CAPÍTULO 5 Migrações: a população em movimento

Ícone 'Ciências Humanas em foco'.

Ao longo de toda sua história, os seres humanos sempre se deslocaram pêlo espaço terrestre. Nos primórdios de sua existência, deslocamentos ocorriam pêla necessidade da busca de alimentos e abrigos. Foram as migrações que levaram a nossa espécie, chamada Omo sápiens, a se espalhar pêla superfície do planeta.

Atualmente, uma das teorias mais aceitas pelos cientistas sugere que os seres humanos surgiram na África, de onde se dispersaram para os outros continentes. O mapa ilustra o provável processo de dispersão dos seres humanos pêlo planeta.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

[Narrador] 

A importância do fóssil Luzia para a ciência mundial 

[locutor e locutora] 

[tom de voz animado.]  Olá, ouvintes!  

[Locutor] 

[tom de voz explicativo] 

Neste podcast, vamos fazer uma viagem no tempo, pois falaremos sobre os primeiros seres humanos que podem ter vivido no que hoje chamamos de continente americano.  

[Locutora] 

[tom de voz explicativo] 

É um passado bem distante, João, quando nem o Brasil e nem outros países existiam.  

[Locutor] 

[tom de voz explicativo e pensativo] 

Sabe, Maria, eu lembrei de uma visita que fiz, já tem uns anos, a um museu na cidade do Rio de Janeiro, chamado Museu Nacional. Lá, em uma das salas, vi um crânio que me chamou a atenção. Era de uma pessoa que viveu há milhares de anos no que hoje é o Brasil.  

[Locutora] 

[tom de voz alegre] 

Ah, já sei do que você está falando! Também tive a oportunidade de conhecer o Museu Nacional, João. Fiquei animada com essa parte da exposição que você visitou, a de Arqueologia Brasileira. Foi lá que tomei um susto quando vi esse crânio, junto ao desenho da silhueta de uma pessoa. Soube, então, que é o crânio mais antigo já encontrado no Brasil e nas Américas. Um cientista que analisou esses ossos, o Walter Neves, a batizou de Luzia.  

[tom de voz surpreso] 

Ela teria vivido há mais de 11 mil anos!  

[Locutor] 

[tom de voz indagativo] 

Maria, é muito interessante imaginar como deveria ser a vida na época da Luzia, não é mesmo? Mas, durante a visita ao museu, eu fiquei pensando: como será que chegaram à conclusão de que a Luzia viveu há tanto tempo? E como é que se estudam esses ossos ou outras coisas de épocas tão distantes de nós?  

[Locutora] 

[tom de voz explicativo] 

Aprendi lá no museu que alguns restos de seres vivos, como ossos, ficam preservados em rochas do tipo sedimentar. É graças aos fósseis que conseguimos descobrir coisas fantásticas sobre o passado da Terra: animais que já existiram, mudanças climáticas, extinções em massa, enfim, as transformações que tornaram nosso planeta como ele é hoje. Os cientistas utilizam uma série de técnicas para fazer estimativas sobre a idade dos fósseis e analisar como seriam as condições ambientais na época em que eram vivos viviam.  

[Locutor] 

[tom de voz explicativo] 

Aliás, Maria, o trabalho desses cientistas ajudou, inclusive, a criar e aperfeiçoar uma espécie de calendário, que aponta mudanças importantes sobre a vida e a estrutura do planeta em cada período da história da Terra. É a escala de tempo geológico. Mas, voltando à Luzia, você sabe onde ela foi descoberta?  

[Locutora] 

[tom de voz explicativo] 

Sei sim, João! Foi no estado de Minas Gerais, na região de Lagoa Santa, uma cidade bem próxima de Belo Horizonte. Por lá, existem muitas cavernas, também chamadas de grutas, que são formadas por elementos como a água, que vão esculpindo, durante um longo período, as rochas dessas áreas. Por causa disso, grandes espaços internos são formados. Quando a humanidade ainda não tinha inventado casas, prédios e outras construções artificiais moradias, essas cavernas podiam servir de abrigo para os indivíduos se protegerem do frio e de animais perigosos, por exemplo.  

[Locutor] 

[tom de voz explicativo] 

Maria, olha só que interessante essa informação que encontrei. Muitos fósseis humanos já foram encontrados nesse mesmo local onde o crânio da Luzia foi achado, em 1975, graças ao trabalho de uma cientista, a arqueóloga Annette Laming-Emperaire.  

[Locutora] 

[tom de voz indagativo e tranquilo] 

Essa descoberta acabou desafiando o que já se sabia sobre a chegada de seres humanos na América, pois acreditavam ser mais recente que a idade do fóssil, de mais de 11 mil anos. A maior parte das pesquisas já realizadas sobre o tema indicavam, por exemplo, que os primeiros grupos de pessoas teriam vindo da Ásia. Elas teriam atravessado o Estreito de Bering, que fica entre o continente asiático e a América do Norte, quando o nível do mar era mais baixo que atualmente. Além disso, as águas encontravam-se congeladas.  

[Locutor] 

[tom de voz pensativo] 

O trabalho dessa cientista, a professora Annette, me lembra a de outra mulher importante para a arqueologia, a Niède Guidon. Seus trabalhos ajudaram a identificar rastros ainda mais antigos da possível presença humana na América, na Serra da Capivara, no estado do Piauí.  

[Locutora] 

[tom de voz alegre e tranquilo] 

Arqueólogas, professoras e cientistas que fizeram e fazem história na ciência brasileira e mundial, João! E quem sabe outras descobertas não sejam feitas?  

[tom de voz preocupado] 

É importante que a gente conserve essas descobertas em segurança para que um incêndio, como o que atingiu o Museu Nacional em 2 de setembro de 2018, quando até o fóssil da Luzia foi atingido, não as ameace. O fóssil de Luzia foi encontrado tempos depois entre os escombros, estava fragmentado, mas os cientistas do museu o reconstituiram. 

[Locutor]  [tom de voz animado] 

Por isso é tão importante valorizarmos a ciência! E com essa mensagem superimportante, chegamos ao fim deste podcast.   

[locutor e locutora] 

Tchau!  

[Narrador] 

Todos os áudios inseridos neste conteúdo são da Freesound.   

Povoamento da Terra

Mapa. Povoamento da Terra. Rotas de expansão do homem moderno: Setas indicam movimentação no sul da África, com a informação: Provável ponto de partida, de lá seguindo para o norte da África e sudoeste da Ásia (130.000 antes de Cristo a 100.000 antes de Cristo; do sudoeste da Ásia para a Europa (40.000 antes de Cristo) e para o norte da Ásia (50.000 antes de Cristo), seguindo para o leste (45.000 antes de Cristo. e para o Japão (50.000 antes de Cristo), de lá para ilhas no sudeste (15.000 antes de Cristo), do sul da Ásia para Oceania (70.000 antes de Cristo) de lá para ilhas (50.000 antes de Cristo, 33.000 antes de Cristo, 3.500 antes de Cristo e 3.000 antes de Cristo); da Europa para Ásia (9.000 antes de Cristo), da Ásia para outra porção da Ásia (3.000 antes de Cristo e para o seu nordeste (30.000 antes de Cristo; entre América do Sul e América do Norte, (4.500 antes de Cristo), do norte da África para a Groenlândia (4.000 antes de Cristo a 4.500 antes de Cristo), da Ásia para a América do Norte (15.000 antes de Cristo). No canto inferior direito, a escala: 2310 quilômetros por centímetro.

Fonte de pesquisa: VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico: geral e Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. página 2021.

A teoria de Bering e a teoria transoceânica

Alguns estudos indicam que o povoamento do continente americano ocorreu com a migração de povos nômades que atravessaram o estreito de Béring. Isso provavelmente se tornou possível durante a última era glacial, período em que o mar entre a Ásia e a América ficou congelado, permitindo a passagem pêlo estreito de Béring. Outra teoria, no entanto, chamada teoria transoceânica, sustenta que os seres humanos chegaram ao continente americano vindos das ilhas polinésias do Pacífico, em embarcações que, levadas pêlas correntes marítimas, cruzaram o oceano atingindo o litoral da América do Sul.

Migrações contemporâneas

Se as migrações são um fenômeno marcante na história humana, atualmente os fluxos migratórios se tornaram ainda mais intensos, tanto aqueles que ocorrem no interior do território de um país quanto os que ocorrem entre os países.

Segundo estimativas da ônu, mais de 250 milhões de pessoas vivem atualmente fóra dos países em que nasceram. Os fluxos migratórios em que as pessoas, por algum motivo, deixam seu país de origem para viver em outro país constituem as chamadas migrações internacionais.

Em geral, os fluxos migratórios ocorrem por fatores diversos, entre os quais:

  • fatores de repulsão: que leva as pessoas a deixar o país onde nasceram, entre os quais a ocorrência de crises econômicas e desemprêgo, conflitos armados, perseguições políticas etcétera;
  • fatores de atração: aqueles que estão presentes nos países para onde os migrantes se deslocam, como melhores condições de vida, oportunidades de trabalho e renda etcétera

O mapa a seguir representa os principais fluxos migratórios internacionais na atualidade.

Principais fluxos migratórios mundiais (1990-2017)

Mapa. Principais fluxos migratórios mundiais (1990-2017). Países de imigração mais intensa: Canadá, Estados Unidos, Polônia, grande parte da Europa, Arábia Saudita, países no oeste e sul da África, Japão e Austrália. Países de emigração mais intensa: México, América Central, países do noroeste da América do Sul, República Democrática do Congo, Sudão e países no nordeste e norte da África, Casaquistão, China, Paquistão, Índia, Cingapura e países no sudoeste, da Ásia. Movimento migratório equilibrado: Argentina, Brasil, Rússia, sudoeste da Ásia e sul da Europa. Direção do fluxo migratório: setas indicam movimentação entre os países citados. No canto superior direito, a rosa dos ventos e na parte inferior, a escala, 1730 quilômetros por centímetro.

Fontes de pesquisa: SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. trigésima quinta edição São Paulo: Ática, 2019. página 38. PEW Research Center. Origins and destinations of the world’s migrants, fróm 1990-2017. Disponível em: https://oeds.link/WgSD3l. Acesso em: 13 julho 2022.

Imigração e emigração

O têrmu imigração é utilizado para se referir ao fluxo de pessoas estrangeiras que entram em um país, enquanto a emigração refere-se ao movimento de pessoas que saem de seus países de origem. Sendo assim, países de imigração são aqueles em que o fluxo de entrada de pessoas é muito maior do que o fluxo de saída, enquanto países de emigração são aqueles em que o fluxo de saída de pessoas é muito maior do que o fluxo de entrada.

Migração de trabalhadores

Grande parte dos fluxos migratórios recentes tem origem nos países menos desenvolvidos da América, da África e da Ásia. A maioria dêsses fluxos migratórios é formada por trabalhadores que buscam melhores condições de vida em outros países, sobretudo nas nações mais ricas e desenvolvidas. Nos países de destino, muitos dêsses imigrantes encontram trabalho apenas em atividades que requerem menor qualificação profissional e de menor remuneração.

Fotografia. Pessoas desfilando em uma rua. Elas usam roupas vermelhas com plumas e detalhes coloridos e seguram leques também coloridos. Nas laterais há prédios.
Cháinataum é um bairro de Nova York, nos Estados Unidos, marcado desde a sua formação pêla grande presença de chineses e povos oriundos de países asiáticos. Na foto, imigrantes chineses durante comemoração do ano novo lunar chinês no bairro de Cháinataum, Nova York, em 2022.

Migração de refugiados

Outro importante fluxo migratório é formado pêlo deslocamento de refugiados. Nesses fluxos, as pessoas, por motivos como guerras, conflitos armados, perseguições políticas ou religiosas, são obrigadas a abandonar seu país de origem para viver em outro país. Ao contrário das que migram por vontade própria, essas pessoas são forçadas a migrar para outros lugares de para garantir a própria vida.

Os maiores fluxos de refugiados recentes têm origem em países envolvidos em guerras internas, como as que ocorrem na Síria, no Afeganistão, na Somália e na Nigéria, ou mesmo países controlados por governos extremamente autoritários, como o Afeganistão, na Ásia, e a Eritreia, na África. Veja os exemplos.

Fotografia. Uma mulher caminhando por uma área de terra. Ela carrega uma garrafa de óleo e um saco. Atrás dela, pessoas enfileiradas em frente a um caminhão.
Desde 2011, a Síria enfrenta uma violenta guerra civil interna provocada pêla tentativa de derrubar o govêrno do país. Os conflitos, que também envolvem a participação de grupos radicais extremistas, já forçaram a migração de mais de 7 milhões de sírios, que buscam refúgio principalmente na Europa. Na foto, grupo de refugiados em Beirute, LÍbano, em 2020.
Fotografia. Muitas pessoas reunidas em uma área fechada. Há bolsas e mochilas entre elas. Ao lado, uma placa.
Em fevereiro de 2022, as tropas russas, sob o govêrno de Vladimir Putin, deram início à ocupação militar da Ucrânia. Os intensos ataques e bombardeios provocaram um grande fluxo de refugiados ucranianos. Em poucos meses de conflito, estima-se que cêrca de 5 milhões de ucranianos buscaram refúgio em outros países. Na foto, refugiados ucranianos na estação ferroviária de Praga, República Tcheca, em 2022.
O Brasil e as migrações internacionais

Historicamente, o Brasil está inserido na rota das migrações internacionais, seja pêla entrada de imigrantes, seja pêla saída de brasileiros para o exterior. Durante mais de três séculos de nossa história, por exemplo, mais de 5 milhões de africanos foram trazidos à fôrça para trabalharem como mão de obra escrava nos engenhos de açúcar no Nordeste. A imigração forçada de escravos se estendeu até o fim do império, quando a escravidão foi oficialmente proibida após a assinatura da Lei Áurea, em 1888.

Com o fim do tráfico negreiro, o Brasil estimulou a vinda de imigrantes ao país, vindos principalmente de Portugal, Itália, Espanha, Alemanha e Japão. Em menor número também vieram sírios, libaneses e turcos. Entre o final do século dezenove e as primeiras décadas do século passado, calcula-se que cêrca de 4,7 milhões de imigrantes entraram no Brasil.

Grande parte dêsses imigrantes foi trabalhar nas lavouras de café no estado de São Paulo. Outros foram para os centros urbanos da Região Sudeste, onde buscaram trabalho no comércio e também nas indústrias, que se expandiam em ritmo acelerado. No Sul, os imigrantes foram assentados principalmente em colônias, com o objetivo de promover o povoamento da região e assegurar a posse do território.

Fotografia em preto e branco. Pessoas colhendo grãos em uma vasta plantação de café. Elas estão próximas aos pés de café, carregam peneiras e enxadas.
Vista de imigrantes trabalhando em lavouras de café no interior do estado de São Paulo na década de 1930.

Após a década de 1930, a imigração diminuiu depois que o govêrno brasileiro passou a restringir a entrada de estrangeiros no país. Desde então, o Brasil tem apresentado um fluxo migratório equilibrado, ou seja, não há grandes diferenças entre o número de pessoas que entram (imigração) e o número de pessoas que saem (emigração) do país.

Contudo, ao longo das últimas décadas, os fluxos de imigração e emigração no Brasil se tornaram mais significativos. Movidos por dificuldades econômicas, como falta de emprêgo e baixos salários, milhares de brasileiros foram para o exterior em busca de trabalho e melhores condições de vida. Por outro lado, imigrantes vindos principalmente dos países vizinhos, entre êles bolivianos, colombianos, venezuelanos e haitianos, além de outros países asiáticos e africanos, também entraram em nosso país à procura de trabalho.

Fotografia. Muitas pessoas sentadas ao lado de uma estrada. Ao fundo, construção amarela. Na calçada onde as pessoas estão há uma placa e área gramada.
Por conta da grande crise econômica enfrentada pêla Venezuela nos últimos anos, muitas pessoas vêm deixando o país vizinho. Parte dêsses venezuelanos tem entrado no Brasil, principalmente pêlo estado de Roraima. Somente no primeiro semestre de 2018, o Brasil recebeu cêrca de 50 mil venezuelanos, a maioria em situação ilegal. Na foto, venezuelanos aguardam atendimento na Polícia Federal para obter autorização de entrada no país, na cidade de Pacaraima, Roraima, em 2018.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

Organizando os conhecimentos

  1. Defina o que são migrações internacionais.
  2. O que são fatores de repulsão? Cite alguns deles.
  3. O que são fatores de atração? Cite alguns deles.
  4. Diferencie:
    1. Imigração.
    2. Emigração.
  5. Observe novamente o mapa na página 53 e identifique:
    1. Três países de imigração.
    2. Três países de emigração.
    3. Três países que apresentam saldo migratório equilibrado.

Aprofundando os conhecimentos

6. Atualmente, estima-se que mais de 4 milhões de brasileiros vivam no exterior. Veja as informações apresentadas a seguir e responda às questões propostas.

Brasileiros no mundo (2020)

Canadá

121.950

Estados Unidos

1.775.000

Paraguai

240.000

Argentina

89.020

Japão

211.138

Reino Unido

220.000

Alemanha

144.120

Portugal

276.200

Itália

161.000

Fonte de pesquisa: MINISTÉRIO das Relações Exteriores. Comunidade brasileira no exterior – Estatísticas 2020. Disponível em: https://oeds.link/Sl9IDb. Acesso em: 13 julho 2020.

  1. Em quais continentes se encontram as duas maiores concentrações de brasileiros?
  2. Onde estão as maiores concentrações de brasileiros na Europa? E na América?
  3. De acôrdo com o que você estudou, qual é a principal causa que tem levado milhares de brasileiros a emigrar para outros países?