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CAPÍTULO 24 A população da Região Sul

A Região Sul, ao longo dos três séculos da colonização brasileira, esteve ocupada, principalmente, por povos indígenas que viviam em pequenos povoados perto do litoral e em locais do interior. A ocupação da Região Sul por povos não indígenas ganhou fôrça a partir do século dezenove, com a vinda de alguns grupos de imigrantes europeus para o Brasil, incentivados pelos programas de imigração do govêrno brasileiro.

Uma particularidade dêsses imigrantes é que praticavam a policulturaglossário nas pequenas e médias propriedades onde se instalavam, diferentemente do que ocorreu com a colonização das demais regiões brasileiras, em que a maior parte dos imigrantes trabalhava nas grandes propriedades monocultoras.

Entre os principais grupos de imigrantes europeus que se dirigiram para a Região Sul do Brasil estavam, inicialmente, alemães, italianos, poloneses, ucranianos, russos e, posteriormente, japoneses.

Verifique, no mapa, as áreas na Região Sul ocupadas por imigrantes durante o século dezenove. Na página seguinte, conheça algumas características dessa ocupação.

Imigrantes europeus na Região Sul no século XIX

Mapa. Imigrantes europeus na Região Sul no século 19. 
Eslavos: centro e sul do Paraná. 
Alemães: leste do Paraná, leste e oeste de Santa Catarina, centro e nordeste do Rio Grande do Sul. 
Italianos: oeste e leste de Santa Catarina, centro do Rio Grande do Sul. 
Mistos: sudoeste do Paraná, noroeste, sudoeste e leste do Rio Grande do Sul. No canto inferior direito, a rosa dos ventos e a escala: 125 quilômetros por centímetro.

Fonte de pesquisa: MARTINS, Dora; VANALLI, Sônia. Migrantes. Pôrto Alegre: Contexto, 1997. página 78.

A imigração alemã

Os alemães foram os primeiros grupos de imigrantes europeus a se estabelecerem no Brasil. Em 1824, fundaram a primeira colônia alemã, na região de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. Em seguida, novas colônias surgiram, entre elas, a de Novo Hamburgo, também no Rio Grande do Sul, e Joinville, Blumenau e Brusque, em Santa Catarina.

Fotografia em preto e branco. Muitas pessoas reunidas em frente a uma construção de madeira com árvores ao redor.
Na foto, grupo de imigrantes alemães no município de Blumenau, Santa Catarina, em 1880.

A imigração italiana

Os imigrantes italianos também vieram em grande quantidade para o Brasil e estabeleceram colônias que deram origem a cidades do Rio Grande do Sul, como Caxias do Sul, Garibaldi e Bento Gonçalves, e de Santa Catarina, como Urussanga, Lauro míler e Criciúma.

Fotografia. Muitas pessoas reunidas, principalmente crianças. À direita há uma construção. Ao fundo, árvores.
Na foto, imigrantes italianos no município de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, no início do século vinte.

A imigração japonesa

A imigração japonesa foi significativa no norte do Paraná. Em meados do século vinte, essa porção da Região Sul recebeu os primeiros grupos de imigrantes japoneses, vindos, principalmente, das fazendas de café do oeste paulista. Cidades paranaenses, como Assaí e Uraí, surgiram dêsses núcleos de colonização. Em um segundo momento, o Paraná recebeu imigrantes vindos do Japão, que se fixaram, sobretudo, na região conhecida como Norte Novo, nas cidades de Londrina e Maringá.

Fotografia. Um navio ancorado ao lado de trilhos de trem e de uma construção.
Em 1908, o navio trouxe a bordo, depois de 51 dias de viagem, os primeiros imigrantes japoneses para o Brasil.
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Migrando da Região Sul

A dinâmica populacional da Região Sul passou por modificações ao longo do tempo. Entre as décadas de 1970 e 1980, muitos sulistas deixaram a Região Sul do Brasil em busca de melhores condições de vida e de trabalho em outras regiões do país, principalmente no Centro-Oeste. Essas regiões receberam grande quantidade de habitantes, que desenvolveram atividades relacionadas à agricultura e à pecuária. Atualmente, essas atividades tornaram-se muito importantes para a economia dessas regiões.

O Paraguai também foi destino de muitos migrantes que se mudaram, principalmente, da Região Sul na década de 1970. Naquele período, a expansão agrícola e a consequente oferta de terras a preços acessíveis no país vizinho atraíram muitos moradores do Sul do Brasil. migrantes brasileiros ficaram conhecidos como“brasiguaios” e, embora nos últimos anos muitos já tenham retornado ao Brasil, ainda é grande a quantidade de brasileiros vivendo no Paraguai.

Fotografia. Vista aérea. Cidade com galpões, vias, casas e árvores dispostos em quarteirões.
O município de Alta Floresta, localizado no estado do Mato Grosso, recebeu, na década de 1970, muitos migrantes vindos da Região Sul do país. Vista de parte da cidade de Alta Floresta, em 2019.

Migração interna e migração externa

Você sabe o que significa migrações populacionais? Migração corresponde ao movimento ou deslocamento que uma população realiza de um lugar para outro, que pode ser entre países, regiões, estados, municípios etcétera

Quando a migração acontece dentro de um mesmo país, dizemos que ocorreu uma migração interna. Já quando a migração se dá entre diferentes países, é chamada de migração externa. Os motivos pelos quais as pessoas migram são diversos, entre êles trabalho, estudos, guerras, catástrofes naturais, entre outros.

Mudanças no sentido da migração

Até a década de 1980, a quantidade de estrangeiros que entrava no Brasil se mantinha acima da quantidade de brasileiros que deixava o país para viver no exterior. Mas, a partir de então, as sucessivas crises econômicas que atingiram o nosso país mudaram essa situação. Com o agravamento da situação econômica e do desemprêgo, muitos brasileiros deixaram o Brasil em busca de melhores condições de trabalho e de vida, sobretudo nos países mais desenvolvidos.

Atualmente, segundo dados oficiais do Ministério das Relações Exteriores, existem aproximadamente 4,2 milhões de brasileiros vivendo fóra do Brasil. As informações a seguir apresentam os países que registram maiores quantidades de imigrantes brasileiros.

Quantidade de brasileiros vivendo em outros países (2020)

Ilustração. Bandeira dos Estados Unidos da América, composta por faixas vermelhas e brancas e um quadrado azul com estrela no canto superior esquerdo. Há uma linha tracejada e um avião acima dela.
Ilustração. Bandeira de Portugal, composta por um lado verde à esquerda e o outro vermelho à direita, com um brasão entre as cores. Há uma linha tracejada e um avião acima dela. 
Ilustração. Bandeira do Japão branca com um círculo vermelho ao centro. Há uma linha tracejada e um avião acima dela.
Ilustração. Bandeira do Paraguai, composta por três faixas horizontais em vermelho, branco e azul com um brasão ao centro. Há uma linha tracejada e um avião acima dela.
Ilustração. Bandeira da Espanha composta por três faixas horizontais em vermelho, amarelo e vermelho, com um brasão à esquerda. Há uma linha tracejada e um avião acima dela.
Ilustração. Bandeira da Alemanha composta por três faixas horizontais em preto, vermelho e amarelo. Há uma linha tracejada e um avião acima dela.

Fonte de pesquisa: BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Comunidade brasileira no exterior 2020. Disponível em: https://oeds.link/5rCsGK. Acesso em: 2 maio 2022.

A resiliência é a capacidade que temos de nos adaptar a situações adversas. Ao deixar o país de origem para viver em outros lugares do mundo, os migrantes precisam ser resilientes para se adaptarem aos costumes e ao modo de vida completamente diferentes dos que estão acostumados.

Questão 1.

Pesquise entre as pessoas mais velhas que você conheça ou entre seus familiares alguém que já tenha migrado de cidade ou até mesmo de país. Por meio de uma entrevista, procure saber quais foram os motivos que levaram essa pessoa a migrar. Investigue se encontrou dificuldade em se adaptar ao lugar de destino. Com base nas respostas de sua entrevista, produza um texto contando a história de migração da pessoa entrevistada.

Geografia e História

Peabiru: um caminho repleto de história

Conforme estudamos, antes da chegada dos colonizadores às terras que hoje formam o Brasil, nosso território era habitado por vários povos indígenas.

Para se deslocarem entre a vegetação e os rios em busca de caça e coleta de alimentos, por exemplo, os indígenas construíram vários caminhos que interligavam diferentes porções do território.

O caminho do Peabiru, que atravessa o continente americano na sua parte sul, ou seja, do oceano Atlântico até perto do oceano Pacífico, constitui um dêsses caminhos. De acôrdo com pesquisas baseadas em relatos históricos e escavações arqueológicas, êsse caminho consiste em um sistema de trilhas construído por povos indígenas há mais de .1200 anos. Leia o texto a seguir.

reticências Também chamado de Peabiyu, Piabuiu, Caminho de São Tomé ou Sumé, este sistema de trilhas, anterior à chegada dos portugueses, facilitou a conquista e exploração do Sul do país durante o período colonial, e vem despertando grande interêsse turístico e histórico em nossos dias. reticências Com uma largura média de um metro e profundidade de quarenta centímetros, era forrado por vegetação rasteira, impedindo o crescimento de grandes arbustos e evitando o fechamento natural das vias.

     Seu trajeto total é calculado atualmente em cêrca de 3 mil quilômetros, cujas trilhas passavam pelos estados brasileiros de Santa Catarina, São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul e atingiam o centro-norte do Paraguai. reticências

, . Caminhos ancestrais. Nossa História, São Paulo, Vera Cruz, ano 2, número 22, agosto 2005. página 2021.

O mapa mostra o caminho do Peabiru segundo pesquisas históricas.

Mapa mostrando um destaque para a região sul da América do Sul. 
Peabiru: partindo de São Vicente, passando por São Paulo, Pitanga, Guaíra, Porto Casado no Mato Grosso do Sul, Porto Suárez, Potosi na Bolívia até Cuzco no Peru. Há outros trajetos saindo de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No canto superior direito, mapa de localização destacando a região descrita e na parte inferior, a rosa dos ventos e a escala: 408 quilômetros por centímetro.

Fonte de pesquisa: , . Caminhos ancestrais. Nossa História, São Paulo, Vera Cruz, ano 2, número 22, agosto 2005. página 21.

Pesquisadores afirmam que não se sabe ao certo qual foi o real motivo que levou povos a construírem o caminho de Peabiru. Algumas teorias garantem que o caminho foi construído por indígenas guaranis que habitavam essa área do continente. Outras teorias asseguram que os incas, povos indígenas que habitavam a região do Peru, foram os autores da rota, pois por meio dela buscavam expandir seu Império.

Atualmente, poucos trechos do caminho do Peabiru estão preservados; alguns podem ser encontrados em municípios como Campina da Lagoa, Fênix e Pitanga, localizados no estado do Paraná. Na proximidade do caminho, há diversos sítios arqueológicos com remanescentes de habitações utilizadas por indígenas durante as viagens por Peabiru. Grande parte das trilhas que formam êsse caminho já foi destruída pêla expansão da atividade humana, sobretudo da agricultura na Região Sul.

Atualmente, diversos pesquisadores se dedicam a descobrir onde se localizam, quem foram seus autores e, principalmente, os motivos que levaram à construção dos vários caminhos históricos presentes no território brasileiro.

Ícone 'Em grupo'.

Junte-se a dois colegas e pesquisem, em livros e na internet, outro caminho histórico presente no território brasileiro. Durante a busca, investiguem o local do caminho, quem o construiu, qual foi a data de sua construção e, principalmente, para que era utilizado.           Depois da pesquisa, elaborem um cartaz apresentando as informações pesquisadas, incluindo um mapa com a localização dêsse caminho no território brasileiro.

Fotografia. Via de terra entre áreas cobertas por vegetação rasteira. Ao fundo há árvores.
Trecho do caminho do Peabiru localizado no município de Fênix, Paraná, em 2012.

O Sul e seus habitantes

De acôrdo com o í bê gê É, em 2021 a população da Região Sul apresentava mais de 30 milhões de pessoas, o que faz desta a terceira região mais populosa do Brasil, com densidade demográfica de aproximadamente 53 .

Essa região tem uma elevada taxa de urbanização. Conforme apresentado no gráfico, aproximadamente 86% da população vive em áreas urbanas.

As maiores aglomerações urbanas da Região Sul estão localizadas nas proximidades de Pôrto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, e Curitiba, capital do Paraná. Juntas, essas duas cidades somam mais de 3,4 milhões de habitantes, correspondendo a cêrca de 11% da população de toda a região.

População rural e urbana da Região Sul (2015)

Gráfico. População rural e urbana da Região Sul (2015).  Urbana: 86 por cento. Rural: 14 por cento.

Fonte de pesquisa: í bê gê É. Sidra. Disponível em: https://oeds.link/zs7XHp. Acesso em: 19 abril 2022.

Florianópolis, capital de Santa Catarina, tem aproximadamente 516 mil habitantes. No entanto, a maior concentração populacional do estado está na cidade de Joinville, com mais de 604 mil habitantes. Isso se deve ao grande parque industrial da cidade, que atrai maior quantidade de trabalhadores.

Fotografia. Vista aérea. Cidade com prédios e casas. Há algumas árvores entre as vias e construções. Ao fundo, morros.
Paisagem da cidade de Joinville, Santa Catarina, em 2021.

As transformações no campo, como a mecanização das propriedades agropecuárias e a concentração de terras, fizeram, nas últimas décadas, muitas pessoas migrarem da área rural para as cidades em busca de trabalho. êsse fato contribuiu significativamente para a elevada taxa de urbanização da Região Sul.

Fotografia. Uma colheitadeira passando por uma plantação. À esquerda, um caminhão passando por uma via.
Paisagem da propriedade agrícola mecanizada no município de Cambé, Paraná, em 2021.

A qualidade de vida na Região Sul

Confira, nos gráficos, informações que nos revelam aspectos da qualidade de vida da Região Sul.

Expectativa de vida nas regiões brasileiras (2019)

Gráfico. Expectativa de vida nas regiões brasileiras (2019). Expectativa de vida (em anos). Sul: 79. Sudeste: 78. Centro-Oeste: 76. Nordeste: 74. Norte: 73.

Mortalidade infantil nas regiões brasileiras (2019)

Gráfico: Mortalidade infantil nas regiões brasileiras (2019). Norte: 17 por mil. Nordeste: 15 por mil. Centro-Oeste: 13 por mil. Sudeste: 12 por mil. Sul: 10 por mil.

Fontes de pesquisa dos gráficos: í bê gê É. Sidra. Disponível em: https://oeds.link/DIQkFK.

BRASIL. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico. Volume 52, Outubro 2021. Disponível em: https://oeds.link/CtexTE. Acessos em: 12 maio. 2022.

Ícone 'Atividade oral'.

Questão 2.

De acôrdo com os gráficos, na Região Sul, qual é a expectativa de vida do brasileiro ao nascer? Qual é a taxa de mortalidade infantil nessa região?

Ícone 'Atividade oral'.

Questão 3.

Com base nessas informações, o que podemos concluir sôbre a qualidade de vida na Região Sul quando comparada com a das demais regiões do Brasil?

A Região Sul apresenta melhores indicadores de expectativa de vida e de mortalidade infantil que as demais regiões do país. Isso indica que essa região, de modo geral, proporciona uma boa qualidade de vida a seus habitantes.

Contudo, apesar das elevadas taxas que avaliam a qualidade de vida, como as mostradas nos gráficos, a Região Sul, assim como outras regiões brasileiras, também tem problemas socioeconômicos.

O êxodo rural nas últimas décadas refletiu no crescimento desordenado das áreas urbanas, sobretudo das periferias das grandes e médias cidades da região. Nessas áreas, como também em outras regiões do país, muitas populações convivem com problemas relacionados à falta de saneamento básico, educação e saúde.

Fotografia. Casas em palafita sobre um rio com barcos. Ao fundo há árvores.
Área da periferia da cidade de Pôrto Alegre, Rio Grande do Sul, em 2018.
Fotografia. Via com casas nas laterais. Há um muro com entulhos ao lado.
Área da periferia da cidade de Florianópolis, Santa Catarina, em 2020.
Ícone 'Atividade oral'.

Questão 4.

Leia a afirmação a seguir. Depois, comente com os demais colegas da sala se você concorda ou não com ela. Justifique sua resposta com base no que você estudou nas páginas anteriores

A maior parte da população da Região Sul vive em áreas urbanas. Embora essa região ofereça boa qualidade de vida à sua população, ela também tem problemas sociais.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

Organizando os conhecimentos

  1. Em que período se iniciou a ocupação da Região Sul por povos não indígenas? Como ela ocorreu?
  2. Quais são as duas maiores aglomerações urbanas localizadas na Região Sul?
  3. Explique a diferença entre migração interna e migração externa.
  4. O que foi o caminho do Peabiru?

Aprofundando os conhecimentos

5. Observe a foto desta página e o mapa da página 242. De acôrdo com o que você estudou, responda ao que se pede.

Fotografia. Diversas pessoas reunidas em um pátio cercado por casas em estilo enxaimel. Há luzes acesas nas fachadas das casas.
Festa típica alemã realizada na cidade de Blumenau, Santa Catarina, em 2021.
  1. Identifique qual aspecto da colonização ocorrida na Região Sul é retratado na foto.
  2. Aponte os principais povos imigrantes que participaram da colonização da Região Sul.
  3. Cite o nome de três cidades que surgiram de colônias de imigrantes na Região Sul.
  4. Comente de que maneira os imigrantes praticavam a agricultura na Região Sul.

6. Pesquise a situação atual dos brasiguaios. Procure saber sôbre a questão da legalização de suas terras, os conflitos pêla posse de terras e também a migração de retôrno para o Brasil. Depois, produza um texto com as informações coletadas.

Glossário

Policultura
: cultivo de produtos agrícolas diversos.
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