CAPÍTULO 8 

Lugares da infância – lugares de poesia

Texto 1

Obra de arte. Pintura em tela na horizontal. Fundo em cor bege com azul na parte superior, com formas abstratas que se assemelham a pessoas e diferentes atividades e animais de várias cores espalhadas. Predominam tons de vermelho, branco, azul, verde e amarelo. Há algumas linhas finas na vertical, com partes pequenas de cor verde-claro e amarelo.
BARROS, Martha. Oficinaglossário de transfazerglossário natureza. 2016. Acrílica sobre tela, 130 centímetros por 70 centímetros.

Quem é?

Fotografia. Artista plástica Martha Barros, mulher vista do busto para cima. Ela tem cabelos vermelhos na altura do pescoço, com franja para a esquerda, sobrancelhas e olhos castanhos. Ela olha para frente sorrindo. Ela usa blusa de cor azul-escuro e detalhe na gola em branco e brincos. Ao fundo, tela vista parcial de cor laranja com pinturas abstratas.
A artista, no Rio de Janeiro, em 2018.

Martha Barros nasceu no Rio de Janeiro, em 1951. A pintura da artista plástica, filha do poeta Manoel de Barros, é inspirada na obra do pai, que certa vez escreveu: “Imagens são palavras que nos faltaram”. Utiliza texturas e materiais diversos em suas produções, influenciada pelo mundo dos seres humanos, dos animais e das plantas, em comunhão com a natureza.

Texto 2

Manoel por Manoel

reticências Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentosglossário . Eu tinha mais comunhãoglossário com as coisas do que comparação.

Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. Então eu trago das minhas raízes crianceirasglossário a visão comungante e oblíquaglossário das coisas. Eu sei dizer sem pudorglossário que o escuro me ilumina. É um paradoxoglossário que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor. Eu tenho que essa visão oblíqua vem de eu ter sido criança em algum lugar perdido onde havia transfusão da natureza e comunhão com ela. Era o menino e os bichinhos. Era o menino e o sol. O menino e o rio. Era o menino e as árvores.

BARROS, Manoel de. Memórias inventadas: a infância. São Paulo: Planeta do Brasil, 2010. página 187. (Fragmento).

Quem é?

Fotografia. Poeta Manoel de Barros, homem visto dos ombros para cima,  cabelos e bigode grisalhos, com par de óculos de sol em marrom. Ele olha para frente sorrindo, usando camisa de gola em azul-claro. Ao fundo, local com parede branca e partes em marrom na vertical.
O poeta, no Rio de Janeiro, em 1990.

Nascido em Cuiabá, Mato Grosso, em 1916, Manoel de Barros tem uma poesia marcada pelo brincar com as palavras, com a produção de imagens e sensações que reinventam e universalizam elementos da paisagem pantaneira. Fechou o seu ciclo de vida aos 97 anos, morrendo em Corumbá.

Vale a pena ver e ouvir!

O aplicativo “Crianceiras” traz um conjunto de dez clipes e ainda alguns poemas interativos, com recursos para a criação de fotos e desenhos, baseados em iluminuras compostas por Martha.

“Crianceiras”: poemas de Manuel de Barros para crianças. Laboratório de Educação, 20 junho 2018. Disponível em: https://oeds.link/vIS4bM. Acesso em: 14 fevereiro 2022.

Fotografia. Duas meninas vistas da cintura para cima. À esquerda, menina de cabelos longos e franja em castanho, usando mangas compridas em bege. Ela olha para frente, com a mão direita sobre folha. Na ponta da direita, menina de cabelos escuros e longos e franja, com blusa de mangas compridas em bege e com fone sobre a cabeça. De frente para ela, um microfone preto em um pedestal. Ela olha para a esquerda. Ao fundo, local de parede bege e porta  amarelo.
Crianças do projeto Crianceiras interpretam canções inspiradas na poesia de Manoel de Barros.

O que você achou dessa sugestão de aplicativo, de uso gratuito, feita em um blog educativo? Em que e por que esse conteúdo pode interessar para suas descobertas na literatura e na arte? Se quiser, combine palavras-chave em seu navegador para fazer a busca desse conteúdo.

A poesia é a arte de compor versos livres, como os de Manoel de Barros, ou com rimas. Nos versos, as palavras são combinadas de fórma que sugiram imagens verbais e efeitos sonoros, para assim exprimirem ideias, estados de alma, sentimentos, impressões. Diferentes gêneros da arte e da literatura se valem da poesia, como: o rap, a letra de canção, o cordel, o limerique e o poema, gênero privilegiado neste capítulo.

Converse com a turma

  1. O que você sente e imagina ao observar a pintura de Martha Barros?
  2. Considerando as cores, as a combinação entre elas, como você interpreta o título dado à pintura?
  3. Que relações você estabeleceria entre a pintura e o poema que leu?
  4. O que mais chamou a sua atenção no modo como a linguagem é usada no poema? Escolha trecho ou trechos como exemplo e comente.
  5. O texto que você leu pertence ao gênero poema. Você já leu ou ouviu outros poemas? Como eles eram?
  6. Você se lembra do nome de algum poeta ou de alguma poetisa?
  7. Já ouviu falar de Carlos Drummond de Andrade e de Elisa Lucinda?
  8. O que acha de conhecer poemas sobre os lugares onde cada um deles passou a infância e de ler outro poema de Manoel de Barros?
Ilustração. Representação do poeta Manoel de Barros. Homem em pé sobre grama verde, com o corpo virado para a esquerda. Ele tem cabelos brancos, usa camisa de mangas curtas de cor amarela, calça em azul, cinto e sapatos em preto. No rosto, par de óculos de grau em vermelho. Na mão esquerda, folhas de papel em azul e na mão direita, um lápis. À esquerda, sobre galho fino com folhas pequenas, um pássaro verde pequeno. No alto, uma pipa colorida, em amarelo, vermelho, verde e branco e rabiola longa.

O que você poderá aprender

  1. O que você já conhece da poesia feita por Drummond, Manoel de Barros e Elisa Lucinda?
  2. Como pode partir desse conhecimento e ampliá-lo, lendo poemas desses autores e dessa autora sobre lugares em que passaram a infância?
  3. Como é o trabalho de linguagem na poesia?
  4. Como você pode se valer dessas aprendizagens para experimentar produzir e circular poemas?
  5. Como você poderá ter atitude protagonista, incentivando outros leitores e leitoras de poesia?

Leitura

Você lerá dois poemas, um de Carlos Drummond de Andrade e outro de Elisa Lucinda, com sugestões de imagens e sensações que remetem aos lugares em que cada um deles passou a infância. A voz que se expressa nos poemas é uma voz “inventada”, o chamado eu lírico, e que cria no leitor ou na leitora a sensação de ser a voz do poeta e da poetisa. Preste atenção no que você sente enquanto escuta os poemas e procure imaginar como foi a infância nesses lugares recriados pela poesia.

Texto 1

Boitempo

Entardece na roça

de modo diferente.

A sombra vem nos cascosglossário ,

no mugido da vaca

separada da cria.

O gado é que anoitece

e na luz que a vidraça

da casa fazendeira

derrama no curralglossário

surge multiplicada

sua estátua de sal,

escultura da noite.

Os chifres delimitam

o sono privativoglossário

de cada rêsglossário e tecem

de curva em curva a ilha

do sono universal.

No gado é que dormimos

e nele que acordamos.

Amanhece na roça

de modo diferente.

A luz chega no leite,

morno esguichoglossário das tetas

e o dia é um pasto azul

que o gado reconquista.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa. oitava edição Rio de Janeiro: José Aguilar, 1992. página 465. Carlos Drummond de Andrade cópiráiti Graña Drummond (https://oeds.link/fT2DbD).

Quem é?

Fotografia em preto e branco. Imagem do poeta Carlos Drummond de Andrade. Homem senhor visto do busto para cima, branco, careca, com par de óculos de grau de formato quadrado, com camisa de mangas compridas escuro com pontos claros e braço direito apoiando a cabeça. Ele olha para frente sorrindo.
Carlos Drummond de Andrade.

Nasceu em Itabira de Mato Dentro, interior de Minas Gerais, em 1902. Sua família era proprietária de terras e dedicava-se à criação de gado. Ele seguiu outros rumos: foi servidor público e escreveu para jornais. O que fez mesmo sua história de vida, porém, foi o trabalho de escritor, sobretudo, de poeta. Cultivou vários estilos de fazer poesia, levando para os versos temas diversos, inclusive a própria arte de fazer poesia. Consagrado e celebrado em vida, faleceu em 1987. Desde então tem sido lido e relido por diferentes gerações.

Texto 2

Boi tenho

tá certo

Não nasci na roça é certo como Drummond e outros bois

reticências

Mas vim do subúrbioglossário onde finquei infância e lá tinha um jeito de ser vizinho

que só de hoje eu lembrar vai me fazer morrer comovidaglossário com uma xícara de açúcar emprestado pra completar ingrediente.

gente, não nasci na roça

mas tinha padeiro com pães combinando com o vimeglossário da cesta e

o cheiro morno anunciando passado recente de forno e fortes mãos na boa massa.

Não nasci na roça

mas peguei muita fruta no pé trepei em árvore e chupei de escorrer pelos antebraços manga-rosa de todo tamanho e tipo.

sou do tipo que se fosse uma laranjaglossário seria seletaglossário , tamanha fóra a festa desse caldo em mim.

não nasci na roça, tá certo mas todo mundo tinha uma roça dentro:

nas quermesses nas procissões nos pregões dos verdureirosglossário como o sino da igreja e a aquarelaglossário das manhãs.

reticências

tá certo tá certo

não nasci na roça

mas pôr de sol e céu estrelado de ofuscar os olhos eu sempre vi de perto

Foi esse o meu rebanhoglossário iniciáticoglossário

essa infância sortidaglossário de subúrbio essa roça paralalelepípedaglossário com intervalos de terra vermelha e tanajurasglossário

uma jura que fincou metáfora de boi na minha história e deu esse tipo de pasto à minha memória.

LUCINDA, Elisa. Boi tenho. In: A fúria da beleza. Rio de Janeiro: Record, 2009. (Fragmentos).

Quem é?

Fotografia. Artista Elisa Lucinda, mulher negra, vista do busto para cima, cabelos encaracolados  marrom, com uma faixa sobre os cabelos em cinza. Ela usa batom vermelho-escuro, olha para frente sorrindo com a cabeça levemente inclinada para direita, colar no pescoço e roupa em branco e marrom.
A poetisa, no Rio de Janeiro, em 2015.

Nascida no subúrbio de Cariacica, Espírito Santo, em 1958, Elisa Lucinda dos Campos Gomes conta que em sua infância “tinha quintal, jardim, peru, gato, galinha e cachorro”. Estudou interpretação da poesia teatral e atuou como jornalista, até mudar-se para o Rio de Janeiro, onde consolidou sua carreira como atriz, cantora e poetisa. Participante ativa em eventos que debatem a garantia dos direitos dos negros.

Vale a pena ver!

Fotografia. Uma estátua vista parcialmente, do busto para cima  em tons de cinza, com roupa marrom e capacete sobre a cabeça dele. No fundo tons de cinza.
Imagem do documentário Só dez por cento é mentira. Direção: Pedro Cezar. Brasil, 2008.

Só dez por cento é mentira

O documentário é um original mergulho cinematográfico na biografia inventada e nos versos fantásticos do poeta mato-grossense Manoel de Barros.

Alternando sequências de entrevistas inéditas do escritor, versos de sua obra e depoimentos de “leitores contagiados” por sua literatura, o filme constrói um painel revelador da linguagem do poeta, considerado o mais inovador em língua portuguesa.

Faça uma busca na internet, combinando palavras-chave, e encontre o filme.

Que tal procurar resenhas e comentários sobre esse documentário, para avaliar se quer assistir a ele?

Você se lembra do poeta Manoel de Barros, autor do poema que você leu na abertura do capítulo? Lembra-se do estilo de sua poesia, com “raízes crianceiras”, em “comunhão com a natureza”? O poema a seguir também é dele. Faça uma primeira leitura silenciosa, sentindo, significando e imaginando os versos. Depois, reúna-se com um ou uma colega e experimentem “dar vida ao poema”, trabalhando entonação, ritmo, pausas etcétera.

Texto 3

Canção do ver

2.

A de muito que na Corruptelaglossário onde a gente Vivia

Não passava ninguém

Nem mascateglossário muleiroglossário

Nem anta batizada

Nem cachorro de bugreglossário .

O dia demorava de uma lesma.

Até uma lacraiaglossário ondeante atravessava o dia

por primeiro do que o sol.

E essa lacraia ainda fazia uma estação de

recreio no circo das crianças

a fim de pular corda.

Lembrava a tartaruga de Creonteglossário

Que quando chegava na outra margem do rio

As águas já tinham até criado cabelo.

Por isso a gente pensava sempre que o dia

de hoje ainda era ontem.

A gente se acostumou de enxergar antigamentesglossário .

3.

Por fórma que o dia era parado de poste.

Os homens passavam as horas sentados na

porta da Venda de Seo Mané quinhentos Réis

que tinha esse nome porque todas as coisas que vendia

custavam o seu preço e mais quinhentos réisglossário .

Seria qualquer coisa como a Caixa Dois dos prefeitos.

O mato era atrás da Venda e servia também

Para a gente desocuparglossário .

Os cachorros não precisavam do mato para desocupar

Nem as emas solteiras que despejavam correndo.

No arruadoglossário havia nove ranchos.

Araras cruzavam por cima dos ranchos

conversando em ararês.

Ninguém de nós sabia conversar em ararês.

reticências

Por tudo isso, na corruptela parecia nada

acontecer.

4.

Por fórma que a nossa tarefa principal

era a de aumentar

o que não acontecia.

(Nós era um rebanho de guris.)

A gente era bem-dotado para aquele serviço

de aumentar o que não acontecia.

A gente operava a domicílio e pra fóra.

E aquele colega que tinha ganho um olhar

de pássaro

era o campeão de aumentar os desacontecimentosglossário .

Uma tarde ele falou pra nós que enxergara um

lagarto espichado na areia a beber um copo de sol.

Apareceu um homem que era adeptoglossário da razão e disse:

Lagarto não bebe sol no copo!

Isso é uma estultíciaglossário .

Ele falou de sério.

Ficamos instruídos.

BARROS, Manoel de. Canção do ver. Poemas rupestres. Coleção Biblioteca Manoel de Barros (Obra completa). São Paulo: Leya, 2013. páginas dez a treze. (Fragmentos).

Primeiras impressões

Você se lembra dos três poemas que leu? Localize-os no livro, recorde-se de cada um deles e depois participe da discussão das questões com os ou as colegas e o professor ou a professora.

  1. Assim como o narrador é uma voz inventada para contar uma história, nos poemas existe um “eu poético”, ou “eu lírico”, isto é, a voz que se expressa no poema. Indique em qual dos poemas o eu lírico trata de:
    1. uma vida aparentemente sem muitas relações com outras pessoas;
    2. um lugar em que não havia muitos acontecimentos, mas muita invenção por parte das crianças;
    3. uma infância marcada pela presença de outras pessoas, especialmente trabalhadoras;
  1. uma vida em perspectiva mais coletiva, como se representasse um grupo de crianças como o eu lírico;
  2. si mesmo diretamente, com muita expressividade;
  3. uma vida em perspectiva coletiva, mas indiretamente projetando em um animal costumes, sentimentos e reflexões.

2. Com qual poema inicialmente você se identificou mais? Por que acha que isso aconteceu?

O texto em construção

Vamos retomar cada poema para pensar nas “técnicas” que foram usadas pelos poetas e pela poetisa para que os textos provocassem no leitor emoções, sentimentos, ideias, prazer de escuta, entre outras coisas. Esta seção está organizada em quatro blocos, para você explorar, em colaboração com outros ou outras colegas, em diferentes momentos, conforme a orientação do professor ou da professora.

Bloco 1

1. Releia em voz alta o poema “Boitempo” para um ou uma colega e ouça a leitura dele ou dela. Usem entonação e pausa e trabalhem o ritmo.

Ilustração. Vista do alto de local com solo em marrom-claro, com vegetação rasteira em verde. À frente, dentro de um cercado marrom, um animal bovino em branco e manchas em preto, pastando. Ao fundo, outro cercado e mais atrás, cavalo marrom, árvores e à direita, casa de paredes  brancas e telhado marrom. Em segundo plano, mais vegetações em verde.
  1. Que sensações você teve? O que imaginou para os versos? De qual imagem sugerida pelo poema você mais gostou? Por quê?
  2. O que, segundo o eu lírico, é o elemento central da vida na roça e define o ritmo do dia, a passagem do tempo?
  3. Que relações você estabeleceria entre o que respondeu na questão b e o título do poema?
  4. O ritmo da vida na roça parece ser lento ou acelerado?
  5. Leia o boxe a seguir e, depois, releia os cinco primeiros versos, prestando atenção nas sílabas mais fortes de cada verso.

Verso

É cada uma das linhas de um poema. Em conjunto, os versos constroem a musicalidade do poema (seu ritmo), sugerem imagens para o leitor, provocam sentidos. Os versos podem variar de tamanho (métrica), podem ou não ter rimas. Em vez de se dividirem em parágrafos, como nos textos escritos em prosa, os textos poéticos são organizados em conjuntos de versos, chamados de estrofes.

Entardece na roça

de modo diferente.

A sombra vem nos cascos,

no mugido da vaca

separada da cria.

f. Para saber o “tamanho” de um verso, contamos as sílabas de suas palavras até a última sílaba forte. Quantas sílabas há em cada verso?

  1. Observe as sílabas fortes em cada verso. Há um padrão, isto é, uma regularidade?
  2. O que você analisou nesse trecho serve também para o restante do poema?

Ritmo

Se prestar atenção nas batidas de seu coração, na sua pulsação, vai perceber que possuem ritmo e que isso varia conforme a situação em que você está. O mesmo acontece com sua fala, alternando sons e silêncios, entonações. Tudo tem um ritmo. Na música, ele se constrói pela alternância de sons. Na dança, pela alternância de movimentos.

Na poesia, o ritmo nasce da alternância de sílabas. Os versos escritos apenas sugerem um ritmo. É a leitura, com atribuição de sentido ao todo do poema, que vai “dar vida e movimento” ao seu ritmo.

Conheça o poema de Alice Ruiz, em que o ritmo da vida e das ações humanas, inclusive o de fazer canção e poesia, é celebrado. Procure lê-lo em voz alta sentindo esse ritmo. Depois, com apoio dô ou dá responsável, grave sua declamação e compartilhe-a em redes sociais de familiares e amigos. Inclua breve comentário, contando o que você achou do poema e da experiência de interpretá-lo por meio de sua leitura.

No princípio era o silêncio

só quebrado pelas marés

no princípio eram as marés

e seu ritmo

no princípio era o ritmo

e o ritmo transformou-se em som

e fez-se o verbo

e o verbo viu que o som era bom

no princípio o ritmo serviu

para que todos juntos

conduzissem melhor

sua embarcação

depois virou canção

e poesia, por princípio

RUIZ, Alice. Ritmo. In: Leitura: Teoria & Prática, Campinas, volume 31, número 60, páginas duzentos e treze a duzentos e dezesseis, junho 2013.

Quem é?

Fotografia. Poetisa Alice Ruiz, mulher vista dos ombros para cima. Cabelos curtos brancos, com tons de marrom, sobrancelhas finas escuras, olhando para frente, sorrindo com os lábios fechados. Ela usa blusa de cor verde. Ao fundo, desfocada, estante com livros.
A poetisa, em São Paulo, em 2013.

Alice Ruiz Scherone nasceu em Curitiba, Paraná, em 1946. Atua como poetisa, compositora (letrista de música), publicitária e tradutora. Sua poesia é marcada pela escrita de raicáis (fórma poética de origem japonesa), e suas canções são bastante apreciadas, bem como seus ensaios feministas. Foi casada com Paulo Leminski, poeta brasileiro.

i. Pense no que você respondeu nas questões a, b e c e no ritmo que o texto sugere para a leitura, com a distribuição das sílabas nos versos. O que você conclui: no poe­ma o ritmo também importa para sugerir sentidos em relação a seu tema, seu assunto?

j. Agora que você já se apropriou do poema, experimente relê-lo em voz alta, com especial atenção ao ritmo e aos sentidos que ele agrega ao poema. Grave sua leitura e, depois, escute-a. O que achou da experiência de reler com mais consciência do trabalho de linguagem feito no poema? Por quê?

Bloco 2

2. Releia o texto “Boi tenho”, com especial atenção ao ritmo, ao tema/assunto e a como o poema provoca o leitor a se recordar também do texto 1.

Ilustração. Garota com cabelos crespos armados em preto, vestindo faixa azul na cabeça, regata rosa, bermuda azul e par de tênis laranja com detalhes em branco. Ela está sentada com as pernas flexionadas, com as mãos sobre as bochechas, sorrindo com a boca aberta e olhos para cima. Sobre os cabelos, elementos diversos agrupados, frutas: laranja, maçã, bananas; pães; uma igreja marrom; plantas de pétalas coloridas e pássaro de penas em laranja. Ela está sobre local com grama verde.
  1. Cite passagens que lhe permitiram se lembrar do poema de Drummond.
  2. Como é o ritmo sugerido pelo poema: há um padrão, uma regularidade, ou ele varia ao longo do poema? Por que isso ocorre?
  3. Como parece ter sido a vida do eu lírico no subúrbio: a criança era presa em casa ou livre? Fazia poucas ou muitas coisas? Conhecia ou não outras pessoas?
  4. Estabeleça relações entre o ritmo da vida dessa criança e o ritmo sugerido pelo poema.
  5. Nesse poema a palavra boi está sendo empregada no sentido mais usual, isto é, de animal, gado? Explique.
  6. Você lembra o que é uma metáfora? Se for preciso, relembre, consultando o Capítulo 2 deste volume. Como você explicaria a metáfora seguinte no contexto do poema?

Foi esse o meu rebanho iniciático.

g. Releia em voz alta o verso, com atenção à repetição do som representado pelas letras s e c:

reticências essa infância sortida de subúrbio.

Figuras sonoras

A repetição intencional de sons consonantais (nesse caso, falamos em aliteração) ou vocálicos (assonâncias) pode tornar o verso mais sinestésico, de fórma que o leitor imagine e de certa maneira sinta o que sugere o verso.

  1. Por preconceito, muitas pessoas associam a vida no subúrbio apenas à miséria, à carência. Ao considerar esse verso no todo do poema, que outras associações você faz? Que outras palavras você escolheria para dizer como era a vida do eu lírico no subúrbio?
  2. Explique como a aliteração (repetição do som representado pelas letras s e c) no verso ajudou você a fazer essas associações. Que sensações essa repetição causou?

Bloco 3

  1. Releia o texto “Canção do ver”.
    1. Como parece ser o ritmo da vida na corruptela em que o eu lírico morava?
    2. Escolha um verso que para você expresse bem o ritmo de vida do eu lírico e destaque o que chamou a sua atenção. Observe:
      • se há metáfora ou comparação que sugerem imagens para o leitor;
      • se há uso de aliteração ou de assonância;
      • qual é a métrica (tamanho) do verso e a distribuição das sílabas fortes e o ritmo que isso sugere.
    1. Releia:

Nós era um rebanho de guris.

  1. O que você acha: essa fórma de dizer é considerada de prestígio, isto é, tem maior valorização social? Se quiser, amplie sua resposta com comentários e exemplos.
  2. Há no poema neologismos, isto é, palavras ou expressões que não são dicionarizadas e foram inventadas com base na estrutura de outras conhecidas? Qual você escolhe como exemplo?
  3. Há palavras e expressões que parecem ser mais eruditas, pouco usadas no dia a dia?
  4. Considerando o que você respondeu nos itens d, e e f, comente brevemente como resumiria o trabalho com a linguagem no poema. Depois, comente o que você achou desse trabalho.
  5. Toda língua tem expressões idiomáticas. Elas são difíceis de traduzir para outros idiomas, porque as palavras não podem ser consideradas uma a uma; elas são tomadas “juntas” e possuem um sentido só. Esse é o caso da expressão “caixa dois”. Você sabe o que ela significa e em que situações costuma ser usada?
  6. Retome, no glossário referente ao poema, os sentidos possíveis da palavra corruptela.
  7. qual ou quais desses sentidos cabe ou cabem no texto, considerando o contexto do poema?

Bloco 4

  1. Faça em seu caderno uma tabela com quatro colunas. Na primeira coluna, anote as características a seguir. Na segunda coluna, o título “Boitempo”. Na terceira, o título “Boi tenho”. Na quarta, o título “Canção do ver”. Depois, complete a tabela relacionando as características a seguir com os poemas.
    1. O eu lírico expressa sensações de seu local de origem, provocando a imaginação do leitor.
    2. O ritmo do poema é regular, sugerindo o tempo bem marcado da vida nesse lugar.
    3. O ritmo é variado e em vários momentos parece o da prosa, expressando uma vida vagarosa, de poucas, mas significativas, ações.
    4. O ritmo é variado e intenso, sugerindo uma vida cheia de ações.
    5. As metáforas boi e pasto remetem a uma diversidade de experiências do eu lírico com outras pessoas.
    6. A metáfora boi marca a organização do tempo.
    7. A metáfora rebanho sugere como as crianças viviam e brincavam juntas.
    8. A linguagem trabalhada é mais formal.
    9. A linguagem é mais expressiva, com muitas marcas do “eu”.
    10. A linguagem explora arcaísmos (termos antigos), neologismos (termos e expressões inventadas) e diferentes registros, com maior ou menor formalidade.
  2. As imagens feitas de palavras que aparecem no boxe a seguir foram retiradas dos poemas que você leu, curtiu e analisou. Escolha a de que mais gostou e comente com um ou uma colega o que achou dela. Preste atenção nas cores, sensações e emoções que os versos sugerem, considerando sempre o todo do poema. Escute com interesse a escolha dô ou dá colega.

[...] o dia é um pasto azul que o gado reconquista [...]

[...] um lagarto espichado na areia a beber um copo de sol [...]

[...] fosse uma laranja seria seleta, tamanha fora a festa desse caldo em mim. [...]

[...] essa roça paralalelepípeda com intervalos de terra vermelha e tanajuras [...]

[...] O gado é que anoitece e na luz que a vidraça da casa fazendeira derrama no curral surge multiplicada sua estátua de sal [...]

[...] Araras cruzavam por cima dos ranchos conversando em ararês [...]

Ilustração. Arara azul. Pássaro azul voando com as duas asas arqueadas para cima, cauda longa, bico arredondando e área amarela ao redor dos olhos. Atrás céu azul com duas nuvens brancas.

6. Foi possível perceber que cada leitor reage de jeito diferente diante das sugestões de imagens da poesia? Por que vocês acham que isso acontece?

Oficina de leitura e criação

Produção de poemas

Converse com a turma

  1. Em qual lugar você passou a maior parte da infância: na cidade onde vive hoje ou em outra?
  2. Das coisas que aconteceram e acontecem no dia a dia desse lugar, qual ou quais para você é ou são mais marcante ou marcantes? Pense em grandes ou pequenas ações da vida do lugar (pesca, colheita, cuidado do gado, relações com a vizinhança, eventos de cultura, música, dança) e nos espaços (como são as casas, as ruas, os principais lugares de convivência das crianças).
  3. Por que você acha que diferentes poetas/poetisas “revisitam” os lugares da infância por meio da poesia?
  4. O que você já sabe em relação à recriação de aspectos biográficos (histórias vividas) em narrativas e em poesia: o que há de parecido e o que há de diferente?
  5. Que importância você atribui à ideia de produzir poemas ligados às experiências de vida do lugar em que vive e de fazê-los chegar a leitores ou leitorea que também vivem nesse lugar? Por quê?

Vale a pena conhecer!

Você já participou ou ouviu falar da Olimpíada da Língua Portuguesa?

Estudantes de todo o país participam dessa olimpíada, inscrevendo textos de suas próprias autorias. Vale a pena conhecer os finalistas da categoria Poema, com “Versos de diversos lugares”.

Visite o site para conhecer: https://oeds.link/hIEReg.

Acesso em: 18 fevereiro 2022.

Condições de produção

O quê?

Que tal colocar poesia na vida das pessoas que moram no entorno? Para isso, você e sua turma escreverão poemas que expressem sensações, emoções, conhecimentos, em relação ao lugar em que vivem.

Para quem?

Vocês podem decidir quem será o principal público de vocês: leitores ou leitorea da comunidade escolar, moradores ou moradoras do asilo mais próximo, entre outros leitores ou outras leitoras possíveis.

Como os textos circularão?

De acôrdo com o que decidiram em relação ao público-leitor, vocês poderão discutir fórmas de fazer circular os poemas: escrevê-los em folhas para presentear outros leitores ou outras leitoras, publicá-los nas redes sociais, expor os poemas em um painel, em algum espaço da escola.

Ilustração. Uma garota sentada na cadeira atrás da mesa, com o corpo virado para direita, cabelos encaracolados, camiseta azul e sapato verde. Ela olha para baixo, com a mão esquerda ela segura um lápis e escreve em um caderno aberto.

Oficina de leitura e criação

Como fazer?

  1. Preparando-se para escrever o texto. Faça uma lista de ações, lugares, pessoas, coisas, que para você são marcantes no lugar em que passou a maior parte de sua infância.
    • Escolha qual ou quais dessas coisas será ou serão matéria-prima para a criação de seu poema. No caderno, faça um comentário para sua escolha ou suas escolhas. Se quiser, apoie-se nas indicações seguintes e acrescente o que mais julgar necessário:

essa escolha pode ou essas escolhas podem ser relacionada ou relacionadas a ideias como espaço para resposta, espaço para resposta, que para mim são marcantes na cidade espaço para resposta, ou no bairro espaço para resposta. Relaciono a elas as seguintes emoções e sentimentos: espaço para resposta.

  1. Com base nas questões seguintes, planeje seu processo de criação do poema. Escolha apenas o que for importante para você imaginar e experimentar criar na linguagem da poesia.
    1. Quero que o eu lírico trate das coisas:
      • de fórma mais contida, em linguagem mais monitorada, mais próxima da norma culta escrita;
      • de fórma mais coletiva, usando a primeira pessoa do plural (nós, em um registro mais formal, ou a gente, em um menos formal), com variação da linguagem, com passagens escritas com menos formalidade e ocorrências de regras também de outras variedades da língua (marcação mais econômica do plural, por exemplo);
      • de fórma bem expressiva, usando a primeira pessoa do singular (eu), em linguagem mais simples, com palavras cotidianas e respeito às regras da variedade culta da língua.
    1. Escolha dois ou três substantivos, que serão palavras-chave, isto é, centrais para o poema (como a palavra boi, por exemplo, nos poemas de Drummond e de Elisa Lucinda, ou a palavra corruptela, no de Manoel de Barros).
    2. Que comparações e ou ou metáforas quer criar com elas?
    3. Quer criar algum neologismo a partir delas (como ararês, por exemplo)?
    4. Procure outras palavras que combinem sonoramente com as palavras centrais, por terem os mesmos sons de vogais ou de consoantes. Quais poderiam ser combinadas em um mesmo verso, para sugerir efeitos de som e de sentidos bem interessantes?
  1. Quantas estrofes e versos terá seu poema? Algumas sugestões:
    • uma única estrofe, com cêrca de dez versos;
    • quatro estrofes, com três ou quatro versos cada uma.
  1. O ritmo será mais regular ou variado, sugerindo um tempo lento ou um tempo mais acelerado, ou ainda combinando diferentes sensações de tempo?
  2. Haverá intertextualidade, isto é, uso de alguma palavra, ou mesmo de algum verso, que permita ao leitor estabelecer relações com outros poemas (como acontece com boitempo/boi tenho, por exemplo)?

3. Feito o planejamento, mãos à obra! Em uma folha de rascunho, a lápis, ou em um editor de texto no computador, comece a dar fórma ao poema, escrevendo cada um de seus versos. Esse momento é de criação. Assim, guiado ou guiada pela sua intencionalidade, isto é, pelo que você planejou até aqui, mas também inspirado ou inspirada pela criatividade, que só nasce na hora da escrita, sentindo as palavras, a combinação entre elas, os sentidos que sugerem, os efeitos que provocam no leitor ou na leitora, vá trabalhando verso por verso. Apague e reescreva, até achar que alcançou os resultados desejados.

Avaliando

Tudo pronto? Revise o texto, usando a Ficha de apoio à produção e à avaliação do poema e, se necessário, corrija problemas, melhore trechos. o professor ou a professora também trará contribuições para você melhorar ainda mais seu poema. Após as contribuições dele ou dela, faça a reescrita, se necessário.

Ficha de apoio à produção e à avaliação do poema

O texto atendeu aos critérios de:

1. Adequação à proposta

O poema expressa emoções, sentimentos sobre o lugar em que o eu lírico vive, despertando interesse, prazer, outras emoções em ouvintes/leitores(as)?

2. Adequação às características estudadas do gênero

a) O ritmo do poema está adequado à matéria/ao assunto de que trata?

b) Percebe-se intencionalidade no uso da linguagem figurada: metáfora, comparação, aliteração, assonância?

Oficina de leitura e criação

2. Adequação às características estudadas do gênero

c) Houve uso de neologismo? Em caso afirmativo, ele combinou com o poema e contribuiu para o leitor atribuir sentidos?

d) Os versos sugerem imagens poéticas?

e) Houve a escolha de provocar o leitor a fazer relações com outros textos (intertextualidade)? Nesse caso, a intertextualidade foi criativa?

3. Construção da coesão/coerência do texto (textualidade)

a) Há um título criativo, que tem relações com o poema?

b) O texto está organizado em estrofes/versos, ajudando o leitor a atribuir ritmo e sentido ao texto?

4. Uso das normas e convenções da norma culta escrita e de outras variedades da Língua Portuguesa

a) O texto segue as regras da norma culta escrita da Língua Portuguesa?

b) Houve uso intencional de regras de outras variedades?

5. Ortografia, pontuação e construção de sentidos

a) As palavras foram escritas de acordo com a ortografia?

b) Houve uso intencional da pontuação, contribuindo para os sentidos do texto?

O que levo de aprendizagens deste capítulo

  1. O que você achou de conhecer poemas inspirados nas experiências que poe­tas tiveram com os lugares em que passaram a infância?
  2. Como percebe que a sua relação com a poesia se modificou depois da leitura desses poemas?
  3. Como foi a experiência de produzir poemas?
  4. E a de poder ter atitudes protagonistas em favor da circulação da poesia na vida de outras pessoas de seu lugar?
  5. Escreva em seu caderno um parágrafo contando suas aprendizagens.

Galeria

Coloque poesia na sua Galeria!

Retome sua Galeria e ou ou seu perfil de leitura em rede de leitores ou leitorea, se tiver um. Observe os títulos que você já leu, o que registrou sobre seus gostos e suas preferências, suas metas de leitura. Reflita: Tem aparecido a poesia?

Que tal aproveitar o que aprendeu sobre o trabalho de linguagem na poesia para se aventurar por novos versos, ampliando suas experiências de leitura?

Construindo conhecimentos para “dialogar” com um comentário de leitor

Para melhor compreender a indicação de uma leitora, você precisará construir conhecimentos citados por ela. Trata-se de um desastre ambiental, que ocorreu em 5 de novembro de 2015, no Brasil.

Com o apoio deseu ou sua responsável e as orientações do professor ou da professora, selecione diferentes notícias e reportagens do dia e outras mais recentes sobre o mesmo desastre, atualizando o que aconteceu depois disso. Leia, compare as informações e organize em seu caderno um quadro como este:

O que aconteceu nesse dia?

Quem foram os responsáveis?

Que danos foram causados ao meio ambiente e às pessoas?

Como está a área do desastre hoje?

Que fontes consultei? (Nome dos portais de conteúdos, jornais, revistas etc.)

Participe da roda de conversa que o professor ou a professora promoverá, para vocês analisarem se as informações que a turma levantou coincidem, se são diferentes, se são complementares, para conhecerem as fontes que usaram e pensarem mais sobre isso.

Conhecendo a indicação de uma leitora de poesia

Agora que você já levantou informações sobre o acontecimento, conheça a indicação que uma leitora faz de um trabalho literário, que torna esse desastre matéria de poesia e pintura:

Lisi Olsen16/03/2021

Eu fui um rio, um dia...

Sabe quando as palavras descrevem uma dor?

E as imagens gritam por socorro?

Esses são os principais sentimentos dos leitores de Um dia, um rio.

Impossível não sentir dor ao se lançar sobre sua leitura, pensar em como tantas vidas foram transformadas pelo descaso com a vida. A vida na água, vida na terra, vida pela vida.

A cada página navegamos por um rio que só resta lembranças, e que junto vai tentando costurar uma colcha de esperança. Um rio menino, como os futuros destruídos na tragédia em Mariana, Minas Gerais.

Galeria

Através da poesia da escrita e do desenho lamentamos junto ao rio, o rio que um dia ele foi.

Esperançando que um dia volte a ser, o que um dia foi.

Uma leitura necessária! Dolorosa! Poética! Fantástica!

siteCanal e página Devaneios em arte

emoji sorridente

gostei (0)

ícone balão de comentário

comentários (0)

ícone anotação

comente

Disponível em: https://oeds.link/Idme55. Acesso em: 14 abril 2022.

Reflita: Por que esse livro pode interessar a você? Que estratégias das que foram trabalhadas nos capítulos 2 e 5 você pode usar para conseguir ter acesso a ele? Quem poderá apoiá-lo ou apoiá-la para isso?

Vale a pena ver!

Cena de audiovisual. À esquerda na parte superior, menino com o corpo no ar. Cabeça e braço esquerdo apoiado em superfície no alto que se assemelha à lama, o braço direito está dobrado e parte do cotovelo está afundada nessa superfície. O menino tem nariz fino, macacão com touca em tons de bege e verde e pés descalços. À direita, título em azul-claro: UM DIA, UM RIO.
Cena do book trailer Um dia, um rio. Disponível em: https://oeds.link/gM6B7e. Acesso em: 8 fevereiro 2022.

Book trailers são narrativas visuais ou audiovisuais, em que passagens de um livro recebem animação e, às vezes, efeitos sonoros. Vindo do cinema, a ideia é oferecer um trailer, isto é, uma amostra de um livro, para mobilizar o interesse do leitor ou da leitora. Para o leitor ou a leitora, pode ser uma fórma de conhecer o texto, o trabalho de linguagem, o estilo, para avaliar o que poderia ser a experiência de leitura.

Com apoio de seu ou sua responsável e ou ou orientado ou orientada pelo professor ou pela professora, escreva em seu navegador o título do livro “Um dia, um rio” mais book trailer” e assista a ele, para melhor refletir sobre seu possível interesse pela obra.

Compartilhando sua experiência de leitura

Leitura feita? Dialogue em redes de leitores ou leitorea com outras pessoas que tenham lido a obra, compartilhando sua experiência. Use o que já aprendeu sobre como comentar e indicar um livro.

LiTERatitudes

Saraus para conhecer, se inspirar e fazer!

Converse com a turma

Converse com a turma e o professor ou a professora, trocando as experiências de vocês:

  1. O que você já sabe sobre saraus?
  2. Já participou de algum?
  3. Sabe se seu bairro ou cidade tem saraus?
  4. Em caso afirmativo, busque comentários e resenhas, para saber como os ou as participantes os avaliam.

Rotação por estações: aprendendo juntos sobre saraus

Com orientação do professor ou da professora, você participará de uma rotação por estações: isto é, trabalhará com os ou as colegas em três mesas, que terão diferentes desafios e materiais de apoio.

Participe, exercitando a escuta atenta, expressando de fórma clara o que você pensa. Registre no caderno o que aprender com essas trocas.

Ilustração. Três mesas redondas, cada mesa tem cinco adolescentes sentados ao redor com diferentes tipos e características físicas. Sobre as mesas cadernos, canetas, lápis, tintas.

LiTERatitudes

Sarau da turma

Converse com a turma

Converse com a turma e o professor ou a professora, trazendo ideias, ouvindo as dôs ou dás colegas e contribuindo para decisões.

  1. O que queremos no sarau da turma, além da declamação de poemas nossos e de outros ou outras autôres ou autôras?
  2. Onde e quando queremos que aconteça o sarau?
  3. Quem gostaríamos que assistisse ao nosso sarau?
  4. Qual será a responsabilidade de cada um ou uma nesse evento?

Resenhando a experiência do sarau

Quando não for sua vez de se apresentar no sarau, procure observar:

  • Como os ou as colegas estão se envolvendo? O que parecem sentir?
  • O que você percebe que estão aprendendo?
  • E o público, como está se comportando?

Com base nessas reflexões, participe da escrita colaborativa de uma resenha, que o professor ou a professora orientará, para divulgar a experiência de vocês com o sarau.

Vale a pena ver!

Sarau da Cooperifa é poesia e cultura na zona sul de SP

Fotografia. Homem ao centro com calça e blusa verde e boné na cabeça, ele está falando em um microfone em um pedestal. Ao redor, no chão, refletores de luz iluminam o homem. Ao redor dos refletores, círculo de pessoas em pé e sentadas, assistindo o homem no centro. Teto em cinza com luzes amarelas acesas
Apresentação no sarau da Cooperifa, em São Paulo (ésse pê).

É ao som de “Uh Cooperifa! Uh Cooperifa! Uh Cooperifa!” que tem início um dos saraus mais importantes da periferia de São Paulo. Todas as terças, a partir das 20horas30, o Bar do Zé Batidão abre seu salão para que poetas, cantores, escritores, pintores, êmi cis e artistas em geral se apresentem no Sarau da Cooperifa.

Com entrada Catraca Livre, o sarau é símbolo da democratização da literatura nas periferias e empodera a população local, muitas vezes excluída da efervescência cultural do centro.

Fonte: CATRACA LIVRE. Disponível em https://oeds.link/RwNlT4. Acesso em: 8 fevereiro 2022.

Glossário

Oficina
: lugar onde se elabora, fabrica ou conserta algo.
Voltar para o texto
Transfazer
: transformar.
Voltar para o texto
Comparamentos
: a palavra comparamento é um neologismo, isto é, foi inventada com base em regras de formação de palavras da nossa língua. Assim: encantar encantamento, sofrer sofrimento. Por analogia: comparar comparamento.
Voltar para o texto
Comunhão
: no contexto do poema, união, identificação, sintonia de sentimentos, de modo de pensar, agir ou sentir.
Voltar para o texto
Crianceiras
: outro neologismo. Observe que ao radical (morfema com o significado principal) criança foi acrescentado o sufixo eira, como acontece em doce doceira. Além disso, como a palavra está qualificando outra (“raízes crianceiras”), ela funciona como se fosse um adjetivo.
Voltar para o texto
Oblíqua
: no contexto do poema, que não é direta; torta, tortuosa.
Voltar para o texto
Pudor
: no contexto do poema, sentimento de vergonha, timidez.
Voltar para o texto
Paradoxo
: como a metáfora e a comparação, o paradoxo, é um jeito figurado de usar a linguagem. Em um paradoxo, rompe-se com a lógica, com o esperado, sugerindo-se uma realidade nova, expressa na união de contrários. No poema, um exemplo de paradoxo é “o escuro me ilumina”.
Voltar para o texto
Cascos
: unha que protege os dedos dos cavalos.
Voltar para o texto
Curral
: lugar cercado onde se prende o gado.
Voltar para o texto
Privativo
: particular, relativo a cada um. No poema, opõe­‑se ao universal, que é relativo a todos.
Voltar para o texto
Rês
: qualquer animal quadrúpede que se abate para a alimentação do ser humano. No contexto do poema, o boi, o gado.
Voltar para o texto
Esguicho
: ato de esguichar, expelir (líquido) com fôrça.
Voltar para o texto
Subúrbio
: periferia das cidades, onde geralmente moram as famílias com menores salários.
Voltar para o texto
Comovida
: emocionada.
Voltar para o texto
Vime
: vara flexível usada para fabricar utensílios, móveis No texto, cor da cesta de pães.
Voltar para o texto
Laranja seleta
: laranja suculenta e adocicada.
Voltar para o texto
Pregões dos verdureiros
:as falas altas dos vendedores ambulantes oferecendo verduras.
Voltar para o texto
Aquarela
: processo de pintura sobre papel, em que são utilizadas tintas diluídas em água. No poema, entra como metáfora “aquarela da manhã”, sugerindo a beleza da combinação das cores das manhãs relembradas/recriadas.
Voltar para o texto
Rebanho
: coletivo de gado; no contexto do poema, boi.
Voltar para o texto
Iniciático
: relativo à iniciação, à formação de alguém.
Voltar para o texto
Sortida
: cheia, repleta.
Voltar para o texto
Paralalelepípeda
: relativo a paralelepípedos, pedras que fazem o calçamento de espaços urbanos.
Voltar para o texto
Tanajuras
: espécie de formiga.
Voltar para o texto
Corruptela
: ato, processo ou efeito de corromper; corrupção; lugar de agrupamento de moradores; pronúncia ou escrita de palavra, expressão etcétera distanciada de uma linguagem com maior prestígio social.
Voltar para o texto
Mascate
: mercador ambulante, vendedor que oferece mercadorias de porta em porta.
Voltar para o texto
Muleiro
: relativo a mula; no contexto do poema, vendedor que vinha de mula.
Voltar para o texto
Bugre
: pertencente a grupo indígena (os Bugres) que habitava o Sul do Brasil.
Voltar para o texto
Lacraia
: espécie de inseto presente em todo o Brasil; mede de 6 milímetros a 20 centímetros e possui 15 ou mais pares de pernas.
Voltar para o texto
Creonte
: personagem da mitologia grega, rei de Tebas, que se arrependeu das decisões precipitadas do início de seu reinado e se tornou um rei sábio.
Voltar para o texto
Antigamentes
: épocas mais ou menos distantes no tempo; tempos passados.
Voltar para o texto
Réis
: é o plural do nome das unidades monetárias adotadas no Brasil e em Portugal no século passado (singular: real).
Voltar para o texto
Desocupar
: tornar vazio; liberar, esvaziar. No contexto do poema, defecar, fazer cocô.
Voltar para o texto
Arruado
: conjunto de ruas, povoado.
Voltar para o texto
Desacontecimentos
: é um neologismo, uma palavra inventada com base nas regras da língua. Assim, acrescentou-se o prefixo des ao substantivo acontecimento, em sua fórma plural. O sentido pode ser aproximadamente “o que não aconteceu”, mas dizer isso por meio de um neologismo reforça a ideia.
Voltar para o texto
Adepto
: aquele que tem adesão a determinada coisa; no caso, a razão, a lógica, a racionalidade.
Voltar para o texto
Estultícia
: estupidez; tolice.
Voltar para o texto