CAPÍTULO 21 A população da Região Sudeste

Até meados do século dezessete, a população dos estados que hoje compõem a Região Sudeste era formada, em sua maioria, por povos indígenas. A presença da população não indígena se restringia à estreita faixa litorânea, delimitada pêla serra do Mar.

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A ocupação do interior dessa região foi impulsionada pêlo desenvolvimento da mineração e da cafeicultura, atividades econômicas que atraíram um grande número de pessoas de outras regiões brasileiras e também de outros países.

A mineração e o povoamento do interior

A exploração do ouro no estado de Minas Gerais, ao final do século dezessete e início do século dezoito, propiciou a formação de diversas vilas, que, com o passar do tempo, se tornaram núcleos urbanos devido ao intenso aumento da população.

Atualmente, algumas cidades formadas pêlo desenvolvimento da mineração em Minas Gerais são conhecidas como cidades históricas, entre elas a antiga Vila Rica, atual cidade de Ouro Preto. O aumento da quantidade de vilas, assim como o crescimento populacional de cada uma delas, efetivou a ocupação dessa região em meados do século dezoito. Tanto que, em 1763, a capital do Brasil foi transferida de Salvador para a cidade do Rio de Janeiro, com o objetivo de ficar mais próxima do centro econômico e populacional do país.

Pintura. Curso de um rio com canal suspenso despejando água em uma roda que está ligada a uma estrutura semelhante a uma corrente, que se liga a um poço na parte inferior. Ao redor há homens trabalhando. Alguns deles carregam fardos. Ao fundo, casas e à direita, uma estrutura com telhado.
Mineração de diamantes com trabalho de pessoas escravizadas, em Diamantina, Minas Gerais, no século dezoito. Anônimo (escola portuguesa). Modo de minerar e retirar diamantes. Desenho aquarelado, 17,5 centímetros x 22 centímetros. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa, Portugal.

A cafeicultura e a população

A partir da segunda metade do século dezoito, a atividade mineradora desenvolvida na Região Sudeste começou a declinar, abrindo espaço para a agricultura, sobretudo o cultivo de café. No final do século dezenove e início do século vinte, a cafeicultura já se tornava a principal atividade econômica do país, sendo a Região Sudeste a maior produtora.

A partir do início do século vinte, a cafeicultura, associada à entrada de imigrantes no território brasileiro e às elevadas taxas de natalidade, proporcionou um intenso crescimento da população na Região Sudeste.

A cafeicultura atraiu trabalhadores vindos de diversas regiões brasileiras, além de uma grande quantidade de imigrantes, principalmente italianos, espanhóis e portugueses.

A maior parte dêsses estrangeiros se dirigiu para a porção oeste da Região Sudeste, onde a cafeicultura em expansão empregava a mão de obra dos colonos, como eram chamados imigrantes. Observe o gráfico.

Evolução do crescimento populacional da Região Sudeste (1872-2021)

Gráfico. Evolução do crescimento populacional da Região Sudeste (1872-2021). População (em milhões de habitantes). 1872: 4. 1890: 6. 1900: 8. 1920: 14. 1940: 18. 1950: 22. 1960: 30. 1970: 40. 1980: 52. 1991: 63. 2000: 72. 2010: 80. 2021: 90.

Fonte de pesquisa: í bê gê É. Disponível em: https://oeds.link/blzRWZ. Acesso em: 27 abril 2022.

Questão 1.

De acôrdo com o gráfico, a partir de qual ano o crescimento populacional da Região Sudeste passou a ser mais acelerado?

O cultivo do café teve início na região do vale do rio Paraíba, entre o norte do estado de São Paulo e o sul do estado do Rio de Janeiro, que se consolidou como uma das principais regiões produtoras de café do século dezenove. O avanço dos cafezais pelo interior da região contribuiu para a devastação de grande parte da vegetação nativa, em especial, da exuberante Mata Atlântica.

Fotografia em preto e branco. Homens e mulheres em meio a uma plantação de café. As mulheres recolhem os grãos e depositam em peneiras que os homens seguram.
Trabalho em uma lavoura de café no estado de São Paulo, em 1920.

As cidades e os problemas urbanos no Sudeste

A Região Sudeste é a mais urbanizada e também a mais populosa do Brasil, com aproximadamente 89,6 milhões de habitantes, que representam cêrca de 42% da população brasileira.

Conforme estudaremos mais adiante, o processo de industrialização brasileira iniciado na Região Sudeste causou um intenso crescimento da população urbana nessa região. Atualmente, de cada 100 pessoas que vivem na Região Sudeste, 93 estão na área urbana e 7, na área rural.

Tanto na Região Sudeste quanto em outras regiões brasileiras, o rápido crescimento das áreas urbanas sem o adequado planejamento acarretou intensa transformação das paisagens naturais. Como é possível observar nas fotos das próximas páginas, isso gerou uma série de impactos ambientais. Vamos conhecer alguns deles.

Fotografia. Vista do alto. Uma cidade repleta de casas e edifícios. Entre elas há vias com algumas árvores.
Vista parcial da cidade de Campinas, São Paulo, uma das metrópoles dessa região, em 2021.

A poluição do ar

Os grandes centros urbanos e industriais estão cada vez mais sujeitos aos efeitos nocivos de diversos tipos de poluição. A emissão excessiva de fuligens e gases tóxicos, provenientes das chaminés de fábricas e dos escapamentos de veículos automotores, aumenta a concentração de poluentes na atmosfera, comprometendo a qualidade do ar.

Parte dos rios e córregos que atravessam as cidades também é poluída por esgotos domésticos e industriais, lançados diretamente nos cursos de água, sem receber nenhum tratamento.

Fotografia. No primeiro plano, casas e prédios. Ao fundo, torres e estruturas de metal entre fumaça.
Indústria siderúrgica localizada na cidade de Volta Redonda, Rio de Janeiro, em 2020.
Fotografia. Curso de um córrego passando por uma área de terra entre casas simples. Há algumas árvores entre elas.
Córrego em trecho urbano na cidade de Pancas, Espírito Santo, em 2019.

Os resíduos sólidos

Outro problema que gera impactos ambientais é o descarte inadequado de resíduos sólidos (lixo), principalmente nas cidades que não dispõem de um sistema de coleta regular. dêsse modo, eles são jogados em lugares impróprios, acumulando-se em terrenos baldiosglossário e às margens de rios e córregos. Além de facilitar a proliferação de doenças, resíduos podem provocar o entupimento dos bueiros e galerias pluviais, dificultando o escoamento das águas dos rios e córregos, o que contribui para a ocorrência de enchentes e alagamentos.

Fotografia. Calçada com lixo espalhado com pombos ciscando entre ele. Há garrafas, papéis, caixas entre outras coisas.
Acúmulo de lixo nas margens de uma rodovia da cidade de São Paulo, ésse pê, em 2019.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

[Locutor] 

Transformando realidade: mudando vidas 

[LOCUTOR E LOCUTORA] 

[tom de voz animado] 

Olá, ouvintes! 

[Locutora] 

[tom de voz explicativo] 

O nosso podcast vai falar sobre como resolver problemas. Calma! Não vamos trazer soluções mágicas ou dicas para lidar com situações complicadas. Na verdade, o assunto tem a ver com maneiras encontradas pelas pessoas para enfrentar as difíceis condições de vida que afetam milhões de pessoas em nosso país. 

[Locutor] 

[tom de voz explicativo] 

Pois é, Juliana. Para muita gente, a vida cotidiana não é fácil mesmo. E não é apenas por problemas pessoais, familiares ou condições de saúde, por exemplo. Estamos falando sobre as consequências das condições sociais e econômicas da população. Até porque, de uma certa forma, essas condições interferem também em nosso bem-estar. 

[Locutora] 

[tom de voz explicativo] 

Então, Pedro, muitos brasileiros sentem diariamente os efeitos de uma situação socioeconômica desfavorável. As fontes de renda, ou seja, de dinheiro que uma pessoa ou família consegue para se sustentar, dão uma ideia do que acontece. Para você ter uma ideia, no final de 2021, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, indicou que 12 milhões de pessoas, que representam mais de 10% da população que pode trabalhar, estavam sem emprego. Mas nem sempre ter trabalho é suficiente para uma vida mais digna, não é verdade?

[Locutor] 

[tom de voz explicativo e preocupado] 

É, infelizmente, Juliana. O Brasil pode ser considerado um país muito desigual. Isso acontece porque a maior parte das riquezas fica concentrada em um grupo muito pequeno de pessoas. Para você ter uma ideia, a renda mensal do 1% mais rico do Brasil é quase 35 vezes maior que o rendimento da metade mais pobre da população.

[Locutora] 

[tom de voz preocupado] 

Esses dados que você trouxe, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua em 2020, ajudam muito a entender o porquê de o Brasil ser um dos países com maior desigualdade social do mundo, Pedro. Com tantas pessoas desempregadas ou com renda insuficiente para ter acesso à moradia, educação ou saúde, muita gente está colocando a mão na massa para tentar transformar essa realidade, não é mesmo?

[Locutor] 

[tom de voz explicativo] 

É, sim, Juliana! Em todo o Brasil, as pessoas têm agido de forma individual e, principalmente, de forma organizada, em grupos, com diferentes – e muitos – objetivos: distribuir alimentos e roupas, oferecer cuidados de saúde física e emocional, conceder cursos gratuitos, auxiliar na construção de moradias, encontrar emprego... A maioria dessas ações é realizada de forma voluntária, ou seja, sem um trabalho remunerado. O que une esses voluntários é o propósito de ajudar as outras pessoas. 

[Locutora] 

[tom de voz explicativo] 

Os grupos de pessoas e os objetivos podem ser diferentes, Pedro, mas formam um conjunto de atitudes que impressiona. Sabe quantas organizações reúnem essa gente toda no Brasil? Eu não imaginava! Os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Ipea, que reuniu dados no Mapa das Organizações da Sociedade Civil, listou, no final de 2020, mais de 815 mil instituições privadas e sem fins lucrativos. Elas fazem parte do que chamamos de Terceiro Setor da economia – é bom lembrar que o Primeiro Setor é o de instituições públicas e que o Segundo Setor é o de instituições privadas com fins lucrativos.

[Locutor] 

[tom de voz explicativo] 

Juliana, os projetos dessas instituições, também conhecidas como ONGS, sigla que significa Organização Não Governamental, reúnem tanta gente quanto uma cidade muito grande. O IBGE estimou, em 2019, que mais ou menos 7 milhões de pessoas fizeram alguma ação voluntária. É quase o mesmo tanto que toda a população da cidade do Rio de Janeiro!

[Locutora] 

[tom de voz explicativo] 

E as ações dessas pessoas acontecem de formas muito diferentes, Pedro. Vou contar alguns exemplos de iniciativas voluntárias. Nas cidades existem grupos dedicados à distribuição de comida, produtos de higiene e roupas para moradores em situação de rua. Nas escolas, estudantes de faculdades oferecem aulas de reforço. Em bairros carentes, pessoas ajudam a construir casas provisórias. Os moradores dessas áreas se reúnem para formar pequenos bancos e oferecer empréstimos com condições muito melhores que as dos bancos maiores, o chamado microcrédito. Grupos de pessoas também se reúnem para lutar por melhores condições de vida, pelo meio ambiente e para garantir que todos tenham direitos iguais, conscientizando a população, alertando políticos e chamando mais gente para participar dessas iniciativas.

[Locutor] 

[tom de voz indagativo e tranquilo] 

Realmente, apesar das desigualdades sociais do Brasil, Juliana, tem muita gente disposta a mudar a vida das pessoas para melhor e transformar a realidade. Talvez vocês, ouvintes, até já estejam pensando em participar dessa transformação, não é verdade? Que tal buscar na internet, junto com os seus familiares, algumas iniciativas voluntárias no bairro onde vocês moram? Certamente, além de ajudar muitas pessoas, vocês aprenderão coisas novas realizando os mais diversos tipos de trabalhos voluntários. 

Bom, então é isso, espero que vocês tenham gostado do nosso bate-papo! 

[LOCUTOR E LOCUTORA]  [tom de voz animado] 

Até mais, pessoal! 

[Locutor] 

Todos os áudios inseridos neste conteúdo são da Freesound. 

As moradias e os serviços básicos

O rápido crescimento das cidades não foi acompanhado por políticas públicas efetivas voltadas para serviços urbanos básicos, como ampliação de sistemas de transportes, abastecimento de água e coleta de lixo e esgôto.

Com o passar do tempo, diversos problemas surgiram em várias cidades, como o aumento de bairros periféricos carentes e a formação de favelas. Essas áreas surgem como alternativas de moradia para uma imensa parcela da população que não dispõe de renda suficiente para pagar o alto preço dos aluguéis ou dos imóveis em outras regiões das cidades.

Nessas áreas, de modo geral, as moradias são precárias e não contam com saneamento básico, tampouco rede elétrica, deixando os moradores suscetíveis às más condições vida e a diversos tipos de doenças.

Outro problema relacionado às moradias está ligado à ocorrência de deslizamentos de terras em áreas ocupadas irregularmente, como as encostas de morros. Os deslizamentos dessas encostas são mais comuns no verão, época do ano em que as chuvas são mais intensas e volumosas.

Fotografia. Casas simples amontoadas na encosta de um morro. Ao redor há árvores.
Moradias na encosta do morro, na cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, em 2021.

Parque Sitiê: um exemplo de criatividade

Durante muitos anos, moradores da favela do Vidigal, no Rio de Janeiro, conviveram com uma área de depósito irregular de lixo localizada em meio à comunidade. Nesse lugar, eram depositados restos de materiais de construção, eletrodomésticos descartados, lixo doméstico, entre outros materiais.

Em 2006, dois moradores do Vidigal, utilizando a criatividade, iniciaram um movimento de limpeza e reorganização do espaço ocupado por um lixão. Com a ajuda de outras pessoas da comunidade, êles conseguiram remover os entulhos acumulados no local em um período de seis anos aproximadamente. A partir disso, passaram a cultivar diversos tipos de plantas, transformando êsse espaço em um ambiente saudável e agradável aos moradores locais.

Impulsionados pêla criatividade, os moradores do Vidigal criaram o Parque Sitiê, nome do local onde antes estava localizado o lixão. O parque tem .8500 métros quadrados e é visitado por muitas pessoas do Brasil e do mundo. O espaço continua sendo cuidado por pessoas da comunidade e ainda conta com a ajuda de vários profissionais, como arquitetos e designers.

A criatividade é uma qualidade que nos possibilita inovar, criar e inventar soluções para diferentes situações do dia a dia.

Fotografia. Algumas pessoas caminhando por um jardim com pedras, arbustos formando desenhos, palmeiras e outras árvores e plantas.
Parque Sitiê, na cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, em 2015.

Converse com os colegas sobre as questões a seguir.

Ícone 'Atividade em grupo'.

Com os colegas de sala, identifiquem situações vividas por vocês que foram solucionadas por meio do uso da criatividade.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

Organizando os conhecimentos

  1. De acôrdo com o que você estudou, a ocupação do interior da Região Sudeste foi impulsionada pêlo desenvolvimento de quais atividades econômicas? Copie, no caderno, a alternativa que apresenta a resposta correta.
    1. mineração e exploração do pau-brasil.
    2. cafeicultura e exploração da borracha.
    3. exploração do pau-brasil e da borracha.
    4. mineração e cafeicultura.
  2. Leia a afirmação a seguir.

A Região Sudeste é populosa e urbanizada.

  • Você concorda com essa afirmação? Por quê?

3. Cite, pêlo menos, três exemplos de impactos ambientais causados pêlo rápido crescimento das áreas urbanas da Região Sudeste.

Aprofundando os conhecimentos

4. Leia e interprete o texto. Depois, responda às questões que seguem.

reticências a partir de 1870 o problema da mão de obra se agravou. reticências

     O govêrno se viu na contingência de incentivar a vinda de estrangeiros, a única solução para garantir a produção de seu mais importante produto econômico. Particularmente a província de São Paulo investiu somas imensas para introduzir o trabalho estrangeiro no país. O govêrno brasileiro pagava a passagem para o Brasil, hospedagem e viagem até o local de destino. reticências

MARTINS, Ana Luiza. Império do café: a grande lavoura no Brasil, 1850 a 1890. São Paulo: Atual, 1990. página 1213. (História em Movimento).

  1. Explique o que o texto está retratando.
  2. Cite os principais grupos de imigrantes que vieram para o Brasil para trabalhar nas lavouras de café.
  3. Relacione a Região Sudeste com o desenvolvimento da cafeicultura no Brasil.
  4. Além da imigração, aponte outros fatores que, a partir da década de 1950, contribuíram para o crescimento acelerado da população da Região Sudeste.

Glossário

Terreno baldio
: áreas sem construções, lavouras ou outros tipos de uso.
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