Capítulo 8  Intervenções poéticas

Fotografia. Um muro branco cruzando a foto diagonalmente da parte inferior esquerda para a parte superior direita. À direita dele, texto em vermelho pintado na parede: O POEMA MUDA O SENTIDO DO CAMINHO. Na parte superior esquerda, troncos e galhos marrons e folhas verdes. Por trás das árvores,, céu em azul-claro com luz solar.
Poema em estêncil produzido pelo Coletivo Transverso. Essa intervenção poética foi feita em um muro da cidade de Brasília.

Converse com a turma

  1. Você já ouviu falar em coletivos de arte? Sabe ou tem ideia do que eles fazem?
  2. Você já viu, pelos caminhos por onde anda, uma manifestação artística assim? O que você pensa sobre a publicação de poemas como esse em espaços públicos? Justifique sua resposta.
  3. Que materiais e técnicas você deduz que foram usados nesse trabalho?
  4. Que palavras usadas no poema podem ser relacionadas às ideias de rua e de locomoção?
    1. Se o muro estivesse em branco, o que seria mais provável: as pessoas prestarem mais ou menos atenção nele?
  1. Considerando o lugar de publicação do poema, você interpreta os versos “O poema muda o sentido do caminho” de maneira literal ou figurada? Explique.

5. O que você sabe sobre a poesia de Carlos Drumôn de Andrade? Conhece o poema “No meio do caminho”? Sabe por que é considerado um poema que muda os caminhos da poesia?

Quem é?

Fotografia. Sobre uma parede de tijolos em tons de cinza e marrom, há uma parte em branco onde aparece o texto: AQUI AS FLORES NASCEM DO CONCRETO.
Intervenção do Coletivo Transverso em Brasília, em 2022.

O Coletivo Transverso surgiu em Brasília, em 2011, e desde então realiza intervenções que tomam as ruas como espaço de poesia. O grupo é formado por Cauê Novaes (poeta), Patrícia Del Rey (poeta e atriz) e Patrícia Baquiniévisqui (artista plástica). Eles também contam com a participação de seguidores, por meio de redes sociais e de oficinas.

Vale a pena ver!

O movimento artístico Grupo de Bagé foi criado no Rio Grande do Sul, nos anos 1940, por artistas como Glênio Bianchetti, Carlos Scliar, Glauco Rodrigues, entre outros, os quais utilizaram a gravura para tratar de temas sociais e levar a arte para um grande número de pessoas, popularizando-a. Conheça um pouco da trajetória desse grupo assistindo ao documentário Grupo de Bagé na internet, fazendo buscas com a utilização de palavras-chave.

Cartaz de documentário. Em fundo bege-claro e ao centro, tintas em preto e laranja mostrando as digitais de algumas mãos impressas no papel. Na parte inferior, título do documentário: GRUPO DE BAGÉ. Abaixo em letras bem pequenas, informações sobre a ficha técnica do filme a logo de patrocinadores.
Cartaz do documentário Grupo de Bagé. Direção de: Zeca Brito. Brasil, 2018.
Vinheta de seção. Contorno de um clipe.

Clipe

As técnicas mais conhecidas de impressão artística são a xilogravura, a litogravura (ou litografia), a gravura em metal e a serigrafia.

A impressão por estêncil inspira-se na serigrafia: utilização de um molde vazado para o preenchimento com tinta.

O artista americano éndi uórrrou (1928-1987), do movimento chamado pop art, inovou ao trocar os tradicionais pincéis e utilizar a serigrafia em seu trabalho.

Reprodução. Sequência de retratos feitos em serigrafia, dispostos lado a lado na horizontal: cinco na primeira linha e cinco na segunda linha. Eles retratam o busto da mesma mulher, mas em cores diferentes a cada quadro. Ela tem cabelos encaracolados e penteados para o lado, sobrancelhas finas, nariz afilado e lábios grossos.
Da esquerda para a direita e de cima para baixo, a primeira imagem a retrata em preto e branco; a segunda com os cabelos loiros, os olhos pintados com sombra rosa e os lábios em tons de rosa; a terceira a retrata com a pele amarelada, os cabelos marrons e os olhos com sombras rosas; a quarta imagem a mostra com os cabelos em amarelo vivo, o rosto verde e os lábios rosas; a quinta imagem a retrata com cabelos amarelos-escuros, rosto azul e contorno do rosto em verde; a sexta imagem a apresenta em tons de sépia, cinza, cabelos loiros e lábios em rosa; a sétima imagem a mostra com pele rosa, cabelos alaranjados; a oitava imagem a retrata com pele laranja, sombra nos olhos em rosa, cabelos brancos; a nona imagem a mostra com pele rosa-escura e cabelos verde-claros; a última imagem, a mulher aparece de pele em tons de lilás, sombras verdes nos olhos, lábios vermelhos e cabeços loiros. A cor de fundo de cada imagem também se altera a cada quadro.
1967. Serigrafia, 91,2 centímetros por 91,2 centímetros. Coleção particular.
Fotografia em preto e branco. Mulher vista do busto para cima, com o corpo levemente virado para o lado. Ela tem cabelos curtos, encaracolados e loiros, penteados para o lado, sobrancelhas finas, nariz afilado e lábios grossos. Ela olha para frente com um leve sorriso, usa blusa regata preta com um grande decote à frente e gola em branco.
Essa foto em preto e branco de mérilin Mônrou para a divulgação do filme Torrente de paixão, de 1953, serviu de inspiração para éndi uórrrou compor suas obras com o rosto da atriz.

O que você poderá aprender

  1. O que você sabe sobre a poesia publicada nos espaços públicos?
  2. O que você pensa sobre isso?
  3. Como as intervenções poéticas podem dialogar com poemas da literatura brasileira?
  4. Você conhece as técnicas de publicação de poesia por estêncil e por lambe-lambe?

Quem é?

Fotografia em preto e branco. Um homem sentado sobre poltrona. Ele é calvo, usa óculos de grau escuro, camisa de gola clara e terno escuro. Ele olha para o lado, com a mão direita para frente. Ao fundo, à esquerda, mesa e cadeira arredondada e alguns quadros na parede.
O autor, no Rio de Janeiro, em 1981.

Carlos Drumôn de Andrade foi um escritor que nasceu em 1902, na cidade de Itabira (Minas Gerais), e que se tornou um dos grandes nomes da poesia brasileira. Em Belo Horizonte, passou a trabalhar no Diário de Minas, como redator e, depois, como redator-chefe. O primeiro livro de Drumôn, Alguma poesia, foi publicado em 1930. Ao longo de sua vida, escreveu para diversos jornais e revistas, publicou inúmeras obras em prosa e poesia e recebeu vários prêmios. Faleceu em 17 de agosto de 1987.

Leitura 1

Você lerá a seguir o poema “No meio do caminho”, de Carlos Drumôn de Andrade, publicado na Revista de Antropofagia, em 1928, e, dois anos depois, incluído em seu livro de estreia, Alguma poesia. Trata-se de poema que provocou muitas reflexões e mudanças sobre o que se pensava e fazia como poesia até então. Observe se o poema também surpreende você quanto ao que pode ser poesia.

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.


Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.

ANDRADE, Carlos Drumôn de. No meio do caminho. In: Alguma poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. página 36.

Vale a pena ver!

O Instituto Moreira Salles produziu um vídeo com a leitura de “No meio do caminho” nos diferentes idiomas para os quais ele foi traduzido. Vale a pena conferir como os efeitos de repetição dos versos garantem, nas diferentes línguas, um ritmo típico do poema.

Você se interessou? Para assistir, combine palavras-chave em um navegador de internet, como: “no meio do caminho” mais “vídeo” mais “Moreira Salles”.

Primeiras impressões

  1. Como você resume o acontecimento experimentado pelo eu lírico?
  2. Em que verso o eu lírico explicita a importância que ele atribui a esse acontecimento?
  3. Releia o verso: “na vida de minhas retinas tão fatigadas”.
    • O que você deduz sobre o eu lírico com base no que ele expressa sobre as retinas dele?
Ilustração. Vista lateral de um homem sentado com o corpo virado para a direita. Ele é visto de corpo todo e usa blusa vermelha de mangas compridas com listras horizontais em preto, veste sapatos rosa e calça roxa. Ele está com as pernas flexionadas e com os cotovelos apoiados nos joelhos; as mãos estão sob o queixo.

4. Com base no que você considerou nas questões anteriores, quais outros sentidos, além do literal, você dá à expressão “tinha uma pedra no meio do caminho”? Explique.

O texto em construção

Organize-se em dupla e converse com um ou uma colega sobre as questões a seguir. Elas foram pensadas especialmente para vocês perceberem o trabalho de linguagem que contribui para os efeitos sonoros e de sentido no poema, bem como para provocar relações de sentido com o poema no muro de autoria do Coletivo Transverso.

1. Releia o poema em voz alta com bastante expressividade. Observe a repetição do verso “tinha uma pedra no meio do caminho” ou de parte dele. Que relações você estabelece entre esse uso da repetição e o que o eu lírico expressa a respeito desse acontecimento?

Anáfora

É a repetição intencional de uma mesma palavra ou de uma expressão em inícios de frases e versos.

  1. Releia em voz alta as seguintes palavras do poema, prestando atenção nas sílabas tônicas: “tinha” – “caminho” – “vida” – “minhas” – “retinas”.
    • O que você percebe de comum entre elas?

Assonância

Ocorre a assonância quando em um texto são usadas palavras que têm um mesmo som vocálico na sílaba tônica. Além de efeitos sonoros comuns, a assonância pode sugerir migração de sentidos entre as palavras, como ocorre, no poema, com “caminho” e “vida”.

  1. Localize o verbo usado no primeiro verso. Em uma situa- ção mais formal da escrita, que outro verbo deveria ter sido empregado?
  2. Leia: O poema “No meio do caminho” causou muita polêmica, porque colocava em discussão um jeito novo de fazer poesia, com o uso coloquial da linguagem, tema bastante cotidiano e banal (encontrar uma pedra no meio do caminho) e a repetição intensa de um mesmo verso ou de parte dele. Logo que foi publicado, em 1930, despertou curiosidade, interesse e muita discussão e se tornou amplamente conhecido.
    • Com base nessas informações, que relações você estabeleceria entre o poema do Coletivo Transverso e o poema “No meio do caminho”?

Leitura 2

Você já dançou ou assistiu a uma quadrilha? No poema a seguir, publicado em 1930 no livro Alguma poesia, você poderá ler versos que remetem com criatividade a essa dança da cultura popular. Observe como essa “dança poética” sugere um ponto de vista sobre relacionamentos humanos.

Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili,

que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

que não tinha entrado na história.

ANDRADE, Carlos Drumôn de. Quadrilha. In: Alguma poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. página 54.

Ilustração. Vista frontal de um homem em pé. Ele tem bigode fino  marrom, usa chapéu redondo vermelho, blusa vermelha de mangas compridas com listras verticais em vermelho, calça roxa e azul e sapatos roxos de bico fino; ao centro da blusa, há um buraco no peito com o formato de um coração. Pelo buraco, passa uma linha pontilhada que faz movimentos circulares no ar e, na ponta dela, há uma borboleta laranja. O homem está com o braço direito para cima, com a mão aberta na altura do rosto.

Primeiras impressões

  1. Escreva uma palavra ou expressão que resuma o que é narrado no poema.
  2. Observe os nomes dados às personagens: são nomes muito ou pouco usados na cultura brasileira?
    1. O que a escolha de nomes assim sugere sobre os acontecimentos narrados?
    2. Qual personagem é nomeada de jeito diferente das demais?
    3. O que isso sugere sobre essa personagem?
  3. Por que possíveis razões Lili pode ter se casado?

O texto em construção

Organize-se em dupla e converse com um ou uma colega sobre as questões a seguir. Elas foram pensadas especialmente para você perceber como os recursos de linguagem contribuem para os efeitos de mistério da narrativa.

  • Quais passos da dança popular quadrilha você conhece?
    1. Que relações de sentido você estabelece, com expressividade, entre o título escolhido para o poema e alguns passos dessa dança?
    2. Releia o poema em voz alta e observe quando acontece a repetição (anáfora) do pronome relativo “que”. O que você percebe quanto à repetição desse pronome? Estabeleça relações entre essa anáfora e o que você respondeu no item a.

Oficina de leitura e criação – Leitura compartilhada de um poema: seus implícitos, relações de intertextualidade e sentidos

Condições de produção

O quê?

Você e a turma interpretarão os implícitos e a intertextualidade em um poema contemporâneo, impresso pela técnica de estêncil e publicado nas ruas.

Para quem?

Para a própria turma, de maneira que ela possa:

  • fruir poemas contemporâneos, aprimorando a capacidade de estabelecer relações entres textos e contextos;
  • perceber como a poesia de rua pode ser uma fórma artística de intervenção, provocando reflexões e perspectivas críticas;
  • ter uma visão crítica acerca do tema trabalhado no poema.

Como fazer?

  1. Para uma primeira leitura do poema
    • Reúna-se com mais três colegas. Façam uma primeira leitura do poema e depois conversem entre vocês, considerando as questões sugeridas e outras que julgarem necessárias, anotando no caderno as conclusões a que chegarem. Depois, vocês poderão ouvir opiniões dos outros grupos e, com a mediação estabelecer um consenso.
Fotografia. Em tons de sépia, folha clara na vertical, colada em um poste em local aberto. Na folha, texto: JOÃO LAMA TERESA QUE LAMA JOSÉ QUE LAMA MARIANA QUE MORREU DE DESASTRE E NÃO ENLAMEAVA NINGUÉM. POSTE NO POSTE – DINHO FONSECA.
Projeto Cultural “poste no poste”, do poeta Dinho Fonseca, 2015.

Oficina de leitura e criação

  1. O que, nos versos desse poema, lembra o poema de Drummond?
  2. Que substantivo está sendo usado onde seria esperado um verbo? Que efeitos o uso dessa palavra causa na leitura e nas relações que o leitor vinha fazendo?
  3. Qual personagem se diferencia das demais pelas ações?
  4. Você sabe a que fato as palavras trabalhadas no poema remetem?
  1. Para resgatar o contexto de produção do poema e melhor significar seus versos
    1. Combinem, em um navegador, as palavras que vocês indicaram nas respostas aos itens b e c mais reportagem mais especial. Lembrem-se do que já aprenderam para não caírem em conteúdos falsos. Na dúvida, consultem sites que checam a veracidade de conteúdos. Leiam e/ou assistam a reportagens, cuidando para que cada integrante fique com uma reportagem diferente. Procurem escolher jornais e emissoras que vocês considerem fazer reportagens qualificadas. Enquanto estiverem lendo e/ou assistindo, busquem registrar, individualmente, as seguintes informações:
      • Por qual emissora, canal ou jornal a reportagem foi produzida?
      • Quando?
      • Há indicação dos repórteres que fizeram a reportagem?
      • O que o texto relata? Que palavras foram usadas para caracterizar o acontecimento?
      • Que pessoas foram entrevistadas? Por que razão possivelmente elas foram escolhidas?
      • Essas pessoas trazem olhares diferentes sobre o fato, ajudando o leitor/espectador a compreender os interesses nas explicações dadas sobre os fatos relatados?
      • Você sentiu falta de “alguma voz” representando alguma instituição, algum grupo? Quem mais deveria ter sido ouvido pela reportagem em sua opinião? Por quê?
      • Há imagens? Como elas contribuem para uma interpretação dos acontecimentos relatados?
      • Com base nas escolhas sobre quem entrevistar, o que mostrar ou citar de suas falas, qual ponto de vista você acha possível formar a respeito do que aconteceu?
      • Você concorda com esse ponto de vista? Por quê?
    1. Em grupo, comparem o que investigaram, com base nestas e em outras questões que julgarem importantes:
      • Em que as coberturas das reportagens foram parecidas e em que foram diferentes?
      • O que a cobertura de cada reportagem permite concluir: que visão dos acontecimentos parece ter predominado na mídia?
      • Vocês concordam ou não com essa interpretação do fato? Por quê?
  1. Interpretando o poema à luz de seu contexto de produção Releiam o poema e voltem a conversar entre vocês, anotando no caderno as conclusões a que chegarem. Depois, ouçam as respostas dos outros grupos e, com a mediação procurem chegar a consensos.
    1. Considerando que o poema circulou depois do acontecimento relatado pelas reportagens, como vocês interpretam o uso da palavra lama entre os nomes das personagens?
    2. A que pode ser relacionada a palavra desastre, considerando o contexto em que o poema circulou?
    3. Releiam: “Mariana que morreu de desastre e não enlameava ninguém”.
      • Como vocês interpretam esse verso?
    1. O que vocês acharam dessa paródia feita por Dinho Fonseca com os versos de Drummond? Na opinião de vocês, que possíveis intenções o artista teve ao produzi-la e publicá-la nas ruas? Que importância vocês atribuem a essa ação poética?
Ilustração. Dois garotos em pé, um ao lado do outro, são vistos de corpo todo. O menino à esquerda tem cabelos castanhos na altura do ombro; ele veste blusa vermelha de mangas compridas com listras horizontais pretas, calça azul e sapatos vermelhos. O menino à direita tem cabelos castanhos, usa blusa azul de mangas compridas com listras horizontais em preto, calça roxa e sapatos vermelhos. Enquanto o da direita olha para baixo, com o dedo indicador apontando para as anotações de um caderno; o outro observa e também aponta o dedo indicador para o caderno.

Paródia

Obra literária, teatral, musical etcétera que imita outra obra, geralmente para causar efeitos de humor e/ou criticidade.

Leitura 3

O poema que você acabou de ler foi publicado na rua pela técnica do lambe-lambe. Para saber mais sobre essa técnica, leia o texto a seguir.

Antes da leitura

  1. No site de que instituição esse texto foi veiculado? Onde é possível localizar essa informação?
  2. Você sabe que causas e ações são típicas dessa instituição? Caso não saiba, busque informações em sites seguros.
    • Com que possíveis intenções essa instituição pode ter publicado esse texto?
  3. O que o título do texto revela sobre o gênero em que ele está escrito? Com base nisso, o que você espera encontrar no texto?

4. Corra os olhos pelo texto: os subtítulos confirmam suas hipóteses?

Versão adaptada acessível

Atividade 4.

Em sua leitura, preste atenção também aos subtítulos e observe se confirmam suas hipóteses.

Reprodução de página de internet.

Guia prático de como fazer lambe-lambes em sua cidade

Um lambe-lambe é um cartaz com conteúdo artístico e/ou crítico colado em espaços públicos. É uma fórma de intervenção criativa na sua cidade, com o poder de despertar as pessoas para reflexões que em geral não estão presentes no nosso dia a dia.

O que diferencia o lambe-lambe de uma propaganda qualquer colada por aí é seu conteúdo. Os lambe-lambes não têm conteúdo comercial. reticências

Todo cidadão tem o direito de se manifestar e protestar livremente. É um direito garantido pela Constituição Federal. E colar lambe-lambe é um jeito pacífico e poético de expressão.

Sobre a ação de colar mensagens em si, as pessoas podem vir a ser responsabilizadas por desobediência (Artigo 330 do Código Penal), desacato (Artigo 331 do código Penal) ou resistência (Artigo 329 do código Penal), dependendo do trato com a polícia. Em alguns casos, as pessoas também podem ser responsabilizadas por dano (Artigo 163 do código Penal), dependendo de onde e como a mensagem for afixada.

Cada cidade tem sua própria lei para definir regras e penalidades relacionadas ao uso de comunicações impressas aplicadas no espaço urbano, conhecidas muitas vezes como Lei da Cidade Limpa. Em geral, essas leis não abordam os casos de manifestações de ideias sem conteúdo comercial e se aplicam apenas à publicidade. No entanto, é sempre recomendável verificar a lei específica da sua cidade antes de sair colando seu lambe.

Onde vale colar?

Em espaços públicos, postes, pontes, lixeiras, paredes de locais abandonados e muito degradados em que colar um lambe pode trazer cor e graça para a quantidade de cinza em nossas cidades. [Mas, atenção, a colagem está condicionada à prévia autorização do órgão governamental responsável.]

Nos espaços privados, como muros e portões, é necessário pedir autorização ao dono ou responsável. Dependendo da mensagem e do dono do muro, o ato de pedir para colar seu lambe pode ser autorizado e ainda render uma bela conversa. Se a pessoa não topar, respeite. Todos têm o direito de dizer não.

Vale lembrar que o lambe é como um adesivo. E a sua cola é feita em geral com água, farinha de trigo ou polvilho, ou ainda com cola branca. Todos os ingredientes possíveis têm pouco potencial de gerar estragos severos e permanentes na superfície colada.

Ilustração. Um garoto, visto de costas, tem cabelos escuros e veste  uma blusa vermelha com listras horizontais amarelas na altura da barriga, calça azul e sapatos cinzas. Ele está com os braços para cima, colando uma folha na vertical sobre uma parede de blocos em azul, na qual já há três folhas coladas. No centro dessas folhas, há linhas pretas grossas que formam a imagem de um coração.

Onde NÃO vale colar?

Espaços que contenham sinalização de trânsito ou mesmo informações úteis ao cidadão. Vidros de carro, latarias de carro, vitrines, espaços privados sem autorização, como fachada de casa e lojas, bancos 24 horas, fachadas de prefeituras e órgãos públicos, como o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista e principalmente aquele muro branquinho, recém-pintado.

A cidade é um espaço em disputa com ideias muitas vezes divergentes sobre a melhor fórma de atuar no espaço público. O ato de colar um lambe-lambe deve propiciar uma conversa saudável sobre qual modelo de cidade queremos, e de jeito nenhum gerar mais animosidade nessa disputa de ideias.

Como preparar seu lambe-lambe?

Papel

O tamanho ideal para lambe-lambe é o A3, que fica suficientemente visível e cabe mesmo em espaços reduzidos, como postes e lixeiras. Mas você pode considerar formatos maiores, se tiver conseguido autorização para colar num muro grande, por exemplo.

O papel não pode ser feito em impressora jato de tinta, senão, durante a aplicação da cola, sua mensagem vai ficar borrada. O melhor são impressoras a leiser ou ófiséti. Vale também ir a uma gráfica perto da sua casa com o pdf na mão e explicar a finalidade da impressão. Às vezes, sai bem mais barato.

Além disso, o papel não pode ser muito grosso, pra não ficar difícil de colar. O ideal é uma gramatura de 75 gramas por métro quadrado ou 90 gramas por métro quadrado.

Cola

Há várias maneiras de preparar a própria cola. As caseiras são feitas com polvilho doce ou farinha de trigo, água e vinagre. No lugar de polvilho, vale usar amido de milho (comercialmente conhecido como maisena), goma para tapioca ou até mesmo farinha de trigo, só precisando acertar a medida.

Outra maneira é preparar com cola branca. Para cada 2 partes de água, use uma de cola branca escolar líquida. Cada litro de cola branca rende 3 litros de cola pra lambe. Essa quantidade é suficiente para colar cérca de 200 cartazes no formato A3. reticências

Como aplicar?

Adquira uma brocha, pincel grande, rolinho de espuma de pintar parede. Valem até essas esponjas macias de lavar louça.

Coloque o preparado de cola em garrafa péti ou balde ou pote de sorvete de 2 litros ou qualquer outro recipiente fácil de transportar. O que vale é reaproveitar coisas que você já tenha em casa e que sejam reutilizáveis.

Aí é só botar bastante cola em todas as superfícies. No verso do papel e na superfície onde você vai colar e, depois de aplicado, é bom passar a brocha, rolinho ou esponja por cima do cartaz também. O cartaz fica realmente todo lambido de cola e água. Tem que ficar bem grudadinho.

Leve sempre um pano pra umedecer com água e limpar o excesso de cola do entorno, e eventualmente limpar o chão onde a cola respinga. Esse é um jeito também de evitar sujeira desnecessária.

Ilustração. Vista lateral de um menino em pé e de corpo todo. Ele tem cabelos castanhos, veste camiseta verde, calça cinza e sapatos marrons. Na mão esquerda, estendida para baixo segura um tapete rosa-escuro enrolado. Ele olha para cima, onde há uma placa amarela no alto de um posto. Na placa, em preto, a silhueta de uma pessoa caminhando da direita para a esquerda.

Espalhe por aí

Fotografe, compartilhe nas redes sociais, fale sobre isso, convide seus amigos a lamber a cidade com você, estimule as pessoas a participar de fórma criativa em debates de relevância pública!

E divirta-se! Sempre.

Ilustração. Um garoto de cabelos castanhos, usando blusa de mangas compridas azul-clara, calça e sapatos rosas e mochila vermelha. Ele está com o braço direito flexionado com a palma da mão virada para cima e, no braço esquerdo, segura um celular rosa com a tela virada para ele. Em segundo plano, à esquerda, um poste cinza vertical, onde está fixado um cartaz em fundo vermelho com dois olhos em formato de corações e uma boca aberta.

GREENPEACE. Guia prático de como fazer lambe-lambes em sua cidade. 20 dezembro 2013. Disponível em: https://oeds.link/syyjvz. Acesso em: 20 maio 2022. (Fragmento adaptado).

Primeiras impressões

  1. Que conteúdo é próprio de um lambe-lambe?
  2. Onde os lambe-lambes são colados?
  3. Qual é a intenção de quem faz esse tipo de intervenção artística?

O texto em construção

  • Organize-se em dupla e converse com um ou uma colega sobre as questões a seguir. Elas foram pensadas especialmente para você perceber com que intencionalidades textos legais são citados no guia e para você refletir sobre questões da ética sobre a publicação de poemas nos espaços públicos.
  1. Identifiquem os diferentes textos legais citados e, se for o caso, os seus artigos. Eles são citados para explicar que direito e que possibilidades de tipificação como crime?
  2. Releiam: “A cidade é um espaço em disputa com ideias muitas vezes divergentes sobre a melhor fórma de atuar no espaço público. O ato de colar um lambe-lambe deve propiciar uma conversa saudável sobre qual modelo de cidade queremos, e de jeito nenhum gerar mais animosidade nessa disputa de ideias”.
    1. Vocês sabem o que significa a expressão “animosidade de ideias”? Com base no contexto em que ela foi usada, o que se pode inferir sobre seus sentidos?
    2. Nos espaços pelos quais vocês circulam, costumam aparecer em muros, postes e calçadas discursos que provocam a animosidade de ideias?
    3. Vocês avaliam que as intervenções poéticas que vimos neste capítulo – o poema em estêncil, do Coletivo Transverso, e o poema em lambe-lambe, de Dinho Fonseca – promovem pontos de vista interessantes para a disputa de ideias que circulam em muros, calçadas e postes de cidades? Vocês consideram que eles estão dentro do direito constitucional citado no Guia? Por quê?

Oficina de leitura e criação – Intervenção poética: poemas mudando sentidos de nossos caminhos

Você já tinha parado para pensar em como a cidade é um espaço de publicação e circulação de textos? Que tal experimentar intervir com poesia no entorno escolar?

Condições de produção

O quê?

Curadoria de poema; produção de um poema, com extensão de um a três versos, inspirado no texto escolhido; intervenção poética nos espaços públicos do entorno escolar, com publicação do poema produzido por estêncil ou lambe-lambe.

Para quem?

Para a própria turma, de fórma que ela possa:

  • conhecer mais poetas e poetisas e seus poemas e fazer curadoria de poema;
  • experimentar a autoria coletiva, na produção de poema breve que permita relações de sentido com o poema escolhido (intertextualidade);
  • planejar e fazer intervenção poética em espaços do entorno escolar, publicando os versos produzidos por estêncil ou por lambe-lambe.

Como fazer?

  1. Definindo o lugar e o modo de publicação
    1. Com o professor ou a professora, decidam quais locais são mais interessantes para vocês fazerem intervenções poéticas com versos.
    2. Analisem qual técnica é mais adequada: o uso de moldes e tinta lavável (publicação por estêncil) ou o uso de lambe-lambe.
    3. Analisem com quem será interessante conversar previamente sobre os sentidos da atividade e pedir apoio para isso.
    4. Que aspectos éticos e legais precisam ser observados? Revejam se as orientações do “Guia prático de como fazer lambe-lambes em sua cidade” poderão apoiar vocês nessa discussão.
    5. De quais recursos vocês precisarão? Vocês já possuem todos os conhecimentos necessários ou precisam consultar tutoriais?
    6. Como podem fazer a manutenção da intervenção, seja restaurando a impressão no caso da técnica do estêncil, seja substituindo os lambe-lambes quando já estiverem danificados?

Oficina de leitura e criação

  1. Conhecendo outros poetas e outras poetisas e fazendo a curadoria de um poema
    1. Reúna-se com mais três colegas e façam buscas em sites seguros, preferencialmente ligados a universidades e/ou instituições de cultura, sobre poetas e poetisas da literatura brasileira, de diferentes tempos. Se preferirem, poderão investigar uma destas nossas sugestões:

Bruna Beber

Paulo Leminski

Ferreira Gullar

Sérgio Vaz

Castro Alves

Carlos Drummond de Andrade

Adélia Prado

Elisa Lucinda

Manuel Bandeira

Cecília Meireles

Arnaldo Antunes

Manuel de Barros

Augusto dos Anjos

João Cabral de Melo Neto

Conceição Evaristo

Mel Duarte

Depois de selecionarem fontes confiáveis de pesquisa, façam leituras breves, procurando identificar:
  • quando e onde vive ou viveu a poetisa ou o poeta;
  • quais são os temas e os estilos de sua poesia;
  • um ou dois poemas de cada autor ou autora. Agora, é o momento de decidir, entre vocês, qual será o autor escolhido ou a autora escolhida. Depois de tomar contato com diferentes autores e autoras de poesia, discutam e negociem a escolha de um ou uma. Reflitam sobre as razões da escolha de vocês e façam anotações no caderno:
  • O que vale a pena indicar, de maneira resumida, sobre a biografia (a história de vida) do poeta ou da poetisa; sobre o tempo em que escreveu ou escreve sua poesia; sobre seu estilo, os temas que costuma abordar, suas preocupações poéticas?
  • O que desperta maior interesse na poesia desse ou dessa autor ou autora? Por quê?
  1. Façam novas investigações, procurando aprender mais sobre esse recorte definido por vocês.
  2. Releiam vários poemas do autor escolhido ou da autora escolhida, conversem sobre esses trabalhos e escolham um para reler e compreender com mais profundidade: analisem o ritmo e a sonoridade que o texto sugere; verifiquem se há ou não rimas, o uso da linguagem figurada (metáfora, comparação, assonância, aliteração etcétera.); identifiquem os efeitos que o texto causa e as imagens que ele sugere. Investiguem também o que pensam outros leitores desse poema, pesquisando vídeos em canais de literatura. Levantem informações sobre o livro (local, editora e, ano) no qual o poema foi publicado pela primeira vez.
Ilustração. Em uma rua, uma garota vista de costas está em pé e de frente para um muro em tons de amarelo e verde. Ela tem cabelos escuros com dois coques, usa blusa vermelha de mangas compridas com listras pretas verticais, calça marrom e sapatos vermelhos. Ela está com os braços esticados e cabeça para cima, colando cartaz azul sobre o muro. À esquerda, fixados na parede, há cinco cartazes com fundo bege e nomes de escritores em letras coloridas: Paulo Leminski, Mel Duarte, Arnaldo Antunes, Manuel Bandeira e Cecilia Meireles. Os cartazes aparecem um ao lado do outro. Ao fundo, silhueta de vários prédios em cinza. Na lateral direita, há um cachorro de pelos marrom-escuro olhando para a menina. Próximo a ele, um poste de iluminação pública.
Publiquem o poema escolhido em um painel na sala de aula, de modo que todos ou todas possam conhecer as escolhas feitas e o resultado seja a curadoria de poemas da turma. Procurem conversar com os outros grupos sobre as escolhas feitas por vocês e por eles.
  1. Criando o poema de vocês
    1. Releiam o poema escolhido e discutam:
      • O que esse poema nos diz?
      • Que verso e que palavras dentro dele expressam melhor aquilo que ele diz?
    1. Planejem o poema de vocês:
      • Que ideias, sensações e reflexões queremos causar em quem o lerá em um espaço público?
      • Vamos tratar de alguma questão contemporânea?
      • Que palavras usaremos do poema escolhido?
      • Com que outras as combinaremos para alcançar os efeitos de sentido que queremos?
      • Vamos usar a variedade culta ou teremos também palavras de outras variedades? Nesse caso, o que queremos expressar com isso?
      • Considerando a técnica de publicação escolhida pela turma e pelo ou pela professor ou professora – estêncil ou lambe-lambe –, vamos decidir quantos versos terá o poema (sugerimos entre um e três) e qual a quantidade de palavras em cada verso (sugerimos entre uma e cinco).
      • Como queremos distribuí-las na folha A3 (no caso do lambe-lambe) ou no pedaço de muro/poste/calçada/escada etcétera. que usaremos (no caso do estêncil)?
      • Que tipo de letra usaremos?
      • Que cores e com que intenções?
    1. Produzam o texto:
      • Considerem os critérios da ficha de apoio à produção e à avaliação de versos para intervenção poética.
      • Usem um editor de textos ou uma folha de rascunho e façam várias combinações, até alcançarem a que mais expressa as intencionalidades planejadas por vocês.
      • Busquem equilíbrio e intencionalidade na distribuição das palavras no espaço que terão.

Oficina de leitura e criação

  • Avaliem os resultados e peçam a opinião dô ou dá professor ou professora. Caso necessário, façam ajustes.
  • Se a opção da turma for pela utilização de estêncil, usem a folha impressa como orientador para a composição. Para a composição nos espaços em que farão a intervenção, vocês poderão usar moldes vazados prontos de letras, com tamanho aproximado ao que planejaram.
  • Se a opção for pela colagem de lambe-lambe, imprimam ou tomem as outras providências que acordaram.

4. Fazendo a intervenção Com base nas questões éticas e estéticas que discutiram, publiquem os versos e procurem dialogar com as pessoas que passarem e observarem os poemas, buscando saber o que elas acharam dessa mudança no caminho delas, o que pensam de haver poesia nos espaços públicos e por quê. Façam fotografias e divulguem as produções de vocês nas redes sociais de que fazem parte.

Avaliando

Ficha de apoio à produção e à avaliação da intervenção poética − poemas mudando os sentidos de nossos caminhos

O texto atendeu aos critérios de:

1. Adequação à proposta

Produzimos um poema que dialoga (intertextualidade) com o poema que escolhemos e com os efeitos de sentido que desejamos provocar nas pessoas que o lerem no caminho?

2. Atenção às características estudadas do gênero e ao trabalho de linguagem feito nele

O poema é breve, com verso(s) curto(s), adequado para ser lido por quem passa e para ser publicado por estêncil ou lambe-lambe?

3. Construção da coesão/coerência do texto (textualidade)

a) Trabalhamos palavras que permitem ao leitor que conhece o poema escolhido perceber a relação de sentidos que estamos propondo entre os textos?

b) A escolha de letras, cores e disposição das palavras na folha/espaço foi feita com intencionalidade, alcançou o resultado estético que vocês queriam?

4. Uso das normas e convenções da norma culta escrita e de outras variedades da Língua Portuguesa

A escolha de palavras (léxico) e a combinação entre elas foram feitas de acordo com a variedade que usaram?

5. Quanto à colaboração e à comunicação no grupo

a) Buscamos nos entender de modo respeitoso e interessado na aprendizagem colaborativa, nos ouvindo com interesse e abertura para a opinião do(a) outro(a)?

b) A produção representa um processo coletivo?


Conheça uma intervenção feita com a combinação de versos e grafite com base em um poema de Paulo Leminski.

Fotografia. Em primeiro plano, uma parede com azulejos azuis e vermelhos intercalados. Nela, há a ilustração de um homem visto da cintura para cima. Ele tem cabelos escuros longos e lisos, bigode e barba apenas no lado direito do rosto, pois, no lado esquerdo, ele está passando uma lâmina de barbear. Sua mão direita  está sobre o queixo. O homem está sem camiseta, tem pelos pretos pelo peito e nos braços. Usa óculos redondos e grandes. Na parte inferior direita, à frente do homem, há o desenho de uma pia. Na parede atrás dele, texto em preto: NA RUA SEM RESISTIR ME CHAMAM VOLTO A EXISTIR. Em segundo plano, outros espaços com cartazes e livros.
Múltiplo Leminski, Ecomuseu de Itaipu, junho de 2013. Grafite: Paulo Ito.

O que levo de aprendizagens deste capítulo

  1. Que mudanças você percebe que houve na relação que você tinha com a poesia? Por que acha que isso aconteceu?
  2. O que achou de ter conhecido alguns poemas da literatura brasileira? E de produzir poema em diálogo com ele para intervir em espaços de seu contexto escolar?
  3. O que avalia que pôde aprender e desenvolver com isso?
  4. Escreva um parágrafo em seu caderno, autoavaliando-se.
  5. Pretende colocar mais poesia em suas práticas de leitura?
  6. Que tal buscar um livro do autor ou da autora que escolheu e conhecer outros poemas dele ou dela?

Galeria

Uma pedra que não para de rolar na arte e na cultura

Você já sabe que o poema “No meio do caminho”, de Carlos Drummond de Andrade, provocou mudanças na fórma de fazer poesia, causou polêmica e se tornou muito conhecido na cultura e nas artes brasileiras.

Desde que foi lançado, muitos leitores o têm atualizado, inclusive, em processos de criação com outras artes e linguagens. Observe na tirinha a seguir como o cartunista inverte a perspectiva, tomando a pedra como personagem central e, assim, brincando com a relatividade dos pontos de vista. Analise também como a tirinha brinca com o peso que o poeminha teve na carreira do poeta: de Roche, nome da personagem pedra, brinca com o sobrenome do escritor e com palavras francesas: pierre (pedra) e roche (rocha).

Tirinha. Composta por três quadros, sem contornos. Hpa dois quadros menores na parte superior e, abaixo, um quadro maior. Apresenta como personagem, Pierre Drummond de Roche, uma pedra de cor cinza que possui duas pernas, olhos, nariz e boca bem pequenos. O outro personagem é um homem exageradamente alto e sem roupas. As cenas se passam em um local aberto com solo amarelado. 
Quadro 1 – Ao centro, a pedra em pé. Acima, texto-legenda: PIERRE DRUMMOND DE ROCHE. Abaixo, texto-legenda: ‘A PEDRA POETA’.
Quadro 2 –  A pedra caminha da esquerda para a direita e se depara com o homem nu deitado sobre o chão amarelado. Esse homem está posicionado na diagonal da cena e é visto de corpo todo. Acima, texto-legenda: NO MEIO DU CAMINHO TINHA UM SER HUMANO.
Quadro 3 – Em primeiro, vista parcial das pernas do homem nu. Em segundo plano, sobre o solo amarelo, a pedra caminhando para longe. Em terceiro plano, à esquerda, rocha de cor marrom. Texto-legenda: TINHA UM SER HUMANO NO MEIO DO CAMINHO.

ITURRUSGARAI, Adão. Folha de S.Paulo, Folhinha, 9 janeiro 2016.

Uma pedra na sua playlist: Drummond no rap

No rap nacional, artistas como Gabriel O Pensador, Criolo, Cesar MC, entre outros, tomaram o poema de Drummond como mote de criação para seus versos.

Que tal conhecer esse diálogo entre o rap e o poema e se colocar nele, por meio de uma playlist comentada?

Como fazer?

1. Combine palavras-chave e busque em canais seguros de música raps que estabelecem a intertextualidade com os versos de “No meio do caminho”.

  1. Ouça e escolha quais você quer na sua playlist comentada. Reflita sobre os motivos dessa escolha.
  2. Investigue mais sobre quem é ô á artista e qual sua importância no rap nacional.
  3. Analise os raps escolhidos:
    • Que palavras ou versos do poema de Drummond são citados?
    • Que outros sentidos essas palavras ou versos provocam no contexto do rap?
    • Que tema é assim colocado em discussão?
    • Que ponto de vista crítico é sugerido sobre esse tema?
    • Como são o beat e o flow: contribuem para expressar esse ponto de vista crítico?
  4. Com base nesse esquema, roteirize os seus comentários em sua galeria:

Saudação aos ouvintes (pense no público com o qual você quer compartilhar a playlist e use linguagem adequada para esse contexto).

Apresentação de si mesmo(a) e dos critérios que você usou na curadoria dos raps.

Comentário sobre o rap escolhido: Como ele recria os versos de Drummond? Que reflexões críticas provoca com isso?

Reprodução do rap escolhido.

Encerramento, mobilizando o público para conhecer mais outros poemas de Drummond e o rap.


  1. Ensaie bem seu comentário e, com apoio dô ou dá responsável ou do professor ou da professora, grave-o e salve-o em um editor de áudio.
  2. Intercale as partes gravadas com a reprodução dos raps escolhidos.
  3. Salve sua playlist em uma nuvem e, com apoio dô ou dá responsável, compartilhe-a pelas redes sociais.
Vinheta de seção. Contorno de um clipe.

Clipe

O que é rap?

Ligado à cultura do hip-hop, o rap (ritmo e poesia) é um estilo musical que nasceu nas culturas juvenis das periferias das grandes cidades. Os versos rimados são acompanhados de um beat (a batida instrumental), em melodia que valoriza a palavra poética e faz dela instrumento de reflexão sobre problemas histórico-sociais, como o racismo, a violência, a falta de direitos básicos.

LiTERatitudes

Biografia para um poema

Você achou estranho o título dessa seção? Isso é sinal de que aprendeu bem o que é o gênero biografia: relato sobre a história de vida de uma pessoa, destacando aspectos interessantes de suas realizações, estabelecendo relações com o momento histórico e com aspectos da cultura.

Para brincar com a ideia de que seu poema teve tanta importância, Carlos Drummond de Andrade organizou uma biografia para seu poema. Sobre isso, leia a resenha a seguir:

A biografia da pedra no meio do caminho

Carlos Drumôn de Andrade (1902-1987) costumava dizer que, se cometesse um crime, bastava sumir e reaparecer apenas dez anos depois, e então o crime estaria prescrito, mas que, em relação ao poema No Meio do Caminho, escrito em fins de 1924, podiam se passar 50 anos e ele nunca deixaria de ser julgado.

Tal noção o levou, ao longo de toda a vida, a recortar e guardar cada crítica, comentário e charge feitos sobre os versos “No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminhoreticências”, publicados na Revista de Antropofagia, em 1928, e dois anos depois incluídos em seu livro de estreia, Alguma Poesia.

O resultado desse esforço de compilação o poeta mineiro trouxe a público em 1967, ao lançar Uma Pedra no Meio do Caminho – Biografia de um Poema. Era uma resposta irônica às vésperas dos 40 anos daquela primeira publicação – com isso, o escritor devolvia aos leitores a leitura que eles haviam feito de seu trabalho.

O livro que o Instituto Moreira Salles lança hoje, no Rio, em homenagem aos 80 anos de Alguma Poesia, é uma edição ampliada da Biografia de Um Poema. O trabalho ficou a cargo do poeta Eucanaã Ferraz, que contou com a ajuda de Drummond para a nova edição – mesmo depois de publicar a biografia, o poeta continuou, talvez por costume, a arquivar a fortuna crítica relativa a No Meio do Caminho – e incluiu, ao final, uma “biografia da biografia”, com as resenhas sobre o título de 1967.

Fonte: COZER, Raquel. A biografia da pedra no meio do caminho. O Estado de S. Paulo, 24 novembro 2010. (Fragmento).

Capa de livro. Fundo em cinza-claro, com texto à esquerda em vermelho: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE. UMA PEDRA NO MEIO DO CAMINHO. BIOGRAFIA DE UM POEMA. EDIÇÃO AMPLIADA - EUCANAÃ FERRAZ. À direita, ilustração em preto e branco de um homem em pé, com o corpo para a esquerda. Ele tem cabelos escuros, usa óculos de grau e veste blusa de mangas compridas listrada e calça. Na mão esquerda, segura um guarda-chuva preto com a ponta virada para baixo.
Reedição do livro Uma pedra no meio do caminho: biografia de um poema.

Como você leu, a “biografia” organizada por Drumôn é, na verdade, uma curadoria de fontes que vão compondo a história da recepção do poema. Isto é: artigos, resenhas, charges, ensaios etcétera que trazem pontos de vista de leitores especializados e não especializados sobre o poema. O livro é, assim, uma fonte bem interessante para uma pesquisa do tipo “estado da arte” do poema.

Que tal experimentar com os ou as colegas o procedimento desse tipo de pesquisa, conhecendo e comparando perspectivas críticas sobre o poema “No meio do caminho”?

Pesquisa em foco

O estado da arte consiste em um tipo de pesquisa bibliográfica de caráter panorâmico, isto é, uma visão geral, com visão crítica e analítica no balanço do conhecimento sobre um tema, uma obra, um conceito etcétera.

Fotografia. Uma mulher de cabelos pretos crespos e curtos, vestindo blusa rosa e lenço rosa e branco sobre o pescoço. Ela está sentada diante de uma mesa com notebook, livros, cadernos e copo de café. Ela segura uma caneta com a mão direita e faz anotações, olhando para baixo.

Três perspectivas sobre “No meio do caminho”

Você participará de uma rotação por estações. Em cada uma delas, poderá apreciar criticamente um ponto de vista crítico sobre o poema de Drummond.

Organizando a interação dos grupos de trabalho

Em cada estação, vocês precisarão decidir quem será:

O mediador, isto é: ô á estudante que passará a palavra para os ou as demais, garantindo que todos ou todas falem.

O escriba, isto é: quem ficará responsável por resumir e registrar as conclusões a que o grupo chegou.

Além disso, cada um ou uma deve fazer, na Galeria, anotações pessoais, registrando o que considerar mais significativo na análise dos textos que serão objeto de análise e discussão, em cada estação.

As estações de aprendizagem

Estação 1: Charge

Ilustração em preto e branco. Na parte inferior esquerda, pedra grande com texto em preto: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE. Na parte inferior direita, ilustração de um homem em pé, com o corpo para a esquerda. Ele tem cabelos escuros, usa óculos de grau e veste blusa de mangas compridas listrada e calça. Na mão esquerda, segura um guarda-chuva preto com a ponta virada para baixo. 
Na parte superior central, dentro de uma forma horizontal, está escrito Mutatis mutandis.
Charge do cartunista Vagn, publicada no Jornal do Brasil, em 1969.

Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond de. Uma pedra no meio do caminho: biografia de um poema. edição revista e aum. Organização de Eucanaã Ferraz. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2010.

LiTERatitudes

Questões para a análise:

  1. Que ponto de vista a charge traz sobre o poema na época: O poema favoreceria ou não a trajetória do escritor?
  2. O que vocês observaram na charge para concluir isso?
  3. E o que consideram mais criativo nas escolhas que o cartunista fez para sugerir esse ponto de vista?

Estação 2: Fragmento de tese

No trecho a seguir, a pesquisadora cita e analisa trecho da obra organizada por Drummond: Biografia de um poema. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1967.

O poema possui elementos capazes de contrariar o ambiente de sua produção, porque utiliza uma temática entendida como imprópria para a poesia. Além disso, a repetição de versos em demasia era considerada um procedimento que empobrecia o poema. Esses elementos foram os responsáveis por causar justamente a quebra do horizonte de expectativas ao contrariar o gosto dos críticos da época, assim como reforçou os interesses dos que defendiam mais liberdade na escrita. Esta seção dedica-se a apresentar algumas das críticas negativas dirigidas ao poema e exemplificadoras da frustração das expectativas de seus leitores. Elas revelam as leituras caricatas ao poema, representificando esse passado por meio do entendimento dos críticos do poema e do humor causado. Cada nova crítica suscitaria outras mais, e falar do poema tornou-se um vício.

reticênciasHoje não se rima. Um cabra vai pela rua, tropeça por exemplo numa casca de banana, papagueia a coisa umas quatro ou cinco vêzes e pronto! Está feito um poema:

Eu tropecei agora numa casca de banana.

Numa casca de banana!

Numa casca de banana eu tropecei agora.

Caí para trás desamparadamente,

E rasguei os fundilhos das calças!

Numa casca de banana eu tropecei agora.

Numa casca de banana!

Eu tropecei agora numa casca de banana!

GONDIN DA FONSECA, “Contra-a-mão. Os nossos atuais gênios poéticos”. Correio da Manhã, Rio, 26-8-1938.

ANDRADE, Carlos Drumôn de. Uma pedra no meio do caminho: biografia de um poema. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1967. página 33.

Essa crítica, relacionada à monotonia e repetição dos versos, utiliza a paródia. Esse procedimento mostra o modo cômico e debochado com que o poema algumas vezes foi recebido. Pela simplicidade temática e repetição abundante dos mesmos versos, o poema foi interpretado como expressão máxima do que os modernistas representavam para parte da sociedade da época.

Fonte: TRINDADE, Rosimery Santos. Um pequeno experimento metacrítico: o poema da pedra de Carlos Drumôn de Andrade. 2012. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, púqui-Rio, Rio de Janeiro, 2012. Disponível em: https://oeds.link/dnYk8u. Acesso em: 15 abril 2022. (Fragmentos).

Questões para a análise:

  1. Que ponto de vista a pesquisadora reconstrói nesse fragmento:
    • A recepção favorável (daqueles que defendiam mais liberdade na escrita da poesia)?
    • A recepção favorável ao poema (daqueles que tinham outras expectativas e gostos sobre a poesia)?
  2. Qual texto a autora reproduz em seu estudo? Onde originalmente esse texto circulou?
  3. A reprodução desse texto confirma ou não a ideia que ela defendeu antes? Por quê?

Estação 3: Resenha

O Poeta, o Sentido e a Pedra

Não há leitor que desconheça esses versos. Escrito em 1967, “Uma Pedra no Meio do Caminho”, de Carlos Drumôn de Andrade, é um poema (até hoje) amado e odiado. Entre o enigma e a tautologia, é ao mesmo tempo descartado como lixo e cultivado como joia. O melhor poema do modernismo, o pior poema do modernismo.

Sem narrativa ou lirismo, seus 10 versinhos, muitos dos quais se repetem, formam uma estranha topologia. Não há por onde o sentido caminhar, preso a essa bendita pedra, ele freia e retorna sobre si mesmo.

As críticas, assim como os elogios, não foram poucas, nem tímidas. Drummond, no entanto, nunca respondeu a nenhum deles. Não se justificou, nem defendeu sua criação. Ele os colecionou em um livro: “Uma Pedra no Meio do Caminho – a biografia de um poema”.

Um tomo de quase 400 páginas se ergueu sobre os 10 versinhos.

Quem se aventura à leitura, porém, logo se cansa. As explicações, assim como o esculacho, tornam-se nauseantes. Os comentários se confundem e se empilham, um após o outro, após o outro, após o outroreticências até perderem o sentido. O resultado não é a soma das provas, é a surdez frente a tantos murmúrios. Ao fim, ficamos indiferentes às vaias (e aos elogios), que viraram barulho de fundo.

LiTERatitudes

Fechamos o livro. O que resta?

O poema.

Seus 10 versinhos, que os comentários não solucionam ou diluem. “Uma Pedra no Meio do Caminho” sobrevive à contradição e ao tempo, e é a ele que voltamos, e voltamos e voltamos, sem cessar.

Se Drummond, aliás, houvesse confrontado os insultos, mais um viria ao seu encontro. A cada prova de verdade que ele emitisse, haveria uma contraprova, e outra e outra. Ao invés de calar a disputa, ele haveria erguido um estandarte para ela se apoiar.

reticências

Não, ele não fez nada disso, pois os poetas sabem, contrariamente aos bastiões da verdade assegurada, que o discurso não caminha apenas em linha reta – por contradição ou retificação – ele faz curva.

reticências

Sim, a palavra poética é intransigente, ela resiste à toda demanda de prova ou explicação. E é essa resistência da poesia que nos mostra que a sociedade não se faz somente pelo o senso comum. Ela pode se fazer sobre a pedra.

GENESINI, Letícia. O poeta, o sentido e a pedra. Instituto da Psicanálise Lacaniana, 22 abril2021. Disponível em: https://oeds.link/yH7M8x. Acesso em: 17 abril 2022.

Questões para a análise:

  1. Que ponto de vista a resenhista traz sobre o conjunto de críticas favoráveis e desfavoráveis ao poema: elas são capazes de esgotar o poema?
  2. Na opinião dela, o que sobra da polêmica em torno do poema?
  3. O que você pensa sobre o ponto de vista defendido por ela? Por quê?

Sala de aula invertida: investigando a tradução do poema para outras línguas

Agora é com você: Usando palavras-chave, faça a busca de um artigo acadêmico que trate da tradução do poema “No meio do caminho” para outra ou outras língua ou línguas.

Leia-o. Sublinhe as informações que você considerar mais importantes e resuma em sua galeria. Anote a fonte completa pesquisada, de acordo com a ABNT.

Vinheta de seção. Contorno de um clipe.

Clipe

Como citar um artigo de acordo com a á bê eni tê:

Modelo de referência

ÚLTIMO NOME, Primeiro nome do autor do artigo. Título do artigo. Título da Revista, local de publicação, volume do exemplar, número do exemplar, página (página inicial e final do artigo), mês, ano de publicação. Disponível em: link. Acesso em: data de acesso.

Converse com a turma

Com base no que você aprendeu nas estações e na pesquisa que fez, discuta com os ou as colegas e ô á professor ou professora sobre o estado da arte na recepção do poema “No meio do caminho”:

  1. O que causou um grande número de críticas negativas?
  2. Como o autor se comportou diante das críticas?
  3. Qual o alcance do poema em outras línguas?
  4. Que desafios ele trouxe para os tradutores?
Ilustração. Um homem adulto e um grupo de crianças estão sentados em carteiras dispostas formando um círculo. Todos estão sorrindo e possuem caderno ou folhas sobre a mesa. Todos vestem uniforme em tons de azul.