Capítulo 8  Africanidades, poesia e ritmo na música brasileira

Observe a fotografia a seguir e leia o trecho de entrevista do professor kabenguelê Munanga e o poema de Cuti. Reflita sobre o que você sabe, pensa e sente a respeito desses textos e sobre as relações que você estabelece entre eles.

Fotografia. Sobre um palco e fundo escuro, uma mulher negra em pé e dançando em primeiro plano. Ela tem cabelos escuros, usa regata e saia longa bege; está com as mãos sobre a cintura e olha para o lado. Em segundo plano, um homem negro dançando à frente da mulher. Ele tem cabelos e barba grisalhos, usa blusa de mangas compridas e calça bege. Ao fundo, outras pessoas dançando com roupas similares.
Apresentação do Grupo Cultural Jongo da Serrinha, cuja sede se situa em Madureira, Rio de Janeiro. O jongo, ou caxambu, é um ritmo que teve suas origens na região africana do Congo-Angola. Ele veio para o Brasil com nossos ancestrais bantos, trazidos à fôrça para serem aqui escravizados.

Quem é?

Fotografia. Busto de homem negro com o rosto levemente inclinado para o lado. Ele tem cabelos e barba grisalhos e usa óculos de grau. Está vestindo uma camisa branca de gola, gravata cinza e terno azul.
O professor em 2008.

O professor Kabengele Munanga (mil novecentos e quarenta sete) nasceu na República Democrática do Congo. Possui graduação em Antropologia Cultural pela Université Officielle Du Congo à Lubumbashi (1969) e doutorado em Ciências Sociais (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo (1977). Atualmente é professor titular da Universidade de São Paulo. Tem experiên­cia na área de Antropologia, com ênfase em Antropologia das Populações Afro-brasileiras, e atua principalmente nos seguintes temas: racismo, identidade, identidade negra, África e Brasil.

Orientações e sugestões didáticas

CAPÍTULO 8

Competências gerais da Educação Básica: 3, 4 e 5.

Competências específicas de Linguagens: 2, 3, 5 e 6.

Competências específicas de Língua Portuguesa: 1, 2, 3, 7, 8 e 9.

HABILIDADES Bê êne cê cê

(ê éfe zero nove éle pê zero quatro), (ê éfe zero nove éle pê zero sete), (ê éfe zero nove éle pê um um), (ê éfe zero oito éle pê zero nove), (ê éfe seis sete éle pê dois três), (ê éfe oito nove éle pê dois quatro), (ê éfe oito nove éle pê dois seis), (ê éfe oito nove éle pê dois sete), (ê éfe oito nove éle pê dois oito), (ê éfe oito nove éle pê três dois), (ê éfe oito nove éle pê três três), (ê éfe oito nove éle pê três sete), (ê éfe seis nove éle pê zero nove), (ê éfe seis nove éle pê dois um), (ê éfe seis nove éle pê dois nove), (ê éfe seis nove éle pê três dois), (ê éfe seis nove éle pê três sete), (ê éfe seis nove éle pê quatro quatro), (ê éfe seis nove éle pê quatro cinco), (ê éfe seis nove éle pê quatro seis), (ê éfe seis nove éle pê quatro oito), (ê éfe seis nove éle pê quatro nove), (ê éfe seis nove éle pê cinco um), (ê éfe seis nove éle pê cinco três), (ê éfe seis nove éle pê cinco quatro), (ê éfe seis nove éle pê cinco cinco), (ê éfe seis nove éle pê cinco seis)

Tema contemporâneo transversal

Multiculturalismo – Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras.

Abertura do capítulo

Neste capítulo, os ou as estudantes poderão: construir o conceito de africanidades; refletir sobre sua presença em práticas de linguagem da esfera artístico-literária na cultura brasileira; ampliar o conhecimento sobre a poesia e o ritmo que expressam africanidades na música brasileira; pesquisar e conhecer propostas musicais com essa temática; produzir colaborativamente um programa de rádio, difundindo com protagonismo a cultura musical afro-brasileira.

Sugerimos que você convide dois(duas) estudantes para prepararem previamente uma declamação do poema “Frequência”, de Cuti. eles ou elas podem alternar a declamação dos versos, com especial atenção à construção do ritmo e à valorização das assonâncias e aliterações. Combine uma voz mais grave e uma voz mais aguda, como na combinação de tambores do jongo. Nos versos “tambor tão bom teu som / tam-tam batuque atã o teu doce poema”, eles ou elas podem fazer um coro. Dessa maneira, poderão ter mais protagonismo no momento da aula, oferecendo uma leitura modelar e significativa para os ou as demais colegas. Sugerimos que você explore colaborativamente com a turma os três textos (fotografia com cena do jongo, excerto de entrevista com o conceito africanidades e o poema de Cuti), apoiando-se nas questões de Converse com a turma, dentre outras que você julgar serem relevantes.

Vinheta de seção. Contorno de um clipe.

Clipe

Africanidade: um rosto cultural para nos conhecermos ou reconhecermos

“Intuição global de vida concreta africana, análise das obras, das instituições, das ideias, visões de mundo, reivindicação da negritude, ação política do pan-africanismo convergem para o mesmo fato: a África ao sul do Saara é culturalmente uma. Essa comunidade cultural é a africanidade, ou seja, a configuração própria à África de diversas tradições que podemos encontrar paralelamente alhures. Todos os rostos humanos são constituídos dos mesmos componentes: narizes, olhos, lábios, podem ser encontrados idênticos em diversos rostos; mas a combinação desses traços idênticos fórma o rosto único. A africanidade é esse rosto cultural único que a África oferece ao mundo.”

MUNANGA, kabenguelê. Origens africanas do Brasil contemporâneo: histórias, línguas, culturas e civilizações. São Paulo: Global. página 36-37.

Quem é?

Fotografia em preto e branco. Busto de um homem negro de cabelos curtos e grisalhos. Ele usa óculos de grau e veste camisa estampada com gola. Ele olha para frente, com leve sorriso.
O escritor em 2015.

Luiz Silva, o Cuti, nasceu em Ourinhos, em 1951, e é um escritor, poeta e dramaturgo brasileiro.

Em 1978, foi um dos criadores do jornal literário Jornegro e da série de antologias Cadernos Negros. Participou da fundação do grupo Quilombhoje, formado com o objetivo de discutir e aprofundar a experiência afro-brasileira na literatura.

Frequência

O som que nos irmana

o som que nos aquece

o som que nos reveste

de coragem pra vencer

tambor tão bom teu som

tam-tam batuque atã o teu doce poema

é toque é canto e dança

é lança é luta é gol

é vinda de Cabindaglossário

do Golfo de Beninglossário

é chuva de esperança

o sono no capim

a noite palpitando

mil sóis dentro de mim

CUTI. Frequência. Batuque de tocaia. São Paulo: edição do Autor, 1982. página 38.

Converse com a turma

  1. O que é o conceito de africanidades na definição de Kabengele?
  2. Ao observar a imagem da apresentação do Grupo Cultural Jongo da Serrinha, tente imaginar onde o fotógrafo posicionou a câmera para tirar a fotografia. O que ganha destaque nela graças a esse enquadramento e à captação da luz?
Orientações e sugestões didáticas

Converse com a turma

  1. Espera-se que os ou as estudantes compreendam, na metáfora do rosto único, a comunidade cultural que a África oferece ao mundo.
  2. Espera-se que os ou as estudantes percebam que o enquadramento feito dá destaque ao corpo em movimento, muito especialmente à ginga da jongueira, e que esses efeitos são reforçados pela concentração de mais luz no tecido da saia. se achar oportuno, destaque para a turma que foi usado um plano médio, que permite focar os corpos inteiros na roda, em altura de contra-plongée (de baixo para cima), o que dá efeito de alongamento da dimensão da saia, e em uma angulação de perfil, o que acentua a sensação de giro e movimentação do corpo.

Enquadramento

Enquadrar é decidir o que faz parte da cena e determinar, por plano, altura e ângulo, o modo como ô á espectador ou espectadora perceberá o que está sendo mostrado. Essas escolhas contribuem para os efeitos de sentidos da fotografia.

  1. Você conhece a prática cultural representada na fotografia? O que sabe sobre ela? Que relações você estabelece entre ela e o conceito de africanidades?
  2. A palavra frequência indica a regularidade de uma ação, como neste uso: “Com que frequência você lê poemas?”. E, segundo estudos da Física, sons com frequências diferentes provocam diferentes sensações auditivas.
Vinheta de seção. Contorno de um clipe.

Clipe

De acordo com os estudos da Física, frequência é uma das características mais importantes de uma onda; onda, por sua vez, é uma perturbação que se propaga no espaço ou em qualquer outro meio. A frequência indica o número de oscilações completas que a onda realiza em determinado intervalo de tempo. As ondas sonoras de maior frequência são percebidas como sons agudos e as de menor frequência como sons graves.

  • No poema, a frequência pode ser compreendida como uma metáfora das relações que temos com determinados sons e como os percebemos. Que sons são esses e a que remetem? Estabeleça relações com o conceito de africanidades.
  1. Pense nas práticas de linguagens que fazem parte de sua vida. Em quais delas você reconhece africanidades?
  2. Considere os gêneros musicais que você costuma ouvir. Em quais você considera que há marcas da cultura africana? Por quê?
  3. Na sua opinião, é importante ampliarmos a percepção das africanidades na nossa cultura? Por quê?

O que você poderá aprender

  1. Como a poesia e o ritmo de práticas da cultura de tradição oral africana podem estar na música brasileira?
  2. Que compositores ou compositoras e cantores ou cantoras representantes das africanidades vale a pena conhecer?
  3. Como difundir, com protagonismo, esses conhecimentos, por meio da produção colaborativa de programa de rádio para a comunidade escolar e outros públicos interessados?

Leitura 1

Você lerá a seguir a biografia de Clementina de Jesus, publicada no site do Museu Afro Brasil. Durante a leitura, busque refletir sobre as africanidades presentes na vida da artista, as práticas e pessoas que contribuíram para ela dar mais visibilidade à música brasileira e a importância da música de Clementina para a formação das novas gerações.

Orientações e sugestões didáticas
  1. HABILIDADE FAVORECIDA (ê éfe seis nove éle pê quatro quatro) Resposta pessoal. Dialogando com os saberes da turma, destaque como essa é uma das práticas culturais que herdamos da cultura africana. se em seu território houver comunidade de jongueiros, essa é uma ótima oportunidade para destacar essa presença na cultura local.
  2. HABILIDADES FAVORECIDAS (ê éfe oito nove éle pê três dois, ê éfe seis nove éle pê quatro quatro) essa questão é intencionalmente mais desafiadora. Dialogando com as contribuições dôs ou dás estudantes, faça, se necessário, intervenções que os ou as ajudem a perceberem como o ritmo sugerido pelo poe­ma, o uso da anáfora, a onomatopeia e a sinestesia, conhecimentos que eles já construíram, concorrem para a presença de sons e sensações da batida dos tambores no cotidiano do eu lírico: “é toque é canto e dança / é lança é luta é gol”, “é chuva de esperança / o sono no capim / a noite palpitando”. Assim, a frequência metaforicamente pode ser compreen­dida como a capacidade de perceber essas vibrações sonoras na vida e seus sentidos. A referência à africanidade desses sons é claramente feita no poema: “é vinda de Cabinda / do Golfo de Benin”.
  3. HABILIDADE FAVORECIDA (ê éfe seis nove éle pê quatro quatro) Resposta pessoal.
  4. HABILIDADE FAVORECIDA (ê éfe seis nove éle pê quatro quatro) Resposta pessoal.
  5. Resposta pessoal. essa questão é uma oportunidade para você, em diálogo com as opiniões dôs ou dás estudantes, trazer a dimensão de como o fato de não conhecer alimenta preconceitos e estereótipos. Reflita com a turma especialmente sobre as fórmas de violência e de imposição cultural ocorridas no nosso processo de colonização, e como importa para as novas gerações buscar refletir sobre isso, ressignificando a grande presença das africanidades em seus processos identitários.

Clementina de Jesus

(Valença, Rio de Janeiro, 1901 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1987)

Fotografia em preto e branco. Uma mulher negra vista da cintura para cima e de lado. Ela tem cabelos grisalhos presos em coque para trás, veste blusa de mangas compridas e brinco nas orelhas de cor clara. Em sua mão esquerda, segura um microfone perto da boca.
A cantora em foto de 1984.

Sambista fluminense, dona de uma voz inconfundível, potente e ancestral, Clementina de Jesus foi a síntese do Brasil, expressão de um país de forte herança africana e de singular formação religiosa. Conhecida como Rainha Quelé, carregava consigo os banzosglossário de seus ancestrais, transformados em cantos, encantos e segredos nos jongos, no partido-altoglossário e nas curimbasglossário que cantava. Diferentemente das conhecidas e famosas “divas do rádio” que brilharam na primeira metade do século vinte, a cantora negra tinha um timbre de voz grave, mas com grande extensão, e um repertório de músicas afro-brasileiras tradicionais.

Nascida na cidade de Valença (Rio de Janeiro), região do Vale do Paraíba, tradicional reduto de jongueirosglossário , Clementina era filha da parteira Amélia de Jesus dos Santos e de Paulo Batista dos Santos, capoeira e violeiro da região. Uma de suas avós chamava-se Teresa Mina. A pequena Clementina viveu a infância na cidade natal, ouvindo sua mãe cantar enquanto lavava as roupas à beira do rio. Assim foi guardando na memória tesouros que mais tarde gravaria em discos. Aos sete anos veio com a família para a cidade do Rio de Janeiro, bairro de Oswaldo Cruz, onde mais tarde surgiria a tradicional Escola de Samba Portela. Lá frequentou em regime semi-interno o Orfanato Santo Antônio e “Cresceu assim num misticismo estranho: vendo a mãe rezar em jejê nagôglossário e cantar num dialeto provavelmente iorubanoglossário , e ao mesmo tempo apegada à crença católica.” (Hermínio Bello de Carvalho)

Até os quinze anos, Clementina participou do grupo de Folia de Reis de seu João Cartolinha, renomado mestre da região. Foi João quem levou a moça para o Bloco As Moreninhas das Campinas, embrião da Escola de Samba Portela, onde ocorriam rodas de samba e onde Clementina conheceu grandes bambasglossário como Paulo da Portela, Claudionor e Ismael Silva. Nesse tempo, a voz de Clementina já chamava a atenção e ela foi convidada por Heitor dos Prazeres para ensaiar suas pastorasglossário , o que fez durante muitos anos. Casou-se com Albino Pé Grande e foi morar no Morro da Mangueira, de onde não saiu mais. Ao longo destes anos Clementina trabalhou como lavadeira e empregada doméstica. Sua atividade de cantora ela exercia sem intenção de fazer-se profissional, cantava porque preciso era cantar, por prazer, por alegria.

Orientações e sugestões didáticas

Leitura 1

HABILIDADE FAVORECIDA (ê éfe seis nove éle pê quatro nove)

O texto apresentado é biográfico e será lido pela turma com a finalidade de conhecer, de modo resumido, a trajetória de vida de Clementina de Jesus e as práticas e os atores que deram à sua arte pertença às africanidades. Assim, aqui não importa a abordagem aprofundada do gênero biografia, mas o uso do texto para a construção de conhecimentos prévios relevantes para a apreciação qualificada do trabalho da artista. Por essa razão, nessa leitura não haverá exploração do texto por meio das seções Primeiras impressões e O texto em construção. Sugerimos que a leitura seja feita de modo compartilhado, com a participação dôs ou dás estudantes que desejarem colaborar, sem a necessidade de preparo prévio, seguida da discussão das questões em Converse com a turma, as quais objetivam promover trocas sobre a compreensão geral do texto e reflexões acerca da trajetória da artista.

A carreira profissional de Clementina de Jesus como cantora começou aos 63 anos, depois que o produtor e compositor Hermínio Bello de Carvalho a encontrou na festa da Penhaglossário em 1963, quando ela cantava na Taberna da Glória. Hermínio ficou fascinado pela sambista e quando a reencontrou, na inauguração do restaurante Zicartola, passou a ensaiá-la em sua casa, preparando-a para o espetáculo Rosa de Ouro, show que a consagraria. Participavam do show, além de Clementina de Jesus e da cantora Aracy Côrtes, diversos sambistas das Escolas de Samba cariocas, entre os quais os ainda desconhecidos Paulinho da Viola e Elton Medeiros. A crítica foi unânime em exaltar Clementina e seu desempenho, tanto no show quanto nos dois LPsglossário gravados ao vivo, as primeiras gravações da cantora. Nos anos seguintes Clementina participou dos discos Mudando de conversa, Fala Mangueira! e Gente da antiga, este último um disco antológicoglossário da música brasileira, ao lado de João da Baiana e Pixinguinha. No continente africano, participou do encontro das artes negras de Dakar em 1966, ao lado de outros bambas como Martinho da Vila e artistas como Rubem Valentin. Clementina foi o maior sucesso do festival e grande destaque. Ao final do show da cantora as pessoas invadiam o palco para abraçá-la, contou Sérgio Cabral. Também no mesmo ano ela representou a música brasileira no festival de cinema de Cannes, na França.

Naquele mesmo ano de 1966, Clementina gravou seu primeiro disco solo, intitulado Clementina de Jesus, com repertório de jongo, curimaglossário , sambas e partido-alto. A capacidade de Clementina de transmitir poderosa emoção através do canto chamou a atenção dos críticos, que, de novo, renderam-se aos encantos de sua voz. Também Milton Nascimento, fascinado pelo banzo de Clementina, convidou a cantora para participar de seu disco chamado Milagre dos Peixes gravando a excepcional faixa Escravos de Jó.

Ilustração. Uma mulher negra, vista de corpo inteiro, está sentada em uma poltrona marrom. Ela usa lenço branco sobre a cabeça e vestes longas de mangas compridas, também em branco. Na mão direita, ela segura um microfone e na mão esquerda, o fio do microfone.

Ao todo a cantora gravou 13 éli pês entre álbuns solos e participações em álbuns coletivos, com destaque para o disco O Canto dos Escravos, composto de vissungosglossário de escravos da região de Diamantina, recolhidos por Aires da Mata Machado. Unanimidade entre a crítica, Clementina foi louvada como elo entre África e Brasil, tendo sido reverenciada por grandes nomes da música brasileira, como Elis Regina, João Nogueira, Clara Nunes, Caetano Veloso, Maria Bethânia e João Bosco. Todos a tratavam com muito carinho, inclusive alguns a chamavam carinhosamente de mãe Clementina. O sambista Candeia compôs um samba em homenagem à Rainha Quelé chamado “Partido Clementina de Jesus”, que a cantora gravou ao lado de Clara Nunes em 1977 no éle pê As Forças da Natureza.

Em 1983 houve uma grande homenagem à cantora no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com participação de grandes sambistas como Paulinho da Viola, Beth Carvalho e João Nogueira. Clementina faleceu vítima de derrame em Inhaúma, Rio de Janeiro, no ano de 1987, aos oitenta e seis anos.

Museu Afro Brasil. Disponível em: https://oeds.link/VgFDOJ. Acesso em: 22 agosto 2022.

Converse com a turma

Discuta as questões a seguir. Traga seu ponto de vista com clareza e procure dialogar com os ou as colegas, comentando as respostas deles ou delas, trazendo mais questões, entre outras possibilidades.

  1. O que mais chamou sua atenção na história de vida de Clementina de Jesus? Por quê?
  2. Você sabe o que faz um produtor ou uma produtora musical? Que importância Hermínio Bello de Carvalho teve para a divulgação do trabalho de Clementina de Jesus?
  3. O que você já conhece das práticas de tradição africana que fizeram parte da experiência de vida de Clementina: jongo, vissungos, curimbas?
  4. Sulfecha parênteses artistas com quem ela gravou e cantou, qual ou quais você conhece ou de qual ou quais já ouviu falar?
  5. Que importância você atribui a conhecer o trabalho musical de Clementina de Jesus?
  6. Onde imagina que as músicas como as de Clementina de Jesus podem ser encontradas para ser ouvidas?

Vale a pena conhecer!

Fotografia. Uma das salas do Museu Afro Brasil. Em primeiro plano, um retrato com moldura arredondada e dourada suspenso em um pedestal com haste fina. Em segundo plano, prateleiras amarelas, com adereços e objetos pendurados.
Museu Afro Brasil. São Paulo (ésse pê), 2020.

“Sabia que é possível ver virtualmente algumas exposições em cartaz do Museu Afro Brasil? Isso ocorre porque o equipamento cultural do estado fez uma parceria com o Google Cultural Institute e agora conta com a ferramenta Street View por meio da qual estão expostas virtualmente parte das obras em cartaz.

reticências

Em destaque estão a mostra fotográfica ‘Espírito da África – os Reis Africanos’, clicada por Álfredi Váidenha, e a exposição “O Banzo, o Amor e a Cozinha de Casa”, com obras de Sidney Amaral.

A ferramenta também permite ao internauta navegar pelos 10 mil métros de área expositiva do Museu, verificando os destaques que ocupam os três pisos do Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, projetado pelo arquiteto Oscar Niemáier, e situado dentro do Parque Ibirapuera, na capital paulista.”

[Acesse https://oeds.link/vQTIKD.]

Museu Afro Brasil. Disponível em: https://oeds.link/AF7hqV/. Acesso em: 4 maio 2022.

Leitura 2

Você lerá a seguir um trecho de um artigo acadêmico sobre uma das heranças culturais de nossos ancestrais africanos: os vissungos. Durante a leitura, realize no caderno um mapa conceitual, resumindo e relacionando as principais informações trazidas pelo texto.

Orientações e sugestões didáticas

Vale a pena conhecer!

HABILIDADE FAVORECIDA (ê éfe seis nove éle pê quatro cinco) professor ou professora, essa é mais uma oportunidade de os estudantes operacionalizarem aprendizagens que tiveram em relação a exposições virtuais e para navegarem com autonomia pelos conteúdos digitais disponibilizados no site do Museu Afro Brasil. Considere também a possibilidade de os estudantes fazerem a visitação orientada em duplas, em espaços e tempos da escola.

Converse com a turma

HABILIDADE FAVORECIDA (ê éfe oito nove éle pê dois sete)

  1. Resposta pessoal.
  2. Resposta pessoal. Espera-se que os ou as estudantes percebam que ele apoiou sua profissionalização como cantora, preparando-a para participar de shows e gravar seus primeiros éli pês. com base nas contribuições dôs ou dás estudantes, destaque a relevância desse ou dessa profissional para quem quer se lançar na música e discuta com eles ou elas perfis e competências necessários para ser , como a capacidade que marca o trabalho de Hermínio de andar por comunidades e bares, buscando conhecer artistas anônimos, como era Clementina até então. Destaque como hoje a internet mudou bastante essa condição, com muitos ou muitas artistas divulgando de fórma independente seu trabalho, facilitando as descobertas dôs ou dás produtores ou produtoras musicais.
  3. Resposta pessoal.
  4. Resposta pessoal.
  5. Resposta pessoal.
  6. Resposta pessoal. , em diálogo com os conhecimentos da turma, problematize de que modo acontece a distribuição dos bens culturais, com certa homogeneização de artistas e estilos em um grande número de canais de rádios, e como, por outro lado, com a internet, cada vez mais as pessoas podem conhecer outras propostas musicais, curtindo canais das redes sociais ou criando seu próprio canal.

O que são os vissungos?

No início do século dezoito, no período colonial, enquanto realizavam o “trabalho” forçado na mineração do ouro, os negros ou as negras cantavam versos ritmados, os vissungos, em um português que foi se fazendo, entre outros fatores, de contribuições dos diferentes idiomas africanos e dando ao português brasileiro contornos bem diferentes do português falado em Portugal.

Em pesquisa sobre os vissungos, o antropólogo e professor José Jorge de Carvalho não usa a categoria “cantos de trabalho”. Para ele, “se tivermos em mente que as pessoas que os cantavam estavam no exercício de suas atividades sob severa coerção física, ao chamá-los de ‘cantos de trabalho’ dificilmente estaríamos refletindo o ponto de vista do sujeito que cantava”. E por isso define os vissungos como “cantos de fôrça”.1nota de rodapé

Ainda segundo o pesquisador, “após o declínio da mineração naquela região, o vissungo tornou-se uma tradição de canto ritual, na qual o trabalho real na mineração de ouro era dramatizado numa ocasião de esforço comunitário”. Ou seja, cantar esses versos passou a ser uma fórma de lembrar e celebrar a fôrça conjunta, quando era preciso em um trabalho coletivo.

Provavelmente, esses cantos eram feitos em base rítmica composta de um trio de tambores, tocando três padrões distintos, entrelaçados.

Nos anos 1980 do século vinte, Tia Doca da Portela (pastora da Velha Guarda), Geraldo Filme (o primeiro nome do samba paulista) e a Rainha Quelé, Clementina de Jesus, gravaram em um éle pê, pela Eldorado, doze vissungos, com direção musical de Marcus Vinícius e percussão de Papete. O álbum recebeu o nome de O canto dos escravos.

Você lerá a seguir a letra de um vissungo que foi cantado por Clementina de Jesus no álbum O canto dos escravos. Ela está escrita com marcas da variação linguística, usando termos de línguas africanas do grupo banto, que africanizaram o português falado no Brasil, contribuindo para que ele se diferenciasse do que é falado em Portugal. Descendentes dôs ou dás que trabalhavam nas minas nas regiões do Serro e Diamantina atualizaram para o português contemporâneo o resumo do enredo narrado pelos versos: O pequeno menino (Muriquinho piquinino), com a trouxa de roupas nas costas (de quiçamba na cacunda), vai para o quilombo do Dumbá.

Vinheta de seção. Contorno de um clipe.

Clipe

Dentre as muitas línguas negro-africanas que foram faladas no Brasil, destacam-se as que pertencem ao grupo linguístico banto. São línguas muito semelhantes entre si e faladas em muitos países africanos. Se quiser aprender mais sobre isso, não deixe de consultar o artigo de divulgação de pesquisa na Galeria deste capítulo.

Orientações e sugestões didáticas

Leitura 2

Nesta seção, serão lidos colaborativamente dois textos poéticos: a letra de um vissungo e a de um ponto de jongo; ambos entraram na memória musical brasileira graças ao trabalho de Clementina de Jesus. Na perspectiva dos multiletramentos, é bastante importante que você, como atividade complementar a esta aqui proposta, providencie recursos para a turma ouvir as interpretações de Clementina e promova a percepção de como os recursos expressivos da música se integram aos versos, na expressão de experiências vivenciadas pelos negros escravizados ou pelas negras escravizadas no Brasil colonial. Para localizar as canções na internet, sugerimos que combine as seguintes palavras-chave de busca no navegador da internet: “Muriquinho piquinino” + “Clementina de Jesus” + “interpretação”; “Cangoma” + “interpretação” + “Clementina de Jesus”. Como experiência de oralidade, seria altamente interessante que você também convidasse a turma para cantar os versos, construindo o ritmo com palmas.

A seguir, você lerá os versos de um vissungo. Procure, com apoio dô ou dá professor ou professora ou com autonomia, ouvir a interpretação de Clementina de Jesus, para perceber como os instrumentos de percussão sugerem sentidos musicalmente.

Vale a pena ouvir!

O Programa Veredas, da Rádio Eldorado, dedicou uma edição especial aos vissungos, com apresentação comentada de faixas do álbum O canto dos escravos (1982).

O portal da rádio pública Cultura éfe ême disponibilizou o programa em seu canal: https://oeds.link/2K5xrr (acesso em: 4 maio 2022).

Acesse o programa na internet e ouça-o, aos poucos, com atenção para a história desses cantos e o que expressam, em ritmos ancestrais.

Capa de CD. Na parte superior, na horizontal, silhuetas de pessoas em pé em local com vegetação. No centro, fundo em branco, com o título do disco em preto: O CANTO DOS ESCRAVOS. Abaixo, em corpo menor, o seguinte texto: INTERPRETAÇÃO: CLEMENTINA DE JESUS, TIA DOCA, GERALDO FILME.

Texto 1

Canto dois

Muriquinho piquinino, muriquinho piquinino,

Parente de quiçamba na cacunda.


Purugunta aonde vai, purugunta aonde vai,

Ô parente, pro quilombo do Dumbá. (duas vezes)


Muriquinho piquinino, muriquinho piquinino,

Parente de quiçamba na cacunda.


Purugunta aonde vai, purugunta aonde vai,

Ô parente, pro quilombo do Dumbá. (duas vezes)


Ê, chora, chora gongo, ê dévera, chora gongo chora,

Ê, chora, chora gongo, ê cambada, chora gongo chora.


Muriquinho piquinino, muriquinho piquinino,

Parente de quiçamba na cacunda.


Purugunta aonde vai, purugunta aonde vai,

Ô parente, pro quilombo do Dumbá. (duas vezes)

Versos de domínio público, recolhidos pelo pesquisador Aires da Mata Machado Filho, em 1928, nos povoados de São João da Chapada e Quartel do Indaiá, e interpretados por Clementina de Jesus no álbum O canto dos escravos.

Vinheta de seção. Contorno de um clipe.

Clipe

Formado por cones metálicos ocos, o agogô é um instrumento de percussão muito utilizado nos cultos afros em todo o Brasil.

Fotografia. Agogô, instrumento musical composto de três cones em preto de tamanho médio, conectados entre si e uma baqueta de cor bege.
Agogô.
Orientações e sugestões didáticas

Vale a pena ouvir!

HABILIDADE FAVORECIDA (ê éfe seis nove éle pê quatro cinco) Avalie a oportunidade de ouvir o programa coletivamente, com pausa de apreciação para que a turma possa comentar as informações trazidas pelo programa e, especialmente, apreciar a interpretação dos vissungos.

Primeiras impressões

  1. Você sabe o que eram quilombos no contexto do período colonial?
    1. Em que verso há referência a um quilombo?
    2. O que se pode inferir sobre o espaço em que as personagens se encontram? E por que o quilombo pode ser considerado seu contraponto? Relacione com o que você sabe sobre o contexto de produção dos vissungos.
  2. Que sentido parecia haver no uso da palavra parente?
  3. O que na caracterização da personagem faz com que o parente imagine que o muriquinho está se preparando para sair?

O texto em construção

Organize-se em dupla e converse com seu ou sua colega sobre as questões a seguir. Elas foram pensadas especialmente para você perceber o trabalho de linguagem nos versos do vissungo e seus efeitos de sentido.

  1. Uma das características dos vissungos é a repetição dos versos.
    1. Considerando as condições em que foram produzidos, que importância essa repetição teve para que os vissungos se tornassem uma prática compartilhada?
    2. Que relação você estabelece entre a repetição dos versos e o ritmo do vissungo?
  2. Leia:

reticências costumeiramente, as idades da criança escrava aparecem assim escalonadas, conforme atestam alguns autores: as “crias de peito” eram os bebês até um ano de idade, enquanto as “crias de pé” eram crianças muito novas, mas que já sabiam andar. “Menino” e “menina” eram termos usados para designar as crianças até aproximadamente oito anos de idade, e “moleque” e “moleca” indicavam que a criança tinha entre treze e quatorze anos. reticências

NEVES, Maria de Fátima Rodrigues. Infância de faces negras: a criança escrava brasileira no século dezenove. 1993. Dissertação (Mestrado em História Social) – Universidade de São Paulo, São Paulo. página 56. (Fragmento).

  1. Que palavra usada no vissungo é uma variante de moleque?
  2. De acordo com pesquisadores ou pesquisadoras, uma das marcas de africanização do português, pelas línguas de origem banta, é o uso de fórmas diminutivas do português. Que efeitos de sentidos tem para nós, leitores ou leitorea/ouvintes do século vinte e um, o uso do diminutivo na palavra escolhida para referenciar a personagem central no vissungo?
  3. Que adjetivo reforça esses sentidos?
Orientações e sugestões didáticas

Primeiras impressões

HABILIDADE FAVORECIDA (ê éfe seis nove éle pê quatro seis)

Sugerimos que o trabalho nesta seção seja realizado oralmente, no coletivo, configurando-se como uma roda de leitura. Procure envolver diferentes estudantes, circulando sempre a palavra.

1. Resposta pessoal. , em diálogo com os conhecimentos prévios da turma, garanta a compreen­são de que os quilombos eram espaços de resistência à escravidão, originalmente compostos de negros ou negras que fugiam das fazendas na época do Brasil colonial e se organizavam em comunidades, nas quais havia divisão de tarefa e em que todos ou todas trabalhavam – organização parecida com as das aldeias africanas de onde se originavam. Viviam da agricultura e da pesca.

1a. “Ô parente, pro quilombo do Dumbá”.

1b. HABILIDADE FAVORECIDA (ê éfe seis nove éle pê cinco quatro) , essa questão é desafiadora e pode exigir mais de sua mediação. Espera-se que os ou as estudantes façam a inferência de que possivelmente estão na senzala ou no trabalho de mineração, privados da liberdade, sendo a referência ao quilombo o contraponto à possibilidade de se viver livre. Resgate com a turma que os cantos foram originalmente produzidos no contexto da escravidão.

  1. HABILIDADE FAVORECIDA (ê éfe seis nove éle pê cinco quatro) Espera-se que os ou as estudantes façam a inferência de que a palavra era usada como fórma de identidade, vinculação. , em diálogo com as hipóteses dôs ou dás estudantes, acrescente que isso poderia se dar tanto por pertenças a uma mesma etnia quanto por laços, vínculos formados por estarem na mesma condição.
  2. HABILIDADE FAVORECIDA (ê éfe seis nove éle pê cinco quatro) A “quiçamba na cacunda”.

O texto em construção

, sugerimos que os ou as estudantes trabalhem em duplas na discussão e na resolução dessas questões que tratam do trabalho de linguagem nos versos do vissungo e seus efeitos de sentidos. Preveja um momento de trocas, para que diferentes duplas contem as soluções a que chegaram e a turma construa consensos.

1a. Espera-se que os ou as estudantes façam a inferência de que a repetição favoreceu a memorização e a circulação dos versos.

1b. HABILIDADES FAVORECIDAS (ê éfe seis nove éle pê quatro oito, ê éfe seis nove éle pê cinco quatro) Espera-se que os ou as estudantes percebam que a repetição ajuda a construir um ritmo bem marcado. se você teve oportunidade de explorar a interpretação de Clementina de Jesus, peça à turma que estabeleça relações com o que percebeu quanto ao trabalho de percussão e ao ritmo e destaque como na percussão também parecem ecoar duas vozes e o compasso define um ritmo bem marcado.

2a. HABILIDADE FAVORECIDA (ê éfe seis nove éle pê cinco cinco) Espera-se que os ou as estudantes identifiquem a variante “muriquinho”.

2b. HABILIDADE FAVORECIDA (ê éfe seis nove éle pê cinco quatro) Espera-se que os ou as estudantes percebam sentidos como infantilização, fragilidade.

2c. HABILIDADES FAVORECIDAS (ê éfe seis nove éle pê cinco quatro, ê éfe zero oito éle pê zero nove) O adjetivo “piquinino”. , aproveite essa questão para marcar a variação linguística.

3. Leia.

Personificação

Personificação ou prosopopeia é uma figura de linguagem que consiste em atribuir características, ações e sentimentos humanos a seres inanimados ou a animais.

  1. Em que verso ocorre a personificação?
  2. Como você interpreta essa personificação no contexto dos versos?

O que é o jongo?

O jongo é uma prática com versos, dança, ritmos e crenças africanas, originalmente cultivada pelos escravos nas fazendas de café do Vale do Paraíba, durante o período colonial. Os senhores de escravos achavam que era só festa, mas os versos dôs ou dás traziam mensagens que só eles ou elas entendiam, com alusão às entidades (espíritos dos “pretos velhos”) e protestos, por exemplo. Com o fim da escravidão, sem uma política de distribuição de terras, muitos ou muitas negros ou negras foram morar nas áreas mais periféricas do Rio de Janeiro, como os morros de São Carlos, Salgueiro, Mangueira e Serrinha, e lá mantiveram essa tradição. À medida que eles ou elas foram morrendo, o jongo foi desaparecendo. Na Serrinha, o músico Darcy Monteiro, filho de Pedro Monteiro e da mãe de santo e jongueira Vovó Maria Joana Rezadeira, passou a ensinar a dança para as crianças e levou o jongo para os palcos de teatros do Brasil e do exterior. Para alguns, ele salvou o jongo do desaparecimento; para outros, desrespeitou a tradição.

Você lerá a seguir a letra de um ponto de jongo, que também foi cantado por Clementina de Jesus no álbum O canto dos escravos. Ela está escrita com marcas da variação linguística — marcas da africanização da língua portuguesa. Procure, com apoio dô ou dá professor ou professora ou com autonomia, ouvir a interpretação que Clementina fez desse canto.

Vale a pena assistir e ouvir!

No site da Associação Cultural Jongo da Serrinha, disponível em: https://oeds.link/ND9UdP (acesso em: 5 maio 2022), você poderá assistir a ví­deos ou ouvir áudios, com vários pontos, como esse de Mestre Darcy (Pisei na pedra).

Capa de CD. Fotografia em preto e branco. Ao centro, uma mulher negra em pé e dançando. Ela usa um vestido estampado com formas padronizadas e barra branca. Sua mão esquerda segura o vestido; a direita está erguida na altura do rosto, segundando algo semelhante a um lenço branco. Ao fundo, outras pessoas, homens e mulheres, usam vestes claras. Na parte superior, em verde, o texto: JONGO DA SERRINHA. Na lateral esquerda, uma listra verde na vertical.
Capa do cedê Jongo da Serrinha, lançado em 2002 pelo Grupo Cultural Jongo da Serrinha.

Texto 2

Tava durumindo cangoma me chamou

Tava durumindo cangoma me chamou

Disse levanta povo cativeiro já acabou

Orientações e sugestões didáticas

3a. HABILIDADES FAVORECIDAS (ê éfe seis nove éle pê cinco quatro, ê éfe oito nove éle pê três sete) “Ê, chora, chora gongo, ê dévera, chora gongo chora”.

3b. HABILIDADES FAVORECIDAS (ê éfe seis nove éle pê cinco quatro, ê éfe oito nove éle pê três sete) Resposta pessoal. com base nas contribuições dôs ou dás estudantes, construa duas chaves de leitura para essa interpretação: a primeira em que a fuga pode ser imaginária, um desejo do adolescente de fugir para o quilombo, e nesse caso o choro do gongo poderia ser expressão da tristeza diante dessa impossibilidade; outra chave de leitura pode ser que a fuga seja real, e nesse caso o choro do gongo pode expressar o lamento dôs ou dás que não conseguirão fugir e permanecerão no cativeiro.

Vale a pena assistir e ouvir!

HABILIDADE FAVORECIDA (ê éfe seis nove éle pê quatro cinco)

Texto 2

HABILIDADE FAVORECIDA (ê éfe seis nove éle pê quatro nove)

Primeiras impressões

Que emoções, reflexões e sentimentos esses versos, sua sonoridade, as imagens que evocam despertam em você?

Vinheta de seção. Contorno de um clipe.

Clipe

Fotografia. Uma mulher negra, vista dos joelhos para cima, está batucando sobre um tambor marrom. Ela usa lenço rosa e azul sobre a cabeça, veste camiseta azul e saia branca. A mulher olha para a frente, com a boca aberta. Ao fundo, uma fachada com a pintura descascada

Existem pelo menos dois significados distintos para a palavra cangoma. Segundo o site do Centro Cultural Cangoma, na cidade paulistana de Franca, cangoma significa “festa dos tambores” e “fazer um cangoma” significa “vamos festejar”. Em outras fontes pode-se encontrar cangoma como sendo “um tambor grande, significado que parece se aproximar mais do expresso nesse ponto de jongo.

O texto em construção

Organize-se em dupla e converse com ô á colega sobre as questões a seguir. Elas foram pensadas especialmente para você perceber o trabalho de linguagem dos versos, com foco especialmente no uso das figuras de linguagem e seus efeitos de sentidos.

1. Considerando o contexto de produção, como você interpreta a metáfora dormir no verso “Tava durumindo”?

Comparação e metáfora

Para ouvinte/espectador ou espectadora de um texto, a comparação estabelece uma aproximação entre dois elementos, marcada pelo uso da conjunção comparativa como. Já a metáfora exige mais sensibilidade e imaginação dô ou dá uma vez que algumas palavras são tiradas de seu uso habitual, provocando novas relações de sentido no novo contexto e uso.

2. Que palavra usada no ponto de jongo cria efeitos de antítese com a expressão “tava durumindo”?

Antítese

Antítese é uma figura de linguagem em que se exploram palavras que tenham sentidos contrários.

  1. Retome o conceito de personificação, explorado na leitura do vissungo.
    1. Em que verso do ponto de jongo ocorre personificação?
    2. Como você interpreta essa personificação?
    3. Compare a personificação no ponto de jongo e no vissungo: o que há de comum e de diferente quanto à escolha dos objetos personificados e ao ponto de vista que expressam sobre a condição escrava?

Vale a pena ouvir!

Acesse o jornal da Universidade de São Paulo (Jornal da úspi) e ouça o áudio do programa de Ricardo Alexino Ferreira, disponível em: https://oeds.link/c9rCcl (acesso em: 5 maio 2022).

“Em sua coluna semanal, o professor Ricardo Alexino Ferreira aborda a importância de Clementina de Jesus para a Música Popular Brasileira. Segundo o colunista, a artista trouxe para a ême pê bê ‘a memória dos cantos dos escravizados, o canto das senzalas. O seu canto traz a ancestralidade, aprendida com a sua mãe e os seus avós, que foram escravizados. O jongo, da tradição Bantu, vem daí’.”

Jornal da úspi. Disponível em: https://oeds.link/c9rCcl/. Acesso em: 5 maio 2022.

Orientações e sugestões didáticas

Primeiras impressões

HABILIDADE FAVORECIDA (ê éfe seis nove éle pê quatro seis)

Sugerimos que o trabalho com esta seção seja realizado oralmente, no coletivo, configurando-se como uma roda de leitura. Procure envolver diferentes estudantes, circulando sempre a palavra.

HABILIDADE FAVORECIDA (ê éfe seis nove éle pê quatro oito) Resposta pessoal. possibilite que diferentes estudantes tragam suas associações.

O texto em construção

Sugerimos que os ou as estudantes trabalhem em duplas na discussão e na resolução dessas questões que tratam da textualidade dos versos, com foco especialmente no uso das figuras de linguagem e seus efeitos de sentidos.

  1. HABILIDADES FAVORECIDAS (ê éfe seis nove éle pê cinco quatro, ê éfe oito nove éle pê três sete) Resposta pessoal. em diálogo com as interpretações dôs ou dás estudantes, faça, se necessário, intervenções que os ou as apoiem na percepção de que dormir evoca sentidos como estar em repouso, desligando-se do mundo externo, que podem, metaforicamente, remeter à condição imposta pelo cativeiro/escravização.
  2. HABILIDADES FAVORECIDAS (ê éfe seis nove éle pê cinco quatro, ê éfe oito nove éle pê três sete) “Levanta”.

3a. HABILIDADES FAVORECIDAS (ê éfe seis nove éle pê cinco quatro, ê éfe oito nove éle pê três sete) “cangoma me chamou”.

3b. HABILIDADES FAVORECIDAS (ê éfe seis nove éle pê cinco quatro, ê éfe oito nove éle pê três sete) Resposta pessoal. vírgula com base nas contribuições dôs ou dás estudantes, ajude-os ou ajude-as a estabelecerem relações com o todo do ponto, seu contexto de produção, para inferirem como o chamado do cangoma, o tambor, pode ser compreendido como um chamado para ações de celebração, de resistência, dentre outras, com o fim do cativeiro.

3c. HABILIDADES FAVORECIDAS (ê éfe seis nove éle pê quatro quatro, ê éfe oito nove éle pê três dois) , essa questão é intencionalmente desafiadora e poderá exigir mais mediação. Com base nas relações estabelecidas pelos(as) estudantes, ajude-os ou ajude-as, se necessário, a perceberem como em ambos os cantos há escolha de instrumentos de percussão, mas em um o ou os expressa(m) atitudes de lamento (“chora gongo chora”) e em outro, ações de mobilização, engajamento (“cangoma me chamou”).

Vale a pena ouvir!

HABILIDADE FAVORECIDA (ê éfe seis nove éle pê quatro cinco)

Oficina de leitura e criação – Produção de programa de rádio – Africanidades na música brasileira

Condições de produção

O quê?

Produzir o programa de rádio Africanidades na música brasileira, usando recursos de gravação e edição de áudio, para apresentar um álbum da música brasileira com valorização de africanidades.

Para quem?

Para a própria turma ampliar conhecimentos e repertórios da cultura musical afro-brasileira e difundi-la para diferentes públicos, com protagonismo.

Como fazer?

  1. Definindo o contexto de produção Com a mediação dô ou dá professor ou professora, discutam e decidam:
    1. Para quais ouvintes queremos apresentar o programa de rádio Africanidades na música brasileira?
    2. Qual será a vinheta do programa? Quem poderá produzi-la e salvá-la em uma nuvem para que todos os grupos possam usá-la?
    3. O que a turma quer que essa vinheta tenha, além de uma leitura bem expressiva do nome do programa? Que efeitos sonoros poderão ser usados para isso?
    4. Quantas edições do programa serão feitas? Uma por grupo?
    5. De que recursos precisaremos?
    6. Como poderemos obtê-los?
    7. Como poderemos divulgar as edições do programa?
    8. Vamos nos valer de algum gênero próprio para essa divulgação? O que já sabemos desse gênero? O que vale a pena buscar saber mais?

Vinheta

Feita de frases curtas, de apenas alguns segundos, a função da vinheta é marcar a entrada ou a saída de um programa. Ela pode ser acompanhada de efeitos sonoros ou trechos musicais que ajudem a agregar sentidos à identidade do programa.

  1. Pesquisando álbuns musicais para a curadoria de um álbum
    1. Com mais quatro colegas, forme um grupo de trabalho.
Orientações e sugestões didáticas

Oficina de leitura e criação

HABILIDADES FAVORECIDAS (ê éfe zero nove éle pê zero quatro, ê éfe oito nove éle pê dois quatro, ê éfe oito nove éle pê três três, ê éfe oito nove éle pê três sete, ê éfe seis nove éle pê quatro quatro, ê éfe seis nove éle pê quatro seis, ê éfe seis nove éle pê cinco um, ê éfe seis nove éle pê cinco três, ê éfe seis nove éle pê cinco quatro, ê éfe seis nove éle pê cinco seis)

Para essa oficina, como primeira ação, é fundamental que você coloque em discussão qual público, além da própria turma, os ou as estudantes gostariam de alcançar com o programa de rádio e discuta com eles ou elas fórmas de chegar a uma conclusão. Você pode se preparar antes para a oficina, procurando conhecer ferramentas que poderão ser usadas na gravação, na edição e no armazenamento dos áudios, como o Audacity. Um link interessante para ser consultado é o do Quilombo do sopapo, que apresenta o Roteiro para Rádio da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo: https://oeds.link/8oikfX (22 agosto 2022). Combine com a turma fórmas mais adequadas ao contexto de vocês para a difusão das edições do programa: intervalo das aulas, publicação em redes sociais, blog/site da escola. Dê a eles ou elas protagonismo nas decisões e faça intervenções que os ou as apoiem na percepção de propostas mais adequadas ao contexto de vocês. Combine um cronograma de ações, dando especial atenção ao intervalo de uma semana para que façam a audição dos álbuns. Procure mobilizá-los ou mobilizá-las para essa etapa, que favorecerá a ampliação de repertórios, referências e apreciação à luz de critérios previamente definidos. As referências aqui sugeridas constituem um pequeno corpus da imensa riqueza das africanidades na música brasileira, e foram compostas buscando combinar diferentes gêneros e estilos musicais; assim, poderão ser ampliadas também com referências suas e da turma. Sugerimos que a etapa de audição seja feita individualmente, como atividade extraclasse. Já as trocas nos grupos sobre essas atividades e todas as demais etapas serão mais significativas se acontecerem nos contextos das aulas, com você acompanhando o processo de cada grupo, fazendo intervenções e registros de acompanhamento do aprendizado e do desenvolvimento de cada grupo e, dentro dele, de cada estudante, de modo particular. Para o momento de escrita do roteiro, seria altamente oportuno aproveitar a atividade para incentivar que o processo de escrita dos grupos resulte em um documento colaborativo que seja salvo em um drive ou em uma nuvem. Nesse caso, procure envolver os ou as estudantes que já dominam essa estratégia de letramento para a realização de uma oficina, de modo que todos ou todas possam aprender a usar essa ferramenta, que é própria para escritas colaborativas. Por fim, para a gravação, preveja um espaço silencioso, adequado à captação das locuções.

  1. Ao longo da semana, busquem conhecer, consultando canais seguros da internet, diferentes álbuns musicais que expressem africanidades na música brasileira. Esses álbuns podem ter circulado originalmente por éle pê (vinil), cedê ou por canais de internet. Vocês poderão buscar referências ou investigar as que sugerimos na lista a seguir.
  2. Escutem as canções, atentos ou atentas aos versos e aos ritmos, e reflitam sobre questões das africanidades que elas expressam, despertam: crenças, costumes, memórias e história, resistência. É importante ter uma postura de abertura e interesse, para conhecer ou reconhecer essas criações artísticas, especialmente se for seu primeiro contato com o trabalho dêsses ou déssas artistas.
  3. Percebam que, em algumas propostas, os ritmos ancestrais aparecem mais puros, em outras, são combinados com outros ritmos musicais.
  4. Façam anotações sobre o que mais chamou a atenção de vocês em cada álbum: estilo dô ou dá artista, as sensações, emoções, reflexões que a escuta provocou em relação às africanidades. Procurem refletir sobre as razões disso e também anotar.
Fotografia. Capas de discos empilhadas uma sobre a outra e sobrepostas a três  discos pretos, com a parte central nas cores azul, vermelho e verde.
Discos de vinil.
Ilustração. Quadros coloridos.
Primeiro quadro, azul, diz: Tempo e Magma
(2015)
Tigana Santana
Segundo quadro, roxo, diz:
Africadeus (1973)
Naná Vasconcelos
Terceiro quadro, verde, verde-água, diz:
Cinco Sentidos
(2010)
Mateus Aleluia
Quarto quadro, roxo, diz:
Eu sou Lia (2000)
Lia de Itamaracá
Quinto quadro, vermelho, diz:
Corpura (2015)
Aláfia
Sexto quadro, vermelho, diz:
Suor no rosto (1983)
Beth Carvalho
Sétimo quadro, amarelo, diz:
Ogum, Xangô (1975)
Gilberto Gil
e Jorge Ben Jor
Oitavo quadro, roxo, diz:
Ascensão (2010)
Serena Assumpção
Nono quadro, vermelho, diz:
Encontros e
despedidas
Milton Nascimento
Décimo quadro, cor-de-rosa, diz:
Sobre crianças,
quadris, pesadelos e
lições de casa (2016)
Emicida
Décimo primeiro quadro, roxo, diz:
Tecno Macumba
(2017)
Rita Ribeiro
Décimo segundo quadro, verde-claro, diz:
Guerreira (1978)
Clara Nunes
Décimo terceiro quadro, verde-água, diz:
Benguelê (1998)
João Bosco e Grupo
Corpo (1998)
Décimo quarto quadro, azul-escuro, diz:
Mestre Ambrósio
(1996)
Mestre Ambrósio
Décimo quinto quadro, vermelho-escuro, diz:
A mulher gera o
mundo (1997)
Banda Didá
Décimo sexto quadro, cor-de-rosa, diz:
O samba é meu dom
(2005)
Fabiana Cozza
Décimo sétimo quadro, verde-escuro, diz:
Os afrosambas
(1966)
Vinicius de Moraes e
Baden Powell
Décimo oitavo quadro, vermelho, diz:
Um corpo no
mundo (2017)
Luedji Luna
Décimo nono quadro, azul, diz:
Capoeira de Besouro
(2010)
Paulo César Pinheiro
Vigésimo quadro, marrom, diz:
Abre Caminho
(2005)
Mariene de Castro
  1. Reúnam-se e, com base nas anotações que fizeram, troquem suas primeiras impressões sobre os álbuns, pensando nestas e em outras questões que vocês julgarem ser relevantes:
    1. O que vocês já conheciam dêsses ou déssas artistas e o que foi uma descoberta?

Oficina de leitura e criação

  1. Em que álbuns perceberam referências mais diretas das africanidades? Como as perceberam?
  2. Em quais perceberam referências africanas nos versos e nos ritmos mesclados com outros ritmos?
  3. Que critérios querem combinar para a escolha de um único álbum a ser mais investigado pelo grupo e trabalhado em roteiro para a produção de programa de rádio, com valorização de africanidades? Listem esses critérios e, com base neles, façam a escolha. Se quiserem, apoiem-se em alguns destes critérios:
  • O álbum que mais:
  • trouxe reflexões sobre as africanidades;
  • foi desafiador para perceber africanidades;
  • trouxe estilo musical diferente dos que já conhecíamos;
  • agradou mais como realização musical.
Vinheta de seção. Contorno de um clipe.

Clipe

Fotografia. Um instrumento musical de percussão feito de madeira. Ele tem formato horizontal e arredondado, com uma das pontas mais finas. Acima, algumas linhas em branco.
Macumba.

“Macumba é uma espécie de árvore africana e também um instrumento musical utilizado em cerimônias de religiões afro-brasileiras, como o candomblé e a umbanda. O termo, porém, acabou se tornando [por preconceito] uma fórma pejorativa de se referir a essas religiões – e, sobretudo, aos despachos feitos por alguns seguidores.”

Superinteressante. Disponível em: https://oeds.link/2FNbBn/. Acesso em: 5 maio 2022.

  1. Investigando o álbum escolhido
    • Consultando sites seguros da esfera jornalística, especialmente cadernos de cultura e de instituições culturais dedicadas à música, arte e cultura afro-brasileiras, leiam reportagens, entrevistas e resenhas, investiguem e anotem:
    1. O que vale a pena destacar na história de vida dô ou dá artista para melhor compreender sua música?
    2. Que importância esse álbum tem na carreira desse ou dessa artista?
    3. Quem foi ô á musical desse álbum?
    4. Como o álbum circulou: éle pê, cedê, internet?
    5. A que gênero musical é possível associar esse trabalho (samba, rap, pop, bossa nova, Música Popular Brasileira, música de raiz)?
    6. Que canções integram o álbum? Dessas, escolham três que queiram apresentar no programa de rádio.
    7. Em quais canções vocês percebem palavras, expressões, temas, ritmos das africanidades?
    8. O que é preciso aprender para melhor compreender as canções? Especialmente em relação às palavras de línguas africanas, como podemos aprender sentidos e pronúncia?
    9. O que vocês percebem como trabalho de linguagem e de poesia nos versos, especialmente quanto ao uso de figuras de linguagem?
    10. O que vale a pena destacar sobre os ou as intérpretes?
    11. Quais instrumentos foram usados e que efeitos provocaram?
Fotografia. Foco em CDs ou DVDs espalhados um sobre outro, de formato redondo em tons de cinza e reflexos em verde-claro.
Cê dês ou Dê vê dês.

Façam outro recorte de investigação, conforme os interesses de vocês diante do álbum, do artista e de suas canções. Busquem as informações e completem as anotações.

Vinheta de seção. Contorno de um clipe.

Clipe

A partir do século dezesseis, milhões de africanos escravizados foram trazidos ao Brasil à fôrça. Eles pertenciam a diferentes povos que foram classificados em dois grandes grupos linguísticos da família nigero-congolesa: banto e iorubá. Esses povos vieram de regiões onde hoje estão os países africanos Costa do Marfim, Nigéria, Camarões, Congo, Angola, Quênia, Moçambique, África do Sul, entre outros. A composição demográfica de nosso país é resultado desse expressivo fluxo migratório: o Brasil tem a segunda maior população negra do mundo, inferior apenas à da Nigéria.

  1. Escrevendo o roteiro
    • Você certamente já ouviu programas de rádio e já deve, portanto, ter percebido que, de modo geral, os locutores usam frases curtas, em linguagem simples, com coloquialidade, buscando atingir o maior número possível de ouvintes. Também deve ter percebido que um programa tem uma duração de tempo bem definida. Para que tudo isso aconteça é fundamental que, antes da gravação, haja um roteiro do programa.
    1. Com base nas investigações e nas anotações que fizeram, produzam um roteiro para o programa, que deverá ter de dez a quinze minutos, apresentando ô á artista, o álbum e três canções.
    2. Escrevam coletivamente o roteiro. Para isso, elejam alguém para ser o escriba, isto é, aquele que fica escrevendo e apagando, conforme as discussões e as decisões do grupo avançam. Cuidem para que a autoria seja de todos ou todas, com o grupo opinando em cada escolha.
    3. Vocês poderão copiar o quadro seguinte no caderno e consultar a ficha de apoio à produção e avaliação do roteiro e do programa de rádio.
Fotografia. Um homem visto dos ombros para cima e de perfil. Ele veste camiseta cinza e casaco marrom. Está sentado e segurando uma folha  diante de uma mesa branca, onde manipula um objeto preto com botões. Na direção de sua boca há um microfone preto
Locutor de rádio.

Oficina de leitura e criação

Ícone. Modelo.
Programa Africanidades na música brasileira

O que fazer?

Texto a ser produzido por vocês

Tempo estimado

Vinheta do programa (será comum para todas as edições do programa).

5 segundos

Locutor(a) se apresenta (com animação) e conta o que o programa apresentará. Apresenta o(a) artista, contando, em linguagem simples e animada, os aspectos mais importantes de sua biografia. Apresenta o álbum (título, ano, quem produziu, como circulou) e comenta a importância desse trabalho na carreira do(a) artista.

1 minuto

Locutor(a) introduz a canção 1, chamando a atenção do(a) ouvinte sobre suas particularidades quanto às africanidades, interpretação, aspectos poéticos e musicais, conforme a análise que o grupo fez na etapa anterior.

15 segundos

Reprodução da canção 1

A duração da canção

Locutor(a) introduz a canção 2, chamando a atenção do(a) ouvinte sobre suas particularidades quanto às africanidades, interpretação, aspectos poéticos e musicais, conforme a análise que o grupo fez na etapa anterior.

15 segundos

Reprodução da canção 2

A duração da canção

Locutor(a) introduz a canção 3, chamando a atenção do(a) ouvinte sobre suas particularidades quanto às africanidades, interpretação, aspectos poéticos e musicais, conforme a análise que o grupo fez na etapa anterior.

15 segundos

Reprodução da canção 3

A duração da canção

Locutor(a) fecha o programa (com entusiasmo), recuperando para o(a) ouvinte a informação sobre o álbum a que pertencem as faixas e convidando-o(a) para o próximo programa.

15 segundos

d. Para dimensionarem o tamanho ideal do texto para a locução, considerem o boxe a seguir:

Locução

Na locução profissional, lê-se de 160 a 180 palavras por minuto. Outra referência que ajuda a estimar o tempo: cada linha digitada, com 65 toques, leva de 4 a 5 segundos na locução. Assim, um texto de 12 linhas levará cêrca de um minuto de locução.

Vale a pena conhecer!

Na internet, há ferramentas de uso gratuito para calcular o tempo de locução de um texto. Combine palavras-chave e busque uma fonte segura, de uso on-line.

  1. Revisando o roteiro
    • Com auxílio da ficha de apoio à produção e avaliação do roteiro, revisem o texto e peçam também a leitura do professor ou da professora. Trabalhem a versão final do texto e providenciem cópias dele para todos ou todas os ou as participantes do grupo.
  2. Gravando o programa
    • Conversem sobre os perfis, conhecimentos e habilidades de cada integrante do grupo e decidam:
    1. Quem será ô á locutor ou locutora? ele ou ela deverá ensaiar bem, antes da gravação, explorando a entonação, as pausas, o ritmo, para mobilizar o interesse de ouvintes.
    2. Quem apoiará a gravação?
    3. Quem fará a edição de áudio e o salvará, conforme os combinados com ô á professor ou professora e o restante da turma?
    4. Para a gravação, considerem a necessidade de espaço com contrôle de ruídos, barulhos etcétera
  3. Avaliando a produção
    • Relembrem como desenvolveram a atividade, ouçam o programa de rádio e avaliem-no de acordo com a ficha de apoio a seguir.
Ilustração. Quatro crianças sentadas de frente para uma mesa redonda e marrom, onde há notebook, tablet, caneta e caderno. Todas estão vestidas com uniforme verde e branco. Da esquerda para a direita, uma menina cadeirante, de cabelos encaracolados castanhos, com laço rosa e usando óculos de grau. Ao lado dela, um menino de cabelos encaracolados pretos, usando óculos de grau. Na sequência, um menina de cabelos encaracolados castanhos e curtos. Na lateral direita, um menino de cabelos encaracolados, pretos e com as mãos sobre um caderno com páginas em branco.

Oficina de leitura e criação

Ficha de apoio à produção e avaliação do roteiro e do programa de rádio Africanidades na música brasileira

Quanto ao roteiro

1. Adequação à proposta

• Produzimos um roteiro para programa de rádio, apresentando, de modo contextualizado e interessante, faixas de álbum da música brasileira com valorização de africanidades?

2. Atenção às características estudadas do gênero e ao trabalho de linguagem feito nele

• O texto se organiza em falas de locução, distribuídas por duração de tempo?

3. Construção da coesão/coerência do texto (textualidade)

• As locuções organizam a audição seguindo a sequência das informações oferecidas?

4. Relações entre a escrita e a oralidade

a) O texto está escrito em registro coloquial, com frases curtas, linguagem simples, favorecendo a locução?

b) Há respeito às regras da norma-padrão?

c) Houve uso de variação linguística com intencionalidade?

5. Quanto à gravação

• Na locução, a entonação, as pausas e o ritmo contribuíram para mobilizar o interesse de ouvintes?

6. Quanto à colaboração no grupo

a) Trabalhamos com escuta atenta, interesse e respeito pela opinião de todos(as)?

b) Fomos responsáveis com as ações assumidas?

c) Estivemos abertos à negociação, pontos de vista e ajustes no processo todo?

O que levo de aprendizagens deste capítulo

  1. Como foi para você a experiência de conhecer a poesia de cantos africanos de nossos ancestrais?
  2. E de poder refletir mais sobre as africanidades na música brasileira?
  3. Que importância atribui à oportunidade de ter compartilhado com outros ou outras os conhecimentos que construiu, por meio da produção de um programa de rádio? O que considera que pôde aprender e desenvolver ao longo dessas atividades?

Galeria

África na ponta da língua

Ao longo do capítulo você teve a oportunidade de construir o conceito africanidades e de relacioná-lo com a arte e a cultura, especialmente a música brasileira. Agora você poderá conhecer a importância das africanidades para a nossa língua: o português falado no Brasil.

Para isso, retomará o que já sabe sobre o gênero artigo de divulgação científica e lerá, com autonomia, o trecho de um artigo, em que a pesquisadora traz um conjunto de evidências de como as línguas que vieram com nossos ancestrais africanos foram deixando marcas no idioma que falamos.

Durante a leitura, produza, na sua galeria, um mapa conceitual, organizando as principais ideias trazidas pelo artigo. Faça também uma lista afetiva, com algumas palavras de origem africana que, de acordo com a pesquisadora, entraram em nosso léxico e que para você são palavras que provocam sentimentos, memórias, remetem a experiências vividas.

Marcas de africania no português brasileiro

Yeda Pessoa de Castro2nota de rodapé

Resumo: Se as vozes dos quatro milhões de negro-africanos que foram trasladados para o Brasil ao longo de mais de três séculos consecutivos não tivessem sido abafadas na História do Português Brasileiro, por descaso ou preconceito acadêmico, não haveria mais dúvida, por parte de linguistas e filólogos, de que a consequência mais direta do tráfico da África Subsaariana para o Brasil foi a alteração da língua portuguesa na antiga colônia sul-americana. Isso se fez sentir em todos os setores, léxico, semântico, prosódico, sintático e, de maneira rápida e profunda, na língua falada, o que deu ao Português do Brasil um caráter próprio, diferenciado do Português de Portugal.

Palavras-chaves: Línguas negro-africanas. Marcas lexicais. Bantuismos. Português do Brasil.

Se as vozes dos quatro milhões de negro-africanos que foram trasladados para o Brasil ao longo de mais de três séculos consecutivos não tivessem sido abafadas em nossa História, por descaso ou preconceito acadêmico, hoje saberíamos que eles, apesar de escravizados, não quedaram mudos, falavam línguas articuladamente humanas e participaram da configuração do português brasileiro não somente com palavras que foram ditas a esmo e “aceitas como empréstimos pelo português”, na concepção vigente, mas também nas diferenças que afastaram o português do Brasil do de Portugal.

Orientações e sugestões didáticas

Galeria

HABILIDADE FAVORECIDA (ê éfe oito nove éle pê três três)

Esta seção pode configurar outras ações de multiletramentos, com autonomia e protagonismo dôs ou dás estudantes.

HABILIDADES FAVORECIDAS (ê éfe seis nove éle pê dois nove, ê éfe seis nove éle pê três dois) professor ou professora, esta seção pode configurar outras ações de multiletramentos, com autonomia e protagonismo dôs ou dás estudantes. Nela, eles ou elas poderão ler um artigo de divulgação científica sobre as africanidades na constituição da língua portuguesa falada no Brasil. Em aula, você pode pedir que a turma relembre e explicite as regularidades desse gênero, como o resumo, as palavras-chave, as informações sobre a pesquisadora e seu propósito comunicativo (tornar público o conhecimento resultante de sua pesquisa). Retome também o que já aprenderam sobre a realização de mapas conceituais, construindo colaborativamente com eles ou elas mapas que sistematizem o que já trazem de compreensão sobre aspectos da língua citados no texto (léxico, semântico, prosódico, sintático) e com os quais vêm trabalhando nos capítulos dedicados a conhecimentos linguísticos. Garanta a compreensão de que o trecho que lerão tratará especialmente das africanidades no léxico, isto é, no conjunto de palavras de nossa língua. Crie uma oportunidade para que os ou as estudantes partilhem algumas das palavras que escolheram na leitura do artigo para comporem uma lista afetiva, contribuindo, assim, para que relacionem língua, cultura e memória com suas experiências vividas. incentive-os ou incentive-as a usarem essa lista nos processos de criação de arte e literatura. Ela poderá, inclusive, inspirar produções para a divulgação do cinedebate que realizarão.

Aquelas vozes submergidas no inconsciente iconográfico dessa gente trazida em cativeiro se fazem perceptíveis na pronúncia rica em vogais da nossa fala (ri.ti.mo, pi.néu, a.di.vo.ga.do), na nossa sintaxe (tendência a não marcar o plural do substantivo no sintagma nominal (os menino ou meninos, as casa ou casas), na dupla negação (não quero não), no emprego preferencial pela próclise (eu lhe disse, me dê), mas se revelam de maneira inequívoca nas centenas de palavras que foram e ainda são apropriadas como patrimônio linguístico do português do Brasil a enriquecerem o imaginário simbólico da língua portuguesa. São marcas lexicais portadoras de elementos culturais compartilhados por toda a sociedade brasileira e que transitam no âmbito da recreação (samba, capoeira, forró, lundu, maculelê), dos instrumentos musicais (berimbau, cuíca, agogô, timbau), da culinária (mocotó, moqueca, mungunzá, canjica), da religiosidade (candomblé, macumba, umbanda), das poéticas orais (os tutus dos acalantos, o tindolelê das cantigas de roda), das doenças (caxumba, tunga), da flora (dendê, maxixe, jiló, andu, moranga), da fauna (camundongo, minhoca, caçote, marimbondo), dos usos e costumes (cochilo, muamba, catimba), dos ornamentos (miçanga, balangandã), das vestes (tanga, sunga, canga), da habitação (cafofo, moquiço), da família (caçula, babá), do corpo humano (bunda, corcunda, banguela, capenga), dos objetos fabricados (caçamba, tipóia, moringa), das relações pessoais de carinho (xodó, dengo, cafuné), dos insultos (sacana, xibungo, lelé), do mando (bamba, capanga), do comércio (quitanda, bufunfa, muamba, maracutaia).

Nesse vocabulário, há de distinguir os aportes antigos – a maioria proveniente de línguas angolanas –, que entraram na época colonial para o domínio da língua portuguesa e já se encontram completamente integrados ao seu sistema linguístico de onde formam diferentes derivados com prefixos e sufixos (esmolambado de molambo, sambista de samba, encalombado de calombo, maconheiro de maconha, xingamento de xingar, umbandista de umbanda). Na mesma categoria encontram-se os aportes associados ao regime da escravidão (senzala, quilombo, mocambo), alguns já obsoletos (banzo, viramundo, mucama) e poucos também correntes em Portugal (moleque, carimbo), em meio a centena de outros para designar elementos novos tangíveis então introduzidos no falar corrente do trato diário do português com os escravos domésticos, os escravos de jó ( do quimbundo njo, casa) que jogavam caxangá ( jogo de tabuleiro) da conhecida brincadeira infantil brasileira.

Aqui, o desempenho da mulher negra na função de ama-de-leite e criadeira foi tão marcante no ambiente familiar da casa senhorial que até hoje chamamos o filho mais jovem pelo termo angolano caçula em lugar de benjamim, como se diz em Portugal (o Word, na sua versão brasileira, reconhece apenas como nome próprio), uma evidência, entre muitas, que nos leva a admitir que essa foi a nossa grande mãe ancestral. É ainda neste momento que outros termos angolanos, como no presente caso, deixaram fóra de uso na linguagem brasileira os seus equivalentes em português, a exemplo dos bantuismos moringa em lugar de bilha, corcunda/cacunda por giba, capenga por coxo, cachaça por aguardente, cochilar por dormitar, xingar por injuriar, dendê por óleo de palma, molambo por trapo, marimbondo por vespa, dengo por mimo, caxumba por trasorelho, xingar por insultar, lengalenga por enganação, babatar por tatear.

Mas onde ficou a memória recordação dessas vozes, uma vez que nenhuma língua africana é mais falada como língua plena no Brasil? Em falares especiais de comunidades negras rurais, com um vocabulário reduzido de base umbundo, como as que vivem no Cafundó, São Paulo, em Tabatinga, Minas Gerais, como as que dizem falar a “língua de banguela” no cântico dos vissungos, também em Minas Gerais, e na linguagem litúrgica dos terreiros onde elas ressoam com maior intensidade através de um repertório lingüístico diferenciado como fator identitário e de identidade sociorreligiosa do grupo, seja ele de tradição mina-jeje dos voduns daomeanos, nagô-queto dos orixás iorubanos ou congo-angola dos inquices do mundo banto. Esse repertório litúrgico, transmitido por tradição oral e apoiado em um tipo consuetudinário de comportamento bem conhecido dos participantes por experiência pessoal, é fonte permanente e atual dos aportes negroafricanos no português do Brasil, a partir da frequência com que são usados no falar cotidiano da gente de terreiro e popularizados através da mídia por compositores da ême pê bê, de blocos afros e afoxés e de sambas-enredo, além de telenovelas produzidas no Brasil com temas regionais.

reticências

CASTRO, Y. P. de. Marcas de africania no português brasileiro. In: Interdisciplinar: Revista de Estudos de Língua Literatura. Programa de pós-graduação em Letras Profissional em Rede (pê pê éle pê), 2013. Itabaiana (Sudeste), ano onze, v. 24, janeiro a abril 2016.

Vale a pena ver!

Mokambo: Nguzo Malunda Bantu, direção de Soraya Públio Mesquita. Brasil, 2018.

Mokambo: Nguzo Malunda Bantu (fôrça da Tradição Bantu) é um filme-documentário, com direção de Soraya Públio Mesquita, que revela a grande influência dos primeiros escravizados traficados para o Brasil na construção da identidade brasileira. Muitas palavras da língua que falamos — caçula, mochila, cochilo, caçamba, bunda —, a capoeira, o candomblé, o samba, a culinária — as comidas de dendê e a brasileiríssima feijoada — são algumas presenças marcantes da tradição Bantu na vida dos brasileiros.

Assista ao documentário em canais seguros na internet, combinando palavras-chave.

• Reflita: O que posso aprender assistindo a esse documentário?

Cartaz de filme. Em fundo bege, destaca-se ao centro o busto de um menino. Seu cabelo e sua orelha direita estão em tons de verde; seus olhos estão sombreados em tons de marrom. Sobre sua cabeça, há folhas verdes. Na parte inferior, título do filme: MOKAMBO. NGUZO MALUNDA BATU (FORÇA DA TRADIÇÃO BANTU). Acima do título, em letras menores, o texto: UM FILME DE SORAYA PÚBLIO MESQUITA.

LiTERatitudes

Cinedebate: a cultura afro-brasileira em documentários

Você já parou para refletir sobre o que se modificou no modo que (re)conhecia a presença africana em nossa língua, arte e cultura?

Que tal promover uma mudança em outras pessoas, por meio de uma sessão de cinedebate?

O que fazer?

  1. Você e sua turma vão escolher um documentário em que avaliem haver aspectos das africanidades (língua, dança, música, religião, visão de mundo, costumes, corporeidade, entre outros) na arte e na cultura brasileiras.
  2. Vão apreciar coletivamente o filme, discutindo aspectos como:
    • Do que ou de quem trata o documentário?
    • De quem é a direção?
    • Que pessoas são ouvidas no documentário? Que relações elas têm com o tema?
    • Em que contextos elas são filmadas? Quais enquadramentos são mais usados? Por que provavelmente ô á documentarista fez essas escolhas?
    • Há edição com uso de cenas de outros filmes, reportagens, shows etcétera compondo o documentário? Por que possivelmente essas escolhas foram feitas?
    • Há uso de recursos musicais e sonoros? Que sentidos eles agregam ao que as imagens e o texto apresentam?
    • Que conhecimentos e pontos de vista o documentário traz sobre as africanidades na arte e na cultura brasileira?
  3. Com base no que já sabem sobre como organizar um evento e com o apoio dô ou dá professor ou professora, vocês vão planejar a exibição do filme e de um debate, decidindo:
    • Quem será convidado para o cinedebate?
    • Onde e quando acontecerá?
    • Que questões vocês querem apresentar para o público discutir, após a exibição do filme?
    • Haverá algum convidado ou alguma convidada especial para mediar e comentar as participações?
    • Como vocês vão divulgar o evento?
    • Quem ficará responsável pelo quê?
    • O que seria interessante que todos os ou todas as estudantes da turma observassem e anotassem durante a realização do cinedebate?
Orientações e sugestões didáticas

Literatitudes

HABILIDADES FAVORECIDAS (ê éfe oito nove éle pê dois oito, ê éfe seis nove éle pê quatro quatro, ê éfe seis nove éle pê quatro cinco, ê éfe seis nove éle pê quatro seis, ê éfe seis nove éle pê quatro nove) professor ou professora, dê protagonismo aos ou às estudantes em todas as etapas desse evento. Você pode sugerir, em estratégia de sala de aula invertida, que os ou as estudantes leiam resenhas e comentários, prática com a qual já vêm trabalhando ao longo dos capítulos, para fazerem uma primeira curadoria de documentários. eles ou elas também poderão se apoiar em títulos que já conhecem. Em sala, promova uma roda de conversa para que os ou as estudantes façam trocas sobre as sugestões que levantaram e para que deliberem, com argumentos, qual título seria mais interessante para a realização do evento e por quê.

Interdisciplinaridade

A depender do documentário escolhido, você poderá trabalhar em parceria com ô á professor ou professora de Arte ou de Educação Física. Assim, por exemplo, no caso de um documentário envolvendo a música, ô á professor(a) de Arte poderá oferecer uma oficina de experimentação de percussão de ritmos africanos. Ou, ainda como exemplo, uma temática como a capoeira poderá ser articulada a uma oficina de experimentação de gestos e movimentos dessa luta e de uma investigação sobre sua origem e legitimação no Brasil. Observe que, em ambas as situações, os ou as professores ou professoras poderão promover práticas com as habilidades e os objetos de conhecimento de seus componentes, de fórma integrada com os interesses da turma, nessa prática dentro de Língua Portuguesa.

Haverá registros fotográficos do evento? Que cuidados serão necessários?

Avaliem também se algumas destas sugestões podem interessar para o cinedebate de vocês:

Documentário 1

Emicida: AmarElo – É Tudo pra Ontem

Como o título já diz, Emicida: AmarElo – É Tudo pra Ontem tem pressa de fazer acontecer. A gravação do show que o rapper fez em novembro de 2019 no Theatro Municipal de São Paulo se mistura reticências com historiografia da negritude brasileira, reparação histórica, análise sociológica, autobiografia e, eventualmente, no meio disso tudo, um registro de making-of. É expressão de uma pretensão artística da mesma fórma que é expressão de uma urgência no discurso.

ANO: 2020

PAÍS: Brasil

DURAÇÃO: 89 minutos

DIREÇÃO: Fred Ouro Preto

ELENCO: Emicida

Disponível em: https://oeds.link/9gGim0. Acesso em: 8 maio 2022.

Cartaz de filme. No centro, um homem visto da cintura para cima e de perfil. Ele tem cabelos encaracolados e barba pretos, usa óculos de grau e veste um casaco amarelo e preto. Ao fundo, atrás de seu rosto, um coração amarelo iluminado. Na parte inferior, o seguinte texto em branco, amarelo e vermelho: UM DOCUMENTARIO ORIGINAL, NETFLIX – EMICIDA AMARELO É TUDO PRA ONTEM ASSISTA AGORA – NETFLIX.
Cena do documentário Emicida: AmarElo – É Tudo pra Ontem, de Fred Ouro Preto (2020).

Documentário 2

Eu tenho a palavra

“Eu tenho a palavra” é uma viagem linguística em busca das origens africanas da cultura brasileira. O antigo reino do Congo foi a origem da maioria dos africanos escravizados no Brasil que, no cativeiro, criaram diversos dialetos para que pudessem se comunicar livremente.

A “língua do negro da Costa” é um desses dialetos, ainda preservado no bairro da Tabatinga, em Bom Despacho, Minas Gerais. O idioma é composto por um português rural do Brasil-Colônia e línguas do grupo Banto, com predomínio do mbundo, falado até hoje em Angola.

LiTERatitudes

Dois personagens – um falante da “língua do negro da Costa” e outro falante de mbundo – nos guiam nessa viagem transoceânica de reconhecimento.

Diretor: Lilian Solá Santiago

Produção: Francine Barbosa

Montagem: Leandro Goddinho

Som Direto: Valnei Nunes

Fotografia: Valnei Nunes

Trilha: Fernando Alabê

Disponível em: https://oeds.link/TF2kAl. Acesso em: 9 maio 2022.

Cena de filme. Cena em preto e branco. Vista do alto de pés de duas pessoas pisando em um chão de concreto cinza. À esquerda, dois pés cruzados, usando chinelos claros e, à direita, um pé usando sandália escura.
Cena do documentário Eu tenho a palavra, de Lilian Solá Santiago (2009).

Documentário 3

Passarinho, o que é capoeira?

Cena de filme. Um homem visto dos ombros para cima. Ele tem cabelos e barba pretos, sobrancelhas e lábios grossos. Ele veste uma camiseta branca e está com os olhos fechados e o rosto completamente suado. O fundo é preto. Na parte superior, o título em amarelo: PASSARINHO, O QUE É CAPOEIRA? Na parte superior e inferior, há os nomes dos participantes, do diretor e de assistentes envolvidos na produção do vídeo.
Cena do documentário Passarinho, o que é capoeira?, de Djéksôn Pereira (2020).

Sinopse: “Passarinho, o que é capoeira?” é um documentário que conta as vivências de um professor de capoeira, seus alunos e seu primeiro mestre no mundo da Capoeiragem. Januário José Vieira Borges, mais conhecido na capoeira como graduado “Passarinho”, tem 34 anos e é professor de capoeira em academias e escolas, onde desenvolve projetos sociais há 6 anos, na cidade de Caxias do Sul/Rio Grande do Sul. No filme, Passarinho e os outros entrevistados contam os benefícios que a cultura da capoeira traz para a sociedade e as mudanças que ocorreram em suas vidas através dos ensinamentos desta arte; tudo isso aliado a muita música, movimentos à flor da pele e palavras vindas do coração.

Disponível em: https://oeds.link/AX2lo7e3_Enuv6lQ. Acesso em: 8 maio 2022.

Glossário

Cabinda
: pessoa que pertence aos cabindas ou cambindas, grupo banto que vive na região de Cabinda, em Angola, país do continente africano.
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Golfo de Benin
: o golfo de Benin, baía de Benin ou enseada de Benin é uma baía que se estende ao longo da costa da África Ocidental por cêrca de 640 quilômetros desde o cabo em Gana, até a foz do rio Níger, na Nigéria. Foi um dos locais do comércio de negros para escravidão entre os séculos dezesseis e dezenove.
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Banzos
: sentimentos profundos de tristeza e saudade experimentados pelos homens e mulheres trazidos à fôrça da África.
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Partido-alto
: antiga espécie de samba, cantado de improviso e dançado em roda.
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Curimbas
: músicas cantadas para os Orixás.
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Jongueiros
: aqueles que dançam e/ou cantam jongos.
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Jejê nagô
: diz-se de cerimônia, liturgia, ritual etcétera que apresenta características comuns a jejes e nagôs (iorubanos); que tem elementos desses dois grupos étnicos.
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Iorubano
: referente a um povo proveniente da região do Golfo da Guiné, no continente africano.
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Bambas
: na linguagem dos sambistas, indivíduo que sabe cantar bem os sambas; sambista nato.
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Pastoras
: como eram chamadas as mulheres que se apresentavam com Heitor dos Prazeres em suas apresentações.
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Festa da Penha
: festa tradicional em homenagem à Nossa Senhora da Penha, que ocorre na Arquidiocese do Rio de Janeiro desde 1635.
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LPs
: sigla de long-play, como era chamado o disco produzido com vinil a partir da década de 1950 e que reunia, em cada álbum, várias canções de um mesmo ou uma mesma artista ou grupo. Foi sendo substituído, a partir do final de 1980, pela música digital veiculada em Cê dês (compact disc), ême pê três e streaming.
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Antológico
: que merece ser lembrado, memorável, notável.
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Curima
: variação de cuimba, compreende o canto e os instrumentos musicais de percussão com que se homenageiam ou se evocam as entidades nos cultos afro-brasileiros.
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Vissungos
: cantos entoados em versos ritmados que originalmente foram trazidos da África para o Brasil pelos negros escravizados ou pelas negras escravizadas e que atualmente apresentam um português que foi se fazendo, entre outros fatores, de contribuições dos diferentes idiomas africanos.
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Nota de rodapé
1
 CARVALHO, José Jorge de. Um panorama da música afro-brasileira: Parte 1  Dos gêneros tradicionais aos primórdios do samba. Série Antropologia, Departamento de Antropologia, Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Brasília, 2000.
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2
Etnolinguista, Doutora (pê agá dê) em Línguas Africanas pela Universidade Nacional do Zaire, República Democrática do Congo, Consultora Técnica em Línguas Africanas do Museu da Língua Portuguesa na Estação da Luz em São Paulo, Membro da Academia de Letras da Bahia e consultora técnica na Pró-Reitoria de Extensão (Proex) na Universidade do Estado da Bahia – unébi/êne gê ê a éle cê.
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