CAPÍTULO 15 Regiões polares: nos extremos da América

A América é um continente de grande extensão no sentido norte-sul, com terras que se estendem das áreas polares do hemisfério Norte às proximidades do círculo polar Antártico, no extremo sul do território. No estudo dêste capítulo, vamos conhecer as características das regiões polares: o Ártico e a Antártida.

O ambiente polar

As regiões polares estão localizadas nas maiores latitudes do planeta, nas áreas entre os círculos polares e os polos: norte (hemisfério Norte) e sul (hemisfério Sul).

O Ártico e a Antártida correspondem às regiões de menor temperatura do planeta. Isso porque, em razão do formato arredondado e da inclinação do eixo da Terra, nessas áreas a incidência dos raios solares ocorre de maneira bastante inclinada, diminuindo a intensidade da radiação solar. Assim, as baixas temperaturas são registradas durante praticamente todo o ano, com precipitações que ocorrem, basicamente, na fórma de neve.

Banquisas e geleiras

O frio intenso nas regiões polares provoca o congelamento da camada superficial das águas oceânicas, formando uma imensa massa de gêlo, geralmente de grande espessura, denominada banquisa. No verão, as banquisas tendem a diminuir de tamanho e, no inverno, a aumentar sua extensão. A Antártida, por exemplo, chega a diminuir cêrca de 83% da área de águas oceânicas congeladas durante os meses menos frios.

O frio polar também é responsável pêla formação dos inlândsis, ou geleiras polares, imensas plataformas de gêlo formadas pêla compactação de diversas camadas de neve que podem atingir até 4 mil metros de espessura.

Quando parte dos inlândsis se desprende e desliza pelos mares, recebe o nome de iceberg, grande bloco de gêlo que pode ser levado pêlas correntes oceânicas em direção às regiões de latitudes mais baixas, onde, em razão das temperaturas mais elevadas, derrete gradativamente.

Fotografia. Gelo flutuando no oceano. Ao fundo, morros cobertos por neve.
Banquisas e geleiras na Noruega, em 2017.

O Ártico

A Região Ártica abriga parte do território de alguns países do hemisfério Norte e ainda imensos blocos de gêlo formados pêlo congelamento das águas do oceano Glacial Ártico. Mesmo com o rigor das baixas temperaturas, a Região Ártica é habitada por vários grupos humanos há mais de 4 mil anos. Entre êles, estão os Inuítes e os Lapões.

Povos do Ártico

Os Inuítes vivem nas áreas costeiras do Alasca, da Groenlândia e do extremo norte do Canadá. Em geral, sobrevivem da caça e da pesca. Os Lapões habitam o litoral da Região Norte da Europa, abrangendo Noruega, Suécia e Finlândia. Assim como os Inuítes, os Lapões vivem da pesca, da caça e, sobretudo, do pastoreio de renas.

Embora atualmente as atividades tradicionais da caça e da pesca ainda sejam praticadas no Ártico, nessa região também são realizadas atividades econômicas voltadas à extração de recursos minerais (como níquel e ouro) e de energéticos fósseis (como petróleo e gás natural), por grandes empresas multinacionais. Em meados do século vinte, a descoberta de jazidas minerais e recursos energéticos fósseis, como o petróleo, expandiu os ramos de atividades econômicas voltadas à exploração dos recursos naturais da Região Ártica.

Outra transformação provocada pêla exploração de recursos naturais foi no modo de vida tradicional de seus povos nativos. Isso aconteceu porque, além de atrair migrantes com hábitos variados de diferentes lugares do mundo, fez surgir novas cidades e vilarejos. Dessa fórma, além de ampliar o comércio, as estradas, as indústrias e a oferta de serviços, essas transformações permitiram que muitos nativos passassem a viver de fórma sedentária, ou seja, em lugares fixos, abandonando o nomadismo.

Fotografia. Área coberta de neve com uma torre de metal em meio a estruturas de e pequenas construções.
Exploração de minério na Rússia, em 2020.

Antártida: o continente gelado

A Antártida é formada por uma área continental rochosa coberta por camadas de gêlo, que atingem de 2 mil a 4 mil metros de espessura. Possui aproximadamente 14 milhões de quilômetros², porém, durante o inverno, com a ampliação do tamanho das banquisas, a área do continente chega a 19 milhões de quilômetros, mais que o dobro do território brasileiro.

Ao contrário da Região Ártica, a Antártida não tem povos nativos, mas sim estações de pesquisas científicas que abrigam pesquisadores de diversos países. O estabelecimento dessas bases é permitido desde 1961, quando entrou em vigor o Tratado da Antártida, estabelecendo que nenhum país poderia tomar posse de terras antárticas, embora pudessem construir bases de pesquisas científicas no continente. êsse acôrdo para o uso do continente para fins pacíficos proibiu atividades militares, testes nucleares e depósitos de materiais radioativos.

O Protocolo de Madri, estabelecido em 1991, complementou o Tratado da Antártida ao proibir, por mais cinquenta anos, qualquer exploração dos recursos minerais, vegetais e animais do continente, exceto para pesquisas. As pesquisas na Região Antártica são de grande importância para diversas áreas científicas. Entre elas, destacam-se as que procuram compreender as mudanças climáticas no planeta e suas consequências (como o derretimento das calotas polares e a elevação do nível médio dos oceanos).

Programa Antártico Brasileiro (Proantar)

O Brasil realiza pesquisas científicas na Antártida por meio do Programa Antártico Brasileiro, o Proantar. Entre essas pesquisas, destacam-se aquelas que visam compreender a atmosfera antártica e a sua influência sôbre o clima do Brasil.

A base de pesquisa brasileira, denominada Estação Antártica Comandante Ferraz, fica localizada na ilha Rei George.

Fotografia. No primeiro plano, o mar, seguido por uma construção ampla. Ao fundo, montanha rochosa com áreas com neve.
Vista da base brasileira Comandante Ferraz, na Antártida, em 2020. A base foi reconstruída após ser quase totalmente destruída por um incêndio, em 25 de fevereiro de 2012.

Território e geopolítica na Antártida

Embora os acôrdos internacionais ainda garantam que ao longo das próximas décadas o continente antártico seja utilizado apenas para fins pacíficos e pesquisas científicas, temas como a ocupação do território e a exploração econômica dos seus recursos naturais continuam despertando interêssis de várias nações.

Mesmo antes da assinatura do Tratado da Antártida, Chile, Argentina, Reino Unido, França, Noruega, Austrália e Nova Zelândia, por exemplo, reivindicavam territórios em vastas áreas do continente, delimitação que não foi reconhecida por outras nações. Os governos contrários ao reconhecimento da soberania de qualquer país sôbre essa região alegam que isso significaria assegurar o direito de uma possível futura exploração econômica.

O que está em jôgo nessa disputa é a apropriação futura das riquezas existentes no continente, visto que a proibição de exploração econômica estabelecida atualmente no Tratado da Antártida pode não ser novamente renovada. No âmbito internacional, por exemplo, continuam ocorrendo discussões sôbre a regulação de futuras atividades mineradoras no continente.

Se, por um lado, certos países atuam no sentido de fazer prevalecer seus estratégicos e econômicos sôbre a região, por outro, também ganha fôrça a ação de movimentos ambientalistas e ônguis (organizações não governamentais) que lutam em defesa da preservação ambiental da região.

Antártida: reivindicações territoriais (2015)

Mapa. Antártida: reivindicações territoriais (2015). Mapa em projeção polar. A porção a esquerda é indicada como: Reino Unido; porção superior: Noruega; porção direita: Austrália; pequena faixa a direita: França, segunda área direita: Austrália; porção abaixo: Nova Zelândia. Há uma linha tracejada sobreposta a porção do Reino Unido, indicada como: território pretendido pela Argentina. Ao lado dela, parte da área do Reino Unido e uma porção à esquerda, outra porção tracejada indicada como: território pretendido pelo Chile. Ao centro, o Polo Sul. À esquerda, mapa de localização, planisfério destacando a região descrita. À direita, na parte inferior, a escala: 800 quilômetros por centímetro.

Fonte de pesquisa: GIRARDI, Gisele; ROSA, Jussara Vaz. Atlas geográfico do estudante. São Paulo: FTD, 2016. página 151.

Ícone ‘Atividade oral’.

Questão 1.

Em sua opinião, o continente antártico deve continuar sendo utili­zado somente para fins pacíficos e de pesquisas ou suas riquezas naturais devem ser exploradas? Justifique sua resposta e verifique a opinião dos colegas.

Geografia e Ciências

A biodiversidade e os perigos que rondam as regiões polares

O rigoroso frio das regiões polares não impede que nelas existam espécies animais e vegetais adaptadas às condições climáticas.

Em uma pesquisa sôbre as regiões polares, realizada ao longo de dez anos por cientistas de 22 países, chamada de Censo da Vida Marinha Antártica, ou , foram registradas mais de 12 mil espécies de animais vivendo nessas áreas.

Na vida marinha da Antártida, encontramos diversas espécies de animais, como atuns, baleias, leões-marinhos e o críl – espécie de camarão rico em proteínas. Além dêsses animais, focas, albatrozes e pinguins vivem no continente.

Já no Ártico, encontram-se baleias, ursos-polares, raposas, renas e variadas espécies de peixes.

Fotografia. Um urso polar de pelos brancos sobre uma porção de neve em frente ao mar.
Urso-polar na Região Ártica, Noruega, em 2020.

críl

O críl é um pequeno crustáceo, semelhante ao camarão, uma das principais fontes de alimento de vários animais polares, como baleias, focas e pinguins.

A intensa exploração comercial dêsse crustáceo pode causar a redução de sua população e, consequentemente, a diminuição do alimento de animais polares. Além disso, o aquecimento das águas polares e a diminuição da cobertura de gêlo – onde se encontram as algas marinhas, fonte de alimento – podem provocar a diminuição da quantidade de críl.

Fotografia. Krill, um crustáceo de corpo transparente com detalhes alaranjados.
críl.

A pesca em grande escala vem causando sérios riscos a diversas espécies de animais existentes nos polos. Algumas espécies de baleias, por exemplo, por serem muito apreciadas como alimento em alguns países (como o Japão), já correm risco de extinção.

Fotografia. Um barco com mastros e outras estruturas navegando no mar azul.
Pesca da baleia sendo realizada na Islândia, em 2022, por navio baleeiro islandês.

Turismo e meio ambiente

Muitas pessoas procuram as regiões polares para conhecer tanto as belas paisagens quanto a vida selvagem existente nessas áreas.

No entanto, são necessárias medidas para evitar que o turismo cause problemas ao meio ambiente polar.

Nesse sentido, o protocolo ambiental do Tratado da Antártida, assinado em 1959, procura assegurar a proteção ao meio ambiente antártico frente às atividades humanas, como a turística.

Já no Ártico, as leis ambientais variam de acôrdo com o país que possui parte do território localizado na região.

Fotografia. Destaque para um homem em pé em frente ao mar e geleiras. Ele aponta uma máquina fotográfica para o horizonte. Há um parapeito gradeado em frente a ele.
Turistas fotografando geleiras na Antártida, em 2020.

De acôrdo com alguns estudos, o aquecimento global, decorrente da elevação da temperatura média da atmosfera terrestre e intensificado pêlas atividades dos seres humanos, é um problema também observado nas regiões polares. Segundo estudos, o aquecimento global provoca o derretimento das calotas polares, sobretudo no Ártico. Com um colega, pesquisem as possíveis consequências do aquecimento global para a vida presente nas regiões polares. Depois, realizem um debate em sala de aula apresentando o resultado dessa investigação.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

Organizando os conhecimentos

  1. Explique quais são os fatores naturais responsáveis por tornar as regiões polares as mais frias da Terra.
  2. O que diferencia as banquisas dos inlândsis?
  3. Considerando a distribuição da água doce no planeta, por que as geleiras polares são importantes?
  4. O rigor das baixas temperaturas das regiões polares impede o desenvolvimento de vegetais e a existência de animais nessas partes do planeta?

Aprofundando os conhecimentos

5. Analise as informações apresentadas nos gráficos a seguir.

A.

Concentração de cê ó2 na atmosfera (19002100)

Gráfico. Concentração de dióxido de carbono na atmosfera (1900-2100). Dióxido de carbono (em partes por milhão). 1900: 295. 1950: 310. 2000: 375. 2050 (em projeção): 510. 2100 (em projeção): 780.

B.

Aumento da temperatura média da Terra (19002100)

Gráfico. Aumento da temperatura média da Terra (1900-2100). Temperatura (em graus Celsius). 1900: 13,7. 1950: 13,8. 2000: 14,4. 2050 (em projeção): 15,6. 2100 (em projeção): 17.

Fonte de pesquisa: í pê cê cê (Intergovernmental Panel on Climate Change). Disponível em: https://oeds.link/V8ope9. Acesso em: 22 julho 2022.

  1. Qual informação está demonstrada no gráfico A? E no gráfico B?
  2. Que relação é possível estabelecer entre as informações mostradas nos gráficos e o fenômeno do aquecimento global?
  1. Com um colega, pesquisem as possíveis consequências do aquecimento global para a vida nas regiões polares. Depois, realizem um debate em sala de aula apresentando o resultado da pesquisa. Que relação é possível estabelecer entre as informações mostradas nos gráficos e o fenômeno do aquecimento global?

6. Observe o mapa e responda às questões propostas.

Exploração de recursos naturais no Ártico (2019)

Mapa. Exploração de recursos naturais no Ártico (2019). Mapa em projeção polar. Principais zonas de pesca: áreas superior e inferior. Reservas conhecidas de petróleo e gás: diversas regiões irregulares ao redor do Polo Norte, ao centro. Exploração de petróleo: Alasca (Estados Unidos), Canadá, Noruega, e Rússia. Exploração de gás: Alasca (Estados Unidos), Canadá, Noruega, e Rússia. Extração de minérios: Canadá, Groenlândia (Dinamarca) e Rússia. No canto inferior esquerdo, mapa de localização, planisfério destacando a região descrita, ao lado, a escala: 725 quilômetros por centímetro.

Fonte de pesquisa dos mapas: FERREIRA, Maria Graça Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. quarta edição São Paulo: Moderna, 2019. página 111.

  1. Qual informação está demonstrada no mapa?
  2. Quais são os principais recursos naturais explorados na Região Ártica?
  3. Cite uma atividade econômica praticada no Ártico e a consequência ambiental que essa atividade pode provocar na região.
  4. Relacione a intensificação da exploração dos recursos naturais do Ártico e a transformação do modo de vida de sua população tradicional.