Capítulo 11  Leituras de Dom Casmurro, romance, teledramaturgia e leitura expressiva em vídeo

Fotografia. Destaque para o busto de uma mulher vista de lado, mas com o rosto inclinado para a frente. Ela tem cabelos castanhos penteados para cima, nariz afilado, lábios grossos um pouco aberto, mostrando os dentes, e olhos castanhos-esverdeados. A mulher usa brincos e colar dourados e arredondados e blusa rosa. Ao fundo, parede marrom.
A atriz Letícia Persiles, interpretando a personagem Capitu, da minissérie de mesmo nome, inspirada no romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, com direção de Luiz Fernando Carvalho e exibida em 2008.
Vinheta de seção. Contorno de um clipe.

Clipe

Ressaca é o movimento de queda e recuo das ondas, quando o mar está muito agitado.

Fotografia. Destaque para as ondas do mar se quebrando. O mar está com tons bem escuros de verde e branco na parte das ondas. Ao fundo, céu escuro e morros.
Ressaca na Praia do Diabo vista do Arpoador na cidade do Rio de Janeiro, em 2010.

Quem é?

Pintura. Busto de um homem de cabelos, barba e bigode grisalhos. Ele usa óculos de grau e veste camisa branca, gravata cinza e terno preto. O homem está com a cabeça inclinada para a direita.
O Autor em 1896

Joaquim Maria Machado de Assis (Rio de Janeiro, 1839-1908) foi criado no morro do Livramento e era negro, neto de escravos alforriados. Não frequentou regularmente a escola, mas foi autodidata. Aos 16 anos, empregou-se como aprendiz numa tipografia e publicou os primeiros versos. Seu método foi se aperfeiçoando a ponto de ser considerado o maior escritor brasileiro, tendo escrito contos, poemas, romances, crônicas, peças teatrais. Assumiu diversos cargos públicos, ascendendo socialmente e sendo reconhecido por sua literatura inovadora.

Leitura 1

Você acompanhará a leitura do trecho do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, e a canção “Capitu”, de Luiz Tatit. Preste atenção nas sensações que os textos causam em você e procure estabelecer relações entre eles e a fotografia de Capitu, personagem da minissérie.

Dom Casmurro (publicado em 1889) tem um narrador em primeira pessoa, Bento Santiago. Nessa passagem, ele relembra o momento em que, adolescente, contempla os olhos da também adolescente Capitu. Eles são vizinhos e estão vivenciando a descoberta do amor. A personagem José Dias buscava atrapalhar um possível namoro, atribuindo à moça um olhar de “cigana oblíqua e dissimulada”. Já o rapaz experimenta emoções e sensações que depois serão narradas por ele, já adulto.

Texto 1

Capítulo trinta e dois

Olhos de ressaca

Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, olhos de cigana oblíqua e dissimulada. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra ideia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que...

Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma fôrça que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca.

reticências

ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Disponível em: https://oeds.link/wGmvMA. Acesso em: 18 agosto. 2022.

Quem é?

Fotografia. Homem visto da cintura para cima. Ele tem nariz largo e comprido, lábios grossos e cabelos e barba grisalhos; seu cabelo é na altura do ombro e encaracolado. Usa óculos de grau e veste camiseta vermelha e casaco preto. No ombro direito, há uma alça de bolsa marrom. O homem olha para frente, sorrindo. Ao fundo, estante com livros.
O autor, em São Paulo, em 2017.

Luiz Augusto de Moraes Tatit (São Paulo, 1951-). Compositor, cantor, violonista, professor universitário, semioticista.

A canção seguinte foi composta por Luiz Tatit, no final dos anos 1990. Em entrevista, ele contou que começou a composição pela música; depois, ao trabalhar os versos para a melodia, encontrou a relação de sons e sentidos entre “www” e “hábil, hábil, hábil”. Só na continuidade do processo de criação dos demais versos o autor acabou estabelecendo relações com a personagem de Machado de Assis. Leia e busque ouvir a canção, estabelecendo relações entre os versos, o ritmo e a melodia.

Texto 2

Capitu

De um lado

Vem você

Com seu jeitinho

Hábil, hábil, hábil

E pronto!

Me conquista

Com seu dom

De outro

Esse seu site

Petulante

WWW

Ponto

Poderosa

Ponto com

É esse o seu

Modo de ser ambíguo

Sábio, sábio

E todo encanto

Canto, canto

Raposa e sereia

Da terra e do mar

Na tela e no ar

Você é virtualmente

Amada amante

Você real é ainda

Mais tocante

Não há quem não se encante

Um método de agir

Que é tão astuto

Com jeitinho

Alcança tudo,

Tudo, tudo

É só se entregar

É não resistir

É capitular

Capitu

A ressaca dos mares

A sereia do sul

Captando os olhares

Nosso totem tabu

A mulher em milhares

Capitu

No site

O seu poder

Provoca o ócio, o ócio

Um passo para o vício

Vício, vício

É só navegar

É só te seguir

E então naufragar

Capitu

Feminino com arte

A traição atraente

Um capítulo à parte

Quase vírus ardente

Imperando no site

Capitu

TATIT, Luiz. Disponível em: https://oeds.link/PkJag4 Acesso em: 18 agosto. 2022.

Vale a pena ver!

“[...] A ideia do projeto ‘ToTatiando’ é colocar uma lente de aumento no aspecto que pode ser mais teatral da obra de Luiz Tatit, obviamente através de suas canções, porém usando esse viés teatral, contando uma história e degustando cada canção como se fosse um esquete. Para cada canção, um personagem, com seus adereços e recursos próprios. Tatit acredita e defende que a canção vem da voz falada, de nossas entonações cotidianas e compõe pensando nisso. [...]”

Disponível em: https://oeds.link/KbxlrW. Acesso em: 17 agosto 2022.

Se você se interessou em conhecer esses trânsitos entre canção, literatura e teatro, procure na internet, combinando as palavras-chave vídeos + totatiando.

Cartaz. Ao centro, uma mulher vista dos joelhos para cima. Ela tem cabelos pretos penteados para o lado, nariz e lábios finos; veste camisa branca, casaco e calça marrom. Ela está com o tronco levemente virado para a direita e a mão esquerda na cintura, olhando para cima. Ao fundo, local com parede em marrom-claro e parte superior em marrom-escuro. Sobre a foto, texto em branco: Zélia Duncan Totatiando.
Cartaz de divulgação do projeto.

Converse com a turma

  1. O que você já sabe sobre Machado de Assis? Já leu algum texto dele ou assistiu a algum filme ou peça baseado em algum de seus textos?
  2. O que José Dias quis sugerir sobre Capitu ao lhe atribuir “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”?
  3. Como você relaciona a metáfora olhos de ressaca com o que sentiu o narrador ao contemplar os olhos de Capitu?
  4. Observe o enquadramento usado na fotografia da atriz Letícia Persiles, na abertura do capítulo: o que o fotógrafo escolheu mostrar, em que ângulo posicionou a câmera e de que altura fez isso?
    • De que modo as escolhas do fotógrafo, associadas à expressão corporal da atriz, contribuem para criar relações de sentido com a personagem do romance?
  5. Que palavras são usadas para referenciar Capitu ao longo dos versos da canção?
    1. É fácil definir a Capitu da canção com base nessas referências? Que diferentes imagens de Capitu podemos ter se seguirmos essas sugestões?
    2. Qual delas estabelece mais diretamente relação com a personagem do romance?
  6. O que você acha de conhecer mais o romance de Machado de Assis e um pouco mais o trabalho de teledramaturgia feito em diálogo com ele na minissérie?

O que você poderá aprender

  1. Como se preparar para a experiência de ler um romance, isto é, uma narrativa mais longa, cujo enredo envolve personagens mais complexas nas ações, emoções, reflexões?
  2. O que é cenografia? Como ela pode agregar efeitos de sentido na encenação de um texto, seja para o teatro, seja para a televisão?
  3. Como poderá compartilhar com outros(as) estudantes sua experiência de leitura com o romance Dom Casmurro, de Machado de Assis?
  4. Como poderá se valer dessas aprendizagens para produzir um vídeo com leitura de trecho do romance?

Leitura 2

Você vai ler outros trechos do romance e conversar a respeito deles com os ou as colegas e Para que essa troca seja bem qualificada, prepare-se antes, em estratégia de sala de aula invertida, buscando, em fontes da internet, uma visão geral sobre o enredo e sobre as personagens.

Como fazer?

  1. Consulte canais de booktubers, blogueiras e blogueiros, comunidades de leitores literários, videoaulas etcétera e assista, ouça ou leia resenhas do livro. Faça anotações e esquemas em seu caderno sobre o romance Dom Casmurro. Anote também as fontes que você usou. Oriente-se por esses recortes e também faça outros de seu interesse, na medida em que você for se apropriando do tema:
    1. Qual é o enredo básico do romance? Que história é contada?
    2. Quais são as particularidades do narrador: por que ele resolve contar sua história? Em que momento da vida está? Por que ganhou o apelido de Dom Casmurro?
    3. Quem são as personagens do romance, além dos protagonistas, Bento (também chamado de Bentinho, quando adolescente, e apelidado de Casmurro, quando adulto), Capitu (diminutivo de seu nome Capitolina) e o agregado José Dias? Sobre este último, você já pode suspeitar quanto é bem intrometido e influente na vida de Bentinho, não é mesmo?
    1. Participe da roda de conversa que o(a) professor(a) promoverá e veja se as pesquisas dos(as) colegas podem ampliar a sua, assim como se a sua pode trazer acréscimos às deles(as). Ouça com interesse, faça perguntas. Atualize seus registros, acrescentando o que aprender com as trocas na roda.

Entrando na narrativa

No trecho que você lerá a seguir, com autonomia, Bentinho, já sabendo que a mãe pretende mandá-lo a um seminário, atravessa uma porta no muro que há entre sua casa e a casa “da gente do Pádua”. Ele surpreende Capitu em ação que pode ser interpretada como declaração de sentimentos... No momento dessa descoberta, os adolescentes também são pegos de surpresa pelo pai de Capitu, o Senhor Pádua. Leia com especial atenção o trabalho de narração que é feito e como ele cria a sensação de que os acontecimentos estão “vivos” na memória de Bento já adulto, anos depois.

Capítulo treze

Capitu

reticências

— Capitu!

— Mamãe!

— Deixa de estar esburacando o muro; vem cá.

A voz da mãe era agora mais perto, como se viesse já da porta dos fundos. Quis passar ao quintal, mas as pernas, há pouco tão andarilhasglossário , pareciam agora presas ao chão. Afinal fiz um esforço, empurrei a porta, e entrei. Capitu estava ao pé do muro fronteiro, voltada para ele, riscando com um prego. O rumor da porta fê-la olhar para trás; ao dar comigo, encostou-se ao muro, como se quisesse esconder alguma cousa. Caminhei para ela; naturalmente levava o gesto mudado, porque ela veio a mim, e perguntou-me inquieta:

— Que é que você tem?

— Eu? Nada.

— Nada, não; você tem alguma coisa.

Quis insistir que nada, mas não achei língua. Todo eu era olhos e coração, um coração que desta vez ia sair, com certeza, pela boca afora. Não podia tirar os olhos daquela criatura de quatorze anos, alta, forte e cheia, apertada em um vestido de chitaglossário , meio desbotado. Os cabelos grossos, feitos em duas tranças, com as pontas atadas uma à outra, à moda do tempo, desciam-lhe pelas costas. Morena, olhos claros e grandes, nariz reto e comprido, tinha a boca fina e o queixo largo. As mãos, a despeito de alguns ofíciosglossário rudesglossário , eram curadas com amor; não cheiravam a sabões finos nem águas de toucadorglossário , mas com água do poço e sabão comum trazia-as sem máculaglossário . Calçava sapatos de duraqueglossário , rasos e velhos, a que ela mesma dera alguns pontos.

— Que é que você tem? Repetiu.

— Não é nada, balbucieiglossário finalmente.

E emendei logo:

— É uma notícia.

— Notícia de quê?

Pensei em dizer-lhe que ia entrar para o seminárioglossário e espreitarglossário a impressão que lhe faria. Se a consternasseglossário é que realmente gostava de mim; se não, é que não gostava. Mas todo esse cálculo foi obscuro e rápido; senti que não poderia falar claramente, tinha agora a vista não sei como...

— Você sabe...

— Você sabe.

Nisto olhei para o muro, o lugar em que ela estivera riscando, escrevendo ou esburacando, como dissera a mãe. Vi uns riscos abertos, e lembrou-me o gesto que ela fizera para cobri-los. Então quis vê-los de perto, e dei um passo. Capitu agarrou-me, mas, ou por temer que eu acabasse fugindo, ou por negar de outra maneira, correu adiante e apagou o escrito. Foi o mesmo que acender em mim o desejo de ler o que era.

Capítulo catorze

A inscrição

Tudo o que contei no fim do outro capítulo foi obra de um instante. O que se lhe seguiu foi ainda mais rápido. Dei um pulo, e antes que ela raspasse o muro, li estes dois nomes, abertos ao prego, e assim dispostos:

BENTO CAPITOLINA

Voltei-me para ela; Capitu tinha os olhos no chão. Ergueu-os logo, devagar, e ficamos a olhar um para o outro... Confissão de crianças, tu valias bem duas ou três páginas, mas quero ser poupado. Em verdade, não falamos nada; o muro falou por nós. Não nos movemos, as mãos é que se estenderam pouco a pouco, todas quatro, pegando-se, apertando-se, fundindo-se. reticências

Capítulo quinze

Outra voz repentina

Outra voz repentina, mas desta vez uma voz de homem:

— Vocês estão jogando o siso?

Era o pai de Capitu, que estava à porta dos fundos, ao pé da mulher. Soltamos as mãos depressa, e ficamos atrapalhados. Capitu foi ao muro, e, com o prego, disfarçadamente, apagou os nossos nomes escritos.

— Capitu!

— Papai!

— Não me estragues o rebocoglossário do muro.

Capitu riscava sobre o riscado, para apagar bem o escrito. Pádua saiu ao quintal, a ver o que era, mas já a filha tinha começado outra cousa, um perfil, que disse ser o retrato dele, e tanto podia ser dele como da mãe; fê-lo rir, era o essencialglossário . De resto, ele chegou sem cóleraglossário , todo meigo, apesar do gesto duvidoso ou menos que duvidoso em que nos apanhou. Era um homem baixo e grosso, pernas e braços curtos, costas abauladasglossário , donde lhe veio a alcunhaglossário de Tartaruga, que José Dias lhe pôs. Ninguém lhe chamava assim lá em casa; era só o agregadoglossário .

— Vocês estavam jogando o siso? Perguntou.

Olhei para um pé de sabugueiroglossário que ficava perto; Capitu respondeu por ambos.

— Estávamos, sim, senhor, mas Bentinho ri logo, não aguenta.

— Quando eu cheguei à porta, não ria.

— Já tinha rido das outras vezes; não pode. Papai quer ver?

E séria, fitou em mim os olhos, convidando-me ao jogo. O susto é naturalmente sério; eu estava ainda sob a ação do que trouxe a entrada de Pádua, e não fui capaz de rir, por mais que devesse fazê-lo, para legitimarglossário a resposta de Capitu. Esta, cansada de esperar, desviou o rosto, dizendo que eu não ria daquela vez por estar ao pé do pai. E nem assim ri. Há coisas que só se aprendem tarde; é misterglossário nascer com elas para fazê-las cedo. E melhor é naturalmente cedo que artificialmente tarde. Capitu, após duas voltas, foi ter com a mãe, que continuava à porta da casa, deixando-nos a mim e ao pai encantados dela reticências

ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Disponível em: https://oeds.link/UsF95U. Acesso em: 18 abril 2022.

Primeiras impressões

  1. Além de descrever aspectos físicos de Capitu, o que mais o narrador destaca e que permite inferir as condições sociais e econômicas da menina?
    • Ao destacar esses aspectos, o que o narrador também revela de si mesmo?
  2. Como Bentinho descobriu os sentimentos de Capitu?
  3. Você já brincou de jogo do siso? Em caso afirmativo, quais são as regras? Em caso negativo, o que infere sobre esse jogo com base nos acontecimentos narrados e na fala de Capitu?
    • Com que intencionalidade Capitu disse ao pai que ela e Bentinho estavam jogando o siso?
  4. Por que possivelmente Bentinho não conseguiu entrar no jogo de improviso com Capitu?

O texto em construção

Organize-se duplas, discutam e resolvam as questões a seguir. Escutem-se com respeito e interesse em aprenderem juntos.

1. Leia no boxe lateral a definição de metonímia.

A metonímia consiste em usar uma palavra no lugar de outra, no contexto de uso e em relações de sentido, como:

  • usar a parte para sugerir o todo. Exemplo em uma conversa entre criadores de gado: – Comprei cem cabeças [de gado].
  • usar a matéria no lugar do objeto. Uma observação sobre uma celebridade: ela usa muito ouro [muitas joias].
  • usar o(a) autor(a) no lugar de sua obra: Estou lendo Machado de Assis [um livro escrito por Machado de Assis].

2. Explique de que modo o uso da metonímia favorece a expressão de como Bentinho estava se sentindo nessa passagem:

“Quis insistir que nada, mas não achei língua. Todo eu era olhos e coração

3. Relembre o conceito de personificação.

Personificação ou prosopopeia é uma figura de linguagem em que se atribuem características, ações e sentimentos humanos a seres inanimados ou a animais.

Como você interpreta esta personificação: “Em verdade, não falamos nada; o muro falou por nós”?

No teatro, na televisão e no cinema, a cenografia é o trabalho de caracterização dos espaços em que as personagens agem, os quais, por sua vez, precisam estar em sintonia com o todo do enredo. Em geral, especialmente no teatro, é um desafio representar diferentes espaços e o cenógrafo faz isso metaforicamente, valendo-se de recursos de diferentes linguagens (desenhos, objetos, jogo de luz e sombra) para que o espectador imagine a transição entre diferentes espaços.

Vinheta de seção. Contorno de um clipe.

Clipe

Cenografia e Arte

Capitu foi toda filmada em um único espaço – um grande salão na séde do Automóvel Club do Brasil, no centro do Rio de Janeiro –, transformado para representar os diferentes cantos da memória de Dom Casmurro. Os ambientes se multiplicaram através da cenografia, da luz e do olhar da câmera. reticências

O chão do salão foi pintado de preto, como uma lousa das salas de aula das escolas. O quintal e o muro que separa as casas dos dois vizinhos foram desenhados no chão, em giz. reticências

Disponível em: https://oeds.link/YL2PLd. Acesso em: 17 ago. 2022.

Cena de minissérie. Vista do alto de um chão marrom onde um homem e uma mulher estão deitados. No chão, há desenhos feitos com giz/tinta branca. No alto da cena, desenhos de árvores. No centro à direita, desenho de um muro baixo com uma porteira aberta. O homem e a mulher estão deitados sobre o desenho do muro, mas cada um de um lado da porteira. Ambos estão com os braços esticados um na direção do outro.
O homem está à esquerda da cena e tem cabelos castanhos encaracolados; veste blusa de mangas compridas, calça e sapatos brancos e colete cinza. A mulher está à direita e tem cabelos castanhos encaracolados e usa um vestido amarelo. Ela olha  para o alto sorrindo.
Cena da minissérie Capitu, inspirada no romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, com direção de Luiz Fernando Carvalho, exibida em 2008.

Oficina de leitura e criação – Novas casmurrices – produção de vídeos com leituras do romance de Machado de Assis

Condições de produção

O quê?

Ler o romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, e fazer a curadoria de trecho para a produção de vídeo com leitura expressiva.

Para quem?

Para a própria turma, que vai poder:

  • ler com autonomia o romance;
  • conversar sobre a leitura;
  • experimentar a curadoria coletiva, com escolha de trecho, análise de seus efeitos de sentido, planejamento e produção de leitura expressiva em vídeo;
  • publicar e/ou circular os vídeos, mobilizando outros leitores.

Vale a pena ver!

Em 2008, a agência Livead, de Porto Alegre, criou o projeto Mil-Casmurros, que reuniu, em vídeo, a leitura de mil partes de um dos romances brasileiros mais importantes de todos os tempos – Dom Casmurro.

É possível encontrar vídeos dos capítulos na internet, combinando no navegador as palavras: projeto mil + casmurros. Procure assistir para aprimorar o trabalho que será realizado na oficina.

Como fazer?

  1. Definindo o contexto de produção  Com a mediação do(a) professor(a), discutam e decidam:
    1. Quanto tempo é necessário para a leitura, de modo que todos(as) possam ler individualmente o romance, antes da etapa de produção do vídeo? Combinem um cronograma.
    2. Como vocês publicarão ou circularão os vídeos: a escola já tem um canal de vídeo na internet?
    3. Vão criar um canal especialmente para essa atividade? Quem ficaria responsável pela administração dele?
    4. Que cuidados é preciso ter em relação à publicação de vídeos na internet?
  1. Sobre a publicação de produções de vocês na internet, o que seria importante conversar e garantir das famílias de vocês e da gestão escolar?
  2. Que outras fórmas poderiam ser interessantes para a publicação/circulação dos vídeos?
  1. Realizando a leitura
    1. Para ler, você tanto poderá providenciar o livro impresso, fazendo empréstimo em bibliotecas públicas, como poderá ler a versão digital do romance no computador, tablet etcétera, que pode ser encontrada em sites de instituições que se dedicam à divulgação dos textos do autor, que já estão em domínio público.
Vinheta de seção. Contorno de um clipe.

Clipe

No Brasil, a proteção aos direitos autorais perdura por setenta anos após o falecimento do autor, contados a partir do primeiro dia do ano seguinte ao da morte do autor. Por exemplo: Machado de Assis morreu em 1908; então, a partir de 1o de janeiro de 1979 suas obras entraram em domínio público, podendo ser produzidas e divulgadas comercialmente, sem que se destine parcela de direito autoral a seus herdeiros.

No site https://oeds.link/TW4yKu (acesso em: 4 maio 2022), é possível encontrar o livro Dom Casmurro.

  1. Você já sabe que, muito mais importante que saber como vai acabar a história de um amor adolescente que se transformou em um casamento adulto marcado pelo ciúme, o bom mesmo, para curtir literatura, é acompanhar como essa história é contada, percebendo os truques do narrador para mexer com nossas sensações, emoções, reflexões. Por isso, durante a leitura, fique atento às orientações a seguir.
    • Procure prestar atenção em como o narrador vai compondo a história, o que ele escolhe contar, o que apenas sugere e deixa implícito, o trabalho de linguagem que faz para isso, observando especialmente as figuras de linguagem, e reflita sobre as intencionalidades: o que ele quer causar no leitor?
    • Observe o momento em que o narrador escolhe dar voz direta às personagens e como esses diálogos agregam sentidos ao que está sendo narrado.
    • Se houver palavras que você desconheça, procure inferir os sentidos e consultar um dicionário para conhecer outros sentidos possíveis e avaliar se fez boas inferências.
    • Reflita sobre aspectos da cultura do contexto de produção do romance: que costumes, ações, atitudes, pontos de vista estão no texto e são muito diferentes de hoje? E quais ainda são contemporâneos? O que você pensa sobre isso?
    • Vá anotando as sensações, as impressões e os sentimentos que você tem no decorrer da leitura e por que razões.
    • Procure conversar com outros ou outras colegas sobre o que estão achando da leitura, troquem suas impressões, opiniões, análises.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

Locutor: Trechos de Dom Casmurro, de Machado de Assis

Locutor: Machado de Assis nasceu em 1839 na cidade do Rio de Janeiro, onde também faleceu, em 1908. Primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, iniciou sua vida pública como jornalista. Ao longo da carreira, publicou críticas teatrais, poemas, textos indianistas e parnasianos, contos e romances românticos. Dentre os mais conhecidos e aclamados, estão Memórias Póstumas de Brás Cubas, publicado em 1891, e Dom Casmurro, publicado em 1899.

A seguir, você ouvirá, desta última obra, trechos dos capítulos “Olhos de ressaca”, “O penteado” e “Sou homem”.

[trilha sonora]

Voz masculina 1: “Tinham-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra ideia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que...

Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me a outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros; mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me.

[efeito sonoro de relógio – tic tac]

Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios. Há de dobrar o gozo aos bem-aventurados do céu conhecer a soma dos tormentos que já terão padecido no inferno os seus inimigos; assim também a quantidade das delícias que terão gozado no céu os seus desafetos aumentará as dores aos condenados do inferno. [...]

[efeito sonoro de relógio – badaladas de carrilhão]

[...] ao cabo de um tempo não marcado, agarrei-me definitivamente aos cabelos de Capitu, mas então com as mãos, e disse-lhe, — para dizer alguma coisa, — que era capaz de os pentear, se quisesse.

Voz feminina 1: — Você?

Voz masculina 2: — Eu mesmo.

Voz feminina 1: — Vai embaraçar-me o cabelo todo, isso sim.

Voz masculina 2: — Se embaraçar, você desembaraça depois.

Voz feminina 1: — Vamos ver.

[trilha sonora]

Voz masculina 1: Capitu deu-me as costas, voltando-se para o espelhinho. Peguei-lhe dos cabelos, colhi-os todos e entrei a alisá-los com o pente, desde a testa até as últimas pontas, que lhe desciam à cintura. Em pé não dava jeito: não esquecestes que ela era um nadinha mais alta que eu, mas ainda que fosse da mesma altura. Pedi-lhe que se sentasse.

[efeito sonoro de cadeira arrastando]

Voz masculina 2: — Senta aqui, é melhor.

Voz masculina 1: Sentou-se. “Vamos ver o grande cabeleireiro”, disse-me rindo. Continuei a alisar os cabelos, com muito cuidado, e dividi-os em duas porções iguais, para compor as duas tranças. Não as fiz logo, nem assim depressa, como podem supor os cabeleireiros de ofício, mas devagar, devagarinho, saboreando pelo tato aqueles fios grossos, que eram parte dela. O trabalho era atrapalhado, às vezes por desazo, outras de propósito para desfazer o feito e refazê-lo. Os dedos roçavam na nuca da pequena ou nas espáduas vestidas de chita, e a sensação era um deleite.

Mas, enfim, os cabelos iam acabando, por mais que eu os quisesse intermináveis. Não pedi ao céu que eles fossem tão longos como os da Aurora, porque não conhecia ainda esta divindade que os velhos poetas me apresentaram depois; mas, desejei penteá-los por todos os séculos dos séculos, tecer duas tranças que pudessem envolver o infinito por um número inominável de vezes. Se isto vos parecer enfático, desgraçado leitor, é que nunca penteastes uma pequena, nunca pusestes as mãos adolescentes na jovem cabeça de uma ninfa...

[...]

Enfim, acabei as duas tranças. Onde estava a fita para atar-lhes as pontas?

Em cima da mesa, um triste pedaço de fita enxovalhada. Juntei as pontas das tranças, uni-as por um laço, retoquei a obra alargando aqui, achatando ali, até que exclamei:

Voz masculina 2: — Pronto!

Voz feminina 1: — Estará bom?

Voz masculina 2: — Veja no espelho.

Voz masculina 1: Em vez de ir ao espelho, que pensais que fez Capitu? Não vos esqueçais que estava sentada, de costas para mim. Capitu derreou a cabeça, a tal ponto que me foi preciso acudir com as mãos e ampará-la; o espaldar da cadeira era baixo.

Inclinei-me depois sobre ela, rosto a rosto, mas trocados, os olhos de um na linha da boca do outro. Pedi-lhe que levantasse a cabeça, podia ficar tonta, machucar o pescoço. Cheguei a dizer-lhe que estava feia; mas nem esta razão a moveu.

Voz masculina 1: — Levanta, Capitu!

Voz masculina 2: Não quis, não levantou a cabeça, e ficamos assim a olhar um para o outro, até que ela abrochou os lábios, eu desci os meus, e...

[efeito sonoro de coração batendo]

Grande foi a sensação do beijo; Capitu ergueu-se, rápida, eu recuei até à parede com uma espécie de vertigem, sem fala, os olhos escuros. Quando eles me clarearam, vi que Capitu tinha os seus no chão. Não me atrevi a dizer nada; ainda que quisesse, faltava-me língua. Preso, atordoado, não achava gesto nem ímpeto que me descolasse da parede e me atirasse a ela com mil palavras cálidas e mimosas... Não mofes dos meus quinze anos, leitor precoce. [...]

[efeito sonoro de passos]

Voz masculina 1: Ouvimos passos no corredor; era D. Fortunata. Capitu compôs-se depressa, tão depressa que, quando a mãe apontou à porta, ela abanava a cabeça e ria. Nenhum laivo amarelo, nenhuma contração de acanhamento, um riso espontâneo e claro, que ela explicou por estas palavras alegres:

Voz feminina 1: — Mamãe, olhe como este senhor cabeleireiro me penteou; pediu-me para acabar o penteado, e fez isto. Veja que tranças!    

Voz feminina 2: — Que tem? [...] Está muito bem, ninguém dirá que é de pessoa que não sabe pentear.

Voz feminina 1: — O que, mamãe? Isto? [...] Ora, mamãe!

[trilha sonora]

Voz masculina 1: E com um enfadamento gracioso e voluntário que às vezes tinha, pegou do pente e alisou os cabelos para renovar o penteado. D. Fortunata chamou-lhe tonta, e disse-me que não fizesse caso, não era nada, maluquices da filha. Olhava com ternura para mim e para ela. Depois, parece-me que desconfiou. Vendo-me calado, enfiado, cosido à parede, achou talvez que houvera entre nós algo mais que penteado, e sorriu por dissimulação...    

Como eu quisesse falar também para disfarçar o meu estado, chamei algumas palavras cá de dentro, e elas acudiram de pronto, mas de atropelo, e encheram-me a boca sem poder sair nenhuma. O beijo de Capitu fechava-me os lábios. Uma exclamação, um simples artigo, por mais que investissem com força, não logravam romper de dentro. E todas as palavras recolheram-se ao coração, murmurando: “Eis aqui um que não fará grande carreira no mundo, por menos que as emoções o dominem...”    

Assim, apanhados pela mãe, éramos dois e contrários, ela encobrindo com a palavra o que eu publicava pelo silêncio. D. Fortunata tirou-me daquela hesitação, dizendo que minha mãe me mandara chamar para a lição de latim; o Padre Cabral estava à minha espera. Era uma saída; despedi-me e enfiei pelo corredor. [...]”

[Efeito sonoro de pessoa correndo]

Locutor: Créditos: O trecho de Dom Casmurro, de Machado de Assis foi publicado em 1899 pela Editora Garnier. Todos os áudios deste conteudo são da Freesound e da Biblioteca Musical Petrucci.

Oficina de leitura e criação

  1. Constituindo um grupo de trabalho e planejando a produção do vídeo
    1. Reúna-se com mais dois ou duas colegas e conversem com base nas questões sugeridas a seguir e em outras que julgarem ser relevantes. É importante que nesse momento vocês estejam com o texto, seja na versão impressa, seja na versão digital.
    2. Quais passagens foram mais marcantes para cada um? Apoiando-se no sumário, retomem trechos curtos (até meia página), evitando os que já foram trabalhados no capítulo, para haver mais exploração do romance como um todo.
    3. Releiam entre vocês esses trechos e observem como eles são compostos: se há mais a voz do narrador, se há diálogos, o trabalho de linguagem feito, os efeitos de sentido.
    4. Entre os trechos relidos, negociem a escolha de um trecho para ser lido e gravado.
    5. Decidam os papéis de cada um no grupo:
      • Quem será o ator ou a atriz, fazendo uma leitura bem expressiva para ser gravada em vídeo?
      • Quem será o diretor ou a diretora, cuidando da cenografia, das orientações ao ou à ator/atriz e das orientações ao produtor ou à produtorade vídeo?
Ilustração. Vista de costas de um homem sentado sobre cadeira marrom, na qual está escrito DIRETOR. Ele apresenta o corpo inclinado para a esquerda, tem cabelos escuros liso, usa boina vermelha, blusa marrom de mangas compridas, calça e sapatos azuis. Na mão direita, segura um megafone vermelho e está com a boca aberta na direção dele.
  • Quem será o produtor de vídeo ou a produtora de vídeo, usando um smartphone para fazer a gravação, com enquadramentos interessantes, salvando, editando e publicando o vídeo?
  • Precisarão estudar, conhecer um pouco mais para realizar e assumir algum desses papéis? Onde poderão encontrar essas informações?
  1. Planejem e discutam a produção
    1. O que será preciso garantir na leitura do trecho? Que intencionalidade temos com essa leitura, o que queremos causar no espectador? Quais são a melhor entonação e o melhor ritmo para cada passagem? Que gestos e expressões pode acrescentar à sua leitura?
    2. Que espaço usaremos para a realização dessa leitura? Que características ele precisa ter? O que interessa usar como cenário, para agregar sentidos? Que móveis, objetos, cores, materiais poderão ser usados? Que papel a luz terá nesse espaço?
    3. Haverá uso de paisagem sonora? Com que intencionalidade?

Conceito criado pelo músico-educador canadense Múri Chêifer, a paisagem sonora é o nosso ambiente sonoro, o sempre presente conjunto de sons, agradáveis e desagradáveis, fortes e fracos, ouvidos ou ignorados, com os quais vivemos. Do zumbido das abelhas ao ruído da explosão, esse vasto compêndio, sempre em mutação, de cantos de pássaros, britadeiras, música de câmara, gritos, apitos de trem, buzinas de automóveis e barulho de chuva tem feito parte da existência humana por uma representação singular de determinados ambientes acústicos e, por consequência, pela impregnação de sentidos no lugar.

xáfer, mãrrei. A afinação do mundo. São Paulo: Editora da Unesp, 2011.

  1. Onde e como estará sentado ou sentada? Em que altura segurará o livro? Em que momentos será expressivo ele(a) olhar diretamente para a câmera?
  2. O que interessa a câmera mostrar em cada momento da leitura? Qual enquadramento, plano e ângulo serão mais adequados a cada um desses momentos?
  1. Ensaiando e produzindo uma primeira versão
    1. Com base nos combinados, ensaiem bastante, fazendo experimentações, reajustes, até alcançarem os resultados que pretendem atingir.
    2. Organizem a cenografia do espaço e gravem uma primeira versão, com especial atenção aos enquadramentos da câmera e seus efeitos de sentido.
    3. Salvem essa versão e assistam juntos, analisando, com o apoio dos critérios da tabela para a produção e avaliação do vídeo Novas casmurrices, como ficaram os resultados: O que já está bom? O que pode ser melhorado? Peçam também a avaliação
  2. Gravando a versão final e editando o vídeo
    • Gravem a versão final e salvem. Em um editor de vídeo, trabalhem inserção de créditos, paisagem sonora, se for o caso, entre outros aspectos que queiram editar.
  3. Publicando/circulando o vídeo e conversando sobre sua recepção
    1. Conforme o combinado, publiquem/circulem o vídeo.
    2. Procurem conhecer, com tempo e interesse, as produções dôs ou dásdemais colegas, analisando as escolhas que fizeram e os resultados que alcançaram.
    3. Conversem sobre as diferentes propostas e sobre o que, em conjunto, a turma conseguiu produzir.

Oficina de leitura e criação

Avaliando

Ficha de apoio à produção e à avaliação do vídeo Novas casmurrices

O texto atendeu aos critérios de:

1. Adequação à proposta

Produzi um vídeo que divulga leitura expressiva de trecho do romance, mobilizando outros leitores?

2. Quanto à leitura

A leitura é expressiva, com entonação, ritmo, pausas, coerentes com as sugestões de sentidos do texto e com as intencionalidades do que queria alcançar no espectador?

3. Quanto à produção do vídeo

a) Os recursos de cenografia como espaço, cenário, objetos, materiais, luz e sombra provocam o resultado esperado no espectador?

b) O uso da paisagem sonora, se for o caso, é coerente com os efeitos de sentido buscados?

c) Percebe-se intencionalidade nos enquadramentos feitos pela câmera?

4. Quanto à autoria coletiva

a) Li com autonomia e interesse o romance de Machado de Assis?

b) Negociei bem a escolha de um trecho para leitura expressiva, ouvindo os(as) colegas e apresentando argumentos para a decisão conjunta?

c) Busquei me apoiar nas ações que assumimos?

O que levo de aprendizagens deste capítulo

  1. Como foi a experiência de ler um romance de Machado de Assis?
  2. De que modo ter consultado resenhas favoreceu sua leitura?
  3. E ter conversado com outros(as) colegas? Por quê?
  4. Você já tinha pensado antes no papel que a cenografia tem no tea­tro e na televisão?
  5. O que achou de conhecer um pouco da cenografia de uma minissérie inspirada no romance? Por quê?
  6. O que achou de mobilizar outros leitores por meio de um vídeo?
  7. Com base nessas questões, reflita e produza um parágrafo sobre suas aprendizagens e desenvolvimento ao longo deste capítulo.
  8. E agora que você teve a oportunidade de conhecer mais o trabalho de Machado de Assis, que tal buscar ler com autonomia crônicas, contos e outros romances dele?

Galeria

Machado de Assis em exposição

Que tal conhecer mais sobre a vida e a obra machadiana, acompanhando virtualmente uma exposição dedicada a ele? Esse evento aconteceu no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, no centenário da morte do escritor, em 2008. Dentre os conteúdos digitais disponíveis na internet sobre a exposição, vale conhecer especialmente o que a revista educacional Nova Escola disponibiliza em seu canal de vídeos.

Vale a pena ver!

Combinando palavras-chave, visite virtualmente a exposição. Observe os conteúdos que foram escolhidos, como estão organizados, de que forma o público pode interagir com eles. Tenha escuta atenta às informações que o mediador traz à medida que ele percorre e apresenta a exposição.

Fotografia. Destaque para a fachada de um prédio histórico em tons de bege e vermelho. A construção, de formato retangular, apresenta as   janelas grandes e verticais, dois formatos triangulares cinzas acima da fachada e um ao fundo; sobre eles, uma haste vertical. Na parte traseira do prédio, uma torre alta com um relógio redondo e números em romanos. Na parte inferior esquerda, um muro baixo avermelhado. Na calçada, à frente do prédio, placa marrom-escuro com texto em branco: Museu da Língua Portuguesa.
Tour guiado, produzido pela revista Nova Escola, para a exposição que comemora o centenário de morte de Machado de Assis, no Museu da Língua Portuguesa em São Paulo.

Registrando descobertas em sua galeria

Durante sua visita virtual, faça anotações em sua galeria. Use o esquema a seguir para apoiar os seus registros. Se alguma informação despertar seu interesse, faça novos recortes e investigue mais fontes, para conhecer mais a respeito, com autonomia.

Qual é a verdadeira cor da pele de Machado de Assis?

Em que representações e registros essa cor foi alterada?

O que você pensa sobre isso? O que gostaria de investigar mais sobre esse assunto?

Que sentido negativo a palavra clássico pode ter?

Em que outro sentido Machado de Assis é um clássico?

E para você: Qual sentido de clássico cabe a Machado de Assis? O que mais você gostaria de investigar sobre isso?

Que importância teve o Rio de Janeiro na obra de Machado de Assis?

Como você interpreta a expressão “na obra de Machado de Assis, o Rio é o mundo”?

Como a exposição integra o Rio antigo com o contemporâneo?

O que você sabe sobre a importância do Rio de Janeiro na história do Brasil, na época em que Machado de Assis produziu sua obra? O que você gostaria de investigar mais sobre o Rio antigo?

Que papel as personagens femininas têm na obra de Machado de Assis?

Como você relaciona isso com o que conhece e sabe sobre Capitu? Como a exposição amplia características de Capitu para outras personagens femininas?

Você teve interesse em conhecer outras personagens femininas machadianas? Como poderia investigar mais a respeito?

Como a temática da escravidão foi tratada por Machado de Assis? Com que outras linguagens e obras a exposição estabelece relação, para tratar disso?

Comparando com outras formas de tratar e abordar esse tema que conhece, o que você pensa sobre as escolhas feitas pelo autor?

O que mais despertou sua reflexão e seu interesse nessa temática? O que você gostaria de investigar e saber mais a respeito?

Partilhando suas descobertas com outros leitores

Com base no que você registrou e no que já sabe sobre o gênero comentário, produza um texto recomendando e comentando a exposição para outros leitores. Você pode se valer de redes sociais ou também de comunidades de leitores de que faça parte. Peça apoio a seus ou suas responsáveis.

LiTERatitudes

Aventurando-se pelos contos de Machado de Assis

Que tal escolher um conto machadiano para compartilhá-lo em uma roda de leitura, em que você também poderá conhecer as escolhas dôs ou dás colegas?

Como fazer?

1. Consulte em canais de leitores, booktubers, podcasts literários, entre outros, informações e opiniões sobre cada um dos contos machadianos a seguir.

O espelho

A igreja do diabo

Teoria do medalhão

Pai contra mãe

A carteira

Conto de escola

A cartomante

Capítulo dos chapéus

O capitão Mendonça

  1. Com base nas informações e avaliações que você levantou, escolha qual conto você quer ler com autonomia. Durante a leitura, observe o trabalho de narração feito:
    • como se diferenciam os tempos;
    • como são tratadas as vozes participantes do texto;
    • como o enredo vai se revelando para o leitor;
    • onde ocorrem as ações, que contextos reais esses espaços lembram;
    • o tom predominante da narrativa: humor, ironia etcétera;
    • como o texto torna presente questões, valores e costumes da época.
  2. Escolha um trecho para ler de fórma expressiva, usando com intencionalidade entonação, pausas e ritmo, de modo que o texto “ganhe vida”, como em uma leitura dramática.
  3. Elabore um pequeno comentário, desenvolvendo os seguintes tópicos: Breve contextualização: informe em que ano e onde o conto foi publicado originalmente, o que se destaca em seu enredo. Justificativa: explique por que você escolheu esse conto, em que informações e opiniões de outros leitores se apoiou. Análise: exponha o que se destaca no trabalho de narração feito. Trecho escolhido: explique qual é a parte do texto que você lerá.
  4. Ensaie o comentário e a leitura do trecho escolhido, até ficar satisfeito ou satisfeita com o resultado.
  5. Aproveite bem seu momento na roda de leitura, trabalhando suas emoções. Respeite o trabalho dôs ou dás demais colegas, exercitando a empatia, e escute-os ou escute-as com interesse para aprender com a leitura comentada de cada um deles ou delas. Traga de fórma respeitosa perguntas, problematizando aspectos do texto ouvido. Do mesmo modo, esteja disponível para refletir sobre questões trazidas pelos ou pelas colegas para a sua leitura.

LiTERatitudes

Mostra da turma: Contos machadianos em cena

Forme um grupo de trabalho com mais quatro colegas e escolham qualquer um dos contos apresentados na roda para adaptarem para o teatro.

Como fazer?

  1. Discutam e façam anotações:
    1. O que para vocês é a questão essencial trazida pelo conto e que merece ser atualizada em nosso tempo?
    2. O que vocês modificariam na construção das personagens? Nos espaços? No enredo?
  2. Relembrem o que já sabem sobre as fórmas de organizar textos escritos para teatro. Se necessário, investiguem a respeito, analisando textos escritos para o teatro e pedindo sugestões de referências ao professor ou à professora.

Vale a pena assistir!

Combinando palavras-chave, busque o conteúdo e conheça o relato de experiências de estudantes envolvidos na produção.

Ilustração. Um notebook cinza e, na tela, a imagem de uma menina de cabelos crespos e blusa rosa. Ela está segurando um livro de capa amarela virado para a frente. O título é Memórias póstumas de Brás Cubas. Na parte inferior da capa, um homem visto dos ombros para cima e de lado. Ele usa cartola e roupa escura.
  1. Discutam, decidam e façam anotações: Quantas cenas produzirão, como será o cenário, o figurino das personagens, a iluminação?
  2. Produzam o roteiro, escrevendo falas curtas para os diálogos das personagens e usando rubricas para orientar a encenação.
  3. Peçam sugestões ao professor ou à professora de Português e ao ou àprofessor de Artes, colhendo ideias para o processo de criação das cenas: elementos cênicos que poderão ser usados, como criar efeitos com a iluminação utilizando recursos acessíveis, ideias para os figurinos etcétera
  4. Com base no cronograma combinado com o professor ou a professora, dediquem-se à criação das cenas e ao ensaio delas.
  5. Participem da mostra de cenas produzidas pela turma, com abertura, interesse, analisando as diferentes escolhas feitas pelos grupos, seus processos de criação com o teatro e os efeitos de sentido que alcançaram. Do mesmo modo, procure conhecer a apreciação que outros grupos farão da produção de vocês.

Glossário

Andarilhas
: que andam muito, sem cansar.
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Chita
: tecido feito de algodão, fino e barato, geralmente estampado.
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Ofícios
: ocupações, tarefas.
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Rudes
: difíceis, duros, árduos. No texto, “ofícios rudes” refere-se às tarefas domésticas, que eventualmente tornam a pele das mãos e dedos mais grossa, menos sedosa.
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Toucador
: mesa ou cômoda com espelho para a pessoa pentear-se, maquiar-se; penteadeira.
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Mácula
: mancha, marca, imperfeição.
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Duraque
: tecido de lã ou algodão semelhante ao cetim, forte e resistente, usado especialmente em calçados femininos.
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Balbuciei
: articulei as palavras com hesitação, de modo imperfeito; gaguejei.
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Seminário
: instituição educacional onde se formam padres.
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Espreitar
: espiar, observar sem ser visto.
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Consternasse
: causasse ou experimentasse grande tristeza.
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Reboco
: revestimento que se aplica à parede para dar-lhe uma superfície uniforme e lisa.
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Essencial
: necessário, indispensável.
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Cólera
: grande raiva, agressividade.
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Abauladas
: que têm fórma curva.
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Alcunha
: denominação, por vezes depreciativa, dada a alguém devido a sua característica física ou moral.
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Agregado
: que se juntou, está reunido; que convive com uma família, como se dela fizesse parte. No texto, o agregado José Dias mora na casa dos Santiago de favor, a quem retribui sendo grato e servil.
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Sabugueiro
: nome comum a arbustos e árvores pequenas, nativas de regiões de clima temperado ou subtropical.
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Legitimar
: tornar legítimo, reconhecer como verdadeiro; justificar.
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Mister
: algo que se faz necessário, fundamental.
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