CAPÍTULO 11 

Quando a palavra ganha vida no palco – leitura de textos teatrais

Cena de peça teatral. Dois atores em cena. Palco com fundo escuro. À esquerda, homem indígena agachado, cabelos escuro até os ombros com raízes  branca, camisa aberta de mangas curtas em azul, o peito e a barriga com grafismos em preto. Ele olha para o outro homem com cenho franzido e mão direita segurando um pedaço de madeira na vertical. À direita, homem indígena mais jovem, visto dos ombros para cima com cabelos lisos escuros, franja e regata verde. Ele olha ao longe, com leve sorriso.
Cena da peça teatral Meu vô Apolinário, dirigida por José Sebastião Maria de Souza e encenada pelos artistas Wesley Leal e J. Lopes Índio. São Paulo, 2016.

Vale a pena assistir!

Que tal conhecer como o texto de Daniel Munduruku foi recriado pelo teatro? Leia o trecho de resenha no boxe Clipe e reflita: Por que vale a pena ver? Que importância tem esse espetáculo para valorizarmos diferentes culturas? Procure na internet o canal do ator Wesley Leal. Lá você pode assistir a cenas da peça Meu vô Apolinário. Outro caminho de busca é combinar em seu navegador as palavras-chave “Wesley” mais “Leal” mais “vídeo” mais “Apolinário”.

Cena de peça teatral. Homem indígena visto do peito para cima com corpo para a direita, com cabelos lisos escuros, franja e regata verde.  Ele está olhando para cima com uma luz forte de frente para ele. Ao fundo, árvore de folhas em verde e céu azul-escuro.
O ator Wesley Leal interpretando o neto em Meu vô Apolinário. São Paulo, 2016.

Converse com a turma

  1. O que você achou de reler o texto Meu vô Apolinário, que conhecemos juntos no Capítulo 2, nas páginas 41-43? Por quê?
  2. Como você contaria resumidamente a história? O que chama a sua atenção no modo como ela é narrada?
  3. Observe a fotografia da abertura do capítulo: o que você vê? Que relações estabelece com as personagens e passagens do texto de Daniel Munduruku?
Versão adaptada acessível

Atividade 3.

Retorne à fotografia da abertura do capítulo. Que relações você estabelece com as personagens e passagens do texto de Daniel Munduruku?

  1. Essa cena foi criada para o teatro. O que você já sabe ou pensa sobre essa arte? Que diferenças acredita haver entre ler um texto e vê-lo representado no teatro?
  2. Se você pudesse opinar na recriação dessa mesma cena, o que faria de diferente? Por quê?
  3. O texto de Munduruku foi adaptado para o teatro. Você sabia que há textos que são escritos especialmente para o teatro? Já leu algum? Sabe como eles são? Se sim, o que acha da experiência de ler um texto assim? Por quê?
Ícone. Clipe.

Clipe

“Este é um espetáculo que fala de Índios”. Por isso essa reflexão sobre origens, raiz, ancestralidade. Poderia ir além da aldeia Munduruku e situar-se na Finlândia, Japão, França, Bahia ou Vila Nova Cachoeirinha. O texto de Daniel Munduruku nos ensina a ter orgulho de ser aquilo que a gente é simplesmente.

O adolescente, narrador da história, sofre bullying, por sua origem indígena, e seu sofrimento diminui com a descoberta de uma sabedoria ancestral.

A leveza da atuação de Wesley Leal, o menino ator-dançarino, e a personagem de um avô representado por J. Lopes Índio, na sinceridade discreta e rigorosa de sua encenação, transmitem a dimensão de uma história individual e universal.

MATARAZZO, Claudia. Meu vo(o) Apolinário ensina a voar sem asas. Sem Frescura, 28 maio 2015. Disponível em: https://oeds.link/gQ29EZ em: 19 fevereiro 2022.

O que constitui a obra literária é a sequência das unidades significativas projetadas pelas palavras e orações. A partir deste processo muito mediado e através de várias outras mediações constitui-se na mente, ou seja, na imaginação do leitor ou ouvinte, o mundo imaginário da ficção literária.

Já no teatro o que funda o espetáculo são os atores e cenários visíveis.

ROSENFELD, Anatol. O fenômeno teatral. In: Texto/Contexto. quarta edição São Paulo: Perspectiva, 1985. páginas vinte e cinco e vinte e seis.

O que você poderá aprender

  1. O que vale a pena saber sobre textos especialmente escritos para o teatro?
  2. Como a exploração de prefácios e posfácios pode tornar minha leitura mais significativa?
  3. Como a leitura do texto de Zeca Baleiro pode me ajudar a refletir sobre o papel de outras artes dentro do teatro?
  4. O que acho do ponto de vista que a peça traz sobre questões de nosso tempo?
  5. O que já sei sobre leitura dramática? Como posso ampliar esses conhecimentos para dar vida a personagens teatrais?

Oficina de leitura e criação

Contação de histórias com personagens do folclore brasileiro

Converse com a turma

  1. Você sabe o que é folclore?
  2. Você sabe o nome de alguma das personagens de nosso folclore?
  3. O que você acha: hoje as pessoas contam mais ou contam menos histórias com personagens do folclore? Por que isso acontece?
  4. O que você acha de relembrarmos histórias de nosso folclore? Por quê?

Neste capítulo, você terá a oportunidade de curtir um texto especialmente escrito para o teatro: Quem tem medo de Curupira?, de Zeca Baleiro. Para aproveitar bem a leitura, vale a pena relembrar antes as personagens de nosso folclore que serão recriadas na peça. Com a orientação prepare-se para participar de uma oficina de contação de histórias com personagens do folclore brasileiro!

Condições de produção

O quê?

Você e sua turma procurarão relembrar e ou ou conhecer histórias de personagens de nosso folclore, para depois contá-las de um jeito bem interessante. Cada estudante receberá uma personagem diferente.

Para quem?

Para os ou ascolegas da turma, de modo que toda a sala possa saber mais sobre as personagens que aparecerão na peça Quem tem medo de Curupira?.

Como?

Perguntando a pessoas mais velhas e ou oufazendo buscas na internet, em sites seguros, de acôrdo com as orientações Depois, procure guardar de memória os principais acontecimentos da história, planeje como poderia contá-la de um jeito bem interessante e ensaie até achar que alcançou um resultado legal.

Ilustração. Um homem sentado em uma cadeira amarela, com o corpo para a esquerda. Ele tem cabelos pretos encaracolados, camiseta rosa, relógio preto na mão esquerda, bermuda verde, de pernas cruzadas, tênis branco e laranja. Ele segura na mão esquerda uma folha azul e a mão direita está aberta para frente. Olha para frente com a boca aberta. Sobre a cabeça dele, um balão de fala amarelo, com o personagem Saci, Saci é um personagem negro com cabelos pretos, gorro em vermelho e está com o corpo em um redemoinho preto e vento em tons de branco. Ao redor dele, folhas de plantas.

Leitura 1

O texto que você lerá a seguir é o posfácio da peça Quem tem medo de Curupira?, de Zeca Baleiro. E o texto 2 é a fotografia de uma encenação da peça.

Ilustração. Personagem Saci. Menino negro, de cabelos escuros, em pé, com uma perna só. Ele veste gorro vermelho e  bermuda com listras na vertical em amarelo e vermelho, sem camiseta, com uma alça na direita. O corpo dele está virado para esquerda. Ele está em um local com solo com grama e à direita, pedra cinza e um caracol em cima de cor laranja e casco em verde. À esquerda, folhas pequenas de vegetação rasteira em verde e azul.

Posfácio é um gênero de texto que acompanha uma obra, vindo ao seu final. Ele serve para trazer informações e explicações que ajudam o leitor a ter uma visão geral da obra. Pode ser escrito pelo próprio autor ou por outra pessoa, como acontece no texto que você lerá, escrito por Gabriela Romeu. Também pode acontecer de um texto assim vir antes do início da obra; nesse caso, é chamado de prefácio.

Texto 1

Uma saga musical

O póp e o popular, o tradicional e o contemporâneoglossário , o urbano e o rural, as estórias contadas ao redor da fogueira e aquelas assistidas na caixa mágica, a televisão. Essas são algumas das misturas, ou melhor, encantariasglossário de Quem tem medo de Curupira?, musical escrito pelo cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro.

Nessa peça, as criaturas do imaginário nacional, desencantadas e desacreditadas, enfrentam uma verdadeira sagaglossário floresta-cidade-floresta, num enredo circular, e descobrem que já são muitas outras as assombrações do mundo contemporâneo. No caminho, o quinteto encontra personagens que se perderam na zona entre o rural e o urbano, como uma árvore secularglossário que quer dar no pé e um índio criado nas águas da Coca-Cola.

Escrito em São Luís do Maranhão na década de 1980, nos idosglossário dos vinte e poucos anos de Zeca Baleiro, quando o discurso ambientalistaglossário ainda era incipienteglossário , o musical é marcado pela busca da identidadeglossário . Curupira, Iara, Boitatá, Saci e Caipora são como jovens à procura de quem são, perguntando de onde vieram e sem saber para onde seguir. O medo é do desconhecido, ou de não saber mais quem é. Da floresta para a cidade, acaba o sonho — e finda também a infância. reticências

Quando um texto teatral ganha uma montagem para os palcos, ganha também corpo (elenco), roupa (figurino) e casa para morar (cenografia), entre outros tantos elementos que compõem um espetáculo. Quem tem medo de Curupira? foi encenado pela primeira vez em 2010, em São Paulo, em premiada montagem dirigida por Débora Dubois.

ROMEU, Gabriela. In: BALEIRO, Zeca. Quem tem medo de Curupira?. Organização: Gabriela Romeu. Ilustrações: Raul Aguiar. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2016. página 66.

Quem é?

Fotografia. Jornalista Gabriela Romeu. Mulher de braços apoiados em cima de uma caixa na altura do peito. Ela tem cabelo preto, curto, veste par de óculos de grau preto, colar rosa sobre o pescoço e blusa de mangas compridas em preto. Ela olha para frente sorrindo. Abaixo, na caixa, à esquerda um boneco de pano branco e roupa vermelha e laranja e gorro em marrom. Ao centro, quadro arredondado em marrom com foto de uma criança em local aberto. Em segundo plano, uma estante com livros na vertical.
Gabriela Romeu, São Paulo, 2018.

Gabriela Romeu

Nasceu em São Paulo, é jornalista e escreve livros para crianças. Faz crítica de teatro infantil para jornais e revistas, recomendando as peças que estão em cartaz. Idealizou e colocou em prática o Projeto Infâncias, trabalho de pesquisa, registro e reflexão sobre a vida de meninos e meninas pelo país, catalogando as fórmas de brincar no Brasil.

Texto 2

Cena de peça teatral. Em um palco, cinco pessoas. À esquerda, mulher com o corpo inclinado para a direita, branca, cabelos longos loiros ondulados, com camiseta regata e calça em tons de verde. Ela aperta os dentes e olha para frente com olhar assustado, à sua direita em pé, homem de cabelos crespos marrons, com lenço vermelho sobre a cabeça, calça da mesma cor e colares vermelhos, sem blusa, olhos bem abertos e boca aberta.
Ao centro, pessoa com o corpo para frente, corpo flexionado, com cabelos ruivos até os ombros, par de óculos de grau escuro, blusa de mangas compridas em laranja, calça marrom e tecido marrom no pescoço. Ela olha para frente, com os braços esticados para os lados e boca bem aberta. 
À direita, dois homens em pé, ambos olhando com a boca aberta e par de óculos escuros. Um deles tem com cabelo castanho comprido, gorro e calça vermelha, com jaqueta marrom e segurando nas mãos, um objeto fino na horizontal. O outro homem tem cabelos escuros, blusa de mangas compridas verde e calça marrom, com par de botas vermelho. Ao fundo, estrutura em cinza.
Cena da peça Quem tem medo de Curupira?, no Teatro Popular do Sesi. Direção de: Débora Dubois. Texto e música: Zeca Baleiro.

Converse com a turma

  1. Quem são “as criaturas do imaginário nacional, desencantadas e desacreditadas”?
  2. Que tipos de história são misturados na peça?
  3. Onde acontece a saga dessas personagens?
  4. O que as personagens da peça buscam?
  5. Quem são as outras personagens que elas encontram no caminho? O que é estranho na caracterização dessas personagens?
  6. A autora destaca que a peça foi escrita em um momento em que ainda estávamos começando a ter mais consciência sobre a importância da preservação dos recursos naturais, como vemos no trecho “ainda incipiente o discurso ambientalista”. Com base nessa informação, qual a relevância da peça naquele momento?
  1. Com base nas notícias e reportagens que você acompanha e nos seus conhecimentos, discuta: essa temática ainda tem importância? Por quê?
  2. Escute com atenção a opinião dôs ou dás colegas. Apresente perguntas que os ou as ajudem a desenvolver mais seus pontos de vista. Na sua vez, argumente usando o que tem acompanhado nas mídias.
  1. Observe as personagens na fotografia (texto 2): Mãe-d’água e Saci (à esquerda), Caipora (ao centro), Curupira e Boitatá (à direita). Os figurinos (roupas e adereços) são comuns nessas personagens ou inovam?
    • Que relações você estabeleceria entre as escolhas feitas para o figurino e o que o posfácio (texto 1) informa sobre as personagens?

Antecipando a leitura com a turma

Preocupados com o fato de ninguém mais acreditar em sua existência, Mãe-d’água, Saci, Caipora, Curupira e Boitatá discutem fórmas de recuperar a fama. Na cena que você lerá a seguir, um homem se aproxima e adentra a floresta: é João Serra Madeira. Dá o que pensar o nome dessa personagem, não é mesmo? Como você imagina que será esse encontro? Qual será a reação do homem ao se ver diante de seres encantados, protetores da floresta?

Texto 3

CENA 2 – João Serra Madeira

MÃE-D’ÁGUA

(eufórica)

Ei, pessoal! Parece que vem vindo alguém.

SACI

Olha lá! É um homem. E parece que tá procurando alguma coisa.

CAIPORA

Pois vai já encontrar.

BOITATÁ

Tá na hora de testar a tal imagem.

CURUPIRA

Deixa comigo. Deixa que eu vou lá. Que tal eu tô?

(virando-se pros amigos)

Assombroso?

TODOS

Horripilante!

CURUPIRA

Ótimo.

Curupira aproxima-se do homem no momento em que este se senta para descansar no toco de uma árvore cortada.

BOITATÁ

O coitado vai cair pra trás quando olhar o Curupira.

CAIPORA

Vai se arrepender de ter nascido.

O homem está de costas. Curupira chega de mansinho.

CURUPIRA

Tem fumo?

HOMEM

(sem se virar para olhar quem lhe fala)

Tenho. Toma.

CURUPIRA

(indignado)

O senhor não tem medo?

HOMEM

(virando-se)

Medo de quê, rapaz? Já tô calejado... Já vi tanta coisa neste mundo de meu Deus...

CURUPIRA

Mas eu sou o Curupira.

Sons da floresta.

HOMEM

(indiferente)

Prazer, João Serra Madeira.

CURUPIRA

O senhor não tem medo de mim?

(entusiástico)

Eu sou o Curupira!

(tentando amedrontar o homem)

Medonho!... Assombroso!...

HOMEM

(para a plateia)

Quanto mais eu rezo mais assombração me aparece.

CURUPIRA

O que o senhor disse?

HOMEM

Eu disse que o senhor parece com um primo que eu tenho lá pras bandasglossário do Cajual, num sabe? Ele é feio assim que nem o sinhô, num sabe? Tem um pé virado pra trás. Nasceu assim, num sabe? Mas é boa gente...

CURUPIRA

Me diga uma coisa: o senhor nunca ouviu falar de Curupira?... Boitatá?... Mãe-d’água?... Saci?... Caipora?... Nunca?

Enquanto isso, Saci, Caipora, Mãe-d’água e Boitatá vão aparecendo aos poucos. O homem acha aquilo pitorescoglossário ; saca uma câmera digital ou celular e pede para tirar uma foto com eles para postar no feicibúk.

Homem tira foto com eles. Flash!

HOMEM

Olhe, eu vou lhe falar uma coisa. Há muito tempo, quando eu era menino, meu avô me contava que sempre que ele ia pegar lenha nas mata, quando ele ia lá no fundo, lá no meio das mata mesmo, que era onde ele encontrava as mió madeira, ele ouvia uns assobio, uns baruio esquisito... Como se alguém chamasse pelo nome dele... Aí ele saía em disparada, num sabe? Ia pra casa rezar, e só saía quando guriatãglossário cantava. Ele dizia que esse pássaro trazia coisa boa, acabava com as coisa ruim, os mau agouroglossário que tinha na mata.

CURUPIRA

Seu avô era inteligente! Acreditava em Curupira!

HOMEM

Não sei, não.

CURUPIRA

Como não sabe? E essas estórias que ele contava? Esses barulhos, esses assovios... Éramos nós, as horríveis criaturas que fazemos da mata este lugar encantado, cheio de mistérios...

(assustado)

Medo!

HOMEM

CURUPIRA

(insistente)

Então? O senhor acredita agora em Curupira?

O homem canta

Ouvi dizer que pras bandas da capital

tem um bicho de ferro que anda, que fala

um bicho infernal


E parece que é gente, eita bicho mau

que devora as pessoas, os bichos,

as árvores, o escambauglossário


Ora, me diz, meu amigo, se tem

bicho danado que vai e que vem

que anda, que fala, que pula e roda e vira

quem é que vai acreditar em Curupira?

quem é que vai acreditar em Curupira?

quem é que vai acreditar em Curupira?

quem é que vai acreditar em Curupira?

O homem sai. Curupira fica desoladoglossário , no meio do palco. Os outros se aproximam.

BALEIRO, Zeca. Quem tem medo de Curupira?. São Paulo:Companhia das Letrinhas, 2016. páginas dezessete a vinte.

Vale a pena ouvir!

No espetáculo, a fala de Curupira é cantada. Que tal, com apoio de seu responsável, procurá-la nos canais do multiartista Zeca Baleiro na internet? Ao ouvi-la, reflita: O que o ritmo da música, sua harmonia, instrumentos usados agregam de sentidos ao texto?

Quem é?

Fotografia. Músico Zeca Baleiro, homem visto do busto para cima, olhando para frente sorrindo. Ele tem cabelos escuros para trás e usa boné verde sobre a cabeça, nariz fino e blusa de gola em vermelho com estampas em bege e jaqueta preta por cima. Ele olha para frente sorrindo. Ao fundo, local com luzes verticais à direita.
Zeca Baleiro, em São Paulo, em 2017.

José Ribamar Coelho Santos, nome verdadeiro de Zeca Baleiro, nasceu em Arari, Maranhão, em 1966. É músico, cantor e compositor. Começou a carreira compondo músicas para teatro infantil. O apelido Baleiro foi colocado pelos colegas da universidade de Agronomia, porque Zeca sempre tinha balas e doces para consumir entre as aulas.

Converse com a turma

  1. Como o leitor percebe quando é a fala de cada uma das personagens? Escolha a fala de uma personagem e leia-a de fórma bem expressiva.
  2. Releia as partes do texto que estão entre parênteses. Que função elas parecem ter?
  3. Observe as passagens que estão escritas em itálico, isto é, em letras inclinadas para a direita, como estas aqui. Para que elas parecem ter sido escritas?
Versão adaptada acessível

Atividade 3.

No texto, há passagens escritas em itálico, isto é, em letras inclinadas para a direita e que não estão associadas aos nomes dos personagens nem aos diálogos. Para que elas parecem ter sido escritas?

As vozes no texto para teatro

Os diálogos são as falas diretas das personagens. São elas que serão ditas na encenação do texto. Já as rubricas, ou didascálias, como também são conhecidas, são as indicações cênicas dadas pelo autor e podem incluir: nomes das personagens, dicas para o cenário e a iluminação, sugestões de gestos e ações, enfim, tudo o que se refere à apresentação da peça no palco. Elas orientam o trabalho de diretores e atores. Para diferenciar discurso das personagens (diálogos) e discurso do autor com indicações cênicas (rubricas ou didascálias), costuma-se usar letras em negrito, itálico, expressões entre parênteses.

O texto em construção

1. Reflita sobre o texto a seguir:

Toda língua é feita de um conjunto de variedades, com regras gramaticais próprias e jeitos de pronunciar as palavras. Assim, a variedade considerada culta, apesar de ser mais valorizada para as interações sociais mais formais e públicas, como as que acontecem na escola, é apenas uma das diferentes formas da língua que as pessoas podem usar, dependendo da situação de interação em que se encontram.

  1. Nas falas de qual personagem percebe-se mais o uso de variedade linguística diferente da norma culta?
  2. Como o plural funciona nessa variedade? Explique e exemplifique.
  3. Que palavras foram escritas de maneira diferente da ortográfica para representar como elas são pronunciadas nessa variedade?
  4. Se fosse usada a variedade culta nas falas dessa personagem, teria sido mais ou menos interessante para o contexto da peça? Por quê?

Verossimilhança

Um texto de ficção precisa ter coerência interna, isto é, cada elemento deve combinar com o outro para dar efeitos de sentido. Assim, por exemplo, na construção de uma personagem, a escolha de uma variedade é tão importante para caracterizá-la quanto lhe dar um nome e indicar jeitos de agir. Os saberes do leitor/ouvinte também importam: consideramos algo verossímil porque percebemos que realidades estão sendo representadas pelo texto.

  1. Outra fórma de dar verossimilhança ao texto é criar diálogos que sejam coerentes com as intencionalidades das personagens. Resuma a intencionalidade do Curupira: o que ele quer causar no homem? De que quer convencê-lo?
    1. As respostas do homem mostram que o discurso do Curupira está ou não alcançando sua intencionalidade?
    2. O discurso pode ser verbal ou não verbal. Escolha uma passagem das rubricas que tenha indicações do que a personagem homem deve fazer no palco e que, em sua avaliação, melhor expresse o que você respondeu na questão anterior.
  2. Nessa peça, a presença da música é importante. A canção que fecha a cena apresenta um ponto de vista, uma explicação sobre por que as pessoas não acreditam mais em Curupira. Resuma esse ponto de vista.

Seguindo as orientações do(a) professor(a), cante com a turma a canção, experimentando como a linguagem da música também pode produzir sentidos no teatro.

Cena de peça teatral. Seis pessoas sobre um palco. Ao centro, um homem em pé, olhando para cima e apontando com dedo indicador da mão direita para cima. Ele veste chapéu de pano e uma túnica de mangas compridas e calça, com saiote em marrom. À esquerda, um homem agachado, com gorro e calça em vermelho, sem camiseta e com pedaço de madeira na mão esquerda. Sobre ele, uma mulher olhando para o centro do palco com cabelos trançados para trás, blusa regata em tons de verde. Na outra extremidade, à direita, outros dois homens em pé e uma mulher agachada com cabelos ruivos e roupa marrom. Ao fundo, estrutura em cinza.
Cena da peça Quem tem medo de Curupira?, direção de Débora Dubois, no Teatro Popular do Sesi, em São Paulo, 2010.

Oficina de leitura e criação

Resgate da canção infantojuvenil “Meu limão, meu limoeiro”

Agora é sua vez de trazer a música. Você conhece a cantiga folclórica “Meu limão, meu limoeiro”? Se sim, relembre-a, transcrevendo a letra no caderno. Se você não a conhece ou não se lembra bem dela, consulte alguém mais velho ou investigue em sites seguros.

Com a letra escrita, é hora de praticar a interpretação, escolhendo e improvisando sons de acompanhamento. Você pode usar o corpo (palmas, batidas de pé, assobios etcétera) ou instrumentos criativos: caixa, lata, corda, folha de papel, plásticos etcétera

Experimente bem os sons! Depois busque dar seu estilo à canção, cantando com acréscimo de novos sons, feitos com o corpo ou instrumentos improvisados.

Vale a pena ouvir!

Apresentação de grupo musical. Grupo musical Barbatuques. Sete pessoas sobre um palco. Ao centro, uma pessoa vista de costas com o corpo inclinado para a direita, cabelos curtos ruivos, blusa de mangas curtas em azul, com o braço esquerdo para cima e à direita, para baixo. Ao fundo, outras pessoas vistas parcialmente, com movimentos diversos e um homem em pé, braços para cima e barba escura e roupa em laranja. Ao redor, outras pessoas com movimentos diversos. Ao fundo, local com parede preta e ilustração em branco.
A proposta principal do grupo Barbatuques, fundado em 1997, é utilizar o corpo como instrumento musical.

“O Barbatuques desenvolveu, ao longo de sua trajetória, uma abordagem única da música corporal através de suas composições, técnicas, exploração de timbres e procedimentos criativos.”

Fonte: Grupo Barbatuques. Quem somos.

Disponível em: https://oeds.link/d4kC6X. Acesso em: 12 agosto 2022.

Reflita: Por que conhecer mais sobre o trabalho desse grupo musical pode interessar a você? Se a proposta despertou seu interesse, com apoio dô ou dá responsável, navegue pelo canal de vídeos do grupo e procure aprender com eles.

Leitura 2

Já na cidade, Mãe-d’água, Saci, Caipora, Curupira, Iara e Boitatá se dividem para conhecê-la. Curupira organiza para onde vai cada um: “Boitatá, você vai por ali... eu vou por aqui... Iara, você segue adiante... Caipora, ali... e Saci, você...”. Exatamente nesse momento, aparece um velho pé de jacarandá, que também vem da floresta. A cena que você lerá a seguir é o diálogo entre a árvore centenária e Curupira. No final, como você já pode esperar, entra uma música importante para o sentido da peça. E ela é uma paródia da cantiga popular “Meu limão, meu limoeiro”, que você já sabe de cor.

Ícone. Clipe.

Clipe

O jacarandá é uma árvore comum no Brasil, de madeira nobre e resistente, e de cor escura, muito usada na fabricação de móveis e de pianos. Pode medir de 2 a 50 metros de altura.

Fotografia. Árvore vista de baixo para cima, com tronco escuro, pelas folhas é possível ver a luz do sol.
Jacarandá, Reserva de Linhares, 2005.
CENA 5 – Jacarandá

Vem um pé de jacarandá centenárioglossário , carregando uma mala; triste, abatido, olhos no chão... fala como se continuasse a fala de Curupira do fim da cena 4.

PÉ DE JACARANDÁ

Eu? Eu vou procurar melhor sorte... Em outro lugar...

CURUPIRA

Por quê?

PÉ DE JACARANDÁ

Ora, meu filho. Eu sou um jacarandá secular. Quero passar os dias de minha velhice em paz. E na mata não há mais paz. Todo dia vejo meus irmãos jatobás, samaúmas e copaíbas serem cortados ao meio...

(dramático)

Trucidadosglossário , esquartejadosglossário !

(chega ao foco de luz)

Oh, é horrível! Estão matando, destruindo tudo. Ficou insuportável morar lá. São muitos os perigos...

CURUPIRA

Olha, seu Jacarandá, eu também moro na mata, sabe? Mas eu não acho assim tão ruim morar lá, não...

PÉ DE JACARANDÁ

Ah, não? E o que você faz aqui, tão longe da mata?

CURUPIRA

Eu... Eu... Vim ver a cidade, ora. Saber se as pessoas daqui acreditam em mim... Se ainda temem o Curupira.

PÉ DE JACARANDÁ

Posso adiantar que não. Elas têm coisas mais terríveis para temer.

CURUPIRA

Mais do que eu? Mais do que meus amigos? Duvido muito!

PÉ DE JACARANDÁ

Pode duvidar.

(enigmáticoglossário )

São muitos os perigos!

CURUPIRA

E onde estão esses perigos de que você tanto fala?

PÉ DE JACARANDÁ

Estão por aí... Estão aqui, estão em todo lugar...

Luz com movimento no jacarandá.

Estão escondidos e, principalmente, bem escondidos.

(sugestão: projeçãoglossário de imagens obscurasglossário , misteriosas, no próprio jacarandá).

Às vezes, é mais fácil temer o que a gente não vê...

CURUPIRA

O que a gente não vê?

PÉ DE JACARANDÁ

Um dia, você vai entender o que eu falo. Agoratenho que ir. Vou ver se acho um lugar melhor para viver. Adeus!

O Pé de Jacarandá vai saindo; todos cantam.

Meu limão, meu limão

Meu limoeiro

Deu no pé

Meu pé de jacarandá


Foi-se atrás de outros ares

Mares bons de navegar


Meu limão, meu limão

Meu limoeiro

Deu no pé

Meu pé de jacarandá


Do mal cortar a raiz

Pro fruto feliz vingar.

BALEIRO, Zeca. Quem tem medo de Curupira?. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2016. páginas vinte e oito a trinta.

Converse com a turma

1. Leia:

Personificação ou prosopopeia é uma figura de linguagem com a qual o locutor atribui ações e sentimentos humanos a seres inanimados ou a animais.

Qual rubrica melhor orienta a personificação do jacarandá? Por quê?

  1. Em sua opinião, a Cena 5 contribui para um ponto de vista crítico sobre as relações do ser humano com o meio ambiente? Por quê?
  2. A fala do jacarandá define quais são os perigos da vida na cidade?
    1. Releia a rubrica:

(sugestão: projeção de imagens obscuras, misteriosas, no próprio jacarandá)”.

  1. Se você fosse trabalhar na encenação da peça, que imagens escolheria para projetar sobre o jacarandá? Em que formatos e cores? Por quê? Se quiser, faça desenhos no caderno.

4. Compare:

“Meu limão, meu limoeiro,

Meu pé de jacarandá”

“Meu limão, meu limão

Meu limoeiro

Deu no pé

Meu pé de jacarandá”

a. Como a canção que fecha a cena ajuda o ouvinte/leitor a relembrar a cantiga popular? E de que modo a canção da peça renova a cantiga popular, fazendo assim uma paródia?

Paródia

Obra literária, teatral, musical etcétera que imita outra obra, geralmente para efeito de humor.

b. Que sentidos você daria à expressão idiomática “deu no pé”, considerando o contexto da cena?

Expressão idiomática

Toda língua tem expressões idiomáticas. Elas são difíceis de traduzir para outros idiomas, porque as palavras não podem ser pensadas uma a uma, elas são consideradas “juntas” e possuem um sentido só.

5. O que mais chamou a sua atenção na cena que você acabou de ler? Por quê?

Vale a pena ouvir!

Na internet, você pode ouvir a interpretação da canção que encerra a Cena 5. Vale a pena conhecê-la, ouvi-la e refletir sobre como ela também agrega sentidos ao texto e pode ser usada na encenação.

Cena de peça teatral. Quatro pessoas no palco: três em pé e uma agachada, todas viradas para a direita. À esquerda, um homem com gorro sobre a cabeça e calça vermelha, com um pedaço de madeira marrom nas mãos e corpo inclinado para frente. Mais ao fundo, uma pessoa agachada no chão, cabelos castanhos e roupa de mangas compridas em marrom. Atrás da pessoa agachada mulher de tranças para trás com  regata calça verde. Mais à direita, um homem em pé, com gorro e calça longa vermelha, sem camiseta e com as mãos na cintura. No plano de fundo, estrutura em cinza, na ponta da direita, estrutura de madeira na vertical.
Cena da peça Quem tem medo de Curupira?, direção de Débora Dubois, no Teatro Popular do Sesi, em São Paulo, 2010.

Oficina de leitura e criação

Leitura dramática de cena de Quem tem medo de Curupira?

Você percebeu que, diferentemente dos textos narrativos, que se completam no imaginário de cada leitor, os textos escritos para o teatro ganham vida no palco?

O primeiro passo para isso é a chamada leitura dramática do texto (também conhecida como leitura teatral). Nesse tipo de leitura, depois de conhecerem bem o texto e as intencionalidades das vozes nele presentes, os atores dão vida às personagens por meio de leituras bem expressivas. Nesse momento, ainda não se usam figurinos, cenário, iluminação, sonoplastia (emprego de sons, músicas, para efeitos de sentido). O que importa mesmo é construir a personagem pela interpretação de suas falas, em uma leitura em voz alta que “dê vida” a ela.

Que tal experimentar, com outros ou outras colegas, interpretar, em leitura dramática, as personagens da peça: a Mãe-d’água, Saci, Caipora, Boitatá, Curupira e João Serra Madeira?

Para isso, participe da conversa que o professor ou a professora promoverá e depois siga as orientações dele ou dela para a oficina de leitura dramática.

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Converse com a turma

  1. Na sua opinião, o que devemos considerar na leitura dramática de um texto teatral, para que as falas das personagens “ganhem vida”?
  2. Experimente usar a entonação, as pausas, o ritmo, para ler o trecho seguinte, trabalhando especialmente a pronúncia das palavras destacadas.
Versão adaptada acessível

Atividade 2.

Experimente usar a entonação, as pausas, o ritmo, para ler o trecho seguinte, trabalhando especialmente a pronúncia das palavras “secular”, “em paz”, “Todo dia”, “há mais paz”, “cortados ao meio”.

SITUAÇÃO 1:

Vem um pé de jacarandá centenário carregando uma mala; triste, abatido, olhos no chão...

Pé de Jacarandá

Ora, meu filho. Eu sou um jacarandá secular. Quero passar os dias de minha velhice em paz. E na mata não há mais paz. Todo dia vejo meus irmãos jatobás, samaúmas e copaíbas serem cortados ao meio...

(dramático)

SITUAÇÃO 2:

Vem um pé de jacarandá centenário carregando uma mala; triste, abatido, olhos no chão...

Pé de Jacarandá

Ora, meu filho. Eu sou um jacarandá secular. Quero passar os dias de minha velhice em paz. E na mata não há mais paz. Todo dia vejo meus irmãos jatobás, samaúmas e copaíbas serem cortados ao meio...

(dramático)

3. Agora, vamos ensaiar falas para outras situações. Observe bem as rubricas para dar intencionalidade à entonação (escolha a quais partes quer dar mais ênfase), ao ritmo, às pausas que farão.

SITUAÇÃO 1:

Vem um pé de jacarandá centenário carregando uma mala; triste, abatido, olhos no chão...

Pé de Jacarandá

Ora, meu filho. Eu sou um jacarandá secular. Quero passar os dias de minha velhice em paz. E na mata não há mais paz.

Oficina de leitura e criação

Todo dia vejo meus irmãos jatobás, samaúmas e copaíbas serem cortados ao meio...

(dramático)

SITUAÇÃO 2:

Vem um pé de jacarandá centenário empurrando uma mala; irritado, fazendo barulho, bufando, olhos esbugalhados...

Pé de Jacarandá

Ora, meu filho. Eu sou um jacarandá secular. Quero passar os dias de minha velhice em paz. E na mata não há mais paz. Todo dia vejo meus vizinhos jatobás, samaúmas e copaíbas serem cortados ao meio...

(impaciente)

SITUAÇÃO 3:

Vem um pé de jacarandá centenário correndo com uma mala; ofegante.

Pé de Jacarandá

Ora, meu filho. Eu sou um jacarandá secular. Quero passar os dias de minha velhice em paz. E na mata não há mais paz. Todo dia vejo meus vizinhos jatobás, samaúmas e copaíbas serem cortados ao meio...

(apressado, como se estivesse fugindo)

Condições de produção

O quê?

Você e a turma farão leituras dramáticas da Cena 2 – João Serra Madeira, de Quem tem medo de Curupira?. Assim, todos ou todas poderão experimentar tirar as personagens do papel, interpretando com intencionalidade as falas do texto. Vocês buscarão sugerir como são, o que sentem e como se comportam as personagens, de acôrdo com as sugestões das rubricas e dos diálogos. É ocasião também para vocês darem “toques pessoais” às personagens, como fazem atores e atrizes.

Para quem?

Para outros colegas da turma.

Como?

1. Com seu grupo de trabalho, retome a cena, reveja onde começam e onde terminam as falas das personagens e discuta, com apoio das rubricas, as intencionalidades sugeridas pelo texto.

  1. Combine com os ou as colegas quais personagens cada um ou uma quer vivenciar ou interpretar.
  2. Experimentem diferentes modos de interpretar pela leitura as falas das personagens. Avaliem quais são as mais interessantes.
  3. Troquem de papéis, façam variações, mas sem perder de vista as intencionalidades sugeridas no texto.
  4. Planejem quem ficará com que papel e o que deverá garantir na leitura, depois das experimentações que fizeram.
  5. Façam uma versão final da leitura, gravando, conforme orientação
  6. Avaliem como foi o processo: O que consideram que ficou bom na leitura dramática feita por vocês? O que ainda poderia ter ficado melhor? Como podem conseguir isso em outra oportunidade?

O que levo de aprendizagens deste capítulo

Chegamos ao final do capítulo.

  1. Como foi aprender mais a respeito de ler textos especialmente escritos para o teatro?
  2. E experimentar contar histórias do folclore, criar sons para cantiga da tradição popular, estabelecer relações entre essas experiências e a leitura da peça?
  3. E como foi fazer leituras dramáticas?
  4. Você acha que criar falas para as personagens trouxe aprendizagens também para suas falas na vida? Por quê? Refletindo sobre essas questões, produza um pequeno parágrafo em seu caderno, contando suas aprendizagens.
  5. Converse também com seus familiares e veja se é possível conhecer um teatro próximo de sua casa para assistir a uma peça própria para sua idade, levantando antes informações e opiniões sobre o espetáculo. Para isso, use o que aprendeu sobre comentários, resenhas, posts em blogs e vlogs. Será ótimo poder ver uma encenação depois que você aprendeu mais sobre o teatro, não é mesmo?
  6. Além disso, vale a pena procurar ler com autonomia outros textos escritos para o teatro, consultando o acervo da sala de leitura e ou ou da biblioteca local, sendo protagonista em relação à sua própria formação como leitor e ampliando sua galeria com novas descobertas e experiências de leitura.

Galeria

O post a seguir foi publicado no blog da Companhia. Arthur-Arnaldo (São Paulo, São Paulo). Leia e observe como o texto ajuda o leitor a “ter um primeiro olhar sobre o espetáculo”. Depois, converse com sua turma e

A travessia de Maria e seu irmão João

Cena de peça teatral. Ao centro um caixote com pedras arredondadas em bege e dois bonecos nos mesmos tons de bege, segurados por uma pessoa de cada lado. À esquerda, pessoa vista do joelho para cima com cabelos castanhos, curtos e lisos, com blusa e colete marrom. À direita, mulher de cabelos curtos escuros, blusa de mangas curtas branca e jardineira  marrom. Ambas olham para baixo, em direção aos bonecos.
Cena da peça A travessia de Maria e seu irmão João encenada pela Companhia. Arthur-Arnaldo, em São Paulo, 2022.

Para não morrerem de fome, os pais abandonam seus filhos na floresta escura. Essa é a premissa do clássico João e Maria. Na recontagem imaginada por níl gueimen e premiada pelo 23º Cultura Inglesa Festival em 2019, a fome é causada pela guerra e a dupla de crianças, refugiadas.

Em “A travessia de Maria e seu irmão João reticências a diretora Soledad Yunge apostou na linguagem dos bonecos para começar a contar essa história: “no início da trama ainda existe paz e fartura e bonecos são manipulados para mostrar a poesia da infância e o brincar, que é interrompida pela guerra e o mundo dos adultos entra na história”, conta a diretora. Os bonecos, confeccionados por Carú Lima que é atriz da Companhia. Arthur-Arnaldo, são de pão e foram panificados especialmente para a peça. Trabalhar com alimentos e com a realidade deles em cena foi um dos pontos de partida da concepção visual e simbólica da montagem. A equipe se inspirou nas obras do artista britânico Carl Wagner, que cria paisagens apenas com alimentos e as fotografa. “Queremos que as crianças se encantem com as diferentes referências visuais dos elementos de comida e que pensemos juntos sobre todas as questões da produção e consumo de alimentos”, completa a diretora

As atrizes Júlia Novaes e Luisa Taborda se dividem nos papéis e na manipulação dos objetos de cena. Parceiras de longa data de outros espetáculos da Companhia. Arthur-Arnaldo, as duas encaram o desafio de viver outro personagem icônico: a bruxa que vive em uma casa de doces. “É ótimo poder dividir o palco com a Luisa e divertir as crianças com as trocas de figurino, fazendo-as esquecer por uns instantes que somos apenas duas em cena”, diz a atriz Júlia Novaes.

A trilha sonora, especialmente composta para a montagem por Pedro Cury, acompanha a narração da história e conta com participações especiais de voz em off dos atores Guto e diéqui Obrigon. O cenário da peça foi criado por Rafael Souza em parceria com o Estúdio Lava, de Júlia Reis e Lucas Bueno, e os figurinos, inspirados em crianças refugiadas, são de Rogerio Romualdo.

reticências

Fonte: https://oeds.link/IbCM3r. Acesso em: 15 fevereiro 2022.

Ícone. Clipe.

Clipe

Você conhece os direitos das crianças e dos adolescentes que estão no Estatuto da Criança e do Adolescente éca?

“As crianças e os adolescentes têm o direito à vida e à saúde; direito à liberdade, ao respeito e à dignidade; direito à convivência familiar e comunitária; direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer; direito à profissionalização e à proteção no trabalho.”

Disponível em: https://oeds.link/MmCUiJ. Acesso em: 14 fevereiro 2022.

Converse com a turma

  1. Com qual livro a peça dialoga? E com qual conto de tradição oral o livro e a peça dialogam?
  2. Como o livro atualiza esse conto: Que desafios são vividos pelas personagens crianças? O que você sabe sobre crianças que vivem nessa condição? Na sua opinião, por que importa a arte tratar desse tema?
  3. Para você, que outros desafios são enfrentados por crianças de nosso tempo e que também prejudicam os direitos delas?
  4. Observe a fotografia.
    • Com que passagens do texto é possível relacioná-la?
  5. O que você achou mais criativo nesse espetáculo? Por quê?

Apreciando um espetáculo teatral em vídeo

Fotografia. Vista geral de uma sala de aula com paredes brancas da metade para cima e azul da metade para baixo, nela há carteiras escolares com pessoas de várias idades e características físicas sentadas de costa. Ao fundo, na parede, projeção de vídeo em que aparece mulher de cabelos compridos. Nas laterais janelas fechadas com cortinas para deixar o ambiente mais escuro.
Estudantes guarani-kaiowá assistindo a filme em escola municipal indígena, na Aldeia de Amambai Mato Grosso do Sul, em 2012.

o professor ou a professora organizará uma sessão de apreciação de uma peça de teatro em vídeo. Ao assistir, observe as escolhas que foram feitas para:

  1. A construção do cenário: que materiais foram usados para criar representações e sensações em que as personagens estão.
  2. O trabalho de interpretação dos atores: como usam voz, corpo, gestualidade.
  3. O figurino: o que as personagens vestem e usam.
  4. A música e como ela sugere sentidos para as cenas.
  5. O uso da iluminação e as sensações que ela promove.
  6. Os enquadramentos: o que a câmera escolhe mostrar em cada cena.
  7. O ritmo de passagem de uma cena para outra no vídeo.

Anote o que observou e depois converse com a turma e

Vale a pena assistir!

Você sabia que as companhias teatrais costumam publicar em seus canais teasers, isto é, sequências de trechos de cenas, para divulgar suas peças? Para quem assiste, essa é uma fórma de avaliar um espetáculo, antes de vê-lo. Que tal, com apoio de seu responsável, combinar palavras-chave no navegador, para localizar e assistir ao teaser da peça A travessia de Maria e seu irmão João? Procure observar os cenários, o figurino, o uso de projeções e como tudo isso concorre para criar o universo da peça.

Cena de peça teatral. Duas pessoas em um palco, vistas da cintura para cima. À esquerda, pessoa com cabelos curtos, lisos e castanhos,  com blusa de cor bege até os cotovelos, colete e calça marrom. Ela segura na mão esquerda, vaso pequeno preto com planta verde. À direita, uma pessoa de cabelos escuros e presos, blusa bege de mangas curtas com jardineira marrom. Elas estão com as mãos dadas e olham para frente, a da esquerda, sorrindo com os dentes à mostra.
Cena da peça A travessia de Maria e seu irmão João?, encenada pela Companhia Arthur-Arnaldo, em São Paulo, 2022.

Compartilhando sua experiência de leitura

Você recomendaria essa peça? Por quê? Produza um post para redes sociais, destacando aspectos da peça a que você assistiu. Solicite apoio de seu responsável para publicar o seu post entre amigos ou amigas e familiares.

LiTERatitudes

Da palavra ao palco: lendas e contos para falar de nosso tempo

Que tal exercitar o pensamento e a criatividade por meio do teatro? Conforme a orientação do professor ou da professora, integre um grupo de trabalho para a produção de uma cena. Em conjunto, a turma produzirá um teaser com as cenas que criarem.

Condições de produção

O quê?

Você e seu grupo escolherão uma das lendas que investigaram antes (Curupira, Iara, Boitatá, Saci e Caipora) ou um conto de tradição oral (João e Maria, Chapeuzinho Vermelho, Cinderela etcétera) e recriarão essa história para o teatro, atualizando o texto com temas de hoje.

Para quem?

Para a própria turma experimentar processos de criação com o teatro e, se quiserem, compartilhar com amigos ou amigas e familiares.

Como?

  1. Negociem no grupo com qual história querem trabalhar. História escolhida, procurem uma boa versão escrita dela em canais seguros da internet ou escrevam a versão que vocês sabem.
  2. Escolham um dos direitos das crianças e dos adolescentes, discutam as questões seguintes e escrevam as decisões de vocês nos cadernos:
    1. Que reflexões e atitudes gostaríamos de provocar nas pessoas a respeito desse direito?
    2. O que queremos mudar no enredo (acontecimentos) da narrativa, para que o direito que escolhemos entre nele de fórma crítica e criativa? Por quê?
    3. Manteremos os espaços em que ocorrem as ações ou escolheremos outros? Por quê?
    4. Que espaços da escola queremos usar? Que materiais simples poderemos usar para transformar esse espaço em um espaço cênico?
    5. O que queremos que os figurinos das personagens expressem? Que roupas e acessórios podemos usar para isso?
    6. Que cantiga ou antigasou fazer parte da peça? Por quê? na versão original ou parodiada ou parodiadas?

entrará ou entrarão de fundo ou será ou serão parte da “fala” de alguma personagem? Usaremos a letra toda ou apenas alguns versos? Nesse caso, quais? Por quê?

3. Relembrem as partes de um texto escrito para o teatro. Decidam quem de vocês será o escriba, isto é, escreverá o texto, na medida em que forem discutindo o novo texto.

Dicas:

  • o narrador deverá desaparecer. Serão os próprios diálogos que “comporão” a história;
  • usem as rubricas para marcar dicas para a interpretação dos atores;
  • organizem o texto em três cenas e, dentro delas, escrevam os diálogos, com até quatro falas;
  • usem frases diretas, curtas, favorecendo a interpretação dos atores;
    • usem variedades linguísticas que combinem com as personagens (verossimilhança);
  • indiquem o momento de entrada ou canção ou canções, se por rubricas ou como falas.

Avaliando a produção

Avaliem colaborativamente o texto. Peçam também o olhar

O texto atendeu aos critérios de:

SIM

NÃO

1. Adequação à proposta

a) O texto recria lenda ou conto de tradição oral em texto para teatro?

b) Ele atualiza o texto, trazendo crítica e criativamente um direito da criança e do adolescente?

2. Adequação às características estudadas do gênero

a) O texto está organizado em três cenas?

b) Cada cena é composta de diálogos?

O texto atendeu aos critérios de:

SIM

NÃO

c) Há uso significativo de rubricas com sugestões para a encenação (cenário, figurino, interpretação dos atores)?

d) As falas das personagens são antecedidas por seus nomes?

e) As falas são curtas e fáceis de ser interpretadas oralmente?

f) Houve a escolha de provocar o(a) leitor(a) a fazer relações com cantiga(s) ou canção(ões) (intertextualidade)?
(Nesse caso, a letra está “bem encaixada” no texto? É possível estabelecer relações de sentido entre ela e a cena?)

g) As cenas têm uma sequência lógica, com ações bem encaixadas – uma levando a outra?

3. Construção da coesão/coerência do texto (textualidade)

• Houve uso de expressões sinônimas e de pronomes para retomar referentes do texto, eliminando a repetição e garantindo a progressão de sentidos?

4. Uso das normas e convenções da norma culta escrita e de outras variedades da Língua Portuguesa

a) O texto segue as regras de concordância nominal e verbal da norma culta escrita?

b) Houve uso intencional de regras de outras variedades, na fala de alguma personagem, por exemplo?

5. Ortografia, pontuação e construção de sentidos

a) As palavras foram escritas de acordo com a ortografia?

b) Houve uso intencional de sinais, contribuindo para a encenação do texto, com especial atenção ao uso dos parênteses nas rubricas?

Ensaiando, encenando e gravando!

Fotografia. Palco com piso marrom. À esquerda, menino de cabelos castanhos,  veste boina  verde, camisa xadrez bege, calça jeans e tênis cinza com detalhes em branco. Ele está com as mãos sobre a cintura olhando para a direita, onde há uma pessoa com fantasia de lobo. Esse tem pelos marrons, orelhas pontudas e focinho fino, com forma redonda preta e pernas peludas e brancas com sapatos beges. O lobo também está com as mãos nas cinturas. Ao fundo, à esquerda e à direita, árvores de troncos marrons, à esquerda sem folhas e à direita, outras menores, com folhas em verde. Em segundo plano, fundo preto.
Crianças ensaiando peça teatral em palco com cenário montado e com figurino.
  1. Ensaiem a leitura dramática do texto, até que as falas alcancem os efeitos que vocês querem. Explorem pausas, entonação, ritmo, velocidade da fala, intensidade.
  2. Escolham qual das cenas será feita.
    1. Decidam quem serão os atores. Eles deverão decorar as falas.
    2. Escolha em que ela acontecerá e ensaiem acrescentando gestos, movimentos, na interpretação do texto. Procurem desenvolver a expressão corporal no ensaio.
    3. Trabalhem na construção do cenário e dos figurinos.
    4. Ensaiem com tudo: cenário e figurino!
    5. Ficou tudo como vocês gostariam? Com apoio e orientação do professor ou da professora, façam os ajustes que julgarem necessários. Depois que tudo estiver do modo como vocês quiserem, gravem a cena.

Participando da produção do teaser!

Participe da produção colaborativa do teaser com as cenas da turma, trazendo ideias e discutindo as trazidas pelos ou pelas colegas!

Glossário

Contemporâneo
: que é do tempo atual, de agora.
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Encantarias
: neologismo que no contexto significa aproximadamente mistério por meio da ficção.
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Saga
: narrativa com muitos incidentes.
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Secular
: que tem mais de um século de existência.
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Idos
: que já se foi, passado.
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Ambientalista
: relativo à defesa da preservação do meio ambiente.
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Incipiente
: que inicia, que está no começo; inicial, iniciante, principiante.
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Identidade
: conjunto de características que distinguem uma pessoa. No contexto, as personagens do texto estão em busca de saber quem são, o que representam no mundo atual.
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Bandas
: direção, lado.
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Pitoresco
: que é original de modo gracioso, envolvente, fascinante.
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Guriatã
: nome popular de um pássaro típico da floresta amazônica.
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Agouro
: presságio de acontecimento ou notícia. No contexto, mau agouro é um mau sinal.
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O escambau
: e muito mais, e assim por diante.
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Desolado
: que apresenta grande tristeza, desconsolado.
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Centenário
: que tem 100 anos ou mais.
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Trucidados
: mortos com crueldade, destroçados.
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Esquartejados
: que sofreram esquartejamento, que foram cortados em partes, pedaços.
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Enigmático
: misterioso, de difícil compreensão.
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Projeção
: que se projeta. No contexto, imagens projetadas sobre uma superfície: no caso, o palco onde se encena a peça.
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Obscuras
: que estão sem luz, ocultas, escondidas; sombrias, tenebrosas.
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