CAPÍTULO 18 População da Região Nordeste

A população do Nordeste se formou com a miscigenação entre indígenas, negros africanos e brancos europeus. Essa mistura de diferentes grupos humanos é o que explica atualmente a heterogeneidade da população nordestina, principalmente em sua rica cultura.

A distribuição da população nordestina pêlo território da região é irregular, fato que pode ser observado no mapa, sobretudo ao compararmos o litoral com as áreas do interior.

Distribuição da população nordestina (2019)

Mapa. Distribuição da população nordestina (2019). Habitantes (por quilômetros quadrados). Menos de 1: área sul do Maranhão e Piauí. 1,1 a 10: centro-sul do Maranhão e do Piauí e porção oeste da Bahia. 10,1 a 25: áreas dispersas no oeste e sul do Maranhão, leste e sul do Piauí, sul e norte do Ceará, centro do Rio Grande do Norte, oeste do Pernambuco e centro e oeste da Bahia. 25,1 a 100: norte do Maranhão e do Piauí, norte e leste do Ceará, norte e sul do Rio Grande do Norte, quase a totalidade da Paraíba, leste do Pernambuco, quase todo o Alagoas e o Sergipe, e leste da Bahia. Acima de 100: áreas dispersas no norte do Maranhão, norte do Ceará, áreas litorânea do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. No canto inferior direito, mapa de localização destacando a região descrita, a rosa dos ventos e a escala: 350 quilômetros por centímetro.

Fonte de pesquisa: FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 5. edição São Paulo: Moderna, 2019. página 127.

Note que na faixa que compreende a Zona da Mata, assim como o Agreste, é onde está concentrada a maior parte da população. Já as áreas do interior, localizadas nas sub-regiões do Sertão e no Meio-Norte, são menos povoadas.

As características naturais e socioeconômicas estão entre os aspectos que influenciam na irregular distribuição da população pêlo território. No litoral, estão os maiores centros urbanos e industriais, onde as oportunidades de emprêgo e acesso a serviços de saúde e lazer, entre outros, atraem a população. Todos os anos, várias pessoas de outras partes do Nordeste, e também de outras regiões do país, têm se dirigido a essa área da região.

Fotografia. Vista de cima. Galpões e estruturas cilíndricas de ferro. Ao fundo, floresta.
Vista de área industrial no município de Mossoró, Rio Grande do Norte, em 2019.

Migração nordestina

Além das mudanças ocasionadas na paisagem, a sêca provoca consequências diretas sôbre a vida da população que vive no Sertão. Durante o período mais prolongado de sêca, a falta de água prejudica os agricultores, principalmente os pequenos proprietários rurais, que, muitas vezes, perdem seus rebanhos e suas lavouras, inclusive aquelas produzidas para o próprio consumo. Sem condições de sobreviver por meio do trabalho com a terra, muitas famílias abandonam o campo e migram para outras áreas, fugindo da sêca.

Entre as décadas de 1950 e 1980, os migrantes nordestinos dirigiram-se principalmente para as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro em busca de trabalho nas fábricas, na construção civil, entre outros postos de trabalho. Outras correntes migratórias também ocorreram nessa mesma época em direção a Brasília, durante e após a construção da nova capital federal, e para a Amazônia, nas novas áreas de fronteira agrícola.

Mais recentemente, grande parte dos trabalhadores que deixam o Sertão tem migrado para as grandes cidades da Região Nordeste, como Salvador, Recife e Fortaleza, que estão passando por um período de crescimento econômico, como veremos mais adiante. Contudo, essa migração tem causado sérios problemas, como o inchaço populacional dessas cidades.

Desde os anos 2000, o Nordeste tem presenciado um movimento de retôrno de migrantes nordestinos tanto para áreas do litoral da região quanto para áreas do interior, em direção a cidades importantes, como Campina Grande e Caruaru.

Fotografia em preto e branco. Três pessoas caminhando em linha. Eles carregam fardos sobre as cabeças e ombros. Ao redor há arbustos secos.
Retirantes nordestinos deixando sua terra natal por causa da sêca, no Ceará, em 1958.

O tema é reticências

Diversidade Cultural e Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras

Manifestações culturais no Nordeste

As manifestações culturais fazem parte da identidade cultural de um povo ou de uma região, pois expressam as tradições, entre elas as festas, os alimentos típicos e o artesanato. Essas manifestações também contam um pouco da trajetória da população, do lugar em que vivem, de seu cotidiano e dos valores que cultivam.

Conheça características de algumas das expressões culturais da Região Nordeste.

A riqueza do artesanato nordestino encanta os turistas e o faz conhecido e admirado em todo o Brasil.

Grande parte do artesanato regional é produzida com matérias-primas da fauna e da flora local, como a areia colorida, o barro, o couro, a madeira, a casca do coco e a palha da juta. São exemplos dêsses trabalhos as famosas garrafinhas de areia, as esculturas, os cestos de palha e as peças de renda.

Fotografia. Uma garrafa de vidro com areia colorida compondo a figura de uma casa, árvores e céu azul.
Garrafinha de areia.

O Carnaval é considerado a maior manifestação da cultura popular brasileira. Essa festa mistura elementos das culturas africana, indígena e europeia.

No Nordeste, êle é comemorado de diversas maneiras, todas elas com características muito próprias. Na Bahia, por exemplo, a festa acontece com muita dança embalada pelos tambores e outros instrumentos que dão ritmo ao axé-music.

Ilustração. Homem de camisa e colete tocando um tambor. Ele sorri e segura duas baquetas com as mãos.

A Festa de São João foi trazida ao Nordeste pelos jesuítas europeus e tornou-se popular na região. Com o tempo, a tradição de festas juninas se espalhou pêlo Brasil. No entanto, sua manifestação mais expressiva ainda é no Nordeste.

As festas realizadas em Caruaru, em Pernambuco e em Campina Grande, Paraíba, atraem milhares de pessoas todos os anos. A festa reúne quadrilha, fogueira, shows, comidas típicas, entre outros elementos juninos tradicionais.

Ilustração. Um homem e uma mulher de braços dados sorrindo. Ela usa vestido florido e ele usa chapéu, camisa xadrez e calça jeans. Acima deles há bandeirinha coloridas e um balão.

A culinária nordestina é bem conhecida em todo o Brasil. Ela mistura características da culinária típica dos indígenas, dos africanos e dos colonizadores europeus.

São exemplos: acarajé, caruru, vatapá, tapioca, moqueca, carne de sol, cuscuz, mungunzá, queijo de coalho e rapadura.

Fotografia. Panela com alimento e camarões.
Caruru.

Os habitantes da Zona da Mata, em Pernambuco, comemoram o Carnaval com o Maracatu rural, uma manifestação marcada por cantos acompanhados pêlo ritmo de instrumentos como bombo, clarinete e trompete.

Algumas personagens dessa manifestação cultural se apresentam com roupas e cabelos coloridos, além de usar uma lança enfeitada com fitas.

Ilustração. Homem com peruca colorida usando uma espécie de poncho roxo com detalhes coloridos e segurando uma mastro também com fitas coloridas.

Em Recife, a festa é embalada pêlo ritmo do frevo, uma dança individual, de ritmo rápido, em que o dançarino utiliza uma sombrinha colorida.

Ilustração. Homem de camisa azul, calça laranja dançando entre serpentinas. Ele segura um guarda-chuva colorido.

Em Olinda, a festa é realizada com o acompanhamento dos típicos bonecos gigantes.

Muitas vezes, bonecos representam grandes artistas ou personalidades nacionais e internacionais.

Ilustração. Boneco gigante de homem de cabelos grisalhos, usando cartola vermelha com flores, gravata borboleta azul, camisa verde, colete amarelo, paletó vermelho e calça azul. Há serpentinas próximo a ele.

Converse com os colegas sôbre as questões a seguir.

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1. Você já conhecia ou havia participado de alguma dessas manifestações culturais? Conhece outra expressão cultural característica da Região Nordeste? Compartilhe essas informações com os colegas.

Ícone 'Em grupo'.

2. Quais são as manifestações culturais do lugar onde você vive? Dividam-se em grupos e pesquisem sôbre algumas delas. Depois, organizem essas informações para apresentá-las à turma. Durante a apresentação, procurem explicitar o que cada manifestação revela sôbre a identidade cultural da sua região.

Seca: uma questão apenas climática?

Nas épocas em que a sêca atinge o Sertão nordestino, acompanhamos algumas ações desenvolvidas pêlo govêrno, como programas assistenciais, abertura de frentes de trabalho para a construção de açudes ou estradas e a distribuição de água em caminhões-pipa, como mostra a foto.

Fotografia. Área com solo arenoso com um caminhão-pipa ao lado de uma cisterna. Ao redor há casas e uma cerca feita com galhos.
Distribuição de água de um caminhão-pipa em domicílio do município de Floresta, Pernambuco, em 2016.

De certo modo, essas ações contribuem para amenizar os danos causados pêla sêca à população, mas não resolvem o problema, porque são apenas medidas paliativasglossário para conter os efeitos imediatos dêsse fenômeno natural. Entretanto, sempre que ocorre uma nova sêca, essas ações são colocadas em prática, porque, na falta de alternativas, a escassez de água continuará atingindo diretamente a população que vive no Sertão.

Outro problema é que muitas medidas de combate às sêcas beneficiam apenas uma parte da população local, formada por lideranças políticas e grandes fazendeiros, que tiram proveito da situação. Muitos dos representantes públicos, eleitos para desenvolver projetos relacionados às sêcas, distribuem as respectivas verbas de acôrdo com os seus interêssis. êles favorecem preferencialmente pequena parte de seus eleitores, que conseguem acesso facilitado à distribuição de água.

Além disso, muitas vezes, as verbas são desviadas para a construção de açudes ou para a perfuração de poços nas propriedades dos próprios políticos ou de fazendeiros, que ampliam ainda mais o contrôle sôbre o acesso à água. Essa manipulação política em relação às verbas de combate à sêca ficou conhecida como “indústria da sêca”.

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Questão 1.

Será que ações como as citadas nas páginas anteriores são suficientes para acabar definitivamente com o problema que a sêca gera à população? Converse sôbre isso com os colegas e o professor.

Cisternas no combate às secas

No Sertão, uma das atitudes adotadas por moradores para lidar com os efeitos da seca é a construção de cisternas, um tipo de reservatório usado para captar e armazenar água da chuva, que auxilia os moradores durante os longos períodos de estiagem. Essa alternativa depende principalmente de recursos oferecidos por órgãos públicos e privados.

Infelizmente, recursos não chegam a locais onde não há o devido apôio de prefeituras, órgãos estaduais ou mesmo de ônguis e onde os moradores do Sertão nordestino não têm condições financeiras para construir uma cisterna.

Outras ações, como a perfuração de poços e o cuidado com os açudesglossário , também fazem parte de iniciativas de muitos nordestinos.

Fotografia. Uma cisterna ao lado de uma casa de tijolos laranjas. Elas estão em uma área de solo arenoso e seco. Ao fundo, cerca de galhos. No céu há nuvens.
Moradia com cisterna no Sertão nordestino, em 2018.
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Questão 2.

Embora seja mais evidente no Sertão nordestino, a escassez de água é um problema que pode atingir outras regiões do Brasil. Portanto, pensar em fórmas de economizar água é uma atitude prudente para todos nós, independentemente da região em que moramos. Pensando nisso, reúnam-se em duplas e conversem sôbre esse assunto. Em seguida, escrevam um texto apresentando atitudes que vocês consideram importantes serem adotadas a fim de economizar água.

A transposição do rio São Francisco

Entre as ações promovidas pêlo govêrno federal para combater os efeitos da sêca está o projeto que prevê a transposição das águas do rio São Francisco. êle consiste em bombear parte das águas do rio até as áreas do interior do Sertão nordestino. Leia o texto, veja o mapa e conheça um pouco mais sôbre a transposição das águas do rio São Francisco.

O Projeto de Integração do Rio São Francisco levará água para 12 milhões de pessoas nos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. Serão contemplados 390 municípios.

O empreendimento hídrico é composto por dois eixos de transferência de água: Norte, com 260 quilômetros de extensão; e Léste, com 217 quilômetros. As estruturas captam a água do Rio São Francisco, no interior de Pernambuco, para abastecer adutoras e ramais que vão perenizar rios e açudes existentes na região.

Ao longo dos dois eixos – Norte e Léste –, 294 comunidades rurais também serão beneficiadas. Com apôio financeiro da União, os governos estaduais vão construir sistemas de distribuição de água para contemplar os 78 mil habitantes nessas localidades.

reticências

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Regional. Mudança em sua vida. Disponível em: https://oeds.link/dl1X1M. Acesso em: 1º agosto 2022.

Projeto de integração do rio São Francisco (2018)

Mapa. Projeto de integração do rio São Francisco (2018). 
Área de influência direta da obra: área no centro abrangendo o Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Bahia. 
Área de influência indireta da obra: área maior abrangendo toda a região entre os estados citados. 
Barragens do rio São Francisco: presentes na Bahia e divisa entre Sergipe e Alagoas. 
Eixos de transposição: área entre Paraíba, Pernambuco, Ceará, Bahia, Paraíba e Rio Grande do Norte. No canto superior direito, inscrição com o título e no canto inferior, a rosa dos ventos e a escala: 90 quilômetros por centímetro.

Fontes de pesquisa: BRASIL. Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba. Mapa da infraestrutura Hídrica do PISF. Disponível em: https://oeds.link/Nh56i3. Acesso em: 25 abril 2022.

Alguns criticam a transposição do rio São Francisco alegando que entre os problemas decorrentes do projeto estão a erosão de vários trechos do rio e a diminuição da quantidade de água utilizada para geração de energia nas hidrelétricas.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

Organizando os conhecimentos

  1. De acôrdo com o que você estudou, explique como está distribuída a população pêlo território da Região Nordeste.
  2. Quais são as influências na vida dos nordestinos que vivem sob os efeitos da sêca?
  3. Copie, no caderno, a alternativa que identifica as cidades brasileiras que mais receberam nordestinos entre as décadas de 1950 e 1980.
    1. Brasília e Pôrto Alegre.
    2. Manaus e Goiânia.
    3. São Paulo e Rio de Janeiro.
    4. Curitiba e Florianópolis.
  4. Cite algumas ações desenvolvidas pêlo govêrno para amenizar os danos causados pêla sêca à população nordestina.

Aprofundando os conhecimentos

5. Leia as informações a seguir, que apresentam pontos de vista diferentes em relação ao projeto de transposição do rio São Francisco.

CONTRA

A FAVOR

Altos custos realizados na construção e também no funcionamento do projeto.

Os custos são compensados pelos benefícios sociais e econômicos.

A maior parte da água teria como destino a irrigação de lavouras, e não o abastecimento da população urbana.

Os estados se comprometeriam a promover o tratamento e a distribuição de água para as cidades.

Promover o melhor aproveitamento das águas já disponíveis nos açudes.

Os açudes, devido à grande perda de água provocada pela evaporação, podem secar durante as estiagens mais prolongadas.

Ampliar a perfuração de poços para captar as águas subterrâneas, inclusive nos aquíferos mais profundos.

Grande parte das águas subterrâneas da região possui alta salinidade, tornando-as inapropriadas para o consumo humano.

Investir na construção de cisternas.

As águas das cisternas podem não garantir o abastecimento permanente de água.

           Após a leitura, debata o assunto com os colegas de sala. Para isso, dividam-se em dois grupos: o primeiro defenderá as ideias favoráveis à transposição do rio São Francisco, e o segundo defenderá as ideias contrárias ao projeto. Em seguida, produzam um texto coletivo apresentando as conclusões a que vocês chegaram.

Glossário

Paliativa
: atitudes e medidas que servem para minimizar, temporariamente, os efeitos ou danos causados por fenômenos naturais, por exemplo.
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Açude
: represamento da água, formando um lago.
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