UNIDADE 3 Os povos da África

Fotografia. Mulheres negras, com tecido branco na cabeça e ao redor do corpo, estão em um palco, com a boca próxima a microfones. À direita, homem com turbante tocando um tambor. Atrás, pendurado em um monumento de pedra, um cartaz com a seguinte inscrição: FESTIVAL VIVRE ENSEMBLE. TOMBOUCTOU. THEME: L'ÚTILTÉ DU PATRIMOINE CULTUREL DANS LA CONSOLIDATION DE LA PAIX.
Grupo de mulheres cantando canções tradicionais durante um festival de música, em Tombuquitú, Mali, em 2020.

Entre os séculos cinco e quinze, existiram no continente africano reinos e impérios com diferentes fórmas de organização política, social e econômica.

Estudar a grande diversidade de povos e culturas que formavam reinos e impérios pode contribuir para entendermos também alguns aspectos da nossa história e de nossa cultura.

Iniciando a conversa

  1. Descreva as pessoas retratadas na foto. Quais elementos indicam que se trata de um grupo de cantoras?
  2. Em sua opinião, a música é importante para as comunidades tradicionais da África? Justifique.
  3. Você conhece grupos que, como êsse, buscam preservar suas tradições culturais, como a música? Comente com os colegas.

Agora vamos estudar...

  • aspectos da diversidade cultural, religiosa, política e econômica na África;
  • os principais reinos e impérios africanos;
  • aspectos da música tuaregue;
  • a importância dos griôs e da tradição oral.

CAPÍTULO 6 Conhecer a história da África

Você sabia que a história do Brasil é intimamente ligada à história do continente africano? Mas de que fórma isso acontece?

De acôrdo com um ponto de vista sociocultural, o Brasil pode ser definido como um país de grande diversidade cultural em têrmus religiosos, artísticos, musicais, culinários etcétera Diversas características físicas e costumes dos brasileiros foram herdados dos africanos. Entre os séculos dezesseis e dezenove, milhões de africanos foram trazidos para o Brasil por meio do tráfico atlântico, como estudaremos mais adiante. Essas pessoas, de diferentes culturas, foram importantes agentes formadores do que chamamos hoje de povo brasileiro.

Muitos alimentos, ritmos musicais, palavras, técnicas e tecnologias, costumes e religiões que estão no cotidiano brasileiro são de origem africana. Portanto, estudar a história dêsses povos é também conhecer mais a história do Brasil.

Além disso, ao saber mais sôbre algumas sociedades africanas do passado e a permanência de muitos de seus costumes no presente, é possível compreender melhor a riqueza étnica e cultural do continente africano. Analise a foto a seguir.

Fotografia. À esquerda, um homem negro, com roupas brancas e um cordão azul preso na cintura, está de costas com a perna esquerda estendida no ar e a outra perna no chão. Ao lado, uma mulher negra usando roupas brancas. Ela está inclinada com a perna esticada em direção ao homem. Atrás, outras pessoas com roupas brancas, uma delas está segurando um berimbau, e os outros batendo palma.
Roda de capoeira no bairro Amaralina, Salvador, Bahia, em 2019.
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Questão 1.

Você já presenciou ou participou de uma manifestação cultural de origem africana? Converse com seus colegas sôbre isso.

Sociedades e culturas da África

Ao longo do tempo, os povos africanos desenvolveram uma grande diversidade de culturas e de conhecimentos, como a metalurgia, o artesanato, a música, entre outros.

Muitos dêsses conhecimentos foram trazidos para o Brasil pelos africanos e se transformaram com o passar do tempo, ganhando, por vezes, novos significados de acôrdo com o contexto histórico vivido.

sôbre êsse assunto, leia, a seguir, o texto da historiadora brasileira Marina de Mello e Souza.

reticências Perceber a variedade das sociedades africanas pode nos ensinar a conviver com a pluralidade que nos compõe, sem atribuir hierarquias aos diferentes grupos culturais. Pode nos ajudar a vencer preconceitos herdados de tempos passados e construir um futuro no qual existam condições de vida mais igualitárias.

SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2007. página 169.

Por meio do estudo da história da África, podemos aprender a valorizar a diversidade e a riqueza da cultura africana, além de promover valores como o respeito, a tolerância e a solidariedade.

Luanda, na Angola, foi colonizada pelos portugueses a partir do século dezesseis. Nessa região, estava localizado um dos principais pontos de partida de africanos que foram trazidos para o Brasil. Atualmente, essa cidade é um importante centro econômico do país.

Fotografia. vista de cidade com duas avenidas onde passam alguns carros. À esquerda, orla da praia, várias palmeiras e, ao fundo, o mar. À direita, prédios grandes.
Vista da capital da Angola, Luanda, em 2021.

A diversidade do continente africano

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A África é o terceiro maior continente do planeta em extensão territorial, com aproximadamente 30 milhões de quilômetros quadrados, o que equivale a cêrca de quatro vezes o tamanho do Brasil. Tem uma grande diversidade de povos, de diferentes etnias, culturas, línguas e religiosidades por todo o seu território.

êsse continente é banhado pelos oceanos Índico e Atlântico e tem enorme diversidade natural.

Vegetação na África (século XXI)

Mapa. Vegetação na África (século 21). Mapa territorial do continente africano, destacado conforme a legenda: Florestas: Porção que vai da costa oeste até a parte central do continente, cortada pelo Rio Congo, Rio Niger e Rio Volta. Pequena faixa de terra na costa sudeste e parte leste da ilha de Madagascar. Savanas: Pequena faixa na região norte. Pequena porção na região nordeste, cortada pelo Rio Nilo. Grande faixa que atravessa o continente de oeste à leste, com concentração de terras na região leste. A faixa é cortada pelo Rio Volta, Rio Niger, Rio Benue, Rio Nilo e Rio Congo. Nesta localização, encontra-se o Lago Vitória, Lago Tangancia e Lago Maláui. Há também uma pequena faixa de terra no sul e parte oeste da ilha de Madagascar. Estepes: Grande faixa de terra que atravessa o continente de oeste à leste com concentração de terra na porção leste, cortada pelo Rio Nilo. Porção de terra na região sul do continente e parte sul da ilha de Madagascar. Vegetação mediterrânea: Pequena faixa de terra no extremo norte e pequena porção de terra no extremo sul do continente. Deserto: Grande área na região norte, atravessando o continente de oeste à leste, e pequena porção de terra na região sul e leste. Oásis: Pequenos pontos no Deserto, localizado na região norte. Na parte superior à direita, planisfério destacando a África e partes da Ásia e Europa. À esquerda, representação da rosa dos ventos e, abaixo, escala de 790 quilômetros por centímetro.

Fonte de pesquisa: blék, diéremi. World history atlas. Londres: dórlin , 2005. página 155.

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Questão 2.

Quais rios representados no mapa atravessam a vegetação das estepes?

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Questão 3.

Em qual área do continente está concentrada a maior parte do deserto?


Desde a Antiguidade, rios como o Nilo, o Congo e o Níger foram importantes para o desenvolvimento da agricultura, para a formação de cidades e reinos e para a circulação de pessoas e mercadorias.

O deserto do Saara, ao norte do continente, era habitado por diversas sociedades nômades, seminômades e sedentárias, que se dedicavam a atividades agrícolas, pastoris e comerciais.

Há mais de .2500 anos, nas regiões de savanasglossário e florestas, ao sul do Saara, na chamada África Subsaariana, desenvolveram-se sociedades formadas por caçadores, coletores e sedentários que criaram técnicas agrícolas e metalúrgicas.

Formas de organização social e política

As sociedades africanas adotaram, ao longo de sua história, diversas fórmas de organização social e política, com a existência desde pequenas comunidades reunidas em aldeias até grandes impérios formados por vários reinos.

Em diversas sociedades africanas, como a dos zulus, o membro mais experiente da aldeia era considerado o chefe da comunidade. A êle eram atribuídas responsabilidades como julgar crimes, distribuir terras às famílias e liderar os guerreiros em épocas de guerra. A maioria das sociedades africanas baseava-se na fidelidade a êsse chefe e nas relações de parentesco. Por meio dos casamentos, por exemplo, determinada aldeia poderia aliar-se a outra.

Quando ocorriam guerras, era comum que as aldeias se aliassem, formando confederaçõesglossário . Nessa fórma de organização, as decisões eram tomadas por um grupo de representantes das aldeias que se reuniam em um conselho.

Algumas sociedades constituíam reinos, sob a responsabilidade de um chefe com mais poder (o rei) e com autoridade sôbre os demais chefes. Nos reinos, havia uma capital onde se concentravam a administração e o centro comercial, com grande circulação de pessoas e de mercadorias.

Gravura em preto e branco. Pessoas montadas em camelos e cavalos, outras pessoas de pé. Elas estão de costas caminhando em uma estrada em direção de uma cidade com uma torre central e moradias ao redor.
Gravura extraída do jornal Le Tour du Monde, de 1860, que representa uma caravana de comerciantes chegando à cidade de Tombuquitú, então capital do Império Mali.

O comércio e a relação entre os povos

As trocas comerciais foram muito importantes no cotidiano dos povos africanos desde a Antiguidade, pois possibilitavam acesso a diversos tipos de mercadorias, mesmo as que só eram produzidas em regiões mais distantes. As comunidades ribeirinhas, que viviam próximas às margens de rios, podiam trocar peixes por grãos produzidos nas savanas; os habitantes das florestas, por sua vez, podiam oferecer tubérculosglossário e receber animais criados nos planaltosglossário . Produtos como ouro, noz-de-colaglossário e marfim podiam ser trocados por sal, tecidos, escravizados, entre outras mercadorias.

O comércio era feito tanto a curta como a longa distância. No comércio a curta distância, geralmente eram realizadas trocas nas regiões vizinhas entre aldeias e cidades próximas. O transporte das mercadorias era feito a pé ou no lombo de burros e camelos.

O comércio a longa distância era realizado por meio das rotas fluviais, ou seja, por rios, ou pêlo deserto, em caravanas de camelos, introduzidos na África a partir do século três. As rotas de comércio que atravessavam o Saara ficaram conhecidas como rotas transaarianas.

Manuscrito. Na parte superior e inferior, texto com elementos da escrita árabe. Centralizado, ilustração de um homem usando chapéu e túnica azul com botões. Ao lado, cinco homens, usando turbante e túnicas coloridas, montados em camelos.
Miniatura do manuscrito Ál ráriri, século , que representa uma caravana de mercadores árabes.

As rotas transaarianas

O deserto do Saara não limitou o comércio dos povos africanos. Diferentes regiões da África foram conectadas por meio de caravanas que cruzavam o deserto. As rotas transaarianas interligavam as economias locais e regionais do Sahelglossário à costa mediterrânea no norte da África. No auge das caravanas, milhares de camelos carregando mercadorias atravessavam o Saara, em viagens que podiam demorar meses.

Rotas transaarianas (século XIV)

Mapa. Rotas transaarianas (século 14). Mapa territorial destacando a região norte da África. Conforme a legenda: Região do Sahel: Faixa que atravessa o continente de oeste à leste, cortada pelo Rio Níger e Rio Nilo e onde se localiza o Lago Chade. Cidades destacadas: Sila, Koumbi Saleh, Tombuctu, Jené, Gaô e Kano. Rotas transaarianas: Rede de caminhos interligando o Lago Chade e as cidades destacadas da Região do Sahel com as cidades destacadas do norte da África: Audagoste, Arguim, Ceuta, Fez, Sijilmessa, Agmate, Azogui, Tagaza, Tadmekka, Túnis, Gadamés, Gate, Agadés, Azelik, Trípoli, Siuá, Dakhla e Kharga. Na parte superior à direita, planisfério destacando parte da África e Europa. À esquerda, representação da rosa dos ventos e, abaixo, escala de 410 quilômetros por centímetro.

Fonte de pesquisa: COSTA E SILVA, Alberto da. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. página 269.

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Questão 4.

Quais cidades da região do Sahel foram representadas no mapa?

As caravanas eram compostas de dezenas, ou até mesmo centenas, de cameleiros, que eram quem conduziam os camelos. Os tuaregues, povos que se dedicavam a essa atividade, tornaram-se grandes conhecedores do deserto; eram hábeis no carregamento dos camelos, na proteção das mercadorias e dos cameleiros, na busca por água etcétera

O sal era o principal produto transportado pêlas caravanas, mas êsse tipo de comércio chegava a ser realizado até mesmo em regiões da Europa e da Ásia, onde havia portos nos quais os produtos chegavam e partiam, como joias, seda, perfumes e artefatos de porcelana. A atividade comercial, assim como as caravanas, foi essencial para a disseminação do islamismo por toda a África, como estudaremos mais adiante.

A escravidão na África antes do século quinze

A escravidão é uma prática muito antiga na história da humanidade e foi praticada de diversas maneiras por vários povos em lugares e épocas diferentes.

Leia o texto a seguir, que aborda a escravidão na África até o século quinze.

reticências Na África, os escravos eram obtidos de várias maneiras: através do aprisionamento de “estrangeiros”, em guerras, sequestros ou compra, tanto de indivíduos expulsos de suas comunidades reticências quanto de membros de comunidades cuja sobrevivência estava ameaçada pêla fome; ou através de sanções aplicadas a membros da própria comunidade de origem por crimes cometidos, como adultério e assassinato, e pêlo não pagamento de dívidas. De qualquer fórma, não importando qual fosse a fórma de escravidão, os cativos sempre eram transformados em estrangeiros, sendo excluídos de seus grupos de parentesco originais e sendo incorporados à sua nova condição de dependentes. Embora os escravos não tivessem estabilidade nas comunidades que os aprisionaram, podiam tornar-se parte das comunidades nas quais eram inseridos, podendo participar da estrutura familiar e exercer funções econômicas.

reticências

MATTOS, Hebe Maria; grínberg, Keila. As relações Brasil-África no contexto do Atlântico Sul. ín: , (coordenação). Introdução à história da África e da cultura afro-brasileira. Rio de Janeiro: Ucâm: : cê cê bê bê, 2003. página 3233.

De modo geral, nas sociedades africanas, a escravização de pessoas era também uma fórma de aumentar o número de súditos de um reino, disponibilizando, assim, mão de obra para obras públicas, ou para fortalecer os exércitos, por exemplo.

Ao ser escravizada, a pessoa era obrigada a se sujeitar ao seu senhor, podendo também ser vendida ou trocada.

Os escravizados costumavam trabalhar na agricultura, na mineração ou prestar serviços domésticos. Alguns chegavam a se tornar militares, funcionários públicos ou comerciantes, conseguindo, em certos casos, acumular riquezas.

Gravura. À esquerda, dois homens negros, usando tecido ao redor da cintura, carregando um bastão na horizontal com um pessoa negra sentada no meio com um guarda-sol. À direita, dois homens negros usando tecido ao redor da cintura, carregando um bastão na horizontal com uma rede pendurada. Há uma pessoa deitada na rede.
Gravura de Antonio Sasso extraída da obra Costumes antigos e modernos de todos os povos do mundo, que representa escravizados carregando membros da elite do Congo, século dezenove.

O conceito de escravidão

A prática da escravidão é histórica, portanto, sofreu mudanças ao longo do tempo e de acôrdo com o lugar onde era praticada.

No entanto, de modo geral, a escravidão pode ser definida como uma condição em que um indivíduo, ao ser escravizado, se torna propriedade de outra pessoa, perdendo o direito de controlar a própria vida e, consequentemente, sendo privado de sua liberdade e dignidade.

Leia algumas características sôbre a escravidão ao longo da história.

A escravidão antiga

Em antigos reinos africanos, como o do Egito e o de Cuxe, era comum que prisioneiros de guerra fossem escravizados e obrigados a trabalhar na agricultura, na construção, no exército ou em atividades em que eram necessários conhecimentos mais técnicos, como na administração de cidades ou na produção artesanal.

Grécia e Roma, civilizações consideradas fundadoras da cultura ocidental, também tinham escravizados. Nessas duas sociedades, por exemplo, um indivíduo era escravizado se fosse prisioneiro de guerra ou se tivesse contraído uma dívida e não tivesse como pagá-la.

Mosaico. À esquerda, um homem, com tecido ao redor da cintura, está de pé, apoiando um barril sobre o ombro e inclinando-o na direção de uma tigela que é segurada por um homem, usando uma roupa com mangas compridas. Atrás, um homem de pé carregando com as mãos alguns objetos.
Detalhe de um mosaico romano do século dois representando um indivíduo escravizado servindo a outras pessoas.

A escravidão e a servidão medieval

Durante a Idade Média na Europa Ocidental (século cinco ao século quinze), já havia bem menos escravizados que durante a Antiguidade. êles moravam em áreas mais afastadas dos castelos dos nobres a quem pertenciam e exerciam diversas atividades. Essa prática, no entanto, era pouco difundida.

Os principais trabalhadores rurais eram os servos, que prestavam serviços e pagavam tributos aos nobres em troca de proteção e de terras para trabalhar. Para os senhores feudais, o sistema servil era mais vantajoso que o escravista, pois havia menos revoltas.

A escravidão moderna

No final da Idade Média, algumas nações europeias estavam expandindo seus territórios, buscando novos locais onde conseguissem tanto matéria-prima como mão de obra. Por isso, nesse período, os escravizados se tornaram mercadorias bastante lucrativas e instaurou-se uma grande rede de tráfico de pessoas que vigorou entre os séculos quinze e dezenove, marcando profundamente a história da humanidade.

Durante a escravidão moderna, como costuma ser chamada a escravidão praticada nesse período, milhões de africanos foram capturados e transportados para lugares distantes, em porões de embarcações (conhecidas como navios negreiros) que cruzavam o oceano Atlântico.

Gravura em preto e branco. À esquerda, detalhe de várias pessoas sentadas próximas, uma atrás da outra. Na parte superior, vista interna e lateral de uma embarcação de madeira destacando, ao centro, um largo compartimento para carga e um compartimento estreito para a acomodação de pessoas. Na parte inferior, vista superior do convés da embarcação. Acima das ilustrações, há a inscrição: SECTIONS OF A SLAVE SHIP.
Gravura do navio negreiro Veloz produzida pêlo inglês róbert ualsh, no século dezenove.

Apesar de atualmente ser ilegal e não apresentar mais as mesmas características de séculos ou milênios atrás, o trabalho escravo ainda existe. A luta para impedir que pessoas sejam exploradas ou submetidas a condições de trabalho forçado ou degradante no Brasil e no mundo é constante.

Agora, responda às questões a seguir.

Ícone 'Atividade oral'.

1. De acôrdo com a imagem apresentada, onde as pessoas escravizadas eram alojadas? Quais são suas impressões sôbre êsse tipo de transporte e acomodação?

Ícone 'Atividade oral'.

2. Você se lembra de algum caso ou de alguma denúncia recente, no Brasil, sôbre trabalhadores em situação semelhante à escravidão? Se sim, onde isso ocorreu? Em sua opinião, o que podemos fazer para combater êsse tipo de crime?

As religiões africanas

Assim como as línguas e as etniasglossário , as religiões do continente africano são diversas. Em algumas regiões, o islamismo é predominante e o cristianismo, em outras. Mas há várias outras crenças e religiões antigas, que são chamadas de “tradicionais”.

Essa variedade demonstra a importância da religião, da divindade e do sagrado no modo de vida das sociedades africanas. Uma característica que aproxima as chamadas religiões tradicionais é a relação que diferentes grupos africanos estabelecem entre o mundo natural (concreto, no qual vivemos) e o sobrenatural (das divindades, do sagrado).

O mundo sobrenatural era habitado pelos espíritos dos antepassados e por uma grande diversidade de deuses. seres sobrenaturais controlavam as fôrças da natureza e outros aspectos que interferiam no mundo dos seres humanos.

Assim, do ponto de vista religioso, diversos acontecimentos do cotidiano, como doenças, colheitas ruins e desastres naturais, eram considerados consequências de algum desequilíbrio causado por ações humanas, como desrespeitar as leis divinas e não fazer oferendas aos deuses.

Para retomar o equilíbrio, o sacerdote era o responsável pêla mediação entre os dois mundos, pois conseguia se comunicar com o sobrenatural por meio de rituais específicos. Em muitos rituais, eram utilizadas máscaras, que podiam variar conforme o povo e a cultura.

Fotografia. Máscara marrom com características da face de uma pessoa, destacando detalhes ao redor dos olhos e da testa e uma espécie de coroa decorada com conchas na cabeça.
Máscara produzida em Camarões, no início do século vinte.
Fotografia. Máscara com características da face de uma pessoa. Na cabeça, escultura pequena de duas pessoas. Nas bochechas e na testa, detalhes em relevo de formas geométricas.
Máscara de origem iorubá, proveniente da região da Nigéria, século vinte.

O islamismo na África

O islamismo (também conhecido como islã ou islão) é uma religião monoteísta, criada e difundida pêlo profeta Maomé, e se baseia na crença de um único deus, Alá. O islamismo teve origem no século sete, na Península Arábica, Oriente Médio, e atualmente é a segunda maior religião do mundo em número de seguidores, que são chamados muçulmanos.

Ainda no século sete, principalmente por meio das conquistas do Império Islâmico, o islamismo expandiu para regiões da Ásia e da África, chegando até a Europa por volta do século oito. Analise o mapa a seguir.

Expansão do Império Islâmico (século VIII)

Mapa. Expansão do Império Islâmico (século 8). Mapa territorial de parte da Europa, África e Ásia. Conforme a legenda: Dinastia Omíada (661-750): Na Europa, parte da Península Ibérica, cidade destacada de Córdoba, e a ilha de Chipre. No norte da África, entre a região do Magrebe e Egito, cidades destacadas de Kairawan, Trípoli e Fusat (Cairo). Na Ásia, nas regiões do Hijaz, Iêmen e Omã, as cidades destacadas de Jerusalém, Damasco, Medina, Meca, Karbala, Barsa e Isfahan. Nas regiões de Kharezm, Transoxânia, Caxemira e Punjab, as cidades destacadas de Merv e Cabul. Na parte inferior à esquerda, planisfério destacando parte da África, Ásia e Europa. À direita, representação da rosa dos ventos e, abaixo, escala de 550 quilômetros por centímetro.

Fonte de pesquisa: quínder, rrérman; ríguelmân, vérner. The Penguin atlas of world history. Londres: Pêngüim búks, 2003. página 134.

Ícone 'Atividade oral'.

Questão 5.

De acôrdo com o mapa, o Império Islâmico se expandiu por quais continentes até o século VIII?

Intercâmbio comercial e cultural

Na África, essa religião foi introduzida pelos árabes durante a expansão islâmica no norte do continente, nos séculos sete e oito. O islamismo se difundiu e influenciou diversos povos, principalmente por causa da circulação e das trocas de mercadorias que ocorriam nas rotas transaarianas.

Além das trocas comerciais, houve intenso intercâmbio cultural. Assim, muitos reinos e impérios africanos passaram a seguir o islamismo.

Impérios como o do Mali (que será estudado no próximo capítulo) formaram grandes centros de difusão muçulmana, com mesquitas, bibliotecas e universidades.

Sociedades nômades do deserto, como a dos (tuaregues), também foram islamizadas. êles desempenharam um papel significativo no comércio da região e foram um dos principais difusores do islamismo na região do Sael. Com o tempo, a cultura islâmica das sociedades africanas foi transformando-se e adquirindo características próprias.

Fotografia. Fachada de Mesquita, composto por parede de pedra com três torres. Nas paredes e nas torres, há diversas pontas.
Mesquita de Jené, localizada no atual Mali, em 2019.

Resistência ao Império Islâmico

O islamismo não se difundiu na África apenas por meio do comércio. As primeiras incursões dos muçulmanos foram militares, contra tribos berberes localizadas no Magreb.

As duas primeiras incursões, que ocorreram entre os anos de 643 e 699, tiveram grande resistência dos povos berberes. Foi só a partir da terceira tentativa que os muçulmanos começaram a se instalar na região. O texto a seguir aborda a resistência ao Império Islâmico entre os berberes.

reticências

Durante o processo de instalação dos muçulmanos, a tribo berbere mais poderosa, aquela que resistiu de armas nas mãos com maior tenacidade, denominava-se e era liderada por uma mulher chamada . Na passagem do século oito, a liderança dela era reconhecida por todo o Magreb, até sua derrota e execução no ano de 704, que pôs fim à resistência e garantiu a vitória aos muçulmanos.

reticências

MACEDO, José Rivair. História da África. São Paulo: Contexto, 2013. página 48.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

[Narrador]

África e música

[Rodrigo]

[tom de voz animado]

Olá, pessoal! Eu sou o Rodrigo, e está começando mais um episódio do podcast “De olho na História”.

[Paula]

[tom de voz animado]

E eu sou a Paula. Sejam muito bem-vindos!

[Rodrigo]

[tom de voz animado]

O assunto de hoje é música africana.

[Paula]

[tom de voz animado]

Sim, vamos conhecer o som de alguns instrumentos tradicionais da África.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

Para começar, é importante lembrar que a África é um continente imenso, com uma diversidade incrível de nações, povos e culturas.

[Paula]

[tom de voz explicativo]

E é justamente toda essa pluralidade que torna a música africana tão rica.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

Na África, a música é frequentemente relacionada a rituais religiosos e eventos sociais, sendo acompanhada por instrumentos variados, canto e dança. Em geral, essa musicalidade é transmitida de geração em geração.

[Paula]

[tom de voz explicativo]

A música africana é muito rítmica, com uma grande variedade de instrumentos de percussão. Mas instrumentos de cordas e de sopro também são bastante presentes no continente.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

Esses instrumentos podem ter finalidades muito específicas. Por exemplo, alguns só podem ser tocados em certos rituais, outros podem ser tocados apenas por homens. Vamos conhecer alguns deles?

[Paula]

[tom de voz explicativo]

O primeiro é o anzad, instrumento usado pelos imuhagh, também conhecidos como tuaregues. Esse povo é nômade e vive na região do deserto do Saara.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

O anzad possui uma única corda, que é presa a uma caixa de ressonância, geralmente feita com uma cabaça e madeira, recoberta com pele animal. A corda é feita de crina de cavalo, assim como o arco que a faz vibrar. É como um violino.

[Paula]

[tom de voz explicativo]

O anzad é tradicionalmente tocado apenas por mulheres, para acompanhar canções, em geral, durante cerimônias noturnas. Ouçam um pouco o som do anzad.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

O próximo é o tende, instrumento de percussão também usado pelos tuaregues. É uma espécie de tambor, coberto com pele animal, tocado para acompanhar outros instrumentos.

[Paula]

[tom de voz explicativo]

O tende é tocado com as mãos, como forma de entretenimento de grupos nômades. Mas também é presente em casamentos e outras celebrações.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

Vamos ouvir o som do tende.

[Paula]

[tom de voz explicativo]

Ainda falando da musicalidade dos tuaregues, temos o téhardent, instrumento de três cordas, semelhante ao violão, originário do Mali.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

É tocado por homens e mulheres, em geral como entretenimento, acompanhando canções populares. Não é usado em cerimônias religiosas.

[Paula]

[tom de voz explicativo]

Ouçam um pouco o som do téhardent.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

Além dos tuaregues, existem muitos outros povos africanos, cada um com seus instrumentos típicos.

[Paula]

[tom de voz explicativo]

Muitos desses instrumentos acabaram se tornando bastante populares fora da África, inclusive aqui no Brasil. Vamos agora conhecer alguns deles.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

Este é o som do afoxé ou agbê.

É um instrumento de percussão, formado por uma cabaça redonda, coberta por uma rede de sementes ou contas, presa a um cabo.

[Paula]

[tom de voz explicativo]

O som é produzido ao girar a rede com as contas em um sentido, e a cabaça no sentido oposto.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

Outro instrumento de origem africana bastante conhecido aqui no Brasil, por causa da capoeira, é o berimbau.

[Paula]

[tom de voz explicativo]

O berimbau é feito com um arco de madeira e um fio de arame preso nas extremidades. O som é produzido ao percutir uma pedra, moeda ou vareta no arame.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

O berimbau tem ainda uma cabaça presa em uma das extremidades, que funciona como caixa de ressonância.

[Paula]

[tom de voz explicativo]

Este som familiar é feito com o djembê, um tipo de tambor. Na verdade, os tambores são os instrumentos mais característicos da música africana.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

Feito de bambu ou madeira, o djembê possui o corpo em forma de cálice, coberto por pele animal. É usado em eventos festivos ou religiosos.

[Paula]

[tom de encerramento]

Bem, chegamos ao final do episódio. Aproveitem para pesquisar e descobrir outros sons africanos.

[Rodrigo]

[tom de encerramento]

Boa ideia! Até a próxima, pessoal!

[Paula]

[tom de encerramento]

Até mais!

[Narrador]

Todos os áudios inseridos neste conteúdo são da Incompetech e da Freesound.

Sons de anzad, tende, téhardent: Heyheymymy.

A música

Assim como para outros povos, entre os tuaregues, a música está bastante presente no cotidiano e em diversas comemorações, como festas de aniversário, casamentos e celebrações religiosas. A música tuaregue tradicional é, em grande parte, apenas vocal, cantada na língua tamaxequeglossário e passada de geração para geração. No entanto, há também músicas executadas por meio de instrumentos típicos da cultura tuaregue, como o , o e o .

Espécie de tambor tocado para acompanhar outros instrumentos. Em algumas celebrações e cerimônias, mulheres e homens dançam ao som do e acompanham seu ritmo batendo palmas e cantando.

Fotografia. Destacando o busto de uma mulher com os cabelos cobertos por um lenço. Ela está com as mãos sobre um instrumento musical de percussão.
Mulher tuaregue tocando um em apresentação de música tradicional, em uóshinton, Estados Unidos, em 2019.

Instrumento formado por uma única corda presa a uma caixa de ressonância, geralmente feita com uma cabaçaglossário e com madeira. A maneira de tocar é semelhante à de um violino, utilizando um arco de madeira com fios de crina de cavalo presos nas extremidades. O instrumento é tradicionalmente tocado apenas por mulheres.

Fotografia. À esquerda, duas pessoas negras, usando roupas pretas e um tecido cobrindo os cabelos,  estão sentadas. Uma delas está segurando um instrumento de corda. À direita, uma pessoa, com um turbante na cabeça e usando uma túnica cobrindo o corpo, está sentada. Ao fundo, paisagem desértica.
Mulher tuaregue tocando , na Argélia, em 2016.

O é um instrumento de três cordas. Não é utilizado em cerimônias religiosas, mas sim para tocar canções populares, cantadas por mulheres ou homens como fórma de entretenimento.

Agora, responda à questão a seguir.

Ícone 'Atividade oral'.

Qual dos três instrumentos musicais mais chamou sua atenção? Por quê?

Fotografia. Um homem, com cabelos cacheados na altura do ombro e usando camisa com botões, está segurando um instrumento de corda e a boca próxima à um microfone.
Cantor marroquino tocando durante um festival em Paris, França, em 2021.

Música e política

A partir do final da década de 1970, surgiram grupos musicais que passaram a utilizar a música para reivindicar melhores condições de vida para seu povo. Um dos grupos mais conhecidos é o (traduzido do tamaxeque, “desertos”).

êsse grupo está em atividade até os dias atuais e, por meio de suas composições, reivindica maior autonomia e liberdade para os , por causa das perseguições e da repressão ainda sofridas na África.

Um dos diferenciais do é a utilização de instrumentos tradicionais misturados a instrumentos modernos, como a guitarra e o contrabaixo elétricos. O grupo mescla ainda diversos gêneros musicais, como o blues e o jazz, à música tradicional .

Fotografia. Um homem, com cabelos cacheados na altura do ombro, usando uma túnica cor laranja, está segurando com as mãos um instrumento de corda e próximo à um microfone. Ao seu redor, pessoas com turbantes, túnicas e instrumentos musicais.
Apresentação do em Oregon, Estados Unidos, em 2018.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

Organizando os conhecimentos

  1. Em seu caderno, produza um texto explicando a importância de estudar a história da África.
  2. De que fórma a herança étnica e cultural africana está presente na sociedade brasileira atual?
  3. Descreva alguns aspectos geográficos do continente africano.
  4. Quais foram os tipos de organização das sociedades africanas desenvolvidos ao longo do período estudado neste capítulo?
  5. Explique as principais diferenças entre os conceitos de escravidão antiga, servidão medieval e escravidão moderna.
  6. O que eram as rotas transaarianas e qual era a sua importância para a economia africana?

Aprofundando os conhecimentos

7. Analise a imagem e, com base no que você estudou, responda às questões.

Pintura. Um grupo de pessoas, algumas em pé e outras montadas em camelos, transportam alguns objetos. Ao fundo, paisagem desértica com algumas palmeiras e dunas de areia.
perto de , procurando um local, de . Óleo sôbre tela, 121,5 centímetrospor296,5 centímetros, ​1859.
  1. Você consegue identificar essa paisagem? Comente sôbre ela.
  2. Qual era a importância do comércio realizado nas rotas transaarianas?
  3. Qual religião teve sua difusão diretamente influenciada pêlo comércio estabelecido na região representada na obra? Explique.

8. As máscaras africanas são manifestações artísticas que apresentam diversos significados relacionados ao contexto cultural da sociedade que as produziu. sôbre o tema, leia o texto a seguir e analise as imagens apresentadas. Depois, responda às questões.

reticências Para nós, máscara é coisa de bandido ou é parte da fantasia de carnaval, numa festa, num espetáculo teatral. Para muitos povos africanos, no entanto, as máscaras têm uma função quase sagrada, pois êles as veem como intermediárias entre o mundo dos vivos e o mundo dos deuses e dos mortos.

Com frequência as máscaras representam uma divindade, um ancestral (legendário ou histórico), um animal (mítico ou real), um herói, um espírito. reticências

FEIST, rrildegard. Arte africana. São Paulo: Moderna, 2010. página 2425.

Fotografia. Uma máscara fina e comprida, com características da face de uma pessoa. Ela é branca e apresenta desgastes pela passagem do tempo.
Máscara , da etnia fang, proveniente da região do Gabão, final do século dezenove.
Fotografia. Uma máscara de tecido comprida, destacando os olhos e orelhas. No topo da cabeça há um chapéu redondo. Ela é preta com detalhes em branco, vermelho e amarelo.
Máscara da região dos Camarões que representa um elefante, feita de tecidos e contas, século vinte.
  1. Descreva as duas máscaras apresentadas.
  2. Com base no texto e nos conteúdos estudados no capítulo, como as máscaras estão relacionadas às expressões religiosas dos povos africanos?
  3. Você conhece ou já participou de algum evento que utilize algum tipo de máscara? Se sim, descreva o tipo de máscara e comente com os colegas como foi sua experiência.

Glossário

Savana
: tipo de vegetação composta basicamente de plantas rasteiras, árvores de portes variados e pequenos arbustos.
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Confederação
: associação ou união de pessoas ou grupos em defesa de interesses comuns.
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Tubérculo
: neste sentido, tipo de caule arredondado ou alongado que se desenvolve abaixo da superfície do solo, como a batata e a cenoura.
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Planalto
: fórma de relêvo que apresenta superfícies elevadas e planas, com poucas ondulações.
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Noz-de-cola
: fruto de uma planta nativa da África com gôsto amargo que provoca sensação de bem-estar por causa de sua ação estimulante. No Brasil, é conhecida como ou orobó.
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Sahel
: região situada ao sul do deserto do Saara que tem vegetação conhecida como estepe ou de transição, por estar entre as regiões áridas do deserto e a região de floresta tropical, com terras mais férteis.
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Etnia
: grupo de pessoas que compartilham elementos culturais e acreditam ter uma origem cultural comum.
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Tamaxeque
: língua falada pelos .
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Cabaça
: fruto que, pela presença de uma casca firme e resistente, é utilizado para produzir diversos utensílios.
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