UNIDADE 3 Arte e resistência

As propostas desta unidade do seu livro foram desenvolvidas em quatro etapas, que se completam:

Fotografia. Destaque de uma estátua em relevo numa parede rochosa e que apresenta um homem visto da cintura para cima e de baixo para cima. Ele veste terno e gravata e tem cabelos curtos crespos, nariz largo e lábios grossos.

eu SEI

Resistência em quadrinhos

Como entendemos, na prática, o conceito de resistência? A criação de uma cena em quadrinhos busca investigar as possibilidades de traduzir esse conceito com o uso de recursos visuais, textuais e narrativos.

Fotografia. Vista lateral de um grupo de homens indígenas que caminham seminus e empurram bicicletas azuis ou laranjas em uma área de chão de terra. Ao fundo, há algumas árvores.

eu vou APRENDER

Capítulo 1 – Memórias de resistência na arte

Reconhecer os conceitos de resistência e ativismo em arte.

Capítulo 2 – Resistência e reflexão pela arte

Analisar a arte e questões que envolvam os direitos humanos e a diversidade.

Ilustração. Vista lateral e aérea de uma sala de aula na qual há, à esquerda, crianças estão sentadas em carteiras e, à direita, uma professora loira de vestido azul diante de uma lousa, sobre a qual há uma bandeira do Brasil e vista parcial de uma bandeira do estado de São Paulo, ambas com as hastes cruzadas. Ao lado da mesa que fica à frente da sala, há um homem em pé vestindo terno azul e gravata vermelha. Ao fundo da sala, há um quadro com pintura colorida.

eu APRENDI

Desenvolver atividades de verificação, sistematização, reflexão e ampliação da aprendizagem.

Ilustração. Três pessoas com características físicas diferentes caminham. Duas que estão nas extremidades seguram uma bandeira com a inscrição PROTEÇÃO ÀS COMUNIDADES INDÍGENAS e uma delas, ao centro, fala ao megafone.

vamos COMPARTILHAR

Ação artivista

Organizar uma exposição com diversas fórmas de expressão artísticas que evidenciem e promovam um diálogo com o entorno onde vive o estudante e com a comunidade escolar.

OBJETIVO GERAL

Compreender as relações entre as diversas manifestações artísticas e as questões políticas e sociais, articulando a percepção e reconhecendo a diversidade humana.

eu SEI

Resistência em quadrinhos

As histórias em quadrinhos podem conter potentes narrativas que trazem reflexão ao leitor. As ilustrações são textos não verbais que compõem os diálogos para ativar nossa percepção e relação com a história contada. Observe a sequência de quadrinhos a seguir.

História em quadrinhos em preto e branco. É composta por cinco quadros. Q1: Um homem negro sem camisa com adorno no braço que carrega um punhado de cana-de-açúcar sobre o ombro. Q2: Destaque do rosto do homem, com partes sombreadas. Q3: Destaque dos pés de uma pessoa que usa bota de cano longo. Q4: Vista de homem da cintura para cima; ele usa camisa e chapéu com uma corda enrolada no ombro. Q5: Plano aberto de uma área rural que apresenta o homem com as costas machucadas carregando a cana-de-açúcar sobre o ombro em direção a uma área coberta. Ao lado, está o rapaz de chapéu, visto de costas. Ao fundo, outras pessoas também carregam cana-de-açúcar.
Página reproduzida de: D’SALETE, Marcelo. Cumbe. São Paulo: Veneta, 2018. página 12.

1. Nesse pequeno trecho, o leitor é desafiado a fazer uma leitura visual, em que os balões de fala e narração não são utilizados como recurso. Como os personagens de uma cena podem nos comunicar algo sem que haja diálogos?

Marcelo D'Salete (1979-) é o autor de Cumbe, livro em quadrinhos que trata do tema da escravidão no Brasil pela perspectiva das pessoas escravizadas, dando visibilidade à história contada por aqueles que vivenciaram a opressão. O artista coloca seus personagens em cena como protagonistas, contando histórias de esperança e resistência.

Para ampliar

D´SALETE, Marcelo. Cumbe. São Paulo: Veneta, 2018. agá quê publicada em diversos países como Estados Unidos, França, Itália, Alemanha, Espanha e Turquia que conta a história da escravidão no Brasil pelos olhos dos oprimidos.

Para Mártin Lúter King Júnior (1929-1968), um importante ativista dos Estados Unidos, a resistência era uma luta contra a segregação racial e pela busca de igualdade social entre as pessoas.

Fotografia. Destaque de uma estátua em relevo numa parede rochosa e que apresenta um homem visto da cintura para cima e de baixo para cima. Ele veste terno e gravata e tem cabelos curtos crespos, nariz largo e lábios grossos.
Memorial em homenagem à Mártin Lúter King Júnior, em uóshinton dê cê. Estados Unidos, 2018.

No monumento em sua homenagem, está talhada a frase dita por Lúter Quing: “Da montanha do desespero, uma pedra de esperança”, como uma mensagem que traz a esperança como sinônimo de resistência.

Ícone de atividade em dupla.
  1. E o que é resistência? Investiguem o significado em dicionários e anotem no caderno.
  2. Com base nos seus conhecimentos e nas referências apresentadas nesta seção, reflitam sobre o conceito de resistência e esperança para o que se pede a seguir.
    1. Criem uma tirinha, de três a cinco quadrinhos, que demonstre uma ação, um gesto ou uma pequena história sobre o tema.
    2. Utilizem o mínimo de recursos textuais, dando ênfase às imagens.
    3. Compartilhem com a turma suas criações, conversando a respeito dos diferentes pontos de vista que surgirem nas produções.

eu vou APRENDER Capítulo 1

Memórias de resistência na arte

Fotografia. Destaque de uma área rural que apresenta duas casas com parede de pau a pique e teto de folhas secas cinzas. Ao redor, algumas partes com gramado verde. Ao fundo, estão algumas árvores.
Parque Memorial Quilombo dos Palmares, União dos Palmares. Alagoas, 2022.

Museus, monumentos e memoriais são alguns exemplos de espaços que preservam e compartilham a memória da humanidade, são aliados na continuidade e na permanência da memória e do patrimônio material e imaterialglossário de um povo e de uma cultura.

Para que possamos compreender nosso presente, é preciso olhar para o que construímos como sociedade. Portanto, esses espaços e instituições não têm a função somente de salvaguardar obras, mas de compartilhar conhecimento de fórma diversa, acessível, plural e democrática.

O Parque Quilombo dos Palmares é um importante espaço construído para a preservação da memória. Localizado na União dos Palmares, Alagoas, o memorial foi inaugurado, em 2007, pelo Ministério da Cultura em um território onde resistiu o maior quilombo das Américas, liderado por Dandara e Zumbi dos Palmares, que lutaram contra o sistema escravista no período colonial do Brasil.

O parque, que preserva a cultura africana e afro-brasileira, conta com passeios turísticos e históricos, artesanato e pratos da gastronomia típica quilombola.

Ícone de atividade oral.
Ícone de atividade em grupo.
  1. Quais museus existem na sua cidade ou estado? Você já visitou algum deles? Que tipo de memória está sendo preservada?
  2. Nossa história e nossas experiências constituem quem somos. Se os museus são lugares para preservar histórias e memórias, como você preserva sua história e memória pessoais?
Fotografia. Destaque da fachada de um prédio que apresenta quatro pisos com parede avermelhada, muitas janelas arqueadas e envidraçadas com acabamento branco.
Prédio do Memorial da Resistência na cidade de São Paulo. São Paulo, 2020.

Outro museu que tem como missão a valorização e a preservação da memória é o Memorial da Resistência, na cidade de São Paulo. Organizando exposições, pesquisas e palestras, o museu abriga um grande acervo de valor histórico nacional, tendo como destaque o acervo dedicado a documentar o período de repressão política no país, com enfoque no período do Brasil republicano, a partir de 1889, e na ditadura civil-militar, que durou de 1964 a 1985.

Fotografia. Destaque do interior de uma sala que apresenta um painel preso à parede do lado direito em que está escrito IGUALDADE. Na foto, há um grupo de pessoas negras. No corredor, o chão é preto e está escrito em branco POR IGUALDADE. E preso ao teto há um painel pendurado que apresenta várias pessoas negras.
Registro da exposição coletiva Hiatus: a Memória da Violência Ditatorial na América Latina, na cidade de São Paulo, com temática voltada à memória do período de ditadura civil-militar no Brasil. São Paulo, 2018.

3. Com a orientação do professor, reservem um momento para compartilhar uma fotografia que faça parte de alguma memória pessoal e que resiste até hoje como materialidade e lembrança. Destaquem a importância que isso representa para sua memória.

RETRATOS DE GUERRA

A arte é resultado do pensamento e visão de mundo dos artistas que, inseridos em um contexto social e político, transmitem ideias, sentimentos e um posicionamento diante da vida. A história humana é definida por acontecimentos marcantes, como a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A visão do pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973) diante do impacto do bombardeio sobre a cidade de Guernica, na Espanha, em 1937, resultou em uma das obras mais marcantes desse período.

Pintura em preto e branco. Um quadro que apresenta composição sobreposta de diversas imagens disformes e geométricas em cor clara e o fundo escuro. Da esquerda para direita, há o destaque da figura de um touro, uma mulher que segura uma criança em seu colo, com a cabeça inclinada para cima e a boca bem aberta; o braço e a cabeça de uma pessoa no chão; um pequeno feixe com lâmpada na parte superior ao lado de uma pequena lamparina; ao centro, destaque da cabeça de um cavalo e rostos humanos, destaque de uma pessoa que caminha com corpo curvado para frente; e no canto direito, destaque de uma pessoa que está com os dois braços erguidos para cima e a boca bem aberta.
Guernica, de Pablo Picasso, 1937. Óleo sobre tela, 349 centímetros por 776 centímetros.
Ícone de atividade oral.
Ícone de atividade em grupo.

4. Observem a pintura e apontem os elementos da obra que remetam à ideia de conflito e guerra.

Guernica é um painel de grandes dimensões com elementos que constroem o sentimento de destruição e barbárie da guerra. Pablo Picasso não se comprometeu a recriar de fórma documental o que foi o bombardeio, mas traz figuras geometrizadas e monocromáticas como parte de um cenário caótico.

Observem detalhes da obra e identifiquem os seguintes elementos, com suas possíveis leituras:

O touro é o animal símbolo da tourada na Espanha e aparece na pintura como representante do país. Um soldado caído agoniza com uma espada quebrada. Um personagem com um lampião ilumina a cena, além de uma lâmpada que lembra o formato de um olho que presencia tudo.

Para ampliar

SERRES, Alan. Picasso e Guernica. São Paulo: SM Edições, 2016. A obra retrata a construção da magnífica criação de Guernica, que é uma resposta ao bombardeio da cidade basca no auge da Guerra Civil Espanhola.

Pintura em preto e branco. Destaque da cabeça disforme de um touro. Pintura em preto e branco. Destaque da cabeça disforme de uma pessoa deitada no chão e com a boca bem aberta. Pintura em preto e branco. Destaque da cabeça disforme de um cavalo com a boca aberta. Ele está abaixo de uma lâmpada acesa e ao lado de uma lamparina sendo segurada por uma mão humana.
Guernica, de Pablo Picasso, 1937. Óleo sobre tela, 349 centímetros por 776 centímetros. (detalhes)

Guernica passou por museus da Europa e dos Estados Unidos, ficando de 1950 a 1973 no MoMa, Museu de Arte Moderna em Nova Iorque. Somente após esse período, o painel retornou para a Espanha, já que Picasso pedia que só fosse devolvida quando as questões políticas do seu país passassem por mudanças, conferindo à obra um valor de resistência diante daquele cenário.

Apesar do tema que deu origem à Guernica, Picasso deixou um detalhe minucioso na obra que pode ser lido como um símbolo de esperança visto nas mãos do soldado caído. Observe o detalhe ampliado na imagem.

Pintura em preto e branco. Destaque da mão de uma pessoa que segura uma espada com a ponta quebrada Ao lado, uma flor.
Guernica, de Pablo Picasso, 1937. Óleo sobre tela, 349 centímetros por 776 centímetros. (detalhe)
Ícone de atividade em dupla.

5. Alguns símbolos de paz são universais, como a pomba branca. Assim como o contido na obra de Picasso, recriem um símbolo com os mesmos significados por meio de uma pintura em um cartaz. Combinem com o professor para compartilharem as produções em algum espaço da escola.

Guerra e paz

O artista brasileiro Candido Portinari (1903-1962) foi escolhido pelo governo do Brasil para criar uma obra que seria doada à séde da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque. A partir de uma lista de temas, Portinari trabalhou durante quatro anos para finalizar dois painéis monumentais intitulados de Guerra e paz, enviados para a séde das Nações Unidas e inaugurados em 1957.

Observe a combinação de cores, as fórmas, os elementos e a composição da obra.

Pintura. Obra dividida em duas lâminas. A primeira, à esquerda, foca nas imagens da guerra. A segunda, à direita, foca na paz. Na obra predomina o uso de linhas retas e formas geométricas. Além disso, as figuras são retratadas quase que sobrepostas, sem perspectiva e profundidade. À esquerda, em tons sombrios e frios, com predominância de azul e cores pastéis, apresenta enquadramento com muitas pessoas de características diversas e que interagem entre si em diferentes grupos. Em destaque, algumas pessoas cobrem os olhos com as mãos e outras estão ajoelhadas com as mãos para o alto. No canto inferior direito, há alguns animais com caninos afiados. Na segunda lâmina à esquerda, há pontos com cores quentes, como o vermelho. Na imagem, há um enquadramento que apresenta outros grupos de pessoas que interagem entre si: há pessoas caídas no chão, lanceiros e algumas estão a cavalo.
Guerra e paz, de Candido Portinari, 1952-1956. Óleo sobre madeira compensada, 1 400 centímetros por1 000 centímetros.

Os painéis foram instalados de maneira estratégica: quando se entra na Assembleia Geral, vemos o painel da guerra e, quando saímos, vemos o painel da paz.

Na obra, não há um retrato literal e estereotipadoglossário dos dois temas, e sim uma interpretação cuidadosa e detalhada que envolveu estudos de composição e de referências para os personagens e o cenário.

Ícone de atividade oral.
Ícone de atividade em grupo.

6. Observem novamente a obra e identifiquem os elementos que simbolizam a guerra no primeiro painel e a paz no segundo.

Alguns detalhes da obra possuem significados que ampliam a interpretação, como os cavaleiros no painel da guerra. Portinari utilizou como inspiração a figura bíblica dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse, que representavam a destruição. No painel da paz, vemos crianças com expressões tranquilas cantando, unidas em coro.

Pintura. Em tons frios e sombrios, com predominância de tons cinza, marrom e azul, há o destaque de um homem de armadura a cavalo.
Guerra e paz, de Candido Portinari, 1952-1956. Óleo sobre madeira compensada, 1 400 centímetros por 1 000 centímetros. (detalhe)
Pintura. Em tons de azul, destaque de um grupo de crianças de diferentes características físicas lado a lado que estão com as bocas semiabertas.
Guerra e paz, de Candido Portinari, 1952-1956. Óleo sobre madeira compensada, 1 400 centímetros por 1 000 centímetros. (detalhe)

Criando composição sobre guerra e paz

Candido Portinari recebeu uma encomenda e retratou sua própria interpretação sobre os temas guerra e paz. Como você traduziria, em uma frase, a ideia de paz?

Material

  • Cartolina.
  • Lápis e/ou canetas hidrocor.

Como fazer

  1. Com base no tema paz, elabore uma frase para compor um cartão-postal.
  2. Utilize um pedaço de cartolina com aproximadamente 10 centímetros por 15 centímetros.
  3. Na frente do cartão, desenhe o símbolo de paz e esperança criado na atividade anterior.
  4. Cada estudante deverá partilhar seu cartão com um colega, gerando assim uma troca de mensagens de paz e esperança.

ARTE DURANTE O REGIME CIVIL-MILITAR (1964-1985)

Em 31 de março de 1964, teve início no Brasil um regimeglossário autoritário, que permaneceu até 1985, denominado ditadura civil-militar. Durante o período de 21 anos, as liberdades individuais foram barradas e a repressão atingiu diversos setores do país, que se posicionaram contra esse regime, resultando na censura aos meios de comunicação, à produção artística e aos espetáculos culturais no Brasil.

O ano de 1968 ficou marcado na história brasileira como um momento de grande contestação política e social, quando se intensificaram os protestos contra a ditadura, principalmente aqueles realizados por estudantes universitários.

Fotografia em preto e branco. Vista aérea de uma multidão que ocupa uma via e que segura faixas e placas com inscrições. Entre os textos, estão: A LUTA É O POVO e LIBERDADE.
Manifestação estudantil contra a ditadura civil-militar, na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1968.

Para ampliar

O ano em que meus pais saíram de férias. Direção de Cao Hamburger, 2006. O filme conta a história de Mauro, um garoto de 12 anos que tem a vida completamente mudada quando os pais saem de férias inesperadamente. Mauro, então, enfrenta muitos momentos de tristeza e outros de alegria, ao acompanhar a Seleção Brasileira de Futebol jogando na Copa do Mundo.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

É proibido não dizer #ditaduranuncamais!

Locutora: É proibido não dizer #ditaduranuncamais!

Liberdade de expressão.

Liberdade para apreciar qualquer forma de arte.

Liberdade para refletir sobre a arte.

Arte e liberdade devem andar juntas, mas elas foram propositalmente separadas em um período não muito distante da história do Brasil.

Entre 1964 e 1985, um regime autoritário definiu os rumos da nossa nação. Intelectuais, artistas e mesmo políticos foram censurados por agentes do Departamento de Ordem Política e Social, o extinto Dops. Algumas reportagens eram proibidas pelos censores e, no lugar, jornais e revistas publicavam receitas culinárias. Teatros tinham suas portas fechadas e matrizes de discos musicais eram riscadas.

Quem por qualquer motivo se opunha ao governo era preso, torturado, exilado ou morto. Mas a arte é criativa e sempre encontra um caminho para seguir em frente. Uma das válvulas de escape eram os festivais de música transmitidos pela TV. Lá, compositores e intérpretes apresentavam canções com letras escritas com maestria, de maneira que conseguiam criticar a repressão do regime de forma subliminar. A música “Arrastão”, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, descrevia o mar não apenas como parte da natureza a ser admirada, mas como local de trabalho de gente que vive na batalha. Na canção “A banda”, Chico Buarque de Holanda ilustra a tristeza de um povo que vê certo alento na apresentação da banda da cidade. Em “Disparada”, de autoria de Geraldo Vandré e Théo de Barros, o trabalhador

é representado pelo gado, passivo, que segue a manada. Vandré é também o autor de “Pra não dizer que não falei das flores”, a música mais associada à resistência contra a censura da ditadura.

Música:

“... Pelos campos há fome em grandes plantações

Pelas ruas marchando indecisos cordões

Ainda fazem da flor seu mais forte refrão

E acreditam nas flores vencendo o canhão...”

Locutora: “Pra não dizer que não falei das flores” participou do último festival que aconteceu antes do Ato Institucional número 5, o AI-5, instituído no mesmo ano, 1968. O decreto veio para endurecer ainda mais a repressão contra os jovens e intelectuais que estavam se manifestando contra a ditadura. Por meio dele, houve o fechamento do Congresso Nacional. Várias pessoas foram perseguidas.

Entre elas, artistas e professores. A exibição do Ballet Bolshoi em 1976 foi proibida na TV sob a justificativa de que, por ser russa, a companhia era comunista. E a novela Roque Santeiro, prevista para estrear em 1975, só pôde ir ao ar em 1985. A peça teatral Roda Viva, de autoria de Chico Buarque, também foi proibida em todo o país.

Isso depois de um grupo ter invadido o teatro em que a peça estava em cartaz em São Paulo para depredar o cenário e sequestrar a atriz Norma Bengell. São tantas as obras de arte brasileiras censuradas e autores perseguidos que seria interessante pesquisar mais sobre o assunto.

Áudio com várias pessoas dizendo ao mesmo tempo: “É proibidoproibir; Que pais é este?; O que é isso, companheiro?; Quem sabe faz a hora, não espera acontecer; Brasil; ame-o ou deixe-o; Futebol é o ópio do povo; O Brasil vai bem, mas o povo vai mal; Cálice; Vocês não estão entendendo nada; É essa a juventude que diz querer tomar o poder? É proibido não dizer ditaduranuncamais!”

Locutora: Créditos. O pequeno trecho musical que ouvimos é da música “Pra não dizer que não falei das flores”, escrita e tocada por Geraldo Vandré.

Protesto e resistência

Para driblar a censuraglossário imposta, vários artistas de diferentes áreas criaram um dos períodos mais férteis da produção cultural no Brasil e utilizaram a arte como ferramenta de denúncia, protesto e resistência à repressão.

Durante o período de ditadura civil-militar, os artistas experimentaram radicalmente outras fórmas de expressão. Nos anos de 1970, surgiram novas propostas artísticas influenciadas por tendências internacionais, como a arte conceitual. Com a forte censura, os artistas ampliaram suas fórmas de criação, preocupados em tornar visíveis mensagens e ideias que a obra transmitia.

Fotografia em preto e branco. Destaque de uma multidão que segura faixas e placas com inscrições. Entre os dizeres, está: ARTISTAS CONTRA A DITADURA e JORNALISTAS CONTRA O CRIME OFICIAL.
Pessoas protestando contra a ditadura civil-militar no Brasil, em 1968.
Fotografia em preto e branco. Destaque de um grupo de mulheres de diferentes características físicas que estão de mãos dadas e enfileiradas lado a lado. Atrás delas, há uma placa que diz: CONTRA A CENSURA PELA CULTURA.
Artistas protestam contra a ditadura civil-militar na cidade do Rio de Janeiro. Na fotografia: Tônia Carreiro, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Bengell e Cacilda Becker. Rio de Janeiro, 1968.

Para ampliar

Memorial da Democracia. Disponível em: https://oeds.link/p4ap6I. Acesso em: 17 junho 2022. O sáite mostra peças, grupos e artistas que atuaram antes e durante a ditadura civil-militar (1964-1985) no Brasil, utilizando as manifestações cênicas como recurso de resistência.

Artes visuais no contexto da ditadura

Como crítica às instituições de arte e no intuito de burlar a censura, alguns artistas fizeram circular mensagens políticas em circuitos alternativos, fóra dos museus e das galerias.

Fotografia. Reprodução de três garrafas pequenas, transparentes e de vidro, uma ao lado da outra. No rótulo, há as inscrições COKE e COCA-COLA em destaque com letras brancas e fundo vermelho. A primeira, está cheia e fechada. A segunda, está quase cheia e destampada. A terceira, está vazia e destampada.
Inserções em circuitos ideológicos: Projeto Coca-Cola, de Cildo Meireles, 1970. Garrafas de Coca-Cola, decalque em silk-screen, 24,5 centímetros por 6,1 centímetros.
Fotografia. Destaque da embalagem da garrafa de vidro cheia que apresenta informações como: INSERÇÕES EM CIRCUITOS IDEOLÓGICOS. 1 – PROJETO COCA-COLA. GRAVAR NAS GARRADAS INFORMAÇÕES E OPINIÕES CRÍTICAS E DEVOLVÊ-LAS À CIRCULAÇÃO. C. M. 5-70.

Cildo Meireles (1948-) criou as Inserções em circuitos ideológicos, interferindo nos sistemas de circulação de garrafas de refrigerante de uma marca estadunidense. Cildo viu nesses objetos um meio para difundir anonimamente mensagens políticas contra o regime civil-militar, pois, sendo retornáveis, voltavam para a indústria para serem novamente preenchidas com a bebida. As mensagens passavam despercebidas por estarem impressas em garrafas de vidro transparente, que, quando vazias, dificultavam a leitura.

Fotografia. Painel preso à parede com uma cortina levantada sobre ele e que apresenta cor vermelha com quadrinhos em cor preta e onde está escrito REPRESSÃO OUTRA VEZ.
Repressão outra vez — eis o saldo, de Antonio Manuel, 1968. Tecido, corda e serigrafia sobre madeira, 120 centímetros por 80 centímetros.
Fotografia. Painel preso à parede com uma cortina levantada sobre ele e que apresenta cor vermelha com quadrinhos em cor preta e onde está escrito EIS O SALDO: GAROTO MORTO.
Repressão outra vez — eis o saldo, de Antonio Manuel, 1968. Tecido, corda e serigrafia sobre madeira, 120 centímetros por 80 centímetros. (detalhe)

Já a obra Repressão outra vez – eis o saldo, do artista Antonio Manuel (1947-), traz capas de jornal com manchetes e imagens da repressão policial impressas em papel vermelho.

Ícone de atividade oral.
Ícone de atividade em grupo.

7. Dentro do contexto da ditadura, quais ideias e sentimentos a disposição da obra coberta por tecidos pretos podem nos despertar?

Música contra a repressão
Fotografia em preto e branco. Destaque de um grupo de músicos que se apresenta em um palco. O vocalista tem cabelo encaracolado volumoso e usa colete brilhante longo. Ao lado, está outro cantor, que usa costeleta, tem cabelos crespos e veste casaco brilhante. Ao fundo e ao lado, outras pessoas tocam instrumentos musicais.
Composta por Caetano Veloso, a canção "É proibido proibir" foi apresentada no Festival Internacional da Canção de 1968, na cidade do Rio de Janeiro.

A música, produzida no país durante o regime civil-militar, foi símbolo de resistência política. Movimentos e artistas, de maneira mais ou menos explícita, com produções alternativas ou dentro da chamada “lógica do mercado”, contestaram o regime.

Como as manifestações mais explícitas eram alvo de censura, compositores utilizaram recursos linguísticos e discursivos em suas canções de protesto para se comunicar com o público, desviando a atenção da censura. Essas canções, assim como muitas outras, eram apresentadas ao público nos festivais de música popular, ocorridos no Brasil a partir de 1965. As estratégias desenvolvidas por músicos, compositores e letristas marcaram a memória da ditadura e tornaram a música popular um símbolo de resistência.

Na sequência, vamos conhecer algumas canções que marcaram a história dos festivais e da música popular brasileira.

Para ampliar

Uma noite em 67. Direção de Renato Terra e Ricardo Calil, 2010. O documentário retrata a noite da final do 3º Festival da Música Popular Brasileira, em 1967, com base em imagens de arquivo e apresentações de músicas que ficaram muito famosas, assim como seus intérpretes e compositores.

Ilustração. Pandeiro e nota musical. Texto: "‘Arrastão’, composição de Edu Lobo e Vinícius de Moraes (1913-1980), interpretação de Elis Regina, que tinha apenas 19 anos na época. Essa canção venceu o 1º Festival de Música Popular Brasileira, em 1965. ‘A banda’, composição de Chico Buarque e interpretação de Chico Buarque e Nara Leão, foi apresentada no 2º Festival de Música Popular Brasileira, em 1966. A canção recebeu o prêmio de primeiro lugar, mas Chico Buarque declarou empate entre ela e ‘Disparada’, interpretada por Jair Rodrigues, reconhecendo as qualidades da música adversária. ‘Roda viva’, composição e interpretação de Chico Buarque. Composta para a trilha sonora da peça homônima, escrita em 1967 e montada pelo Teatro Oficina no ano seguinte, a canção foi defendida por Chico com vocais do MPB4, grupo vocal e instrumental brasileiro. A música despertou a atenção da plateia, cativada pelas mudanças de ritmo, e ficou em terceiro lugar no 3º Festival de Música Popular Brasileira, em 1967. ‘Pra não dizer que não falei das flores’, composição e interpretação de Geraldo Vandré. Assim que foi anunciado o veredito, premiando em 1º lugar a música ‘Sabiá’, a plateia do 3º Festival Internacional da Canção se pôs a vaiar. A maior parte da plateia torcia pela vitória da canção de Vandré, até hoje considerada a mais emblemática canção de protesto realizada durante a ditadura civil-militar. Ilustração: Violão, fita cassete e nota musical.
Ícone de atividade oral.

8. Qual é a importância da música para discutir questões relacionadas à sociedade?

Ícone de atividade em grupo.
  1. Com a orientação do professor, compartilhem, cantando ou lendo, um trecho ou um verso de uma canção que discute algum tema relevante para a atualidade. Escrevam esses versos em cartazes e fixe-os em algum espaço da sala ou da escola.
  2. Elejam até quatro principais canções brasileiras da atualidade que traduzem a geração atual e que representem, de alguma fórma, um aspecto da nossa cultura.

Canções de protesto

Muitas canções de protesto foram exibidas pela primeira vez nos festivais de música popular brasileira, alcançando o reconhecimento do público. Com a censura oficial, as gravadoras tiveram de submeter à análise as partituras e as letras das composições previstas para os álbuns de lançamento. Os artistas burlavam a censura com jogos de palavras perceptíveis.

Leia a letra da canção Pra não dizer que não falei das flores, de 1979, também conhecida como Caminhando, do compositor Geraldo Vandré.

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Somos todos iguais braços dados ou não

Nas escolas, nas ruas, campos, construções

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Vem, vamos embora, que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Pelos campos há fome em grandes plantações

Pelas ruas marchando indecisos cordões

Ainda fazem da flor seu mais forte refrão

E acreditam nas flores vencendo o canhão

Vem, vamos embora, que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Há soldados armados, amados ou não

Quase todos perdidos de armas na mão

Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição

De morrer pela pátria e viver sem razão

Vem, vamos embora, que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Nas escolas, nas ruas, campos, construções

Somos todos soldados, armados ou não

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Somos todos iguais braços dados ou não

Continua

Continuação

Os amores na mente, as flores no chão

A certeza na frente, a história na mão

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Aprendendo e ensinando uma nova lição

Vem, vamos embora, que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

PRA não dizer que não falei das flores. [Compositor e intérprete]: Geraldo Vandré. In: PRA não dizer que não falei das flores (Caminhando)/Fica Mal Com Deus. [Compositor e intérprete]: Geraldo Vandré. Rio de Janeiro: Discos érre gê é/Fermatalimitada, 1979. Vinil. Lado A.

  1. Quais trechos da canção representam um chamado para o povo se mobilizar diante da repressão vivida na época?
  2. Escolha alguma estrofe da canção e produza uma ilustração que a represente.
Versão adaptada acessível

Atividade 12.

Escolha alguma estrofe da canção e a represente.

  1. Pesquise uma canção que foi censurada no período da ditadura e compartilhe a letra com a turma.
  2. A censura era um meio de impossibilitar que os artistas expressassem livremente suas opiniões. Na obra reproduzida, o artista Carlos Zilio (1944-) cria a figura de um rosto com a palavra LUTE em destaque. Estabeleçam relações entre a obra e a censura no período da ditadura civil-militar.
Fotografia. Uma lata de alumínio destampada e que apresenta uma massa verde com contorno de um rosto e sobre o qual está escrito em vermelho LUTE.
Lute, de Carlos Zilio, 1967. Serigrafia sobre filme plástico e resina plástica acondicionados em marmita de alumínio, 5,8 centímetros por 10,5 centímetros.
Tropicalismo
Capa de álbum que apresenta fundo preto e o nome em verde nas laterais em fundo preto: TROPICALIA OU PANIS ET CIRCENCIS. Ao centro, há uma foto de um grupo de pessoas, entre homens e mulheres, que faz pose.
Capa do álbum Tropicália ou pânis et circêncis, de 1968. Da esquerda para a direita, em pé: Arnaldo Batista, Rita Li, Sérgio Dias e Tom Zé. Sentados: Rogério Duprat, Caetano Veloso (segurando o quadro), Gal Costa, Torquato Neto e, sentado no chão, Gilberto Gil.

O Tropicalismo foi um movimento de ruptura que teve grande impacto na cultura brasileira e reuniu diferentes manifestações artísticas no período da ditadura. Surgido no final da década de 1960, expressou-se por meio das artes visuais, do cinema, da literatura e do teatro, mas teve maior alcance na música popular. De caráter experimental, propôs uma renovação das linguagens e teve considerável impacto na renovação das artes e da cultura brasileira.

Na música, destacaram-se nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão, o grupo Mutantes, entre outros. O grupo procurou universalizar a linguagem da MPB, incorporando elementos da cultura mundial, como o rock and roll, além de misturas inusitadas de samba, jazz, erudito e popular.

As letras de suas canções dialogavam com obras da literatura e da poesia concretista. Uniam referências distintas, das mais tradicionais e folclóricas às que eram consideradas modernas para a época, com críticas à sociedade de consumo, à moral, aos costumes e aos valores burgueses. Leia o trecho da canção Panis Et Circensesglossário .

Para ampliar

TROPICÁLIA. Disponível em: https://oeds.link/pqPQTt. Acesso em: 17 junho2022. O site apresenta informações e um vasto acervo sobre o Tropicalismo e os festivais de música popular.

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Transcrição do áudio

Pão e circo para os distraídos

Locutora: Pão e circo para os distraídos.

Som de água escorrendo

Locutora: Feche os olhos. Agora, imagine que você está caminhando por um labirinto e nele há plantas, areia, araras, poemas-objetos, capas de Parangolé e um aparelho de televisão. Você está pisando pela primeira vez na terra... ao caminhar pelos morros, pela favela, o percurso de entrar, sair, você ouve ruídos e todos os sentidos (visão, tato, audição, olfato) levam você a esse novo ambiente: a Tropicália Hélio Oiticica. Esse ambiente labiríntico, imagético, tropical que narramos descreve a obra exposta por Oiticica no Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro, em 1967. A obra e seu nome inspiraram um movimento cultural muito importante do Brasil nos anos 1960. A Tropicália seria um reencontro com nossa cultura, com nossa paisagem tropical, depois do movimento modernista de 1922, por meio de diversas manifestações artísticas: no cinema, por exemplo, com Glauber Rocha e seu filme Terra em transe; no teatro com a montagem O Rei da Vela, do Grupo Oficina. Mas foi na música que o grande público pôde entrar em contato com o Tropicalismo, encabeçado por Caetano Veloso e Gilberto Gil. Em 1968, com um grupo variado de artistas, eles lançaram um álbum considerado revolucionário para a música nacional: o Tropicália. O som misturava estilos tipicamente brasileiros como bossa nova, baião e samba com rock, por meio do uso da guitarra elétrica, o que causou escândalo inclusive entre os jovens que consideravam o instrumento o símbolo do imperialismo estadunidense. Mas o intuito era esse, o de romper barreiras, tornar a música brasileira mais plural, universal. As letras abordavam temas do cotidiano em tons poéticos e com críticas sociais veladas. Afinal, estávamos vivendo um período de ditadura. Entre as músicas presentes no disco Tropicália, ou Panis et circenses, que em português seria “pão e circo”, uma fazia alusão à política romana usada para desviar a atenção do povo ofertando comida e diversão, para que não prestassem atenção em erros e falhas da gestão pública. A letra descreve situações chamativas, mas os versos apontam que as pessoas presentes na sala de jantar, ou seja, que estão à mesa fazendo uma refeição, estariam apenas ocupadas em nascer e morrer.

Música:

“...Eu quis cantar minha canção iluminada de sol

Soltei os panos sobre os mastros no ar

Soltei os tigres e os leões nos quintais...”

Locutora: Outras canções fazem parte desse movimento, como “Alegria, alegria”, de Caetano Veloso. Vamos propor um desafio: faça uma pesquisa, escute a música e tente encontrar as características das quais falamos. Vamos lá?

Música:

“Caminhando contra o vento

Sem lenço e sem documento

No sol de quase dezembro

Eu vou...”

Locutora: Créditos. O áudio ouvido na abertura deste Podcast pertence à Freesound. Ouvimos também pequenos trechos das músicas “Panis et circenses”, de Caetano Veloso e Gilberto Gil, na interpretação de Os Mutantes, e “Alegria, alegria'', composta e interpretada por Caetano Veloso.

Eu quis cantar minha canção iluminada de sol

Soltei os panos sobre os mastros no lar

Soltei os tigres e os leões nos quintais

Mas as pessoas na sala de jantar, são as pessoas na sala de jantar

São ocupadas em nascer e morrer

Pãnis ét circenses. [Compositor e intérprete]: Mutantes. In: TROPICÁLIA Ou Pânis ét circêncis. Vários intérpretes. São Paulo: Fílipis/érre gê é estudios, 1968. Vinil. Lado A.

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15. Com base no contexto da época e no que os artistas tropicalistas criticavam, quais interpretações possíveis podem ser feitas com base no trecho da canção Pãnis ét circenses?

Os tropicalistas eram a favor da internacionalização da cultura não restrita aos discursos políticos. Durante um período bastante conservador, a rebeldia e a liberdade expressas eram as principais mensagens passadas pela música, atitudes e comportamento do grupo.

Fotografia em preto e branco. Destaque de três artistas que se apresentam vestindo figurino específico. Ao centro, há uma mulher de cabelo liso com vestido branco bordado e véu no cabelo. Ao lado dela, dois homens, um com roupa branca e outro com roupa preta, ambas bordadas. Eles tocam instrumentos de cordas. Os três estão com as bocas abertas e sorrindo.
Mutantes, banda formada no movimento tropicalista. Sérgio Dias, Rita Li e Arnaldo Batista, na cidade de São Paulo, no 3º Festival de Música Brasileira. São Paulo, 1967.
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16. Analisem as imagens dos artistas tropicalistas em que aparecem com figurinos totalmente despojados, divertidos, livres e, portanto, uma afronta à época. De que maneira a moda pode ser uma ferramenta potente de expressão e rebeldia?

HISTÓRIA EM QUADRINHOS E ATIVISMO

Durante os anos de repressão e censura no Brasil, a imprensa alternativa transformou-se em um dos principais veículos utilizados para disseminar mensagens de resistência.

Nas histórias em quadrinhos publicadas no jornal O Pasquim, o cartunista mineiro conhecido como Henfil (1944-1988) expressou de maneira combativa e irreverente sua posição contrária ao autoritarismo e ao moralismo e sua preocupação em transformar o humor em instrumento que nos convida para reflexão politica e social.

História em quadrinhos em preto e branco. É composta de cinco quadros e apresenta Graúna, um pássaro com corpo longilíneo que está pousado sobre um cacto e um cão personificado que caminha usando chapéu. Q1: O cão, à esquerda, vai em direção ao pássaro, à direita, e diz: 'GRAUNA, TEM OUTRA COISITA MÁS QUE TORNA INVIÁVEL TEU SONHO DE VOAR…'. O pássaro observa. Q2: O cão está parado e conclui: 'VOCÊ É DA GERAÇÃO DAS GRAUNAS QUE JÁ NASCEU SEM ASAS…'. O pássaro continua estático a observar. Q3: O cão vira as costas e se retira, caminhando para a esquerda. O pássaro o observa. Q4: Há o destaque do pássaro visto de frente com os olhos brilhantes e asas longas bem abertas. Q5: O pássaro segue pousado sobre o galho e com as asas fechadas e reflete sozinho: 'A JUVENTUDE É UMA CAIXINHA DE SEGREDOS…'.
Personagens criados pelo cartunista Henfil em uma de suas tirinhas.
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17. Discutam o sentido do quadrinho e descrevam o que significa uma juventude que tem o poder de voar.

O personagem Graúna é uma ave nordestina faminta e politizada que costumava dizer “Tô vendo a esperança”, em referência ao início do fim da ditadura civil-militar. O personagem Ubaldo, o Paranoico, expressava seu medo em relação à prisão e à tortura. Henfil criou, assim, um retrato nacional da época.

Tirinha. É composta de três quadros, dois na vertical, à esquerda, e um na horizontal à dreita. Q1: Há o destaque da silhueta de duas patas dianteiras com garras afiadas e a inscrição: SE CORRER O BICHO PEGA. Q2: Há o destaque da silhueta de uma cabeça de uma criatura com dentes afiados e a inscrição: SE FICAR O BICHO COME. Q3: À esquerda, apresenta multidão unida e disposta em forma piramidal; uma das pessoas segura uma placa que diz: '1º DE MAIO'. À frente do povo, há o destaque da silhueta das patas traseiras da criatura e a inscrição: 'SE UNIR O BICHO FOGE'.
Ilustração da cartunista Laerte publicada em Ilustração Sindical, com mais de mil cartuns de 1977 a 1986.

A cartunista Laerte Coutinho (1951-) é conhecida por suas tirinhas e cartuns publicados em jornais, revistas, livros e na internet. Atuante desde a década de 1970, fez parte da geração de artistas preocupados com a situação crítica do país vivida pela ditadura e criou diversos personagens, abordando humor, acontecimentos políticos e sociais.

Seus personagens passaram por transformações no estilo e no tipo de humor, mas continuam contestadores sobre questões que ainda permanecem enraizadas na nossa cultura e situação política.

18. Com base na mensagem proposta na tirinha da Laerte de 1977, cite exemplos de como a união das pessoas é importante para mobilizar uma ação.

Tirinha. É composta de uma sequência de cinco ilustrações sem separação por quadros. Na primeira figura, há uma gaiola de pássaro fechada. Na segunda, um par de pernas eclodem da parte inferior do objeto, o qual está na diagonal com as pernas para o alto. Na terceira, um par de braços aparece nas laterais da gaiola, que agora está sobre os pés e com as mãos para o alto. Na quarta, uma cabeça aparece na porta lateral e a gaiola forma um tronco corcundo. Na quinta, a pessoa com o corpo preso à gaiola está parada e diz com os lábios bem abertos: 'TECNICAMENTE ESTOU LIVRE'.
Tirinha Manual do Minotauro, de Laerte Coutinho, publicada em 11 maio 2022. Disponível em: https://oeds.link/7gGyTY. Acesso em: 12junho 2022.

VAMOS FAZER

Música em quadrinhos

Atenção para o refrão

É preciso estar atento e forte

Não temos tempo de temer a morte

DIVINO Maravilhoso. Intérprete: Gal Costa. Compositores: Caetano Veloso e Gilberto Gil. In: GAL Costa. Intérprete: Gal Costa. São Paulo: Estúdios Reunidos/Philips, 1969. Vinil. Lado B.

Por ser um canal de comunicação, a música é uma importante ferramenta de ativismo e resistência. Na canção “Divino Maravilhoso”, escrita no contexto da ditadura no Brasil, o refrão é repetido diversas vezes e destaca a necessidade de estarmos sempre atentos ao mundo à nossa volta e com uma visão esperançosa diante das adversidades.

Quais músicas vocês conhecem que trazem uma mensagem de resistência e esperança? A proposta é que a turma elabore uma história em quadrinhos partindo da letra de uma canção. Sigam as etapas.

Como fazer

Etapa 1 – Escolha da música

  1. Escolham a letra da música que tenha relação com o tema da proposta. Se possível, escrevam-na destacando os principais versos.
  2. Comecem a planejar como pode transformar-se o que é apresentado na canção em uma história em quadrinhos.
  3. Verifiquem se há personagens, algum narrador, se há diálogos, onde a história ou cena acontece etcétera.

Etapa 2 – Rascunho

1. A história em quadrinhos não deverá ultrapassar o tamanho de uma folha de sulfite. Façam rascunhos sobre o papel demarcando como serão os espaços dos quadros, se haverá balões de fala e se os desenhos serão coloridos ou em preto e branco etcétera.

Continua

Continuação

2. Observem os exemplos de quadros e balões de fala.

Ilustração. Balão circular com contorno liso e rabicho reto. Ilustração. Balão circular com contorno ondulado e rabicho composto por duas formas circulares menor. Ilustração. Balão circular com contorno em zigue-zague e rabicho de mesmo formato. Ilustração. Balão circular com contorno e rabicho pontilhados. Ilustração. Balão circular com duplo rabicho. Ilustração. Balão circular com um ponto de interrogação em seu interior. Ilustração. Balão circular com ícone de uma lâmpada acesa em seu interior. Ilustração. Balão circular com um ponto de exclamação em seu interior. Ilustração. Reprodução de três folhas lado a lado, com contornos dos 4 quadros de histórias em quadrinhos. Na primeira, há um quadro retangular na primeira linha; dois quadros menor na segunda linha e um quadro retangular na terceira linha. Na segunda, há dois quadros de tamanhos iguais na primeira linha e dois quadros de tamanhos diferentes na segunda. Na terceira, há dois quadros pequenos na primeira linha, seguido por dois retângulos de tamanhos semelhantes; cada um em uma linha.

3. Não se preocupem em narrar toda a música; o importante é que dentro do limite de espaço do quadrinho vocês consigam passar uma mensagem.

Etapa 3 – Produção

  1. Após o rascunho, comecem a história em outra folha, dando mais atenção aos detalhes definitivos dos seus quadrinhos.
  2. Deem um título à história como o mesmo do da canção. Identifiquem também o nome do artista ou da banda.
  3. Com a orientação do professor, haverá um momento para apreciação dos quadrinhos por toda a turma.
Ilustração. Nove crianças com características físicas diversas e roupas coloridas estão em pé lado a lado e são vistas de frente e de corpo todo. Acima deles, há diversos balões de fala coloridos, com formatos variados.

TRABALHO E RESISTÊNCIA NA ARTE

Pintura. Destaque de uma via onde seis homens trabalham com os olhos voltados para o chão e o tronco inclinado. Eles usam chapéu e um deles usa uma ferramenta com longo cabo. Destaca-se a cor azul vibrante compondo a sombra da paisagem, a sombra disforme do corpo de alguns homens e a camiseta do homem na parte inferior central.
Homens Trabalhando, de Zina Aita, 1922. Óleo sobre tela, 29 centímetros por 22 centímetros.

A obra Homens Trabalhando, de Zina Aita (1900-1968), é o retrato social e político de trabalhadores que, muitas vezes, realizam atividades que são invisibilizadas ou consideradas “menores”. O trabalhador dito braçal, em geral, não tem o mesmo reconhecimento daqueles que cumprem funções administrativas, por exemplo, tendo, inclusive, salários mais baixos e uma carga de trabalho mais árdua.

Em Homens Trabalhando, a artista evidencia elementos relacionados às condições de trabalho. Faça uma entrevista com algum trabalhador utilizando as seguintes perguntas:
  1. Quais funções exerce no trabalho?
  2. Descreva quais melhorias relacionadas às condições de trabalho seriam importantes para ampliar a sua qualidade vida. Com a orientação do professor, compartilhe os resultados com a turma e discutam os pontos principais das entrevistas.

O artista brasileiro Paulo Nazareth (1977-) retrata em suas performances uma visão crítica da sociedade. Em Trabalho, um anúncio de uma vaga de emprego é divulgado em um jornal:

PRECISA-SE DE PESSOA

Com ou sem experiência, para trabalho temporário em rede em Centro de Cultura, pinac limitada Salário base – transporte – alimentação. Maiores informações entrar em contato pelo imêiou: contatopontopnaarrobagmailpontocom

Fotografia. Interior de uma sala ampla com piso liso estampado, pé-direito alto sustentado por colunas grossas e portas grandes com vidraçaria decorada e formato arqueado. À direita, destaque para uma pessoa deitada em uma rede de descanso presa em uma estrutura preta.
Trabalho, do artista Paulo Nazareth, 2007. Instalação/Performance com rede, folha de ponto e trabalhador assalariado.

O trabalho do anúncio consistia em contratar uma pessoa para passar oito horas diárias deitada em uma rede, com direito a salário e benefícios, enquanto durasse a exposição. O artista provoca o público a refletir sobre questões de trabalho, cansaço e ócio.

Ícone de atividade em grupo.
Com base na provocação de Paulo Nazareth, criem anúncios fictícios de trabalho. Sigam os passos.
  1. Pensem em benefícios e condições ideais de trabalho, ou até mesmo absurdas para a realidade.
  2. Criem pequenos cartazes, como panfletos, e, se possível, conversem com os colegas para saber a reação deles ao lerem os anúncios.

eu vou APRENDER Capítulo 2

Resistência e reflexão pela arte

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, estabelecida a partir de 1948, é um documento que visa garantir os direitos fundamentais do ser humano no enfrentamento das desigualdades, exclusão e discriminação. Além desse, outro documento importante, aprovado em 2006, é a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Leia alguns dos artigos dos documentos.

Artigo 1

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

reticências

Artigo 19

Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; esse direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

reticências

Artigo 27

Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios.

DECLARAÇÃO Universal dos Direitos Humanos. Adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (resolução 217 A três) em 10 de dezembro 1948. unicéfi/Brasil, [sem local, dois mil e vinte e dois data provável]. Disponível em: https://oeds.link/eF4z7A. Acesso em: 12 junho 2022.

Fotografia. Tecido em que está bordada, à esquerda, a silhueta de uma pessoa que segura um conjunto de cinco balões de ar com estampas diferentes: listras verticais em tons de azul, preto e verde; formas floridas em tons de vermelho; formas floridas em tons de lilás; formas circulares coloridas em fundo amarelo e, por fim, bolinhas pequenas brancas sobre fundo esverdeado. À direita, estão as inscrições também em bordado: ARTIGO 3. CADA UM TEM O DIREITO DE VIVER LIVRE E EM SEGURANÇA. 70 ANOS. DIREITOS HUMANOS. LINHAS DE SAMPA.
Bordado do artigo 3º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, feito pelo coletivo Linhas de Sampa, formado por mulheres que bordam temas de resistência e luta.

Os Estados Partes tomarão todas as medidas apropriadas para assegurar que as pessoas com deficiência possam exercer seu direito à liberdade de expressão e opinião, inclusive à liberdade de buscar, receber e compartilhar informações e ideias, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas e por intermédio de todas as fórmas de comunicação de sua escolha reticências.

CONVENÇÃO sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Aprovado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 13 dezembro 2006. unicéfi/Brasil, [sem local, dois mil e vinte e dois data provável]. Disponível em: https://oeds.link/4DETGu. Acesso em: 12 junho 2022.

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Ícone de atividade em grupo.

1. Analisem os artigos destacados, assim como a imagem. Reflitam sobre o questionamento: Quais dos direitos mencionados nos artigos e na imagem vocês acreditam que ainda não são integralmente respeitados e por quê?

Fotografia. À esquerda, destaque de uma folha de papel na qual há o desenho em preto e branco do rosto de uma mulher de cabelos longos penteados para o lado e olhos arregalados. Ela usa um tampão cobrindo a boca na horizontal, com um X no meio. No canto inferior, está o número 296. À direita, há o destaque da mão de uma pessoa que segura um lápis diante da reprodução ampliada do mesmo desenho. No canto superior direito da composição, está a inscrição: 296 ARTIGO 19 2B.
Estudante pintando sobre os azulejos que fazem parte do mural do projeto “Inscrire: Inscrever os Direitos Humanos", em Brasília. Distrito Federal, 2018.
Fotografia. Plano aberto de uma via pela qual uma pessoa caminha da esquerda para a direita com destaque para um painel atrás dela onde se lê uma frase com a expressão 'DIREITOS HUMANOS' acompanhada por desenhos em formas circulares.
O projeto “Inscrire: Inscrever os Direitos Humanos" resultou em um mural com desenhos relacionados aos artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em Brasília. Distrito Federal, 2018.

A artista belga franssoáze cháin (1953-) é conhecida por seu trabalho desenvolvido com referência aos direitos humanos. O projeto “Inscrire: Inscrever os Direitos Humanos” foi realizado sob a coordenação da Associação Inscrire, fundada pela artista, e produzido pelo Ministério dos Direitos Humanos em Brasília, em comemoração aos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O mural, instalado na Estação do Metrô da Galeria do estado, é composto de azulejos pintados à mão por estudantes de escolas públicas de Brasília que participaram de um concurso de desenho sobre os direitos humanos.

2. Como você ilustraria um dos artigos dos direitos humanos? Pesquise em livros ou na internet outros artigos do documento para sua ilustração, ou escolha um dos artigos já citados no texto.

Versão adaptada acessível

Atividade 2.

Como você representaria um dos artigos dos direitos humanos? Pesquise em livros ou na internet outros artigos do documento para sua representação, ou escolha um dos artigos já citados no texto.

ARTE E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

O Brasil é um país composto de diferentes etnias, portanto, com uma grande complexidade e diversidade cultural de crenças, com­­portamentos e valores. De acordo com as estatísticas, mesmo com mais de 50% da população negra, ainda somos um país com elevados níveis de discriminação racial e desigualdades sociais.

Esses debates refletem na sociedade e são ponto de partida para diversos artistas interessados em investigar e refletir temas relativos às questões étnico-raciais em suas produções, principalmente na contemporaneidade.

Pintura. Em cores fortes em tons de azul, marrom e amarelo, apresenta dezessete pessoas com características diversas que interagem entre si em uma área rural. Na parte inferior do quadro, pessoas tocam instrumentos como tambor e berimbau. Ao centro, cinco pessoas se movimentam com as pernas para o ar. Nas laterais, algumas pessoas batem palmas.
Capoeira, de Maria Auxiliadora da Silva, 1970. Técnica mista sobre tela, 69,5 centímetros por 75 centímetros.

A capoeira, representada na obra da artista Maria Auxiliadora (1935‑1974), é um símbolo de resistência da cultura afro-brasileira desde o período escravocrata no Brasil e que permanece até hoje em nossa cultura.

Pintura 1. Retrato de um homem negro de cabelo grisalho, bigode curto, usa óculos de grau e veste paletó verde. O nariz apresenta destaque em amarelo e tracejados brancos conferem aspecto de descascado ao quadro. O fundo é azul. Pintura 2. Retrato de uma mulher negra de cabelo grisalho com tranças e que usa vestido bege com mangas bufantes e decote. O nariz apresenta destaque em laranja e tracejados brancos conferem aspecto de descascado ao quadro. O fundo é azul.
[1] Machado de Assis, de Dalton Paula, 2020. Óleo e folha de ouro sobre tela, 45 centímetros por 61 centímetros. [2] Chica da Silva, 2020. Óleo e folha de ouro sobre tela, 45 centímetros por 61 centímetros.

O interesse do artista Dalton Paula (1982-) é colocar em evidência a cultura afro-brasileira, assim como personalidades que ocupam lugar de visibilidade, e não de apagamento. Nos retratos de Chica da Silva (1732-1796) e de Machado de Assis (1839-1908), vemos duas figuras que deixaram um legado para a cultura brasileira.

Machado de Assis foi escritor e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Sendo um homem negro, foi convencionado que seu retrato fosse divulgado como um homem branco, ignorando sua ascendência.

Ícone de atividade oral.
  1. Os retratos reproduzidos na página representam importantes personalidades afro-brasileiras. Quais outros importantes escritores, artistas da música, do cinema ou da literatura afro-brasileiros você conhece e/ou admira?
  2. Crie um retrato, em pintura, de uma das personalidades abordadas no texto: Maria Auxiliadora, Machado de Assis ou Chica da Silva. Faça uma pesquisa em livros ou na internet para criar uma pequena legenda com os principais dados biográficos da pessoa escolhida, a ser inserida no retrato.
Versão adaptada acessível

Atividade 4.

Crie uma representação artística de uma das personalidades abordadas no texto: Maria Auxiliadora, Machado de Assis ou Chica da Silva. Faça uma pesquisa em livros ou na internet para criar uma pequena legenda com os principais dados biográficos da pessoa escolhida, a ser apresentada junto à representação artística.

Cores para todas as peles

Observe a escultura Amnésia, do artista Flávio Cerqueira (1983-). A palavra do título se refere a um distúrbio causado pela perda parcial ou completa da memória. Além dos traços que revelam que o personagem é uma criança negra, o bronze estabelece uma relação com a cor da pele, em contraste com o branco da tinta que escorre pelo seu corpo.

reticências acreditava-se que todo negro de pele escura deveria perseguir diferentes mecanismos de embranquecimento. Aqui, aprendemos a não saber o que somos e, sobretudo, o que devemos querer ser.

CARNEIRO, Sueli. Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2011. página64.

Para a filósofa e escritora Sueli Carneiro (1950-), o “embranquecimento”, fruto de uma estrutura racista, é um conceito pelo qual podemos entender como uma pessoa negra acaba por negar suas origens para ser aceita na sociedade.

Ícone de atividade oral.
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5. Estabeleçam relações entre a obra de Cerqueira e o texto de Sueli Carneiro.

As cores, associadas aos tons da pele, são objeto de investigação para a artista brasileira Adriana Varejão (1964-) na obra Polvo, reproduzida na página 153. Um censoglossário realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 1976 foi o ponto de partida para a obra, em que as pessoas entrevistadas deram como respostas mais de 130 cores diferentes para suas peles, como “acastanhada”, “morena bem chegada”, “burro quando foge”, “queimada de praia”, “escura bronze” etcétera. Adriana criou uma série de pinturas com paletas geométricas de cores, autorretratos, além de uma caixa com tubos de tinta que levaram os títulos curiosos informados pelos entrevistados do censo de 1976.

Escultura. Estátua em bronze que apresenta um menino negro de nariz largo e lábios grossos. Ele está em pé vestindo bermuda e descalço; segura um balde para o alto do qual escorre tinta branca da cabeça ao resto do corpo.
Amnésia, de Flávio Cerqueira, 2015. Escultura. Látex sobre bronze, 129 centímetros por 42 centímetros por 41 centímetros.
Fotografia 1. Sobre uma bancada marrom, há trinta e três pequenas bisnagas de tinta de diferentes pigmentos e que estão dispostas lado a lado distribuídas em três fileiras horizontais. Ao lado, há o destaque do zoom de algumas bisnagas.
Fotografia 2. Interior de uma sala que apresenta doze retratos com forma circular dispostos pendurados em uma parede branca em três fileiras horizontais separadamente. Apresentam espectros de cores de diferentes formas. Diante dos quadros, há uma bancada ao centro onde estão trinta e três bisnagas de tintas expostas.
[1] Tintas Polvo, de Adriana Varejão, 2013. Caixa de madeira com tampa de acrílico, contendo 33 tubos de tinta a óleo de alumínio, 36 centímetros por 51 centímetros por 8 centímetros. [2] Retratos Polvo oito, 2014. Óleo sobre tela. Políptico de 4,52 centímetros por 45,5 centímetros por 52 centímetros (cada um).

6. Em sua opinião, por que a artista deu o nome de Polvo à obra?

No Brasil, o branco é uma cor que tem uma fôrça simbólica muito forte. No Brasil, a noção de raça vem pela noção de cor. As pessoas muitas vezes não querem falar de raça, mas falam de cor. A cor é reticências um marcador social de diferenças. Então, acho essa uma questão superimportante. É uma maneira de pensar o Brasil.

Chuárquis, Lilia. Polvo de cores infinitas. [Entrevista cedida a] Leonor Amarante e Patrícia russô. ARTE!Brasileiros, [Sulpontolesteponto], 2 julho 2018. Disponível em: https://oeds.link/EaBs2b. Acesso em: 12 junho 2022.

  1. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, atualmente são consideradas cinco classificações de cores de pele: branca, preta, parda, indígena ou amarela. Qual cor representa sua pele? A turma vai produzir uma paleta de cores inspirada na obra Polvo, de Adriana Varejão.
    1. Façam experimentos misturando tintas de diferentes cores. Cada um deve chegar ao tom aproximado da sua pele.
    2. Assim que as cores forem definidas, criem uma paleta de cores de pele de toda a turma em uma cartolina.

RESISTÊNCIA INDÍGENA NA ARTE

Na atualidade, os artistas indígenas têm ocupado os espaços culturais e as instituições de arte com temáticas atravessadas pela luta dos povos originários, pela preservação da natureza e por direitos humanos, ampliando as possibilidades de atuação e comunicação por uma arte engajada por causas políticas e sociais.

A frase do ativista indígena Ailton Krenak (1953-) e a obra de Jáider Isbel (1979-2021) se relacionam com a visão da causa indígena sobre a natureza.

Quando, por vezes, me falam em imaginar outro mundo possível, é no sentido de reordenamento das relações e dos espaços, de novos entendimentos sobre como podemos nos relacionar com aquilo que se admite ser a natureza, como se a gente não fosse natureza.

KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. segunda ediçãoSão Paulo: Companhia das Letras, 2020. página 67.

Fotografia. Durante a noite, área que apresenta um lago com estátua de duas serpentes luminosas lado a lado que têm o reflexo projetado na água. Ao fundo, estão árvores e postes de iluminação.
Entidades, escultura inflável de mais de 10 metros de altura instalada na lagoa do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, proposta do artista indígena Jáider Isbel. São Paulo, 2020.

O artista Jáider Isbel, da etnia Macuxi, instalou serpentes gigantes com mais de 23 metros de comprimento na lagoa do Parque do Ibirapuera, na ocasião da 34ª Bienal de São Paulo. A obra se contrapõe a um monumento em homenagem a Pedro Álvares Cabral próximo ao local, questionando a ideia de descobrimento. O artista, que traz as raízes e a ancestralidade para suas propostas, faz uma reflexão sobre como a memória indígena é esquecida.

Fotografia. À direita, destaque de uma mulher indígena que canta ao microfone. Ela tem cabelo longo, liso e preto, penteado para o lao, o rosto e os braços pintados em linhas horizontais e adereços no pescoço, tronco e braços. Ao fundo, à esquerda, um rapaz toca percussão.
diuêna Tikuna, na cidade de São Paulo, no Yby Festival, primeiro festival de música indígena contemporânea no Brasil. São Paulo, 2019.

A resistência também ocupa espaços na arte por meio de artistas indígenas da música. A cantora e compositora amazonense diuêna Tikuna mostra a ancestralidade de seu povo pelo canto, que, além de enaltecer e fortalecer suas origens, também faz reivindicações por direitos políticos, como a demarcação dos territórios indígenas no Brasil.

Em 2017, no lançamento de seu primeiro álbum intitulado tiautiane, que quer dizer “Minha Aldeia”, a cantora convidou mais de 300 indígenas para o espetáculo, fazendo do evento um momento histórico no Teatro Amazonas. diuêna conta a importância de, na época, cantar nos palcos do museu:

“Já cantei algumas vezes, meia dúzia talvez. Mas sempre como convidada, uma participação especial. Dessa vez não. Vai ser um evento indígena e não é só meu, mas de todos os parentes, pois todos fazem parte dessa conquista. O lançamento do meu cedê é só uma desculpa para fazer uma celebração, um ritual de união entre os povos. Poder oferecer o palco do Teatro Amazonas, esse patrimônio cultural do país, é um presente que dou para aquela “indiazinha” que veio do Alto Solimões para Manaus há mais de 20 anos reticências.”

TIKUNA, diuêna. [Entrevista cedida a] Kátia Brasil. Cantora diuêna Tikuna lançará o primeiro cedê e quer índios na plateia do Teatro Amazonas. Amazônia Real, Amazonas, 7 julho 2017. Disponível em: https://oeds.link/SGtvRK. Acesso em: 14 junho 2022.

8. Em grupos, selecionem algumas notícias de jornal e de outros meios de comunicação relacionadas aos desafios que os indígenas enfrentam no país, como a garantia de direitos, o preconceito, a demarcação de terras etcétera Compartilhem com os colegas e discutam essas questões.

Arte indígena conectada
Fotografia. Colagem que apresenta sobreposição de imagens sobre um fundo preto com estrelas. Na parte superior, há faixas onduladas em cor rosa, verde e amarela, duas araras pousadas sobre um graveto, três planetas reproduzidos em tamanho desproporcional, ramos de folhas e partes do corpo de uma cobra listrada em preto, branco e laranja. Na parte inferior, há uma mulher coberta por um véu em tons de lilás. Ela está com os olhos fechados e um dos braços para o alto. Sobre sua cabeça, há um chapéu ao contrário e em seu interior há a imagem de uma mulher indígena e ramos de folhas. Atrás da mulher, há um arco de folhas coloridas. Ao redor, há o espelhamento de ramos de plantas,  espada-de-são-jorge, peixes sobre o rosto de uma pessoa e onças-pintadas em tom azulado.
A colagem digital de Barbara Parawara estava entre as obras em êne éfe tê à venda no leilão para financiamento de projeto do povo Paiter Suruí.

Com o objetivo de arrecadar fundos para iniciativas sustentáveis – como a recuperação de nascentes e de processos de reflorestamento –, os Paiter Suruí, da região de Rondônia Rondônia, se organizaram em 2022 para um leilão virtual a convite do cacique Almir Suruí.

As obras do leilão foram compostas de imagens digitais chamadas de êne éfe tê, uma tecnologia que cria uma espécie de selo de autenticidade, tornando aquele arquivo uma propriedade digital em um banco de dados.

9. Recortem de jornais ou revistas imagens que remetam à natureza e às culturas indígenas. Façam uma colagem que enfatize a ideia da diversidade étnica indígena e a relação com o meio ambiente. Sobre a colagem, façam intervenções com manchas de tintas, frases etcétera.

A arte de Denilson Baniwa

Denilson Baniwa (1984-), da etnia Baniwa, é um artista visual nascido no interior do Amazonas. Em seus trabalhos, há uma mistura dos elementos da ancestralidade e cultura indígena com recursos visuais da arte contemporânea, como arte digital, fotografia e vídeo.

Fotografia. Intervenção digital. Em cor pastel, há um homem indígena deitado com as costas no chão e segurando um grande arco e flecha com os pés e mãos. Sobre a distância entre seu queixo e seus pés, há uma faixa amarela em tom vivo. Nas extremidades do arco, há uma sobreposição de quatro faixas vermelhas arqueadas em tom vivo. Ao lado, no chão, há uma bolsa feita de material natural onde estão outras flechas, ambas dispostas na horizontal. Ao redor, há cactos. No horizonte, há montanhas e pássaros.
Arqueiro Digital, de Denilson Baniwa, 2017.

Em Arqueiro Digital, Denilson faz uma intervenção digital sobre a imagem de uma gravura de Jãn Batiste Dêbret (1768-1848), de 1834, que retrata um indígena usando a fôrça do corpo para acionar uma flecha. Na intervenção, é sobreposto o logotipo da Rádio Yandê, a primeira web rádio indígena do Brasil, no ar desde 2013.

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  1. Ao analisarmos a obra de Denilson Baniwa, percebemos uma relação entre passado e futuro, atualizando a imagem do indígena retratado por debrê. Com base nessa leitura:
    1. Quais interpretações podem ser feitas sobre a obra Arqueiro Digital?
    2. Compartilhem as respostas com os colegas e identifiquem as semelhanças e as diferenças entre elas.

ARTE E HISTÓRIA

Debret

Jãn Batiste Dêbret (1768-1848) foi um artista francês que chegou ao Rio de Janeiro com a Missão Artística Francesa. Essa missão era composta de um grupo de artistas, como o paisagista Nicola Antuen Tounê (1755-1830) e o escultor oguste-marrí toné (1758-1848), que tinham como objetivo a implantação da Escola Superior de Belas Artes para a formação de artistas brasileiros que produzissem uma arte aos moldes europeus.

Gravura. Em cor pastel, um homem indígena deitado com as costas no chão e segurando um grande arco e flecha com os pés e mãos. Ao lado, no chão, há uma bolsa feita de material natural onde estão outras flechas, ambas dispostas na horizontal. Ao fundo, há outra pessoa indígena em posição semelhante. Ao redor, há cactos. No horizonte, há montanhas e pássaros.
Caboclo (Índio civilizado), deJãn Batiste Dêbret, 1834. Gravura do livro Viagem pitoresca ao Brasil.
Litogravura. Em área externa rural, há um pequeno grupo de pessoas indígenas, entre crianças e adultos, diante de um abrigo com parede de bambus. Elas estão seminuas e usam adereços nas pernas, braços, pescoço e cabeça. Em destaque, está um homem com cocar volumoso parado em pé ao lado de uma mulher com cocar semelhante sentada em uma rede e com uma criança de colo. Uma jovem está sentada no chão ao lado de um animal doméstico e uma tigela. Do lado direito, está uma criança com corpo pintado ajoelhada no chão próximo de uma fogueira, duas crianças e mais um adulto em pé. Em segundo plano, à esquerda, há outro grupo com características semelhantes e próximos de vegetação.
Família de um chefe Camacã se preparando para uma festa, de Jãn Batiste Dêbret, 1839. Litogravura.
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As gravuras reproduzidas nesta seção se aproximam ou se distanciam da imagem que vocês têm sobre os povos indígenas do Brasil? Expliquem.

debrê produziu imagens que documentaram a natureza, a fauna, a flora e o cotidiano no país – o que era visto como exótico por outras culturas. Deixou um extenso acervo que documentou a cultura brasileira durante os mais de 15 anos que viveu no país no período colonial e, apesar do caráter documental de suas obras, ainda havia resquícios da visão curiosa de um estrangeiro sobre um contexto diferente de suas origens.

Ao longo do tempo, foram produzidas imagens dos povos originários que contribuem para a ideia que temos dos indígenas no Brasil. Quando associadas a um imaginário estagnado em um determinado tempo, algumas dessas imagens criaram estereótipos que limitam nossa compreensão sobre como alguns povos indígenas vivem atualmente.

As imagens a seguir retratam alguns indivíduos indígenas na atualidade. Se debrê pudesse presenciar essas cenas no século vinte e um, certamente encontraria algumas semelhanças entre a cultura indígena atual e a europeia, por exemplo.

Fotografia. Vista lateral de um grupo de homens indígenas que caminham seminus e empurram bicicletas azuis ou laranjas em uma área de chão de terra. Ao fundo, há algumas árvores.
Grupo de tribos vizinhas chegando na aldeia Tuatuari da etnia Iaualapití para o Kuarup, ritual para celebrar a memória dos mortos, na cidade de Gaúcha do Norte. Mato Grosso, 2012.
Fotografia. Interior de uma sala onde está um homem indígena parado em pé e segurando uma revista aberta diante de um celular sobre um suporte na mesa onde estão vários itens espalhados. Ao fundo, há uma lousa branca com palavras em tupi. Na parede, há um painel com fotos diversas.
Cacique Urutau Guajajara durante aula virtual de língua tupi para adultos. Aldeia Maracanã, na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2021.
Faça uma entrevista com um familiar perguntando o que ele sabe sobre algum povo indígena do Brasil, partindo dos seguintes questionamentos:
  1. Quais costumes, hábitos e crenças você conhece a respeito de algum povo indígena?
  2. Que modos de vida dos povos indígenas se aproximam mais do seu? Anote, em tópicos, os principais pontos das respostas. Com a orientação do professor, traga essas informações para a sala de aula e discuta os resultados com a turma.

MULHERES NA ARTE

Cartaz. À esquerda, há uma montagem com corpo de mulher deitada de lado, despida e usando uma máscara de gorila. Ao lado, está escrito: 'AS MULHERES PRECISAM ESTAR NUAS PARA ENTRAR NO MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO?'. Abaixo, o texto continua: 'APENAS 6% DOS ARTISTAS DO ACERVO EM EXPOSIÇÃO SÃO MULHERES, MAS 60% DOS NUS SÃO FEMININOS.
As mulheres precisam estar nuas para entrar no Museu de Arte de São Paulo? Cartaz das guerrilha guéls com estatísticas do Museu de Arte de São Paulo, 2017.

A provocação do cartaz evidencia como as mulheres ainda aparecem sendo representadas por artistas homens ao longo da história da arte, mas não como autoras e produtoras de suas próprias imagens e modos de se autorrepresentar sem os estereótipos envoltos por temas que exploram a nudez ou aquilo que se entende por feminino.

Pintura. Apresenta uma mulher branca nua sentada de costas sobre uma cama com lençol branco, uma toalha nos braços e um lenço claro com detalhes em vermelho preso ao cabelo. À esquerda, há uma cortina verde.
Banhista de Valpinçon, de jãn ógust dominíque ângr, 1808. 146 centímetros por 97,5 centímetros.
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1. A obra de jãn ógust dominíque ângr (1780-1867) é um dos exemplos de pintura que faz parte de acervos de museus nacionais e internacionais que revela o acesso de artistas mulheres a esses espaços. Quais possíveis motivos contribuíram, ou ainda contribuem, para que isso seja realidade?

As vantagens de ser uma artista mulher

Na década de 1970, nos Estados Unidos, surgia um grupo de mulheres intitulado Guerrilla Girls como fórma de protesto às instituições de arte que priorizavam a seleção de artistas homens para as exposições. O grupo se mantém em atividade com novas formações de integrantes. As máscaras que usam escondem suas identidades e servem como provocação.

As obras do grupo passam por performances, manifestações, vídeos educativos e cartazes, como o intitulado As vantagens de ser uma artista mulher, de 1988. Leia alguns trechos a seguir.

Fotografia. Cinco mulheres caminham lado a lado em uma via usando máscaras de diferentes macacos e seguram baldes e rolos de cartazes. Ao fundo, há prédios.
Guerrilla Girls, em Nova iórque, 1985.

As vantagens de ser uma artista mulher:

reticências

Estar segura de que, independentemente do tipo de arte que você faz, será rotulada como feminina

reticências

Ver as suas ideias tomarem vida no trabalho dos outros

Ter a oportunidade de escolher sua carreira ou a maternidade

reticências

Não ter que passar pelo constrangimento de ser chamada de gênio

Ver sua foto em revistas de arte usando uma roupa de gorila.

GIRLS, Guerrilla. As vantagens de ser uma artista mulher. 2017. Impressão digital sobre papel, 45 centímetros x 58,4 centímetros. Disponível em: https://oeds.link/8J1jnf. Acesso em: 12junho 2022.

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2. Em uma das frases do texto, o grupo destaca: “Estar segura de que, independentemente do tipo de arte que você faz, será rotulada como feminina”. A afirmação destaca que, independentemente dos temas que uma artista trate em seu trabalho, ele será rotulado apenas de arte feminina. No seu entendimento, quais estereótipos reforçam a ideia de uma arte exclusivamente feminina?

Mulheres artistas e suas obras

Quantas artistas mulheres você conhece? Essa pergunta desencadeia uma discussão bastante pertinente para refletirmos sobre lugares ocupados majoritariamente por homens, seja na sociedade, seja em instituições de arte enquanto produtoras culturais, curadoras, artistas e outras posições de protagonismo.

Conheçam a seguir algumas artistas que, de alguma fórma, levantam discussões sobre a representatividade das mulheres como protagonistas na arte. Discutam sobre aspectos da história e obra de cada uma delas.

Fotografia. Retrato de uma mulher negra de cabelo volumoso castanho, lábios grossos e nariz afilado. Ela veste roupa brilhante e está sentada em uma poltrona segurando um microfone.
Apresentação do show A Voz e a Máquina com a cantora Elza Soares, na cidade de São Paulo. São Paulo, 2018.

Elza Soares (1930-2022) é considerada uma das maiores artistas da história da música brasileira. Nascida na periferia do Rio de Janeiro, a cantora enfrentou várias adversidades, como a fome, o preconceito, o racismo, a falta de oportunidades, até conseguir consolidar sua carreira musical. Elza ganhou diversos prêmios nacionais e internacionais e foi aclamada pela crítica e pelo público. Destaque para seu disco Planeta Fome, de 2019, em que o título faz uma crítica à situação social e política do Brasil.

Escultura de mármore que apresenta um homem nu ajoelhado que abraça e beija o rosto uma mulher nua que está em pé à sua frente.
O Abandonado, de , 1888. Escultura em mármore, 62 centímetros por 56 centímetros por 50 centímetros.

A escultora francesa (1864-1943) teve uma vida conturbada por problemas pessoais e por ser mulher e escultora em uma época repleta de preconceitos. Após ter uma de suas obras recusadas em uma grande exposição e de ser constantemente acusada de copiar Rodin, famoso escultor com quem tinha um relacionamento amoroso, se encontrou desencorajada a esculpir. Foi internada à fôrça em um asilo, onde permaneceu até a sua morte.

Panmela Castro (1981-) é uma multiartista com trabalhos que passam pela performance, instalação, fotografia, vídeo, pintura e grafite. A artista desenvolve propostas ativistas que partem de experiências pessoais, como a violência doméstica, e que discutem o direito da mulher e as desigualdades de gênero na sociedade.

Fotografia. Um grafite em tons de rosa que apresenta o retrato de uma jovem de cabelo escuro, sobrancelhas grossas, olhos castanhos e lenço que cobre parcialmente a cabeça. Sobre o retrato, há alguns desenhos de flores brancas. Do lado esquerdo, está a jovem retratada com um lenço branco que cobre a cabeça e parte do corpo. Do lado direito, outra mulher morena vestindo calça jeans e casaco rosa posa pra foto.
Panmela Castro posa com seu grafite junto da retratada, a ativista Malala, a mais jovem ganhadora de um Prêmio Nobel da Paz. Rio de Janeiro, 2018.

3. Em grupos, façam uma pesquisa sobre alguma artista mulher da região em que vivem, atuais ou não, e compartilhem informações importantes sobre suas biografias e trabalhos. Lembrem-se de que as artistas podem ser musicistas, dançarinas, pintoras, escultoras, atrizes, artesãs etcétera.

ARTE NA PERIFERIA

Para discutir sobre arte e periferiaglossário , é preciso entender a complexidade do que é posto como periférico. São locais afastados dos grandes centros econômicos e urbanos das cidades, dificultando o acesso ao que ali se produz e gerando uma série de exclusões, como a social e a cultural.

Apesar dessas limitações, as periferias também são potenciais de grande produção artística e manifestações culturais. A arte não está na periferia somente, mas é proveniente dela, fruto do envolvimento de pessoas e coletivos que se organizam na criação de ações e espaços de resistência.

Fotografia. Em um palco com iluminação difusa, um homem de calça preta, blusa preta e laranja, boné laranja e óculos de sol canta ao microfone com uma das mãos para o alto. Ao fundo, estão os instrumentistas.
O cantor Emicida durante show na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2019.

Assim como outros gêneros musicais, por exemplo, o funk e o samba, o rap emerge das periferias brasileiras com grande fôrça. Nascido na zona norte da cidade de São Paulo, o réper Emicida é reconhecido no Brasil por suas músicas e composições poéticas atravessadas por temas sociais e políticos. Analise os versos a seguir.

reticências

Eu sonho mais alto que drones

Combustível do meu tipo? A fome

Pra arregaçar como um ciclone

Pra que amanhã não seja só um ontem

Com um novo nome

O abutre ronda, ansioso pela queda (sem sorte)

reticências

AMARELO. Intérpretes: Emicida, Majur e Pabllo Vittar. Compositores: Felipe Vassao, Emicida e didjêi Duh. In: AmarElo. Vários intérpretes. São Paulo:Sony Music/Laboratório Fantasma, 2019. cedê. Faixa 10.

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  1. Leia o trecho da canção e explique:
    1. As principais ideias representadas nele.
    2. Como o verso da música dialoga com a ideia de resistência.

Assim como a música, outras manifestações e projetos envolvendo a arte e a comunidade acontecem em diversas regiões periféricas do Brasil, como saraus, seções de cinema comunitário, slams, grupos de dança e teatro.

Fotografia. Plano aberto de um grupo de atores, a maioria negros, com figurino e roupas diversas e que posam para foto lado a lado em um palco. Ao fundo, alguns caixotes de madeira empilhados e suspensos no alto e os spots de luz.
O projeto TeatroEscola é pioneiro na formação artística de jovens em Salvador. Bahia, 2018.

Em Salvador, na Bahia, o projeto TeatroEscola promove cursos profissionalizantes e técnicos voltados para jovens negros e indígenas. A grade de cursos é ampla: teatro, dança, fotografia, produção cultural, entre outras modalidades, além de aulas de História, Política e Cultura afro-brasileira.

Roberlan Araújo, produtor cultural e ex-aluno do projeto TeatroEscola, conta sua experiência com a instituição:

O olhar diferenciado sobre questões identitárias e sociopolíticas presentes na instituição me preparou para estar em todos os espaços. Hoje me reconheço enquanto um agente de transformação no meu território, atuando na gestão pública como Superintendente Municipal de Direitos Humanos, Igualdade Racial e Gênero em Ituberá, Baixo Sul da Bahia.

ROSÁRIO, Flávio. TeatroEscola: O caminho da arte para periferia de Salvador. Terra, [Sulpontolesteponto], 21 abril. 2022. Disponível em: https://oeds.link/yfqiOKo-caminho-da-arte-para-periferia-de-salvador,8d9f4bd270be7af8315ed94e032084e5ik6pejwv.html. Acesso em: 12 junho 2022.

5. Em grupos, façam uma pesquisa sobre ações ou instituições que promovam cursos ou apresentações artísticas na sua cidade ou no seu estado, especialmente nas regiões periféricas. Registrem os nomes desses grupos e instituições e suas respectivas atividades desenvolvidas.

Cultura Hip-hop
Fotografia. Plano aberto de uma ampla sala com baixa iluminação e onde estão muitas pessoas que observam dois rapazes em primeiro plano uniformizados com calças azuis e casado vermelho, ambos com listras brancas. Eles dançam com a cabeça voltada para baixo e as pernas para o ar. Ao redor, três outros jovens com mesmo uniforme os observam ajoelhados. Próximo aos meninos também há um homem tirando fotos deles.
Artistas da cena da cultura Hip-hop nos Estados Unidos na década de 1980. Na imagem é possível identificar o break e o rap.

O Hip-hop é um movimento cultural surgido na década de 1970 nas periferias de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Fazem parte desse movimento o rap, o breakdance e o grafite.

O rap se destaca nas suas origens como ritmo de uma poesia cantada, denunciando a discriminação e a violência sofridas na periferia por negros e latinos. O breakdance é um estilo de dança com movimentos mais acrobáticos e sinuosos do corpo, sendo comum nas competições de rua. Já o grafite é a manifestação nas artes visuais que deixa marcas nos muros das cidades, ocupando as áreas urbanas como plataformas para a expressão.

O break possui alguns fundamentos básicos na criação dos movimentos de dança. O Top Rock é realizado no início da apresentação. É executado em pé, com movimentos mais fáceis que os demais, focados nas pernas e nos braços. Não há movimentos fixos nesse momento, já que o break demonstra seu estilo pessoal.

Para ampliar

. O mundo do grafite: arte urbana dos cinco continentes. São Paulo: Martins Fontes, 2011. A obra apresenta uma visão exclusiva do universo do grafite e conduz o leitor por uma aventura, combinando experiências diretas com os depoimentos de artistas por diferentes países.

Praticando movimentos de Top Rock

Vamos experimentar na prática alguns movimentos de Top Rock.

Como fazer

  1. Comece deixando o corpo bem solto, o menos rígido possível.
  2. O movimento será de abrir e fechar braços e pernas de fórma ritmada.
  3. Inicie o movimento com os pés mais próximos e as mãos juntas na altura do tórax [imagem 1].
  4. Depois, cruze as pernas e abra os braços para o lado direito [imagem 2].
  5. Volte a fechar os braços e aproximar os pés [imagem 3].
  6. Por fim, cruze as pernas e abra os braços para o lado esquerdo e siga a sequência encontrando o ritmo [imagem 4].
  7. Para complementar essa prática, pesquisem outras referências, preferencialmente em vídeo, de passos simples que possam ser executados em grupos.
Ilustração. Um jovem de calça azul escura, camisa verde e boné vermelho está em pé, com os braços estendidos na altura da barriga, os olhos fechados e a cabeça levemente inclinada para sua direita. Ilustração. Um jovem de calça azul escura, camisa verde e boné vermelho está em pé, com as pernas cruzadas, os braços estendidos para o lado e o tronco inclinado para sua esquerda. Ele está sorrindo. Ilustração. Um jovem de calça azul escura, camisa verde e boné vermelho está em pé, com os braços estendidos na altura da barriga e os olhos fechados. Ilustração. Um jovem de calça azul escura, camisa verde e boné vermelho está em pé, com as pernas cruzadas, os braços estendidos para o lado e o tronco inclinado para sua direita. Ele está sorrindo.
Mônica Nador e o Jamac

A constatação da exclusão social e cultural imposta aos moradores de áreas violentas e periféricas dos centros urbanos levou a artista Mônica Nador (1955-) a desenvolver diversos projetos, entre eles o Paredes Pinturas, que vão desde a pintura mural até tecidos, paredes internas e externas, entre outras superfícies. Utilizando a técnica do estêncil, os projetos acontecem em coautoria colaborativa entre a artista e os moradores da comunidade.

Em oficinas ministradas por Mônica, os moradores da comunidade partem da própria cultura, de suas memórias e referências pessoais, para criar desenhos que são transformados em estampas de paredes, muros e tecidos. Nessas oficinas, os moradores aprendem a utilizar a técnica do estêncil, escolhida por ser simples, barata e permitir grande liberdade de composição, criando simetrias, ritmos visuais etcétera.

Fotografia. Destaque da fachada de uma casa de muro baixo na cor azul com desenhos repetidos formando um padrão. Nas extremidades do muro, há duas faixas finas pintadas em laranja. À direita, há um portão baixo de madeira também em azul. A pintura externa da casa é rosa. Há uma porta ao centro e duas janelas na lateral. À frente da casa, há um pequeno quintal, onde está exposto um varal com roupas penduradas. Ao fundo, vista parcial de outras casas.
Paredes Pinturas, autoria compartilhada, 1996.

6. Leia a frase do historiador e escritor Célio Turino sobre a experiência da artista Mônica Nador com as comunidades.

Murais feitos com gente cujas casas eram as telas. Obras de arte em bairros distantes, em ruas íngremes e casas mal-acabadas. E a arte, antes feita em museu, se estilhaçou. Não mais centro, não mais periferia, apenas arte, arte em toda parte, feita por e para toda a gente. Arte em que se entra dentro. Arte-Vida.

TURINO, Célio. Arte em que se entra dentro. In: RIVITTI, Thaís organização. Jamac: Jardim Miriam Arte Clube. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2012. página 15. Disponível em: https://oeds.link/OaYGpV. Acesso em: 12 junho 2022.

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Segundo Célio Turino, “a arte, antes feita em museus, se estilhaçou”. Explique o sentido da frase.
Fotografia. Interior de uma sala onde um homem de camisa de mangas compridas verde e boné escuro com estampa trabalha em uma bancada com chapas, tinta, fita e papel. Ao fundo, estão uma estante e uma cômoda com diversos itens expostos.
Colaborador do Jamac produzindo um estêncil.

No final de 2003, a artista se mudou para o Jardim Miriam, bairro da periferia da cidade de São Paulo, com a intenção de desenvolver esse projeto. Em 2004, surgiu o Jardim Miriam Arte Clube (Jamac), que reuniu artistas, universitários e moradores do bairro e se tornou referência em ações que unem arte e ativismo social.

Essa organização sem fins lucrativos desempenha um importante papel na comunidade, articulando diversas iniciativas culturais, como a oficina de estamparia, cujo foco é a produção de estampas, visando à geração de renda e à sustentabilidade das atividades do Jamac. A produção inclui estampas para decoração, peças de uso doméstico e para o vestuário, entre outras.

Ícone de atividade oral.

7. Por que podemos afirmar que o projeto Jamac é de autoria compartilhada?

VAMOS FAZER

Estêncil afetivo

A técnica do estêncil é empregada no projeto de estamparia do Jamac. As memórias pessoais dos participantes do projeto são inspiração direta para a criação das estampas, que passam por um processo de definição e escolha das imagens, recorte dos moldes, testes e estampa sobre os tecidos ou muros.

Inspirados pela proposta de Mônica Nador, cada um vai criar seu próprio estêncil com referência às suas memórias afetivas. Veja as etapas a seguir.

Material

  • Papel-cartão.
  • Tesoura ou estilete.
  • Tinta guache.
  • Pincéis.
  • Rolo de tinta ou esponjas macias.
  • Folhas de sulfite.
  • Pedaços de tecidos de aproximadamente 20 centímetros por 20 centímetros cada um.

Como fazer

Etapa 1 – Desenho

Crie um desenho, simples e com poucos detalhes, que represente alguma memória que lhe traga uma lembrança marcante, tranquila e positiva. Imagine que você tenha uma lembrança afetiva da primeira vez que viu o mar e queira desenhar uma onda.

Etapa 2 – Recorte do molde

1. Transfira esse desenho para um pedaço de papel-cartão de aproximadamente 20 centímetros por 20 centímetros. Atente-se para o fato de que o desenho vai ser recortado no papel formando uma área vazada onde a tinta será aplicada.

Ilustração. Destaque da mão de uma pessoa que desenha uma onda com lápis de cor sobre uma folha.

Continua

Continuação

2. Com cuidado, recorte o papel-cartão como no exemplo da imagem. Ele será o molde vazado do seu estêncil.

Ilustração. Destaque da mão de uma pessoa cortando o desenho de uma onda com estilete.

Etapa 3 – Transferência da imagem

1. Faça um teste colocando o molde sobre uma folha de sulfite e aplique tinta com a esponja ou o rolo sobre o molde.

Ilustração. Destaque da mão de uma pessoa passando um rolo de tinta azul sobre a folha onde o desenho de uma onda foi recortado.

2. Se a imagem for transferida como desejado, use o molde do seu estêncil para transferi-la diretamente sobre o tecido.

Ilustração. Destaque das mãos de uma pessoa segurando o tecido com o desenho de uma onda pintada.Ilustração. Destaque das mãos de uma pessoa segurando o tecido com o desenho de uma onda pintada.

3. Com a orientação do professor, cada um vai apresentar sua produção e contar como a imagem se relaciona com uma memória afetiva. Guardem os trabalhos que serão solicitados para uma atividade futura.

ORQUESTRA DE REFUGIADOS

Pensar na condição das pessoas refugiadas é também pensar nas razões que as obrigam a deixar seus países de origem. A fuga de situações críticas, as guerras e conflitos e a violação dos direitos humanos são motivos frequentes que justificam essa realidade.

Fotografia. Um grupo de pessoas lado a lado e de diferentes idades características físicas ocupa uma via segurando uma faixa branca com letras grandes vermelhas com a expressão: REFUGEES WELCOME. Ao redor, há prédios e, atrás deles, um carro de som.
Cartaz com frase “Refugiados são bem-vindos” em protesto a favor dos refugiados, em Londres. Reino Unido, 2016.

Leia as informações a respeito da situação dos refugiados no Brasil, segundo a ôngui (Organização Não Governamental) Estou Refugiado:

No Brasil, segundo dados divulgados recentemente pelo Ministério da Justiça e pelo OBMigra (Observatório das Migrações Internacionais), constata-se um crescente aumento reticências da presença de imigrantes, solicitantes de refúgio e refugiados nas diferentes regiões do país: uma população diversa e que chega ao Brasil com diferentes origens geográficas, sociais, culturais, entre outros aspectos.

O relatório aponta que, no final de 2020, existiam 57.099 pessoas em situação de refúgio. Nesse último ano, os solicitantes de refúgio vieram de 113 países, mas a maioria (60%) era de venezuelanos, seguidos pelos haitianos (22,9%) e pelos cubanos (4,7%). A maioria dos solicitantes são homens (62,3%), entre 25 e 39 anos.

ESTOU Refugiado. [Sulpontolesteponto, data provável: 2019]. Disponível em: https://oeds.link/8TEVsa. Acesso em: 12 junho 2022.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

O Brasil é um país que abriga imigrantes e refugiados de diversas partes do mundo. Desse contexto surge em São Paulo a Orquestra Mundana Refugi, projeto desenvolvido e coordenado pelo multi-instrumentista Carlinhos Antunes e pela assistente social Cléo Miranda. O projeto artístico social oferece oficinas de música em instituições culturais, com o objetivo de agregar os refugiados na criação de laços afetivos por meio da música, integrar culturas e acolher pessoas por meio da arte.

reticências A orquestra tem essa função de minimizar os traumas deixados lá nos seus países, que são muito grandes e, por outro lado, criar uma nova vida, uma nova identidade aqui, à qual você incorpora aquela mas tenta de certa fórma superar.

ANTUNES, Carlinhos. [Entrevista cedida a] Orquestra Mundana Refugi: Uma conversa além da música, S.O.M., [Sulpontolesteponto], 1o outubro. 2020. Disponível em: https://oeds.link/YjlrNh. Acesso em: 12 junho 2022.

Fotografia. Interior de uma sala com luz baixa onde um grande grupo musical, composto de homens e mulheres de diferentes idades, se apresenta no palco. Alguns deles usam máscara de proteção facial.
Orquestra Mundana Refugi em apresentação da cidade de São Paulo. São Paulo, 2021.

8. Assim como no projeto da Orquestra Mundana Refugi, a música pode modificar a vida das pessoas. Em grupos, façam uma pesquisa de casos em que a música foi fundamental para a vida de alguém: ao aprender a tocar um instrumento, ao cantar, ao se unir a algum grupo musical ou mesmo ao ouvir uma canção que inspirou mudanças. Compartilhem os resultados com a turma.

Instrumentos musicais de resistência
Fotografia em preto e branco 1. Quatro homens negros que usam roupa semelhante composta por camisa branca, suspensórios, boina clara e calça escura posam para foto com instrumentos e sorridentes.
Fotografia 2. Tábua que apresenta contorno em madeira e interior com rebarbas em relevo e sobrepostas. Nas laterais, há um prato e um chocalho metálicos pendurados.
(1) The Washboard Rhythm Kings foi um grupo de músicos de jazz dos Estados Unidos na década de 1930. A tábua de lavar era um dos instrumentos tocados pela banda. (2) Tábua de lavar com prato e chocalho.

Por trás de um simples objeto de uso cotidiano, pode existir uma história de resistência. As washboards, ou tábuas de lavar, foram símbolos de resistência no fim do século dezenove nos Estados Unidos, ao serem utilizadas como instrumento musical de percussão por pessoas escravizadas. Os tambores, tradicionais instrumentos usados na cultura africana, foram proibidos de serem tocados na época, por se acreditar que estimulariam revoltas.

Apesar da pouca popularidade, muitos músicos e instrumentistas ainda se dedicam a investigar os sons produzidos pela tábua, combinando com outros instrumentos de percussão para criar variações sonoras.

Fotografia em preto e branco. Retrato de um senhor grisalho de nariz largo e lábios grossos. Ele veste um paletó escuro e está sentado e sorridente. Ao fundo, estão outras pessoas desfocadas.
O sambista João da Baiana (1887-1974) também passou por problemas com a lei ao portar seu pandeiro nas ruas do Rio de Janeiro, 1970.
Fotografia. Pandeiro com pele de couro, platinelas metálicas e contorno de madeira.

As expressões culturais de origem africana, como a capoeira, o samba e as festividades, foram associadas à vadiagem, gerando criminalização de músicos e sambistas que fossem notados com um pandeiro, por exemplo. O instrumento, típico do samba, já foi considerado proibido. O suposto crime de “vadiagem” era prescrito por lei, sendo consideradas “vadiagem” situações em que as pessoas eram vistas como ociosas ou sem ocupação de trabalho.

Ícone de atividade em dupla.

9. Em dupla, pesquisem um instrumento musical de origem africana ou afro-brasileira. Façam um mapa mental com ilustrações e informações sobre suas principais características, como a família a que pertencem (cordas, madeiras, metais, percussão), como ele é tocado, origens etcétera. Para a criação podem ser utilizadas ferramentas digitais.

eu APRENDI

  1. Os painéis Guernica (1937) e Guerra e paz (1952-1956) possuem semelhanças, como:
    1. a representação da luta pelo fim dos conflitos por invasão de territórios.
    2. a representação de figuras geometrizadas com forte carga dramática.
    3. uma mensagem de paz e tranquilidade vista na paleta de cores.
    4. uma mensagem de luta pelos direitos humanos da população europeia.
  2. O regime civil-militar no Brasil durou de 1964 a 1985. Analise as alternativas que correspondem às manifestações artísticas surgidas nesse período.
    1. A música teve grande destaque com o movimento tropicalista.
    2. Cildo Meireles criou obras com mensagens ativistas que circulavam entre as pessoas.
    3. Diversas canções no período da ditadura foram censuradas.
    4. As histórias em quadrinhos tinham a função de desviar o leitor das questões políticas da época.
    1. Somente um está correta.
    2. Somente um, dois e três estão corretas.
    3. Somente um, dois e quatro estão corretas.
    4. Somente três e quatro estão corretas.
  3. A Declaração Universal dos Direitos Humanos prevê o direito à participação da vida cultural da comunidade. Qual dessas alternativas corresponde a esse artigo descrito no documento?
    1. O direito de usufruir dos benefícios da liberdade cultural e do progresso científico.
    2. O direito a trabalhar em condições justas para poder usufruir a cultura de sua comunidade.
    3. O direito ao repouso e ao lazer usufruindo os espaços privados da comunidade.
    4. O direito à liberdade de escolha sobre quais bens culturais devem ser compartilhados.

4. Analise a fala do artista indígena Denilson Baniwa:

Primeiro, a gente precisa sair desse tabu de que a arte indígena é só apreciativa e só artesanato. Porque quando se fala de arte indígena, ela é artesanato, ela serve para você decorar a sua casa, decorar sua sala, o seu consultório. reticências A gente precisa reticências entender que a arte indígena é arte como outra qualquer, nesse sentido de arte mesmo. Que ela é criativa, que ela é construída, que ela tem um discurso e que ela tem uma função de educar e fazer pensar, primeiro.

BANIWA, Denilson. [Entrevista cedida a] Upurandú . Upurandú : entrevista com Denilson Baniwa. Usina, Rio de Janeiro, 30 junho 2017. Disponível em: https://oeds.link/5PSlg4. Acesso em: 12 junho 2022.

Assim como Denilson, quais discursos são evidenciados nas produções de artistas indígenas na arte contemporânea?
  1. Cite exemplos de manifestações artístico-culturais que emergem das regiões periféricas do Brasil.
  2. Em Mobral, a artista Maria Auxiliadora apresenta uma cena dentro de uma sala de aula. A Lei número 10 639 visa à obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas públicas e privadas do país.
Ilustração. Vista lateral e aérea de uma sala de aula na qual há, à esquerda, crianças estão sentadas em carteiras e, à direita, uma professora loira de vestido azul diante de uma lousa, sobre a qual há uma bandeira do Brasil e vista parcial de uma bandeira do estado de São Paulo, ambas com as hastes cruzadas. Ao lado da mesa que fica à frente da sala, há um homem em pé vestindo terno azul e gravata vermelha. Ao fundo da sala, há um quadro com pintura colorida.
Mobral, Maria Auxiliadora da Silva, 1971. Acrílica e relevo sobre tela, 60 centímetros por 120 centímetros. Coleção Particular.

Em seu caderno, produza um texto explicando a importância de esses temas serem abordados para uma sala de aula diversa como a representada na pintura ou na sua realidade.

vamos COMPARTILHAR

Ação artivista

No decorrer desta unidade, conhecemos e analisamos propostas de artistas e outras manifestações artísticas marcadas pelo engajamento em causas de urgência para mudanças na sociedade, bem como refletimos sobre elas. Por meio de discussões, pesquisas, atividades práticas e técnicas, colocamos em prática todo esse conhecimento e expressividade, individual ou coletivamente.

Artivismo é o termo usado para classificar ações políticas e sociais de artistas e coletivos engajados em causas que reivindiquem mudanças na sociedade por meio da arte e do ativismo.

Nessa etapa, a proposta é que a turma organize uma exposição que promova o compartilhamento de ideias comprometidas com a diversidade e a resistência.

Como fazer

Etapa 1 – Definição das propostas

1. O professor organizará a turma por afinidades temáticas, de acordo com as opções estudadas na unidade, como os direitos humanos, a diversidade cultural e étnico-racial, o protagonismo de pessoas menorizadas socialmente, entre outras.

Ilustração. Três pessoas com características físicas diferentes caminham. Duas que estão nas extremidades seguram uma bandeira com a inscrição PROTEÇÃO ÀS COMUNIDADES INDÍGENAS e uma delas, ao centro, fala ao megafone.

Continua

Continuação

  1. Após a definição do tema, o grupo vai decidir a melhor expressão artística para suas produções: desenho, pintura, estêncil, colagem, quadrinhos, escultura, vídeo ou fotografia, que foram apresentadas nesta unidade.
  2. Pensem como as ideias serão traduzidas. Podem ser criados retratos de personalidades indígenas ou negras; estêncil com desenhos que remetam aos direitos humanos; fotografias de mulheres artistas; letras de músicas que expressem resistência etcétera.As possibilidades são inúmeras, mas cabe ao grupo escolher o melhor suporte: cartaz, folheto informativo, faixa ou digitalizar a arte para ser compartilhada nas redes sociais.
  3. Planejem como a ação vai acontecer. Se os cartazes e faixas serão fixados na escola ou em outro local de maior circulação de pessoas, se os informativos serão distribuídos para familiares e amigos ou em quais redes sociais e sites as produções serão veiculadas.

Etapa 2 – Criação e produção

Decidam, com o professor, quais serão os momentos para que os grupos iniciem suas produções. Os materiais necessários serão de responsabilidade de cada grupo ou de acordo com a disponibilidade deles na escola.

Etapa 3 – Divulgação

Peçam auxílio ao professor para que os grupos se organizem, divulguem e compartilhem as produções.
Ilustração. Três pessoas com diferentes características físicas caminham segurando placas com diferentes inscrições. Na primeira delas está escrito: DIREITOS HUMANOS JÁ!. Na segunda, levantada por uma mulher cadeirante, há a inscrição: PELOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA! A terceira placa diz: VIVA A DIVERSIDADE.

Glossário

patrimônio material e imaterial
: patrimônio cultural material refere-se aos bens de natureza material, como objetos, acervos, documentos etcétera. Já o imaterial é formado pelo conjunto de saberes, ofícios, modos de fazer, celebrações, fórmas de expressão e tradições transmitidas e recriadas de geração a geração e protegidas pelo Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional.
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estereotipado
: que apresenta uma visão generalizada e superficial sobre algo.
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regime
: nesse contexto, regime refere-se ao modo como o ou os poder ou poderes político ou políticos Sudeste organiza ou organizam.
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censura
: proibição e tentativa de impedir a circulação de informações, de opiniões e de expressões artísticas.
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Panis Et Circenses
: expressão em latim que faz referência à política do pão e circo, durante o Império Romano. Comida e entretenimento distraíam a população das questões políticas da época.
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censo
: estudo para levantamento de dados populacionais, econômicos, sociais etcétera.
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periferia
: região afastada dos centros urbanos onde vivem populações de baixa renda marcadas pela exclusão social.
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