UNIDADE 8 África: economia e conflitos

Fotografia. Vista do alto. No primeiro plano, o mar com um pequeno porto com barcos ancorados, com prédios e construções em sua margem, seguida por uma área com vegetação rasteira e um estádio de futebol. Ao redor há muitos edifícios e ao fundo, grandes montanhas.
Paisagem da Cidade do Cabo, África do Sul, em 2020.

Embora os países africanos apresentem populações que convivem com graves problemas socioeconômicos, como a pobreza e a fome, conforme estudado na unidade anterior, o continente detém grandes potencialidades econômicas. Muitas de suas riquezas, aliás, foram exploradas pelos colonizadores europeus durante séculos e, ainda hoje, continuam abastecendo os mercados mundiais, sobretudo os produtos agrícolas e minerais. A disputa pêlo contrôle dessas riquezas tem sido alvo de muitos conflitos e guerras que eclodem em várias regiões do continente. A imagem na página anterior mostra a paisagem da Cidade do Cabo, localizada na África do Sul, um dos países mais desenvolvidos do continente.

 

Iniciando a conversa

  1. Na foto da página anterior, vemos a Cidade do Cabo, localizada na África do Sul. O que você sabe sôbre êsse país? Conte aos colegas.
  2. Diga aos colegas da turma alguma informação que você conhece sôbre a economia dos países que compõe o continente africano.

 

Agora vamos estudar...

  • os aspectos econômicos no continente africano;
  • as atividades agropecuárias na África;
  • os recursos minerais na África;
  • as características da atividade industrial no continente africano;
  • os conflitos na África;
  • os conflitos étnico-culturais no continente africano;
  • a ideologia das representações cartográficas.

CAPÍTULO 25 Economia africana

A maioria dos países africanos possui a economia apoiada basicamente nas atividades primárias: produção de gêneros agropecuários e de recursos minerais, incluindo a extração de recursos energéticos fósseis, como petróleo, carvão mineral e gás natural.

êsse modêlo econômico foi introduzido a partir do século dezenove, quando os colonizadores europeus se apossaram do continente apenas para explorá-lo economicamente. Durante o período colonial, a economia baseava-se nas plantations, ou seja, grandes lavouras monocultoras de produtos tropicais voltados para exportação, e também na extração de recursos minerais e vegetais existentes em abundância no território africano. Essas matérias-primas serviam basicamente para abastecer a indústria e o mercado consumidor europeu.

Assim, desde aquela época, a economia do continente africano voltou-se para a produção de matérias-primas destinadas ao abastecimento do mercado externo. Dessa fórma, vários países da África foram inseridos na Divisão Internacional do Trabalho (díti) como exportadores tanto de gêneros agrícolas, como café, cacau, borracha, cana-de-açúcar, algodão, amendoim, quanto de recursos minerais e energéticos. Veja os dados a seguir.

Participação dos produtos agrícolas no total das exportações (2020)

País

(%)

Burundi

45

Costa do Marfim

64

Etiópia

84

Malauí

93

Uganda

60

Fonte de pesquisa: dáblio tê ó. Trade Profiles 2021. Disponível em: https://oeds.link/vpsmAY. Acesso em: 30 julho 2022.

Participação dos produtos minerais e combustíveis fósseis no total das exportações (2020)

País

(%)

Argélia

94

Gabão

90

Moçambique

71

Nigéria

75

Zâmbia

75

Fonte de pesquisa: dáblio tê ó. Trade Profiles 2021. Disponível em: https://oeds.link/wIaKeP. Acesso em: 30 julho 2022.

Agropecuária

A agropecuária, que constitui uma das mais importantes fontes de renda nos países da África, ocupa atualmente parte expressiva da população economicamente ativa de muitos países do continente. Essa atividade é desenvolvida de duas fórmas principais: as lavouras tradicionais e as plantations.

As lavouras tradicionais, voltadas para a produção de alimentos para o consumo da população local, são desenvolvidas em diversas áreas do território africano. De modo geral, nessas áreas, prevalecem pequenas propriedades e técnicas rudimentares de cultivo, sendo os produtos mais cultivados arroz, sorgo, feijão, batata, inhame e banana.            Os longos períodos de sêcas, a reduzida qualidade dos solos e, sobretudo, os escassos investimentos em tecnologias fazem com que a agropecuária de subsistência apresente baixa produtividade, tornando necessária a importação de alimentos para o consumo da população.

Fotografia. Um homem conduzindo um arado que é puxado por dois bois em uma plantação.
Na foto, trabalhador rural utiliza técnicas rudimentares de agricultura tradicional na Etiópia, em 2019.

As plantations, desenvolvidas principalmente na África Subsaariana, são extensas lavouras monocultoras cultivadas com utilização de fertilizantes, agrotóxicos e, geralmente, com grande quantidade de mão de obra.            Nelas, faz-se o cultivo de produtos tropicais voltados para a exportação, como café, cacau, chá, cana-de-açúcar e amendoim. Portanto, não se destinam a servir de alimento para o consumo interno.

Fotografia. Área coberta por plantação na encosta de um morro. Ao fundo, árvores.
Paisagem com sistema plantationimplantado em cultura de chá na Uganda, em 2022.

A atividade agropecuária no continente africano

As atividades agrárias que predominam em grande par­te do continente africano são as praticadas de maneira tradicional, como a agropecuária de subsistência, a pecuária extensiva e o pastoreio nômade.

As atividades agropecuárias comerciais, praticadas com recursos tecnológicos mais avançados, estão restritas a certas regiões de apenas alguns países africanos, como na África do Sul, Costa do Marfim, Nigéria, Gana e Serra Leoa.

O mapa mostra a organização do espaço agrário no continente africano.

Agropecuária africana (2020)

Mapa. Agropecuária africana (2020). Agricultura mediterrânea: costa no extremo norte e sul. Agricultura comercial de produtos tropicais: áreas dispersas no centro e sul. Agricultura irrigada: áreas no nordeste e pequena área no oeste. Florestas, savanas, culturas comerciais ou de subsistência: centro-oeste e áreas menores no nordeste e sudeste, com Serra Leoa, Nigéria, República Democrática do Congo e Uganda. Estepes, criação extensiva de gado: faixas no norte, nordeste e porção sul, com Angola, Somália e África do Sul. Deserto, criação nômade de gado: porção norte, com Argélia, Egito e Sudão. À esquerda, mapa de localização, planisfério destacando a região descrita. No canto superior direito, a rosa dos ventos e na parte inferior, a escala: 680 quilômetros por centímetro.

Fonte de pesquisa: REFERENCE atlas of the world. 11. ed. Londres: Dorling Kindersley, 2021. p. 73.

O clima e as atividades agrárias na África

Além do nível tecnológico, as características climáticas também interferem nas atividades agrárias praticadas no continente africano.

No norte e no extremo sul do continente, por exemplo, o clima mais ameno favorece o desenvolvimento da agricultura mediterrânea, com o cultivo, por exemplo, de frutas cítricas e oliveiras. Já nas áreas de clima desértico, como no Saara, encontramos a prática do pastoreio nômade. Nessas áreas, a agricultura se desenvolve apenas nos oásis e por meio da técnica de irrigação, como ao longo do curso do rio Nilo.

Fotografia. Pequena área de plantio entre árvores. Atrás dela, construções e morros.
Cultivos produzidos em um oásis no Marrocos, em 2019.

Recursos minerais

Uma das características marcantes da África é sua grande riqueza mineral. Atualmente, muitos dos seus países têm economia quase totalmente dependente da exploração de minerais e de recursos energéticos fósseis, como o carvão mineral e o petróleo.

As principais reservas minerais (ouro, diamante, ferro, carvão mineral, bauxita) se encontram em depósitos geológicos localizados na porção centro-sul do continente, sobretudo em países como África do Sul, Zimbábue e República Democrática do Congo, e também em países localizados na costa atlântica, como Gana e Libéria.

Entre as principais regiões produtoras de petróleo e gás natural, destacam-se as bacias sedimentares da costa oeste do continente, principalmente em Angola, Gabão, Camarões e Nigéria, e também os campos petrolíferos encontrados, por exemplo, nos desertos da Argélia, Líbia e Egito, ao norte do continente.

Recursos minerais e energéticos na África (2020)

Mapa. Recursos minerais e energéticos na África (2020). Recursos energéticos. Petróleo, urânia, gás natural, carvão mineral: no norte, oeste e sul. Principais áreas de: Produção de petróleo e gás: Argélia, Líbia, e porção oeste com Nigéria, Guiné Equatorial, Gabão e Cabinda (território que pertence à Angola), Angola, Sudão e Sudão do Sul. Produção mineral: Marrocos, Saara Ocidental (território ocupado por Marrocos), Mauritânia, porção oeste com Guiné, Serra Leoa, Costa do Marfim, Burkina Faso, Mali, Gâmbia, Guiné Bissau, Togo, e centro-sul com Uganda, República Democrática do Congo, Zâmbia, Botsuana, Suazilândia, Lesoto, Namíbia e África do Sul. Recursos minerais: Ouro, Prata, Ferro, Cobre, Cobalto, Níquel, Zinco, Manganês, Bauxita, Platina, Estanho, Diamante, encontrados principalmente nas áreas citadas. Na parte inferior, mapa de localização, planisfério destacando a região descrita. No canto superior direito, a rosa dos ventos e na parte inferior, a escala:  630 quilômetros por centímetro.

Fontes de pesquisa: REFERENCE atlas of the world. décima primeira edição Londres: dórlin , 2021. página 7273. GIRARDI, Gisele; ROSA, Jussara Vaz. Atlas geográfico do estudante. São Paulo: éfe tê dê, 2016. página 170.

Questão 1.

Identifique no mapa:

  1. as principais áreas de exploração de petróleo e gás no continente africano.
  2. as principais áreas de exploração mineral no continente africano.

Atividade industrial

De maneira geral, a atividade industrial no continente africano é pouco expressiva, tendo participação bastante restrita na exportação mundial de produtos industrializados. Atualmente, o continente africano responde por menos de 1% das exportações de produtos manufaturados comercializados em todo o mundo.

Entre os principais fatores que contribuem para o desenvolvimento industrial restrito no continente, podemos citar:

  • a falta de infraestrutura (vias de transporte, energia elétrica etcétera), que dificulta a implantação de parques industriais mais complexos;
  • a escassez de mão de obra qualificada, que inibe a expansão das empresas;
  • a existência de um mercado consumidor de baixo poder aquisitivo, que limita o consumo da população aos bens industrializados.

Devido a fatores, a atividade industrial no continente africano restringe-se principalmente aos setores mais tradicionais, com uso de tecnologia menos desenvolvida (alimentos, bebidas, têxteis, calçados etcétera). Em geral, essas indústrias concentram-se principalmente nas maiores e mais importantes cidades do continente, entre elas Johanesburgo (África do Sul), Cairo (Egito) e Lagos (Nigéria).

Fotografia. Vista de cima. Galpões e construções amplas em um pátio aberto. Ao fundo, uma cidade.
Parque industrial na África do Sul, em 2020.

A África do Sul e o Egito são os dois países mais industrializados do continente africano. Assim, como os demais países subdesenvolvidos, como Brasil, México e Argentina, a industrialização dêsses países africanos também foi tardia, pois ocorreram somente a partir de meados do século vinte.

Fotografia. Construções baixas com chaminés expelindo fumaça. Há uma chama em uma delas. Ao fundo, uma cidade.
Vista de refinaria de petróleo na Argélia, em 2021.

Em alguns países do continente africano, como Líbia, Angola, Nigéria e Argélia, a atividade industrial está muito relacionada à exploração de petróleo.

Crescimento econômico da África

Nos últimos anos, o mundo vem presenciando o crescimento econômico de muitos países africanos. De acôrdo com o Banco Mundial, em 2021, alguns países da África apresentaram um crescimento econômico maior que a média mundial, de 5,8%. Foi o caso de Ruanda e Costa do Marfim, que nesse mesmo ano cresceram 10,9% e 7% respectivamente.

Ainda de acôrdo com o Banco Mundial, o crescimento econômico de países africanos, sobretudo dos pertencentes à África Subsaariana, deve-se principalmente à abundância de recursos naturais e aos elevados preços mundiais de matérias-primas, como os recursos minerais.

A descoberta de novas áreas de extração de recursos como gás natural, petróleo e outros recursos minerais, em países como Moçambique, Níger e Zâmbia, vem contribuindo para o crescimento econômico do continente. Atualmente, são poucos os países do continente que não estão envolvidos na exploração de algum tipo de minério.

Fotografia. Um morro sendo escavado. Há caminhões e um trator em frente a ele. Em frente dutos e árvores.
A descoberta de novas áreas de extração de recursos minerais, inclusive de recursos energéticos fósseis, produtos de grande interêsse mundial, pode fazer com que os países africanos continuem apresentando um crescimento econômico maior que a média mundial nos próximos anos. Na foto, área de exploração de minérios, no Senegal, em 2018.

Em função dêsse crescimento, o continente tem atraído grande número de investidores estrangeiros. Além da abundância de recursos naturais, o crescimento demográfico e a urbanização acelerada de alguns países vêm aumentando o consumo de modo geral e incentivando a entrada de empresas estrangeiras.

Porém, para que êsse crescimento econômico se reflita em desenvolvimento das condições de vida da população em geral, é necessário que os ganhos sejam revertidos na melhoria da saúde, da educação, da infraestrutura básica, no aumento da produtividade agrícola e na geração de empregos. Dessa fórma, a pobreza poderá ser reduzida significativamente.

Riquezas minerais e o interêsse do capital internacional

Os países africanos, em geral, não dispõem de recursos técnicos nem financeiros ou mesmo de mão de obra mais especializada para promover a exploração dos recursos minerais e energéticos existentes em seus territórios. Em razão disso, o desenvolvimento da mineração tem sido realizado e controlado por grandes empresas estrangeiras, sobretudo europeias, estadunidenses, japonesas e chinesas, cujos lucros são enviados aos países mais ricos, onde essas empresas estão sediadas.

O texto a seguir trata do avanço do capital chinês no continente africano.

reticências

     O início do crescimento da presença da China no continente africano começou no início dos anos 1990, mas foi em 2013 que a China se tornou o maior parceiro comercial da África, sobretudo a África Subsaariana, e se tornou também o principal destino das exportações dêsses países reticências.

Afinal, o que a China ganha com isso?

     Se China tem apostado alto no continente africano é porque espera algum retôrno, tanto no curto quanto no longo prazo. Os ganhos chineses podem ser divididos em econômicos, políticos e em estratégicos/militares. Do ponto de vista econômico, a China vê um grande potencial inexplorado no continente africano. Os chineses enxergam na África uma grande quantidade de mão de obra barata, que, se receberam um mínimo de qualificação, podem suprir as necessidades das empresas que convivem com a recente elevação dos salários na China. reticências

     O segundo fator trata-se de um velho problema que a China enfrenta, a escassez de recursos energéticos. Nos últimos anos a China ultrapassou os Estados Unidos da América como maior importador de petróleo do mundo e as reservas do continente africano parecem muito atrativas aos chineses. Por último, e não menos importante, está a garantia de uma nova rota comercial ligando a África e a Eurásia, sobretudo por meio da construção de grandes portos reticências.

PACHECO, Bárbara Luana Pereira; SANTA RITA, Leonardo Coelho Assunção. Presença da China na África: novo desenvolvimento ou novo colonialismo? Conjuntura Internacional, 19 outubro 2018. Disponível em: https://oeds.link/DZRf7q. Acesso em: 27 julho 2022.

Fotografia. Um viaduto com uma grua e outros equipamentos. Ao redor há árvores e ao fundo, edifícios.
Construção de estrada por meio de investimentos chineses no Quênia, em foto de 2021.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

Organizando os conhecimentos

1. Copie o quadro a seguir no caderno e complete a última coluna com informações sôbre a economia atual africana.

África Colonial

África Atual

Características econômicas

Economia baseada nas plantations de produtos tropicais e na extração de recursos minerais e vegetais.

Principal objetivo da produção

Abastecimento das atividades

  • Depois de completar o quadro, responda: A África mudou sua participação na díti desde o período colonial? Explique sua resposta.
  1. A extração mineral é uma atividade econômica importante para os países da África? Por quê?
  2. Por que a exploração de recursos minerais e energéticos na África é realizada por grandes empresas estrangeiras?
  3. Quais são os principais fatores que contribuem para o baixo desenvolvimento industrial africano?

Aprofundando os conhecimentos

5. Leia a manchete a seguir.

Em plena recessão, a África Subsaariana se prepara para a recuperação

Disponível em: https://oeds.link/Q5YFN0. Acesso em: 5 ago. 2022.

  1. Qual é a principal informação do texto anterior?
  2. De acôrdo com o que você estudou o crescimento econômico dos países pertencentes a África Subsaariana se deve a quais fatores?
  3. Qual é a relação entre a exploração de recursos minerais no continente africano e a presença de investidores estrangeiros?