Capítulo 7 África Antiga: Egito e Cuxe
Vimos na unidade anterior que o ser humano teve origem e se desenvolveu no continente africano há milhões de anos. A África também foi o local de desenvolvimento de grandiosas sociedades, como estudaremos a seguir.
O Egito Antigo
Os primeiros grupos humanos chegaram à região onde se formou o Egito, no vale do rio Nilo, há cêrca de 7 mil anos. Essas populações dedicavam-se principalmente às atividades agrícolas. Ao longo do primeiro milênio de ocupação dêsse território, formaram-se as primeiras comunidades, conhecidas como nomos. Os chefes dos nomos eram denominados nomarcas.
A importância do rio Nilo
Questão 1.
Analise o mapa a seguir e identifique as cidades estabelecidas próximo ao rio Nilo.
O Egito Antigo (c. 3500 a.C.)
Fonte de pesquisa: quínder, rrérman; ríguelmân, Werner. The Penguin Atlas of World History. Lôndon: Pêngüim búks, 2003. página 22.
Vimos que os rios Tigre e Eufrates foram fundamentais para o desenvolvimento das primeiras cidades mesopotâmicas. Ao observar o mapa, podemos perceber que, no Egito Antigo, o rio Nilo teve um papel semelhante, pois garantiu aos nomos elementos fundamentais para o desenvolvimento das comunidades: água, terra fértil e uma diversidade de animais para caça.
O rio Nilo é um dos mais extensos do mundo, com cêrca de .6500 quilômetros de comprimento. Geralmente êle passa por um período de cheia entre os meses de agosto e setembro.
Quando as águas do Nilo baixavam, entre os meses de fevereiro e março, as terras ao redor ficavam com uma camada de nutrientes denominados húmus, que fertilizavam o solo. Além de fornecer ótimas condições para o desenvolvimento da agricultura, o Nilo era uma importante via de transporte, ligando o norte e o sul do Egito.
O primeiro faraó
Com o passar do tempo, os nomos cresceram e se tornaram cidades. Por volta de 4000 antes de Cristo, algumas delas chegaram a abrigar cêrca de 2 mil pessoas.
Conflitos administrativos dividiram essas cidades em dois reinos: o Baixo Egito, localizado no norte da região, e o Alto Egito, localizado no sul.
Em 3200 antes de Cristo, o governante do Alto Egito, Menés, unificou os dois reinos e centralizou o poder em suas mãos, tornando-se o primeiro faraó do Egito.
O faraó
O governante egípcio, chamado faraó, era considerado o representante dos deuses na Terra. Por isso, de acôrdo com a mentalidade religiosa da época, êle deveria governar conforme a vontade das divindades, a fim de garantir o bem-estar de seus súditos.
Natureza e religiosidade
Os antigos egípcios eram politeístas, e a religiosidade deles estava presente em vários aspectos da vida, influenciando suas relações sociais e a fórma como percebiam os fenômenos naturais.
Para os egípcios, adorar os deuses e cumprir os preceitos religiosos eram maneiras de manter o equilíbrio do Universo. Cada um dos deuses representava um elemento da natureza ou um animal importante para a sociedade.
Seth era o deus da desordem, do deserto e da guerra.
hótus era considerado o deus dos céus, e seus olhos representavam o Sol e a Lua.
Questão 2.
Qual é a relação entre a natureza e a religiosidade egípcia?
Sociedade e cotidiano no tempo dos faraós
A seguir, vamos conhecer alguns aspectos do cotidiano da sociedade egípcia.
Os trabalhadores
Diversos trabalhadores atuavam nas cidades egípcias, entre êles os funcionários do govêrno, que auxiliavam o faraó na administração do reino.
Um dos principais funcionários do govêrno era o escriba, responsável pêlo registro da arrecadação de impostos, da produção agrícola e dos censosglossário populacionais. Os escribas desfrutavam de grande prestígio, pois dominavam os conhecimentos da leitura e da escrita.
Havia também os militares, encarregados de proteger a população e os limites territoriais do Egito em caso de invasão. Os soldados também participavam de guerras contra outros povos e viajavam em expedições comerciais, protegendo os mercadores egípcios.
Entre os trabalhadores urbanos havia, por exemplo, os comerciantes e os artesãos, que podiam ser joalheiros, sapateiros, ferreiros, oleirosglossário . Seus conhecimentos geralmente eram passados de geração para geração.
Os camponeses representavam a maioria da população e eram os responsáveis pêlo cultivo de produtos alimentícios. Grande parte dêsses alimentos era produzida no campo, entre êles trigo, cevada, uvas, figos e rabanetes.
A vida após a morte
Os egípcios tinham a crença na vida após a morte, e diversos vestígios arqueológicos indicam grande preocupação com o sepultamento dos mortos.
O corpo da maioria das pessoas era sepultado em pequenos túmulos. Já os faraós e os membros das camadas mais altas da sociedade costumavam ser sepultados em grandes construções, as pirâmides.
A pirâmide era o local onde, após a morte, o espírito aguardava o momento de voltar à vida em outro mundo. Por isso, junto ao corpo, eram depositados diversos pertences e objetos de uso cotidiano.
Junto ao corpo do faraó, eram depositadas também estatuetas, chamadas ushebtis, que representavam seus súditos. Os egípcios acreditavam que esses súditos serviriam e protegeriam os faraós após a morte.
Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.
Transcrição do áudio
[Diego]
A religiosidade para os egípcios
[Ana]
[tom de voz animado]
Olá! Bem-vindos ao nosso podcast “De olho na História”.
[Diego]
[tom de voz animado]
Olá, Ana! Olá, pessoal!
[Ana]
[tom de voz divertido]
No episódio de hoje, vamos viajar até o Egito, escavar túmulos antigos, descobrir algumas múmias... Vai ser divertido, não acha, Diego?
[Diego]
[tom de voz fingindo medo]
Bem, eu gosto de História, do Egito Antigo, mas essa conversa de descobrir múmias não é comigo, não…
[Ana]
[risos, depois tom de voz explicativo]
[risos]
Falando sério, a gente vai conversar sobre como a religião dos antigos egípcios entendia o processo da morte.
[Diego]
[tom de voz explicativo]
Perfeito, Ana! Para aprofundar esse tema, vamos começar pela lenda de Anúbis, o deus da vida após a morte.
[Ana]
[tom de voz explicativo]
Sim! Mas, antes, é preciso lembrar que os antigos egípcios eram politeístas, cultuavam vários deuses. E a religiosidade estava presente em muitos aspectos de suas vidas.
[Diego]
[tom de voz explicativo]
Boa, Ana! Anúbis também era considerado deus da mumificação e dos ritos funerais, guardião de tumbas e cemitérios. Era representado com corpo humano e cabeça de chacal.
[Ana]
[tom de voz explicativo]
Essa forma de representação é chamada de antropozoomórfica. Vários deuses egípcios eram representados assim: parte do corpo era humana; outra parte, animal.
[Diego]
[tom de voz explicativo]
Como em toda mitologia, as histórias costumam ter variações. No caso de Anúbis, na versão que se tornou mais conhecida, ele aparece como filho dos deuses Osíris e Néftis.
[Ana]
[tom de voz explicativo]
Só que Osíris era casado com Ísis, e Néftis era esposa de seu irmão Set, deus do caos e da guerra.
[Diego]
[tom de voz sério e explicativo]
Pois é, ao descobrir a traição, Set terminou por matar Osíris. Coube, então, a Anúbis a tarefa de embalsamar o corpo. Considerado o primeiro embalsamador, Anúbis se tornou, então, o deus da mumificação.
[Ana]
[tom de voz explicativo]
Umas das características da religiosidade dos egípcios era a crença de que a vida não terminava com a morte. Eles achavam que era preciso preservar o corpo para usufruir dele na outra vida. Daí a prática da mumificação.
[Diego]
[tom de voz sugestivo]
Muitas múmias egípcias já foram descobertas. Na internet, a gente encontra diversas imagens de corpos mumificados, envolvidos por faixas. Procurem dar uma olhada. Mas, Ana, como era feita a mumificação?
[Ana]
[tom de voz explicativo]
Primeiro, o cérebro e as vísceras do morto eram retirados e guardados em vasos chamados canopos. O coração ficava no corpo, pois era considerado o centro da consciência.
[Diego]
[tom de voz explicativo]
Em seguida, os egípcios passavam produtos na pele do cadáver, para desidratar e conservar o corpo.
[Ana]
[tom de voz explicativo]
Depois de 70 dias, aproximadamente, o corpo era preparado, recebia perfumes e, então, era enfaixado e depositado em caixões de madeira chamados sarcófagos.
[Diego]
[tom de voz explicativo]
O custo desse processo era bem alto. E como nem todos podiam pagar por ele, havia um processo mais simples, feito com produtos mais baratos, para as pessoas pobres.
[Ana]
[tom de voz decepcionado]
Infelizmente, essas múmias não se preservaram. As que já foram encontradas são de pessoas de classes abastadas, mumificadas pelo processo mais caro.
[Diego]
[tom de voz explicativo]
Inclusive, pela análise dos túmulos, os pesquisadores conseguem saber qual era a posição social do morto.
[Ana]
[tom de voz explicativo]
Verdade! Bem, junto do corpo mumificado, além de objetos pessoais, eram colocados textos com orações, feitiços e desenhos, para ajudar o morto em sua viagem ao outro mundo.
[Diego]
[tom de voz explicativo]
Esses textos formavam uma espécie de guia de proteção chamado “Livro dos Mortos”.
[Ana]
[tom de voz explicativo]
Eles acreditavam que esses textos ajudariam o morto a vencer possíveis obstáculos no pós-morte, apontando o caminho da verdade e da justiça.
[Diego]
[tom de voz explicativo]
A alma do morto, então, seria levada por Anúbis para o Tribunal de Osíris, onde seria julgada. Ela deveria relatar que não havia cometido nenhuma infração às leis egípcias.
[Ana]
[tom de voz explicativo]
Para verificar se a alma dizia a verdade, seu coração era colocado em uma balança e deveria ser mais leve do que uma pena de avestruz, a pena da verdade e da justiça.
[Diego]
[tom de voz explicativo, alegre]
Se o coração do morto fosse mais leve que a pena da verdade, ele poderia entrar no Duat, o submundo dos mortos governado por Osíris.
[Ana]
[tom de voz explicativo, pesaroso]
Mas, se o coração pesasse mais que a pena, a cabeça do morto seria devorada por Sobek, um deus com cabeça de crocodilo.
[Diego]
[tom de voz conclusivo]
É, a religiosidade era levada muito a sério pelos antigos egípcios.
[Ana]
[tom de voz conclusivo]
Ela regulava tanto as normas da vida como as da morte.
[Diego]
[tom de voz de encerramento]
Bem, por hoje paramos aqui.
[Ana]
[tom de voz de encerramento]
Aproveitem para pesquisar mais sobre a religiosidade no Egito Antigo. Até a próxima!
[Diego]
[tom de voz de encerramento]
Tchau, pessoal!
[Narrador] O áudio inserido neste conteúdo é da Incompetech.
O processo de mumificação
Para os egípcios, o corpo das pessoas sepultadas nas pirâmides precisava ser conservado até que elas retornassem à vida. Por isso, o corpo passava por um processo de mumificação, feito pelos embalsamadores. Observe.
A ilustrações sôbre o processo de mumificação são representações artísticas produzidas com base em pesquisas históricas.
Fonte de pesquisa: Rrárvi, Gill; REID, Struan. The Usborne Encyclopedia of Ancient Egypt. Lôndon: Usborne pãblichin, 2001. página 62.
Investigando fontes históricas
A produção agrícola no Egito Antigo
No Egito Antigo, o trabalho agrícola fazia parte do dia a dia da maioria da população e envolvia diferentes atividades. O cultivo da uva, por exemplo, era dividido em diversas etapas e era feito por vários trabalhadores. Essa atividade era fundamental para a produção do vinho.
Vamos analisar, a seguir, uma fonte histórica que mostra como era realizado o cultivo da uva no Egito Antigo. A pintura encontra-se na tumba de nact, na antiga cidade de Tebas, e foi produzida por volta de 1421-1413 antes de Cristo
A. A plantação de uvas, também chamada de vinha, estava geralmente situada nas proximidades do rio Nilo.
B. A colheita da uva, também chamada de vindima, ocorria geralmente no final de julho.
C. Depois de colhidas, as uvas eram pisoteadas e esmagadas pelos trabalhadores, para que o líquido pudesse ser extraído da fruta.
D. O líquido obtido das uvas era fermentado e colocado em jarras de cerâmica, que, depois, eram lacradas.
E. Jarras de cerâmica para armazenar vinho. Muitas delas apresentavam inscrições parecidas com rótulos contendo o ano de produção, o tipo de vinho, a qualidade, a origem e o nome do proprietário.
Além das uvas, outro produto cultivado no Egito Antigo era o trigo, ingrediente utilizado no preparo de alguns alimentos, como os pães.
A fonte a seguir representa as etapas de cultivo e de produção do trigo, em que podemos identificar uma das ferramentas desenvolvidas pelos egípcios para aumentar a produtividade agrícola: o arado. Essa ferramenta permite revolver o solo para que êle fique mais propício ao crescimento das raízes e das plantas.
Analise a imagem a seguir e depois faça as atividades.
1. Copie em seu caderno o quadro a seguir e complete-o com as letras correspondentes às etapas do cultivo do trigo, identificadas na imagem por a, B, C e D.
O solo era arado pelos trabalhadores com o auxílio de enxadas. |
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Os animais também eram utilizados no processo. Nesse caso, os bois puxavam o arado. |
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A colheita do trigo era feita com as mãos e com a ajuda de foices. |
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O trigo era armazenado e transportado em grandes cestos. |
2. Compare a imagem desta página com a da página anterior. Quais são as semelhanças entre elas? E as diferenças?
3. Faça uma pesquisa sôbre o cultivo de uva e de trigo na atualidade. Depois, escreva um texto comparando o cultivo dêsses produtos no Egito Antigo e na atualidade.
O Reino de cuxe
Na região da Núbia, localizada há alguns quilômetros ao sul do Egito, havia diversas riquezas naturais, como jazidas de ouro e de pedras preciosas, além de um solo fértil. Seus moradores, chamados de cuxitas, praticavam o comércio, a agricultura, a mineração e a pecuária. Nessa região, por volta do ano 1800 antes de Cristo, desenvolveu-se o Reino de cuxe, que tinha como capital a cidade de Querma. Analise o mapa da região da Núbia.
Os egípcios mantinham relações comerciais com os cuxitas, adquirindo produtos como cereais, peles de animais e minérios, principalmente ouro e ferro. Porém, em 1570 antes de Cristo, os egípcios invadiram e dominaram Querma, transformando o Reino de cuxe em uma colôniaglossário egípcia.
Pessoas consideradas criminosas ou que haviam sido aprisionadas em guerras também podiam ser enviadas de cuxe para o Egito, onde eram escravizadas.
A região da Núbia (cerca de 1000 a.C.)
Fonte de pesquisa: blék, diéremi ( edição). World History Atlas. Lôndon: dórlin Kindersley, 2005. pê ponto 30-31.
Questão 3.
Quais cidades cuxitas foram representadas no mapa?
A escravidão em Cuxe
Na sociedade cuxita, muitos trabalhos eram realizados por pessoas escravizadas. Essas pessoas, em sua maioria prisioneiras de guerra, podiam trabalhar na agricultura, com artesanato ou no exército, como era o caso dos arqueiros que estão representados na imagem.
A formação de um novo reino
Por volta de 1070 antes de Cristo, o Egito foi abalado por crises políticas, seguidas de revoltas populares e ondas de fome. Nessa época, aproveitando a fragilidade de seus dominadores, os cuxitas articularam uma invasão militar no Egito para reconquistar sua autonomia.
Os cuxitas se reorganizaram politicamente e deram início à formação de um novo reino, com capital em Napata. Fortalecidos, êles passaram a conquistar outras regiões, até que, por volta de 730 antes de Cristo, dominaram todo o Egito. Essa dominação durou aproximadamente 100 anos.
Nesse período, os governantes cuxitas ficaram conhecidos como faraós negros.
A influência egípcia em Cuxe
Após séculos de contatos, de relações comerciais e de disputas entre Núbia e Egito, muitos elementos da cultura egípcia foram incorporados pelos cuxitas.
Durante o período dos faraós negros, por exemplo, tornou-se comum na Núbia o costume de construir pirâmides e templos religiosos. Além disso, êles mumificavam os mortos e faziam pinturas tumulares.
Méroe
Durante o século seis antes de Cristo, os egípcios expulsaram os cuxitas de seu território e invadiram Napata. Com isso, os cuxitas transferiram sua capital para Méroe, cidade que ficava mais distante do Egito. Além disso, Méroe possuía solos férteis e estava localizada perto de importantes rotas comerciais.
A agricultura e o comércio
A região de Méroe era formada por extensas planícies férteis e úmidas. No verão, ocorriam chuvas abundantes, por isso um sistema de irrigação foi desenvolvido para aproveitar as águas do rio Nilo.
Há indícios de que o comércio era bastante desenvolvido na nova capital. Em escavações arqueológicas foram encontrados grandes depósitos de madeira e de marfim na antiga cidade de Méroe, indicando que estes podem ter sido alguns dos principais produtos comercializados. Outros produtos, como ouro, peles de animais e artigos artesanais, também faziam parte dêsse comércio.
Com o grande fluxo comercial, os cuxitas estabeleceram contato e intercâmbio cultural com outros povos, como os sírios, os persas, os indianos, os gregos e os romanos.
Vários aspectos da cultura cuxita revelam a influência de outros povos. Na arquitetura desta construção é possível identificar traços de influência greco-romana, como o estilo das colunas.
O modo de vida nas vilas e nas cidades cuxitas
Muitas vilas e cidades cuxitas desenvolveram-se às margens do rio Nilo. Nelas, havia uma grande variedade de habitações, revelando as diferenças sociais entre seus moradores. O interior das casas era simples, contendo poucos móveis. A cerâmica era amplamente utilizada nessas residências. De modo geral, as pessoas mais pobres utilizavam cerâmicas produzidas pêlas mulheres da família. Já as famílias mais ricas compravam cerâmicas prontas, muitas vezes importadas do Egito.
As vestimentas cuxitas também revelavam diferenças sociais. As pessoas mais ricas andavam calçadas e se vestiam com linho ou tecidos de algodão, em sua maioria na côr branca. As pessoas mais pobres andavam descalças e se vestiam apenas com pedaços de couro.
A escrita meroíta
Os cuxitas desenvolveram um sistema de escrita que ficou conhecido como escrita meroíta. Inicialmente, êsse sistema foi inspirado na escrita egípcia, mas, ao longo do tempo, tornou-se bastante diferente de seu modêlo inspirador.
A escrita meroíta ainda não foi totalmente decifrada, e muitos estudiosos continuam trabalhando para compreendê-la.
Por essa razão, não é possível entender o significado de vários documentos escritos produzidos no Reino de cuxe, o que dificulta conhecer parte de sua história. Apesar disso, a análise de outros vestígios arqueológicos também pode fornecer pistas sôbre os cuxitas, o que possibilita a continuidade das pesquisas históricas.
As candaces
As mulheres da família real tinham um papel importante no govêrno do Reino de cuxe. As rainhas cuxitas recebiam o nome de candaces, ou rainhas-mães.
Não se sabe exatamente a influência que elas tiveram em todos os períodos da civilização cuxita. Há indícios de que inicialmente as candaces cuidavam da organização familiar, mas aos poucos passaram a ocupar cargos na vida pública.
Diversas rainhas-mães chegaram a assumir o poder político do reino. Muitas delas se tornaram famosas, sendo conhecidas também em regiões distantes.
As imagens nas paredes de templos e de pirâmides confirmam a importância das rainhas-mães. Elas eram representadas em posições de destaque, muitas vezes demonstrando fôrça e poder.
Questão 4.
Verifique a fonte histórica Estela, do século um antes de Cristo, e identifique como é possível relacionar a representação da candace a uma posição de destaque.
História e Arte
Uma homenagem às candaces
A relevância das candaces no Reino de cuxe e a fôrça das mulheres negras na atualidade inspiraram a escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, do Rio de Janeiro, a produzir um samba- enrêdo para homenageá-las no desfile do Carnaval de 2007. Leia o texto a seguir, que aborda o tema escolhido e nos permite perceber como as candaces estão presentes na memória e na história da cultura afro-brasileira.
reticências
O carnavalesco Renato Lage para 2007 optou por um resgate das origens da escola, que sempre se notabilizou e se destacou por enredos com temática africana. reticências “Candaces” foi o enrêdo escolhido, contando a saga da dinastia de rainhas da África Oriental, muito antes de Cristo. [De acôrdo com Renato Lage e Márcia Lavia]:
“ reticências o Salgueiro vem desvendar em seu enrêdo a história das Candaces, dinastia de rainhas da África Oriental que comandaram, antes da era cristã, um dos mais prósperos impérios do continente.
Mais do que uma linhagem de rainhas, Candace torna-se um conceito, através do qual a fôrça da mulher negra se faz presente em lutas, conquistas e no legado matriarcal que venceu o tempo e as distâncias.”
reticências
MIGÃO, Pedro. Candaces. Galeria do Samba, Rio de Janeiro, 3 maio 2011. Disponível em: https://oeds.link/2WiwOD. Acesso em: 10 março 2022.
Agora, responda à questão a seguir.
Em sua opinião, qual é a importância das candaces para a representatividade feminina afro-brasileira na atualidade? Você conhece outra manifestação cultural que faz referência às mulheres negras ou à ancestralidade africana? Converse com os colegas.Sítios arqueológicos de Méroe
Os vestígios deixados pelos cuxitas têm fornecido muitas informações sôbre essa civilização. A antiga cidade de Méroe, que foi capital do Reino de cuxe, possui diversos sítios arqueológicos. Esses sítios arqueológicos, por sua importância cultural, foram declarados Patrimônio Cultural da Humanidade pêla unêsco, em 2011.
Nesses lugares, já foi encontrada imensa variedade de objetos e construções, incluindo pirâmides, templos religiosos, palácios e oficinas.
O grande número de templos e de representações de divindades encontrados nesses sítios indica a importância que a religiosidade tinha para os cuxitas. Entre as divindades, havia o deus leão, Apedemak, considerado o deus da guerra.
unêsco
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura ( unêsco) é uma instituição que, entre outras atividades, incentiva a preservação de bens culturais e naturais considerados de grande valor para a humanidade.
Descobertas arqueológicas em Cuxe
Assim como acontece com diversas civilizações antigas, o trabalho arqueológico é fundamental para esclarecer a história cuxita.
Por meio da escavação de cemitérios e de túmulos reais, por exemplo, os arqueólogos obtiveram informações sôbre os costumes funerários dessa sociedade. Entre os fatos que puderam observar, êles notaram que rainhas e reis eram comumente sepultados com objetos que demonstrassem seu poder e sua riqueza. Além dêsse aspecto, as joias encontradas nos túmulos evidenciam que os artesãos cuxitas tinham alto nível técnico e artístico.
Grande quantidade de cerâmicas e de fornos para produzi-las também foi encontrada pelos arqueólogos. Isso indica que a cidade foi um importante centro de fabricação e de comercialização de produtos cerâmicos.
Há indícios de que existiam também muitos marceneiros e escultores na cidade. Por causa dêsse número expressivo de artesãos, os arqueólogos acreditam que o comércio pode ter sido uma das principais atividades econômicas do Reino de cuxe.
Grande parte do conhecimento sobre os cuxitas foi obtida por meio de estudos arqueológicos, e ainda há muito para descobrir. Portanto, para que se conheça mais sôbre a história de cuxe, é fundamental a preservação dêsse patrimônio.
Atividades
Faça as atividades no caderno.
Organizando os conhecimentos
- Como ocorreu a unificação do Egito Antigo?
- Quais eram as principais características da religiosidade dos antigos egípcios?
- Qual era a ideia que os antigos egípcios tinham sôbre a morte?
- Copie o quadro a seguir no caderno, completando-o com as funções exercidas pelos trabalhadores do Egito Antigo. Leia o exemplo.
Militares |
Protegiam a população e os limites territoriais do Egito, além de acompanhar comerciantes em expedições e participar de guerras. |
---|---|
Trabalhadores urbanos |
|
Camponeses |
5. Em seu caderno, produza um pequeno texto com as palavras do quadro a seguir.
mulheres • papel • cuxita • sociedade • candaces • govêrno
- Leia as alternativas a seguir, identifique a correta e copie-a em seu caderno.
- A escravidão em cuxe era uma prática comum. A principal fórma de escravizar um indivíduo ocorria por meio da cobrança de dívidas.
- Por volta de 730 antes de Cristo, os cuxitas dominaram todo o Egito. Essa dominação durou cerca de 100 anos. Os governantes cuxitas dêsse período eram chamados de faraós negros.
- A escrita meroítica era completamente original, sem influências de outros povos, tendo sido decifrada pelos historiadores durante o século dezenove.
- As trocas comerciais e as culturais estabelecidas pelos cuxitas limitaram-se às cidades da região da Núbia, sem estabelecer contato com outros povos.
7. Identifique as capitais cuxitas a seguir e relacione cada uma delas à definição correspondente.
A. Napata
B. Méroe
C. Querma
1. Capital do reino durante o período de invasão cuxita no Egito.
2. Primeira capital cuxita, criada por volta de 1800 antes de Cristo
3. Nova capital do reino, instituída após a expulsão dos cuxitas do Egito.
Aprofundando os conhecimentos
8. Leia o texto a seguir, analise a imagem e, depois, responda às questões.
Durante a Antiguidade, o [Reino de cuxe] foi considerado uma das regiões mais ricas do mundo conhecido. reticências A produção do ouro deve ter constituído uma ocupação importante reticências. Recentes escavações realizadas em Méroe e Mussawarat es-Sufra revelaram templos com muros e estátuas folheados a ouro. Além de constituir uma das principais fontes de riqueza e de grandeza do reino, a exportação do ouro exerceu grande influência sôbre as relações com o Egito e Roma. Calcula-se que, durante a Antiguidade, [ cuxe] produziu cêrca de .1600 000 kg de ouro puro [...].
mórr-tar, Gamal ( edição). História geral da África, dois: África Antiga. 2. edição Brasília: unêsco, 2010. página 314.
- De acôrdo com o texto, qual metal era a fonte de riqueza do Reino de cuxe? Na relação com quais povos a exportação dêsse metal exerceu influência?
- Conforme o texto e a imagem, para que esse metal podia ser utilizado?
9. Os egípcios utilizavam uma escrita baseada em hieróglifos, símbolos que podiam representar ideias gerais ou o som das palavras. No século dezenove, o pesquisador Jan-François champolión analisou a Pedra de Roseta, fragmento de uma estela que continha inscrições em três idiomas. Com base nos estudos dêsse pesquisador, foi possível decifrar os hieróglifos egípcios. Observe a fonte e os detalhes apresentados de algumas de suas inscrições.
• Junte-se a um colega e, com base nessas informações, pesquise sôbre como a escrita dos antigos egípcios foi decifrada. Vocês podem utilizar diferentes fontes de informação nessa pesquisa, como livros, revistas, sites, podcasts ou mesmo programas de televisão que tratam do assunto. Procurem também por outras fotos da Pedra de Roseta e identifiquem nelas os hieróglifos egípcios e a escrita grega. Reúnam essas informações em um cartaz, que pode conter ilustrações, fotos e textos criados por vocês ou retirados das fontes utilizadas. Por fim, expliquem qual é a importância da tradução dos hieróglifos para o estudo da história egípcia.
10. A mumificação era um processo muito importante para a religiosidade egípcia da Antiguidade. Analise a imagem a seguir e responda às questões.
- Como é possível descrever a múmia presente na imagem?
- Qual era o significado da mumificação para os egípcios?
- Quais grupos sociais eram mumificados no Egito Antigo?
11. Analise a imagem a seguir, que mostra um sítio arqueológico cuxita, e responda às questões.
- Quais elementos estão presentes na imagem do sítio arqueológico?
- Como a imagem reforça a relação entre o Reino de cuxe e o Egito Antigo?
- Por que os cuxitas tinham características culturais e políticas semelhantes às dos egípcios?
- Que outras influências egípcias presentes na cultura cuxita podemos citar?
Glossário
- Censo
- : coleta de dados, contagem para fins de informação e contrôle.
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- Oleiro
- : ceramista.
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- Necrópole
- : cemitério.
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- Colônia
- : neste caso, cidade ou reino ocupado e administrado por outro, localizado além de seu território.
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- Nobre
- : que pertence à nobreza, grupo que detém o poder político e privilégios herdados por nascimento.
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- Estela
- : monumento, coluna ou placa em que os povos da Antiguidade faziam inscrições.
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- Antropozoomórfico
- : que apresenta características humanas e de outros animais.
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