CAPÍTULO 17 Qualidade de vida na América Latina

De modo geral, uma significativa parcela da população latino-americana tem baixa qualidade de vida, ou seja, não possui acesso a uma moradia digna, sistema de saúde, educação de qualidade etcétera Nessa região, é grande o número de pessoas que vive em situação de pobreza, sem condições de suprir necessidades básicas, como alimentação, vestuário e medicamentos. De acôrdo com o Banco Mundial, em 2019, na América Latina, cerca de 27 milhões de pessoas viviam com menos de 1,90 dólar por dia.

Da segunda metade do século vinte em diante, a população de alguns países latino-americanos foi beneficiada pêla ampliação de serviços médico-sanitários (como vimos na página 174), mas, mesmo assim, ainda hoje, milhões de pessoas convivem diariamente com um sistema público de saúde ineficiente.

Além dêsses problemas, a elevada concentração de renda nas mãos de uma pequena parcela da população é um fator que contribui para a baixa qualidade de vida.

Essa situação, agravada ainda mais pelos baixos salários da maioria dos latino-americanos, dificulta o acesso a alimentação, moradia e serviços básicos adequados, levando-os a viver em condições precárias.

Fotografia. Pessoas em meio a uma grande quantidade de lixo amontoado. Eles usam luvas e blusas coloridas com toucas.
Coletores de resíduos sólidos (lixo) em lixão na Guatemala, em 2020.
Fotografia. Vista de cima. No primeiro plano comunidades com casas pequenas amontoadas na encosta de um morro, cercado por vegetação densa. Ao fundo, cidade repleta de edifícios e o mar.
A inexistência de serviços de infraestrutura e saneamento básico também contribui para o aumento da mortalidade entre os latino-americanos. Nesta foto, observamos moradias precárias, em primeiro plano, contrastando com grandes edifícios, em segundo plano, na cidade do Rio de Janeiro, em 2020.

A baixa qualidade de vida de grande parte da população latino-americana pode ser verificada por meio dos indicadores sociais, como expectativa de vida, analfabetismo, mortalidade infantil e a renda per capita.

O quadro a seguir mostra os indicadores socioeconômicos de alguns países da América Latina em comparação com os de alguns países desenvolvidos.

Indicadores socioeconômicos de alguns países do mundo

Grupo A

Países subdesenvolvidos da América Latina

Expectativa de vida (em anos) 2019

Analfabetismo (%) 2018

Mortalidade infantil (por grupo de mil nascidos vivos) 2019

Renda per capita (US$) 2020

IDH 2019

Haiti

64

39,3**

46

1.272

0,510

Uruguai

77,9

1,2

5

15.419

0,817

Brasil

75,9

7,6

13

6.815

0,765

Grupo B

Alguns países desenvolvidos no mundo

Expectativa de vida (em anos) 2019

Analfabetismo (%) 2018

Mortalidade infantil (por grupo de mil nascidos vivos) 2019

Renda per capita (US$) 2020

IDH 2019

Austrália

83,4

*

3

51.680

0,944

Estados Unidos

78,9

*

5

63.028

0,926

Japão

84,6

*

2

39.918

0,919

*Nesses países, a taxa de analfabetismo é muito pequena em relação ao total da população.

**Dados de 2016.

Fontes de pesquisa: cía. The World Factbook. Disponível em: https://oeds.link/S8gKbM penúdi. Relatório do desenvolvimento humano 2020. Disponível em: https://oeds.link/cK96K1. DATABANK: World Development Indicators. The World Bank. Disponível em: https://oeds.link/TaCm8p. POPULATION Prospects. United Nations. Disponível em: https://oeds.link/1rEATQ. Acessos em: 25 julho 2022.

Questão 1.

Compare os indicadores socioeconômicos dos países latino-americanos (grupo A) com os dos países desenvolvidos (grupo B) e responda às questões a seguir no caderno.

  1. Qual grupo apresenta os melhores índices de í dê agá?
  2. Com base no quadro, podemos dizer que a população haitiana possui a mesma condição de vida da população brasileira? Por quê?

Conforme podemos perceber, o quadro nos mostra que os indicadores socioeconômicos dos países latino-americanos são mais baixos quando comparados com os indicadores dos países desenvolvidos. Além disso, ele também nos mostra que existe um grande contraste socioeconômico entre os próprios países. Verifique, por exemplo, que a renda per capita de um haitiano é aproximadamente doze vezes menor que a de um uruguaio.

A concentração de renda no Brasil

A elevada concentração de renda é uma realidade em muitos países do mundo, sobretudo nos países subdesenvolvidos. O texto a seguir trata da concentração de renda existente no Brasil. Leia-o com atenção.

reticências Por volta de 1990, os 10% mais ricos ficavam com mais da metade da renda nacional enquanto os 10% mais pobres recebiam 0,6% dela. Essas proporções significam que o que um representante médio daqueles mais ricos recebia e gastava em quatro dias era igual ao valor que, em média, um representante dos 10% mais pobres levava todo um ano para ganhar.

     A melhora havida na distribuição de renda brasileira, em especial neste início de século, nos tirou do último lugar. Entretanto, ainda estamos em uma das piores posições. Atualmente, o que um típico representante dos 10% mais ricos ganha em pouco mais de uma semana equivale àquilo que um dos representes dos mais pobres leva um ano para ganhar. reticências

HELENE, Otaviano. Concentração de renda no Brasil: educação e desigualdade. Le Monde Diplomatique, 20 fevereiro 2015. Disponível em: https://oeds.link/m4tWXK. Acesso em: 29 julho 2022.

Distribuição de renda e desigualdade social no Brasil (2015)

Esquema. Distribuição de renda e desigualdade social no Brasil (2015). Famílias com renda mensal no Brasil (em porcentagem). Ilustração de uma pirâmide dividida em camadas. Da base para o topo, estão: 41 por cento – Renda familiar de até 1576 reais. 18 por cento – de 1576 a 2364 reais. Ligada a essas duas camadas está a informação: 59 por cento das famílias com renda ganham até 2364 reais. Na camada seguinte, 20 por cento – de 2364 a 3940 reais. 14 por cento – de 3940 a 7880 reais. 5 por cento – de 7880 a 15760 reais. No topo: 2 por cento – mais de 15760 reais.

Fonte de pesquisa: IBGE. Disponível em: https://oeds.link/Fx6uw1. Acesso em: 25 julho 2022.

Com os colegas e o professor, promovam um de­bate sôbre as desigualdades sociais existentes em geral no Brasil e também no município onde vocês vivem. Conversem sôbre as causas e as consequências dessas desigualdades sociais e o que poderia ser feito para diminuir a grande distância econômica que separa ricos e pobres.

A urbanização dos países latino-americanos

A urbanização é uma tendência mundial e mais da metade da população do mundo vive em cidades. Segundo dados da ônu, em 2020, a América Latina é uma das regiões mais urbanizadas do mundo, tendo 90% da sua população total morando em áreas urbanas. Observe o quadro a seguir.

Urbanização de alguns países da América Latina (2020)

País

População (em mil habitantes)

Taxa de urbanização (em %)

Brasil*

213.317

87

Argentina

45.277

92

Uruguai

3.426

96

Chile

19.493

88

Fontes de pesquisa: *í bê gê É. Estimativas da população residente no Brasil e unidades da federação 2021. Disponível em: https://oeds.link/9n7wrh UNITED Nations. World urbanization prospects. Disponível em: https://oeds.link/UaURuz. Acessos em: 26 julho 2022.

O processo de urbanização da América Latina ganhou fôrça a partir da metade do século vinte. Naquele período, a intensificação da concentração fundiária tornou cada vez mais difícil a vida dos pequenos agricultores, que se viram obrigados a migrar para as cidades em busca de melhores condições de vida.

Em alguns países, como Brasil e Argentina, a mecanização do campo e o processo de industrialização intensificaram a migração. Nesses países, a inserção de ferramentas e maquinários modernos no campo substituiu grande parte da mão de obra rural; com isso, muitos trabalhadores rurais desempregados passaram a buscar emprêgo nas fábricas das cidades.

Fotografia. Vista do alto. Cidade repleta de edifícios e casas. Há vias que levam a uma rotatória no centro.
O México é um dos países da América Latina com as maiores taxas de urbanização. Em 2015, aproximadamente 81% da população habitava o espaço urbano. Na foto, Cidade do México, México, em 2021.

O crescimento urbano desordenado

O processo de urbanização da América Latina, assim como em outras regiões, adquiriu um ritmo muito acelerado e desordenado, que não foi acompanhado pêlodesenvolvimento de serviços básicos urbanos, como ampliação de sistemas de transportes, de abastecimento de água e de coleta de resíduos sólidos (lixo) e esgôto.

Com o passar do tempo, em várias cidades latino-americanas, começaram a se agravar os problemas urbanos, como o aumento de moradias precárias em áreas sem infraestrutura – rede de esgôto, eletricidade e água encanada, por exemplo; a falta de segurança; a intensificação do trânsito de veículos e de pessoas; e a insuficiência de rede de transportes coletivos públicos.

Fotografia. Vias com muitos carros trafegando. Há canteiros entre as vias, e pessoas ocupando as calçadas. Nas laterais, casas e árvores.
Trânsito de veículos em avenida da cidade de La Paz, capital da Bolívia, em 2020.

O acelerado processo de urbanização da América Latina acarreta ainda diversos problemas de ordem ambiental. Entre problemas, que também afetam outras grandes cidades do mundo, podemos citar:

  • a poluição da atmosfera, que compromete a qualidade do ar e contribui para intensificar o efeito estufa;
  • a impermeabilização dos solos, que pode provocar enchentes – isso ocorre porque, em decorrência da grande quantidade de construções (casas, edifícios, ruas etcétera), a água das chuvas não consegue se infiltrar naturalmente no solo e acaba provocando alagamentos;
  • a ocupação de áreas de risco, como encostas de morros, que podem provocar deslizamentos de terra;
  • a geração crescente de lixo e o descarte inadequado de resíduos domésticos e industriais, que podem causar doenças.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

Organizando os conhecimentos

  1. Quais são as principais causas da baixa qualidade de vida da população latino-americana?
  2. Quais fatores foram responsáveis pêlo acelerado processo de urbanização registrado na América Latina a partir da metade do século vinte?
  3. Segundo dados da ônu, “a América Latina é uma das regiões mais urbanizadas do mundo”. Explique essa afirmação.

Aprofundando os conhecimentos

4. Observe a foto.

Fotografia. Casas simples amontoadas na encosta de um morro com vegetação.
Moradias em Bogotá, na Colômbia, em 2022.
  1. A foto retrata um dos problemas gerados pêlo rápido e desordenado processo de urbanização da América Latina. Qual é êsse problema?
  2. Quais problemas relacionados ao crescimento desordenado das cidades existem no município onde você mora?

5. O gráfico mostra o modo como a renda gerada no Brasil é distribuída entre a população. Observe-o atentamente.

Distribuição de renda no Brasil (2015)

Gráfico. Distribuição de renda no Brasil (2015). Até 1 salário mínimo: 27 por cento. Mais de 1 a 2 salários mínimos: 26  por cento. Mais de 2 a 3 salários mínimos: 9 por cento. Mais de 3 a 5 salários mínimos: 7  por cento. Mais de 5 a 10 salários mínimos: 5 por cento. Mais de 10 a 20 salários mínimos: 2 por cento. Mais de 20 salários mínimos: 1 por cento. Sem rendimento: 23 por cento. Que inclui as pessoas que receberam somente em benefícios como alimentação, roupas, medicamentos, entre outros.

Fonte de pesquisa: í bê gê É. Disponível em: https://oeds.link/PdKY9J. Acesso em: 29 julho 2022.

  1. Como o gráfico retrata a desigualdade social existente no Brasil?
  2. De acôrdo com o que você estudou, qual é a relação entre a distribuição de renda e os problemas sociais existentes no Brasil e em outros países da América Latina?