CAPÍTULO 26 Os conflitos na África

O continente africano tem sido palco de intensos conflitos causados por disputas étnicas e territoriais, que envolvem questões históricas e políticas ligadas ao processo de formação dos Estados nacionais africanos.

Durante aproximadamente três séculos, a partir do século dezesseis, muitos africanos foram escravizados e levados de modo forçado para trabalhar nas colônias europeias. Depois, nas últimas décadas do século dezenove, a África passou a ser efetivamente ocupada e explorada pêlas potências marítimas e industriais europeias. Essas metrópoles tinham interêssis estritamente econômicos e visavam explorar, em grande escala, os recursos naturais da África, como o ouro e o diamante, e utilizar suas terras para o cultivo de lavouras tropicais, como chá, café e cacau. Assim, em 1885, a Conferência de Berlimglossário estabeleceu a partilha do território africano entre as potências europeias.

Como fórma de assegurar o domínio sôbre seus territórios, as potências europeias se apressaram em traçar as fronteiras nos domínios coloniais que começavam a ocupar. O mapa desta página mostra como o território africano ficou dividido entre as potências europeias.

Partilha colonial (1885)

Mapa. Partilha colonial (1885). Colônia. Belga: Congo Belga. Inglesa: Gâmbia, Egito, Anglo-Egípcio, Somália, Serra Leoa, Costa do Ouro, Nigéria, Uganda, África Oriental, Rodésia do Norte, Rodésia do Sul, Bechuanalândia, Suazilândia e Basutolândia. Francesa: Marrocos, IFNI, Argélia, Tunísia, África Ocidental Francesa, África Equatorial Francesa, África Equatorial Francesa, Madagascar. Alemã: Camarões, África Oriental Alemã, África Alemã do Sudoeste. Italiana: Líbia, Eritreia, Somália Italiana. Portuguesa: Angola, Moçambique. Espanhola: Rio de Ouro, Guiné Espanhola. Independente: Abissínia, África do Sul. À esquerda, mapa de localização, planisfério destacando a região descrita. No canto superior direito, a rosa dos ventos e na parte inferior, a escala: 720 quilômetros por centímetro.

Fonte de pesquisa: GIRARDI, Gisele; ROSA, Jussara Vaz. Atlas geográfico do estudante. São Paulo: éfe tê dê, 2016. página 132.

Questão 1.

Observe o mapa e identifique:

  1. as nações europeias que ficaram com territórios coloniais mais extensos no continente africano.
  2. os territórios que ficaram sob domínio de Portugal.
  3. quais eram os únicos territórios independentes nessa época?

As fronteiras estabelecidas pelos europeus, no entanto, foram traçadas arbitrariamente sôbre os territórios, sem levar em consideração as áreas ocupadas pêlaspopulações dos diferentes grupos étnicos e culturais que viviam no continente. dêsse modo, as fronteiras estabelecidas passaram a abrigar povos com culturas muito distintas, e até mesmo povos inimigos; por outro lado, separaram povos culturalmente semelhantes. Veja o mapa.

Divisão étnica da África

Mapa. Divisão étnica da África. O continente está inteiro demarcado com limites territoriais dos grupos étnicos africanos com áreas maiores na região norte e menores no centro-oeste. À esquerda, mapa de localização, planisfério destacando a região descrita. No canto superior direito, a rosa dos ventos e na parte inferior, a escala: 830 quilômetros por centímetro.

Fonte de pesquisa: GIRARDI, Gisele; ROSA, Jussara Vaz. Atlas geográfico do estudante. São Paulo: éfe tê dê, 2016. página 132.

A divisão da África entre as metrópoles europeias gerou consequências profundas na organização social, política e econômica dos povos africanos. Os colonizadores impuseram sua língua e seus costumes, julgando inferior a cultura dos povos nativos. Ao tentar resistir à invasão dos europeus, os grupos foram violentamente reprimidos e massacrados pêla superioridade bélica e militar dos colonizadores, que provocaram o extermínio de muitos grupos.

Pintura. Homens montados em cavalos correndo em um campo atacando homens negros que estão entre a relva. Os homens nos cavalos usam fardas azuis e brancas. Os homens negros usam adornos nas cabeças e tecidos ao redor da cintura.
A imagem retrata a Batalha de Ulundi, em 4 de julho de 1879. Nessa batalha violenta, o exército britânico com seus canhões e fuzis, venceram a resistência do povo Zulu.

A descolonização e a eclosão dos conflitos

Quando as colônias africanas iniciaram os processos de independência, ao longo do século vinte, muitos dos limites territoriais dessas colônias foram mantidos, enquanto o poder político e militar foi transferido das metrópoles para as elites locais. Em muitos casos, essas elites se mantiveram no poder por meio de governos autoritários e corruptos.

A desorganização étnico-cultural herdada do traçado dessas fronteiras é uma das principais causas dos inúmeros conflitos e guerras civis que, historicamente, assolam muitos países africanos. Entre conflitos, podemos destacar os ocorridos em Ruanda, Angola, Nigéria e República Democrática do Congo.

Veja, no mapa, a atual di­visão política da ­África e compare-a com o mapa da página 282, que mostra o traçado das fronteiras definidas de acôrdo com os interêssis dos colonizadores. Observe a permanência de algumas das fronteiras.

Divisão política da África na atualidade

Mapa. Divisão política da África na atualidade. Saara Ocidental (parte do território do Saara Ocidental está sob controle de Marrocos), capital: El Aaiún, Marrocos, capital: Rabat, Argélia, capital: Argel, Tunísia, capital: Túnis, Líbia, capital: Trípoli, Egito, capital: Cairo, Senegal, capital: Dacar, Gâmbia, capital: Banjul, Guiné Bissau, capital: Bissau, Serra Leoa, capital: Freetown, Libéria, capital: Monróvia, Guiné, capital: Conacri, Costa do Marfim, capital: Abidjan, Mali, capital: Bamako, Mauritânia, capital: Nouakchott, Níger, capital: Niamel, Burkina Faso, capital: Ouagadougou, Gana, capital: Acra, Togo, capital: Lomé, Benin, capital: Porto Novo, Nigéria, capital: Abuja, Camarões, capital: Iaundê, Chade, capital: N’djamena, Sudão, capital: Cartum, Sudão do Sul, capital: Juba, Guiné Equatorial, São Tomé e Príncipe, capital: São Tomé, Gabão, capital: Libreville, Congo, capital: Brazaville, Cabinda (território pertencente à Angola), República Centro-Africana, capital: Bangui, República Democrática do Congo, capital: Kinshasa, Angola, capital: Luanda, Zâmbia, capital: Lusaca, Malauí, capital: Lilongue, Tanzânia, capital: Dodoma, Ruanda, capital: Quigali, Burundi, capital: Bujumbura, Uganda, capital: Campala, Quênia, capital: Nairóbi, Namíbia, capital: Windhoek, Botsuana, capital: Gaborone, Zimbábue, capital: Harare, Moçambique, capital: Maputo, Suazilândia, capital: Mbabane, África do Sul, capital: Bloemfontein, Lesoto e Pretória, capital: Maseru, Madagascar, capital: Antananarivo, Comores, capital: Moroni, Eritreia, capital: Asmara, Djibuti, capital: Djibuti, Etiópia, capital: Adis Abeba, Somália, capital: Mogadíscio. À esquerda, mapa de localização, planisfério destacando a região descrita. No canto superior direito, a rosa dos ventos e na parte inferior, a escala: 640 quilômetros por centímetro.

Fonte de pesquisa: ATLAS geográfico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: í bê gê É, 2018. página 45.

A elite africana

Ao longo do processo de dominação da África por países da Europa, os europeus contaram com o apôio de determinados grupos africanos, beneficiados durante a dominação. grupos, mais tarde, deram origem a uma elite africana que, em muitos casos, assumiu o poder após a independência de seus países e se manteve nele por meio de governos ditatoriais e corruptos.

O Apartháide

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O Apartháide foi uma política de segregação racial que existiu na África do Sul, na segunda metade do século vinte. A política do Apartháide dividia a população sul-africana em quatro grupos: brancos, bantos (negros), mestiços e asiáticos.

Embora a população branca, de origem europeia, fosse a minoria, era ela que governava o país e estabelecia as leis do Apartháide, que discriminavam as pessoas pêla côr da pele. Entre as várias proibições que marcaram a política do Apartháide na África do Sul à população não branca, ou seja, negros, mestiços e asiáticos, estava de não poder ser proprietários de seus próprios negócios e de não circular fora de áreas que não eram destinadas a êles. Para tanto, era necessário ter um documento especial permitindo o seu acesso.

O regime de segregação racial do Apartháide chegou ao fim no início da década de 1990, depois que diversos países, com o apôio da o êne u, pressionaram o govêrno sul-africano a realizar eleições nas quais os não brancos pudessem participar como eleitores e como candidatos. Na primeira eleição multirracial, em 1994, Nelson Mandela foi eleito o primeiro presidente negro do país.

Atualmente, mais de vinte anos após o fim do Apartháide, o país ainda enfrenta sérias consequências daquele período, principalmente relacionadas às questões sociais que foram agravadas pêla concentração de renda proporcionada pêlo regime político. A maior parte dos negros continua morando nos mesmos bairros pobres em que viviam durante o Apartháide, e a grande maioria das crianças negras continua frequentando escolas segregadas.

Fotografia. Mandela, homem negro de cabelos curtos, brancos, sorrindo. Ele usa uma camisa estampada.
Mandela foi um jovem militante que lutou pêla igualdade racial na África do Sul durante o regime do Apartháide e, por êsse motivo, ficou 27 anos preso. A fôrça dos movimentos contrários ao regime de segregação tomou fôrça quando a prisão perpétua de Mandela foi revogada, e êle foi solto em 1990. O reconhecimento de sua incansável luta antissegregação racial foi coroado com o Prêmio Nobel da Paz em 1993. Mandela faleceu em dezembro de 2013, aos 95 anos de idade. Na foto de 2006, o ativista, também conhecido como “madiba”.

O tema é reticências

Educação em direitos humanos

Diamantes africanos: entre a beleza, a tristeza

O diamante encanta o ser humano há milhares de anos. Há indícios de que na Índia e na Mesopotâmiaglossário , há cêrca de 5 mil anos, os diamantes já eram usados em artefatos empregados em rituais.

Atualmente, o diamante é considerado um dos minerais de mais alto valor comercial no mercado internacional e, por isso, êsse comércio é acessível a apenas uma pequena parcela da população mundial.

Embora êsse mineral encante nossos olhos com sua beleza, sua extração da natureza, em alguns casos, envolve tristezas e a morte de muitas pessoas. Nas últimas décadas do século vinte, muitas minas diamantíferas africanas ficaram sob o domínio de ditadores ou de líderes guerrilheiros que tornaram a exploração de diamantes uma fonte financiadora de guerras e armamento.

Ilustração. Homens trabalhando. Eles repassam bateias um a um, partindo de um ponto no solo, subindo escadas até o topo de uma área elevada. Há alguns homens na parte baixa, um está analisando o conteúdo da bateia, outro caminha e o terceiro está abaixado coletando solo. Há uma pá à direita.
Imagem retratando de modo esquemático como é feita a exploração manual de diamantes.

Diamantes de sangue

Diamantes de sangue ou diamantes de conflitos foram as denominações atribuídas pêla ônu aos diamantes extraídos em áreas controladas por grupos guerrilheiros que se rebelam contra governos reconhecidos pêla comunidade internacional.

No final da década de 1990, a exploração de diamantes para o financiamento de conflitos armados ganhou fôrça na África com a guerra civil em Serra Leoa. Nesse caso, tanto o uso dos diamantes para financiamento da guerrilha quanto as condições desumanas em que as pessoas trabalhavam nas minas diamantíferas no país chamaram a atenção do mundo.

O que se constatou ao longo do tempo é que, além de Serra Leoa, vários outros países africanos, como Zimbábue, Angola, Costa do Marfim e República Democrática do Congo, também utilizavam os diamantes como financiadores de conflitos.

Fotografia. Um diamante transparente e brilhante sobre uma superfície preta.
O diamante é composto por átomos de carbono, formados a aproximadamente 150 quilômetros de profundidade da superfície terrestre em condições de elevadas temperaturas e pressão. Tem a maior dureza encontrada na natureza.

Sistema de Certificação do Processo de químberli ()

Em 2000, vários países produtores de diamantes assinaram um acôrdo com a ônu concordando em suspender o comércio de diamantes provenientes de áreas em que essa exploração financia guerrilhas. êsse é um sistema que visa proteger o comércio ilegal de diamantes, minimizando os problemas socioeconômicos, o sustento de grupos guerrilheiros e a manutenção de conflitos.

Nesse sentido, todos os diamantes comercializados internacionalmente devem ter um certificado fornecido pêlo govêrno do país explorador, contendo pêso, côr, volume e valor. O Brasil assinou êsse acôrdo em 2003.

Converse com os colegas sôbre as questões a seguir.

  1. Você tinha conhecimento dos chamados diamantes de sangue?
  2. Converse com seus colegas sôbre a importância do Sistema de Certificação do Processo de químberli ().
  3. Embora nos dias atuais o trabalho infantil não seja permitido em nosso país, muitas crianças ainda trabalham exercendo atividades que trazem malefícios para suas vidas. Converse com seus colegas sôbre o que poderia ser feito para conscientizar as pessoas de que o trabalho infantil não deve existir.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

Organizando os conhecimentos

  1. Nas últimas décadas do século dezenove, a África passou a ser colonizada pêlas potências marítimas e comerciais europeias. De acôrdo com o que você estudou, explique quais eram os interêssis econômicos das potências europeias.
  2. O que foi e quando ocorreu a Conferência de Berlim?
  3. Quais consequências os povos nativos africanos sofreram em sua organização social e política quando seu território foi partilhado entre as metrópoles europeias no século dezenove?
  4. Durante a exploração colonial, o que ocorria com os povos africanos quando tentavam resistir à invasão dos europeus?
  5. Explique por que, tempos após o processo de dominação da África por países da Europa, determinados grupos africanos foram beneficiados.

Aprofundando os conhecimentos

6. Observe a foto a seguir, que retrata uma situação vivida na África do Sul, em 1985.

Fotografia em preto e branco. Duas escadas paralelas. Há homens negros passando por uma à esquerda e um senhor branco na escada à direita.
  1. Explique o que a foto representa.
  2. Comente quem foi Nelson Mandela e qual sua relação com a situação mostrada na foto.
  3. Quais as principais heranças deixadas pêla situação mostrada na foto?

7. O mapa mostra a distribuição territorial dos grupos étnicos na África e a atual divisão política dêsse continente. Observe os limites indicados pêlas linhas traçadas no mapa. Analise-o atentamente e escreva um texto comentando a afirmação a seguir.

   

    Muitos conflitos territoriais ocorridos no continente africano são herança do colonialismo europeu.

Divisão política atual e limites territoriais dos grupos étnicos africanos

Mapa. Divisão política atual e limites territoriais dos grupos étnicos africanos. Mostrando a divisão atual com os Limites territoriais dos grupos étnicos africanos sobrepostos a ele. À esquerda, mapa de localização, planisfério destacando a região descrita. No canto inferior direito, a rosa dos ventos e a escala: 530 quilômetros por centímetro.

Fontes de pesquisa: ATLAS geográfico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: í bê gê É, 2018. página 45. , Djeimes M. The cultural landscape a introduction to human geography. oitava edição níu Djerzí: pírson eduqueichion, 2005. página 257.

Glossário

Conferência de Berlim
: reunião diplomática realizada na cidade alemã de Berlim, em que se estabeleceu a divisão territorial do continente africano entre as potências europeias.
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Mesopotâmia
: antiga região localizada no atual Iraque, entre os rios Tigre e Eufrates.
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