Capítulo 3

Língua e linguagem

Tópico 1 — Linguagem, língua e produção de sentidos

O que você poderá aprender

Neste tópico, você vai refletir sobre as seguintes questões:

  1. O que é linguagem?
  2. Língua e linguagem são a mesma coisa?
  3. O que é língua e qual é a importância dela?

Linguagem

Quando ouvimos uma música, lemos um livro, vemos uma pintura, assistimos a um filme ou a uma peça de teatro, sempre temos uma reação a essas obras: gostamos ou não, sentimo-nos impressionados, admirados, indiferentes ou incomodados. Podemos, até mesmo, expressar esses sentimentos em palavras.

Vamos testar isso?

1. Observe a cena a seguir e leia a legenda.

Fotografia. Vista de baixo para cima. Um grupo de pessoas, homens e mulheres, caminha em uma calçada, vestindo trajes formais e carregando pastas de trabalho. Todos estão com uma venda branca nos olhos e cobertos de lama. Em segundo plano, vista parcial de prédios de cidade e no alto, céu nublado em cinza.
O grupo Desvio Coletivo apresenta a performance Cegos pelas ruas de São José do Rio Preto, no estado de São Paulo, durante o Festival Internacional de Teatro da cidade, em 2019.
Ícone. Clipe.

Clipe

Performance é uma fórma de expressão artística híbrida que pode mesclar artes visuais, teatro, dança e música. Em geral, performances têm forte poder de questionamento, a começar pelo fato de que rompem com a ideia que as pessoas normalmente têm de arte. Em vez de ver pinturas em um museu ou assistir a uma peça no teatro, o público vê o artista em lugares incomuns (no meio da rua, por exemplo) usando seu corpo, suas roupas, seu rosto e, às vezes, sua voz para produzir sentidos.

Orientações e sugestões didáticas

CAPÍTULO 3

Competência geral da Educação Básica: 2.

Competências específicas de Linguagens: 1 e 5.

Competências específicas de Língua Portuguesa: 1, 4 e 7.

HABILIDADES Bê êne cê cê

(ê éfe seis sete éle pê zero três), (ê éfe seis sete éle pê zero oito), (ê éfe seis sete éle pê um quatro), (ê éfe seis sete éle pê dois um), (ê éfe seis sete éle pê dois quatro), (), (ê éfe seis nove éle pê zero quatro), (ê éfe seis nove éle pê zero cinco), (ê éfe seis nove éle pê um sete), (ê éfe seis nove éle pê três cinco), (ê éfe seis nove éle pê três seis), (ê éfe seis nove éle pê três nove), (ê éfe seis nove éle pê quatro sete), (ê éfe seis nove éle pê cinco cinco), (ê éfe seis nove éle pê cinco seis), (ê éfe seis nove éle pê zero três), (ê éfe seis nove éle pê zero cinco)

Abertura

No início dos tópicos de língua e linguagem, serão sempre propostas discussões orais. Sugerimos que solicite aos ou às estudantes a reserva de um caderno ou de uma parte dele para o registro dos resultados dessas discussões. O objetivo das questões de abertura de cada um dos tópicos é introduzir os objetos de estudo selecionados e promover uma primeira conversa sobre o que os ou as estudantes já conseguem pensar a respeito, compartilhando seus saberes e suas hipóteses, de modo a criar um ambiente de colaboração para a construção de sentidos e conhecimentos.

Os conceitos presentes nesses capítulos podem ter sido introduzidos nos capítulos destinados à leitura e à produção de textos e reintroduzidos aqui por esquemas que os retomam.

Muitos outros conceitos aqui discutidos podem estar sendo vistos pelos ou pelas estudantes pela primeira vez, e alguns deles serão retomados ao longo de toda a coleção, não só nos capítulos de estudos linguísticos e gramaticais, mas em todos os demais capítulos, sempre que for pertinente para a compreensão dos textos ou dos fenômenos linguísticos estudados.

Portanto, não se espera que tudo o que está proposto para o ensino neste volume seja efetivamente aprendido pelos ou pelas estudantes, mas que comecem a construir e ou ou compreender os conceitos à medida que forem fazendo uso deles.

Consulte as Leituras Complementares ao professor neste Manual. Elas poderão fornecer subsídios teóricos, metodológicos ou temáticos para o trabalho com esta Unidade.

Converse com a turma

1. Descreva a cena retratada na fotografia. Os artistas estão representando que tipo de profissional? O que há de incomum na fórma como esses profissionais estão caracterizados?

Versão adaptada acessível

Atividade 1.

Os artistas estão representando que tipo de profissional? O que há de incomum na forma como esses profissionais estão caracterizados?

2. Quais impressões a caracterização dos artistas provoca em você? Copie no caderno todas as opções cabíveis. Você pode também escolher outras palavras que expressem sua impressão, se necessário.

alegria sujeira cegueira vivacidade

simpatia indiferença espontaneidade rigidez

  1. Pense nestes elementos da caracterização dos artistas: as roupas, as cores, a expressão facial deles, a postura corporal. Explique como esses elementos ajudaram na construção das impressões que você identificou na questão 2.
  2. Considere o que você discutiu nas questões anteriores e reflita sobre as questões a seguir com os ou as colegas.
  1. A imagem que a performance quer expressar sobre a condição desses profissionais é positiva ou negativa?
  2. Em sua opinião, esses profissionais representados estariam cegos por que e para o quê?

Vale a pena assistir!

Quando o grupo Desvio Coletivo executou a performance Cegos em Feira de Santana, na Bahia, a tê vê Olhos D’Água, da Universidade Estadual de Feira de Santana, preparou uma reportagem sobre o evento. Como será que os moradores reagem ao ver os artistas cobertos de lama? Como será que interpretam a performance? Esses são alguns dos fatos interessantes mostrados na reportagem.

Procure pelo vídeo na internet combinando as expressões “tê vê Olhos D’Água” e “Desvio Coletivo”.

Captura de vídeo. Grupo doze pessoas visíveis na imagem, homens e mulheres caminhando para frente, levando algo na mão. Todos estão com um tecido branco tampando os olhos, homens vestidos de terno em marrom-claro e mulheres com a mesma cor de roupa, algumas com saia. Em segundo plano, vista parcial de prédios de cidade. Na parte inferior, fio vermelho e branco e ícones de canal de vídeos.
Cena da performance Cegos, realizada na cidade de Feira de Santana (Bahia), em 2015.
Orientações e sugestões didáticas

Tópico 1

O objetivo desse tópico é refletir sobre a linguagem como fórma de interação entre sujeitos que constroem sentidos sobre as coisas e as pessoas que os cercam. Propomos que, por meio da análise da cena de uma performance, os ou as estudantes reconheçam nela o trabalho realizado com a linguagem para a construção de sentidos. Por meio das questões propostas – e de outras que você venha a sugerir –, a turma poderá falar sobre as impressões e reflexões que a performance lhe provocou, e como as diversas linguagens utilizadas contribuíram para isso.

Sugerimos que a abordagem sobre a performance seja realizada em uma conversa coletiva. Para os demais textos, sugerimos que planeje momentos de trabalhos individuais, em duplas ou grupos. Você poderá, ainda, planejar o que será realizado como lição para casa.

  1. A fotografia retrata um grupo de pessoas atravessando a rua em um ambiente urbano. Os artistas parecem representar homens e mulheres de negócios, executivos ou empresários, pois portam trajes formais e pastas de trabalho. O que há de incomum em sua caracterização é que eles estão cobertos de lama. Além disso, usam uma venda branca nos olhos que parece tirar sua visão.
  2. Espera-se que os ou as estudantes escolham sujeira, cegueira, indiferença, rigidez.
  3. As roupas formais, o tom monocromático dessas roupas (provocado pela cobertura de argila), a expressão facial que não exprime qualquer sentimento ou emoção, a postura corporal rígida, que produz como efeito a impressão de estarmos diante de seres robotizados – tudo isso contribui para as impressões listadas na questão 2. Atente para outras impressões que podem ser expressas e sugira que as justifiquem.

4a. Apoie os ou as estudantes na compreensão de que as palavras selecionadas na questão 2 e o que os ou as levou a selecioná-las têm sentido negativo, associam o modo de ser e de estar das pessoas a coisas negativas.

4b. Na mediação dessa questão, considere que a cena escolhida para a abertura representa a versão original da performance Cegos, cuja proposta é, segundo o próprio grupo, “criticar a condição massacrante característica do trabalho corporativo iconizado nos trajes sociais que homens e mulheres das grandes metrópoles utilizam como armadura cotidiana” (disponível em: https://oeds.link/mSxmyj; acesso em: 14 fevereiro 2022). Portanto, nessa performance em particular, o grupo parece atribuir os motivos da cegueira ao ritmo escravizante do trabalho ou do mundo dos negócios. Em suas diversas apresentações pelo Brasil e pelo mundo, o grupo tem trazido variações dessa performance, na qual a crítica se desloca para outros eixos, como a destruição ambiental e o consumismo.

Como você observou, ao executar a performance Cegos, os artistas interagem com o público, provocando impressões nele e fazendo-o refletir. Para tanto, usam diferentes linguagens, como o vestuário, as cores, as expressões faciais e a linguagem corporal.

As linguagens são sistemas de signos usados para a comunicação e para a ação. Cada linguagem usa diferentes sistemas de signos. O vestuário, por exemplo, tem como sistema de signos as roupas e os acessórios. Ao ver os artistas portando traje social e pastas de trabalho, você certamente atribuiu significados a esses itens.

Para comentar suas impressões e ideias sobre a performance com seus ou suas colegas, você utilizou a linguagem verbal (verbālis, do latim, que significa “palavras”), que tem como sistema de signos as palavras. Para nos comunicarmos com palavras, usamos uma língua. Podemos usar, por exemplo, o português, o inglês, o espanhol, o francês, o italiano, o alemão etcétera.

As demais linguagens são chamadas de linguagens não verbais. É o caso da linguagem do vestuário, da linguagem corporal, da dança, da pintura, da música, entre outras.

2. Agora que você já sabe o que é linguagem, leia a tira a seguir, do cartunista Rafael Corrêa. Em seguida, responda às questões.

Rafael Corrêa

Tirinha. Composta por seis quadros. Apresenta como personagens uma mulher e um homem. As cenas se passam em fundo de cor verde, ambos em contornos pretos e preenchidos em branco: mulher de cabelos curtos e vestido de mangas compridas e homem careca, de nariz grande e de terno. Sobre eles, balões de fala vazios. 
Quadro um: à esquerda, a mulher com o corpo para a direita, de boca aberta e sobre ela, um balão pequeno de fala. À direita, o homem de frente para ela, a observa. 
Quadro dois:  A mulher ainda com a boca aberta, à frente dela, o homem apontando o dedo indicador da mão direita para frente, também de boca aberta. Sobre os dois, balões de fala. 
Quadro três:  A mulher levanta um pouco a cabeça, de boca aberta e o homem à frente dela, com a boca aberta. Sobre os dois, dois balões de fala, colados um com outro. 
Quadro quatro:  A mulher com a cabeça um pouco para cima, de boca fechada e o homem de boca aberta e olhos fechados. Sobre ele, um balão de fala grande com a maior parte do balão de fala que estava sobre a mulher. 
Quadrinho cinco:  A mulher com a cabeça mais baixa, olhando para frente com a boca fechada, para baixo. De frente para ela, homem de boca aberta e olhos fechados, com a mão direita sobre a barriga dele. Sobre ele, balão de fala tamanho médio, cobrindo quase todo o balão que estava sobre a mulher. 
Quadro seis: A mulher continua observando o homem e à direita, o homem de olhos fechados, boca aberta, com o dedo indicador da mão direita para cima. Sobre a cabeça dele, um único balão de fala grande.

Catálogo do 42º Salão Internacional de Humor de Piracicaba. São Paulo: Centro Nacional de Humor Gráfico de Piracicaba, 2015. página 82.

  1. Qual história é contada na tira?
  2. Explique como o artista usou a linguagem característica das histórias em quadrinhos (balões, quadros) para mostrar o andamento da conversa entre as personagens.
  3. Descreva o que muda na expressão facial e na linguagem corporal das personagens ao longo dos quadrinhos. O que essas mudanças nos mostram sobre o estado de espírito delas?
  4. A tira retrata um diálogo, situação em que as pessoas utilizam principalmente a linguagem verbal. Se as personagens estão usando a língua portuguesa, como poderia começar a fala da personagem masculina no último quadrinho? Escolha a opção que mais combina com os sentidos que você construiu da tira, apoiando-se na linguagem não verbal.
    1. Você tem toda razão! Seus argumentos são coerentes e eu concordo que…
    2. Eu, que entendo muito mais desse assunto do que você, devo lhe dizer que…

e. Em sua opinião, que sentidos o autor pretende produzir com essa tirinha? O que ele está criticando ou denunciando?

O que levo de aprendizagens deste tópico

Agora é hora de voltar às questões do início do capítulo e verificar se, com toda esta conversa, você consegue respondê-las de fórma mais completa.

  1. Afinal, o que é linguagem?
  2. Língua e linguagem são a mesma coisa?

Apresente uma síntese do que vimos até aqui e não se esqueça de considerar as informações dos boxes, certo?

Língua

O que você poderá aprender

Língua é um sistema de signos formado por palavras que se combinam em frases, as quais formam enunciados de acôrdo com determinadas regras. Com ela, apreendemos o mundo e, por meio dela, podemos interagir com as pessoas.

A ideia de que, com o uso da língua, podemos interagir com as pessoas já foi discutida anteriormente. Vamos ver agora como, por meio da língua, apreendemos o mundo.

  1. O que significa dizer que com a língua apreendemos, captamos o mundo?
  2. Será que significa que as palavras carregam as características das coisas que elas nomeiam?
Orientações e sugestões didáticas

2a. Primeiro uma mulher está falando algo para um homem. Em seguida, ele também fala. Depois, parece que as falas deles se misturam, até que, no quarto quadrinho, ele passa a falar por ela e, no final, apenas o homem está falando.

2b. Ele usou os rabichos dos balões de fala para indicar o momento em que cada personagem está falando e o momento em que a personagem masculina vai dominando a interação e “devora” a voz da personagem feminina. Também colocou uma cena em cada quadrinho para o leitor compreender a sequência da história.

2c. No começo, a expressão facial das personagens parece mais neutra. No quarto quadrinho, a mulher parece espantada, olhando para cima. No quinto e no sexto quadrinhos, ela parece descontente, com os lábios voltados para baixo. Chame a atenção para o quarto quadrinho, no qual o balão da mulher está incorporado ao do homem e os dois rabichos estão direcionados para o homem, e a mulher aparece sem o traço que representa a boca, sinalizando a perda do seu direito à fala. Enquanto isso, a personagem masculina parece muito satisfeita e segura de si, com os olhos semicerrados e um sorriso nos lábios. No último quadrinho, ele está com o dedo em riste, como se estivesse dando uma “lição” à mulher.

2d. Resposta: dois

2e. Resposta pessoal. Sugestão: a tira critica o comportamento de algumas pessoas, que, em vez de respeitar a opinião do outro em um diálogo, desrespeita o direito do outro à fala. O fato de a personagem que tem a sua voz “caçada” ser uma mulher também pode indicar uma crítica a comportamentos machistas.

O que levo de aprendizagens deste tópico

Oriente os ou as estudantes a retomarem as questões iniciais: Afinal, o que é linguagem? Língua e linguagem são a mesma coisa? O que é língua e qual a importância dela? Neste momento, espera-se que os ou as estudantes consigam perceber que, quando nos referimos à linguagem, estamos falando das diversas fórmas que temos de nos comunicar e de agir no mundo; que essas fórmas se constituem como diferentes sistemas de signos que usam diferentes recursos para criar, elaborar aquilo que queremos dizer, comunicar ou realizar. Também se espera que percebam que a língua é uma das linguagens que temos e que se constitui de um sistema de signos que usa palavras na produção das falas. Confira se ficou clara para a turma a diferença entre linguagem verbal e não verbal. Para as primeiras sínteses, entendemos ser fundamental a sua mediação. Propomos que sejam realizadas no coletivo, de modo a garantir que todos possam retomar as discussões realizadas até o momento.

Sugestão de organização de sínteses: A fórma mais fácil, nesta etapa, é propor que realizem, em conjunto, a produção da síntese em fórma de itens, de modo que enumerem tudo o que considerarem importante destacar sobre o que discutiram e aprenderam a respeito de linguagem e língua. Essa fórma de relacionar as informações pode evoluir para outras, como o esquema e o mapa conceitual. Caso considere pertinente, você já pode propor um primeiro exercício de aproveitamento dos itens listados em um esquema simplificado. Veja os esquemas no final do livro.

1. Leia um trecho do livro Marcelo, marmelo, martelo, em que o menino faz perguntas sobre tudo:

Marcelo, marmelo, martelo

Ilustração. Menino com sardas nas bochechas, cabelos loiros, olhos verdes. Ele usa blusa de mangas compridas de cor laranja, vermelho e amarelo, calça azul e par de tênis em laranja. Pendurado no pescoço um fone cinza. Na parte superior, cinco balões de fala com imagens de objeto em cada um: da esquerda para direita: um travesseiro branco, bola de futebol em branco e verde, um martelo marrom, bolo em marrom-claro e frutas vermelhas e uma cadeira marrom.

reticências

Uma vez, Marcelo cismou com o nome das coisas:

— Mamãe, por que é que eu me chamo Marcelo?

— Ora, Marcelo foi o nome que eu e seu pai escolhemos.

— E por que é que não escolheram martelo?

— Ah, meu filho, martelo não é nome de gente! É nome de ferramenta...

— Por que é que não escolheram marmelo?

— Porque marmelo é nome de fruta, menino!

— E a fruta não podia chamar Marcelo, e eu chamar marmelo?

No dia seguinte, lá vinha ele outra vez:

— Papai, por que é que mesa chama mesa?

— Ah, Marcelo, vem do latim.

— Puxa, papai, do latim? E latim é língua de cachorro?

— Não, Marcelo, latim é uma língua muito antiga.

— E por que é que esse tal de latim não botou na mesa nome de cadeira, na cadeira nome de parede, e na parede nome de bacalhau?

— Ai, meu Deus, este menino me deixa louco!

Daí a alguns dias, Marcelo estava jogando futebol com o pai:

— Sabe, papai, eu acho que o tal de latim botou nome errado nas coisas. Por exemplo: por que é que bola chama bola?

— Não sei, Marcelo, acho que bola lembra uma coisa redonda, não lembra?

— Lembra, sim, mas... e bolo?

— Bolo também é redondo, não é?

— Ah, essa não! Mamãe vive fazendo bolo quadrado...

O pai de Marcelo ficou atrapalhado. E Marcelo continuou pensando:

“Pois é, está tudo errado! Bola é bola, porque é redonda. Mas bolo nem sempre é redondo. E por que será que a bola não é a mulher do bolo? E bule? E belo? E bala? Eu acho que as coisas deviam ter nome mais apropriado. Cadeira, por exemplo. Devia chamar sentador, não cadeira, que não quer dizer nada. E travesseiro? Devia chamar cabeceiro, lógico! Também, agora, eu só vou falar assim”.

reticências

ROCHA, Ruth. Marcelo, marmelo, martelo. In: Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias. segunda edição São Paulo: Salamandra, 2011. páginas nove a treze.

Ícone. Clipe.

Clipe

O latim era a língua falada pelos romanos há aproximadamente dois mil anos. Nessa época, os romanos conseguiram dominar diversos povos — até mesmo os que habitavam a região hoje correspondente a Portugal. Alguns desses povos aprenderam o latim com os dominadores, mas falavam essa língua do seu jeito, misturando-a com suas próprias línguas. Nasceram, assim, vários idiomas novos que eram baseados no latim, sendo a língua portuguesa um deles.

  1. No trecho lido, quando Marcelo questiona a mãe e o pai, o que o menino quer entender sobre as palavras e as coisas do mundo?
  2. No diálogo entre pai e filho, que explicação o pai tenta dar para a bola ter esse nome?
  3. Como Marcelo põe em dúvida a explicação do pai?
  1. Observe estas palavras terminadas com -dor: apagador, apontador, moedor.
    1. O que elas têm em comum quanto ao significado?
    2. Considere sua resposta ao item anterior e explique qual critério Marcelo seguiu para propor a troca da palavra cadeira por sentador.
  2. Ao propor a troca da palavra travesseiro por cabeceiro, Marcelo também levou em consideração a função do objeto. Explique essa afirmação.
  3. Em sua opinião, os novos nomes das coisas propostos por Marcelo são realmente “mais apropriados”? Por quê?
  4. No fim do fragmento, o menino declara que, dali em diante, ele só vai “falar assim”. O que você acha que acontecerá se ele realmente cumprir sua promessa?

Marcelo está insatisfeito com um aspecto muito interessante da língua: o fato de que as palavras não têm as características das coisas que nomeiam. Não existe razão para a mesa se chamar “mesa”, ou para a parede se chamar “parede”.

Observe que a relação que o pai de Marcelo tenta estabelecer — dizendo que a palavra bola lembra uma coisa redonda — também não acontece, como comprovado pelo filho com a palavra bolo para nomear doces que são tanto redondos quanto quadrados.

Orientações e sugestões didáticas

Língua

1a. Espera-se que os ou as estudantes percebam que Marcelo questiona o fato de as palavras da língua não terem as características dos objetos que nomeiam. Ou seja: está insatisfeito com o fato de as palavras serem criadas arbitrariamente, por mecanismos de convenção social, e não de acôrdo com as coisas que nomeiam. Observe que, quando o garoto propõe “sentador” para “cadeira”, ele está tentando nomear o objeto associando a ele a sua função – usado para sentar. Esse tipo de procedimento é legítimo em muitas palavras que fazem parte da nossa língua, como abridor (que serve para abrir), escorregador (que serve para escorregar). Também é muito usado por crianças em fase de aprendizagem da linguagem, quando tentam nomear algo ou se referir a alguma ação que ainda não lhes é conhecida: dizer “Vou descargar” para dar descarga, por exemplo.

1b. Espera-se que os ou as estudantes percebam que o pai de Marcelo tenta justificar a origem da palavra bola fazendo um vínculo entre o significado (algo redondo) e a sonoridade da palavra. A explicação do pai contradiz o que estudamos neste capítulo sobre a não correspondência entre as palavras e as características das coisas que nomeiam. Pode ser interessante discutir com os ou as estudantes por que as personagens acham que bola lembra uma “coisa redonda“. Provavelmente, uma das possibilidades de relacionar a bola a algo redondo esteja no próprio movimento que fazemos com a boca ao pronunciar a palavra bola.

1c. Espera-se que os ou as estudantes respondam que Marcelo afirma que nem todo bolo é redondo, assim como os bolos quadrados de sua mãe.

2a. Espera-se que os ou as estudantes percebam que as três palavras indicam objetos que “servem” para apagar, apontar e moer.

2b. Espera-se que os ou as estudantes respondam que Marcelo achou que, como a cadeira “serve para sentar”, ela deveria seguir a mesma lógica das palavras que acabamos de mencionar e se chamar “sentador”.

  1. Espera-se que os ou as estudantes percebam que, nesse caso, o menino levou em conta o fato de o travesseiro servir para apoiar a cabeça das pessoas, daí a troca da ideia básica contida no radical – cabeça em vez de travessa (embora a terminação -eiro tenha sido mantida).
  2. Resposta pessoal. É possível argumentar que as palavras propostas por Marcelo podem parecer mais apropriadas, por que levam a uma associação mais imediata entre a palavra e o que ela significa. Entretanto, em última instância, as palavras propostas por ele continuam remetendo a outras palavras (sentar e cabeça, por exemplo) que, da mesma não têm relação alguma com as características das coisas que nomeiam.
  3. Espera-se que os ou as estudantes percebam que isso poderia prejudicar a comunicação do menino com as outras pessoas, pois os nomes que ele atribui às coisas não são os que foram definidos pelas negociações entre os falantes da língua portuguesa.

Ou seja, as palavras não são os objetos, elas apenas carregam a ideia deles. Por meio das palavras captamos o que conhecemos desses objetos e podemos falar deles: dos que estão à nossa vista e dos que não estamos vendo. Olhamos para um cavalo, aprendemos que essa palavra o nomeia e, portanto, passa a “carregar” a ideia desse animal. Podemos, por exemplo, ouvir falar de um cavalo galopando no campo, e sabemos do que se trata, mesmo sem estarmos vendo o cavalo ou o campo. Podemos contar um fato que aconteceu conosco ou com outra pessoa e falar sobre o que pensamos e sentimos a respeito, depois de termos vivido, presenciado ou conhecido o fato, porque vamos aprendendo as ideias que as palavras carregam.

6. Afirmamos anteriormente que as palavras não têm as características das coisas que nomeiam. Mas veja só o que acontece quando um poeta cisma em mudar isso!

Reprodução de poema concreto. Texto com letras em preto em sete colunas e oito linhas inclinadas. Na primeira coluna, uma linha com oito letras P uma abaixo da outra. 
Na segunda coluna seis letras E com acento circunflexo, partindo da terceira linha, as letras aparecem inclinadas. 
Na terceira coluna cinco letras N, partindo da quarta linha, as letras aparecem inclinadas. 
Na quarta coluna quatro letras D, partindo da quinta linha, as letras aparecem inclinadas. 
Na quinta coluna três letras U, partindo da sexta linha, as letras aparecem inclinadas.
Na sexta coluna duas letras L, partindo da sétima linha, as letras aparecem inclinadas.
Na última coluna uma letra O, na última, as letras aparecem inclinadas.
A última linha forma a palavra PÊNDULO
Da parte superior para baixo: P, P, PÊ, PÊN, PÊND, PÊNDU, PÊNDUL e PÊNDULO.

CASTRO, E. M. de Melo e. Pêndulo. 1962. Poema enviado e autorizado pela Sociedade Portuguesa de Autores, Lisboa.

  1. Você sabe o que é um pêndulo?
  2. Observe como a palavra está disposta na página. O que esse poema visual quer mostrar em relação a essa palavra?

7. Leia as frases a seguir e observe as palavras em destaque:

Versão adaptada acessível

Atividade 7.

Nas frases a seguir, as palavras “bem-te-vi” e “tique-taque” estão destacadas.

Adoro ouvir o som do bem-te-vi pela manhã.

O tique-taque do relógio da sala atrapalha meu sono.

  1. Você saberia explicar por que o pássaro recebe o nome de bem-te-vi e o barulho do relógio recebe o nome de tique-taque? Pode-se dizer que essas palavras têm relação com as coisas que nomeiam?
  2. Por que você acha que são criadas palavras desse tipo?
Orientações e sugestões didáticas

6a. Caso considere necessário, sugira uma busca ao dicionário para confirmar o significado de pêndulo: “substantivo masculino 3 corpo pesado, pendurado num ponto fixo, e que oscila em movimento de vaivém”. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa 3.0. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. Também pode ser interessante utilizar um buscador de imagens da internet.

6b. Resposta pessoal. Espera-se que os ou as estudantes percebam que o poema quer mostrar o movimento que um pêndulo faz.

7a. Espera-se que os ou as estudantes respondam que sim. No caso do bem-te-vi, o nome que lhe foi dado parece o seu gorjear, tenta imitar o seu “cantar“. No caso da palavra tique-taque, ela é semelhante ao som que o relógio faz. vale esclarecer aos ou às estudantes que o pássaro tem um nome científico – Pitangus sulfurátus. A onomatopeia bem-te-vi é o nome popular atribuído a ele.

7b. Espera-se que os ou as estudantes considerem que palavras desse tipo são criadas para “imitar os sons que existem no mundo” caso considere pertinente, complemente explicando que essas palavras foram formadas pela reprodução aproximada de um som, usando os recursos de que a língua dispõe. Esse processo de formação de palavras é conhecido como onomatopeia.

Como você viu, há diversas maneiras de formar palavras e sempre podem ser criadas novas palavras.

As palavras são tão poderosas que podemos usá-las para construir outros mundos que nem existem na realidade. Por meio delas, podemos criar mundos inteiros com coisas que não existem e, muitas vezes, até inventar novas palavras para nomear o que imaginamos. É assim que surgem, por exemplo, palavras como quadribol, um jogo criado pela autora da série Réui póter. Pense nos filmes de super-heróis, como Homem de Ferro, Mulher-Maravilha, entre outros. Mundos inteiros são criados pela linguagem verbal (quando o roteirista escreve a história) e também por linguagens não verbais (quando o roteiro se torna filme).

Cena de filme. Uma mulher à frente, branca, cabelos longos, escuros e ondulados, com uma tiara na testa em dourado e preto, blusa sem mangas, tomara que caia e saia azul segurando uma espada. Ela olha para frente com o cenho franzido, bracelete no braço direito, espada para frente em tons de laranja. Sobre as costas dela, um escudo redondo de cor cinza. Mais ao fundo, local com solo cinza, água parada em marrom. Em segundo plano, grama verde e vista parcial de prédios de cidade em cinza e luzes amarelas.
Cena do filme Mulher-Maravilha. Direção de . Estados Unidos da América, 2017.

Sintetizando, podemos dizer que a língua nos possibilita apreender a realidade, falar das coisas que existem, permitindo­-nos dizer como as vemos ou sentimos. E possibilita­-nos, ainda, criar outras “realidades” feitas de elementos que não existem.

O que levo de aprendizagens deste tópico

Agora que você já discutiu os textos com a turma, retome as perguntas feitas anteriormente:

  1. Afinal, o que é língua e qual a importância dela?
  2. Qual é a importância dela como linguagem?
  3. As palavras se parecem com as coisas e com os objetos que elas nomeiam?
Orientações e sugestões didáticas

Atividade complementar

Como complemento a essa sequência em que discutimos língua, sugerimos uma atividade de pesquisa. os ou as estudantes farão essa atividade com o objetivo de conhecer algumas curiosidades sobre as línguas em geral e sobre a língua portuguesa em particular. Como resultado dessa pesquisa, serão produzidos pequenos textos do tipo “Você sabia?” – que comporão um painel cujo título será “Curiosidades da língua”.

A pesquisa proposta é bastante específica, direcionada. Não é objetivo, neste momento, focar aspectos procedimentais do trabalho de pesquisa, tampouco uma abordagem processual do gênero solicitado para a produção – que serão tratados ao longo da coleção. O principal objetivo aqui é possibilitar que os ou as estudantes possam conhecer, por meio de uma rápida busca, “curiosidades” sobre a língua.

Propomos que você organize a sala em grupos pequenos e que, definidas as equipes de trabalho, divida entre os grupos as questões a seguir propostas e as que você possa preparar no coletivo.

  1. Vocês sabem quantas línguas há no mundo além do português?
  2. Quantos países falam a língua portuguesa no mundo?
  3. Sabem se o português falado nesses países é igual ao que falamos?
  4. Todas as línguas que existem são faladas e escritas?
  5. Sabem se há uma língua mais simples que a outra?
  6. E há língua melhor e pior?
  7. De onde veio a nossa língua?
  8. No Brasil, há outras línguas além do português?
  9. O português falado no Brasil é igual em todas as regiões?

Apesar de o ensino de procedimentos de pesquisa não ser o foco, é importante orientar os ou as estudantes a pesquisarem o assunto relacionado às perguntas.

Na elaboração do texto, chame a atenção dôs ou dás estudantes para:

  • a escrita concisa do texto;
  • a legibilidade do cartaz com o texto de curiosidade: com letra legível e em tamanho adequado a uma leitura a certa distância; além disso, deve estar bem apresentável e conter uma imagem relacionada ao tema;
  • a apresentação da referência à fonte de pesquisa.

Os alunos deverão montar o painel “Curiosidades da língua”, que poderá ficar exposto na sala ou em lugar de destaque na escola.

Tópico 2 — Enunciado, discurso, intencionalidade e sentido

O que você poderá aprender

Você já percebeu que nem sempre o que a gente diz é entendido pelas pessoas do modo como desejamos?

Nunca aconteceu de você se envolver em mal-entendidos e até em brigas porque interpretou de um jeito “errado” o que o outro disse? Ou o contrário?

Por que será que os mal-entendidos acontecem?

Uma organização sem fins lucrativos elaborou uma campanha de conscientização com base em memes. Leia uma das peças da campanha e responda às questões.

Peça de campanha publicitária. Na horizontal, à esquerda, um homem sentado sobre cadeira em marrom, um pouco calvo, de blusa de mangas compridas em azul, mão de frente para o rosto e corpo inclinado para frente. À esquerda, uma mesa vista parcialmente. Texto na parte superior e inferior: ENTÃO VOCÊ ACHA QUE ANSIEDADE, DEPRESSÃO, PÂNICO E DOENÇAS EMOCIONAIS SÃO MIMIMI? CONTE-MAIS COMO E VER SEUS ALUNOS DEIXANDO OS ESTUDOS POR CONTA DESSES MESMOS PROBLEMAS... à direita, texto em fundo laranja: #MEMEÉCOISASÉRIA – GESTA.

Doenças emocionaisglossário

Disponível em: https://oeds.link/hwV0AJ. Acesso em: 14 fevereiro 2022.

  1. O que significa a gíria mimimi?
  2. Qual é o público-alvo dessa peça? Qual trecho foi importante para você deduzir isso?
  3. Apenas as pessoas que fazem parte desse público-alvo costumam achar que “ansiedade, depressão, pânico e doenças emocionais são mimimi”, ou você já ouviu outras pessoas dizendo a mesma coisa? Explique sua resposta.
  4. Copie no caderno a opção que completa adequadamente a frase. Quando os criadores dessa campanha dizem ao seu público-alvo: “Conte-me mais como é ver seus alunos deixando os estudos por conta desses mesmos problemas”, eles pretendem:
    • incentivar esses leitores a participar da campanha, contando casos em que alunos seus deixaram a escola por conta de ansiedade, depressão e outros problemas;
    • questionar esses leitores, fazendo-os refletir sobre as consequências reais que essas doenças têm na vida de crianças e adolescentes.
Orientações e sugestões didáticas

Tópico 2

1. HABILIDADES FAVORECIDAS (ê éfe seis nove éle pê zero dois, ê éfe seis nove éle pê zero quatro, ê éfe seis nove éle pê zero cinco, ê éfe seis sete éle pê zero oito) Com esta atividade, esperamos que os ou as estudantes percebam que, sempre que usamos a língua e outras linguagens, produzimos enunciados que se destinam a alguém, em determinado momento e lugar, e têm objetivos muito específicos. Em sua interação, os interlocutores produzem discursos e atribuem sentidos ao que leem ou ouvem.

Além disso, a atividade possibilita que os ou as estudantes percebam que construímos nossos discursos em diálogo com outros discursos. Na peça da campanha de conscientização analisada, foi construído um discurso que prega a importância de os professores levarem a sério as doenças psiquiátricas e emocionais que podem acometer os ou as estudantes, pois esses males podem ter consequências graves, como a evasão escolar. Para isso, a peça retoma e contesta o discurso segundo o qual tais doenças seriam “mimimi”, ou seja, apenas queixas sem fundamento. Ao conduzir a discussão coletiva inicial, certifique-se de que a turma reconhece, no texto, a presença desses discursos contrastantes.

  1. Significa queixa sem fundamento. É bastante usada para menosprezar e desqualificar o discurso de alguém, quando essa pessoa diz estar sofrendo ou incomodada com algo.
  2. O público-alvo são os professores, e o trecho que nos leva a concluir isso é seus alunos.
  3. Provavelmente, os ou as estudantes responderão que já ouviram outras pessoas dizendo a mesma coisa, pois esse é um discurso que circula bastante na sociedade.
  4. Questionar esses leitores, fazendo-os refletirem sobre as consequências reais que essas doenças têm na vida de crianças e adolescentes.
  1. Você diria, portanto, que os criadores da campanha concordam com a afirmação de que “ansiedade, depressão, pânico e doenças emocionais são mimimi”? Explique sua resposta.
  2. Considerando as análises que fez, explique qual é a finalidade dessa peça.
  3. A imagem que compõe o meme é a pintura Homem velho com a cabeça em suas mãos, produzida em 1890 pelo pintor holandês víncent van gógui. Em sua opinião, a escolha dessa imagem contribui para que a peça cumpra sua finalidade? Justifique sua resposta.
  4. O slogan dessa campanha é Meme é coisa séria, que aparece como uma hashtag . Explique por que esse slogan foi incluído nessa e em outras peças, considerando que elas circulam nas redes sociais da mesma fórma que os memes comuns.
Ícone. Clipe.

Clipe

Hashtag

Hashtag é o termo em inglês usado para se referir a palavras-chave, que podem ser compostas de uma ou mais palavras. Quando composta com mais de uma palavra, elas aparecem sem segmentação, como se fossem uma única palavra. Antes delas, sempre aparece o símbolo # (cerquilha), como em . As hashtags são usadas nas redes sociais e em outros meios digitais, e o leitor pode clicar sobre elas ou procurá-las no navegador de busca para ter acesso a todas as informações, imagens, vídeos, entre outros materiais, relacionados a elas.

9. Agora leia uma pequena crônica de Luis Fernando Verissimo para responder às questões:

Pai não entende nada

— Um biquíni novo?

— É, pai.

— Você comprou um no ano passado!

— Não serve mais, pai. Eu cresci.

— Como não serve? No ano passado você tinha 14 anos, este ano tem 15. Não cresceu tanto assim.

— Não serve, pai.

— Está bem, está bem. Toma o dinheiro. Compre um biquíni maior.

— Maior não, pai. Menor.

Aquele pai, também, não entendia nada.

VERISSIMO, Luis Fernando. Pai não entende nada. Porto Alegre: Ele e Pê ême, 1991. página 26. cópiráiti bái Luis Fernando Verissimo.

Ilustração. Uma garota de cabelos marrons presos nas laterais para baixo. Ela usa brincos de formato de estrela, com blusa de mangas curtas em rosa, gola em azul, saia em verde e par de botas em preto. Ela olha para frente, com os olhos  arregalados e boca aberta, de mão esquerda na cintura e na mão direita, um biquíni de cor rosa. Sobre a cabeça, um balão de fala rosa, com um biquíni branco por dentro.
Orientações e sugestões didáticas
  1. Espera-se que os ou as estudantes concluam que os criadores da campanha não concordam com essa afirmação. Eles a apresentam na peça com o objetivo de questioná-la, não de endossá-la.
  2. Fazer com que os professores (e, de maneira secundária, todos os membros da comunidade escolar) repensem a ideia, infelizmente bastante comum, de que ansiedade, depressão e outros problemas seriam queixas sem importância, “desculpas” dadas pelos ou pelas estudantes para não se dedicar aos estudos. Em vez disso, a peça propõe que esse público-alvo pense nas consequências que tais doenças têm na vida de crianças e adolescentes, muitas vezes levando-os à evasão escolar.
  3. Resposta pessoal. Sugestão: Sim. Ao retratar com tanta expressividade uma pessoa que, pela linguagem corporal, comunica sofrimento psíquico, a imagem ajuda a chamar a atenção do público-alvo e sensibilizá-lo para a questão abordada.
  4. O slogan foi incluído para esclarecer ao leitor que aquele não é um meme comum, que busca apenas divertir. É uma produção que se utiliza da linguagem e do padrão composicional dos memes para comunicar uma mensagem séria, a fim de provocar reflexão e mudança de atitude.

9a. Espera-se que os ou as estudantes percebam que a garota pretende comprar um biquíni novo e menor do que o anterior.

9b.I. Espera-se que os ou as estudantes respondam que o pai entendeu que o biquíni não cabia mais, que estava pequeno.

9b.II. Espera-se que os ou as estudantes respondam que a filha quis dizer que o biquíni estava grande demais para ela, agora que tinha se tornado uma adolescente, mais feminina. Por isso queria um menor.

9c. Espera-se que os ou as estudantes percebam que sim, porque pai e filha estavam atribuindo sentidos diferentes à afirmação “não serve mais”, dada pela filha em relação ao biquíni.

  1. A garota pede um biquíni novo ao pai. O que ela pretende exatamente com esse pedido?
  2. Releia a resposta da garota à afirmação, feita pelo pai, de que havia comprado um biquíni no ano anterior.

“— Não serve mais, pai. Eu cresci.”

Ilustração. Homem de frente de cabelo preto curto. Ele usa óculos de grau preto, camisa de manga comprida azul, calça e sapato cinza com cinto preto. A boca levemente aberta inclinada para baixo, olhos abertos, a mão direita elevado com dedo sobre a cabeça, acima da cabeça cinco pontos de interrogação, dois vermelhos e três azuis.
  1. Como o pai entendeu essa fala da filha?
  2. O que a filha quis dizer com essa fala?

c. Houve um mal-entendido entre pai e filha? Por quê?

Os interlocutores sempre têm intenções muito específicas em relação ao discurso que produzem para o outro. Essas intenções são chamadas de intencionalidade discursiva.

Na situação apresentada na crônica que você acabou de ler, a filha constrói um discurso que tem uma intencionalidade discursiva: convencer o pai a dar dinheiro para ela comprar um biquíni menor.

O pai, considerando a informação dada pela filha de que o biquíni não serve mais, entende, em parte, a intencionalidade dela: está claro que sua intenção é convencê­-lo a dar dinheiro para a compra de outro biquíni. No entanto, como ele não entende bem, supõe que ela quer um biquíni maior, e não menor.

Assim como acontece nessa crônica, nem sempre a compreensão que fazemos de um texto ou de uma fala, em uma conversa, coincide com o que nosso interlocutor tem a intenção de dizer.

É importante perceber que, no caso da crônica, esse mal-entendido foi cuidadosamente construído, com a intencionalidade de produzir o humor e provocar o riso.

O que levo de aprendizagens deste tópico

E agora, depois dos exemplos discutidos, você saberia explicar por que os mal­-entendidos acontecem?

Tente elaborar uma resposta completa com seus ou suas colegas.

Tópico 3 — Língua e mudança, língua e variação, o uso da língua e as situações de comunicação

O que você poderá aprender

  1. Você acha que a língua portuguesa que falamos hoje é igual à língua portuguesa falada quando ela surgiu?
  2. Afinal, falamos todos a língua portuguesa do mesmo jeitinho?
Orientações e sugestões didáticas

O que levo de aprendizagens deste tópico

Sugerimos que retome com os ou as estudantes os dois exemplos discutidos, primeiro a peça da campanha de conscientização e depois a crônica. Ao rever a peça da campanha, questione o que aconteceria caso alguns leitores não compreendessem a intencionalidade discursiva dos elaboradores e, desse modo, achassem que eles pretendiam endossar, apoiar a afirmação de que “ansiedade, depressão, pânico e doenças emocionais são mimimi”. Ajude a turma a concluir que, nesse caso, ocorreria um mal-entendido, assim como houve na crônica entre o pai e a filha – embora esta última situação constitua, é claro, um equívoco propositalmente criado para causar humor.

Pode-se concluir, portanto, que ocorrem mal-entendidos quando o interlocutor deixa de captar, total ou parcialmente, a intencionalidade de quem construiu o discurso.

Tópico 3

Neste tópico, sugerimos a observação de diferentes textos para que os ou as estudantes possam notar os dois princípios essenciais de qualquer língua: a mudança no tempo e a variação no espaço.

O primeiro texto tem a finalidade de possibilitar que os ou as estudantes observem as mudanças da língua no tempo (variação histórica ou diacrônica) e os demais possibilitam a observação das variações da língua em um mesmo tempo, mas em “espaços” (variação sincrônica) sociais diferentes: regiões (variação diatópica), grupos sociais (variação diastrática) e situações de comunicação (variação diafásica).

Para seu conhecimento, os textos procuram possibilitar que os ou as estudantes observem os diferentes níveis da língua sujeitos à variação. É possível identificar quatro níveis em que a variação linguística pode ocorrer:

  1. No nível dos sons (fonológica). Exemplo: a palavra porta falada por um típico carioca, paulistano, paulista etcétera
  2. No nível da estrutura de formação das palavras (morfologia). Exemplos: ansio/anseio; se eu repor/se eu repusesse; fiquemos/ficamos.
  3. No nível da estrutura da frase (sintaxe). Exemplos: Os home foru/Os homens foram; A moça que os olhos dela são verdes/A moça cujos olhos são verdes.
  4. No nível do vocabulário (léxico). Exemplos: trem/comboio; mandioca/macaxeira.

Obviamente, não esperamos que os ou as estudantes lidem com os conceitos e as noções aqui sintetizados. Basta que eles ou elas observem as possibilidades de mudança nesses diferentes níveis e espaços sociais.

Neste tópico, todo o percurso proposto promove o trabalho com as seguintes habilidades do eixo de Análise linguística e semiótica da Bê êne cê cê: (ê éfe seis nove éle pê cinco cinco), (ê éfe seis nove éle pê cinco seis).

Língua e mudança

Leia o anúncio a seguir.

Anúncio em preto e branco. Folha branca, de contorno em preto e texto:  
HOTEL PROGRESSO DE JONATHAS ALVES DA SILVA 
Este estabelecimento se recommenda (com dois êmes) pelas suas commodidades (com dois êmes), asseio e modicidade em preços e presteza no serviço. 
Bons quartos, sala para exposição de amostros, etc. Cosinha (com s) caprichosamente attendida (com dois tês). Variado sortimento de bebidas e conservas. 
O estabelecimento dispõe também de bons potreiros e estribarias 
Rua General Osorio Cangussú

Asseioglossário

Modicidadeglossário

Amostrosglossário

Sortimentoglossário

Potreirosglossário

Estribariasglossário

Disponível em: https://oeds.link/1AhEvZ. Acesso em: 16 fevereiro 2022.

  1. O anúncio sobre o Hotel Progresso circulou assim como está, no final do século dezenove, em uma revista. Como é possível saber que ele é antigo?
  2. O que seria diferente no anúncio do Hotel Progresso se ele fosse criado nos dias de hoje?

A língua e o tempo

Todas as línguas naturais faladas hoje têm séculos de existência. Algumas têm milênios. A cada geração há mudanças no modo de falar; muitas palavras “morrem” (param de ser usadas) e muitas outras “nascem” (são criadas), dependendo das nossas necessidades de comunicação. Além disso, uma língua sofre a influência de outras línguas. Por exemplo, muitas línguas tomaram emprestadas várias palavras do inglês quando o assunto é computador e tecnologia digital: palavras como deletar, site, hardware, software, internet, mouse e tantas outras passaram a ser comuns na nossa fala, a ponto de muitas delas já fazerem parte de nossos dicionários.

A língua é algo vivo! É falada por pessoas que, com o tempo, vão introduzindo mudanças no jeito de usá-la. A essas mudanças chamamos de variação histórica, e todas as línguas existentes estão sujeitas a esse tipo de variação.

Além das mudanças que ocorrem ao longo do tempo de uso da língua, há também mudanças motivadas por outros fatores.

Orientações e sugestões didáticas

Língua e mudança

    1. Espera-se que os ou as estudantes identifiquem tanto aspectos da linguagem verbal como da linguagem visual do anúncio que permitem deduzir que ele é antigo: palavras escritas de modo diferente do atual (recommenda, commodidades, amostros, cosinha, attendida); sintaxe pouco usual no português brasileiro de hoje (“Este estabelecimento se recommenda...”); o fato de o anúncio ser apenas em preto e branco; a ausência de imagens; a seleção de atributos positivos do hotel que fariam pouco sentido nos dias de hoje (disponibilidade de bons potreiros e estribarias).
    1. Resposta pessoal. Espera-se que os ou as estudantes mencionem, além das diferenças de grafia das palavras, aspectos relacionados ao suporte (o anúncio seria veiculado na internet, por exemplo), a presença de imagens/vídeos, o uso de imagens do hotel, a seleção de atributos positivos diferentes dos escolhidos (acesso a wi-fi, café da manhã incluso na diária, estacionamento gratuito).

Língua e variação

Variação linguística no mesmo momento histórico

Além das mudanças que a língua sofre de uma geração para outra, das quais falamos anteriormente, ela também varia no mesmo momento histórico. Um dos fatores que provocam essa variação é a região de origem dos falantes.

1. Leia uma das criações do cartunista Douglas Ferreira. Depois, responda às questões.

Douglas Ferreira

Ilustração. Em tons de azul claro e contornos em azul-escuro. Um homem dentro de um carro,  cabeça para frente da janela. Duas cenas. 
Texto: INFORMAÇÃO – www.dezarranjoelheu.com.br 
Cena 1: O homem com cabeça para fora da janela, de olhos fechados e boca um pouco aberta. Ele diz: OLÁ, BOM DIA! COMO FAÇO PRA CHEGAR EM SANTO ANTÔNIO DE LISBOA? 
Cena 2: “O homem ainda no carro, com os olhos bem arregalados para frente. Outra pessoa atrás diz: “Ô MÔ QUIRIDU, TU VÁSH CAMBÁ PRAZISHQUÊRDA, ADEPÔSH CAMBÁ PRÁSH DERÊITA, DAÍ É SÓ SIGUI RETO TODA VIDA TODA VIDA, TODA VIDA!”

Disponível em: https://oeds.link/aHDAZz. Acesso em: 14 fevereiro 2022.

Quem é?

O trabalho de Douglas Ferreira

Nas redes sociais, o Dizáiner catarinense Douglas Ferreira mantém uma página em que publica tirinhas, cartuns e vídeos brincando com o jeito de falar dos “manezinhos da ilha” – apelido que se dá aos naturais de Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina.

  1. Santo Antônio de Lisboa é uma praia de Florianópolis. Sabendo disso, responda: como podemos saber que o diálogo dessa tirinha acontece entre um turista e um morador da região?
  2. O que você observou sobre o modo como as palavras aparecem escritas no texto do segundo balão?
  3. Junte-se a um ou uma colega e, em voz alta, leia para ele ou ela essa fala. Depois invertam os papéis. O que vocês notam de diferente em relação à fórma como vocês usualmente pronunciam as palavras?
  4. Encontre na fala da segunda personagem:
    1. uma palavra que você também usa no dia a dia, mas pronuncia de outra fórma.
    2. uma palavra que você nunca usou ou não costuma usar. O que acha que ela significa?

e. Pela expressão facial da personagem no segundo quadrinho, como podemos descrever a reação dela à fala do morador? Você acha que a personagem compreendeu as instruções?

Variação na pronúncia das palavras

A língua pode variar em todos os seus níveis. Ela pode variar, por exemplo, no nível sonoro. É o que acontece quando as pessoas pronunciam as palavras de fórma diferente. A essa variação chamamos popularmente de sotaque. Na tira de Douglas Ferreira, foram usados recursos da escrita (as letras) para imitar o sotaque característico dos naturais de Florianópolis, especialmente aqueles descendentes de portugueses que vieram do arquipélago dos Açores para o Brasil, no século dezoito.

Assim como o sotaque dos “manezinhos da ilha”, existem vários outros sotaques de regiões brasileiras que você provavelmente reconhece. Por exemplo, o sotaque nordestino, o gaúcho, o carioca, o mineiro e tantos outros.

Orientações e sugestões didáticas

1. HABILIDADES FAVORECIDAS (ê éfe seis nove éle pê zero cinco, ê éfe seis nove éle pê cinco cinco) A tira de Douglas Ferreira brinca com o falar característico dos “manezinhos da ilha”, apelido dado aos naturais de Florianópolis, principalmente àqueles com ascendência açoriana. Na tira, são abordadas variações relativas aos níveis lexical (vocabulário) e sonoro (sotaque) da língua. Se possível, antes ou depois da atividade, é interessante possibilitar à turma acesso ao canal de vídeos de Ferreira, de modo que os ou as estudantes possam ouvir as personagens e comparar com a representação escrita de seu falar. Em geral, o sotaque dos “manezinhos” é considerado chiado, cantado e muito rápido, e são essas características que Ferreira busca reproduzir em seus vídeos humorísticos. O canal “Dezarranjo Ilhéu” está disponível em: https://oeds.link/bt0pG7. O diálogo que se lê na tirinha é apresentado no vídeo , disponível em: https://oeds.link/2GkyG1. Acessos em: 22 janeiro 2022.

1a. Espera-se que os alunos respondam que é possível saber disso em primeiro lugar pela própria pergunta, pois o homem desconhece a localização da praia. Já a outra personagem, pelo conhecimento que tem do caminho, provavelmente é moradora. Além disso, essa personagem tem um jeito de falar peculiar, que, como dito na introdução da atividade, representa o falar típico dos naturais da cidade.

1b. Na segunda fala da tira, algumas palavras foram escritas de uma fórma diferente do usual para reproduzir um jeito de falar e um sotaque específicos.

1c. Respostas pessoais. As respostas podem variar conforme a região de origem dôs ou dás estudantes. Se forem naturais de Florianópolis, pode haver até mais semelhanças do que diferenças; ou, então, eles ou elas podem considerar que a caracterização do sotaque na tirinha é exagerada. Se moram em outras regiões do país, podem perceber diferenças em relação ao “chiado” (prazixquêrrda, adepôich etcétera), à pronúncia do ditongo em meu (“”), à troca do /i/ pelo /e/ em “derêita”, entre outros aspectos. professor ou professora: em alguns casos, as palavras foram grafadas de uma fórma que reproduz não o sotaque específico dos naturais de Florianópolis, mas, na verdade, a pronúncia de boa parte da população brasileira. Por exemplo, é comum no português brasileiro de quase todas as regiões a troca do /e/ pelo /i/ em sílabas iniciais átonas de algumas palavras, do /o/ em sílaba final átona por /u/ (“quirídu” em vez de querido) e a eliminação do -r que marca o infinitivo dos verbos (“siguí” em vez de seguir).

1d. A resposta às perguntas desta questão poderá variar de acôrdo com o território de origem dô ou dá estudante. Caso os ou as estudantes identifiquem alguma palavra desconhecida, sugira uma busca do vocábulo no dicionário e discuta com eles ou elasas palavras sinônimas que aparecem, de modo que identifiquem qual é a utilizada na região.

1e. A personagem ficou espantada, surpresa com o sotaque do morador. Quanto à segunda pergunta – se ela compreendeu as instruções –, espera-se que os ou asestudantes respondam que provavelmente compreendeu, porque, apesar das diferenças no sotaque e no léxico, os falantes das diferentes regiões do Brasil costumam se entender. Para isso, contribui não só a unidade linguística proporcionada pelo uso do português em todo o território, mas também o contexto pragmático: na tirinha, como a pessoa está pedindo informações para localizar uma praia, não é difícil deduzir, por exemplo, que cambar significa virar com o carro.

Como você pôde observar, a variedade linguística falada pelos moradores de determinada região pode se diferenciar de outras pela pronúncia das palavras (sotaque), pelo vocabulário utilizado (por exemplo, cambar em vez de virar), entre outras características.

Vamos analisar agora outros fatores que também geram variação no uso da língua.

2. Mutum mora na cidade e foi visitar a tia dele, que mora em um sítio muito longe da cidade. Leia:

Mutum/Moisés Gonçalves

Tirinha. Composta por dois quadros. Apresenta como personagens, três pessoas: Tia, uma mulher de cabelos encaracolados em marrom, lenço vermelho sobre a cabeça e roupa regata em cinza e par de luvas em verde. Um homem de cabelos, sobrancelhas e bigode grossos em preto e camiseta de gola em cinza. Um menino com cabelos curtos e camiseta em verde, olhos grandes. As cenas se passam em uma sala de jantar com mesa em marrom, com panelas cinzas e pratos com comida, jarra de suco. Ao fundo, janela de madeira semiaberta com um vaso de cor branca com flores de pétalas vermelhas.  
Quadro um. O menino à esquerda, sentado de frente para a mesa com comidas. Ele está de braços abertos, dizendo: Nossa, tia! Que fartura!! À direita, o homem sentado e perto dele, a mulher em pé, a tia, carregando nas mãos uma panela cinza por onde sai  fumaça cinza. 
Quadro dois. A panela com fumaça sobre a mesa. O menino à esquerda, fica com os olhos arregalados, para a esquerda e perto do rosto dele, linhas finas indicando movimento. Ele está com a boca bem fechada. À direita, o homem olhando com cenho franzido, para o menino. Perto dele, a tia, com as mãos na cintura, cenho franzido e diz: Mais que minino mais mar agradecido, sô! Fiz tudo o que ocê gosta, e inda vem recramá que tá fartando as coisa?

GONÇALVES, Moisés. Mutum: 48 páginas de tirinhas. Bebedouro: editora do autor, página 14.

  1. Explique o que acontece nas duas cenas.
  2. O que você pode dizer sobre o modo como a tia de Mutum fala, considerando como está representado na escrita?
  3. Observe o significado da palavra fartura, usada por Mutum.

Fartura 1 estado de farto 2 quantidade mais do que suficiente; abundância 2.1 abundância de comestíveis ou provisões.

Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia, 2020.

  1. Podemos dizer que a graça da tira se apoia no uso dessa palavra. O que o menino quis dizer ao usá-la?
  2. Como a tia entendeu o que ele disse?
  3. Levando em consideração o que você observou sobre a fala da tia, o que causou o mal-entendido?
  1. A expressão do garoto, no segundo quadrinho, indica certa surpresa. Por quê?
  2. Observe três palavras retiradas da fala da tia: mar, recramá, fartando. Veja, agora, essas mesmas palavras faladas e escritas de outra maneira: mal, reclamar, faltando. O que os dois grupos de palavras têm de diferente?
  3. Você diria que Mutum e seus tios compartilham a mesma maneira de falar a língua portuguesa? Explique.
Orientações e sugestões didáticas

2. HABILIDADES FAVORECIDAS (ê éfe seis nove éle pê zero três, ê éfe seis nove éle pê zero cinco, ê éfe seis nove éle pê cinco cinco) Com a tira do Mutum, objetivamos que os ou as estudantes percebam a diferença que há nos falares, dependendo do grupo social a que pertencemos (urbano versus rural e a possível diferença em relação ao grau de escolarização). Aqui, trata-se de observar como isso se reflete em diferença na construção das palavras.

2a. O garoto faz um elogio à quantidade de comida que a tia coloca à mesa, e ela entende que ele está reclamando da falta de comida.

2b. Resposta pessoal. Fique atento às manifestações de juízo de valor que induzam a preconceito linguístico nas respostas a esta questão. É provável que os ou as estudantes digam que a tia fala errado. Caso isso ocorra, questione-os ou as (será?) e combine que voltem a esta questão após a observação e análise dos textos (para concluírem que, na verdade, trata-se de uma variedade da nossa língua). Para este momento, basta que percebam que se trata de uma fórma de falar muito comum nas regiões rurais, onde o acesso a outras variedades é mais limitado.

2c.I. Quis dizer que havia grande quantidade de comida.

2c.II. Entendeu que o menino reclamava de haver pouca comida.

2c.III. O mal-entendido foi causado pelo sentido que a tia atribuiu à palavra fartura, usada pelo garoto.

2d. Porque ele se surpreendeu com a fórma como a tia entendeu a sua fala, uma vez que queria dizer exatamente o contrário.

2e. Espera-se que os ou as estudantes percebam que em todas elas houve a troca do r pelo l (e vice-versa). É importante que eles ou elas notem que a troca do l pelo r, nesses casos, é criteriosa e se constitui em uma regularidade na variedade caipira em relação às variedades de prestígio.

2f. Resposta pessoal. Espera-se que os ou as estudantes concluam que Mutum e os tios não compartilham a mesma maneira de falar a língua portuguesa. O garoto, que mora na cidade e tem acesso à escola, fala de uma maneira mais próxima da registrada nas gramáticas e nos dicionários (ou seja, da língua-padrão), ao passo que os tios usam uma variedade caipira ou sertaneja, também construída de acôrdo com certas regularidades, porém distinta da padrão. Isso pode provocar alguns mal-entendidos entre eles, como o apresentado na tira, mas certamente não impede a comunicação.

Variedades linguísticas e preconceito

Entre as variedades linguísticas usadas pelos diferentes grupos sociais, há as variedades urbanas de prestígio. Elas são faladas pelas classes sociais que vivem nas grandes cidades e que têm maior poder econômico e grau de escolaridade. Essas são as variedades utilizadas na maior parte dos documentos, livros, jornais e revistas, palestras, programas de tê vê e rádio. Em muitas situações de comunicação, as pessoas com quem interagimos — oralmente ou por escrito — esperam que usemos essas variedades porque, historicamente, a sociedade sempre as valorizou. É por isso que convivemos com a noção de “erro”: se não sigo as normas dessas variedades urbanas de prestígio, falo errado!

O preconceito linguístico nasce daí: da ideia de que quem não fala ou não domina essas variedades prestigiadas é inferior. Esse modo de ver é que constitui um erro! Um erro de compreensão do que é a língua. Para a ciência que estuda as línguas como linguagem, nenhuma variedade é melhor ou pior. Todas as variedades linguísticas têm o mesmo valor para seus falantes e se prestam à comunicação, à interação entre nós.

Variação linguística e escolaridade

Dependendo do grupo social a que pertencemos e de nossa formação escolar, nossos falares podem ser diferentes. Costumamos falar como falam as pessoas que nos cercam porque aprendemos a falar com elas e, no dia a dia, também nos comunicamos com elas. Se desde pequenos frequentamos a escola e lemos muitos livros, nosso jeito de falar poderá ser diferente do jeito de falar de pessoas que nunca foram à escola e não convivem com livros.

3. Agora leia os diálogos a seguir, que podem ocorrer em qualquer cidade do Brasil.

Diálogo 1

— Boa noite! Gostaria de encomendar duas pizza.

— Boa noite, quais sabores?

— Pode ser calabresa e portuguesa.

— Mais alguma coisa?

— Sim, quero dois refrigerante também.

Diálogo 2

— Aí eu vi as menina saindo de casa naquela pressa!

— E pra onde foram?

— Ora, pra onde você acha? Saíram com os namoradinho delas!

— Sabia!

  1. Existe uma regra da gramática normativa que não está sendo seguida nos dois diálogos. Qual é?
  2. Isso acontece comumente em nossa fala?
  3. Suponha que o diálogo 2 fosse este:
Orientações e sugestões didáticas

3. HABILIDADE FAVORECIDA (ê éfe seis nove éle pê cinco cinco)

3a. Espera-se que os ou as estudantes identifiquem que, nas sequências “duas pizza dois refrigerante, as menina”, e “os namoradinho”, o segundo elemento não recebe a marcação de concordância no plural.

3b. Espera-se que os ou as estudantes percebam que sim, que a marcação de plural apenas no primeiro elemento do sintagma nominal é característica do português brasileiro.

3c. Espera-se que os ou as estudantes respondam que a marcação do plural apenas no segundo elemento, tal como no diálogo, não ocorre no português.

— Aí eu vi a meninas saindo de casa naquela pressa!

— E pra onde foram?

— Ora, pra onde você acha? Saíram com o namoradinhos delas!

— Sabia!

O texto continua com um problema em relação às regras da gramática normativa. É comum acontecer esse tipo de problema em nossa fala?

As variedades linguísticas e suas regras

As variedades urbanas de prestígio não são as únicas que possuem normas e regras a serem seguidas. Todas as variedades linguísticas possuem regras e normas internas. As reflexões que você acabou de fazer demonstram isso: na variedade utilizada pelos interlocutores dos diálogos, a regra de marcação de plural não é a mesma da das variedades urbanas de prestígio.

No uso das variedades de prestígio da língua portuguesa, a regra geral é que todas as palavras que podem indicar quantidade (singular e plural) devem concordar entre si, em uma oração. Nesse caso, é esperado que se escreva duas pizzas, as meninas.

Já na variedade que os interlocutores usam nos diálogos lidos, a regra é marcar o plural apenas na primeira palavra (duas pizza, as menina). Veja que a regra é clara: não se pode marcar o plural em qualquer palavra, somente na primeira. Nessa variedade linguística, é aplicada a regra da economia: basta que uma palavra da oração indique a quantidade plural; as demais não precisam concordar com essa quantidade.

Olha só que curioso!

Uma curiosidade: a regra da economia é muito usada na conjugação dos verbos em inglês. Observe o verbo falar (to speak) conjugado nas pessoas eu, você, ele/ela, nós, vocês, eles/elas:

I speak

You speak

He/she speaks

We speak

You speak

They speak

Apenas quando é conjugado na terceira pessoa do singular, o verbo recebe o acréscimo de um s.

4. A empresa oficial de turismo da cidade de São Paulo mantém um site chamado Dicionário Paulistanês. Leia uma das publicações do site.

Ilustração. Homem, somente o busto,  cabelos e barba castanho-escuro, usando par de óculos de grau, olhando para frente sorrindo. Ele diz: - Pô, meo, vô pegá o busão pro trampo hoje. C tá ligado que tô no maior corre. As palavras meo, busão, trampo e as expressões C tá ligado e no maior corre estão sublinhadas. Mulher, somente o busto, cabelos compridos e castanhos, camiseta azul de gola e parte das mangas em branco e colete preto, sorrindo, olhando para frente. Ela diz: – Ouvi dizer que tá mór trânsito pros lados da Estaiada. As palavras mór e Estaiada estão sublinhadas. O mesmo homem da primeira ilustração diz: – Que zica! Ainda tinha que passar no Sacolão e comprar Mexerica. As palavras zica, Sacolão e Mexerica estão sublinhadas.

Fonte: SÃO PAULO TURISMO. Dicionário Paulistanês. 2014.

a. Junte-se a um ou uma colega e copiem no caderno o quadro a seguir. Preencham a primeira coluna com as palavras e expressões que aparecem sublinhadas no bate-papo. Na segunda coluna, “traduzam” essas palavras e expressões para a variedade linguística falada na região onde vocês moram, ou seja, escrevam as palavras que vocês usariam para comunicar as mesmas ideias.

ícone modelo

Paulistanês

Tradução

b. Os sublinhados do texto são hiperlinks nos quais é possível clicar para ler o significado das palavras. Levante hipóteses: como a criação de um dicionário paulistanês pode colaborar para o turismo na cidade?

Orientações e sugestões didáticas

4. HABILIDADE FAVORECIDA (ê éfe seis nove éle pê cinco cinco)

4a. Respostas pessoais. Sugestões: meo igual vocativo e amistoso; em diferentes regiões do país, existem palavras usadas em contextos equivalentes; por exemplo, , bichim, mermão etcétera Busão igual ônibus. Trampo igual trabalho. “C tá ligado” igual Você está sabendo? “No maior corre” igual em uma grande correria, muito atarefado. Mor igual grande, enorme. Estaiada igual nome de uma ponte da cidade. Zica igual azar, situação ruim. Sacolão igual estabelecimento comercial especializado na venda de hortifrútis. Mexerica igual fruta conhecida em outras regiões do país como tangerina ou bergamota.

4b. Respostas pessoais. Sugestão: o Dicionário tem um propósito prático, que é ajudar os visitantes da cidade a conhecerem gírias e regionalismos utilizados pelos moradores. Além disso, e talvez mais importante, pretende mostrar como a cidade tem uma cultura rica, única e, assim, atrair o interesse dos turistas.

Língua e identidade

Uma vez que a sociedade é dividida em grupos, dependendo dos grupos sociais a que pertencemos, identificamo-nos com seus modos de falar: os jovens têm um jeito de falar que é diferente do jeito dos mais velhos. Por outro lado, certos grupos de jovens podem falar de modo diferente de outros, dependendo do lugar ou da região onde moram e também da classe social a que pertencem ou do grau de escolaridade que possuem.

O nosso jeito de falar nos dá uma identidade, porque ao mesmo tempo que nos faz semelhantes a um grupo também nos diferencia de outros. A fórma como usamos a língua faz parte do que somos, faz parte de nossa cultura.

O interessante é que, apesar de todas as diferenças no modo de falar a língua portuguesa, todos nós somos falantes da língua que recebe esse nome. Apenas a falamos de modos diferentes. Esses modos diferentes de falar nossa língua são chamados de variedades da língua portuguesa ou variedades linguísticas.

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Diferentes regiões e diferentes vocabulários

Se você bancar o curioso, vai descobrir diferenças muito interessantes no vocabulário do português falado aqui e no mundo afora. Isso porque, como formamos diferentes grupos, as influências que cada um deles sofre de outras línguas acabam se refletindo em diferentes palavras que são usadas para fazer referência a uma mesma coisa. Essas diferenças todas levaram os pesquisadores da nossa língua a referir-se a ela como português brasileiro.

O uso da língua e as situações de comunicação

Leia uma tira da personagem Urbanoide e responda às questões.

Urbanoide/Diogo Salles

Tirinha. Composta por dois quadros. Apresenta como personagem o Urbanoide: homem de nariz grande, cabelos pretos e barbicha, com par de óculos escuros, usando camisa de gola e gravata em preto. Três personagens diversos. 
Quadro um: Foco em Urbanoide, visto do busto. Ele diz: OLÁ, MEU NOME É URBANOIDE, TENHO VINTE E POUCOS ANOS, TÔ NA FACU... 
Quadro dois: Urbanoide sentado de frente para mesa, com outras três pessoas sentadas. À esquerda, homem de cabelos pretos, de camisa de gola branca, gravata preta e terno em azul. Mulher de cabelos curtos em castanhos, com par de óculos de grau , lábios grossos em vermelho e blusa de mangas curtas em verde e marrom. Na ponta da direita, uma mulher de cabelos pretos penteados para trás, com as pálpebras para baixo, com camisa de gola em cinza. Urbanoide diz: ... E ODEIO PROCESSOS SELETIVOS.

Processo seletivoglossário

SALLES, Diogo. Urbanoide, 29 outubro 2012. Disponível em: https://oeds.link/a6NcI6. Acesso em: 31 maio 2022.

  1. Repare nas informações da linguagem não verbal (o desenho): como é a aparência das pessoas? Como elas estão vestidas?
  2. Considerando a postura das personagens no último quadrinho, a situação em que elas estão é mais séria, formal, ou mais descontraída, informal?
  3. Urbanoide está em uma entrevista de emprego. O que ele falou e a maneira como falou estão adequados a essa situação? Explique.
  4. Você acha que isso tem alguma relação com a intenção de fazer humor?
Orientações e sugestões didáticas

HABILIDADES FAVORECIDAS (ê éfe seis nove éle pê zero cinco, ê éfe seis nove éle pê cinco cinco)

  1. Usam roupas mais : os homens, por exemplo, estão de gravata e um deles de terno. Estão bem penteados e com “ar” de seriedade. Chame a atenção para o fato de Urbanoide estar usando óculos escuros, o que parece pouco adequado à situação.
  2. Espera-se que os ou as estudantes concluam que a situação é formal, não só pelo traje das personagens, por sua postura ereta e pelo fato de estarem em torno de uma mesa de reunião, mas também porque Urbanoide é alguém que, em tese, não as conhece e está sendo selecionado por elas, ao concorrer a uma vaga de emprego.
  3. Não, porque ele usa uma linguagem mais informal (, facu), não é preciso nas informações (“vinte e poucos anos”) e é inadequado ao dizer que odeia processos seletivos para quem o está entrevistando.
  4. Espera-se que em suas respostas os ou as estudantes considerem que o cartunista fez uso dessa linguagem intencionalmente: para mostrar que Urbanoide é uma personagem desligada, sem preocupações com as coisas do mundo adulto.

5. Considerando suas respostas anteriores, você acha que é importante nos preocuparmos se estamos usando a língua de modo adequado à situação de comunicação em que estamos envolvidos? Em sua resposta, considere a situação da tirinha.

Linguagem formal e linguagem informal

Já sabemos que sempre interagimos com alguém em determinado momento e lugar e que o que falamos e como falamos atende a objetivos muito específicos. O jeito como escolhemos falar — ou escrever — depende desses vários fatores. Ao considerá-los, podemos escolher usar um modo de falar (um registro) mais formal ou mais informal, em uma das variedades da língua.

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No dia a dia, as pessoas circulam e se comunicam em vários lugares e situações: na escola, em família, no trabalho, em ambientes de entretenimento etcétera.

A lista de lugares e situações não tem fim! O mais incrível é que, em cada lugar e situação, temos um jeito diferente de falar ou de escrever, dependendo de com quem, quando, onde e com quais objetivos estamos interagindo.

Se vamos falar ou escrever para alguém que pouco conhecemos e que é mais velho ou uma autoridade, o que se espera é que usemos um registro mais formal e até mesmo uma variedade mais prestigiada. Se, ao contrário, estamos conversando com um irmão, um grande amigo ou alguém da mesma idade e situação social que nós, costumamos usar um registro informal, sem muita preocupação com a variedade da língua usada.

No uso da linguagem informal é comum aparecerem as gírias — que são palavras ou expressões usadas em sentido figurado, tais como: maneiro, beleza, da hora, mão de vaca, meu irmão.

Saber o modo adequado de usar a língua nas situações em que interagimos é muito importante para atingir nossos objetivos.

Língua oral ou escrita

Nas diferentes situações de comunicação em que nos envolvemos, podemos usar a língua oral ou a língua escrita. Independentemente de falarmos ou escrevermos, o que vai nos ajudar a decidir se usaremos a língua de modo mais formal ou informal, nesta ou naquela variedade, é a situação de comunicação em que estamos. Na tira da página 74, Urbanoide e seus entrevistadores estavam usando a modalidade oral da língua, e a situação em que estavam exigia o uso da linguagem formal. Se quisesse realmente atingir o objetivo de conquistar a vaga de emprego, o mais adequado seria Urbanoide usar esse tipo de linguagem.

Pesquisando gírias de outras gerações

Você já parou para observar que muita coisa pode ter mudado na sua fórma de falar em comparação a como seus pais ou seus avós falavam? Certamente você também já deve ter ouvido de seus pais ou avós que eles não entendem algumas expressões que você usa atualmente.

Orientações e sugestões didáticas

5. Espera-se que os ou as estudantes percebam que sim. No caso de Urbanoide, por exemplo, considerando que o que ele falou e como falou não eram adequados, provavelmente isso lhe custou uma vaga de emprego.

Pois, então, é hora de unir as gerações! Com os ou as colegas, organize grupos de trabalho para vocês montarem um pequeno dicionário de gírias de ontem e de hoje que deverá ser entregue aos seus pais. Assim, vocês poderão começar a se entender melhor durante as conversas. Que tal? Siga estes passos.

  1. Individualmente, você e os ou as colegas deverão conversar com seus pais, outros familiares mais velhos (como avós ou tios, por exemplo), outros professores ou funcionários da escola, e consultá-los sobre as gírias do tempo deles. Podem ser palavras, expressões ou frases inteiras. Anote as gírias que eles citarem para você.
  2. Faça uma lista de pelo menos 5 gírias que eles ou outros conhecidos usavam quando jovens, pergunte o significado delas, o contexto em que eram usadas e tente encontrar uma gíria atual que corresponda a cada uma delas.
  3. Com o material coletado por toda a turma, vocês montarão o dicionário, coletivamente. Para evitar repetições de gírias ou para incluir novas, com a ajuda dô ou dá professor ou professora, façam uma lista com as gírias pesquisadas pela turma toda.
  4. Veja um modelo de como o verbete pode ficar:

QUERER CONFETE: fazer algo para obter elogios. Por exemplo: “A Vanessa está se queixando que ficou feia na foto da formatura apenas porque uma mecha do cabelo estava fóra do lugar. Acho que ela só está querendo confete!”. Atualmente, a gíria correspondente poderia ser PEDIR BISCOITO.

5. Não se esqueça de que cada um terá de preparar o seu próprio exemplar, depois que a turma montar o dicionário. Vocês podem digitar os verbetes no formato de dicionário.

Pesquisa em foco

Você sabia que as entrevistas, como essas que você fará com seus pais e familiares, são muito utilizadas para coletar dados em pesquisas científicas?

Para que suas entrevistas obtenham resultados confiáveis, busque fazer as mesmas perguntas, na mesma ordem, para todos os entrevistados. Isso também vai ajudá-lo na hora de analisar as respostas. Uma fórma simples de garantir a uniformidade é preparar um pequeno roteiro antes de conversar com as pessoas. E não deixe de gravar ou tomar notas durante a entrevista; assim, você não perderá informações importantes dadas pelos participantes da pesquisa.

O que levo de aprendizagens deste capítulo

E então? Depois de ler e discutir todos os textos, o que você tem a dizer?

  1. Você acha que a língua portuguesa que falamos hoje é igual à língua portuguesa falada quando foi criada?
  2. Afinal, todos falamos a língua portuguesa do mesmo jeitinho?

Prepare com seus ou suas colegas uma síntese em fórma de itens do que discutiram e leram sobre o assunto.

Orientações e sugestões didáticas

Pesquisando gírias de outras gerações

HABILIDADES FAVORECIDAS (ê éfe seis nove éle pê três cinco, ê éfe seis nove éle pê três seis,ê éfe seis nove éle pê três nove, ê éfe seis nove éle pê cinco cinco, ê éfe seis sete éle pê dois um, ê éfe seis sete éle pê dois quatro)

Para o encerramento deste capítulo, propomos uma breve atividade de pesquisa que resultará na produção de verbetes para um dicionário temático. Ao analisar em grupos os dados coletados entre os familiares, é provável que os ou as estudantes observem diferenças entre as respostas, ainda que os pais ou outros adultos pertençam à mesma geração. É uma boa oportunidade para retomar outros fatores que provocam variação linguística. Pais que moravam em outra região do país ou pertenciam a grupos sociais específicos (isqueitistas ou roqueiros, por exemplo) podem ter utilizado, em sua adolescência, gírias diferentes daquelas empregadas por pais de outras áreas e grupos. Durante a produção dos verbetes, chame a atenção para a importância de indicarem o número de acepções, caso tenham mais de uma para a palavra ou expressão idiomática que constitui a gíria. Cabe salientar que essa produção não seguirá o rigor da produção de um verbete, mas deve se aproximar do modo como os verbetes se configuram: devem apresentar (1) a data aproximada em que o entrevistado declara ter sido comum utilizar a gíria; (2) o(s) sentido(s) da expressão (em caso de mais um sentido, cada um deve ser referido como uma acepção, com indicação de número, como nos verbetes de dicionários); (3) exemplos de frases/contextos em que são usadas.

O que levo de aprendizagens deste capítulo

Sugerimos que você vá formulando item a item, tentando resgatar cada momento da discussão, de fórma linear. Nesse momento, é importante que os alunos compreendam que:

  • A língua portuguesa, assim como todas as línguas, muda com o tempo (chamamos esse fenômeno de variação histórica).
  • Há diferentes variedades da língua, conhecidas como variedades linguísticas.
  • A língua varia de acôrdo com o espaço geográfico, o grupo social e o contexto em que estamos.
  • Todas as variedades têm valor para os seus falantes.
  • As variedades que têm maior prestígio são as urbanas, faladas pela parcela da sociedade com mais poder econômico e maior grau de escolaridade.
  • A defesa do uso das variedades urbanas de prestígio, muitas vezes, gera preconceito, por se considerar que as outras fórmas da língua são erradas – portanto, quem não fala uma das variedades prestigiadas é discriminado.

Glossário

Doenças emocionais
: também conhecidas como doenças psicossomáticas, manifestam-se no plano físico, mas têm origem emocional.
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Asseio
: limpeza.
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Modicidade
: moderação.
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Amostros
: amostras.
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Sortimento
: estoque.
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Potreiros
: locais para descanso de cavalos, vacas etcétera.
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Estribarias
: estabelecimento onde ficam principalmente cavalos.
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Processo seletivo
: no contexto da tirinha, é um processo pelo qual o candidato a uma vaga de emprego passa por testes e é entrevistado pelos possíveis empregadores.
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