem sorridente de pele morena, testa quadrada e queixo fino. Tem cabelo escuro e curto. Os lábios são finos e a sobrancelha grossa.
FOTO DE 2019.

Eduardo dos Reis Evangelista, conhecido como Duke (1973-), é cartunista, chargista e ilustrador. Publica regularmente em jornais de Belo ­Horizonte Minas Gerais, cidade onde nasceu.

Refletindo sobre o texto

  1. Para ler uma charge, é preciso conhecer aspectos do contexto social, político, econômico e cultural a que ela se refere. O que o leitor ­precisa saber para ler essa charge?
  2. Reflita sobre a construção da crítica na charge.
    1. Qual é o cenário em que se encontra a árvore?
    2. A que a árvore se refere ao usar a expressão isolamento social?
    3. Como a expressão estudada no item anterior contribui para a ­ironia presente na fala da árvore?
    4. O sentido da charge é construído pela associação de dois eventos familiares ao leitor, mas apenas um é objeto de crítica. ­Explique.
  3. Uma charge é um texto datado, ou seja, muito vinculado ao seu ­contexto de publicação. Depois de algum tempo, pode perder seu sentido. Comente essa característica, analisando a charge de Duke e refletindo sobre sua recepção pelos leitores.

Fala aí!

As charges são textos assinados, e os leitores do jornal em que elas são publicadas acabam reconhecendo os traços e os temas preferidos de um chargista. Você gosta dos temas e da composição artística das charges feitas por ele? Você recomenda outro chargista aos seus colegas?

Da observação para a teoria

O gênero textual charge refere-se a fatos de natureza política, social e cultural recentes, que estão circulando em jornais e revistas. O humor produzido pela charge tem como objetivo o riso seguido de reflexão. O gênero exige um leitor que consiga reconhecer os fatos e as perspectivas em jogo para que possa entender a sátira e a crítica feitas pelo produtor do texto.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

Locutor: Audiodescrição de uma charge

Locutor: Você sabe o que é audiodescrição e para que serve? Vamos ouvir a professora doutora Ana Júlia Perrotti-Garcia, tradutora, intérprete e audiodescritora.

[vinheta]

Fale um pouco sobre quem é você e o que faz.

Profa. Ana Júlia: Meu nome é Ana Júlia Perrotti-Garcia, eu sou tradutora, intérprete e audiodescritora. Como professora universitária comecei formando audiodescritores em um curso de Especialização em Tradução. Estudávamos a audiodescrição como uma modalidade da tradução – a chamada tradução intersemiótica, que é a tradução de uma imagem em palavras.

Locutor: O que é audiodescrição e para que serve?

Profa. Ana Júlia: A audiodescrição, falando de forma bem simples, é a conversão de imagens em palavras, de modo ordenado e organizado, para que possam ser assimiladas e reconvertidas em imagens pela pessoa usuária. Essa pessoa pode ser alguém com deficiência visual, com dislexia, idosos, crianças pequenas e até mesmo pessoas que apenas estejam momentaneamente desprovidas da visão ou que não possam olhar diretamente para uma tela (como quando estamos dirigindo um carro ou quando estamos em outro cômodo da casa e queremos acompanhar a TV, por exemplo). Ou quando você senta na última poltrona do teatro e não consegue visualizar detalhes que acontecem no palco.

Locutor: Qual é a diferença entre descrever e audiodescrever uma imagem?

Profa. Ana Júlia: Descrever uma cena na rua, uma fotografia, um lugar, uma peça de teatro ou filme é algo descompromissado, empírico e que qualquer pessoa que enxerga pode fazer para alguém que não enxerga. Agora, a audiodescrição é uma profissão, requer formação continuada, segue regras, normas e modelos. Há uma sequência lógica que deve ser seguida e uma série de aspectos que devem ser levados em conta.

É preciso descrever algo de forma correta para alguém conseguir compor uma imagem sem vê-la.

Locutor: É possível audiodescrever qualquer tipo de imagem? Quais imagens costumam ser mais difíceis?

Profa. Ana Júlia: Na minha experiência, obras de arte são as imagens mais complexas, pois o limite entre descrever e explicar a imagem é mais tênue. E o descritor tem que tomar o cuidado de não interpretar a obra, nem contar a história que está por trás da intenção do artista.

Locutor: O que é importante para que uma audiodescrição seja bem-feita?

Profa. Ana Júlia: O mais importante é lembrar que a audiodescrição deve atender ao usuário e não a quem a está realizando, então, o que é lindo e útil para o audiodescritor, pode ser absolutamente inadequado para uma pessoa cega. Por exemplo, usar cores na audiodescrição é importante e recomendado. Agora, falar que algo é azul cobalto ou rosa choque pode confundir o ouvinte.

Com relação ao fluxo de trabalho, acho importante que o audiodescritor roteirista faça parceria com um consultor. E que esse consultor seja alguém cego ou com deficiência visual e com treinamento em audiodescrição. Também é importante que o roteirista e o consultor estudem o objeto a ser audiodescrito. Ou seja, eu não preciso ser bailarina clássica para fazer a audiodescrição de um espetáculo de balé, mas devo estudar o assunto, entender as prioridades, para poder escolher o que é relevante e o que pode ser omitido.

Locutor: E no caso de uma charge? Há algum cuidado específico para esse gênero?

Profa. Ana Júlia: As charges sempre carregam consigo referências a situações sociais, políticas, culturais e até mesmo geográficas e regionais. Sendo assim, para entender o que é relevante, é preciso primeiramente entender a charge, para depois ser capaz de descrevê-la sem contá-la nem explicá-la.

Locutor: Como é possível preservar o efeito cômico de uma charge na audiodescrição?

Profa. Ana Júlia: A audiodescrição deve se ater às imagens, sem interferir no significado. Contudo, sempre procuramos criar um texto que reflita o espírito e o clima do objeto audiodescrito. Por exemplo, ao descrever um desenho animado, optamos por palavras mais divertidas, mais alegres. Ao descrever uma cena de crime, a escolha lexical é sempre mais “pesada” e as palavras mais fortes.

Agora, o humor é algo muito sensível e difícil de causar um efeito homogêneo nas pessoas. Ou seja, o que faz uma pessoa rir, pode ser chato ou sem graça para outra. Então, o que se faz nesses casos é dizer o que se está vendo, procurando instrumentalizar a pessoa, para que ela consiga achar graça. Claro que fazer a audiodescrição perfeita não é garantia de que a pessoa vai achar graça. Ela pode, por exemplo, não ter os conhecimentos culturais ou históricos necessários para entender, e nesse caso a charge será sem graça, tanto para uma pessoa que está vendo a imagem quanto para aquela que está ouvindo a descrição.

Locutor: Você pode dar alguma dica para quem vai fazer a audiodescrição de uma charge pela primeira vez?

Profa. Ana Júlia: Sugiro que estude o contexto, avalie o momento em que a charge foi criada, quem é o artista, quem são os personagens envolvidos, e, principalmente, qual foi a intenção do chargista. Depois, esqueça tudo e descreva a imagem que você está vendo, sem contar nem explicar – e sempre se orientando por tudo o que pesquisou na hora de escolher o que descrever e o que omitir.

Locutor: Vamos ouvir a audiodescrição de uma charge.

Profa. Ana Júlia: Imagem em preto e branco do chargista paulista Belmonte, publicada originalmente em 20 de agosto de 1946. Limitada por uma moldura de traço simples, na cor preta, a charge retrata à esquerda, Harry Truman, presidente dos Estados Unidos entre 1945 e 1953. À direita, Josef Stalin, governante da União Soviética da década de 1920 até sua morte em 1953.

Acima da cabeça de ambos, nuvens escuras preenchem toda a parte superior da imagem.

Truman é um homem branco, calvo, com apenas alguns fios de cabelo penteados de lado, óculos redondos e orelhas salientes. Ele tem um leve sorriso no rosto. Usa uma camiseta de mangas curtas, clara e com uma estrela de 5 pontas à direita, na altura do peito. Está com shorts escuros, meias curtas e sapato social.

Stalin é um homem branco, robusto, cabelo preto, curto e volumoso, testa franzida e olhos levemente puxados; bochechas salientes, nariz grande e bigode preto recobrindo a boca e com pontas que ultrapassam a linha do queixo. Usa uma camiseta de mangas curtas, escura e com um desenho de foice e martelo entrelaçados, à esquerda, na altura do peito. Está com shorts pretos, meias curtas e sapato social.

Ambos estão com braços flexionados, correm em direção a uma bola que está no centro da imagem, a poucos centímetros do chão gramado, na parte inferior da charge, à frente dos dois mandatários. A bola tem meridianos e linhas dos trópicos traçados; e, em preto, à esquerda, o mapa das Américas, e, à direita, uma pequena parte da Europa e a África. Ao lado da bola há dois traços representando movimento.

Locutor: Crédito: Estúdio: Núcleo de Criação.

Respostas e comentários

1. O leitor precisa saber o que é isolamento social e estar atento à questão do ­desmatamento.

2a. Uma região devastada pelo desmatamento, com uma única árvore, rodeada por troncos cortados, solo árido e nenhum animal.

2b. Refere-se ao distanciamento entre as pessoas, uma das medidas praticadas por populações para conter o avanço de uma pandemia. No caso, há referência ao “isolamento social” praticado durante a pandemia de covid-19.

2c. A fala da árvore subverte a noção de isolamento social, que, no caso dos humanos, no contexto de uma pandemia, pode ser algo necessário à sobrevivência; enquanto, no caso das árvores, em uma floresta, é um cenário que compromete suas vidas.

2d. A charge refere-se ao desmatamento e à prática do distanciamento social. Esta não é alvo de crítica; foi usada como recurso para construir, pela associação inesperada, o efeito de humor crítico.

3. A charge associa dois eventos que estavam em evidência no momento de sua publicação – o desmatamento acentuado e a pandemia –, os quais eram familiares aos leitores e, portanto, garantiam a compreensão da crítica e a percepção do humor pretendido. O desconhecimento de um desses fatos ou dos dois levaria o público a não compreender parcial ou totalmente o sentido da charge.

Fala aí! Resposta pessoal. Ver comentário nas Orientações didáticas.

Leitura 2

Bê êne cê cê em foco

cê gê: 1, 2, 3, 4, 6 e 7.

cê e éle : 1, 2, 3, 4 e 5.

cê e éle pê : 1, 2, 3, 6 e 7.

Habilidades: ê éfe seis nove éle pê zero três, ê éfe seis nove éle pê zero cinco e ê éfe oito nove éle pê zero três.

Orientações didáticas

Nesta seção, os estudantes são convidados a ler mais uma charge, ampliando suas observações acerca das relações entre o texto e o contexto a que se refere. Está em foco a expressão de uma opinião por meio de um texto do campo jornalístico, aspecto que será explorado também na próxima seção.

Fala aí! – É preciso que os estudantes tenham algum tempo para pesquisar e se preparar para essa discussão. Estimule-os a procurar charges recentes em jornais impressos e em publicações on-line. Na discussão, peça a eles que justifiquem suas respostas recorrendo a critérios subjetivos e também a critérios construídos a partir do estudo do gênero charge. Peça-lhes, ainda, que comparem as charges de Duke com as de Arionauro, Paixão e Junião, também estudadas neste capítulo. Para finalizar essa etapa, mostre charges publicadas em jornais de sua região. Junto com os estudantes, identifiquem os temas que mais mobilizaram os chargistas.

Textos em CONVERSA

No campo jornalístico, a cobertura de fatos é feita, principalmente, por notícias. Trata-se de um gênero que se concentra no relato, ainda que, de modo mais ou menos explícito, expresse as orientações da empresa de mídia que as divulga. Já nas charges, artigos de opinião e editoriais, divulgam-se pontos de vista sobre esses mesmos fatos. Entramos em contato, efetivamente, com a expressão de opiniões. Além deles, há também, nos jornais, revistas e sites jornalísticos, espaço para os comentários de leitor, que permite que também os leitores apresentem seus pontos de vista.

Você analisou a charge de Duke, que aborda a questão do ­desmatamento. Leia agora comentários de leitores relacionados ao mesmo conjunto de ­informações. Eles foram transcritos de duas diferentes publicações.

J. G.

A ônu deveria aprovar um documento tornando toda a Amazônia patrimônio da humanidade. Como é feito na Antártica, para que os países ricos tomem conta e evitem o desmatamento. Se continuar nas nossas mãos em 10 anos vamos ter derrubado tudo. Sai governo e entra governo as matas continuam sendo devastadas. Prova que como país não conseguimos nem cuidar do que é nosso.

IMPRENSA internacional repercute maior desmatamento na Amazônia em 15 anos. gê um, [sem local], 19 novembro 2021. Disponível em: https://oeds.link/p0cp2k. Acesso em: 5 março 2022.

C. L.

Nunca pensei que eu viveria para ver pessoas no Brasil apoiando o desmatamento da Amazônia com a desculpa do crescimento ­econômico. A que ponto chegamos!

R. P.

Moro no estado do Amazonas e nunca vi ônguis de proteção ambiental aqui. Já percorri 25 cidades do estado e não vi áreas tão grandes de desmatamento como as que aparecem na televisão.

A. C. G.

Gostaria de dar os parabéns reticências pela reportagem de capa sobre o desma­tamento da Amazônia reticências. Outros países destruíram suas ­florestas no passado, mas nós podemos fazer diferente e melhor aqui no Brasil. Em pleno século 21, quem pensa que destruir florestas é sinônimo de desenvolvimento demonstra uma falta de visão estratégica. Temos de olhar para os exemplos de países que usam a proteção do verde como um ativo ­econômico para fazer a diferença. Se os governos anteriores no Brasil ­autorizaram o desmatamento, eles também foram irresponsáveis. Precisamos mudar isso e proteger a nossa Amazônia.

CARTAS e E-mails | Em defesa da Amazônia. Revista Exame, número 1192, [sem local], 29 agosto2019. Disponível em: https://oeds.link/Pz8Vid. Acesso em: 4 abril 2022.

Lembra?

Os comentários de leitor são textos que expõem o ponto de vista dos leitores. São divulgados em publicações impressas ou digitais e procuram promover o debate, pois permitem a interação por meio de ferramentas como “curtir” ou da postagem de respostas.

Respostas e comentários

Textos em conversa

Bê êne cê cê em foco

cê gê: 1, 2, 4, 5, 7, 9 e 10.

cê e éle : 1, 2, 3, 4 e 6.

cê e éle pê : 1, 2, 3, 6 e 7.

Habilidades: ê éfe oito nove éle pê zero dois, ê éfe oito nove éle pê zero três e ê éfe oito nove éle pê zero quatro.

Orientações didáticas

Nesta seção, os estudantes vão estudar comentários de leitor com o objetivo de analisar posicionamentos defendidos, identificar e avaliar argumentos, analisar os recursos que constroem os sentidos e refletir sobre a produção e a circulação do gênero, inclusive considerando a questão da liberdade de expressão. Vão, ainda, posicionar-se em relação aos pontos de vista defendidos, produzindo uma réplica, atividade que contribui para sua participação coerente e ética na internet.

Recomenda-se que, no processo de correção coletiva das questões e de discussão do comentário produzido como réplica, os estudantes sejam estimulados a praticar a expressão oral de opinião e sua sustentação. Utilize as orientações presentes ao longo da seção para motivar essa fala.

  1. O autor do primeiro comentário apresenta um ponto de vista polêmico.
    1. O que ele defende?
    2. Por que esse leitor compara a Amazônia com a Antártica?
    3. A quem se referem os pronomes nossas e nosso nesse comen­tário. Qual é o efeito de seu uso?
  2. Compare o primeiro e o quarto comentários.
    1. Qual informação impactou os dois leitores a ponto de eles a mencionarem?
    2. Embora igualmente preocupados com a Amazônia, os leitores apresentam propostas diferentes para resolver o problema. Qual é a diferença?
  3. Compare, agora, o quarto comentário com o segundo.
    1. O comentário do segundo leitor é uma reação a um ponto de vista. Que palavra pode nomear essa reação?
    2. Ambos os leitores se referem a pessoas que defendem o desmatamento como condição para o crescimento econômico. Que palavra e expressões usadas pelos leitores apresentam a opinião deles sobre esse ponto de vista? Qual é mais ­crítica? Por quê?
  4. Releia o terceiro comentário.
    1. O autor concorda com as opiniões apresentadas pelos demais leitores? Justifique.
    2. O argumento do leitor parece ter grande força persuasiva. O que causa esse efeito? Por que é preciso avaliar esse argumento de modo crítico?
  5. Na sua opinião, algum dos comentários é inadequado, revelando uma atitude agressiva em relação a outras opiniões? Justifique.
  6. Há coincidência entre a opinião expressa por Duke em sua charge e os comentários desta seção?
  7. Na sua opinião, os dois gêneros – a charge e os comentários de leitores – são igualmente eficientes no objetivo de expressar opiniões e tecer críticas? Justifique sua resposta.

É lógico!

Observe seu processo para responder à questão 7: para você julgar, precisa, antes, identificar, entre todas as características dos dois gêneros, aquelas que servem como critério para avaliar a eficiência da expressão crítica. Assim, está usando a habilidade da abstração.

Desafio da linguagem

Escolha um dos comentários de leitor e escreva, no caderno, uma­ ­réplica, de até seis linhas. Para garantir que a sua argumentação tenha uma base sólida, recorra àquilo que você já estudou sobre o “desmatamento na Amazônia” ou faça pesquisas sobre o tema. Em alguns contextos digitais, é possível adotar expressões mais informais, mas não descuide da ortografia, da pontuação, da concordância etcétera Procure usar palavras e expressões que revelem seu ponto de vista, como infelizmente, acredito que e similares. Evite ser desrespeitoso.

Respostas e comentários

1a. A transformação da Amazônia em patrimônio da humanidade, para que os países ricos se responsabilizem por ela, e não apenas o Brasil.

1b. Porque a Antártica é uma região neutra, que não pertence a nenhum país, e cujo uso se restringe à pesquisa científica. Assim, sua preservação é garantida.

1c. Os pronomes nossas e nosso, de primeira pessoa, referem-se aos brasileiros e evidenciam que, para o leitor, os problemas da Amazônia dizem respeito ao povo como um todo.

2a. A informação de que o desmatamento da Amazônia não é responsabilidade de um único governo.

2b. O primeiro comentário sugere que a Amazônia deixe de ser responsabilidade exclusiva do Brasil, passando a ser gerenciada por países ricos, que, segundo ele, garantiriam sua preservação. Já o quarto comentário aponta a possibilidade de o Brasil, seguindo bons exemplos, proteger a floresta.

3a. Sugestão: Indignação, revolta.

3b. No segundo comentário, desculpa; no quarto, falta de visão estratégica. A palavra usada no segundo comentário é mais crítica, pois indica que aqueles que defendem a ideia sabem que estão mentindo, enquanto a expressão usada no quarto comentário sugere que estão equivocados.

4a. Não. Segundo ele, as áreas de desmatamento não são tão grandes quanto se divulga.

4b. A informação de que ele observa diretamente a região de que os demais falam sugere que conhece a verdade dos fatos, enquanto os outros, apenas a versão transmitida pela mídia. No entanto, a comparação entre aquilo que ele pode, de fato, observar e a dimensão da floresta revela que suas constatações não são suficientes para contestar as informações veiculadas por tantos diferentes órgãos de imprensa.

5. Espera-se uma resposta negativa.

6. Sim. A opinião expressa por Duke coincide com três dos quatro comentários que se posicionam contrariamente ao desmatamento acentuado da Amazônia.

7. Resposta pessoal. Ver comentário nas Orientações didáticas.

Orientações didáticas

Questão 1a – Pergunte aos estudantes se eles já tinham entrado em contato com essa ideia, que tem relativa circulação social, e peça que se posicionem.

Questão 3a – Intencionalmente, não pedimos uma justificativa nesta questão. Chame alguns estudantes para que apresentem a palavra escolhida e a expliquem. Dessa maneira, você pode avaliar a compreensão do texto e o domínio de vocabulário.

Questão 4b – Comente que as informações sobre o desmatamento são confirmadas por relatórios técnicos, inclusive preparados por órgãos estatais, imagens de satélites etcétera

Questão 5 – Estimule os estudantes a retornar aos textos para observar como os autores se expressam. Embora os comentários contestem determinadas opiniões – o segundo critica duramente quem defende o desmatamento com o argumento de crescimento econômico; o terceiro questiona o trabalho das ônguis etcétera –, fazem isso de maneira adequada, sem agressões ou ofensas.

Questão 7 – Solicite que vários estudantes expressem suas opiniões e que as sustentem, apoiados nas características dos gêneros. Eles podem apontar que os comentários de leitor costumam ser mais explícitos e detalhados, enquanto as charges podem ser mais impactantes pelo uso do humor e da ironia na construção da crítica.

Desafio da linguagem – Forme grupos com quatro integrantes e peça aos estudantes que leiam suas produções para os colegas, que devem avaliá-las com base nas orientações do Desafio da linguagem. Em uma primeira rodada, vão ler e comentar o conteúdo. Na segunda, devem trocar os cadernos para verificar a qualidade da escrita. Chame a atenção para a importância de os períodos estarem completos sintaticamente. Em seguida, faça perguntas aos grupos: predominaram réplicas que revelam concordância ou discordância? Algum dos comentários chamou a atenção por apresentar um argumento muito forte ou um ponto de vista inesperado? Se isso ocorreu, peça que o texto seja lido e que um estudante que discorde do que foi dito se posicione. O autor do comentário poderá fazer uma tréplica. Pergunte também se algum dos comentários é inadequado por desrespeitar o interlocutor. Se sim, peça aos estudantes para comentar se concordam com a ideia de que há desrespeito e como isso poderia ser contornado.

Fora da caixa

Neste capítulo, você estudou um gênero textual em que os ­autores se valem do humor para se comunicar com seus leitores. O humor é um recurso bastante polêmico. Alguns defendem que toda fórma de humor é válida; outros, ao contrário, defendem que o humor não pode desrespeitar direitos humanos.

Etapa 1 Discutindo o humor

Em quartetos, leiam e discutam um trecho da entrevista que o cineasta Pedro Arantes concedeu a um blog.

reticências

Por que esse humor autoproclamado “politicamente incorreto” insiste em satirizar pobres, pessoas com deficiência, homossexuais, negros, mulheres e, apenas raramente, se ­aventura a criticar ricos e poderosos?

Acho que o humor “politicamente incorreto”, com raras exceções, nada mais é do que o velho humor que sempre ridicularizou esses grupos que você aponta. Acontece que, com a organização desses grupos e a conquista gradual de direitos, é cada vez menos aceitável que se façam piadas desse tipo, ridicularizando um negro por ser negro, uma mulher por ser mulher, um homossexual por ser homossexual não porque o mundo está mais chato ou careta, mas porque esses ­grupos historicamente ridicularizados, ao se organizarem, conquistaram direitos e voz para reagir.

reticências

Esse humor pode até criticar ricos e poderosos, mas raramente o objeto da crítica será o fato de serem ricos e poderosos. Eles serão ridicularizados por serem mulher-gay-gorda-velho etcéteraponto Criticar os ricos e poderosos por serem ricos e poderosos não faz parte da pauta dos “politicamente incorretos” porque no fim das contas eles dividem os mesmos privilégios.

reticências

ARANTES, Pedro. O humor deve ter limites ou vale tudo em nome da liberdade de expressão? [Entrevista cedida a] Leonardo Sakamoto. Blog do Sakamoto – uól, São Paulo, 17 dezembro 2012. Disponível em: https://oeds.link/TubNeW. Acesso em: 15 março2022.

Biblioteca cultural

Assista ao docu­mentário O riso dos outros, produ­zi­do pela tê vê Câmara. Nele, humoristas como Danilo ­Gentili e Rafinha Bastos, a cartunista Laerte e o escritor ­Antonio Prata dão sua opinião sobre os ­limites do humor: https://oeds.link/ikAvnC. Acesso em: 15 março 2022.

Vocês concordam com a opinião do cineasta Pedro Arantes? ­Vocês já se sentiram ofendidos com algum tipo de piada? Façam uma autocrítica: vocês já fizeram alguma piada que tenha ferido alguém?

Respostas e comentários

Fora da caixa

Bê êne cê cê em foco

cê gê: 1, 2, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10.

cê e éle : 1, 2, 3, 4 e 6.

cê e éle pê : 2, 3, 5, 6, 7 e 10.

Habilidades: ê éfe seis nove éle pê zero um, ê éfe seis nove éle pê um um, ê éfe seis nove éle pê um três, ê éfe seis nove éle pê um cinco, ê éfe seis nove éle pê dois três, ê éfe seis nove éle pê dois cinco, ê éfe seis nove éle pê dois seis, ê éfe oito nove éle pê zero dois e ê éfe oito nove éle pê um cinco.

Orientações didáticas

Deve ser uma preocupação dos educadores formar jovens que se mostrem empáticos e entendam as consequências de suas ações no outro, quer quando diretas, quer quando endossando atitudes coletivas. Essa competência geral, identificada como cê gê 9, é reiterada na cê e éle 6, que se refere às práticas da cultura digital, explicitando a compreensão de que o mundo contemporâneo não cria, mas acirra situações de veiculação do discurso de ódio e a interação em bolhas que impedem o necessário debate com quem manifesta opiniões divergentes. Segundo a Bê êne cê cê, para a vida contemporânea – relações pessoais, mundo do trabalho etcétera – é necessário “saber reconhecer os discursos de ódio, refletir sobre os limites entre liberdade de expressão e ataque a direitos, aprender a debater ideias, considerando posições e argumentos contrários.” (Bê êne cê cê, página 69).

Elegemos, para uma nova aproximação dessas questões, o trabalho com o humor, cujo mau uso pode resultar em práticas preconceituosas e discriminatórias. Nesta seção, os estudantes vão debater a opinião de um cineasta acerca do humor e, em seguida, vão examinar e produzir memes, considerando sempre princípios éticos. O meme é um gênero corrente na cultura digital, de rápida propagação. Sua mensagem, embora aparentemente leve, pode disseminar e reforçar preconceitos. Por isso, tratar de sua composição, pela exploração do que é dito e do que fica implícito, e da réplica por parte dos usuários das redes sociais é uma maneira de colocar em foco a questão dos direitos humanos.

O trabalho prevê, ainda, levar a discussão para um contexto maior, que poderá incluir outros grupos de estudantes e a comunidade escolar. Para isso, eles promoverão uma mostra com charges e memes, considerando os contornos democráticos previamente discutidos. A produção de um regulamento para um concurso, que captará o material da mostra, reforçará a reflexão sobre os limites da liberdade de expressão e a recusa do discurso de ódio.

Sugerimos 10 minutos para a Etapa 1, cujo objetivo é familiarizar os estudantes com o tema e prepará-los para a discussão.

Biblioteca cultural – Se possível, exiba o documentário O riso dos outros, produzido por uma tê vê pública, para aquecer o debate. Trabalhe com os estudantes a necessidade de ser respeitosos uns com os outros e de não expor ninguém no debate (por exemplo, citando falas ou ações).

Etapa 2 Pesquisando

Vocês gostam de memes? Esse gênero textual é um fenômeno da internet, e os textos se espalham tão rapidamente pelas redes sociais e são tão efêmeros que a Universidade Federal Fluminense ú éfe éfe criou um espaço virtual para conservá-los: o rréchitégui (cerquilha, sustenido)MUSEUdeMEMES. Disponível em: https://oeds.link/kGaGaf. Acesso em: 15 março 2022.

  1. Selecionem um meme que vocês consideram de humor respeitoso, sadio, e um outro exemplo que, segundo o ponto de vista de vocês, é preconceituoso. É importante que, em caso de discordância, vocês apresentem seus argumentos e cheguem a um consenso.
  2. Participem de uma discussão coletiva, organizada pelo professor, acerca dos memes. Cada grupo apresentará e justificará suas escolhas.
  3. Discutam, em seguida, os atos de “curtir” e de “compartilhar” na internet.
    • Vocês costumam refletir sobre os memes e outras peças humorísticas que curtem e compartilham ou agem por impulso, repassando-os sem maior atenção?
    • Por que é importante que certos memes deixem de circular?
    • Como vocês agiriam se recebessem um meme preconceituoso enviado por um amigo?
    • E por um parente, como um tio ou uma avó?
    • Como acham que as pessoas deveriam agir nessas situações?

Etapa 3 Criando memes

Chegou o momento de criar um meme que, como os exemplos a seguir, possa ser compartilhado sem o risco de ofender pessoas.

Meme. Fotografia de um astronauta, e dois satélites na órbita da Terra. FIQUEI NO VÁCUO....
Meme. Fotografia de um bicho-preguiça, pelo marrom, liso e longo. Tem o rosto curto, olhos pequenos. Está esticado em um galho com a cabeça apoiada nas mãos. ALGUÉM TE FECHOU NO TRÂNSITO? REDUZ E FICA DE BOA...
  1. Selecionem as imagens que darão origem aos memes.
  2. Usem um editor de imagens para incluir legendas, formadas por expressões ou frases curtas.
  3. Socializem as produções entre os colegas da turma, usando celulares.
  4. Se possível, compartilhem os memes com pessoas que não sejam da turma.
Respostas e comentários

Orientações didáticas

Etapa 2 – Para esta etapa, são necessários 15 minutos para a pesquisa e a discussão em grupo, cêrca de 15 minutos para as apresentações e 10 minutos para a discussão final. É possível separar, no site do museu, os memes por categorias: criador/origem; categoria; período; país/região. Se achar conveniente, faça uma seleção prévia de memes para explorar na aula.

Solicite aos estudantes que tomem nota da discussão no caderno. Elas devem servir de apoio para a própria fala no momento de tomar o turno conversacional para reafirmar, completar ou contestar ideias já colocadas. Ao final da discussão, peça que produzam sínteses. Alguns dos estudantes deverão lê-las para a turma, que confirmará ou não a precisão dos dados.

Etapa 3 – A preparação de memes poderá ocupar até 20 minutos. Basta um celular por grupo para que a atividade seja viabilizada. Não obstante, se isso não for possível, considere a possibilidade de imprimir alguns exemplos para explorar na aula e peça aos estudantes que produzam memes em papel, usando imagens recortadas de jornais e revistas. Se achar pertinente, os estudantes podem apenas mostrar as telas de seus celulares ou compartilhar com os colegas cujos números de celular eles já tenham.

Etapa 4 Conhecendo um regulamento de concurso de humor

Neste capítulo, vocês estão estudando a expressão da opinião e ­analisando, principalmente, o uso do humor como recurso que a constrói. Para dar ­continuidade à reflexão, vocês vão planejar agora um concurso de humor na escola, o qual resultará em uma mostra de charges e memes. Para isso, será preciso criar um regulamento.

Na primeira seção do capítulo, você entrou em contato com um trecho do Código de Trânsito Brasileiro e estudou alguns elementos da composição do documento.

Para ampliar esse conhecimento e ajudá-los em sua produção, leia parte do regulamento de um concurso que também diz respeito à produção de um gênero ligado ao humor. Em seguida, discuta coletivamente as questões.

Reprodução de página da internet.

11º CONCURSO MICROCONTOS de HUMOR de PIRACICABA – 2021

Regulamento

1 – Tema

1.1 – A Prefeitura do Município de Piracicaba, por meio da Secretaria Municipal da Ação Cultural/Centro Nacional de Humor Gráfico de Piracicaba e a Biblioteca Pública Municipal “Ricardo Ferraz de Arruda Pinto”, estabelece as normas para a participação do 11º CONCURSO MICROCONTOS DE HUMOR DE PIRACICABA, que fará parte da programação do 48º Salão Internacional de Humor de Piracicaba – 2021, conforme Lei Municipal norteº 7064, de 06 de julho de 2011.

2 – Participação

2.1 – Os participantes deverão enviar um microconto em português, de autoria própria, com até 280 caracteres. Será considerado caractere qualquer toque no teclado, incluindo pontuação, espaçamento e troca de parágrafo. O microconto deverá possuir título, que também será considerado na contagem dos caracteres. reticências

2.2 – Cada participante deverá enviar um único microconto, de tema livre e que deve apresentar teor humorístico. Não há necessidade de ineditismo.

2.3 – O microconto deverá ser enviado em uma única página, com a seguinte formatação:

• Página tamanho A4;

• Fonte táimis níu roman, tamanho mínimo 12;

• Máximo de 280 caracteres, conforme itens 2.1 e 2.1.1.

Reprodução de página da internet.
Reprodução de página da internet.

2.4 – Serão aceitos trabalhos em português de participantes de qualquer localidade e de qualquer faixa etária. Não será permitida a participação dos membros das Comissões Organizadora e Julgadora.

2.5 – Os candidatos deverão enviar a inscrição para o e-mail , entre os dias 05 de julho e 16 de agosto de 2021.

2.6 – No e-mail deverão constar dois arquivos: um anexo com o microconto, identificado com o título do trabalho, e outro anexo contendo a Ficha de Inscrição, disponível na página:

https://oeds.link/RcdDEI

2.6.1 – O anexo com o microconto não deverá conter indicação de autoria, pseudônimo ou assinatura. A autoria e os demais dados pessoais deverão constar somente na Ficha de Inscrição.

2.6.2 – Os arquivos deverão estar em formato doc ou dóqui chís.

2.7 – Serão aceitas somente inscrições enviadas para o e-mail informado no item 2.5 e com o arquivo da Ficha de Inscrição informado no item 2.6. reticências

7 – Disposições gerais

7.1 – Fica assegurada, com o máximo de rigor, a confidencialidade dos dados pessoais dos participantes.

7.2 – Serão desclassificados os trabalhos encaminhados fora do prazo estipulado e/ou que não estiverem dentro das normas estabelecidas neste Regulamento.

7.3 – Os trabalhos com teor pornográfico, preconceituoso, discriminatório e/ou que possam ser considerados ofensivos serão ­desclassificados.

7.4 – A participação neste concurso cultural implica a aceitação irrestrita e total deste Regulamento.

7.5 – Os participantes autorizam a utilização de seu nome e imagem para fins de divulgação/promoção deste concurso literário.

7.6 – Os casos omissosglossário neste Regulamento serão delibe­rados pelas Comissões Organizadora e Julgadora.

Piracicaba, junho de 2021.

COMISSÃO ORGANIZADORA

Reprodução de página da internet.

11º CONCURSO Microcontos de Humor de Piracicaba – 2021. Piracicaba: Secretaria Municipal da Ação Cultural, 2021. Disponível em: https://oeds.link/qWsYye. Acesso em: 11 março 2022.

  1. Para identificar o tipo de informação que deve constar do ­regulamento, retome alguns dados:
    1. O regulamento informa aos participantes interessados as regras do 11º Concurso de Microcontos de Humor de ­Piracicaba. Quem está organizando o concurso?
    2. Quais são os critérios estabelecidos para os microcontos ­inscritos no concurso?
    3. Como as pessoas devem inscrever seus textos no concurso?
    4. Quais são as possíveis causas de desclassificação de um texto?
  2. Observe a estrutura do texto. Qual é a função dos títulos ("1 – Tema", por exemplo) em um texto como esse?
  3. O regulamento traz detalhes precisos em relação à inscrição, ­critérios de desclassificação etcétera Qual é a impor­tância dessa precisão?
  4. Você notou alguma marca de subjetividade no texto?
  5. O texto explora a interlocução com o leitor, estimulando a formação de uma opinião sobre o conteúdo? Explique sua resposta.

Etapa 5 Elaborando o nosso regulamento

Agora chegou o momento de você e seus colegas de grupo criarem o regulamento de um concurso de charges e memes na escola. O grupo deve decidir as regras de participação, os critérios de avaliação e de escolha dos vencedores, as fórmas de premiação e os critérios de desclassificação. Todo o material enviado para o concurso será aproveitado na mostra.

Lembra?

Os regulamentos são textos normativos, por isso precisam ser claros e objetivos. Assim como outros textos que expressam leis e regras, obedecem a orientações de formulação que determinam sua organização e linguagem.

Sigam o modelo apresentado na etapa anterior, fazendo as adaptações necessárias para os gêneros charge e meme e o contexto escolar de vocês.

  1. Previamente, façam uma lista de dados que precisarão incluir no texto. Em cada tópico, detalhem as informações que considerem relevantes, a fim de evitar ambiguidades e dúvidas entre os participantes.
  2. Iniciem o texto declarando quem promove o evento e qual é o objetivo dele.
  3. Elaborem as seções que descrevem quem pode participar, até quando deve se inscrever e como deve fazê-lo.
  4. Descrevam como devem ser as charges e os memes:
    • Vocês definirão a temática?
    • Haverá limite de caracteres para os textos verbais?
    • Textos que não são inéditos, como as charges produzidas em Minha charge na prática, podem ser inscritos?
    • Serão aceitos memes produzidos coletivamente?
Respostas e comentários

1a. A Prefeitura de Piracicaba, por meio da Secretaria Municipal da Ação Cultural e da biblioteca pública da cidade.

1b. Devem apresentar teor humorístico, ser escritos em português, ser de autoria própria, ter título e respeitar o limite máximo de 280 caracteres.

1c. Enviando seus microcontos para o e-mail divulgado, dentro da data estipulada.

1d. Ter sido enviado fora do prazo estipulado e/ou fora das normas estabelecidas no regulamento, além de ter teor pornográfico, preconceituoso, discriminatório e/ou que possa ser considerado ofensivo.

2. Os títulos auxiliam os leitores na localização das informações, além de organizar os dados do texto.

3. Para os inscritos, o detalhamento é importante para que saibam exatamente como devem participar do concurso e de como terão seus trabalhos avaliados. Para os realizadores, importa a transparência das normas, para que todos possam considerar o concurso justo, e, posteriormente, não possam contestar seu resultado.

4. Espera-se que os estudantes respondam que não. Textos de regulamentos devem ser claros e objetivos.

5. Não. O texto oferece informações que não podem ser discutidas. Para participar do concurso, a pessoa deve aceitar e seguir as regras.

Orientações didáticas

Etapa 5 – Verifique a possibilidade de colocar em prática a atividade de concurso de charge. Ela cria a oportunidade de protagonismo dos estudantes na apresentação e na organização do concurso, além de dar sentido à produção do texto. Contribui, assim, para o desenvolvimento da cê gê 10, que trata de aprender a agir com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, características necessárias à realização do concurso. Em outra linha, esse evento contribui também para a cê gê 8, pois oferece aos estudantes a oportunidade de revelar habilidades que podem não estar evidentes na rotina da sala de aula e que contribuem para sua autoestima. Referimo-nos, por exemplo, a um estudante introvertido que se destaca quando desenha ou a um estudante com desempenho acadêmico considerado frágil, mas que se revela uma pessoa criativa e proativa.

Seria interessante contar, nesse processo, com o professor de Arte, que pode orientar o planejamento do evento, levando os estudantes a refletir sobre os elementos envolvidos em uma mostra de arte, além de poder orientar atividades pontuais: o esboço da ilustração da charge e sua colorização.

Se você tiver mais de uma turma, combine com os estudantes que a direção selecionará um dos regulamentos e que talvez proponha adaptações necessárias para sua efetivação no contexto da escola.

  1. Informem a premiação e os critérios para a escolha dos ­vencedores.
  2. Apresentem as “disposições finais”, que esclarecem que os ­candidatos aceitam todas as regras mencionadas nas quais constam os critérios de desclassificação.
  3. Confiram se o texto emprega recursos que se referem à ­conduta. Vocês podem, por exemplo, usar verbos no futuro do presente do indicativo para indicar obrigação (exêmplo Os textos serão entregues até 10 de março.); empregar verbos auxiliares para indicação permissão ou proibição (deve/não deve; pode/não pode etcétera); utilizar advérbios que reforcem condições. (exêmplo Os textos devem ser entregues, obrigatoriamente, até o dia 10 de março.)
  4. Leiam o texto para verificar se o conteúdo foi apresentado segundo uma ordem lógica e se não há informações ­redundantes ou dispensáveis.
  5. Vejam se houve um uso monitorado da língua e se as ­informações foram apresentadas de modo claro e preciso.

O regulamento de cada grupo será avaliado pela turma. Enquanto um grupo faz a leitura do texto que produziu, os demais vão ­prestar atenção para avaliar os aspectos listados a seguir. Os itens bem ­realizados devem ser apontados, e os que não estiverem satisfatórios devem ser comentados.

A

O regulamento está organizado em seções?

B

O conteúdo das seções é coerente com os títulos delas?

C

As regras de inscrição e de participação são objetivas?

D

A premiação e os critérios de definição dos vencedores são claros e não permitem futuras contestações?

E

A linguagem está adequada a uma situação formal de comunicação?

Depois de avaliar todos os regulamentos, a turma escolherá um deles para ser o oficial. Façam uma revisão da escrita, para verificar se não há desvios em relação à ortografia, à concordância, à pontuação etcétera

Procurem a direção da escola e combinem como realizar o ­concurso. Vocês podem aproveitar algum evento para fazer a mostra das charges e memes e divulgar o resultado do concurso ou criar um evento para isso.

Glossário

Pista de rolamento
:espaço público onde ocorre o tráfego de veículos.
Voltar para o texto
Perpendicular
: reto em relação ao eixo.
Voltar para o texto
Interseções
: cruzamentos.
Voltar para o texto
Omissos
: não mencionados.
Voltar para o texto