CAPÍTULO 5 

Oficinas com histórias (re)vividas

Leitura 1

Leia silenciosamente os textos 1 e 2 e os boxes Quem é? e Vale a pena ler!. Depois, reúna-se com um ou uma colega e façam em voz alta uma leitura bem expressiva do texto 2. Combinem quem lerá cada parágrafo e experimentem trabalhar a entonação, o ritmo, as pausas, para “darem vida” ao texto.

Texto 1

O garoto da camisa vermelha

Ilustração. Tons de marrom. À frente, solo com pedras, pneu e animais: um porco à direita. Perto dele, dois urubus. Em segundo plano, um caminhão de lixo despejando dejetos no solo e perto dele, três pessoas em pé. Acima deles, duas aves sobrevoando. À direita, um menino caminhando para a direita.
Ilustração. Tons de marrom. Menino com camiseta vermelha e cabelos curtos, está com o corpo parado à direita em pé, olhando de frente para uma caixa de papelão aberta com livros dentro. Ao redor, quatro aves similares a urubus em tons escuros. Na parte superior, aves sobrevoando, vistas parcialmente.
Ilustração. Tons de marrom, menino visto da cintura para cima, com camiseta vermelha  e cabelos curtos e escuros. Ele está com a cabeça um pouco inclinada para baixo, lendo um livro grande, aberto de capa marrom. À direita, texto em branco: O MUNDO CABE DENTRO DE UM LIVRO! Ao fundo, céu em tons de laranja, bege e marrom.
Ilustração. Vista do alto, à direita local com árvores, residências aglomeradas no alto. Em parte mais baixa, uma antena sobre um telhado. Céu em tons de laranja, nuvens em amarelo. À esquerda, texto em tons de preto: 
Chuva. Leitura. 
Bolinho de chuva. 
Bem de tardinha, 
a favela foi tomada 
por um grande arco-íris.  
Já era noite, e o menino  
nem se deu conta: 
estava em outro planeta.  
O garoto da camisa 
vermelha dormiu – desta vez, 
ouvindo uma nova melodia.

JÚNIOR, Otávio. O garoto da camisa vermelha. Ilustrações: Angelo Abu. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

Quem é?

Fotografia. Homem visto dos ombros para cima, sentado, com a cabeça  baixa. Ele  tem cabelos encaracolados escuros, veste  camiseta cinza. Ao fundo, estante com livros.
O ilustrador, em 2017.

Nascido em 1974, em Belo Horizonte Minas Gerais, Angelo Abu passou parte da infância em Porto Seguro, na Bahia. Cursou Cinema de Animação na Faculdade de Belas Artes da ú éfe ême gê. É ilustrador de várias obras e autor de agá quês.

Vale a pena ler!

Você costuma ler narrativas quadrinizadas (que se valem de recursos de agá quê)? Leia a sinopse seguinte e reflita: O que você pode sentir, aprender, descobrir com a leitura desse livro infantojuvenil? Procure em bibliotecas, na internet etcétera. fórmas de ter acesso ao livro e depois partilhe sua experiência de leitura com os ou as colegas ou, com o apoio de seu ou sua responsável, em redes de leitores na internet.

O garoto da camisa vermelha

Otávio era ainda um garoto quando bateu à minha porta. O jovem negro criado numa das comunidades mais violentas e pobres do Rio de Janeiro, dominada por traficantes, poderia ter seguido o caminho de tantos colegas de sua geração reticências. Mas não! Livros, encontrados no meio do lixo, mudaram seu destino e lhe deram a régua e o compasso para seguir novas trilhas. reticências

Disponível em: https://oeds.link/Ajmc6M. Acesso em: 15 fevereiro 2022. (Fragmento).

Texto 2

O livreiro do Alemão

Era uma vez um menino de oito anos. Como a história é minha, eu queria que ela começasse com “era uma vez”. Todas as manhãs, eu, minha mãe, Joana Dárc, e minha irmã, Jucilene, então com cinco anos, íamos até a igreja, que ficava a seis quadras de casa. Descíamos uma pequena escadaria e virávamos à direita. Estava de bermuda, camisa e sapato. O culto durou aproximadamente uma hora, como de hábito. No caminho de volta, eu sempre dava um jeito de desviar pelo campinho de futebol. Os “donos do campo” já estavam lá. Quando a turma de 16, 17 anos chegava, as crianças tinham de sair imediatamente. A senha era sempre a mesma. Um deles chutava a bola para o alto com muita fôrça e anunciava:

— Acabou o juvenil!

As crianças, incluindo eu, saíam correndo na mesma hora. Só nos era permitido ficar na beirada, vendo o jogo.

Naquela manhã, os grandões estavam jogando. Era difícil ver a bola dente de leite, velha e surrada. De tão gasta, ela já tinha perdido os desenhos que imitavam gomos pretos. Tinha a mesma cor da terra do campo. O entorno era um grande depósito de lixo. Não havia serviço de coleta na comunidade. Todo o lixo era queimado ali mesmo. Para não invadir o terrão, fui caminhando pela sujeira. De repente, vi uma caixa cheia de brinquedos quase novos. Devo ter dado um grito de surpresa, de espanto, alguma coisa assim. Esse foi o meu erro. Todos que estavam em volta do campo ouviram e correram em minha direção. Os brinquedos só podiam ser de um menino com melhores condições de vida, que morava no pé do morro. Deu tempo apenas de pegar o livro que estava ali: dom gaton. Não sei como explicar, mas tive olhos apenas para o livro, e não para os brinquedos, que foram rapidamente atacados. Depois da “batalha”, levei aquele exemplar como um troféu para casa. Estava começando a viver ali o meu conto de fadas.

(Entendeu por que a minha história tinha mesmo que começar com um “era uma vez”?)

JÚNIOR, Otávio. O livreiro do Alemão. São Paulo: Panda Books, 2011. (Fragmento).

Quem é?

Fotografia. Homem careca, com camisa azul, gravata rosa e azul e terno cinza. Ele está em pé, fala de frente para um microfone preto e cinza. Ao fundo, parede em tons de preto, verde e azul.
O autor no Rio de Janeiro, em 2019.

Otávio Júnior nasceu no Rio de Janeiro, em 1983. É escritor, ator, contador de histórias e produtor teatral. Tornou-se conhecido por inaugurar a primeira biblioteca no Complexo do Alemão e no Complexo da Penha (Rio de Janeiro).

Converse com a turma

Converse com a turma e ô á professor ou professora sobre as questões propostas.

  1. Do que tratam os textos 1 e 2? O que eles têm em comum?
  2. Com base no que você aprendeu, em qual texto há mais reinvenção, isto é, ficção?
  3. Em qual texto a voz que fala representa a voz de quem viveu os fatos?
  4. Em qual texto quem viveu os fatos se torna uma personagem?
  5. O que você conclui: qual texto é um relato autobiográfico e qual é uma narrativa?
  6. Do que você mais gostou em cada texto? Por quê?
  1. Reúna-se com um ou uma colega e expliquem um ou uma para ô á outro ou outra o que o gráfico no boxe Clipe informa. Para isso, observem e relacionem as informações dadas verbalmente (palavras), em números e visualmente (cores e fórma dos gráficos). Discutam:
    1. Segundo esses dados, a leitura é um direito de todos ou todas no Brasil?
    2. Quais relações você estabelece entre a história vivida por Otávio e os dados sobre leitura no Brasil? E a relação entre a história dele e essa história maior, que é a de todos nós como país?
Ícone. Clipe.

Clipe

Gráfico. Quatro gráficos em formato pizza para apresentar a porcentagem de leitores e não leitores em diferentes anos.
Legenda: 
Azul: Leitor 
Vermelho: Não Leitor 
Ano: Dois mil e sete
Leitor: cinquenta e cinco por cento
Não Leitor: quarenta e cinco por cento
Ano: Dois mil e onze 
Leitor: cinquenta por cento
Não Leitor: cinquenta por cento
Ano: Dois mil e quinze
Leitor: cinquenta e seis por cento 
Não Leitor: quarenta e quatro por cento
Cento e quatro milhões e setecentos mil
Ano: Dois mil e dezenove 
Leitor: cinquenta e dois por cento
Não Leitor: quarenta e oito por cento
Cem milhões e 100 mil

Leitor

É aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos 1 livro nos últimos 3 meses.

Não leitor

É aquele que declarou não ter lido nenhum livro nos últimos 3 meses, mesmo que tenha lido nos últimos 12 meses.

Fonte: https://oeds.link/WXjhJW. Acesso em: 21 janeiro 2022.

Vale a pena ler!

Pesquise sobre o livro e se pergunte: Por que essa leitura pode me interessar? Caso você se interesse, procure em bibliotecas, na internet etcétera por fórmas de ter acesso ao livro e boa leitura!

O livreiro do Alemão

O autor, ganhador do prêmio Faz Diferença, do jornal O Globo, em 2008, revela como um livro que ele encontrou no lixo quando tinha oito anos mudou sua vida para sempre. Morador do Complexo do Alemão, um dos locais mais violentos do Rio de Janeiro, Otávio criou em sua comunidade o projeto Ler é 10 — Leia Favela, para ensinar às crianças o prazer da leitura.

Disponível em: https://oeds.link/iO4Wwn Acesso em: 15 fevereiro 2022.

Capa de livro. Na parte superior, vista geral de cidade com casas aglomeradas e árvores com folhas verdes. Na parte inferior, tons de bege e ilustração em preto e branco de uma pessoa sobre um livro em tons de preto. Na parte inferior, texto: O livreiro do Alemão.

O que você poderá aprender

  1. Como ampliar o que você já sabe sobre narrativas inspiradas em experiências vividas em outras leituras e em trocas com os ou as colegas?
  2. Como analisar relações de sentido entre recursos da linguagem das histórias em quadrinhos e de uma narrativa autobiográfica?
  3. Como se conhecer mais como leitor, analisando suas práticas e seus comportamentos de leitura?
  4. Que estratégias usar para escolher bem um livro?
  5. Como compartilhar uma leitura de modo interessante com os ou as colegas?
  6. Como experimentar a autoria na produção de uma narrativa autobiográfica?

Leitura 2

Observe bem as fotografias e depois converse com a turma e com o professor ou a professora.

Fotografia. Dois meninos de costas. O da esquerda usa camiseta vermelha e está com a mão direita sobre o ombro do menino da direita de camiseta lilás e que está com o braço esquerda sobre os ombos do outro. Ao fundo, um muro com grafite colorido de dois rostos de meninos com partes escorrendo de tinta. À esquerda, rosto de menino de cabelos escuros e, à direita, menino de cabelos escuros.
Meninos se abraçam e observam o muro grafitado com o rosto de dois garotos, no Jardim Valquíria, Capão Redondo, zona sul de São Paulo, em setembro de 2013.
Fotografia. À frente, um menino visto da cintura para cima em local aberto. Ele é negro, cabelos curtos e escuros, sem camiseta. Ele segura nas mãos um peixe cinza com boca aberta. O menino está sorrindo com os olhos fechados. Ao fundo, árvores com folhas verdes, uma casa de paredes brancas, telhado e porta marrom.
Criança no Quilombo da Lapinha, Matias Cardoso (Minas Gerais), Vale do São Francisco, 2013.
Fotografia. Menino em um local aberto, visto da cintura para cima. Ele está à frente com blusa de mangas compridas em amarelo e colete vermelho com detalhes em verde e fitas verdes e amarelas presas no ombro. Sobre a cabeça dele, um chapéu ornado em cinza, bege e vermelho. Na mão esquerda, ele segura uma espada fina em cinza. Ele está com o corpo inclinado para  frente com o braço direito atrás do corpo, sorrindo e com a cabeça levemente abaixada. Ao fundo, local com grama verde.
Menino em Reisado, festa em homenagem aos três Reis Magos, sem data
Fotografia. Em um local aberto, com grama e solo arenoso com três meninas brincando de pular corda. À frente, uma menina vista de costas, em pé, com vestido de mangas curtas em azul segurando a corda na mão direita. Ao centro, uma menina pulando a corda de blusa regata e saia, estampadas, com o corpo no ar e descalça. Ao fundo, menina de regata rosa e bermuda em vermelha, segurando a outra ponta da corda. Mais ao fundo, vegetação em verde.
Meninas brincando de pular corda no povoado de Lagoa do Boi, Santaluz (Bahia), em agosto de 2014.

Converse com a turma

  1. O que chama sua atenção no trabalho dos fotógrafos? Onde parece que a câmera foi colocada para fazer a cena? O que os fotógrafos parecem ter escolhido mostrar?
  2. Em relação à temática, o que essas fotografias têm em comum?
  3. Qual delas chamou mais sua atenção? Por quê?
  4. Qual você escolheria para ilustrar uma experiência que viveu? Que relações poderiam ser estabelecidas entre a fotografia e esse acontecimento?
  5. O que podemos aprender vendo as fotografias assim em conjunto?
    • Que tal escolher uma fotografia sua, que para você expresse seu jeito de ser criança, e trazer para a próxima aula?

Oficina de leitura e criação

Recontando imagens: histórias da turma

Condições de produção

O quê?

Você e sua turma escreverão histórias criadas com base em experiências vividas por vocês! Juntas, elas farão parte da coletânea de histórias Lembranças de nossas infâncias, que poderá circular entre outros leitores.

Além disso, vocês também trabalharão os textos em leituras orais, para participar de rodas de leitura com as histórias da turma!

Para quem?

Para leitores da comunidade escolar: outros ou outras estudantes, familiares, professores ou professoras, funcionários ou funcionárias, equipe de gestão.

Como fazer?

Preparando-se para escrever o texto

Você escolherá uma das fotografias trabalhadas neste capítulo ou trazidas pela turma. Observe bem as fotografias, preste atenção nas sensações, ideias e lembranças que elas despertam em você. Escolha uma que ô á faça relembrar situações já vividas por você.

1. No caderno, escreva um comentário para a fotografia escolhida. Para isso, use as informações do quadro e faça os acréscimos que desejar.

Essa fotografia me lembra quando eu espaço para resposta, porque espaço para resposta. Nela me chama a atenção especialmente espaço para resposta, que eu associo a sentimentos e emoções, como espaço para resposta, que senti naquela ocasião.

  1. No caderno, planeje o enredo que você desenvolverá na narrativa. Utilize as perguntas a seguir.
    1. Quando aconteceu?
    2. Onde aconteceu?
    3. Quem participou? (Escolha apenas uma pessoa para ser a personagem que participará das ações contadas pelo narrador).
    4. O que aconteceu? (Escolha acontecimentos em que o narrador seja a personagem central, como no trecho de Infância, de Graciliano Ramos, que você leu no capítulo 2).

Oficina de leitura e criação

  1. Lembre-se de que você precisará trabalhar a linguagem para que a narrativa fique atraente a seus leitores. Não se trata apenas de lembrar uma passagem de sua vida, mas de recriá-la em uma narrativa. Para isso, planeje:
    1. Como você descreverá o lugar em que acontecem as cenas? Dica: para você se inspirar, retome o capítulo 2 e reveja os trechos em que Daniel Munduruku fala do igarapé e em que Graciliano Ramos descreve a casa e o beco.
    2. Escolha uma imagem que pode servir para comparação ou para metáfora, ajudando o leitor a imaginar o lugar central de sua narrativa.
    3. Quais verbos você vai usar para ajudar na construção das ações das personagens e, ao mesmo tempo, organizar temporalmente a narrativa? Como haverá mais ações do narrador, capriche na lista de verbos escolhidos para ele. Leia a seguir as funções dos verbos que você poderá utilizar no texto. Não se esqueça de já conjugar os verbos no tempo verbal adequado para essa organização do tempo.

Expressarão ações da personagem, que aconteceram e se concluíram no passado.

Expressarão ações do narrador, que aconteceram e se concluíram no passado.

Expressarão ações de ambas as personagens, que aconteceram e se concluíram no passado.

Expressarão ações da personagem que sempre aconteciam, eram recorrentes e não se concluíam.

Expressarão ações do narrador, em um passado mais anterior do que o usado para os acontecimentos até então narrados.

  1. Quais falas de sua personagem entrarão na narrativa? O narrador as apresentará por discurso direto, indireto ou indireto livre?
  2. Você quer citar algum trecho de cantiga, de música ou de outra história em seu texto? Que relações de sentido quer que o trecho citado tenha com sua história? O que você quer que o leitor pense, sinta, ou que relações quer que ele faça entre essa citação e a história que você vai contar?
  3. Que imagem do narrador você quer que o leitor tenha? Lembre-se de que agora não será mais você, mas alguém que fala no texto, recriando nele experiências suas. Associe sentimentos e emoções e depois escolha comparações e metáforas. Leia, na página seguinte, alguns exemplos inspirados nas fotografias que você observou há pouco.

Livre e feliz

E eu tomava o peixe que vem na natureza para nos prover o alimento.

E eu tomava a natureza que nos alimenta.

Solidário, participativo

Eu era parte da meninada, sempre unidos como nas cores de um grafite.

Eu era parte da meninada, cores unidas em um grafite.

Ousado, rápido

Eu desafiava meu tamanho, saltando rápido e certeiro como um grilo.

Eu era um grilo a desafiar meu tamanho, saltando rápido e certeiro.

Imponente, destemido

Na roupa rubra e brilhante, eu me erguia como se fosse o rei de minha gente.

Na roupa rubra e brilhante, eu me erguia, rei de minha gente.

7. Vamos seguir uma estrutura próxima à que foi trabalhada na narrativa Meu vô Apolinário, de Daniel Munduruku, cujo trecho foi visto no capítulo 2. Para isso, estude e entenda o esquema seguinte.

1º parágrafo
Introdução

Inicie a narrativa situando o leitor sobre o que você narrará, quando e onde aconteceu e quem esteve envolvido. Trabalhe bem a linguagem para apresentar lugar e personagem, com comparações e metáforas e atenção ao uso dos verbos.

2º parágrafo

Nesses parágrafos, desenvolva as ações, incluindo na narrativa as falas das personagens. Se desejar, estabeleça relações de intertextualidade, citando o trecho de alguma cantiga ou de alguma outra história (como daquelas que você leu neste capítulo).

3º parágrafo

4º parágrafo

Aqui é o ponto alto de sua narrativa, quando os acontecimentos se complicarão, criando uma quebra da harmonia, uma tensão.

5º parágrafo

Aqui você precisa contar como se resolveu a situação anterior; é o fechamento da narrativa.

Escrevendo a história

1. Retome tudo o que você planejou até aqui e, com base no esquema de organização do texto, redija no caderno cada um dos parágrafos. Lembre-se de trabalhar bem os recursos de linguagem que aprendeu: usar palavras e expressões que proporcionem a coesão do texto; empregar bem os verbos escolhidos, concordando com o sujeito e organizando a lógica de tempo da narrativa; empregar bem comparações e metáforas; trabalhar a fala da personagem; fazer intertextualidade, se for o caso, destacando um trecho de outro texto na narrativa.

Oficina de leitura e criação

2. Escolha um título bem criativo, que desperte o interesse do leitor, provoque sua imaginação e, ao mesmo tempo, tenha relações com a história. Se quiser, brinque com os sentidos das palavras e empregue parênteses para criar outras.

Avaliando a produção

Tudo pronto? Revise o texto, utilizando a tabela com os critérios para a produção e revisão de sua narrativa autobiográfica. Lembre-se de consultá-la durante e depois da escrita da primeira versão de seu texto. Com base no que analisou, corrija problemas, melhore trechos. ô á professor ou professora também trará contribuições para você melhorar ainda mais seu texto. Após as contribuições dele ou dela, faça a reescrita, se preciso.

Ficha de apoio à produção e à avaliação da narrativa autobiográfica

1. Adequação à proposta

a) O texto traz aspectos de experiências vividas na infância, contadas de forma a despertar interesse, prazer, outras emoções em ouvintes/leitores?

b) A fotografia inicialmente escolhida foi usada na criação da narrativa? O leitor de seu texto consegue perceber relações estabelecidas entre ela e a narrativa?

2. Adequação às características estudadas do gênero

a) A narração está em 1ª pessoa: é um “eu” que conta a história?

b) Há uma organização lógica do tempo, com uso de verbos que indicam ações concluídas e não concluídas no passado? Se houve a necessidade de expressar um tempo mais anterior, o verbo escolhido está de acordo com isso?

c) A outra personagem que participa da história está bem construída, de modo que o leitor possa imaginar o que é importante nela, de acordo com seu papel nos acontecimentos? O uso de comparações e/ou metáforas está contribuindo para isso?

d) As falas da personagem estão bem “encaixadas” no texto, de acordo com a estratégia escolhida?
— Discurso direto (a própria personagem fala, como se a cena acontecesse no momento da leitura; há uso de travessões ou aspas).
— Discurso indireto (o narrador fala pela personagem, usando verbos que indicam isso:
disse, falou, comentou, gritou etc.).
— Discurso indireto livre (com fala que, embora seja do narrador, cria no leitor a sensação de que nela se “mistura” a fala de outra personagem).

e) O espaço em que ocorrem as ações está descrito de modo a contribuir com a imaginação do leitor? O uso de comparações e/ou metáforas contribui para isso?

2. Adequação às características estudadas do gênero

f) Houve a escolha de provocar o leitor a fazer relações com outros textos (intertextualidade)? Nesse caso, a citação de trechos de outro texto está se “encaixando” bem na narrativa? É possível estabelecer relações de sentido entre as citações e a narrativa?

g) O enredo está interessante e lógico, com ações bem “encaixadas” — uma coisa levando a outra?

3. Construção da coesão/coerência do texto (textualidade)

a) Há um título criativo, que tem relações com o que se narra?

b) O texto está organizado em parágrafos, ajudando a estruturá-lo como narrativa tradicional: início (em que se situa o leitor sobre o que vai ser narrado); desenvolvimento das ações; complicação delas com um ponto de tensão, um conflito; solução, desfecho da narrativa?

c) Houve uso de expressões sinônimas e de pronomes para retomar referentes do texto, eliminando a repetição e garantindo a progressão de sentidos?

4. Uso das normas e convenções da norma-padrão escrita e de outras variedades da língua portuguesa

a) O texto segue as regras de concordância nominal e de concordância verbal da norma-padrão escrita?

b) Houve uso intencional de regras de outras variedades, na fala de alguma personagem, por exemplo?

5. Ortografia, pontuação e construção de sentidos

a) As palavras foram escritas de acordo com a ortografia?

b) Houve uso intencional de sinais, contribuindo para os sentidos do texto, com especial atenção a travessão, aspas e parênteses?

Roda de leitura: lembranças de nossas infâncias

Lendo, gravando e circulando sua história

A leitura em voz alta “dá vida” a um texto. Para isso, é preciso que se trabalhem aspectos próprios da oralidade: entonação (diferentes alturas da voz, conforme a ênfase que se quer dar a uma parte do discurso), pausa, ritmo, expressividade. Além disso, a expressão facial e os gestos também podem ser associados a uma leitura bem expressiva.

Por isso, é preciso conhecer bem o texto, seu movimento, suas vozes e as emoções sugeridas em cada passagem.

Uma mesma oração escrita pode ganhar diferentes interpretações, de acôrdo com o trabalho de leitura.

Experimente ler em voz alta as orações seguintes, imprimindo as emoções indicadas entre parênteses:

  • Amanhã não haverá aula. (tristeza)
  • Amanhã não haverá aula. (dúvida)
  • Amanhã não haverá aula. (alegria)
  1. Planejando e ensaiando a leitura Com base nessas dicas e nas orientações que ô á professor ou professoradará, planeje e ensaie a leitura da história que você escreveu na oficina anterior, de modo que ela fique bem interessante para os ou as demais colegas escutarem e para ser gravada e partilhada com outros ouvintes.
  2. Avaliando a leitura Após a leitura, escolha um ou uma colega para responder às seguintes perguntas:
    1. Do que você mais gostou em minha história?
    2. Qual foi o ponto mais dramático dela?
    3. Você modificaria alguma parte?
    4. Você tem alguma sugestão para que minha leitura fique mais interessante?

Fique atento ou atenta às dicas dos outros leitores para seu aprimoramento.

Da mesma fórma, ouça com interesse e atenção as histórias dôs ou dás colegas, tanto para curtir o que criaram como para, se for convidado ou convidada, opinar a respeito. Agora, com apoio dô ou dá professor ou professora ou responsável, grave sua leitura e compartilhe com quem quiser e também com outros ouvintes decididos coletivamente.

Ilustração. Menino de cabelos escuros, camiseta laranja, calça azul e sapatos vermelhos. Ele usa sobre a cabeça, boné em branco e vermelho, mochila nas costas em roxo e nas mãos, segura um livro de capa verde. Ele olha para frente sorrindo.

O que levo de aprendizagens deste capítulo

  1. Chegamos ao final deste capítulo! Convidamos você a retomar, no início dele, o boxe O que você poderá aprender. Com base nas questões que estão lá, reflita sobre o que aprendeu nas trocas com os ou as colegas e ô á Do que mais gostou? Em que sentiu dificuldade? Em que gostaria de ter mais apoio?
  2. O que você achou de conhecer mais sobre o modo como histórias de vida podem se tornar narrativas?
  3. Pretende ler mais textos de Meire Cazumbá, Daniel Munduruku e Graciliano Ramos? E o que achou de se aproximar mais da fotografia, estabelecendo relações entre ela e a literatura?
  4. Você avalia que está mais consciente sobre quanto é bacana e importante ler textos da literatura? Como foi experimentar a autoria na produção de uma narrativa autobiográfica?

Galeria

“Retratos” de minhas leituras

Ilustração. Menino visto da cintura para cima, cabelos escuros encaracolados Usa camiseta laranja, e segura um livro de capa verde.  Nome: Marcelo Pinheiro. Livros lidos: dezoito. Abaixo, há
Ícones em vermelho, um ao lado do outro: 
Coração: Favoritos seis
Caixa de presente: Desejados quatro 
Livro: Tenho dez
Mão segurando um livro: Emprestei dois 
Duas flechas em sentidos contrários: Quero trocar: três 
Dois livros um sobre o outro: Meta de leitura para o mês: três.

Retome e analise novamente o gráfico da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, do Instituto Pró-Livro, no boxe Clipe.

Reflita: Em que sentido está sendo usada a palavra “retratos” na pesquisa?

Como você está nesse retrato: Você é leitor ou ainda não? O que pensa e pretende em relação a isso?

Há biblioteca ou sala de leitura na escola? Você já a conhece? Com que frequência costuma pedir livros emprestados?

E bibliotecas públicas ou comunitárias: Você sabe se há alguma perto de onde você mora? Já a conhece? Costuma usar o acervo dela?

Conhece comunidades de leitores na internet próprias e seguras para sua idade? Participa delas com a autorização e o acompanhamento de seus responsáveis?

Agora, com base no que refletiu, faça na sua galeria um “retrato” de si mesmo ou mesma como leitor ou leitora:

Cole uma fotografia sua ou use a criatividade e faça uma ilustração para você mesmo ou mesma. Faça uma tabela como a seguinte e complete-a, respondendo às perguntas. Essa é uma fórma de você se conhecer mais como leitor ou leitora e de agir para continuar suas descobertas e experiências de leituras!

Quantos livros quero ler por mês?

Como pretendo fazer boas escolhas, usando o que já aprendi no capítulo passado?

Como posso ter acesso às formas de escolher livros? E aos livros? Quem pode me ajudar?

O que já sei sobre meus gostos e preferências? Autores: Gêneros: Temas:

Qual(is) é(são) o(s) meu(s) livro(s) preferido(s)?


Perfil de leitor em redes de leitores

Converse com seu ou sua responsável sobre a possibilidade de você participar, com a supervisão dele ou dela, de uma comunidade de leitores na internet. Para isso, retome com ô á professor ou professora sugestões de boas comunidades de leitores na rede.

Crie seu perfil, conheça e explore as ferramentas oferecidas e complete com suas informações, de modo que você também tenha nesse espaço digital o seu “retrato” de leitor ou leitora.

Se você já tiver um perfil em uma rede de leitores, reavalie-o, atualize suas informações e coloque em prática suas metas de leitura!

De ôlho em blogs e vlogs de bibliotecas para ampliar suas possibilidades de escolhas

As bibliotecas são espaços privilegiados para você encontrar boas leituras. Indo até elas você pode conhecer como são organizadas, para percorrer as estantes com autonomia, em busca de gêneros e autores. Também pode bater um papo com os bibliotecários, que podem dar dicas de lançamentos, dos livros preferidos dos leitores de sua idade, entre outras.

Muitas equipes de bibliotecas públicas também fazem isso em blogs e vlogs, publicando sugestões de leitura e, o mais bacana, abrindo espaço para que leitores tragam também seus comentários, contando suas experiências de leituras.

Postagem de rede social. À esquerda, dois livros de capa em azul-claro, com ilustração de rosto de um menino de cabelos pretos, lisos, com um olho azul-claro. Acima e ao fundo, parte cinza com texto: DICA DA LOBATO LIVRO DA SEMANA. 
À esquerda texto:
Extraordinário 
Autor: R.J. Palacio 
Gênero: Infantil 
Romance 
Ficção 
Faixa etária: 9 a 13 anos 
Ano de Lançamento: 2012 
Na ponta da direita, comentários em preto, hashtags e likes.
Página da rede social da Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato. São Paulo (ésse pê).

Vale a pena ler!

Logotipo. Livros de capas coloridas em vermelho, roxo, amarelo e azul, formando a palavra: VIVA. Na parte superior, texto em preto: BIBLIOTECA.
Logo da Biblioteca Viva, rede de bibliotecas da cidade de São Paulo (São Paulo).

As bibliotecas da cidade de São Paulo possuem um site com catálogo digital unificado, em que o internauta pode buscar títulos, autores e descobrir em qual biblioteca da cidade pode fazer o empréstimo do livro. O site traz também dicas de livros mais lidos e alguns e-books que podem ser baixados e lidos no computador. Conheça e explore títulos para sua próxima escolha nesse catálogo digital, disponível em: https://oeds.link/iOo08h. Acesso em: 15 fevereiro 2022.

Escolhendo sua próxima leitura

Agora é com você: com o apoio de um ou uma responsável, busque na internet informações sobre uma biblioteca de sua cidade que você queira visitar. Veja se ela tem blogs ou páginas nas redes sociais. Conheça horários e regras de empréstimo. Busque, especialmente, por dicas de leitura para sua idade e faça uma lista dos títulos que gostaria de tomar emprestado. Procure combinar gêneros, autores, temas de sua preferência e também novos desafios, para descobrir novas possibilidades de leituras.

Compartilhando sua experiência de leitura

Escolha feita? Leia o livro, com autonomia! Com apoio desse esquema, escreva na sua galeria um comentário para compartilhá-lo com outros leitores. Você pode fazer isso em redes de leitores, nos canais de interação de bibliotecas ou circular entre os ou as colegas de classe.

Apresente o livro: título, quem escreveu, ano de publicação.

Resuma o conteúdo do livro.

Traga brevemente sua avaliação: Por que vale a pena lê-lo?

Procure ler também comentários de outros leitores desse mesmo livro, assim você pode conhecer por que para outros leitores ele também foi significativo.

LiTERatitudes

Leia o trecho de reportagem a seguir e depois converse com a turma e ô á professor ou professora.

“Não sou ativista, sou realista”, diz menina que criou biblioteca

O acervo tem 18 mil livros; doações chegam toda semana

RIO DE JANEIRO, Rio de Janeiro (Folhaprés) – O mundo de Lua sempre foi também de luta. Com a franja pintada de rosa e os argumentos de um adulto politizado, a menina de 12 anos “e cabeça de 20”, segundo a mãe, parece transitar constantemente entre a leveza da fantasia e o peso da realidade.

“Não sou ativista, sou realista”, ela mesma costuma dizer a quem pergunta. E são muitos os que perguntam. Já foram incontáveis entrevistas desde que ela criou uma biblioteca gratuita no seu Morro dos Tabajaras, encravado em Copacabana, na zona sul carioca.

Montou o cantinho dentro de um prédio público da associação de moradores e o batizou de Mundo da Lua – abreviação de seu nome completo, Raissa Luara de Oliveira –, hoje com 18 mil livros e sem mais estantes para guardar as doações que chegam toda semana.

Fotografia. Local com estantes com muitos livros. Ao centro, um banco de madeira marrom com livros dentro e na parte superior, almofadas em rosa e roxo. Sentada sobre eles, uma menina de cabelos rosa na altura dos ombros encaracolados. Ela veste regata preta, macacão curto em jeans e par de tênis cinza. Ela segura sobre as pernas um livro aberto com as mãos sobre ele, ela olha para frente sorrindo. À frente dela, tapete cinza e almofadas pequenas em azul-escuro.
Lua Oliveira, 12, na biblioteca pública com 18 mil livros que criou na associação de moradores do Morro dos Tabajaras, comunidade em Copacabana, na Zona Sul do Rio. Foto de 2020.

A ideia nasceu de um espanto durante a Bienal do Livro, em setembro passado. “Mamãe, quero esse livro”, ela ouviu uma criança perguntar. “Filha, eu não tenho dinheiro para comprar”, respondeu a adulta ao lado. O livro custava R$ 3.

Dois dias depois, fingindo ser a mãe, Lua pediu o espaço à vice-presidente da associação. Ela só contou a peripécia para Fátima Regina, 60, quando um vídeo seu pedindo doações de livros já viralizava na internet. A mãe recebeu 200 ligações naquele dia.

O Mundo da Lua já inspirou crianças e adolescentes em outras comunidades cariocas e em outros estados, que querem criar as próprias bibliotecas com os 500 livros que a menina vai mandar para cada um.

Lua, que lê um exemplar por semana, agora está escrevendo o seu próprio, sobre como colocou seu xodó de pé.

reticências

BARBON, Júlia. “Não sou ativista, sou realista”, diz menina que criou biblioteca. Folha de São Paulo, ano 100, número 33.211, 7 março 2020. Caderno Cotidiano.

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Fotografia. Menina de frente, atrás dela uma estante de livros. Ela é negra, vista da cintura para cima com cabelos curtos encaracolados loiros e camiseta preta. Olha para frente sorrindo, segurando nas mãos, um livro de capa em azul.
Lua Oliveira em foto de 2022.

No vlog rréchitégueumlivropordia, Lua Oliveira lê parte do livro A pequena princesa. A obra foi escrita por Carlos Gomes e se inspira na história de vida de Lua Oliveira.

Reflita: Esse gênero, o tema e a personagem podem interessar para sua galeria de leituras? Por quê?

Conheça um trecho da obra, combinando as palavras-chave “rréchitégueumlivropordia mais “Lua Oliveira” mais “A pequena princesa parte 1”.

Do mundo de Lua para o mundo da turma

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